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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

CONSULTA PÚBLICA PRA QUÊ?


O Brasil está prestes a contabilizar 620 mil mortes por Covid, parte das quais teve a ver com a péssima atuação de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia — um mandatário negacionista, despreparado, que enjeita o epíteto de "genocida" e se empenha em acrescentar o "infanticídio" à extensa lista de crimes que lhe foram atribuídas pela CPI para a qual afirma “estar cagando”. 

Apoiadores dessa tragédia em forma de governante ainda criticam o ex-ministro Mandetta por ter orientado a população a buscar auxílio quando e se enfrentasse problemas respiratórios, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, apoiam a sandice de Queiroga de promover uma “consulta pública” sobre a imunização de crianças de 5 a 11 anos, a despeito de a Anvisa ter aprovado a vacina da Pfizer para essa faixa etária

Mandetta ecoou a recomendação da OMS quando quase nada se sabia do "novo coronavírus", e a medida visava evitar o colapso do sistema de Saúde. Passados 20 meses da primeira morte no Brasil, sabe-se que uma criança morreu de Covid a cada três dias do início da pandemia até o final de dezembro.

Marcelo Queiroga, que não passa de uma patética versão de jaleco do General Pesadelo, prefere manchar seu currículo a perder o cargo e o apoio de Bolsonaro nas próximas eleições (ele pretende disputar uma cadeira de senador pelo estado da Paraíba). Para ganhar pontos com o mandatário-suserano, o cardiologista asseverou, no último dia 18, que "o novo prazo permite que as autoridades analisem a decisão da Anvisa em todas as suas nuances". Mas não detalhou o que ainda precisaria ser analisado para além dos resultados da tal "consulta pública" e da "audiência pública" a ser realizada amanhã. 

Todas as evidências científicas disponíveis até o momento indicam que os benefícios de vacinar o público infantil superam, de longe, os potenciais riscos, de modo que essa a exigência de Queiroga serve apenas para atrasar ainda mais a imunização infantil e demonstrar sua obediência canina a um presidente mentalmente avariado, que sempre foi contrário às vacinas e agora quer exigir atestado médico e autorização expressa dos pais ou responsáveis para a imunização dos pequenos. 

Observação: Em entrevista à CNN Brasil, a infectologista Luana Araújo criticou Queiroga pelas declarações de que não pode haver pressa para imunizar a faixa etária porque o número de óbitos é baixo. Na sua visão, a fala do ministro foi profundamente infeliz, até porque não existe número aceitável de mortes de crianças.“Ciência malfeita é achismo. […] Essa declaração é profundamente infeliz. Ela não só não leva em consideração as evidências científicas, como também mostra um profundo desconhecimento dos números do próprio país. Não existe patamar aceitável de óbito de criança. É cruel e absolutamente desconectado da realidade.” 

Já passam de 600 os auditores da Receita Federal que entregaram seus cargos. O ministro responsável pela área, Paulo Guedes, segue em férias. A Bahia enfrenta as piores chuvas nos últimos 35 anos, já há 20 mortos e mais de 30 mil desabrigados. O presidente da República segue em férias. De quebra, provoca aglomerações, aumentando a exposição dos brasileiros à Covid

É evidente que Jair Bolsonaro e seus auxiliares têm muitas prioridades. Também é evidente que entre elas não estão o Brasil e os brasileiros.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

VERGONHA NACIONAL

A ONU foi crida em 1954, após o término da 2º Guerra Mundial, em 1945. Como nenhum país membro reivindicou o privilégio de ser o primeiro a discursar nas cerimônias de 1949, 1950 e 1951, o Brasil preencheu essa lacuna e, desde 1955 — exceção feita aos anos de 1983 e 1984, em cujas sessões Ronald Reagan falou primeiro —, nosso representante fala depois do Secretário-Geral da ONU e do Presidente da Assembleia, antes do presidente dos EUA (país sede). Já os demais líderes discursam numa ordem estabelecida por um algoritmo que leva em conta o nível de representação do orador, pedido de fala, entre outros.

Esse privilégio permitiu que, em 2011, durante a 66ª assembleia da ONU, a calamidade em forma de gente nos envergonhasse em "dilmês" castiço. Mas poucos imaginariam, então, que a gerentona fosse superada com folga pelo mandatário que, na última terça-feira (21), em seu terceiro discurso de abertura (o segundo presencial, já que no ano passado o G20 se reuniu por videoconferência), desmoralizou mais uma vez o país que foi eleito não para governar — achar que esse indigitado seja capaz de governar é o mesmo que acreditar que vacas voem e porcos assoviem —, mas para evitar a volta da cleptocracia lulopetista.

Em 2019, Bolsonaro subiu na tribuna para atacar críticos de sua política ambiental, a imprensa e países como Cuba e Venezuela. Em tom agressivo, disse que, antes de sua posse, o Brasil estava à beira do socialismo. No ano passado, disse que o Brasil era vítima de mentiras sobre as queimadas na Amazônia e que boa parte delas seria motivada por "causas naturais inevitáveis". Também defendeu suas ações na pandemia e acusou a imprensa de disseminar pânico sobre a doença.

Na última segunda-feira, sem saber que Bolsonaro já estava em Nova Iorque, o prefeito Bill de Blasio lhe mandou o seguinte recado: "se você não quer se vacinar, nem precisa vir". Depois, nas redes sociais, marcou-o num post indicando locais de vacinação. Mas o grande estadista brazuca havia iniciado seu périplo de vexames no domingo, ao ser recepcionado por um punhado de manifestantes que seguravam faixas com as frases "Stop Bolsonaro" e "You are not welcome here", enquanto gritavam "criminoso" e "genocida".

A condição de "líder mundial", que assegurou ao presidente a prerrogativa de ingressar da sede da ONU (considerada território internacional) não evitou que ele e seus puxa-sacos jantassem pizza em pé, na rua, na noite de domingo ou que almoçassem na calçada, no dia seguinte, num puxadinho armado pela filial novaiorquina da churrascaria Fogo de Chão.

Obviamente, fotos foram tiradas e postadas nas redes sociais, objetivando mostrar um presidente humilde, cioso dos recursos públicos, tal como já fora feito em outras oportunidades. A título de curiosidade, nos comícios da campanha de 1960 o populista cachaceiro Jânio Quadros interrompia suas perorações pernósticas, vasadas num português castiço, inacessível para a maioria dos presentes, para mordiscar um sanduíche de mortadela que tirava e tornava a guardar no bolso do paletó.

Ao lado dos manifestantes estava um caminhão com um telão que havia circulado exibindo frases como Bolsonaro is burning the Amazon. O presidente interrompeu sua comitiva e começou a gravar um vídeo, com a ajuda de um auxiliar, mostrando os ativistas ao fundo e apontando para eles, o que irritou o grupo. Membros da comitiva responderam aos manifestantes antes de entrar nos veículos, fazendo gestos com as mãos e batendo nos vidros enquanto um dos automóveis ia embora. O ministro Marcelo Queiroga, de dentro de uma van, chegou a se levantar do assento e mostrar o dedo do meio para os manifestantes que retribuíram a cortesia. Pelo visto, após o "surto bolsonarista" que o levou a suspender a vacinação de adolescentes, o dublê de jaleco do general Pazuello finalmente assumiu seu lugar no pelotão ideológico dos negacionistas.

Observação: Por determinação da prefeitura de NYC, somente pessoas vacinadas podem ir a eventos em lugares fechados e comer na área interna de restaurantes. Houve ao menos um caso de Covid na comitiva brasileira — um funcionário do cerimonial, que viajou para os EUA cerca de 10 dias antes dos demais, para organizar a visita, e testou positivo para o vírus no sábado 18. Não há detalhes sobre quantas pessoas estiveram com ele nos últimos dias, nem quantas delas estiveram com o infectado e depois com o presidente ou seus ministros.

Bolsonaro não falou com a imprensa. Pouco depois da confusão, ele publicou no Facebook o vídeo que gravou na saída do jantar, com o título "meia dúzia de acéfalos protesta contra Jair Bolsonaro para delírio de parte da imprensa brasileira". O mandatário mostra a cena e narra que os manifestantes faziam um "escarcéu" e estavam "fora de si". "Esse bando nem sabe o que está falando. Deviam estar num país socialista, não aqui nos EUA", disse o "mito" dos bolsomínions. Depois, em conversa com um apoiador e uma terceira pessoa, relativizou o protesto afirmando que havia mais repórteres do que manifestantes.

No mesmo dia, Eduardo Bananinha, o Zero Três, foi hostilizado em uma loja da Apple em Nova Iorque. Em um vídeo divulgado pelo jornalista Ancelmo Gois, ouve gritos de "Fora, Bolsonaro" e "vergonha" de um frequentador da loja. O deputado apenas se retira do local fazendo um sinal de positivo.

O discurso do estadista canarinho durou certa de 12 minutos e, recheado de meias-verdades, levou ao delírio a turma do chiqueirinho. Entre outras falácias, Bolsonaro disse que a Amazônia tem muita mata preservada — o que é verdade —, mas não comentou sua conivência criminosa com a depredação do que o que ainda está inteiro. Nem comentou que todas as leis e ações que preservam a Mata Atlântica foram afrouxadas na boiada que o ex-ministro Ricardo Salles passou, para que a área seja explorada pelo agronegócio ilegal. O Brasil já foi um símbolo de preservação ecológica, mas o desgoverno Bolsonaro está destruindo tudo isso. E assim foi em todas as questões. Chega a ser impressionante a capacidade do (ainda) presidente de se colocar como pária e levar a reboque o país que representa. 

Acabou que Queiroga testou positivo para a Covid na última terça, 21, e deve cumprir 15 dias de quarentena na suíte do hotel onde está hospedado. A expensas do dinheiro dos contribuintes tupiniquins, naturalmente. Em comunicado posterior, a Secom informou que Pazuello 2.0, versão de jaleco, passa bem e deve permanecer em quarentena nos EUA. “Informamos, ainda, que os demais integrantes da comitiva realizaram o exame e testaram negativo para a doença”, diz a nota. Mais cedo, como publicou O Antagonista, já havia sido divulgada a informação de que uma segunda pessoa na comitiva presidencial havia testado positivo para a doença. Queiroga confirmou no Twitter o diagnóstico e disse que ficará em quarentena nos EUA, "seguindo todos os protocolos de segurança sanitária".

Também segundo O Antagonista, o sentimento predominante dos brasileiros sobre o circo bolsonarista em NYC foi o de "vergonha". O termo foi compartilhado antes de ontem nas redes sociais e reapareceu nesta quarta-feira no editorial do Estadão. Na verdade, o Brasil inteiro é uma vergonha. Apesar de todos os crimes do sociopata, que acarretaram 600 mil mortes, falhamos miseravelmente como país, porque fomos incapazes de afastá-lo do cargo e trancá-lo na cadeia. A culpa é coletiva.

Observação: Até a manhã desta quarta-feira não havia mudança na agenda oficial do presidente, que deve se reunir às 16h com Pedro Cesar Sousa, subchefe para assuntos jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência da República. É bem provável que nós o vejamos no chiqueirinho defronte ao Alvorada, no final da tarde. Até quando? Só Deus sabe.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

CONSULTA PÚBLICA PRA QUÊ? CONTINUAÇÃO


O número de testes de Covid positivos em farmácias, que vinha despencado nos últimos meses, saltou de 500 para 5.000 no fim do ano. Na última semana de 2020, as internações no estado de São Paulo também voltaram a subir. No sábado, 1º, o Brasil registrou 619.139 mortes e quase 78% da população imunizada com ao menos uma dose de vacina. A boa notícia, digamos assim, é que a variante ômicron (B.1.1.529), comparada com as versões anteriores do coronavírus, causa sintomas mais leves, inclusive no que concerne a cicatrizes nos pulmões e dificuldades respiratórias severas, confirmando o resultado dos estudos iniciais, que já apontavam nessa direção, mas eram recebidos com muitas ressalvas.

A título de curiosidade, “ômicron” é nome da décima letra do alfabeto grego, que corresponde à letra “o” do nosso. Por se tratar de palavra proparoxítona, a antepenúltima sílaba é a tônica, ou seja, a mais forte. Na língua portuguesa, todas as palavras proparoxítonas são acentuadas. No caso do termo “ômicron”, utiliza-se o acento circunflexo no português do Brasil e o agudo no de Portugal. De acordo com o Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, o substantivo “ômicron” é masculino; no caso do vírus da Covid, como o substantivo feminino “variante” fica subentendido, é aceitável usar “a ômicron”.

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Bolsonaro desembarcou em São Paulo na madrugada da última segunda-feira e foi diretamente para o Hospital Vila Nova Star. O médico Antônio Luiz Macedo, que voltou de suas férias nas Bahamas para acompanhar o caso, disse suspeitar de uma nova obstrução intestinal complicada pelo histórico das cirurgias a que o presidente foi submetido desde setembro de 2018. Em seu perfil no Twitter, o pajé da cloroquina aventou a possibilidade de uma nova cirurgia de obstrução interna na região abdominal. Da última vez que ele ficou internado, em julho de 2021, os médicos chegaram a cogitar de uma intervenção cirúrgica, que foi descartada depois que o intestino do paciente voltou a funcionar. Uma semana antes, o mandatário dissera que estava cagando para a CPI do Genocídio.

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Bolsonaro pode parecer um tolo e falar como um tolo, até porque ele é realmente um tolo, anotou Josias de Souza em sua coluna no final de dezembro, dias antes de sair em férias. 

Em sua penúltima tolice, o sultão do bananistão decidiu implicar com a vacinação das crianças. Queiroga deu asas à asneira do chefe, metendo-se numa operação de grande valor científico. Se tudo correr como planejado, vão à vitrine duas conclusões: 1) A tolice do capetão é mais contagiosa do que a ômicron; 2) A diferença entre a sensatez e a estupidez é que a sensatez tem limites.

A consulta pública marcada pelo ministro da Saúde a mando do chefe foi de uma inutilidade a serviço do desperdício de tempo. A Anvisa já atestou a qualidade, a segurança e a eficiência da vacina infantil da Pfizer, tanto que concedeu registro definitivo para o fármaco. Segundo eles, essa etapa é inédita no processo e que vai atrasar ainda mais a imunização infantil. 

A Câmara Técnica criada por Queiroga — versão de jaleco do general Pesadelo — para assessorá-lo aprovou a vacinação por unanimidade. Estudo da Fiocruz, fundação vinculada ao Ministério da Saúde, concluiu que a aplicação de vacina nas crianças é necessária e precisa começar o quanto antes. Seis das mais relevantes entidades médicas e científicas do país também se declararam a favor da imunização dos pequenos, sem falar que a mesma vacina está sendo aplicada em crianças de mais de uma dezena de países. Só nos Estados Unidos foram mais de 7 milhões de doses.

Com todo esse respaldo científico e factual, a consulta que o ministro-vassalo realiza por pressão do presidente-suserano tem a aparência de mais uma embromação letal. Mal comparando, é como se o sujeito estivesse no centro de um incêndio e, em vez de chamar os bombeiros, abrisse uma consulta popular para debater normas de prevenção do fogo.

No caso da vacinação das crianças, o eminente doutor quer contrapor a opinião da tia do Zap aos estudos técnicos e científicos. Os pais, donos da palavra final nessa matéria, talvez preferissem ser orientados, não consultados. A maioria quer saber quando a vacina será comprada e o dia em que poderá levar os filhos ao posto de saúde.

Se os resíduos psíquicos de Bolsonaro fossem concretos, não haveria esgoto que bastasse. A característica fundamental da dificuldade de julgamento do presidente é ter que ouvi-lo durante três anos para chegar à conclusão de que ele não tem nada a dizer sobre coisa nenhuma.

Para desassossego dos 94% de brasileiros que manifestaram ao Datafolha seu apreço pelas vacinas, o cardiologista colocou sua formação médica à disposição da insanidade. Deve estar torcendo para que a turma do Zap prevaleça sobre a Anvisa, a Câmara Técnica do ministério, as entidades médicas e científicas do país, a comunidade internacional e o bom senso.

ObservaçãoApós reunião entre os secretários estaduais de Saúde na manhã do dia 24/12, o Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass) divulgou uma "Carta de Natal às crianças do Brasil". No texto, o grupo confirma que nenhum Estado exigirá prescrição médica para a vacinação de crianças contra a Covid.

terça-feira, 12 de abril de 2022

QUEM SAI AOS SEUS NÃO DEGENERA

 

A novela da presidência a Petrobras chega ao último capítulo nesta quarta-feira. Adriano Pires declinou do convite alegando conflitos de interesse, mas o fato é que sua posição em relação ao petróleo não combina com a de Bolsonaro, que é um símbolo do atraso, e que tanto Roberto Castello Branco quanto Joaquim e Silva e Luna foram defenestrados por não se submeterem à vontade do capitão, que claramente deseja fazer com a petrolífera o que fez com a PF, a PGR, o TCU... 

 

À  primeira vista, Mauro Ferreira Coelho, o indicado da vez, preenche os requisitos básicos (nome limpo, experiência e fluência em inglês, entre outros). Mas Bolsonaro é o tipo de suserano que exige do vassalo obediência cega e disposição para dar o rabo e pedir desculpas por estar de costas — que o digam o general Eduardo “um manda e o outro obedece” Pazuello e sua versão de jaleco, Marcelo Queiroga. Para esse presidente, o currículo é o que menos importa — como demonstram as indicações de Carlos Alberto Decotelli, o ministro “relâmpago” da educação, e Kássio Nunes Marques, o ministro “tubaína” do STF. 

 

Na última quinta-feira, Jair Renan Bolsonaro, que é investigado por suposto tráfico de influência e lavagem de dinheiro, chegou com duas horas de atraso à superintendência da PF em Brasília. Com o filho do pai estava o dublê de advogado e mafioso de comédia Frederick Wassef (aquele em cuja casa a polícia encontrou o então foragido Fabrício Queiroz, cujo nome dispensa maiores apresentações). O depoimento durou horas, mas o resultado da investigação é tão incerto quanto o passado do Brasil (basta lembrar como atuou o passador-de-pano-geral da República em relação aos 90 pedidos de investigação envolvendo sua alteza irreal). 


O depoente se disse "revoltado" com o inquérito — talvez porque, a exemplo do pai e dos irmãos, ele acha que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. Tanto é que o depoimento deveria ter ocorrido em dezembro, mas o investigado não apareceu. Alegou que estava doente. A revolta contrasta com o padrão de vida de zero quatro. Meses atrás, ele se mudou com a mãe para uma mansão (no bairro mais chique de Brasília) avaliada em R$ 3,2 milhões, cujo aluguel mensal é de R$ 15 mil


Segundo Wassef, seu cliente é vítima de mentiras produzidas pela oposição comunista para prejudicar o pai presidente. Essa tese segue na mesma linha da aleivosia de que o país está diante de um fabuloso mal-entendido, de uma sequência impressionante de coincidências maliciosamente interpretadas, que acabou fazendo um filho modelo de um pai exemplar parecer um malandrão. 


Triste Brasil.

 

Com Josias de Souza

sábado, 1 de janeiro de 2022

O PRESIDENTE DO DOLCE FAR NIENTE


HAY GOBIERNO? SOI CONTRA!

Na manhã de quinta-feira, 30, enquanto a Bahia contabilizava 24 mortes e 132 cidades em situação de emergência, Bolsonaro, que gozava férias em Santa Catarina desde o dia 27, disse que esperava “não ter de retornar antes”. 

Até aí, nenhuma surpresa: em abril do ano passado, enquanto milhares de brasileiros morriam de Covid todos os dias, o presidente da negação, da discórdia nacional, dos tratamentos falsos, das aglomerações, da inoperância, das mentiras e das omissões disse a apoiadores: "E daí? Não sou coveiro!”.

Nas redes sociais, o mandatário de fancaria foi brindado com o epíteto de "presidente vagabundo":

"O presidente em férias em Santa Catarina. O vice-presidente em férias na parte não alagada da Bahia. E o país à deriva em toda a velocidade, na direção dos rochedos. Só faltam os violinistas do Titanic. #BolsonaroVagabundo", publicou uma internauta no Twitter. Outros logo lhe fizeram eco: “Bahia pedindo ajuda e esse merda de férias. Tem que ser muito fdp para ainda apoiar esse bosta e não adianta usar a desculpa do PT porque não cola mais (nunca colou)”. “Não temos presidente, temos um parasita vagabundo mamando dinheiro público e destruindo nosso país”. 

Bolsonaro deu início ao recesso de fim de ano em 17 de dezembro, quando viajou para a região do Guarujá, e embarcou no último dia 27 para São Francisco do Sul, no litoral catarinense, para passar o feriado de Ano-Novo acompanhado da primeira-dama e da filha do casal. No litoral paulista, andou de lancha, foi a um culto evangélico e pescou perto d Ilha das Cobras (onde deve ter se sentido em casa, como disse se sentir quando finalmente se filiou ao PL do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto).

A pergunta que não quer calar é: por que Jair Mefistófeles Bolsonaro mantém a obsessão em combater o combate à pandemia, voltando suas baterias no finalzinho do ano contra o passaporte de vacina e a imunização das crianças? Todo mundo sabe o quanto o Brasil perde com isso, mas ninguém — ou ninguém em sã consciência — consegue entender o que ele ganha com isso.

Enquanto a ciência, a medicina e a opinião pública andam para um lado, o pajé da cloroquina anda para o outro com sua legião de negacionistas e o cardiologista Marcelo Antonio Cartaxo Queiroga Lopes, que não passa de uma versão de jaleco do general Eduardo Pesadelo. Em todo o mundo civilizado foram retomadas medidas da fase aguda e implementadas novas, como a terceira dose, o passaporte de vacinas e a imunização de crianças, para protegê-las e conter o ciclo de contaminação. Aqui, a guerra é para driblar Bolsonaro, que nem tomou a primeira dose e está obcecado em impedir o comprovante de vacinas e que as crianças se protejam.

Como achar normal que o presidente exija a lista dos técnicos da Anvisa que autorizaram a vacinação para os pequenos e seu ministro inventar consulta pública e exigência de receita médica?  É inconcebível exigir dos pais, a quem já não faltam problemas de toda natureza, uma receita pediátrica que lhes permita levar os filhos à fila da vacina. 

Enquanto a Bahia vive uma tragédia e 45 mil passageiros ficam a ver navios e voos ao longe, vítimas de uma companhia aérea mequetrefe (autorizada pela Anac e recebida em festa pelo governo), o presidente da República está na praia dançando funk, parecendo fazer questão de acrescentar novas bizarrices a sua lista interminável de horrores. 

Presidentes devem liderar, mostrar empatia. As declarações de um mandatário reverberam, ainda que esse o dito-cujo seja Bolsonaro, que jamais teve envergadura para ocupar o cargo ou capacidade de presidir o que quer que fosse — nem carrinho de pipoca em porta de cinema, como salientou o escritor, poeta e jornalista José Nêumanne.

Segundo Nêumanne, na véspera do Natal, Bolsonaro exibiu à nação toda a desfaçatez que aprendeu em sua formação na caserna, da qual saiu pela portinhola dos fundos, bem como a arte de mentir, descarada e desmedida, aperfeiçoada em 33 anos no baixíssimo clero da política e da preguiça em público. Aterrorizado com a possibilidade de acrescentar mais sustos à sua vertiginosa queda de popularidade e, com ela, perder mais competitividade na disputa eleitoral em 2022, o capetão encarregou a própria mulher de substituí-lo na função de pregador das redes sociais, com a pusilânime caradura de hábito. 

No cenário emprestado do espaço público, que ocupa como se fosse a própria casa, abriu a baboseira para logo ceder lugar à farsa de Michelle. Para felicidade geral da Nação, o óbvio relambório foi curto. Além da reprodução literal do lema integralista (“Deus, pátria, família”), nenhuma palavra de verdadeira solidariedade do casal aos entes queridos das quase 700 mil pessoas assassinadas pela cruel indiferença de uma gestão federal negacionista e negociante em proveito próprio, durante o enfrentamento da pandemia. Nenhum anúncio de socorro aos 470 mil baianos, dos quais 16 mil ficaram sem casa, simplesmente porque o Estado é governado por um político do PT

Não faltou outro dado mortal da falsidade natalina do casal de presepeiros, que se situa no lado errado do próprio presépio armado. Na cega, estúpida e boçal negação da imunização para ajudar a reduzir o número de vítimas mortais da Covid, a convocação de uma consulta pública para autorizar a aplicação de vacinas da Pfizer, usada com sucesso no mundo inteiro, em crianças de 5 a 11 anos, veio de um sabujo impiedoso travestido de ministro da Saúde, que chegou a exigir prescrição médica para o uso da vacina

Em plena celebração do aniversário do Deus que o capitão mandrião diz venerar, não faltou quem recorresse à Bíblia para achar novo apelido para o médico-monstro. Antes, era Marcelo Queiroga. Com a nova presepada, passou a ser chamado de Queirodes Antipático, referência ao maior vilão da História da civilização: Herodes Antipas, o rei da Judeia que mandou assassinar todos os bebês nascidos na data hoje santificada, quando soube que ele poderia vir a ser o novo rei dos judeus.

Herodes Antipas não passava de um reizinho fantoche do poderio romano, que, 33 anos depois, transformaria o hábito higiênico de lavar as mãos na suprema renúncia covarde, que o chefe do desgoverno atual não tem coragem de anunciar para livrar os adultos de sua preguiça contagiosa, e as crianças de seu ódio brutal à vida, à inocência e à felicidade. Um ser humano digno dessa qualificação, que há decênios o falso Messias desonra e enxovalha, mostra que, felizmente, ainda há servidores decentes que sobrevivem aos beócios que dão ordens assassinas em pleno templo da saúde pública.

Comandada por intendentes incompetentes e charlatães com dragonas desonradas por um dublê de capitão-terrorista e diplomas mal-empregados, a secretária extraordinária de enfrentamento à Covid ao STF afirmou, através de nota técnica simples, direta e corajosa, que a vacina para crianças é segura. Subordinada ao ministro da Saúde, a servidora ousou ir na contramão dos questionamentos do sultão do bananistão, que diz haver "desconfiança" e uma "interrogação enorme" em relação aos supostos efeitos colaterais da vacinação de crianças.

Nenhum dos importantes legados do ogro negacionista o favorece no pleito de outubro próximo, e alguns serão dor de cabeça para quem lhe suceder. Bolsonaro conseguiu o prodígio de estilhaçar internamente diversos segmentos que o apoiaram em 2018, e agora não sabe como colar os cacos. Talvez o legado mais significativo de Bolsonaro para 2022 seja ter ajudado a recuperar as chances eleitorais do lulopetismo. Como Lula trabalhará esse ganho é outra história, mas é ele o favorito que todos terão de derrotar, ao passo que Bolsonaro é cada vez menos visto como alternativa ao ex-presidiário promovido a ex-corrupto.

De acordo com Willian Waack, ganha corpo uma noção ainda vaga, em boa parte criada pelo fracasso bolsonarista, de que mesmo forças políticas antagônicas têm condições de pensar um país para além do destino de excrescências como Bolsonaro e Lula. Há um eixo de debate democrático capaz de unir e pacificar contrários, centrado em como nos fazer sair da pobreza, da desigualdade, da injustiça e da ignorância. Mas o jornalista reconhece tratar-se apenas da esperança de um 2022 melhor para todos nós.

Há muito tempo que eu desisti de compreender o despirocado do Planalto. Às vezes, vejo-o como uma criança mimada, que ganhou um passaporte válido por um dia (um dia que dura longos quatro anos) para explorar, sem limitação nem supervisão, todas as atrações de um parque de diversões. E é justamente isso que ele vem fazendo desde janeiro de 2019. Para encerrar, reproduzo um trecho do editorial do Estadão da última quinta-feira:

O governo Bolsonaro se ausentou do enfrentamento de quase todos os problemas que afligiram os brasileiros ao longo deste ano particularmente difícil. Não raras vezes, o próprio presidente foi a fonte das atribulações. Há duas razões para esse comportamento: a baixa estatura moral e intelectual de Bolsonaro para exercer a Presidência e sua notória inapetência para o trabalho. O resultado de três décadas de irrelevante vida pública revela que Bolsonaro nunca gostou do batente. E a ascensão à Presidência não parece tê-lo feito mudar de ideia.

Mas, por paradoxal que possa parecer, a ausência de um governo digno do nome em momentos tão críticos teve o efeito positivo de lançar luz sobre a solidariedade entre os cidadãos. Em 2021, os brasileiros deram mostras inequívocas de que os laços de fraternidade que os unem estão mais fortes do que nunca. É como se os cidadãos percebessem que, diante de um governo tão ruim, tivessem de contar apenas uns com os outros. Evidentemente, por mais valorosa que seja, a solidariedade não dá conta de tudo. O apagão governamental produziu desastres. Mas foi graças ao altruísmo de muitos cidadãos que alguns problemas puderam ser ao menos mitigados.

Tome-se como exemplo mais recente a tragédia das chuvas que mataram dezenas e desabrigaram milhares de baianos neste fim de ano. Como se fosse um burocrata qualquer, que assina meia dúzia de papéis e dá seu trabalho como concluído, Bolsonaro se limitou a despachar para a Bahia o ministro da Cidadania, e a editar uma medida provisória que cria um crédito extraordinário de R$ 200 milhões para reconstrução da infraestrutura rodoviária destruída pelas chuvas no Estado. Depois, partiu para uma semana de ócio nas praias de Santa Catarina — a imagem do dolce far niente do presidente em contraste com o terrível padecimento dos baianos é de causar engulhos. 

A ajuda concreta aos baianos que perderam tudo o que tinham tem vindo, principalmente, da solidariedade de seus concidadãos em todo o País e de ações pontuais de empresas privadas, principalmente supermercados, que têm enviado alimentos aos desabrigados.

Não houve em 2021 exemplo maior de união entre os brasileiros em prol do bem comum do que a que se viu no curso da pandemia. Os brasileiros, em sua grande maioria, ignoraram olimpicamente a sabotagem do governo federal às medidas sanitárias para evitar a disseminação do vírus. 

Fazendo ouvidos moucos para a campanha de Bolsonaro contra a vacinação, os cidadãos acorreram em massa aos postos de saúde para receber o imunizante tão logo foi possível. Não foi trivial o sacrifício individual que muitos fizeram em nome do bem-estar coletivo.

Na raiz desse contraste entre governo e sociedade está a incompreensão de Bolsonaro sobre o valor simbólico da Presidência da República. Sabe-se que ele não é talhado para exercer a liderança do País, mas nem sequer se esforça para interpretar o papel. Resgatar o simbolismo de dignidade e espírito público que a Presidência encerra, pois, será uma das muitas missões de quem vier a suceder-lhe.

Feliz ano-novo.