Pelo andar da carruagem, a reforma política vai mesmo ficar para as calendas. Com a nova
denúncia contra Temer, a votação
certamente ficará prejudicada. Aliás, até os principais interessados ― os
próprios políticos ― não parecem tão interessados assim: durante os debates
desta semana, dois deputados ferraram no sono. Misael Varella, do DEM
de Minas Gerais, deu umas “pescadas”, mas Vicente
Arruda, do PDT cearense, puxou
um ronco de fazer gosto (vide foto que ilustra esta postagem).
O Banco Central
reduziu ainda mais a expectativa da inflação para este ano e para os seguintes.
Segundo a FOLHA, o órgão prevê índices
de 3,2% para 2017, 4,3% para 2018, 4,2% para 2019 e 4,1% para 2020. Parece que
os “pilotos de prova de escrivaninha” do BC não fazem compras no supermercado,
não pagam planos de saúde e nem abastecem o carro. Além disso, num cenário em
que não se sabe sequer se o presidente dura mais um mês no cargo, fazer
previsões para um futuro “tão distante” é uma temeridade (sem trocadilho).
A Delegacia de
Repressão aos Crimes de Informática desbaratou uma quadrilha que clonava
cartões de crédito e os usava para comprar entradas para jogos de futebol, eventos
culturais e shows, que revendiam no câmbio negro após alterarem os vouchers.
Essa seleta confraria atuava no Rio, mas um de seus líderes foi preso em São
Paulo. O fiduma tem apenas 16 anos, mas seu futuro é promissor, especialmente
se entrar para a política.
Muito se tem criticado a “judicialização” ― algo que Gilmar Mendes, o ministro supremo,
definiu como “república de juízes e promotores” ― mas o poder abomina o vácuo,
e com o Executivo na situação em que
está e o Legislativo sob
investigação e sem consenso, resta ao Judiciário preencher as lacunas e pôr
ordem no galinheiro. E é bom que o faça, porque o cenário atual é terreno fértil para os populistas e
alienados de ocasião. Veja o leitor que alguns generais já perderam o pudor e vêm defendendo abertamente a intervenção militar para solucionar a crise, caso ela não
seja resolvida pelas próprias instituições ― o candidato a candidato Jair Bolsonaro apoiou o falastrão, que, ao que tudo indica, receberá
apenas uma advertência verbal.
Volto a lembrar: Militares
não são imunes à picada da mosca azul, e a história ensina que eles
vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam no poder, prendem e arrebentam a
torto e a direito e não resolvem merda nenhuma.
Dias atrás,
comentei que as fantasiosas declarações de Temer
em relação às acusações feitas contra ele são um repeteco das de Lula, embora o peemedebista ainda não
tenha se tornado réu, e o petista já colecione 7 ações criminais e sido condenado
em uma delas. Acho que tem alguém vendendo algum tipo de “manual do corrupto”
lá em Brasília, haja vista que todos os investigados, acusados, denunciados e
assemelhados protestam inocência, afirmam que jamais receberam um tostão ilegal
e que são alvo de acusações levianas feitas por delatores mentirosos, capazes
de dizer qualquer coisa para reduzir as respectivas penas.
A defesa de Temer pediu afastamento de Janot; a defesa de Aécio pediu afastamento de Edson
Fachin, a defesa de Lula pediu
afastamento de Sérgio Moro e a
defesa de Aldemir Bendine imitou a
defesa de Lula. Cada investigado ― peemedebista,
tucano ou petista ― atribui a seus denunciadores ou julgadores um caráter
persecutório.
Observação: Os advogados de Lula
vêm sistematicamente testando a paciência do Judiciário com seu jus sperniandi,
mas, por óbvio, perdem um recurso atrás do outro. Depois do pedido de suspeição
contar o juiz Moro ter sido negado
pelo TRF-4, eles recorreram ao STJ, mas o ministro Felix Fischer negou monocraticamente o
apelo.
Felipe Moura Brasil, que agora integra a equipe do site O ANTAGONISTA, diz que as perguntas da
vez são: Quem irá pedir a “suspeição” de Antonio
Palocci? Quem vai alegar que ele não é “o competente” para dar testemunho? Quem
vai acusá-lo de decisão “monocrática”?
O máximo que se
pode argumentar contra Palocci, no
padrão dos pedidos de afastamento feitos por investigados, é que ele “extrapola
a normal conduta de um membro do PT”,
pois rompe a Omertà ― a Lei do Silêncio da Máfia, que até agora
vem sendo respeitada por petistas históricos, como Dirceu e Vaccari. Mas
isto só potencializa a força inédita de seu depoimento, que levou as linhas
auxiliares do PT a começar a pular
do barco de Lula e avaliar o
lançamento de candidaturas próprias para 2018.
E diz mais o jornalista:
Se “um é pouco, dois é bom, três é demais”, para a esquerda “um” foi Marcelo Odebrecht, “dois” foi Feira (João Santana e Mônica Moura),
“três” foi Palocci. Até Ciro Gomes, que defendeu Lula da condução coercitiva, da
divulgação da conversa com Dilma
sobre o “termo de posse” e da condenação no caso do triplex, admitiu que o
depoimento “fere o centro da narrativa de Lula
e do PT, de que há um inimigo
externo ao PT promovendo, via
judicial, uma perseguição injusta contra o presidente, e, na medida em que um
braço direito de Lula faz isso, fica
difícil sustentar a narrativa” ― narrativa até então ecoada por Ciro. Tão difícil que o PT reduziu de 100 mil (no primeiro
depoimento de Lula em Curitiba) para
2.500 (no segundo) a previsão de militantes na Capital paranaense, com o
objetivo evidente de evitar uma nova impressão geral de fiasco. E fizeram bem,
como agora se sabe. No último dia 13, havia mais policiais, no entorno do
edifício onde fica a 13ª Varal Federal do Paraná, do que manifestantes.
A bomba do
insuspeito Palocci explodiu Lula e despedaçou a esquerda nacional.
Tenham todos um ótimo domingo.
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