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Em 1989, votei no caçador de marajás de
araque porque a alternativa era o PT.
Pela mesma razão, votei em FHC, Alckmin, Serra e Aécio. Portanto, não
será com meu voto que o criminoso de Garanhuns retornará ao poder, seja
fantasiado de Andrade, Raddard ou Luladdad. Mas não vai ser fácil engolir o deputado capitão...
Sempre me considerei apolítico e apartidário. De uns tempos
para cá, me tornei mais apartidário do que apolítico, mas uma coisa é certa: em
momento algum desta vida tive tanto nojo da política e dos políticos quanto
agora.
Como o maior castigo para quem não se interessa por política é
ser governado por quem se interessa, não dá para a gente simplesmente ficar na
janela vendo a banda passar. Mas o fato é que não está fácil sair da sinuca de
bico — a situação é surreal; nem um roteirista de tramas improváveis faria melhor. Basta ver quem são os 13 postulantes à presidência que restaram dos mais
de 20 pré-candidatos iniciais e os que têm chances reais de passar para o segundo turno.
Diversos analistas e cientistas políticos de botequim apontam semelhanças entre as próximas eleições e as de 1989, a começar pela pluralidade e péssima
qualidade dos candidatos — dos 22 postulantes de então, cito Collor (por motivos óbvios), Lula (idem), Leonel Brizola, Mario Covas, Paulo Maluf e Ulysses Guimarães. Hoje, quem mais mais chama a atenção são, pelo PT, o presidiário de Curitiba — espécie
de “egun mal despachado” que “incorporou” em certo ex-prefeito petista, medíocre
e sem amor-próprio (se tivesse, não se sujeitaria a esse papel de fantoche) — e
pelo PSL, o dublê de deputado e
capitão reformado que se posiciona na extremidade oposta do espectro
político-partidário.
Também merecem menção o arremedo de cangaceiro nascido em Pindamonhangaba (SP), o tão insípido quanto insistente picolé de
chuchu e a sonhática abilolada que ressurge das cinzas a cada quatro anos. Entre
os candidatos menos expressivos, mas nem por isso menos curiosos, vale citar
aberrações como o misto de bombeiro, deputado e fanático religioso do Patriotas, o exótico representante dos
“sem-teto” pelo PSOL e a lunática do
PSTU — cuja biografia e projeto de
governo você não pode deixar de conhecer.
Igualmente curioso é o fato de tanto Sarney quanto Temer
serem vices promovidos a titulares — o primeiro com a morte de Tancredo e o segundo com o impedimento de Dilma — e disputarem focinho a focinho o galardão de presidente mais rejeitado desde a
democratização. Vale também destacar que os índices de desgaste, fragmentação
e rejeição à política e aos políticos em 1989 eram parecidos com os de hoje, e que ambas as eleições tiveram, durante algum tempo, um animador de programa de auditório como candidato (Sílvio Santos em 1989 e Luciano Huck em 2018). Outra
coincidência: tanto Collor em 1989 quanto Bolsonaro em 2018 tiveram suas candidaturas registradas por partidos nanicos (PRN e PSL, respectivamente).
Durante as eleições de 1989, o Brasil enfrentava uma
hiperinflação galopante, herdada da ditadura militar, além de amargar uma dívida
externa explosiva. A situação atual não é tão dramática, mas é outro ponto que
possibilita a comparação: a saída da recessão está lenta, a inflação só não
sobe devido à baixa demanda e o desemprego aflige 13 milhões de trabalhadores. Por outro lado, em 1989 o Brasil emergia de uma ditadura que durou duas décadas
e comemorava a promulgação da Constituição “cidadã” — que na verdade era e
continua sendo uma quimera, mas isso é conversa para uma próxima postagem. As “Diretas-já” foram as precursoras das manifestações
de rua que ressurgiram em 2013 e, mais adiante, ajudaram a penabundar a calamidade
em forma de gente com que Lula (sempre
ele!) nos empalou em 2010 — e que mais de 50 milhões de otários reelegeram em
2014.
Para encurtar a conversa: “uma eleição com muitos candidatos, em meio a uma grave crise econômica
e prenhe de descrença na política” define tanto o pleito de 1989 quanto o
deste ano. Ressalte-se que o paradigma do passado envolveu apenas a disputa pela presidência, ao passo que no próximo dia 7 os eleitores escolherão também dois
senadores, um deputado federal, um governador e um deputado estadual (como se
vê, desgraça pouca é bobagem). Isso não só confunde ainda mais o já
pouco esclarecido eleitorado tupiniquim como propicia a interferência de
alianças estaduais na escolha do chefe do Executivo.
Tudo somado, subtraído, em 1989 deu Collor. Em 2018... Saberemos no próximo dia 28.
P. S. Na noite do último domingo, a exemplo do que
fizeram antes dela cinco
outras emissoras, a Record
promoveu um debate entre presidenciáveis que contou com a presença de Álvaro Dias, Cabo Daciolo, Ciro Gomes,
Fernando Luladdad, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos, Henrique
Meirelles e Marina Silva. O atual líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro, teve alta hospitalar na
véspera, mas sua saúde inspira cuidados e ele declinou do convite.
Mesmo não sendo de corpo presente, a missa rezada pelos adversários do Capitão Caverna
foi massacrante (detalhes nesta
matéria). A merda respingou também em Luladdad, embora com menor intensidade (rima não intencional). Que Deus nos ajude.