terça-feira, 2 de outubro de 2018

MINISTRO LUIZ ROBERTO BARROSO, SOBRE O STF, E AS ELEIÇÕES ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA



Precisa dizer mais alguma coisa?

Precisa, sim. Vamos lá.

Em 1989, votei no caçador de marajás de araque porque a alternativa era o PT. Pela mesma razão, votei em FHC, Alckmin, Serra e Aécio. Portanto, não será com meu voto que o criminoso de Garanhuns retornará ao poder, seja fantasiado de Andrade, Raddard ou Luladdad. Mas não vai ser fácil engolir o deputado capitão...

Sempre me considerei apolítico e apartidário. De uns tempos para cá, me tornei mais apartidário do que apolítico, mas uma coisa é certa: em momento algum desta vida tive tanto nojo da política e dos políticos quanto agora.

Como o maior castigo para quem não se interessa por política é ser governado por quem se interessa, não dá para a gente simplesmente ficar na janela vendo a banda passar. Mas o fato é que não está fácil sair da sinuca de bico — a situação é surreal; nem um roteirista de tramas improváveis faria melhor. Basta ver quem são os 13 postulantes à presidência que restaram dos mais de 20 pré-candidatos iniciais e os que têm chances reais de passar para o segundo turno.

Diversos analistas e cientistas políticos de botequim apontam semelhanças entre as próximas eleições e as de 1989, a começar pela pluralidade e péssima qualidade dos candidatos — dos 22 postulantes de então, cito Collor (por motivos óbvios), Lula (idem), Leonel Brizola, Mario Covas, Paulo Maluf e Ulysses Guimarães. Hoje, quem mais mais chama a atenção são, pelo PT, o presidiário de Curitiba — espécie de “egun mal despachado” que “incorporou” em certo ex-prefeito petista, medíocre e sem amor-próprio (se tivesse, não se sujeitaria a esse papel de fantoche) — e pelo PSL, o dublê de deputado e capitão reformado que se posiciona na extremidade oposta do espectro político-partidário. 

Também merecem menção o arremedo de cangaceiro nascido em Pindamonhangaba (SP), o tão insípido quanto insistente picolé de chuchu e a sonhática abilolada que ressurge das cinzas a cada quatro anos. Entre os candidatos menos expressivos, mas nem por isso menos curiosos, vale citar aberrações como o misto de bombeiro, deputado e fanático religioso do Patriotas, o exótico representante dos “sem-teto” pelo PSOL e a lunática do PSTU — cuja biografia e projeto de governo você não pode deixar de conhecer.  

Igualmente curioso é o fato de tanto Sarney quanto Temer serem vices promovidos a titulares — o primeiro com a morte de Tancredo e o segundo com o impedimento de Dilma — e disputarem focinho a focinho o galardão de presidente mais rejeitado desde a democratização. Vale também destacar que os índices de desgaste, fragmentação e rejeição à política e aos políticos em 1989 eram parecidos com os de hoje, e que ambas as eleições tiveram, durante algum tempo, um animador de programa de auditório como candidato (Sílvio Santos em 1989 e Luciano Huck em 2018). Outra coincidência: tanto Collor em 1989 quanto Bolsonaro em 2018 tiveram suas candidaturas registradas por partidos nanicos (PRN e PSL, respectivamente).

Durante as eleições de 1989, o Brasil enfrentava uma hiperinflação galopante, herdada da ditadura militar, além de amargar uma dívida externa explosiva. A situação atual não é tão dramática, mas é outro ponto que possibilita a comparação: a saída da recessão está lenta, a inflação só não sobe devido à baixa demanda e o desemprego aflige 13 milhões de trabalhadores. Por outro lado, em 1989 o Brasil emergia de uma ditadura que durou duas décadas e comemorava a promulgação da Constituição “cidadã” — que na verdade era e continua sendo uma quimera, mas isso é conversa para uma próxima postagem. As “Diretas-já” foram as precursoras das manifestações de rua que ressurgiram em 2013 e, mais adiante, ajudaram a penabundar a calamidade em forma de gente com que Lula (sempre ele!) nos empalou em 2010 — e que mais de 50 milhões de otários reelegeram em 2014.

Para encurtar a conversa: “uma eleição com muitos candidatos, em meio a uma grave crise econômica e prenhe de descrença na política” define tanto o pleito de 1989 quanto o deste ano. Ressalte-se que o paradigma do passado envolveu apenas a disputa pela presidência, ao passo que no próximo dia 7 os eleitores escolherão também dois senadores, um deputado federal, um governador e um deputado estadual (como se vê, desgraça pouca é bobagem). Isso não só confunde ainda mais o já pouco esclarecido eleitorado tupiniquim como propicia a interferência de alianças estaduais na escolha do chefe do Executivo.

Tudo somado, subtraído, em 1989 deu Collor. Em 2018... Saberemos no próximo dia 28.

P. S. Na noite do último domingo, a exemplo do que fizeram antes dela cinco outras emissoras, a Record promoveu um debate entre presidenciáveis que contou com a presença de Álvaro Dias, Cabo Daciolo, Ciro Gomes, Fernando Luladdad, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos, Henrique Meirelles e Marina Silva. O atual líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro, teve alta hospitalar na véspera, mas sua saúde inspira cuidados e ele declinou do convite. Mesmo não sendo de corpo presente, a missa rezada pelos adversários do Capitão Caverna foi massacrante (detalhes nesta matéria). A merda respingou também em Luladdad, embora com menor intensidade (rima não intencional). Que Deus nos ajude.

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