Na esteira do que comentei no post da última quarta-feira, transcrevo a seguir a opinião
sempre ácida — mas nem por isso menos divertida — do impagável Josias de Souza:
Augusto Aras, o indicado
de Jair Bolsonaro para o posto de procurador-geral da República, iniciou
uma peregrinação pelo Senado. Nos próximos dias, irá de gabinete em gabinete
para pavimentar a aprovação do seu nome. A chance de o Senado rejeitar sua
indicação é muito próxima de zero. Assim, não há muito o que bolsonaristas
decepcionados e procuradores revoltados possam fazer além de lidar com a nova
realidade.
No momento, o que mais
preocupa é a atmosfera de instabilidade que se observa no Ministério Público Federal. A insatisfação vaza para fora do
ambiente fechado dos gabinetes. Começa a se manifestar ao ar livre.
Prudentemente, Aras evita entrar em
bolas divididas. Assimilou em silêncio a enxurrada de críticas de colegas nas
redes sociais. Não respondeu nem mesmo à nota oficial em que a Associação Nacional dos Procuradores da
República classificou sua indicação como "retrocesso democrático e
institucional".
O esperneio é livre e
até compreensível. Ao ignorar a lista tríplice dos procuradores, Bolsonaro rompeu uma tradição de 16
anos. Mas é preciso ressaltar que o presidente não violou o texto
constitucional. Esse jogo está jogado. Confirmando-se a aprovação de Aras no Senado, como parece muito
provável, a bola terá que ser colocada no meio de campo. Vai começar uma nova
partida.
A margem de manobra de
Augusto Aras é grande, mas não é
infinita. Se ele tentar fazer algo que se pareça com gol de mão, a corporação
reagirá. Se a revolta com sua chegada serve para alguma coisa, é para mostrar
que não parece haver disposição na Procuradoria para o convívio com um novo Geraldo Brindeiro, o engavetador-geral
da era FHC.