Na esteira do que comentei no post da última quarta-feira, transcrevo a seguir a opinião
sempre ácida — mas nem por isso menos divertida — do impagável Josias de Souza:
Augusto Aras, o indicado
de Jair Bolsonaro para o posto de procurador-geral da República, iniciou
uma peregrinação pelo Senado. Nos próximos dias, irá de gabinete em gabinete
para pavimentar a aprovação do seu nome. A chance de o Senado rejeitar sua
indicação é muito próxima de zero. Assim, não há muito o que bolsonaristas
decepcionados e procuradores revoltados possam fazer além de lidar com a nova
realidade.
No momento, o que mais
preocupa é a atmosfera de instabilidade que se observa no Ministério Público Federal. A insatisfação vaza para fora do
ambiente fechado dos gabinetes. Começa a se manifestar ao ar livre.
Prudentemente, Aras evita entrar em
bolas divididas. Assimilou em silêncio a enxurrada de críticas de colegas nas
redes sociais. Não respondeu nem mesmo à nota oficial em que a Associação Nacional dos Procuradores da
República classificou sua indicação como "retrocesso democrático e
institucional".
O esperneio é livre e
até compreensível. Ao ignorar a lista tríplice dos procuradores, Bolsonaro rompeu uma tradição de 16
anos. Mas é preciso ressaltar que o presidente não violou o texto
constitucional. Esse jogo está jogado. Confirmando-se a aprovação de Aras no Senado, como parece muito
provável, a bola terá que ser colocada no meio de campo. Vai começar uma nova
partida.
A margem de manobra de
Augusto Aras é grande, mas não é
infinita. Se ele tentar fazer algo que se pareça com gol de mão, a corporação
reagirá. Se a revolta com sua chegada serve para alguma coisa, é para mostrar
que não parece haver disposição na Procuradoria para o convívio com um novo Geraldo Brindeiro, o engavetador-geral
da era FHC.
Chamar este pobre país de "banânia" é elogiar,
mas, convenhamos, seria deselegante (embora não totalmente impróprio) tratá-lo de
"país de merda". Questões semânticas à parte, fato é que nossa "Pátria
Amada, Brasil" perdeu em abril deste ano a 7ª posição
no ranking das principais economias mundiais (que vinha mantendo desde 2005) e
já nem figura mais entre as 29 nações mais ricas da lista do Business Insider. O "País do Futuro(que nunca chega)" tem os impostos, os juros, os automóveis,
os pedágios, o combustível e a energia elétrica mais caros do mundo.
Como se não bastasse, o "Gigante Adormecido" (deitado eternamente em berço esplêndido)
tem os políticos mais corruptos do mundo e é presidido atualmente pelo chefe de
governo mais irracional do mundo, que acontece de ser também o mais impopular entre
todos os que ocuparam esse cargo desde a redemocratização do "País do Futebol". E com a recente alta
do dólar, nosso povo sofrido já nem pode mais ir à Disney conhecer o Pateta.
Felizmente, basta ir a Brasília ou
entrar nas redes sociais para ver vários.
A coisa fica ainda pior quando se foca a Justiça nesta terra de ninguém. Além de
cega, essa senhora é surda e, não raro, corrupta: sobram "causos" de
venda de sentenças envolvendo não só juízes de primeira instância, mas
desembargadores e ministros das Cortes superiores. Claro que daí até suas meritíssimas
excelências serem processadas, jugadas, condenadas e encarceradas vai uma longa
distância.
Observação: Entre uma miríade de exemplos notórios,
relembro o caso do desembargador Ivan
Athié, presidente da 1ª Turma do
TRF-2, que em março passado mandou soltar o Vampiro do Jaburu e seu comparsa, coronel Lima (para detalhes da vida pregressa do "Limão", como o policial militar reformado
gosta de ser tratado, clique aqui).
Athiéficou afastado do cargo durante sete anos,
devido a uma ação no STJ por
estelionato e formação de quadrilha (em 2004). Um inquérito contra ele, com as
mesmas acusações, foi arquivado em 2008 pelo STJ a pedido do MPF, que
alegou não ter encontrado provas de que o desembargador tivesse proferido
sentenças em conluio com advogados. O magistrado retornou às atividades em
2011, depois que o STF trancou a
ação contra ele.
Falando em patacoadas, a usina de crises de plantão no
Planalto criou mais um "mal estar internacional" ao criticar a ex-presidente
do Chile e atual comissária da ONU
para direitos humanos, Michelle Bachelet.
Em pronunciamento sobre o governo brasileiro, Bachelet afirmou que observou "uma redução do espaço cívico e democrático, caracterizado por ataques
contra defensores dos direitos humanos, restrições ao trabalho da sociedade
civil e ataques a instituições de ensino”, e que, "desde 2002, o Brasil é
um dos cinco países do mundo com o maior número de assassinatos de ativistas de
direitos humanos".
Fiel ao seu estilo "bateu, levou", Bolsonaro devolveu: “Ela está acusando que não estou punindo
policiais que estão matando muita gente no Brasil. Essa é a acusação dela. Ela
está defendendo direitos humanos de vagabundos. Ela critica dizendo que o
Brasil está perdendo seu espaço democrático. Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles seu pai, hoje o
Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela”.
Cá entre nós, eu acho que a repercussão midiática — como de
praxe — foi muito além do comentário do capitão, talvez pelo fato de ele ter
citado nominalmente o pai de Michelle, general Alberto Bachelet, que foi torturado e morto durante a ditadura de Augusto Pinochet. Mas remexer nos escaninhos
da história chilena não é bem a minha praia, e não convém ao sapateiro ir além
das chinelas.
Voltando ao cenário jurídico-político tupiniquim, os
ex-governadores do Rio, Anthony Garotinho
e Rosinha Mateus, presos dias atrás
com outros três suspeitos de participar de um esquema de superfaturamentos em contratoscelebrados
entre a Prefeitura de Campos dos
Goytacazes (município fluminense do qual ambos foram prefeitos) e a
construtora Odebrecht, foram soltos depois
de passarem uma única noite na cadeia, graças à pronta intervenção do
desembargador Siro Darlan, que lhes concedeu
o habeas corpus durante o
plantão judiciário na 7ª Câmara Criminal
do TJ-RJ.
Além de ter carreira marcada por decisões controversas e de
grande repercussão, Darlan é
alvo de inquérito no STJ, que apura a venda de sentenças no fórum da capital.
Antes de ser nomeado desembargador, em 2004, ele comandou, por mais de uma
década, a 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio. Muitas de suas decisões
geraram polêmicas. Como desembargador, em 2013, concedeu habeas corpus a sete dos nove envolvidos
na invasão ao Hotel Intercontinental, em São Conrado, em 2010, quando o bando,
armado com fuzis, pistolas e granadas, manteve 35 reféns, entre funcionários e
hóspedes, por três horas. Na ocasião, uma pessoa morreu e seis ficaram feridas.
Entre os beneficiados estava Rogério 157,
que assumiu o comando do tráfico na Rocinha após a prisão do traficante Nem.
Em dezembro do ano passado, O GLOBO publicou que Darlan é suspeito de soltar presos
durante plantões judiciais em troca de propina. Em dois casos
investigados, detentos teriam sido beneficiados por decisões do desembargador.
Num deles, foi anexada a colaboração premiada de um dos envolvidos, que afirmou
ter ouvido de um dos presos sobre o pagamento a um intermediário do magistrado:
R$ 50 mil para ser solto.
Inicialmente, segundo o delator, o lance foi de R$ 120 mil, mas caiu para menos da metade dividido em duas
parcelas.
Passando às boas notícias — se é que ainda as temos neste
país: A CCJ do Senado não só aprovou, por 18 votos contra 7, relatório do senador Tasso Jereissati sobre a PEC da
Previdência, como rejeitou os oito destaques
apresentados para alterar o parecer do relator. A PEC paralela também foi
aprovada em votação simbólica e por unanimidade. O texto principal segue para o
plenário do Senado e, se aprovado, será promulgado. O ganho fiscal chegará na
R$ 962 bilhões, mais R$ 350 bilhões se a PEC paralela for aprovada na Câmara e os estados e municípios aderirem à proposta que altera as regras da aposentadoria.
Bolsonaro anunciou ontem que
deve acolher integralmente as sugestões de vetos do ministro da Justiça ao
texto da Lei de Abuso de Autoridade,
aprovada a toque de caixa, dias atrás, pelo Congresso. Segundo o portal G1, o capitão efetivamente votou 36
trechos de 19 artigos. Apesar dos esforços de Verdevaldo da Couves, da imprensa
marrom (ou seria vermelha?), dos corruptos que pululam no Congresso e da banda
podre da alta cúpula do Judiciário, SérgioMoro continua muito popular, com 25
pontos de aprovação acima do presidente.
Por outro lado, segue envolta em brumas a nomeação do próximo
Procurador-Geral da República (o
mandato da atual termina no próximo dia 17). Há uma pressão política dos
presidentes da Câmara e do Senado para que Raquel
Dodge seja reconduzida ao cargo, o que desagradou membros da força-tarefa da
Lava-Jato que atuam no DF, onde as coisas andam muuuuuuito
mais devagar do que em Curitiba — até hoje, nenhum político com foro
privilegiado foi mandado para a cadeia pelos 11 togados supremos, sem mencionar
que a delação de Leo Pinheiro, da OAS, está parada há mais de um ano e
outros processos e delações estão embolorando nos escaninhos da PGR.
Atualização: no finalzinho da tarde de ontem, o Augusto Aras foi escolhido pelo
presidente para suceder a Raquel Dodge
no comando da PGR. O subprocurador
baiano tem 60 anos de idade e foi apadrinhado pelo ex-deputado federal Alberto Fraga, que é um dos políticos
mais próximos de Bolsonaro. Aras era bem contado, mas caiu na bolsa de apostas depois que a imprensa
divulgou que ele já defendeu o MST (em
discurso na Câmara, em 2008) e promoveu jantares para petistas. Pelo mesmo
motivo,enfrentou resistências no PSL, mas procurou
parlamentares da legenda que têm proximidade com o capitão para tentar reverter
o quadro. Funcionou. Sua indicação ainda precisa ser chancelada pelo Senado, mas o que importa mesmo é saber se foi uma boa escolha, considerando que a Lava-Jato e o combate à corrupção dependem diretamente da PGR — que oo próprio Bolsonaro comparou
recentemente à Rainha no jogo de Xadrez.
Na última quarta-feira, os procuradores Raquel
Branquinho, Maria Clara Noleto, Luana Vargas, Hebert Mesquita, Victor
Riccely e Alessandro Oliveira,
integrantes da força-tarefa da Lava-Jato
em Brasília, pediram demissão em bloco, alegando divergências de posicionamento com Raquel Dodge. Em nota, o grupo afirmou que o desligamento se deve a uma
“grave incompatibilidade de entendimento dos membros da equipe” com a
manifestação enviada pela PGR ao STF no dia anterior, quandoDodge pediu arquivamento preliminar de
trechos do acordo de colaboração de Léo
Pinheiro em que foram citados Rodrigo
Maia e Ticiano Dias Toffoli,
irmão ministro supremo Dias Toffoli.
Ao que parece, depois que a 2ª Turma do
Supremo, decisão de anular a sentença do então juiz Sérgio Moro no caso do ex-presidente petista do BC e da Petrobrás, Aldemir Bendine, e devolver os autos à
primeira instância, a Lava-Jato resolveu partir para a guerra. Para entender
melhor esse imbróglio, convém ouvir que entende do assunto:
Segundo a revista eletrônica Crusoé, o presidente
do STF, DiasToffoli, teria
se irritado com um artigo publicado em O Antagonista, na última quarta-feira, no qual
o procurador Diogo Castor salientou
que os cargos nos tribunais eleitorais são preenchidos por indicações políticas,
e por isso teria anunciado a criação do tal inquérito para investigar calúnias
contra a honorabilidade da corte e de seus membros e familiares. “Esse
assassinato de reputações que acontece hoje nas mídias sociais, impulsionado
por interesses escusos e financiado sabe-se lá por quem, deve ser apurado com
veemência e punido no maior grau possível”, afirmou o ministro ao Estado. “Isso está atingindo todas as
instituições e é necessário evitar que se torne uma epidemia.”, disse o ministro.
Observação: O senador Flávio Arns, da Rede do Paraná, é o 29º parlamentar a assinar o
novo requerimento da CPI da Lava-Toga,
que será protocolado hoje no Senado (eram necessárias 27 assinaturas). “Minha
decisão foi motivada pelo grande sentimento de frustração vivenciado pela
sociedade brasileira nos últimos dias, principalmente diante do risco de
retrocesso em relação à Lava-Jato”,
justificou o parlamentar, em nota. Já o senador Flávio Bolsonaro ainda não assinou o requerimento. Sua assessoria
informou que ele está “avaliando” o pedido, e evitou dizer qual decisão ele
tomará. Ontem, o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre, disse não existir a
menor hipótese de ele levar adiante qualquer tentativa de investigação contra o
Supremo neste momento, pois a Lava-Toga
criaria um embate desnecessário entre Legislativo e Judiciário. Alcolumbre também minimizou o efeito dos pedidos de impeachment contra ministros STF e
disse que “uma crise institucional agora não fará bem ao Brasil". Entrementes,
entre uma decisão suprema e outra, Dias
Toffoli vem articulando a criação de uma frente parlamentar de apoio ao
Judiciário, visando neutralizar os avanços da turma que quer botar a Lava-Toga na rua. Se isso explica
porque o zero um e outros parlamentares enrolados com a Justiça relutam em
apoiar a CPI... bem, para bom entendedor, pingo é letra.
Para a deputada Janaína
Pascoal, “os ministros são agentes públicos como outros quaisquer. Eles
também precisam dar satisfação. Às vezes, os ministros reagem como se fossem
intocáveis, inalcançáveis, acima de quaisquer autoridades. Isso não é verdade.
Eles estão sujeitos a fiscalizações e críticas de outros agentes públicos.” (…)
“Um jornalista que escreve uma matéria pode receber críticas. Mas os
magistrados querem se colocar num Olimpo que não é real. Não pode ser real.”
O presidente Jair
Bolsonaro se manifestou indiretamente sobre a decisão do STF que fixou a competência da Justiça
Eleitoral para julgar crimes comuns ligados ao caixa 2. Ele retuitou um vídeo
em que seu filho Eduardo, o zero
três, pede apoio ao pacote anticrime de Sergio
Moro. Clique aqui
para assistir.
Ao cumprimentar Toffoli
pela iniciativa, Gilmar Mendes, seu antigo mentor, vituperou
ataques contra os procuradores da Lava-Jato
e a proposta de criar uma fundação para gerir parte de uma multa
bilionária paga pela Petrobras. “Não quero cometer perjúrio, mas o que se
pensou com essa fundação do Deltan
Dallagnol? Foi criar um fundo eleitoral? Era para isso? Imagina o poder.
Quantos blogues teriam? Quanta coisa teria à disposição? Se eles estudaram
em Harvard, não aprenderam
nada. São uns cretinos”, disse Gilmar,
referindo-se ao currículo de Deltan.
Também de acordo com o O
Antagonista, o principal alvo dessa caça à bruxas é o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato em Curitiba, embora outros
integrantes da força-tarefa e os auditores da Receita Federal que
iniciaram uma investigação sobre as transações financeiras de sua mulher, Roberta Rangel, e do casal Gilmar e Guiomar Mendes também estejam
na mira.
A investigação do STF
é vista por procuradores como uma forma de intimidar o Ministério Público.
Ainda nesta sexta-feira, Raquel Dodge
solicitou informações sobre o inquérito ao ministro Alexandre de Moraes,
designado relator da ação. Na avaliação da procuradora-geral, o caso tem
potencial para comprometer a imparcialidade do Judiciário, já que a função de
investigar não faz parte da competência do Supremo. “Os fatos ilícitos, por
mais graves que sejam, devem ser processados segundo a Constituição”, afirmou
ela. Toffoli rebateu e disse que,
além de haver previsão regimental para abertura do inquérito, o CPP estabelece
que toda investigação deve ser supervisionada por um juiz.
Dallagnol disse que a decisão
do Supremo pode fechar a janela
de combate à corrupção política que se abriu há cinco anos, quando se iniciou o
operação força-tarefa. Segundo ele, as defesas dos criminosos já estão se
movimentando; a 13ª Vara Federal em
Curitiba vem recebendo pedidos de declinação de competência (para que os
casos da Lava-Jato sejam remetidos
para a Justiça Eleitoral). Antes do julgamento, o decano da Lava-Jato, Carlos Fernando Santos Lima, já alertava para os efeitos da decisão:
"É quase inacreditável que haja uma intenção real de se tomar essa
decisão. Porque podem jogar cinco anos no lixo, por uma questão técnica sem
relevância." Dodgedisse não ver risco de anulação
das ações em andamento e já julgadas, mas entende que é preciso avaliar tudo
isso com muito cuidado e não perder o foco.
Já a especialista em direito
eleitoral Carla Karpstein afirma haver, sim, risco de anulação dos processos, tanto nas cortes comuns quanto na
Justiça Eleitoral — nesta, porque os advogados vão dizer que as provas são
nulas porque não foram produzidas ali; naquela, vão argumentar que houve
nulidade porque a Justiça não tinha competência para julgar caixa 2 nos
casos que já foram decididos ou estão em tramitação.
Três entidades que representam os procuradores saíram em
defesa de membros da força-tarefa atacados por Gilmar Mendes e alvos de investigação no Supremo.A Conamp, maior e principal entidade de
promotores e procuradores em todo o País repudiou
nesta sexta, 15, o feroz ataque de Gilmar aos integrantes da
força-tarefa e as críticas ao acordo firmado pela Lava-Jato com a Petrobrás para tentar reverter 80% dos recursos da
multa que a estatal pagará a autoridades dos Estados Unidos. Curiosamente,
partiu de Raquel Dodgeo pedido para o STF suspendesse o acordo que criava
o fundo de R$ 2,5 bilhões. O presidente da Associação
Nacional de Procuradores, José Roberto
Robalinho, disse ao Estadoque
há pelo menos dois pontos questionáveis no procedimento adotado pela PGR
— sem analisar no mérito em si a ação apresentada.
Observação: A decisão do STF
veio quando o pessoal da Lava-Jato buscou ganhar poder. Sem ouvir ninguém, nem Raquel Dodge, os procuradores montaram
um esquema em que a Petrobras lhes entregou parte da multa que
pagou nos EUA, mas liberada para uso no Brasil, para ser gerenciada por uma fundação de luta
contra a corrupção, sob seu controle. Quem decide onde aplicar recursos é o
Governo eleito, não os procuradores. O STF
se mobilizou e a própria Raquel Dodge entrou na Justiça contra o acordo.
O fato é que a ação da procuradora-geral gerou uma crise
interna no MPF. Os procuradores Pablo Coutinho Barreto e Vitor Souza Cunha — chefes da
Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise —, que
atuavam em uma secretaria vinculada ao gabinete de Raquel, pediram
demissão, o que foi recebido pela categoria como um protesto. Ainda na sexta-feira,
os procuradores da Lava-Jato
elaboraram documento no qual trazem esclarecimentos acerca do acordo firmado
entre o MPF e a Petrobras. O
documento é endereçado ao juiz Federal da 13ª
Vara Federal em Curitiba, e pede que as informações sejam encaminhadas
também ao ministro Alexandre de Moraes,
que determinou a suspensão do acordo.
Ao mesmo tempo em que é bombardeada a partir de Brasília, a Lava-Jato sofre um esfriamento natural
em Curitiba, seu epicentro. Lá, Lula
já foi condenado duas vezes e está encarcerado há onze meses. Parte dos
empresários já foi solta; alguns, como Marcelo
Odebrecht, graças à delação premiada. Seguem detidos próceres do PT e MDB,
como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto
e o ex-deputado Eduardo Cunha. Com a
saída de Moro e o fim da
substituição temporária por Gabriela
Hardt, a 13ª Vara Federal passou a ser comandada desde o início do mês pelo
juiz Luiz Antonio Bonat, que herdou
cerca de 1.700 procedimentos, de ações penais a inquéritos ainda em andamento.
Nada, porém, que possa fazer mais barulho e causar mais surpresa do que os
casos dos tempos áureos da operação. O frenesi daqueles tempos também está
longe de se repetir. As operações ostensivas, aquelas que antes ocorriam todas
as sextas, foram se tornando mais esparsas.
Os números obtidos pela força-tarefa do Paraná, ao longo
destes cinco anos, restam impressionantes. Ao todo, 2.476 procedimentos de
investigação foram instaurados e, em decorrência deles, houve 155 prisões
preventivas, 183 delações e a condenação de 155 pessoas a exatos 2.242 anos de
prisão. Hoje, o principal flanco de apurações está na Lava-Jato do Rio, que implodiu a quadrilha que saqueou o estado sob
o comando de Sérgio Cabral (já foram
realizadas cerca de 200 prisões em 30 operações) e ainda tem fôlego para novas
e importantes fases.
De acordo com Deltan
Dallagnol, a despeito do horizonte turvo, a operação precisa avançar. Ele
lembrou que, no próximo dia 10 de abril, a corte pode impor mais uma derrota à
investigação, ao julgar se réus condenados em segunda instância, como Lula, devem começar a cumprir pena
imediatamente. “Faremos todo o possível dentro da lei para seguir nosso
trabalho, mas receio que a janela de combate à corrupção que se abriu há 5 anos
tenha começado a se fechar. Está fora da esfera de atribuição de procuradores
de primeira instância mudar isso.” A conferir.