Falo mais adiante sobre a foto que ilustra esta postagem. Antes, volto a abordar a indicação de Augusto Aras para substituir Raquel Dodge no comando da PGR, que desagradou membros do MPF,
sobretudo os que participam da ANPR.
Cabe ao
"ungido do Senhor" tentar reduzir as críticas buscando apoio entre procuradores que não integram
forças-tarefas e não têm cargos de comando. Esse será seu maior desafio, já que a aprovação pelo Senado são favas contadas. Como cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, o indicado já iniciou o périplo de beija-mão pelos gabinetes do presidente da Casa, Davi Alcolumbre, e da presidente da CCJ, Simone Tebet. Nas próximas semanas, o candidato deve se reunir a portas fechadas com outros 79 senadores.
Oficialmente, o presidente indicou Aras por ele ser "católico e ter perfil conservador";
nas entrelinhas, porém, salta aos olhos o verdadeiro motivo, que é a disposição demonstrada pelo subprocurador (que se reuniu com Bolsonaro pelo menos quatro vezes antes de ser formalmente indicado) de
rezar pelo seu catecismo. O capitão diz que quer alguém favorável às medidas do
governo para destravar grandes obras de infraestrutura no país, mas está mais
preocupado em salvar seu primogênito. Daí porque o fato de Aras ter
criticado a Lava-Jato, repudiado a chamada
ideologia de gênero e se mostrado favorável ao excludente de ilicitude
para proprietários rurais também pesou na decisão.
Como se sabe, Flávio Bolsonaro é investigado por movimentações
financeiras mal explicadas — dele próprio e de seu ex-motorista e ex-chefe de
gabinete, Fabrício Queiroz. Sem o
menor constrangimento, seu papai mandou às favas a agenda anticorrupção — uma das principais promessa de campanha do então candidato — para aliviar a barra do pimpolho, sobretudo depois que Queiroz demitiu a ex-mulher de Adriano da Nóbrega
(acusado de chefiar uma milícia no Rio). Mesmo assim, Queiroz lamenta não ver ninguém mover nada para tentar
ajudá-lo. Talvez devesse aproveitar sua próxima visita ao Einstein para consultar um oftalmologista.
Observação: Depois de ser operado de um câncer no
intestino, na virada do ano, o ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro na Alerj
desapareceu como uma cusparada num temporal — pelo menos para a polícia, já que
a reportagem investigativa da revista Veja,
quando não perde tempo beijando os pés de Verdevaldo
das Couves, sabe fazer seu trabalho: semanas atrás, os repórteres flagraram
o fantasminha camarada tomando um cafezinho
na lanchonete do Hospital Albert Einstein.
Ao rebater críticas
de nepotismo na indicação de Zero Três para a embaixada do Brasil nos EUA, Bolsonaro
disse achar "natural que um pai, podendo, dê filé-mignon
a seus filhos". Esse amor incondicional pela prole levou o capitão se aproximar do presidente
do STF, que fez sua parte: suspendeu as
investigações envolvendo Queiroz e Zero Um — e aproveitou o embalo para suspender também todos os demais
processos baseados em dados compartilhados pelos órgãos de fiscalização
e controle sem autorização judicial, livrando, por tabela, a pele da própria
esposa e da mulher do ministro Gilmar.
Paralelamente, Bolsonaro interferiu no MP-RJ,
na Receita Federal, no Coaf e na PGR, além de (quiçá movidos por ciúmes) dar início ao processo de
"fritura" do ministro Sérgio
Moro, cuja popularidade supera a do chefe em respeitáveis 25 pontos percentuais.
O entorno palaciano já se deu conta de que parte do eleitorado
bolsonarista está descontente com as interferências nos órgãos de combate à
corrupção. O capitão tenta reagir, seja posando para fotos sorridente ao lado do ministro da Justiça e vetando parcialmente
o abjeto projeto de lei aprovado pela Câmara sobre Abuso de Autoridade. A medida foi bem recebida por parte de sua base, mas considerada insuficiente por outra parte, que esperava o veto total.
Na última quinta-feira, Bolsonaro reconheceu ter desagradado o eleitorado. Falando a populares disse o presidente: “Estou recebendo muita crítica de gente que
votou em mim. Se não acredita em mim, e continua fazendo esse trabalho de não
acreditar, eu caio mais cedo, e mais cedo o PT volta.” Se isso evitará que as pessoas que o apoiaram por rejeição ao PT pulem do barco, sob o risco de ficarem estigmatizadas, só o tempo poderá dizer.
Passando agora à foto que ilustra esta postagem, Eduardo
Bolsonaro se deixou fotografar, ao lado do leito em que o pai convalesce da cirurgia a que foi submetido no último domingo, exibindo uma pistola Glock 9 mm na cintura. Foi a quarta vez que o capitão teve de ser operado em razão da facada desfechada pelo inimputável Adélio Bispo, um ano atrás, durante ato de campanha em Juiz de Fora.
Durante uma das inúmeras entrevistas que vem concedendo a partir de sua cela VIP em Curitiba, o presidiário diz que o atentado contra a vida de Bolsonaro não passou de uma farsa. É nisso que dá medir os outros pela
própria régua. Duvidosa, mesmo, é a autoria dos tiros
desfechados contra a caravana de Lula no Paraná, em março de 2018, ou dos ataques
à sede nacional do PT, em junho de 2016.
Voltando à foto, que foi publicada originalmente pelo próprio Zero Três: Vale lembrar que o pimpolho é entusiasta e colecionador
de armas, além de adepto da prática de tiro esportivo. A Glock 9 mm é a arma padrão usada pelos
policiais federais em todo país. Eduardo é escrivão da PF, e o fato de estar
licenciado não anula a prerrogativa de andar armado. Particularmente, acho
que estão fazendo carnaval em copo d'água, sobretudo quando há coisas muito mais
importantes acontecendo no pais. Mesmo assim, é impossível negar a "falta de absolutamente" que baliza o comportamento
do clã presidencial — a começar pelo próprio presidente, que há meses estilhaça a imagem do Brasil,
ofendendo governantes estrangeiros e tomando atitudes indignas para um chefe do Executivo, mesmo numa banânia como a nossa.
Dias atrás, uma emissora francesa flagrou
o momento em que o presidente da França critica o colega
brasileiro durante a última cúpula do G7. Em conversa com o presidente do Chile, Emmanuel Macron não só reprovou a maneira desrespeitosa como o colega brasileiro tratou a primeira-dama francesa nas redes sociais, como relembrou que, em julho passado, Bolsonaro cancelou no último minuto uma
reunião com o ministro de relações exteriores da França para... cortar o
cabelo. E filmou a si mesmo na cadeira do barbeiro, desancando Felipe Santa Cruz com a aleivosa teoria de que o pai do
presidente nacional da OAB não foi
morto pela ditadura militar, e sim por correligionários que visavam evitar o vazamento de informações confidenciais. Nas palavras do
próprio Bolsonaro: “Eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz”; não foram os militares que mataram ele
não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo que acontece.”
Durma-se com um barulho desses!