Devido a outros compromissos, não pude terminar o texto
que pretendia publicar nesta quarta-feira (fica para amanhã). Em
vez dele, segue o excerto de um artigo de Fernando
Gabeira.
(...) O sistema de
corrupção no Brasil tem sido apresentado como um mecanismo: envolve políticos que fraudam licitações, empresas que
superfaturam, e devolve uma parte aos partidos políticos.
A decisão que o
Supremo vai tomar [no próximo dia 4] pode agregar um novo elemento a esse mecanismo. É possível desviar dinheiro
público, por exemplo, e seguir em liberdade com a esperança mais do que
justificada da prescrição da pena. Isso mantém de pé um edifício moralmente
arruinado, mas difícil de ser batido.
Uma outra engrenagem
do mecanismo foi acionada com a
reforma política, em que os partidos garantem sua continuidade através de
farto dinheiro público. É um muro contra as mudanças.
Li que a
impossibilidade de prender após segunda instância existe apenas no Brasil. É
uma jabuticaba revestida de um discurso de proteção da liberdade do indivíduo.
O mecanismo, cujas rodas deslizam sobre a imensa jabuticaba,
tornou-se um aparato de poder singular que sobrevive apesar das evidências de
que a sociedade o rejeita.
Com o muro construído em torno de mudanças, é impossível que saia alguma coisa do Congresso, pois grande parte dele depende de longos recursos judiciais para seguir em liberdade.
Com o muro construído em torno de mudanças, é impossível que saia alguma coisa do Congresso, pois grande parte dele depende de longos recursos judiciais para seguir em liberdade.
Aparentemente, a roda
rodou. Mas ainda há algumas instituições funcionando, e o poder que a sociedade
pode exercer por meio da transparência.
Do ponto de vista de
um mecanismo que se desloca
solidariamente, o sistema segue o mesmo. No entanto, a sociedade não é a mesma
depois da Lava-Jato: cresceu a
consciência de que a lei deve valer para todos.
Ainda preciso de um pouco
de tempo para refletir sobre as consequências do que me parece um novo momento.
Uma delas é uma possível radicalização, com frutos para os extremos.
Isso prenuncia
eleições tensas, soluções simples. O Brasil teve 60 mil assassinatos em um ano.
É um tema que deveria nos unir ou, pelo menos, nos aproximar. Infelizmente, não
temos sabido achar um caminho de acordo sobre como reduzir essas mortes ou
mesmo como puni-las adequadamente.
Sobreviver para
combater a engrenagem é uma forma de viver, embora não a única. O abismo que separa
o sistema da sociedade, e de algumas instituições que a respeitam, será rompido
um dia, mesmo que não se saiba precisamente como nem quando vai se romper.
É uma necessidade
histórica que acaba abrindo seu caminho. De qualquer forma, os anos difíceis
que pareciam longos parecem ganhar agora um novo fôlego.
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