Final da tarde de 7 de abril de 2018: Em cima do caminhão
que lhe servia de palco, Lula emulou
o célebre “I have a dream”, de Martin Luther King, e brindou a
patuleia com seguinte pérola: “O sonho
de consumo deles é a fotografia do Lula preso. (...) Vão ter orgasmos
múltiplos. (…) Mas vou atender o mandado deles.” E antes deixou claro: “A morte
de um combatente não para a revolução.” Pausa para os aplausos dos militontos.
Corta para 14 de novembro de 2018: Ciente de que seu
depoimento seria divulgado para todo o país, a versão tupiniquim de Loki — deus da
mentira e da trapaça na mitologia Nórdica — tentou usar sua conhecida retórica
para politizar a audiência e intimidar a juíza Gabriela Hardt, o
que lhe rendeu uma dura reprimenda. Mas sua ideia não era se
informar do que estava sendo acusado, e sim reforçar sua imagem de Salvador da
Pátria impedido de disputar a Presidência por gente que não gosta de se misturar
à plebe nos aeroportos.
Para o PT, o
prêmio por fingir que Lula seria
candidato foi a derrota de Haddad
por uma diferença superior a 10 milhões de votos. Se o molusco tivesse mesmo a
força que alega ter, bastaria dizer que, como a Justiça o perseguia e o impedia
de disputar, seu poste concorreria em seu lugar. Mas, de novo, ele sempre
esteve mais preocupado em crescer como
lenda do que com a vitória do partido que ajudou a fundar.
Observação: Como bem salientou Carlos Brickmann, a História está repleta de salvadores que só não
nos levaram ao Paraíso porque algum inimigo do povo os bloqueou. Em Pernambuco,
o cidadão pegava uma foto de Miguel
Arraes, fervia e guardava a água — o chá era milagroso, curava qualquer
doença. Lula tem tudo, até a imagem
de amigo dos pobres, para virar lenda. E é nisso que aposta. Eu não me
surpreenderia se ele resolvesse vender, digamos, a própria urina a pretexto de
arrecadar fundos para custear sua defesa estrelada. Surpresa seria a patuleia ignara
não fazer fila para comprar.
Preso há quase 8 meses, o ex-presidente petralha não divide
com seus comparsas de crime uma cela no complexo médico-penal de Pinhais. Em
homenagem à “dignidade do cargo”, foi-lhe destinada uma espécie de “sala de
estado-maior” da Superintendência da PF
em Curitiba. Resta saber de que dignidade estamos falando: o retirante o
pernambucano que se tornou o líder político mais popular da história desta
Banânia foi também o primeiro ex-presidente (não o único, pois Temer e Dilma devem seguir pelo mesmo caminho) condenado e preso por crimes
comuns.
Lula anda abatido,
tadinho. Mesmo tendo acesso a chuveiro quente, vaso sanitário convencional, TV
de plasma, aparelho de som e esteira ergométrica. Mesmo não sendo obrigado usar
uniforme e podendo escolher o horário do banho de sol; mesmo recebendo visitas
a torto e a direito (foram 3 por dia, em média). Mas motivos para abatimento
não lhe faltam: com a derrota de seu alter ego nas urnas, suas chances de ser
indultado ficam próximas de zero. Para piorar, os dois processos oriundos da Lava-Jato em que ele figura como réu
devem ser julgados entre o final deste ano e o início do próximo pela juíza
substituta Gabriela Hardt, que assumiu
a 13ª Vara Federal do Paraná com a
exoneração de Moro (ela deve
permanecer no cargo até abril de 2019).
Observação: No caso da cobertura em SBC e do terreno onde
seria construída a nova sede do Instituto
Lula, os autos estão conclusos para sentença desde antes das eleições; no do
sítio de Atibaia, o prazo para alegações finais termina em 7 de janeiro, a
partir de quando a sentença poderá ser proferida a qualquer momento.
Muita gente acha que as provas no processo sobre o sítio são
mais robustas do que no do tríplex, onde Lula
diz que jamais passou uma única noite e que a ideia de comprar o imóvel (e de tudo
mais que não ficou bem explicado na história) foi da ex-primeira dama. A história
não colou e o petralha acabou condenado e preso. Agora, ele comete o mesmo erro
esperando obter um resultado diferente. Mas não vai funcionar. Em dezembro de
2010, depois de empalar a nação com sua deplorável pupila, o criador da
gerentona de araque dizia a amigos que, quando deixasse a presidência,
passaria a descansar “em seu sítio”, que estava sendo remodelado e redecorado
pela Odebrecht a pedido da
ex-primeira dama (detalhes nesta postagem). E com efeito: até
eclodirem as primeiras denúncias, os Lula
da Silva estiveram na propriedade 270 vezes, e sua assessoria emitiu
pelo menos 12 notas oficiais dando conta de que “o ex-presidente passaria o fim
de semana em sua casa de veraneio em Atibaia”. Entre 2012 e 2016,
seguranças e outros membros de sua entourage
receberam 1.096 diárias para viajar a Atibaia. Funcionários do sítio trocaram
e-mails com o Instituto Lula.
Investigadores da PF encontraram
pela casa roupas e objetos pessoais do ex-presidente e da ex-primeira-dama,
que, segundo o MPF, eram verdadeiros
donos, a despeito de a escritura ter sido registrada em nome de laranjas — dois
sócios do primeiro-filho, o Lulinha.
Depois que o petralha se apropriou do sítio, membros do
consórcio Odebrecht-OAS-Bumlai —
duas notórias empreiteiras e um dublê de pecuarista e consiglieri da famiglia Lula da Silva — aplicaram mais
de R$ 1 milhão em dinheiro desviado da Petrobrás na reforma da propriedade. A
defesa nega, naturalmente, como nega até mesmo que Lula tivesse conhecimento da reforma (embora a falecida Marisa Letícia a tivesse solicitado e
acompanhasse de perto a execução das obras). Na versão sustentada pelo réu,
contratos comprovariam que as despesas correram por conta dos “donos” do
imóvel, mas Fernando Bittar, em
depoimento à juíza Gabriela Hardt,
disse que não gastou um mísero tostão.
Depois de ganhar projeção como líder sindical, Lula sempre morou “de favor”. Na
Presidência, desenvolveu uma curiosa “ligação sobrenatural” com imóveis: bastava
pensar em comprar um para que a OAS,
a Odebrecht ou ambas se encarregassem
de instalar elevador, cozinha de luxo, sauna, etc. — caso do tríplex — e reformasse
a sede, construísse anexos, realizasse melhorias no lago e na piscina, etc. —
caso do sítio. Quando os escândalos vieram à tona, a conversa foi sempre a mesma:
''Não é meu, não tenho nada a ver com isso.''
Quando começou a subir na vida, ainda em São Bernardo do
Campo, Lula morou num
casarão pertencente a seu amigo, compadre e advogado Roberto Teixeira. Foram oito anos sem jamais desembolsar um centavo
com aluguéis, impostos ou taxas. Também é de Teixeira o luxuoso apartamento nos Jardins ― um dos bairros mais nobres
da capital paulista ―,
onde mora de graça o pimpolho Luiz
Cláudio Lula da Silva ―
ou morava até ser
contratado pelo time uruguaio Juventud de las Piedras para trabalhar
em “projetos desportivos e sociais”. Juntamente com seu papai, o filho caçula é
réu numa ação penal oriunda da Operação
Zelotes, referente ao recebimento de R$ 2,4 milhões do escritório de
lobby Marcondes Mautoni por
uma consultoria que não passava de material copiado da internet.
O primogênito Fábio Luiz Lula da Silva também mora
muito bem, obrigado. Conforme apurou a Polícia Federal, seu apartamento foi
comprado em 2009 por R$ 3 milhões, registrado no nome de Jonas Leite Suassuna Filho e
redecorado com armários e eletrodomésticos que, somados, custaram R$ 1,6
milhão. Suassuna e Fernando Bittar ― filho de Jacó Bittar, amigo de Lula desde a fundação do PT ―
figuram como donos do sítio
em Atibaia e são sócios
de Lulinha na empresa de
tecnologia Gamecorp ― depois que seu papai
assumiu a presidência
da Banânia, o
menino de ouro deixou de trabalhar como catador de bosta de elefante no Zoo de
São Paulo e, em
apenas 15 anos, faturou R$ 300 milhões. Lulinha,
note-se, é desde sempre um portento, e em certa medida segue os passos do pai,
que já o chamou de o seu “Ronaldinho”
— referindo-se a sua prodigiosa habilidade nos negócios; só a Telemar (hoje Oi) injetou R$ 15 milhões na empresa do
rapaz. Aliás, foi Lula quem
mudou a lei que proibia a Oi de
comprar a Brasil Telecom, ou
seja, alterou uma regra legal para beneficiar a empresa que havia investido no
negócio do filho. Deu para entender ou quer que eu desenhe?
Ironicamente, o que selou a sorte de Lula foi a lei sancionada pela companheira Dilma que se tornou um dos pilares da Lava-Jato. Com a colaboração
premiada, asseclas e parceiros de crime se convertem em delatores e deixam
os mentores intelectuais e mandantes com as calças na mão, como fizeram com Lula os empreiteiros Emílio Odebrecht e Léo Pinheiro — o patriarca da Odebrecht
ainda teve a delicadeza de atribuir a encomenda das obras do sítio à finada dona Marisa, mas Pinheiro disse com todas as letras que ouviu a solicitação dos
lábios do próprio Lula.
Dias atrás, o pleno do STF
manteve decisão do ministro Fachin
de remeter para a primeira instância a denúncia do MPF contra o “Quadrilhão do
PT”. A acusação formulada por Janot
afirma que, nos catorze anos em que a organização criminosa teria atuado, o
prejuízo para os cofres públicos (só no âmbito da Petrobras) foi de bilhões de
reais, conforme expressamente reconhecido pelo Tribunal de Contas da União. “Verificou-se
o desenho de um grupo criminoso organizado, amplo e complexo, com uma miríade
de atores que se interligam em uma estrutura de vínculos horizontais, em modelo
cooperativista, nos quais os integrantes agem em comunhão de esforços e
objetivos, bem como em uma estrutura mais verticalizada e hierarquizada, com
centros estratégicos, de comando, controle e tomadas de decisões mais
relevantes”, afirmou o então procurador-geral.
Além das vantagens para o PT, os ex-presidentes Lula
e Dilma, ministros e demais agentes
ainda teriam ajudado as “quadrilhas” do PP,
do MDB do Senado e do MDB da Câmara a sangrar os cofres da
estatal petrolífera — os desvios teriam chegado a 391 milhões de reais no caso
do PP, 864 milhões no do MDB do Senado e 350 milhões de reais no
MDB da Câmara.
Na última sexta-feira (23), o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10º
Vara Federal do Distrito Federal, aceitou a denúncia contra Lula, Dilma, Mantega, Palocci e Vaccari. No mesmo dia, o relator da Lava-Jato no STJ,
ministro Felix Fischer, negou o
recurso especial em que a defesa de Lula
pedia que sua condenação em segunda instância no caso do tríplex fosse revista
e ele, absolvido. Sua defesa ainda pode recorrer da decisão à 5ª Turma do STJ (que é conhecida por
manter as decisões vindas das instâncias inferiores). Além do recurso do
ex-presidente, Fischer negou os
pedidos de Léo Pinheiro,
ex-presidente da OAS, e de Agenor Franklin Magalhães Medeiros,
ex-diretor da empreiteira, ambos também condenados pelo TRF-4 no processo envolvendo o imóvel no litoral paulista.
Voltando ao caso do tríplex, o recurso especial interposto pela defesa de Lula foi enviado ao STJ
no início de setembro pela vice-presidente do TRF-4, desembargadora Maria
de Fátima Labarrère. Diferentemente da primeira e da segunda instâncias, as
Cortes superiores não reanalisam matéria fática (as provas carreadas aos autos).
Labarrère aceitou a contestação dos
advogados apenas quanto à alegação de
que o petista foi indevidamente responsabilizado por reparar valores que foram
pagos ilegalmente ao PT. A sentença afirma que ele recebeu R$ 3,7 milhões
em propina e o condenou a ressarcir R$ 16 milhões aos cofres públicos.
Convém Lula providenciar um “casaquinho”, pois ventos
frios sopram de Curitiba.