“KNAPP DANEBEN
IST AUCH VORBEI” (QUASE GANHAR TAMBÉM É PERDER).
Dentro de alguns dias, quem ainda tem emprego e um bom salário verá seu
contracheque recheado com um polpudo
abono
natalino ― ou 13º salário, se preferir, como foi chamada a gratificação instituída em 1962 pelo então
presidente
João Goulart, que tornou
compulsória uma prática até então concedida por alguns patrões, por mera
liberalidade, como forma de agradecer e estimular o desempenho de seus funcionários.
Há quem diga
que essa medida não passou de populismo, mas é incontestável que a grana extra
é aguardada ansiosamente pelos trabalhadores ― que, em tempos de vacas gordas,
torravam-na em compras de Natal e viagens de férias, mas agora, em meio à crise gerada e parida pela anta
incompetenta que ocupou a presidência até seis meses atrás, quando não sobra
salário no fim do mês, mas mês no fim do salário, usa para quitar dívidas e
realizar de projetos de consumo há muito adiados, como a troca do fogão, da
geladeira ou, porque não, do velho “poizé”
da família.
Lamentavelmente,
o preço dos automóveis no Brasil é piada (de humor negro), e a maioria dos
modelos fabricados aqui estão defasados pelo menos
30 anos em relação aos do assim
chamado “primeiro mundo”. Mas o cenário melhorou bastante depois que o
ex-presidente
Collor classificou
os carros nacionais como “carroças”, abriu as importações e pôs fim
à nefasta “reserva de mercado” herdada da ditadura militar. Não fosse assim,
talvez ainda estivéssemos pagando rios de dinheiro por
fuscas,
brasílias,
chevettes e
corcéis com
motores carburados,
sem direção servo-assistida,
travas
e vidros elétricos,
freios com ABS
e outros aprimoramentos que hoje
estão disponíveis até mesmo nos modelos “populares”, ainda que como “opcionais”
cobrados a peso de ouro.
Outra
evolução digna de nota é a transmissão automática ― sistema desenvolvido
no início do século passado e que logo cativou os motoristas norte-americanos
(e europeus, ainda que em menor grau), mas só recentemente caiu no gosto dos
brasileiros. Embora equipasse boa parte da frota tupiniquim nas décadas de
40/50/60 ― que era composta majoritariamente de automóveis importados dos EUA ― a suposta fragilidade dos
componentes, a escassez de mão de obra especializada e o alto custo dos reparos
levavam os consumidores tupiniquins a rejeitá-los.
Hoje, a coisa
é um pouco diferente. Embora persistam resquícios desse ranço em alguns nichos,
o conforto e a confiabilidade das caixas
automáticas e automatizadas vêm sendo reconhecidos pelos consumidores, e a
possibilidade de trocar as marchas de forma “sequencial”, oferecida por alguns
modelos, proporciona desempenho similar ou até superior ao dos câmbios mecânicos
tradicionais, cativando até mesmo motoristas que não abrem mão de uma tocada
mais esportiva.
Depois que a
Volkswagen, a General Motors e a Ford
se estabeleceram no Brasil (a FIAT
veio um pouco depois, já no final da década de 70) e os retrógrados governos
militares impuseram barreiras quase intransponíveis às importações, o câmbio mecânico reinou absoluto até que
a FORD lançou a luxuosa versão Landau do Galaxie, equipada com uma caixa automática de 3 velocidades. Nos
anos 1980, pipocaram mais alguns modelos (da própria FORD, como o Del Rey, da GM, como as
versões Comodoro e Diplomata do Chevrolet Opala e, mais
adiante, modelos top de linha do Monza),
mas sua penetração no mercado foi inexpressiva, quando comparada com seus
equivalentes com câmbio manual. Já a transmissão
automatizada (cujas diferenças serão abordadas mais adiante nesta sequência)
foi usada inicialmente pela Fiat nos
Palio Citymatic do início da década de 90, mas o fiasco retumbante
condenou-a ao ostracismo até 2007, quando a GM lançou a Meriva Easytronic,
e logo foi seguida pela VW, FIAT e FORD (não necessariamente nessa ordem).
Caixas automatizadas são mais baratas e fáceis
de manter do que as automáticas,
pois utilizam basicamente os mesmos componentes da transmissão manual. A
diferença é que, como os veículos automáticos, os automatizados contam apenas
com os pedais do acelerador e do freio, já que “robôs” acionam
a embreagem e trocam as marchas
automaticamente. O preço mais
acessível levou as montadoras a oferecer esse “mimo” em seus modelos intermediários,
deixando a transmissão automática “de verdade” para os de topo de linha.
Todavia, embora tanto num caso como no outro o motorista fica dispensado de usar
a perna esquerda, as semelhanças ficam por aí, pois cada sistema tem vantagens e desvantagens que você deve
levar em conta ao escolher seu próximo carro.
Para
facilitar a compreensão do que será visto a seguir, recomendo a leitura das
postagens de
21 e 22
de setembro de 2009, mediante a qual você terá uma boa ideia como
funciona o
motor de combustão interna do ciclo Otto. Enquanto isso, eu vou preparando o próximo capítulo
desta sequência. Abraços a todos e até lá.
A CAMINHO DO IMPASSE
O Brasil caminha para um grave impasse institucional. Os
três Poderes fundamentais funcionam mal ou não funcionam, e esse desempenho
precário transforma-se em material altamente inflamável. Por um lado, temos um
Congresso formado pelo dinheiro sujo e que reuniu a maior concentração de
burrice e despudor de que se tem notícia.
O que há de virtude na Câmara e no Senado resiste em um
cantinho. A maioria dos parlamentares brasileiros se uniu para votar a anistia
a seus próprios crimes, o que só não ocorreu pela reação da opinião pública,
particularmente notável nas redes sociais. Em um quadro que antecede o
conhecimento da delação da Odebrecht,
essa mesma maioria aprovou emendas em cima da perna, mais para retaliar do que
para responsabilizar atos ilegais eventualmente cometidos por membros do
Judiciário e do Ministério Público.
Do outro lado, como expressão desta calamidade, há o governo
Temer, que segue a cartilha de sua
antecessora ao propor ajuste que preserva o "andar de cima". Uma
metáfora que, no caso Temer, perdeu
sua extensão simbólica para se concretizar em uma torre com vista privilegiada
para a Baía de Todos os Santos. Foram-se os geddéis, mas quando a
corda aperta os sacrifícios propostos pela Casa Grande são encaminhados à
Senzala. Sem a legitimidade das urnas e sem base social nas classes populares,
o governo Temer é uma caricatura sem
graça cercada de investigações por todos os lados.
Na outra ponta, um Judiciário insuscetível às reformas vive
em torno de suas próprias demandas e privilégios que afrontam o ideal
republicano. O próprio Conselho Nacional de Justiça, que surgiu como instância
capaz de barrar abusos e combater desvios, perdeu seu potencial reformador e se
tornou um órgão de chancela de interesses corporativos. No STF, há centenas de políticos denunciados e que nunca foram nem
serão julgados. O mesmo fenômeno se identifica em outras instâncias como o STJ. A justiça brasileira segue sendo
aquela que mantém na prisão quase 40% da massa carcerária sem julgamento e que,
até hoje, não foi capaz de julgar em definitivo personagens emblemáticos como Paulo Maluf.
Alguém dirá que isso
ocorre por conta das leis brasileiras. Não é verdade. A Justiça brasileira
sustenta a impunidade pela tradição de não julgar os poderosos, ponto. A Lava-Jato é uma trajetória absolutamente
fora da curva, e exatamente por isso que ela é tão importante. Coisa que a
esquerda e a direita antigas não podem ver pelas impressionantes mesmas razões.
Era uma vez um rei que adorava coisas estranhas. Sabendo disso, um
espertalhão abordou o dono de um elefante e propôs levarem o animal até o
palácio e vendê-lo ao rei, dizendo que o bicho cantava.
O rei mandou o elefante falar, e nada. O espertalhão informou que
levaria 20 anos para o elefante cantar e, enquanto isso, ele e o sócio deveriam
ser hóspedes reais, usufruindo toda a mordomia da corte.
O rei topou, mas advertiu:
― Daqui a 20 anos, se ele não cantar, vocês serão torturados até a morte.
O dono do animal ficou apavorado. O espertalhão nem aí, com ar triunfante,
tranquilizou as coisas: