Desacorçoada diante de tanta roubalheira e da nada alvissareira
perspectiva de ver Lula se aboletar
novamente no Planalto — ainda que incorporado no bonifrate CalamiHaddad —, os cidadãos de bem deste país se viram entre a
cruz e a caldeirinha. Assim, um inexpressivo membro do baixo-clero da Câmara, filiado
a um partido nanico, sem dinheiro nem tempo na TV, tornou-se presidente desta
Banânia. E para não se tornar um presidente-banana, o presidente da Banânia interfere
em tudo e com todos e fala mais que deve sobre o que não deveria falar.
Por muitas razões, não temos um céu de brigadeiro se
descortinando à nossa frente. Uma delas é a herança maldita das gestões
lulopetistas. Quem não se lembra da abilolada pupila do bucaneiro imprestável, que, em 2014, resolveu quebrar o país para ficar mais quatro anos no trono — e conseguiu se reeleger, mas não foi capaz de permanecer
em campo até o apito final do jogo? O problema é que, quando a estocadora de vento foi
devidamente penabundada, a merdeira já era tanta que nem Santa Zita, padroeira das faxineiras, seria capaz limpar. E aqui
estamos nós, fo****s, mal pagos e com o ingresso em mãos para assistir à ressurreição
da CPMF.
Bolsonaro refuta a
recriação da "contribuição compulsória" — só mesmo no jargão do
economês é que algo assim poderia existir —, e a equipe econômica faz cara de
paisagem. Mas qual será a alternativa do presidente se o Congresso negar o
pedido de dinheiro extra para pagar aposentadorias, salários de servidores
ativos e inativos e o Bolsa Família? O Orçamento de 2020 só tem recursos para arcar com cerca de dois
terços dessas despesas, e a previsão é de que elas cheguem a 96% do
Orçamento já no ano que vem.
Observação: Depois de liberar R$ 1,8 bilhão em julho, na
reforma da Previdência, o governo travou as emendas parlamentares — só R$ 99
milhões foram liberados em agosto. E mais: quando anunciou que os radares móveis
de velocidade seriam cortados, Bolsonaro
não comentou que a Polícia Rodoviária
Federal já esgotou todo o orçamento do ano e não tem mais caixa para alugar
os equipamentos. A verdade é uma só: o dinheiro acabou, e não há uma maneira
simples de reequilibrar as contas. Mesmo assim, por picuinhas pessoais, o
presidente diz que a Europa "não tem nada a ensinar"
a seu país sobre a preservação do meio ambiente e enjeita a oferta de R$ 20
milhões do G7, para ajudar no combate dos incêndios na Amazônia.
Sem o aval para aumentar (ainda mais) a dívida pública, ou o
capitão suspende o pagamento das despesas obrigatórias, ou descumpre a chamada regra de ouro — e se arrisca a ser
impichado. Uma possibilidade remota, mas real, a despeito de embolorarem nos escaninhos
da presidência do Senado nada menos que 34
pedidos de impeachment contra ministros
do STF, dos quais Gilmar Mendes
coleciona 10 e Dias Toffoli, 9.
Agora a cereja do bolo: sem dinheiro sequer para o papel higiênico
— o próprio presidente sugeriu a um repórter
que passasse a ir ao banheiro dia sim, dia não —, com contingenciamentos a mancheias,
alcançando, inclusive, programas sociais e educacionais, com reformas duras de
engolir, como a da Previdência, levadas adiante como medida desesperada
para diminuir o abismo fiscal, Executivo e Legislativo discutem o aumento do Fundo Eleitoral (não confundir com Fundo Partidário; embora tenham propósitos parecidos, eles foram instituídos em momentos diferentes, mas isso é conversa para uma outra oportunidade).
As eleições gerais de
2018 custaram R$ 1,7 bilhão; para as municipais, no ano que vem, os
parlamentares querem elevar o Bolsa Voto para R$ 3,7 bilhões. O governo propôs
R$ 2,5 bilhões. Pegou mal. A pasta da Economia insinua, inclusive, que houve
erro — o valor correto seria de R$ 1,8 bilhão. A hipótese de os partidos
concordarem com essa cifra é nula. A alegação é de que a eleição municipal em
mais de 5.570 municípios custará mais caro do que a do ano passado, envolvendo
presidente, governadores, deputados estaduais e federais e parte dos senadores.
Mas há como baratear as campanhas, e fazê-lo não é uma questão de
opção, e sim um imperativo fiscal.
Durante o serão que fizeram na noite da última terça-feira, suas excelências aprovaram (por 263 votos contra 144) um
projeto que permite, entre outras barbaridades, o uso de verbas do
fundo partidário — dinheiro seu, meu, nosso — no pagamento de advogados para
políticos encrencados com a lei. Ou seja, o partido vai filiar o picareta, ele
mesmo patrocinará a corrupção, ele mesmo fornecerá o advogado. É o chamado "Projeto
Caracu", onde os políticos entram com a cara de pau, e o povo, com... o
bolso. Para saber como votou o deputado que você elegeu, clique aqui.
Enfim, se insistir em encaminhar ao Congresso algo parecido com a CPMF,
Bolsonaro pode sofrer mais uma derrota acachapante. Mesmo que estejam propensos
a debater e votar uma reforma tributária, os deputados e
senadores não estão dispostos a arcar com o ônus de trazer de volta um imposto
impopular, extinto pelo próprio parlamento.