Na última quarta-feira, durante quase nove horas, o ministro Sérgio Moro foi submetido a uma sessão de tortura digna da Santa
Inquisição (espécie de tribunal religioso criado nos século XIII para
condenar quem era contra os dogmas católicos ou considerado como ameaça às
doutrinas da Igreja Católica). A despeito dos esforços do PT e seus satélites, porém, o ex-juiz da Lava-Jato não
acabou na fogueira como as bruxas de
Salem (refiro-me aos últimos julgamentos por bruxaria havidos no estado
norte-americano de Massachusetts no final do século XVII), e a discussão sobre a
suposta troca de mensagens entre ele e Deltan
Dallagnol — obtida de maneira criminosa e vazada por um site esquerdista
metido a palmatória do mundo — ficou no campo
político. Os senadores favoráveis à Lava-Jato empenharam seu apoio ao
ministro, enquanto os que querem soltar Lula e outros criminosos da mesma laia —
até para não acabarem na cadeia como eles — atacaram-no duramente.
Na semana que vem a história se repete na Câmara Federal. Para a efeméride, a caterva esquerdista já encomendou mantos, capuzes
brancos, tinta preta para pintar o juiz que ousou condenar o sumo pontífice da
seita do inferno e, nos moldes da velha Ku
Klux Klan, deve queimar cruzes no jardim do ministério da Justiça. Diante do procedimento da patuleia desvairada, não há como não dar razão ao presidente Bolsonaro: “o
erro da Ditadura foi torturar e não matar”.
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Em artigo publicado no
Estadão com o título “
O OVO DA SERPENTE”,
José Nêumanne teceu uma série considerações sobre a polêmica causada pelo material revelado pelo site
The Intercept Brasil por interessados
em confirmar a tese da defesa de
Lula
de parcialidade do ex-juiz
Sérgio Moro, e afirmou que a origem de tudo está naquilo que os historiadores do século 20 chamam de “
ovo da serpente”, no caso do nazismo de
Adolf Hitler. Segue a versão resumida da matéria:
Durante o governo Lula,
o petista hoje presidiário e seu então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, copiaram práticas
da Delegacia Especial de Segurança
Política e Social — versão federal dos Dops
estaduais no Estado Novo fascistoide
de Vargas, que centralizou o aparato
policial para perseguir e levar à prisão adversários do regime. Não tinham
a pretensão de trazer nada de original, pois, como revelou o delegado Romeu Tuma Jr. em seu livro "O Assassinato de Reputações: Um Crime de
Estado", Lula instrumentalizou
a PF para torná-la não de
Estado, mas um instrumento pessoal de pressão e intimidação, pau mandado de
partido. Para justificar o Estado
policialesco instalado no País na era petista,
Thomaz Bastos recorreu ao adjetivo
“republicana” para definir a PF, mas
as operações policiais, em sua época, foram 25 vezes mais numerosas do que as
que foram realizadas ao longo das duas gestões anteriores (de FHC).
Carlos Fernando dos
Santos Lima, ex-procurador da Lava-Jato,
afirmou em palestras que os governos do PT
permitiram o fortalecimento da PF e
do MP. Mas isso ocorrera ainda
antes, em pleno mandarinato tucano, quando o ex-guerrilheiro e então deputado
federal José Dirceu tratava a
imprensa a pão de ló para fazer circular nos meios de comunicação as diatribes
de dois procuradores federais que privilegiavam denúncias contra a gestão
federal.
Thomaz Bastos se
vangloriava da reforma que queria fazer no Poder Judiciário e pela revolução
que dizia ter feito na PF. Mas o
fato é que o MP e a Justiça foram
aparelhados — segundo Nêumanne, isso
está contado em seu livro "O Que Sei
de Lula" e em inúmeros artigos de sua autoria
publicados na página 2 de O Estado.
Lula e Bastos foram useiros e vezeiros em se valer da Justiça como arma
para perseguir e inabilitar seus adversários (prática conhecida como lawfare). O caso mais célebre da
manipulação da Justiça pelo lado oposto, ou seja, para proteger sócios em
falcatruas, foi a Operação Castelo de
Areia, instaurada em 2009 para investigar denúncias de corrupção da
empreiteira Camargo Corrêa, e
anulada em 2011 pela 6ª Turma do STJ,
sob a alegação de que denúncia anônima não poderia embasar investigações. A
decisão foi inédita, contrariando a jurisprudência da corte, cujo entendimento
anterior, em 33 decisões, permitia investigação a partir de denúncias
anônimas. A decisão dividiu a doutrina. O Ministério Público recorreu ao STF, mas o ministro Luís Roberto Barroso — logo ele! —
rejeitou o apelo.
O inspirador da manobra foi Bastos; ou seja, Lula
inaugurou, foi atingido pela própria criação e agora reclama quando o feitiço
vira contra o feiticeiro.
Observação: Em artigo publicado em 13 de agosto de 2018,
sob o título Prostituição, fraude e
sabotagem, Nêumanne chamou a
atenção para o fato de nenhum candidato com chance de ser presidente ter ousado,
no debate da Band, referir-se aos
escândalos de mensalão e petrolão, para não perder eventuais eleitores de Lula, político preso e ausente.
Nos quatro inquéritos abertos para apurar o autor do
hackeamento, a PF chegou a
identificar que os arquivos foram capturados do celular do procurador Deltan Dallagnol, e não atingem apenas
a Lava-Jato, mas outros
procuradores, como Rodrigo Janot,
juízes, como Gabriela Hardt, e
desembargadores, como Abel Gomes. A
operação é caríssima e alguém investiu pesado nela. Parece que quem o fez
conhece e deve ter tido colaboração de companheiros de hackeados. Como lembrava
Vitorino Freire, protetor e depois
desafeto de Sarney no Maranhão, “Jabuti em árvore é obra de enchente ou mão de gente”.
Quem encomendou essas interceptações? Qual o
propósito? Quem está sendo favorecido com esses vazamentos? Merval Pereira conversou com Silvio Meira — um dos maiores
especialistas em tecnologia e professor emérito da Universidade Federal de
Pernambuco. Segundo ele, “ninguém fez isso sozinho, não aconteceu por acaso,
tem um desenho por trás.”
Observação: A PF tem provas de que um hacker tentou se passar por Moro e mandou em seu nome mensagens
para terceiros. Um dos
elementos é uma mensagem enviada no dia 4 de junho a um funcionário do
próprio gabinete de Moro, depois de ativar uma conta do Telegram –
aplicativo de troca de mensagens via internet – que o ministro deixou de usar em 2017.
Em seu artigo "Em
busca do hacker", publicado no ESTADÃO,
Pedro Doria vai ao ponto: "o hacker
existe, mas não é ele a fonte do Intercept,
as informações recebidas pelo site teriam sido colhidas de dentro do prédio do
Ministério Público de Curitiba." Bingo! Ciumeira, vaidade, inveja. Motivo não
falta.
O Intercept justificou a publicação das mensagens roubadas de Deltan Dallagnol assim: “Moro e os procuradores da Lava-Jato são figuras altamente controversas
aqui e no mundo — tidos por muitos como heróis anticorrupção e acusados por
tantos outros de ser ideólogos clandestinos de direita, disfarçados como
homens da lei apolíticos. Seus críticos têm insistido que eles exorbitaram de
seus poderes na Justiça com objetivo político de evitar que Lula retornasse à Presidência e
destruir o PT”.
Em entrevista a
Mônica Bergamo, da Folha, e Florestan Fernandes, do El Pais, no dia 26 de abril, Lula garantiu que iria “desmascarar o Moro e o Dallagnol.” Omitiu na entrevista como o faria, mas foi nitidamente um
spoiler no mínimo suspeito. O momento
foi preciso e o projeto, sob medida.
A 2ªTurma do STF vai julgar, na próxima terça-feira,
o pedido da defesa do petista em que demanda a suspeição de Moro. O julgamento foi iniciado no
segundo semestre do ano passado e interrompido, em dezembro, por um pedido de
vista do ministro Gilmar Mendes.
Seria outro spoiler
confirmado? O crime não foi gratuito e contou com a colaboração de hackers
experientes e companheiros infiltrados, não obra do acaso. Na entrevista
citada, Lula mostrou que estava, no
mínimo, informado do que estava em curso contra Moro. E esse tipo de combate subterrâneo lhe é familiar, desde o
tempo de Bastos, quando a cobra
desovou.
Se o leitor ainda tiver estômago para mais sobre esse assunto, segue uma sugestão: