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domingo, 7 de julho de 2024

O QUE É DE GOSTO REGALA A VIDA

AS FEIAS QUE ME PERDOEM, MAS BELEZA É FUNDAMENTAL.

Os veganos que me perdoem, mas carne vermelha é fundamental. Gosto dela crua no Steak Tartar, assada na brasa ou no forno, cozida na pressão, em bifes (fritos ou de panela), acompanhada de salada, fritas, farofa, arroz, purê, e por aí vai. Mas cozinhar é arte, e até fritar ovos requer expertise. 

O que deveria ser um bife suculento fica com textura de sola de sapato quando a gente tira os bifes da geladeira e coloca na frigideira sem esperar pelos menos 10 minutos. E o resultado será ainda pior se a frigideira não estiver quente, pois os bifes irão cozinhar em vez de fritar. 

A diferenças entre cortes do dianteiro e do traseiro do boi, popularmente conhecidos como carnes de primeira e segunda, está na quantidade de gordura e no trabalho muscular realizados por cada região. Carnes provenientes de partes menos utilizadas do animal, como filé-mignon, picanha, contrafilé e alcatra, têm menos fibras e colágeno, o que as torna mais macias e de sabor marcante que o acém, a paleta, a fraldinha e o músculo. Mas a técnica de preparo é crucial para aproveitar o melhor de cada corte. 

A picanha é a estrela dos churrascos, mas o filé é tido como uma das melhores carnes bovinas, sobretudo por sua maciez. Já o contrafilé e o miolo da alcatra são ótimas opção para bifes fritos — além de suculentos, ele contam com aquela gordurinha que deixa as receitas mais saborosas. O coxão-mole é versátil e tem ótimo custo-benefício, e o coxão-duro e o lagarto dão excelentes assados e ótimos bifes rolê e de panelaFilé, contrafilé e miolo de alcatra podem ser cortados em bifes grossos, mas coxão-molepatinho devem ser cortados finos (sempre no sentido contrário ao das fibras). Independentemente do corte e da espessura, os bifes devem ser fritos individualmente e virados uma única vez. 


O "ponto" vai do gosto do comensal e varia conforme a espessura do bife, o material da frigideira e a potência do fogão. Para bifes médios (2,5 cm de altura) malpassados como manda o figurino, aqueça bem a gordura e frite cada lado por 2 ou 3 minutos. Se quiser seus bifes "ao ponto" ou bem-passados, frite-os por 4 ou 5 minutos ou de 6 a 8 minutos de cada lado, respectivamente. Ao final, coloque os bifes numa travessa, cubra com papel laminado e deixe descansar por alguns minutos, para que os sucos que se concentraram na parte central da carne durante a cocção se redistribuam por igual, deixando-a mais macia e suculenta. 

 

Bifes à milanesa devem ser finos e fritos por imersão em gordura bem quente (180°C). Recomenda-se usar frigideiras ou panelas largas e borda alta e fritar um bife de cada vez (para o óleo não esfriar). A casca ficará mais crocante e não se desprenderá da carne durante a fritura se, ao empanar os bifes, você passá-los na farinha de trigo, no ovo batido e na farinha panko (nessa ordem). Ao final, coloque-os numa travessa forra com toalhas de papel, que absorverão o excesso de gordura, deixando os bifes mais sequinhos.

 

Carne moída (ou "picadinho", como ela é chamada no norte do país) é comumente usada como recheio de pastéis, esfihas, almôndegas e empadões, no molho à bolonhesa ou para acompanhar o popular arroz com feijão. Crua, ela é a base de hambúrgueres e do sofisticado Steak Tartar. Como é difícil saber se a carne pré-moída vendida nos supermercados é premium (de melhor qualidade), intermediária ou industrial (mais baratas), faça como nossas avós: escolha o pedaço desejado e peça ao açougueiro para passá-lo duas vezes no moedor. Melhor ainda é moer a carne em casa, pois assim você poderá misturar 20% de gordura de picanha à paleta ou ao patinho (hambúrguer sem gordura não dá liga nem tem sabor). 


Para preparar quibe cru e Steak Tartar, o filé é o corte mais indicado. Supermercados de grife e "butiques" de carne vendem escalopes, medalhões, tournedos e chateaubriand de filé, mas sai mais barato comprar a peça e cortá-la em casa. Comece removendo a fáscia (aquela membrana prateada que deixa os bifes duros se não for retirada). Use uma faca de ponta fina, bem afiada, e mantenha-a quase em paralelo com a peça (para minimizar a quantidade de carne que fatalmente será retirada junto com o tecido conjuntivo). 

 

Separe o filé em cabeça, lateral, miolo e ponta (a cabeça é a extremidade maior, a lateral é a parte que fica ao lado, quase solta, o miolo é o corpo cilíndrico do filé, e a ponta é a parte final da peça, onde a carne "afina"). Corte o filé em chateaubriands (com cerca de 4cm de altura e de 300g a 400g), tournedos (3cm e 250g), medalhões (2cm e 180g) ou escalopes (cubinhos de 1cm de lado), e o restante em bifes (aproveite as sobras para fazer strogonoff ou escondidinho de filé, por exemplo).


Continua no próximo domingo.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

DIA DE FINADOS -- DUAS RECEITAS E UMA HOMENAGEM

 

A postagem de hoje é uma homenagem a meu pai, que, entre muitas outras coisas, me apresentou, nos anos 1960, o inesquecível Filé à Moraes e o delicioso Steak TartareO filé em questão foi criado pelo português Salvador Domingos Vidal, dono de um boteco na região central da capital paulista, e batizado de "bife sujo" pelos frequentadores — como a casa funcionava 24/7 horas por dia, a limpeza era feita com os clientes sendo atendidos. Em 1929, Vidal entrou de sócio do Bar, Café e Confeitaria Moraes (na Praça Júlio Mesquita, também no centro de Sampa), e aproveitou a chapa aquecida à lenha para criar sua mais famosa receita. 

Trata-se de um medalhão de filé de 500 g, grelhado por 3 minutos de cada lado (de modo a ficar tostado por fora e rosado por dentro), ao alho e óleo e acompanhado de fritas e agrião. Há quem diga que o nome do prato deveu-se ao chapeiro, a quem os fregueses (entre os quais Monteiro Lobato) pediam: "salta um filé, Moraes", e que Adoniran Barbosa compôs Trem das Onze enquanto tomava chope numa mesa do boteco. 

 Na década de 1960, o botequim passou a se chamar "Restaurante Moraes- O Rei do Filé", e nos anos 1980, durante o nefasto "plano cruzado", suspendeu suas atividades em razão do tabelamento de preços e consequente falta de carne. Mais adiante, passou a funcionar em dois endereços (na Praça Júlio Mesquita e na Alameda Santos), mas os proprietários não eram parentes dos fundadores. 
 
Para preparar um filé capaz de empanturrar dois bons garfos, providencie 500 g de filé-mignon cortado grosso (em medalhão), 8 dentes de alho, óleo para fritar e sal e pimenta-do-reino branca para temperar. Feito isso, amoleça os dentes de alho em água fervente por 1 ou 2 minutos, descasque, corte ao meio, doure em óleo bem quente, escorra e reserve. Grelhe o bife por 3 minutos de cada lado (se preferir bem-passado, o que é um pecado, leve ao forno pré-aquecido a 180 ºC por 2 minutos). Tempere com sal e pimenta, espalhe o alho e um pouco do óleo da fritura e sirva com salada de agrião (ou agrião refogado no alho e óleo) e batatas fritas.
 
Também conhecido como Filé Tártaro, o Steak Tartare é um acepipe russo feito com carne crua e servido tanto como aperitivo quanto entrada ou prato principal. Os ingredientes (por pessoa) são: 150 g de filé-mignon (moído ou finamente picado); 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 1 colher (café) de alcaparras (se preferir, substitua por azeitonas verdes picadas); 1 colher (chá) de salsinha picada; 1 colher (chá) de cebolinha picada; 1 colher (chá) de molho inglês; 1 colher (sopa) de mostarda; suco de 1 limão; 1 gema de ovo; azeite de oliva extravirgem para regar e sal, pimenta do reino, pimenta caiena e molho tabasco para temperar.
 
Após remover a "capa espelhada", passe a carne (duas vezes) pelo moedor ou corte-a em tirinhas contra o sentido das fibras, pique com a ponta de uma faca bem afiada. 
Transfira para uma tigela, junte a cebola ralada, a salsinha e a cebolinha picadas e misture gentilmente (usando as mãos ou uma colher de pau) enquanto rega com um fio de azeite e adiciona o sal, as pimentas e os demais temperos. 

Faça uma “bola” com a carne, coloque num prato, achate com a mão até formar um "hamburgão" e pressione o centro com o polegar, para criar a concavidade que acomodará a gema do ovo (crua, segundo a receita original, mas você pode cozinhar o ovo e usar a clara para decorar). Leve à geladeira para resfriar e sirva com torradinhas ou batatas chips em volta do prato.
 
Observação: Minha releitura inclui alface picado, ervilhas em conserva, rodelas de tomate e de palmito. Depois de acomodar a carne na parte central do prato e colocar a gema cozida na concavidade, eu distribuo esses ingredientes em volta, acrescento a clara picada e rego tudo com bastante azeite.

Bom apetite.

E. T. - Braga Netto e Bolsonaro foram condenados por 5 votos a 2. Prevaleceu o entendimento segundo o qual a perversão eleitoral foi urdida pela chapa. O relator Benedito Gonçalves, que havia livrado o general da inelegibilidade na sessão anterior, refez o seu voto para acompanhar a maioria. Além da inelegibilidade, os condenados terão que pagar multas de R$ 212 mil e R$ 425 mil, respectivamente.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SEGUNDO A MARIONETE E A PUPILA DO PARTEIRO DO BRASIL MARAVILHA



O boneco de ventríloquo do presidiário de Curitiba, ao palpitar sobre o projeto de reforma da Previdência apresentado pela equipe econômica do atual governo, produziu mais um epigrama digno de ser bordado com fios de ouro nas asas de uma borboleta: 

Bolsonaro quer criar uma legião de idosos pobres. É um Temer obscurantista!”. 

Árido de ideias próprias, notadamente depois de se sujeitar ao humilhante papel de marionete do chefe da quadrilha, o grande mestre em Economia, doutor em Filosofia, professor universitário e poste sem luz faz de conta que as gestões lulopetistas não geraram uma legião de jovens, adultos e idosos miseráveis. 

É possível que a memória do ex-prefeito de um só mandato tenha sido avariada pela sucessão de derrotas impostas a ele por João Dória em 2016 e por Jair Bolsonaro em 2018, mas é mais provável que a desfaçatez e o oportunismo o levem a “esquecer” que, quando ainda presidia o país do futuro que nunca chega, aquele que o controla remotamente a partir de Curitiba classificou de “marolinha” o tsunami produzido nos EUA pela crise dos subprimes e, em vez de adotar medidas responsáveis de contenção, facilitou o crédito, reduziu os juros, baixou os impostos sobre bens duráveis e incentivou o consumo.

O populismo desbragado do Parteiro do Brasil Maravilha produziu o endividamento de milhões de miseráveis falsamente promovidos à “classe média”, que foram posteriormente devolvidos a seu status quo ante pela a imprestável gerentona de festim, que não poupou esforços para manter o Titanic verde-amarelo em rota de colisão com o iceberg que o poria a pique (e teria conseguido seu intento se não fosse providencialmente defenestrada do cargo). Durante o governo da maior estelionatária eleitoral que este país já conheceu, a Secretaria de Assuntos Estratégicos considerava pobres os brasileiros com renda familiar per capita de até R$ 162 mensais, de classe média os que ganhavam de R$ 441 a R$ 2.480, e de classe alta os que ficavam acima desse patamar, que eram chamados de ricos pelo povo e de elite branca pelo PT.

Não satisfeita com a lista infindável de desserviços prestados ao país, a pior presidente desde Deodoro da Fonseca resolve agora abrilhantar o coro de críticas dos petistas à reforma da Previdência com mais uma de suas tiradas hilariantes.

A reforma da previdência apresentada é 1 afronta. E impõe pesadas perdas aos mais pobres. Os + prejudicados são os que ganham menos, os que têm expectativa de vida + baixa, entram no mercado + cedo e em profissões que exigem + esforço físico”, publicou a calamidade em forma de gente em sua conta no Twitter.

O lobo perde o pelo mas não perde o vício. Pelo visto, essa repugnante figura ainda acalanta o sonho de quebrar de vez o Brasil. Mas o que é do homem o bicho não como e o que é de Dilma está guardado: O responsável pelas finanças de sua campanha vitoriosa à reeleição, Antônio Palocci, confirmou o que o disse o moedor de carne bilionário Joesley Batista, sobre uma conta ter sido aberta no exterior, em nome ex-presidanta, para depositar propinas. Dilma lá!

Para encerrar: De tanto pedir para ser solto sem conseguir seu intento, o Pai dos Pobres e Mãe dos Ricos, o enviado pela Divina Providência para acabar com a fome, presentear a imensidão de desvalidos com três refeições por dia e multiplicar a fortuna dos milionários abre espaço para que sua transferência da sala de estado maior na PF, repartição pública policial, para um presídio normal, para presos comuns, seja levada a efeito. A propósito, José Nêumanne publicou em sua coluna no ESTADÃO:

Mais uma recusa, agora do relator da Lava-Jato no STF, a mais um pedido de libertação de Lula, contestando decisão do ministro Félix Fisher, do STJ, serve, no mínimo, de lembrança para o equívoco de mantê-lo hospedado numa repartição pública policial. Já está na hora de mandar o duplamente condenado em primeira instância e uma em segunda instância para um presídio comum, onde cumprem pena presos ordinários como ele.

Lula lá.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

PATCH TUESDAY, ALL IN ONE e CROQUETES DE CARNE


Antes de qualquer outra coisa, vale lembrar que hoje, segunda terça-feira de dezembro, é o último PATCH TUESDAY da Microsoft em 2012. Quem não configurou as atualizações automáticas (basta pesquisar o Blog para saber como fazer isso) deve rodar o Windows Update, preferencialmente à noitinha ou amanhã pela manhã.

Pegando um gancho no comentário do meu amigo Georges na postagem retrasada, se portabilidade e mobilidade não são suas prioridades e você não aguenta mais aquela “macarronada” de cabos que se espalha na mesa de trabalho, que tal substituir seu desktop velho de guerra por um modelo ALL IN ONE?
Nessa conformação, gabinete e monitor (geralmente com mais de 20 polegadas) se fundem numa única peça, e com teclado e mouse wireless (sem fios), você dá adeus àquela cabaiada toda.
Para avaliar quatro modelos da Dell com preços entre R$ 2,3 mil e R$ 2,9 mil, clique aqui, mas não se decida antes de conhecer e o HP TOUCHSMART, que oferece uma configuração de respeito por dez parcelas iguais de R$ 299.
Mais uma vez, boas compras.

Como este post ficou curtinho, segue a receita de um acepipe delicioso que eu degustava na velha "LEITERIA LÍRICO", lá pelos anos 1980 (depois do bauru de rosbife, era o meu preferido):

Você vai precisar de 1 kg de patinho ou coxão-mole; 2 batatas médias; 1 colher de sopa margarina; 3 dentes de alho picados; 1 cebola média picada ou ralada; ½ pimentão médio picado; ½ xícara de farinha de trigo e outro tanto de farinha de rosca; 1 xícara de leite; 2 ovos; um pacote (100 g) de queijo parmesão ralado; sal, pimenta do reino, cheiro verde e molho inglês a gosto.

Para o preparo, embora você possa refogar a carne já moída ou aproveitar pedaços de carne previamente assada, eu sugiro temperar do seu jeito o patinho (ou o coxão-mole), dourá-lo e cozinhar na pressão junto com as batatas, esperar esfriar e passar tudo pelo processador (ou moer duas vezes num moedor convencional).
Feito isso, coloque a carne e as batatas já processadas numa panela de tamanho adequado com a margarina previamente aquecida e, sempre mexendo com uma colher de pau, junte os ovos, o alho, a cebola, o cheiro verde, o pimentão, o queijo ralado e os demais temperos. Acrescente a farinha dissolvida no leite e continue mexendo. Ao obter uma massa homogênea, apague o fogo e deixe esfriar.
Enrole os croquetes (o tamanho fica a gosto do freguês), passe-os na farinha de trigo, molhe-os numa mistura de ovo batido e água e passe-os na farinha de rosca.
Separe a quantidade desejada (guarde o restante no freezer, de preferência num tupperware com tampa), aqueça bem o óleo numa frigideira alta – jogue um fósforo dentro; quando ele acender, é porque já está no ponto –, frite os croquetes até que fiquem bem douradinhos e deixe-os por um ou dois minutos em papel absorvente.

Bom apetite.   

sábado, 30 de setembro de 2023

O JACARÉ E O COELHINHO BRANCO

O Brasil jamais se notabilizou pela qualidade de seus governantes, e o motivo foi cantado em prosa e verso por Pelé e por João Figueiredo durante a ditadura militar. Em 1984, pressionada pelos militares, a Câmara Federal sepultou a Emenda Dante de Oliveira, mas a mobilização popular seguiu firme e forte e, em janeiro do ano seguinte, Tancredo Neves foi eleito presidente por um colégio eleitoral, mas baixou ao hospital horas antes da posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois, levando para a tumba as esperanças do povo brasileiros.


Com a morte de Tancredo, o oligarca maranhense José Sarney desgovernou o país até 15 de março de 1990, quando entregou o cetro e a coroa a Fernando Collor (o caçador de marajás de araque que derrotou o desempregado que deu certo na primeira eleição direta desde 1960). Com a condenação do "Rei-Sol" no primeiro impeachment da "Nova República" (em dezembro de 1992), o vice Itamar Franco foi promovido a titular e nomeou Fernando Henrique Cardoso Ministro da Fazenda.


FHC e sua equipe de notáveis gestaram e pariram o Plano Real, cujo sucesso ensejou a vitória do tucano no primeiro turno do pleito presidencial de 1994. Três anos depois, picado pela mosca azul, sua excelência comprou a PEC da Reeleição e tornou a derrotar Lula em 1998. A maré mudou em 2022: na quarta tentativa seguida, o demiurgo de Garanhuns conseguiu se eleger presidente, dando início ao jugo petista que seria interrompido 13 anos, 4 meses e 11 dias depois, com afastamento de Dilma


Com a deposição da gerentona de festim, o país voltou a ter na presidência alguém que falava português sem exterminar o plural nem descambar para o "dilmês". Mas nuvens negras surgiram surgiram no horizonte quando o ministério de notáveis prometido por Temer revelou-se uma notável confraria de corruptos, e tempestade desabou quando o jornalista Lauro Jardim revelou uma conversa mui suspeita entre o vampiro do Jaburu e certo moedor de carne com vocação para delator e estúpido a ponto de delatar a si mesmo.


Despido do manto da moralidade, o nosferatu tupiniquim cogitou renunciar, mas, dissuadido por sua entourage, anunciou num pronunciamento à nação que não renunciaria, e que a investigação no STF seria "o terreno onde surgiriam as provas de sua inocência". Ato contínuo, lançou mão de toda sorte de artimanhas para escapar da cassação. 


Como o Diabo sempre cobra sua parte no pacto, Temer se tornou refém do Congresso e claudicou pela conjuntura como pato manco até janeiro de 2019, quando transferiu o cargo para aquele que seria o pior mandatário que o Brasil já teve desde a chegada de Cabral. 

 
Vinte e um anos se passaram do golpe de 64 à volta dos militares à Caserna, mas poucos meses bastaram para Bolsonaro trazê-los de volta e transformar o Estado em quartel. O pedaço que viu nele a chance de "salvar a sociedade do comunismo" conferiu péssima fama à ala das Forças Aramadas que manteve os pés na democracia, e a reversão de uma urucubaca tão disseminada exige mandinga mais forte do que o lero-lero de "separar o joio do trigo".  A intentona de 8 de Janeiro só não deu certo porque porque o aspirante a tiranete não conseguiu o apoio de "seu Exército" e de "suas Forças Armadas"

Observação: Depois que a PF descobriu que fardados de alto coturno (como o almirante Almir Garnier) foram coniventes com o projeto autoritário do "mito", o Datafolha apurou que 6 em cada dez brasileiros acham que as Forças Armadas se meteram em irregularidades por se deixarem cavalgar pelo ex-capitão que o general Ernesto Geisel bem definiu como "mau militar". 


É inegável que mãos fardadas apalparam todas as cumbucas, da trama golpista ao comércio de joias; da "pazuellização" da Saúde à falsificação de cartões de vacina; do ataque sistemático ao sistema eleitoral às visitas do picareta de Araraquara à pasta da Defesa. E que, ao testemunhar em silêncio as extravagâncias do capetão, a banda muda do Alto-Comando das FFAA como que se aliou às multidões que acamparam na porta dos quartéis para pedir intervenção militar.

 

Segundo a PF, o tenente-coronel Mauro Cid revelou em sua delação que: 1) após a derrota nas urnas, Bolsonaro se reuniu com integrantes da Marinha para discutir uma proposta de golpe; 2) além de militares, participaram do encontro integrantes do chamado "Gabinete do Ódio"; 3que a minuta discutida na reunião tratava de uma série de ilegalidades, mas não é possível afirmar que fosse a mesma encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres; 4) que a proposta de golpe foi recebida com entusiasmo pelo representante da Marinha, mas o Exército ficou mais reticente; 5) que o plano não foi adiante por causa da falta de adesão.

 

Como disse alguém, "se tem boca de jacaré, dentes de jacaré, couro de jacaré e rabo de jacaré, não deve ser um coelhinho branco". 

sábado, 13 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (CONTINUAÇÃO)


Sir Winston Churchill ensinou que "a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos", e que "o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano." Anthony Downs ensinou que ganha a eleição quem conquista o eleitor mediano, pois os candidatos de esquerda e direita têm garantidos os votos dos eleitores que comungam de suas convicções político-ideológicas.
 
Conhecido como Teorema do Eleitor Mediano, esse axioma vicejou no Brasil de 1994 até 2014, quando então a reeleição de mulher sapiens gerou uma polarização que vazou da política para as ruas. Em 2016, a insatisfação popular deu azo ao impeachment da gerentona de araque e à ascensão de Michel Temer, que prometeu um ministério de notáveis e empossou uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" era de vidro e se quebrou quando O Globo publicou uma conversa de alcova gravada à sorrelfa por certo moedor de carne bilionário travestido de x-9. 
 
Alvo de três "Flechadas de Janot" — o PGR que mais adiante reconheceu ter ido armado ao STF para matar o semideus togado e se suicidar —, 
vampiro que tem medo de fantasma empenhou nossas cuecas em troca de apoio das marafonas do Centrão, mas terminou sua gestão como um patético "lame duck" — termo usado pelos americanos para definir políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons demonstram seu desprezo servindo-lhes o café frio.
 
Como desgraça pouca é bobagem, desse caldeirão infernal emergiu o amálgama mal ajambrado de mau militar e parlamentar medíocre que, em 2018, fantasiado de outsider antiestablishment e surfando na onda do antipetismo, impôs ao títere
 do então presidiário mais famoso do Brasil uma derrota acachapante. 
 
Observação: Como eu antecipei numa postagem de novembro de 2021, a maldita polarização transformou o pleito de 2022 em mais plebiscito, obrigando-nos (mais uma vez) a escolher o menor de dois males (lembrando que toda má escolha feita por falta de alternativa continua sendo uma má escolha). E não há nada como o tempo para passar. 
 
Sétimo filho (noves fora quatro que "não vingaram") de um casal de lavradores pernambucanos pobres e analfabetos, Luiz Inácio da Silva nasceu em 1945, conheceu o pai aos 5 anos e retirou para São Paulo aos 7, em 1952, onde morou com o pai, a mãe e os irmãos até que uma surra de mangueira levou dona Lindú a deixar o marido alcoólatra, rude e ignorante e se mudar para um cubículo nos fundos de um boteco do bairro paulistano do Ipiranga, onde Lula trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico e perder o dedo mínimo da mão esquerda num acidente pra lá de suspeito. 
 
Observação: Vale destacar que Aristides Inácio da Silva — que foi alcunhado de "homem das sete mulheres" pelos colegas estivadores, morreu de cirrose em 1978 e foi enterrado numa vala comum: nem dona Lindú, nem as amantes, nem os vinte e tantos filhos que ele espalhou Brasil afora lhe deram um túmulo e um epitáfio. 
 
Estimulado pelo irmão Frei Chico (que não era frade, mas ateu, não se chamava Francisco, mas José, e era membro do Partido Comunista Brasileiro), Luiz Inácio iniciou sua trajetória de sindicalista e ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje, mas que só incorporou depois de fundar o PT e de ficar em 4º lugar na primeira eleição direta (pós-ditadura) para governador de São Paulo. 

Falando em apelidos, Brizola — que chamava Lula de "cachaceiro" — disse em 1989 que "política é a arte de engolir sapos" — daí o epíteto "sapo barbudo". Em 2002, quando se elegeu presidente pela primeira vez (após três tentativas fracassadas), o xamã do PT ficou conhecido como "Lulinha paz e amor"; em 2006, durante a campanha pela reeleição, ganhou da adversária Heloísa Helena a alcunha de "sua majestade barbuda"; nos bastidores do Planalto, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine" (numa alusão ao dedo mindinho decepado em 1964, num acidente pra lá de duvidoso); nas planilhas de propina da Odebrecht, identificado como "Amigo" e "Brahma". 
 
Observação: Em meados dos anos 1980, Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares, idealizador do SNI da ditadura e arquiteto da "abertura lenta, gradual e segura" — confidenciou a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda, que não passava de 
um bon vivant

Em 1986, Lula foi o deputado federal mais votado do país; em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente pós-ditadura, perdeu para Fernando Collor; em 1994, foi derrotado por Fernando Henrique, que tornou a vencê-lo em 1998, sempre no primeiro turno. Em 2002, sua vitória sobre José Serra deu início ao jugo lulopetista que só terminaria 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento da nefelibata da mandioca. Dois meses antes, ao ser conduzido coercitivamente à PF para depor, Lula esbravejou: "Quiseram matar a jararaca, mas bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve". 
 
Continua... 

terça-feira, 25 de junho de 2019

GREENWALD E A CONSPIRAÇÃO ANTIRREPUBLICANA



NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ SABE, MAS SIM O QUE VOCÊ PODE PROVAR.

O julgamento do pedido de habeas corpus de Lula no processo do tríplex  aquele em que o petista já foi condenado em três instâncias deve ser concluído somente no segundo semestre. Devido ao recesso de meio de ano, as sessões ficarão suspensas até agosto, e por ser o HC do petralha o último item da pauta desta terça-feira, e só o voto do ministro Gilmar Mendes ter nada menos que 40 páginas, a avaliação é de que não haveria tempo de encerrar o julgamento nesta sessão, que é última antes do recesso.

A defesa do molusco pede tratamento diferenciado a seu cliente, alegando que ele é idoso e está preso há mais de 400 dias. Em nota, Cármen Lúcia esbanjou mineirice ao salientar que “todo processo com paciente preso tem prioridade legal e regimental, especialmente quando já iniciado o julgamento, como nos casos de vista, independente da ordem divulgada.” Portanto, façam suas apostas e confiram no final da tarde "o que deu no poste".

Como bem lembrou Josias de Souza em sua coluna, esse julgamento foi interrompido em dezembro por um pedido de vistas de Gilmar Mendes, depois que os ministros Fachin e Cármen Lúcia votaram contra o pedido da defesa. Gilmar e Lewandowski certamente votariam a favor, restando ao ministro Celso de Melo proferir o voto de desempate. Gilmar não pretendia devolver a encrenca à pauta antes do segundo semestre. Adiantou o relógio depois que vieram à luz as primeiras mensagens vazadas pelo site The Intercept Brasil, que a defesa do petralha rapidamente empurrou para dentro dos autos. Inicialmente, os advogados do molusco alegava que a migração de Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba para a Esplanada confirmara o viés político das decisões do ex-juiz; agora sustentam que as mensagens arrancadas do aplicativo confirmam a alegada falta de isenção do ex-magistrado.

Observação: Na semana passada, numa de suas participações no Jornal da Gazeta, José Nêumanne comentou que em entrevista a Mônica Bergamo, da Folha, e Florestan Fernandes, do El Pais, no dia 26 de abril, Lula garantiu que iria “desmascarar o Moro e o Dallagnol.” Omitiu na entrevista como o faria, mas foi nitidamente um spoiler no mínimo suspeito — a exemplo do pedido de vistas de Gilmar, após os votos de Fachin e Carmen Lúcia, e a liberação dos autos logo depois que as denúncias vazadas pelo The Intercept ganharam as manchetes dos jornais. Tire o leitor suas próprias conclusões.

Antes de decidir se Moro foi ou não parcial e se Lula é ou não um injustiçado, as togas supremas terão de informar se as mensagens podem ou não ser admitidas como prova. Para Mendes, a origem ilícita de uma prova não impede que seja usada em benefício de condenado sem culpa. O diabo é que as mensagens podem ter sido adulteradas. Quer dizer: o STF agora precisa decidir duas questões preliminares antes de entrar no mérito da causa: 1) Prova obtida de forma criminosa vale?; 2) Se valer, o lote de mensagens pode ser tomado como autêntico sem uma perícia capaz de afastar a alegada hipótese de adulteração?

Para complicar, os textos chegam às manchetes em ritmo de conta-gotas. Julgar num ambiente assim seria algo tão seguro quanto sapatear em areia movediça. Melhor adiar do que cometer o crime da precipitação. O Supremo nunca teve pressa para julgar réus da Lava-Jato que desfrutam do privilégio do foro especial. Condenou um mísero e escasso denunciado. Não seria razoável que resolvesse apressar o passo justamente na apreciação de um habeas corpus que pode resultar na absolvição duvidosa de Lula — um corrupto condenado em primeira, segunda e terceira instâncias, cuja prisão foi avalizada pela maioria do plenário do próprio STF. Dizia Rui Barbosa que "justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta", mas nada seria mais apropriado no momento do que adiar o julgamento do pedido de suspeição formulado pela defesa de Lula contra Moro.

Não fossem Lula, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol os envolvidos, o “material bombástico” que vem sendo divulgado em doses homeopáticas pelo site esquerdista The Intercept Brasil produziria as mesma consequência de um peido num vendaval. Ocorre que parte da mídia, dos analistas políticos e de juristas das horas vagas se alinhou à imprensa “cumpanhêra” e comprou alegremente a narrativa construída com indiscutível parcialidade pelo americano Glenn Greenwald — que acontece de ser marido do deputado David Miranda, do PSOL-RJ — e seus asseclas. O propósito salta aos olhos: demonstrar que as supostas mensagens trocadas entre o ex-juiz da Lava-Jato e o coordenador da força-tarefa em Curitiba comprovariam de maneira cabal o grande conluio contra o sumo pontífice da seita do inferno, exterminador do plural, parteiro do Brasil Maravilha e deus pai da Petelândia.

Tudo que foi ventilado pelo Intercept até o momento não passa de um amontoado de coisa alguma, uma coletânea de diálogos curtos e fora do contexto onde foram pinçados. Isso para não mencionar que "material bombástico" foi obtido de forma ilícita (hackeamento digital), e que, no mundo dos ilícitos, criar diálogos para corroborar narrativas não é nada incomum.

Greenwald diz que há muito mais a ser revelado — mais do mesmo que foi mostrado até aqui, provavelmente, retocado com as cores vibrantes de uma reinterpretação ideológica por “repórteres” incapazes de disfarçar suas militâncias, e que, ávidos por revelar uma “grande conspiração conservadora”, ignoram tudo que deveriam ter aprendido na faculdade sobre a razoabilidade das fontes e a neutralidade jornalística. Demais disso, conversas entre promotores, procuradores e juízes são comuns — talvez não devessem ser, mas isso não é outra história. E, de novo: não fossem os envolvidos quem são, esse assunto não mereceria mais que uma nota de rodapé.

As mensagens vazadas não são denúncias. São pedaços de supostas realidades coladas com fita crepe a um aglomerado de narrativas partidárias. O Intercept não pode apontar ou imputar crimes sem ter deles provas reais, e ainda que as tivesse, a obtenção por meio ilícito desqualificaria seu uso nos tribunais. O próprio Greenwald procurou a Rede Globo para divulgar o material de forma conjunta, mas, à ausência da credibilidade das fontes e da legalidade do conteúdo, a Venus Platinada bateu-lhe a porta nas fuças. Reinaldo Azevedo, dono de uma empáfia à toda prova, travestiu-se de paladino da Justiça e acabou pagando mico: a "informação bombástica" que ele divulgou no último dia 20 — de que a Lava-Jato, seguindo orientação de Sergio Moro, teria afastado a procuradora Laura Tessler de audiências — era fake news e foi prontamente desmentida pela força-tarefa.

Os procuradores, através de nota, afirmam que "além de desrespeitosa, mentirosa e sem contexto, a publicação de Reinaldo em seu blog não realizou a devida apuração que, por meio de simples consulta aos autos públicos acima mencionados, evitaria divulgar movimento fantasioso de troca de procuradores para ofender o trabalho e os integrantes da força-tarefa". Ainda segundo a nota, Laura participou de audiência em 13 de março de 2017, sobre o ex-ministro Antônio Palocci, e em todas as subsequentes do caso, realizadas nos dias 14, 15, 21 e 22 de março. A nota diz também que a publicação do Intercept Brasil é tendenciosa e que "tentou criar artificialmente uma realidade inexistente para dar suporte a teses que favoreçam condenados por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava-Jato".

Sobre Reinaldo Azevedo, a força-tarefa afirma que "a suposta versão, que não resiste a uma mínima análise crítica diante dos fatos públicos, indica que a fábrica de narrativas político-partidárias baseadas em supostos diálogos sem autenticidade e integridade comprovadas somente leva à perda de credibilidade de quem delas se utiliza sem a devida apuração", que a notícia é "rasa, equivocada e sem checagem dos fatos", e que a atuação de Laura sempre foi "firme, técnica e dedicada" e contribuiu decisivamente para a condenações importantes. Para finalizar, a nota afirma que "não houve qualquer alteração na sistemática de acompanhamento de ações penais por parte de membros da força-tarefa; os procuradores responsáveis pelo desenvolvimento de cada caso acompanharam as principais audiências até o interrogatório, não se cogitando em nenhum momento de substituição de membros, até porque todos vêm desenvolvendo seus trabalhos com profissionalismo, competência e seriedade".

Notícia bombástica mesmo foi o furo jornalístico publicado por Lauro Jardim, em maio de 2017, que trouxe a lume conversas nada republicanas mantidas nos porões do Jaburu, na calada da noite, pelo então presidente Temer e o moedor de carne bilionário Joesley Batista, cuja pronta repercussão levou ao esvaziamento do Congresso e sitiou no Palácio do Planalto o presidente da República. Enfim, uma galinha até consegue voar, mas jamais será um condor-dos-andes.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

FELIZ ANO NOVO. DE NOVO.


Em 2014, a reeleição da cria e pupila do criminoso de Garanhuns jogou o Brasil na pior recessão de sua história. Dentre outras desgraças, o fechamento de postos de trabalho empurrou milhões de brasileiros para o subsolo da linha de pobreza, os índices de mortalidade infantil dispararam e o Brasil se tornou um dos países mais perigosos do planeta.

Em 2015, tínhamos uma presidanta encurralada, sem autoridade, nexo ou respeito; um presidente da Câmara descrito como “homem de poderes sobrenaturais” e um ex-presidente da República picareta, sempre prestes a “virar o jogo” mediante conchavos milagrosos — que meses depois tentaria nomear a si próprio ministro da Casa Civil e, a partir daí, resolver a situação toda em seu próprio benefício. Tínhamos, ainda, um cangaceiro presidindo o Senado e atuando como marechal de campo na guerra para manter no comando a farsante que se autodeclarava “presidanta honesta, competenta e eleita democraticamente “.

Em dois mil e dezechega — como dizíamos no final daquele ano aziago — a anta incompetenta foi expelida (pelo conjunto de sua imprestável obra e falta de traquejo político para se relacionar com o Congresso; oficialmente, o motivo do impeachment foram as  pedaladas fiscais e maracutaias da ordem de R$ de 60 bilhões). Foi também em 2016 que o molusco abjeto se tornou réu pela primeira vez e o vice-presidente decorativo, visto como a ponte que poderia conduzir o país à salvação, foi promovido a titular. E assim a economia deu sinais de recuperação, a inflação e a taxa básica de juros começaram a recuar, os índices de desemprego pararam de crescer e reformas importantes para o país começaram a avançar.

Nem bem o calendário virou para 2017 — ano em que depositávamos esperanças de melhoras mais consistentes —, eclodiram rebeliões nos presídios e uma greve absurda da PM, que causou a morte de centenas de inocentesVale lembrar que até então ninguém imaginava que dali a três anos morreriam centenas de pessoas todos os dias, no Brasil, e que nosso arremedo de presidente daria de ombros, riria e diria: “E daí?”.

Ainda em janeiro de 2017 um trágico acidente aéreo vitimou o ministro Teori Zavascki e deixou o STF sem relator dos processos da Lava-Jato, às vésperas da homologação da Delação do Fim do Mundo. Ainda assim, a despeito do "fogo amigo", houve avanços na luta contra a corrupção. 

Foram em cana desqualificados como Rodrigo Rocha Loures — o “homem da mala”, ex-assessor e pessoa da mais estreita confiança do presidente Temer —, Geddel Vieira Lima o homem dos R$51 milhões e também amigão do peito do mandatário de turno —, os ex-governadores Sérgio Cabral e Anthony Garotinho, quase todos os membros do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e do alto escalão da Alerj (a começar pelo presidente da Casa). Em abril, depois de ter a condenação ratificada pelo TRF-4 no processo sobre o folclórico tríplex no Guarujá, o picareta dos picaretas finalmente foi preso.

Em meados de maio, Lauro Jardim trouxe a lume uma conversa de alcova nada republicana entre Temer e o moedor de carne bilionário dono da JBS. O vampiro do Jaburu fechou-se em copas e cogitou de renunciar, mas foi demovido pelos puxa-sacos de plantão — com destaque para o aparvalhado Carlos Marun, que performou uma dancinha patética quando as marafonas do Congresso livraram o rabo sujo do Diphylla Ecaudata.

Temer ensaiou durante horas o papel de vestal ofendida, mas só se sentiu preparado para encená-lo na tarde do dia seguinte. Do Palácio do Planalto para o mundo e em rede nacional, dedicou-se sua insolência à inglória tarefa de explicar o inexplicável, e terminou o solilóquio lamentando que "fantasma da crise política" voltara a rondar o Planalto.

Não renunciarei. Repito: Não renunciarei. Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Meu único compromisso é com o Brasil, e só este compromisso me guiará”, esbravejou o vampiro, com uma cara de pau de deixar Lula roxo de inveja. A certa altura chegou a dizer que a investigação no STF seria "o território onde aflorariam as provas de sua inocência". Mas o que a partir daí, na verdade, foi empenhar sua alma imortal para impedir que a Câmara autorizasse o STF a processá-lo.

Durante algum tempo dizia-se o tempo todo que o governo estava “com os dias contados”. Mas Temer, tal qual os cagalhões que flutuam no rios Pinheiros e no Tietê (verdadeiros esgotos a céu aberto que cortam São Paulo), não afundou nem com reza brava. 

Como na fábula do Menino e Lobo, a conversa de que “a qualquer momento...” acabou enchendo o saco, até porque o povo tem mais o que fazer para pôr comida na mesa — e sustentar a caterva de corruptos fantasiada de agentes públicos.

Ainda assim, aos trancos e barrancos o pato manco chegou melancolicamente ao final de seu funesto mandato e, em 1ª de janeiro de 2018, passou a faixa para sabe-se lá se uma versão revista e atualizada da Caixa de Pandora ou uma combinação dos quatro Cavaleiros do Apocalipse (Peste, Guerra, Fome e Morte), mas que se encalacrou no Palácio do Planalto e lá permanece até hoje, graças à inação, a pusilanimidade e o desinteresse dos Poderes Legislativo e Judiciário.

O ano seguinte teve “seus momentos” — que se podem conferir através do campo “arquivos do Blog” para revistar as postagens publicadas ao longo de 2018. Mas vale relembrar que foi no finalzinho de mais esse ano aziago que o ministro Marco Aurélio, cansado de esperar pela rediscussão da prisão após condenação em segunda instância, concedeu uma liminar que por pouco não resultou na soltura de quase 170 mil condenados que aguardavam presos o julgamento de seus recursos — entre eles o criminoso Lula.

Observação: No recesso de meio de ano um plantonista delirante do TRF-4, membro praticante da ospália petista, determinou a soltura do demiurgo de Garanhuns. A decisão desse desembargador (que deixou claro não ter juízo sequer para arbitrar pelada de várzea) gerou uma queda-de-braço que só terminou depois que o presidente do Tribunal, Carlos Eduardo Thompson Flores, restabeleceu a ordem no galinheiro.

Em outubro, para impedir o retorno do criminoso Lula e seus asseclas ao Palácio do Planalto, formos obrigados a apoiar um dublê de mau militar e parlamentar medíocre (como não havia alternativa, não há que falar em arrependimento) que sabíamos não ser grande coisa, mas jamais imaginamos que tê-lo como mandatário seria como enfrentar, a um só tempo e de uma só vez, as Sete Pragas do Egito.

O fim de 2018 trouxe um 2019 que começou com a posse do capitão-desgraça, os desmandos inadmissíveis (mas admitidos) de sua prole, a influência maléfica do guru de merda Olavo de Carvalho no governo, as intrigas do pitbull do papai (que levaram à demissão de Bebianno e dos generais Santos Cruz e Rego Barros), os rolos cada vez mais enrolados de Queiroz e Flávio “Rachadinha”, a fieira de promessas de campanha metidas em local incerto e não sabido (mas onde certamente o sol não bate), a quase derrubada do governo (ainda no primeiro semestre), a sucessão de crises que o capitão sem luz criava diuturnamente para desviar a atenção do cheiro de podre de seu governo impoluto, ilibado e incorruptível... Enfim, sugiro, mais uma vez, recorrer aos arquivos do Blog para repassar as postagens, pois tudo que houve de importante ao longo do 2019 foi discutido ou, no mínimo, mencionado de passagem.

Observação: Foi também em 2019 que a banda podre do STF restabeleceu (por 6 votos a 5) o império da impunidade sem que se ouvisse um pio daquele que nos prometeu travar uma cruzada contra a corrupção — nem de seu superministro da Justiça — que, convenhamos, não podia contrariar o chefe, sob sob pena de ser penabundado, mas que passou tempo demais engolindo sapos e bebendo a água da lagoa. O Posto Ipiranga foi outra decepção, apesar de não lhe caber toda a culpa pelo fiasco. Como já disse mais de uma vez, ser ministro desse governo de merda exige estômago de avestruz e vocação inata para lamber botas e dar o rabo pedindo desculpas por estar de costas. Simples assim.

E então veio 2020, que trouxe a Covid, a demissão de Mandetta em plena pandemia, a militarização da Saúde por um logístico ilógico, a saída de Moro, o inquérito no STF para investigar o mito mitômano, a subserviência do PGR, as licenças e subsequente aposentadoria do ministro Celso de Mello, a nomeação de (mais) um pau mandado para preencher sua vaga... enfim, isso tudo é história escrita tão recentemente que a tinta nem secou. Para não abusar da paciência do leitor (mais do que já abusei), encerro a bagaça com um texto de Dora Kramer:

Nos últimos acordes do atípico ano de 2020 o senso comum lançou em toda parte um sonoro “já vai tarde”, tentando semear a esperança de que em 2021 será tudo melhor. Que será, será, mas não necessariamente muito diferente, pois problemas não caminham sozinhos nem são subservientes ao calendário. Continuam aí, embora o mundo já receba, do esforço universal tão inédito quanto espetacular dos cientistas, instrumentos para enfrentar o maior deles a golpes de vacinas.

Para tudo, porém, há um contraponto. A pandemia tirou as coisas dos eixos tais como vinham girando até que um morcego do outro lado do planeta pusesse a humanidade à prova, entregue ao desafio de encontrar novos ou reencontrar antigos pontos de equilíbrio. A disfunção é universal e cada país ainda tem adversidades específicas — decorrentes voluntária e involuntariamente da ofensiva do vírus — para administrar.

Os Estados Unidos, por exemplo, livraram-se de uma dessas circunstâncias que deram um trabalho enorme: um presidente criador de casos, cujos métodos contribuíram ao longo do ano para o desvio do combate à crise sanitária.

Por aqui, junto com cargas pesadas a carregar e sapos robustos para engolir, temos esse tipo de governante, só que ainda com dois anos de mandato pela frente e sem dar sinal de que pretenda parar de criar caso com tudo e todos que lhe contrariem a ilusão de poder absoluto.

Ilusão porque Bolsonaro perdeu e continua perdendo todas as tentativas de dar contornos reais ao devaneio de mandar porque pode e daí fazer todos obedecer por ser, na visão dele, providos de juízo. Tenta compensar no grito as perdas que acumula no Judiciário, no Legislativo, na comunidade científica, entre governadores, na sociedade organizada (e na desorganizada também), na imprensa, nos desmentidos que lhe impõem os fatos.

Muito embora a banda da democracia não toque ao ritmo de marcha militar, o general da banda ganhou algumas paradas ao custo de enormes prejuízos ao país, levando-nos a perder lugar de destaque e respeito mundiais na cultura, no trato do meio ambiente, na diplomacia e, mais recente e de modo especialmente danoso, na política de imunização construída em bases exitosas nas últimas quatro décadas. Um legado que vai muito além de 2020, cuja marca foi a da ineficiência.

O que esperar então do amanhã mais imediato? O presidente continuará nessa toada de cavar chances para celebrar aqui e ali “mais uma que o Bolsonaro ganhou”, pouco se lhe importando o destino do coletivo. E o Brasil social e institucionalmente do outro lado seguirá empreendendo um esforço enorme para reagir e resistir às investidas... nem vou dizer contra a democracia por se tratar de uma ação inexequível, mas contra a normalidade da vida e da relação do governante com seus governados.

É toda hora uma declaração estapafúrdia ou uma ação descolada da realidade, coisas que exigem a mobilização de uma energia brutal dedicada ao acessório que, no entanto, se torna essencial porque não se pode deixar passar certas atitudes sob o risco de lá na frente o preço a pagar ficar muito mais alto.

Esse passivo particularmente brasileiro é que vamos carregar neste momento em que o combate da pandemia já não é uma hipótese, mas uma situação concreta na qual seria indispensável contar com uma governança concentrada na emergência. O plano anunciado é difuso. Os 20 bilhões de reais de aporte anunciados não ajudam quando se tem um presidente que põe dinheiro, mas não impõe moral e desqualifica a vacinação e se mostra incapaz de imunizar a população, a coisa tende a não funcionar.

Problema ainda agravado por dificuldades como a queda de renda dos mais pobres, a incerteza sobre o andamento dos trabalhos no Congresso para o que é fundamental na economia, a redução de leitos disponíveis seja pelo receio de se retomarem os hospitais de campanha devido às falcatruas ocorridas e/ou da necessidade de atendimento de doenças cuja demanda ficou reprimida pela prioridade dada à Covid.

Isso sem falar nos efeitos crescentes da tensão pré-eleitoral em cujas águas o presidente candidato à reeleição navega em clima de tormenta, donde a tendência de seus pretensos oponentes será a do jogo pesado, tendo a vacina como centro. Mas essa é outra história. Por ora, fica o desejo: que a realidade supere as más expectativas e tudo corra bem no ano que vem.

Boas entradas a todos.