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terça-feira, 12 de novembro de 2024

AS AVES QUE AQUI GORJEIAM NÃO GORJEIAM COMO LÁ


"O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", disse Juracy Magalhães, que foi embaixador em Washington pelo marechal Castello Branco quando esta banânia era mais uma ditadura militar instalada sob o pretexto de salvar a América Latina do comunismo.

Para os que gazeteavam nas aulas de História, relembro que a renúncia de Jânio Quadros e a aversão dos militares ao vice João Goulart levaram ao golpe de Estado que prefaciou a ditadura que Bolsonaro sempre negou e seu vice classificou de ditamole. A vacância da Presidência foi declarada em 1º de abril de 1964, mas a História marca o evento no dia anterior, para evitar associações jocosas com o "dia da mentira".
 
Quando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade escancarou o apoio civil ao golpe, o Congresso, ameaçado de fechamento, chancelou a derrubada de Jango e a "eleição" de Castello Branco, então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Quem apoiou o golpe acreditando que a democracia seria restabelecida com eleições diretas no ano seguinte deu com os burros n'água: a ditadura se estendeu até 1985, com outros quatro generais se revezando no poder, num jogo de cartas marcadas onde o partido de oposição (MDB) era meramente figurativo.
 
Os milicos não retornaram para a caserna graças ao espírito democrático de Geisel e Figueiredo, mas devido às manifestações populares pelas Diretas Já. Todavia, embora Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola e Ciro Gomes figurassem na lista dos 22 postulantes ao Planalto, o eleitorado brasileiro, sempre inclinado a fazer as piores escolhas, escalou para o embate final um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo. E o resto é história recente: a vitória de Collor e o "nós contra eles" de Lula pavimentaram o caminho para a polarização que, 29 anos depois, dividiria o país em sectários do lulopetismo corrupto e devotos do bolsonarismo boçal. 
 
Se dependesse de Bolsonaro — o filhote da ditadura que, segundo ele, deveria ter torturado e matado muito mais gente —, a democracia jamais teria sido restabelecida. Agora, estimulado pela vitória de seu ídolo — um criminoso condenado, já indiciado por tentar melar a eleição anterior e às voltas com inéditas pendências judiciais — o capetão declarou que "quase tudo o que acontece lá acontece aqui", que "partiremos para uma revolução em 2026" e que "podemos ter uma bancada enorme de senadores e deputados de outros partidos do nosso lado".
 
A torcida de Lula pela vitória de Kamala Harris foi desnecessária, pois ninguém ignorava sua aversão por Trump, e inútil, já que o poder o petista como cabo eleitoral tornou-se discutível até no Brasil. Compelido pelo fato consumado a parabenizar o eleito, disse o Sun Tzu de Atibaia que "o mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto", esquecendo-se de lembrar (ou lembrando-se de esquecer) que Trump retornará ao poder com maioria no Congresso e uma Suprema Corte de viés conservador, e que sua coleção de processos judiciais já foi encostada no arquivo. Alguém deveria lembrar ao petista que Trump converterá a Casa Branca numa sucursal do inferno, e que o governo brasileiro terá que dialogar com o capeta, pois ignorar os fatos não faz a realidade desaparecer.
 
Como para comprovar o ditado "quem sai aos seus não degenera", Zero Um declarou que a "via crucis" que Trump enfrentou nos EUA é "muito parecida com a que seu pai está atravessando aqui", e que, "se descondenaram o Lula depois de tudo o que ele fez", não há motivo para a inelegibilidade de Bolsonaro não ser revertida. E Zero Três foi além: "Eu não vejo eles [o governo norte-americano] mandando recado para o TSE ou algo assim, mas o STF... um ou dois juízes que ficam mais à vontade para adotar suas políticas... eles vão ficar com o pé atrás."
 
"Há dois anos querendo me incriminar como golpista, vai à merda, porra...", disse Bolsonaro, referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes, talvez com o intuito de manter na ponta dos cascos a récua de muares descerebrados que lhe babam os ovos. Mas a porca torce o rabo quando ele insinua que Trump gostaria de vê-lo anistiado. Cabe a Moraes autorizar ou não o mentor intelectual e principal beneficiário do 8 de Janeiro comparecer à posse de sua musa inspiradora, mas dois pedidos de devolução do passaporte já foram recusados, e tudo indica que desta vez não será diferente, com ou sem a ameaça de retenção do visto feita por um grupelho de congressistas trumpistas ao ministro do STF.
 
Pode-se gostar ou não de Trump, mas não se pode negar que ele é um fenômeno político. Já Bolsonaro não passa de uma imitação grosseira. O peruquento se manteve à tona por quatro anos, e agora está de volta, ao passo que o clone mal-ajambrado entrou para a História como o único presidente brasileiro que tentou a reeleição e foi barrado nas urnas — e, de quebra, corre o risco de acabar na prisão.
 
Se tiverem juízo, a PGR e o STF se apressarão em demonstrar que suas palmeiras não fornecem sombra para delinquente nem seus sabiás cantam mais afinados que os melros-azuis na terra do Tio Sam. As eleições foram usadas como pretexto para retardar seu indiciamento, mas agora não há motivo para que ele não se torne réu, seja julgado e sentenciado. Ao contrário do que disse o embaixador americano nos anos 1960, o que pode ser bom para os EUA pode não ser necessariamente bom para o Brasil.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

SEGURANÇA DIGITAL, BOTS OTP E GOOGLE PASSKEY

A VIDA É COMO O PROGRAMA DO CHACRINHA: SÓ ACABA QUANDO TERMINA.


Registros teóricos de programas de computador capazes de se autorreplicar remontam a meados do século passado, mas o nome "vírus" só foi adotado em 1980. 

Mais adiante, a diversificação das pragas digitais levou à cunhagem do termo "malware" (de malicious software) que passou a designar tanto os vírus quanto worms, trojans, spywares, rootkits e demais códigos maliciosos (mais detalhes em Antivírus - A História).
 
Os primeiros "vírus" saltavam de uma máquina para outra pegando carona em
 disquetes piratas de joguinhos de computador, mas a maioria se limitava a reproduzir sons assustadores e/ou exibir mensagens engraçadas ou obscenas. Criado originalmente para identificar cópias piratas que rodavam no Apple II, o Brain foi compatibilizado com o MS-DOS e se tornou o primeiro vírus para PC.  

A propagação das pragas foi impulsionada pela popularização do Correio Eletrônico somada à capacidade dos emails de transportar arquivos, e não demorou para que os anexos infectados se tornassem a principal "ferramenta de trabalho" dos cibercriminosos. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O eleitorado paulistano já votou em rinoceronte para vereador (Cacareco, em 1954), em Jânio Quadros, Luiza Erundina e Celso Pitta para prefeito (só para ficar nos mais emblemáticos), ajudou os paulistas a elegerem Tiririca deputado federal, e por aí  segue a procissão. 
Diante de tão profícua lista de asnices, eu não me espantaria se essa récua eleger Pablo Marçal, até porque os demais postulantes, mesmo sendo menos ignóbeis, são quem eles são.
Muita gente que assistiu ao debate de terça-feira esperando um repeteco das cenas dantescas do domingo anterior se decepcionou, já que a Rede TV fixou os pés das cadeiras com os parafusos que faltam na cabeça de quem se senta nelas. Nenhuma cadeira voou, mas o nível do espetáculo foi tão ruim quanto o dos anteriores.
A despeito do polegar direito enfaixado, Marçal encostou novamente o ambiente na sarjeta. A diferença é que, exceto por Nunes, que travou com o franco-provocador, no primeiro bloco, uma discussão de pátio de escola de periferia, ninguém caiu na arapuca dos recortes. O próprio Nunes se deu conta de que o embate só convém ao despirocado e preferiu exibir sua aversão a Boulos — sentimento plenamente correspondido pelo apadrinhado de Lula. Tábata teve bom desempenho, mas, a três semanas do primeiro turno, nem uma goleada tiraria a candidata da segunda divisão.
Na última semana, Marçal caiu três pontos nas pesquisas. Dados da Quaest divulgados ontem revelam que a tática baseada no ódio sem causa perdeu fôlego. O Datafolha de hoje deve trazer um esboço mais nítido da conjuntura que deixou zonzos os comitês, especialmente o do "influencer", que vagueou em poucas horas entre a encenação do paciente agonizante na ambulância e a retomada da pose de valentão indomável. 
A esta altura, a maior contribuição de candidatos que cultivam a raiva sem exibir propostas consistentes seria perder a eleição.
A conferir.

Milhares de novos malwares identificados diariamente se juntam aos já catalogadas pelas empresas de cibersegurança (é difícil dizer o número exato, já que cada empresa adota metodologias próprias para classificar as ameaças, mas estima-se que fique na casa do bilhão). 

De um tempo a estar parte, em vez de criarem pessoalmente os códigos maliciosos, os crackers (hackers "do mal") passaram a comprá-los prontos na Dark Web e a se valerem da engenharia social para enganar as vítimas (na corrente da segurança, o usuário costuma ser o elo mais fraco). 
 
Observação: Segurança é um hábito e, como tal, deve ser cultivada. A eficácia dos softwares antimalware é questionável, mas, enquanto não surgir nada melhor, o jeito é manter o desktop, o notebook, o tablet e o smartphone protegidos por uma suíte de segurança responsável.
 
Também as senhas são mais antigas do que costumamos imaginar. O Antigo Testamento registra em Juízes 12: 1-15 que a palavra "xibolete" ("espiga" em hebraico) servia como "senha linguística" para identificar um grupo de indivíduos. N
o século XIII da nossa era, durante o massacre das Vésperas Sicilianas, os franceses eram reconhecidos pelo modo como pronunciavam a palavra "cìciri" ("grão de bico" no dialeto siciliano). 
 
No final do século passado, o "computador da família" se tornou popular devido ao alto custo do hardware, mas cada
 usuário tinha acesso irrestrito aos arquivos dos demais e todo eram afetados por eventuais infecções virais e desconfigurações acidentais. Depois que a Microsoft implementou uma política de contas e senhas, cada usuário passou a se logar no sistema com o próprio perfil e a ter acesso somente às próprias pastas e arquivos. Em outras palavras, só o hardware era compartilhado, cada usuário "tinha um Windows só para si".

As senhas estão em decadência senil, mas continuarão sendo usadas enquanto uma alternativa mais segura não se popularizar. O Passkey, que dá acesso aos serviços do Google por biometria, é um forte candidato, pois o código que ele cria só pode ser usado no momento em que é gerado — evitando vazamentos e usos não autorizados — e a ativação leva menos de um minuto — basta acessar a página da conta Google, informar o login e a senha do Gmail, localizar a opção Segurança no menu à direta, selecionar Chave de Acesso (no painel central) e clicar em Usar chaves de acesso

Observação: Quando o usuário ativa o Passkeyuma mensagem confirmando o uso da ferramenta por meio da impressão digital, facial ou o código de bloqueio de tela será exibida da próxima vez que ele acessa sua conta do Google, Caso o smartphone não esteja à mão, basta clicar em Tente de outro jeito e escolher outra maneira de se logar (clique aqui para mais detalhes).

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

DANDO NOME AOS BOIS



Patriotismo e chauvinismo parecem conceitos semelhantes à primeira vista, mas carregam diferenças profundas. Confundir um com o outro é como misturar alhos com bugalhos, capitão-de-fragata com cafetão de gravata ou a obra do mestre Picasso com a pica de aço do mestre-de-obras. Chamamos patriotismo a um sentimento baseado em valores nobres, voltado para o bem-estar do país. Já a palavra chauvinismo deriva do nome de um soldado francês, Nicolas Chauvin, famoso pela lealdade cega a Napoleão Bonaparte, donde o termo ser usado com o sentido de nativismo irracional, fanático, com pitadas de psicopatia. 


Como exemplo de patriotismo, cito as manifestações pelas Diretas-Já nos anos 1980; como exemplo de chauvinismo, a depredação das sedes dos Três Poderes protagonizada em 8 de janeiro de 2023 por uma récua de bolsonaristas lunáticos (com o perdão da redundância), que cantam o hino nacional para pneus, pedem ajuda a ETs e trotam para a Avenida Paulista sempre que seu "mito" sopra o berrante.

 

Em tempos de polarização, o que os peseudopatriotas chamam de patriotismo é na verdade um chauvinismo viceral, guiado pelo ódio a quem pensa diferente (veja-se o Brexit no Reino Unido e à invasão do Capitólio no EUA). No Brasil, esse fenômeno ganhou força durante a disputa presidencial de 2018 (não que campanhas eleitorais movidas pelo ódio sejam novidade nesta banânia), mas sua origem remonta ao final dos anos, quando Lula plantou a semente da cizânia com seu discurso de "noff contra eleff" (lembrando que os embates entre PT e PSDB eram mais ou menos civilizados). 


O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que a raiva, quando industrializada, costuma ter um desfecho ruim. Jânio renunciou. Collor foi impichado. Bolsonaro perdeu a reeleição, ficou inelegível e vive sob a ameaça de uma sentença criminal (que, lamentavelmente, demora a acontecer). E a última pesquisa Quaest trouxe dados preocupantes para o Planalto e para o comitê eleitoral do PSOL em São Paulo: às vésperas do primeiro turno, a aliança de Boulos com Lula ainda não decolou — o apadrinhado atraiu apenas 43% dos eleitores paulistanos que votaram em seu padrinho na sucessão presidencial de 2022. 


Observação: Devido a essa "lulodependência", o vexame será compartilhado pelo padrinho se o afilhado não passar para segundo turno. Nessa hipótese, Lula perderia tanto para a direita representada por Tarcísio de Freitas, padrinho de Nunes, quanto para a ultradireita personificada em Marçal, que cresceu à revelia de Bolsonaro.

 

O cenário segue de empate triplo, mas Nunes e Marçal cresceram além da margem de erro, e Boulos ficou abaixo do patamar tradicional da esquerda (em Sampa), que gira em torno de 30%. Para agravar a situação, o ex-chefe do MTST vem perdendo terreno em áreas onde esperava crescer.


Em última análise, o mago memes e dos recortes foi enfeitiçado pelo próprio feitiço no debate da TV Cultura. Privado pelas artimanhas do sorteio de trocar farpas com os dois candidatos mais bem-postos nas pesquisas, Marçal esmerou-se nas provocações ao quinto colocado, levou uma cadeirada, tentou a administrar a agressão com método. Percebendo que seu plano de migrar da posição de encrenqueiro profissional para a de vítima havia micado, recalibrou rapidamente o discurso, queixou-se da falta de solidariedade dos adversários e declarou-se pronto para a guerra. Aprendeu da pior maneira um velho ensinamento de Tancredo Neves: a esperteza, quando é muita, engole o dono.

 

Costuma-se dizer que macaco esconde o rabo para falar mal do rabo alheio. Ao cobrar serenidade de Datena depois de fustigá-lo na noite de domingo, Marçal sentou-se no próprio cinismo. Vivo, Charles Darwin diria que a campanha municipal de São Paulo é a prova de que o ser humano não só parou de evoluir como fez o caminho inverso, rumo às cavernas.


Desde que Marçal revelou que se faz de idiota nos debates porque "o público gosta disso" aguardava-se um fato que justificasse o uso do ponto de exclamação que se escuta quando as pessoas dizem "não é possível!" Pois bem, o sinal foi dado: no debate Rede TV-UOL, constatada a impossibilidade de controlar quem age ou reage como se tivesse parafusos a menos, optou-se por banir o risco de que a patifaria resultasse num replay parafusando-se as cadeiras no chão. 


Se no último domingo a cadeira foi a grande vencedora, no debate de ontem quem se destacou foi a mediadora, que conduziu com firmeza as duas horas do programa. Nunes passou o debate inteiro — fora os instantes em que ele esteve se digladiando com Marçal — tentando grudar em Boulos a pecha de defensor da legalização das drogas; este, por sua vez, disse que Nunes a Marçal são faces da mesma moeda (porque buscam o vínculo com o bolsonarismo), mas que o primeiro é ruína e o outro, o abismo.

Nos embates anteriores adotou-se de tudo em matéria de endurecimento das regras — do puxão de orelhas à proibição do celular, passando pela expulsão da sala. Especula-se agora sobre o que virá depois da cadeira parafusada. Coleira? Focinheira? Jaula?
 
A conferir.

sábado, 7 de setembro de 2024

ELEIÇÕES 2024 — POLARIZAÇÃO, BAIXARIA E CEGUEIRA MENTAL DÃO O TOM


 
Faltando menos de um mês para as eleições municipais, Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal estão tecnicamente empatados, Tábata Amaral aparece em 4º lugar e José Luiz Datena carrega a lanterninha. 
Pelo que se pôde inferir dos debates e do anacrônico "horário eleitoral gratuito" — gratuito para os partidos e candidatos, já que quem paga a conta somos nós — nenhum deles tem condições de administrar nem carrinho de pipoca, quanto mais a maior metrópole da América Latina. A proposta de Tábata é a "menos pior", mas, a julgar pelas pesquisas, a moça precisa de um milagre para chegar ao segundo turno. 
 
No Brasil, presidente, governadores, prefeitos e senadores são eleitos com base no sistema majoritário, e deputados (federais e estaduais) e vereadores, pelas regras do sistema proporcional. Como eu comentei esses dois sistemas em outra postagem, vou resumir a ópera relembrando somente que, em municípios com mais de 200 mil eleitores inscritos, se nenhum candidato a prefeito obtiver 50% + 1 dos votos válidos no primeiro turno, os dois mais votados disputarão uma segunda eleição 
— conhecida como "segundo turno" — que é decidida por maioria simples, ou seja, vence o candidato mais votado.

ObservaçãoNos últimos 24 anos, o segundo turno das eleições paulistanas foi disputado por um candidato da esquerda contra um da direita. Mesmo em 2016, quando Dória venceu no primeiro turno, Haddad ficou em segundo lugar. Seguido esse padrão, um embate final entre dois candidatos da direita — no caso, Marçal e Nunes — é no mínimo improvável. Nesse cenário, Boulos deve representar a esquerda. Resta saber quem será seu oponente. Datena parece não ter a menor chance, e Tábata tem menos de um mês para se consolidar na disputa.
 
Situações desesperadoras exigem medidas desesperadas, mas abster-se de votar, votar em branco, anular o voto ou recorrer ao "voto útil" no primeiro turno é estupidez, mas a nefasta polarização vem produzindo pleitos plebiscitários, e um eleitorado despreparado, mal-informado e eivado de apedeutas e idiotas de carteirinha tende a votar não no candidato com quem mais se identifica, mas naquele que supostamente tem mais chances de derrotar o candidato "deles", o que acaba falseando o resultado final do pleito.
 
Magalhães Pinto ensinou que "política é como as nuvens; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram" e Ciro Gomes, que "eleição é filme, pesquisa é frame". Se admitirmos
 que a opinião de alguns milhares de entrevistados representa fielmente o que pensam 9,32 milhões paulistanos aptos a votar, o resultado das pesquisas constitui um "instantâneo" do humor do eleitorado no momento da abordagem. O bom senso recomenda analisar os números com a devida cautela, mas explicar isso a quem sofre de cegueira mental é como dar remédio a um defunto.
 
Uma das características da democracia brasileira é produzir "salvadores da Pátria". Vimos isso em 1989 com Collor, em 2002 e 2006 com Lula e em 2018 com Bolsonaro. Talvez a história se repita em 2026, tendo como protagonista o "coach motivacional" que teve a candidatura ao Planalto barrada pelo TSE, conseguiu se eleger deputado federal, foi impedido de assumir e agora mira a prefeitura paulistana com um olho e a Presidência com o outro. 

A exemplo de Bolsonaro em 2018, Marçal se vende como candidato "antissistema", mas já acena uma aproximação com o sistêmico União Brasil, que um dos principais partidos do Centrão. Se for eleito, cairá no colo do UB, exatamente como o "mito" caiu no colo do Centrão — e lhe deu o orçamento secreto em troca do engavetamento de 150 pedidos de impeachment. 
 
Campanha eleitoral movida a ódio não é novidade por estas bandas, mas terminou mal todas as vezes que a raiva foi industrializada com propósitos políticos: Jânio renunciou, Collor foi impichado, Bolsonaro perdeu a reeleição, está inelegível, vive sob a sombra de uma sentença criminal esperando para acontecer enquanto posa de cabo-eleitoral de luxo. 
A diferença entre ele e Marçal é que as redes sociais dão a este um alcance maior que o daquele

Com a repetição do fenômeno de forma mais turbinada na seara municipal paulistana, resta torcer para que o eleitor despache a aberração antes que ela se consolide como um fenômeno eleitoral. A despeito de estar claro que se trata de um produto estragado, quem tem que comprá-lo ou não é o eleitor.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

FATOS, MITOS, BOATOS E TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO (FINAL)

PARA QUEM NÃO TEM NADA, METADE É O DOBRO.


Nos anos 1970, a pretexto de "limpar registros desfavoráveis" sobre a seita e seu fundador, membros da Igreja da Cientologia roubaram arquivos confidenciais do governo americano e de embaixadas e consulados estrangeiros

Conhecida como Operação Branca de Neve, essa ação foi considerada teoria da conspiração até vir a lume o envolvimento de mais de 5 mil "agentes secretos" — entre membros da igreja, funcionários públicos corruptos ou chantageados e investigadores particulares.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

No debate do último domingo, Marçal deixou claro que seu objetivo era irritar os adversários e desviar a atenção das acusações que ele sabia que viriam. Funcionou: o momento em que ele quase levou um pescoção repercutiu muito mais que a questão das fraudes bancárias em Goiás. 

Na noite seguinte, aboletado no centro do Roda Viva da TV Cultura, o "influencer" parecia outro. Até tentar ensinar a jornalista Malu Gaspar a fazer jornalismo e levar uma invertida. A partir de então o espírito de porco da noite anterior tomou o centro da roda, com um entrevistado ora passivo-agressivo, ora só agressivo, que foi ficando mais arrogante enquanto fazia cortes (foram 11) para suas redes sociais, propunha soluções  mirabolantes para espalhar prosperidade e — pasmem! — cantava "Diário de um Detento", dos Racionais MCs, para reforçar a narrativa de "filho da periferia".  De quebra, culpou os adversários pelo baixo nível dos debates e reclamou de ser "atacado de forma deselegante". 

Inspirado na profecia de Nelson Rodrigues — de que "os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade" —, Marçal afirmou que produz idiotices em série porque o eleitor, por idiota, deseja esse tipo de mercadoria, porém a inanição de sua pauta de propostas leva a crer que idiota é quem vota num sujeito como ele.

Campanha eleitoral movida a ódio não é novidade no Brasil, mas a coisa terminou mal todas as vezes que a raiva foi industrializada com propósitos políticos: Jânio renunciou, Collor foi impichado e Bolsonaro perdeu a reeleição, está inelegível e vive sob a sombra de uma sentença criminal esperando para acontecer — e isso depois de torrar bilhões em verbas orçamentárias secretas na compra do engavetamento de mais de quase 150 pedidos de impeachment.

Houve tempos em que a mídia controlava as massas. Com a Internet, as massas passaram a controlar a mídia, e o idiota da aldeia, que só tinha direito à palavra no boteco, passou a ter o mesmo direito de um ganhador do Premio Nobel. 

Depois que as redes sociais deram asas à idiotice, a melhor vacina contra a desqualificação política seira a qualificação do voto. Mas isso parece cada vez mais um sonho irrealizável.


Também foi considerada conspiratória a denúncia de que a NSA plantava escutas ilegais, coletava dados de celulares e monitorava ou uso que os americanos faziam da Internet. O ataque ao World Trade Center serviu de "desculpa" para aumentar essa vigilância — a agência esgrimiu a necessidade de sacrificar algumas liberdades individuais em prol da segurança nacional —, mas uma matéria publicada pelo The Washington Post em 2014 revelou que quase 90% dos dados coletados eram de internautas sem qualquer conexão com terrorismo.

Em 1998, o U.S. Departament of State revelou que, no auge da Guerra Fria, o então Dalai Lama e a outros líderes tibetanos receberam milhões de dólares da CIA para atuar em prol do enfraquecimento do comunismo na China e na URSS, e que a agencia manteve locais secretos de treinamento militar para monges tibetanos no Colorado (USA). 

Observação: Dalai Lama é o título dado ao líder espiritual do povo tibetano e transferido de uma pessoa para outra através de um processo chamado tulku (ou "reencarnação de Avalokiteshvara"). Quando um Dalai Lama morre, Lamas sêniores buscam seu sucessor. Se uma criança testada demonstra características espirituais notáveis e/ou reconhece objetos pessoais que pertenceram ao Dalai Lama anterior, ela é submetida a um treinamento religioso (que pode durar anos) e, após ser oficialmente entronizada, assume o papel de líder espiritual e político do Tibete.
 
Em abril de 1919, enquanto negociava o Tratado de Versalhes para encerrar a Primeira Guerra Mundial, o presidente americano Woodrow Wilson contraiu gripe espanhola e sofreu um derrame que o deixou parcialmente incapaz. Como seu médico pessoal se recusou a assinar o atestado de incapacidade, o vice Thomas R. Marshall não foi promovido a titular; como o real estado de saúde do paciente foi mantido em segredo, a primeira-dama Edith Wilson se autoproclamou "guardiã" do marido e atuou como "presidente de fato" até o término de seu mandato, em março de 1921 (lembrando que a 25ª Emenda, que trata da sucessão presidencial em casos de incapacidade, só foi ratificada em 1967). 
 
Em 1993, 
a pretexto de estudar ionosfera da Terra, as Forças Armadas dos EU criaram o Projeto HAARP. Os conspirólogos alegaram tratar-se de uma arma secreta de controle do clima que seria capaz de desativar satélites inimigos, desestabilizar nações e manipular a mente das pessoas. As autoridades envolvidas no projeto refutarem qualquer propósito sinistro, mas as teorias conspiratórias persistem até hoje, havendo inclusive culpe o projeto enchentes no Rio Grande do Sul.

Capitaneado pela CIA durante a Guerra Fria, Projeto MK Ultra usou abusou de alucinógenos, hipnose, privação sensorial e outras técnicas arrepiantes para controlar a mente das pessoas, e como as cobaias apresentavam sintomas clássicos de paranoia, suas denúncias não eram levadas a sério. Nos anos 1970, porém, Church Committee descobriu mais de 200 mil documentos arquivados erroneamente, e o projeto se tornou um dos maiores exemplos de abuso de poder por parte de uma agência governamental. Segundo os teóricos da conspiração, a CIA seguiu com as experiências espúrias mesmo depois que a maracutaia veio à lume.
 
Um esquema sem título oficial, mas que teve a veracidade comprovada, causou a morte de milhares de americanos durante a Lei Seca. Devido à proibição da produção, importação e venda de bebidas alcoólicas no território norte-americano nos anos 1920/30, produtos à base de etanol usados na fabricação de materiais de limpeza eram redestilados, engarrafados e vendidos no mercado negro. Visando inibir o consumo ilegal dessa bebida, o governo passou a adicionar metanol ao etanol, mas exagerou na dose e matou mais de 10 mil pessoas.
 
Projeto Sunshine, conduzido secretamente pelos EUA nos anos 1950, visava entender os efeitos da radiação nuclear no corpo humano. As amostras de tecidos eram obtidas de cadáveres (não raro roubados de cemitérios), e os 
ossos de crianças recém-nascidas, suscetíveis aos efeitos do estrôncio-90, eram especialmente valiosos para o estudo. Em 1995, o presidente Bill Clinton desclassificou os documentos, mas o altíssimo custo moral do projeto continua ensejado discussões sobre ética em práticas científicas.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

SEGURANÇA NUNCA É DEMAIS

PRIMEIRO VÊM AS RISADAS, DEPOIS AS MENTIRAS E FINALMENTE O TIROTEIO.

Links encurtados ocupam menos espaço na tela dos smartphones e consomem menos caracteres nas postagens no Xwitter. Embora não ornem com segurança, eles se
 tornaram tão comuns que a gente clica neles sem pensar duas vezes, embora seja possível checá-los com ferramentas de verificação de links curtos, como o GetLinkInfo e o UnshortenIt. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Voltando ao debate dos prefeitáveis na TV Gazeta, Marçal deixou claro como o sol do meio-dia que seu objetivo era irritar os adversários e desviar a atenção das acusações que ele sabia que viriam. A estratégia funcionou: o momento em que ele quase levou um pescoção repercutiu bem mais que a questão das fraudes bancárias em Goiás. Na noite seguinte, aboletado no centro do Roda Viva da TV Cultura, o candidato do PRTB parecia outro, mas só até tentar ensinar a colunista d'O Globo Malu Gaspar a fazer jornalismo. 
A partir de então, o espírito zombeteiro da noite anterior tomou o centro da roda, com um entrevistado ora passivo-agressivo, ora só agressivo, que foi ficando mais arrogante enquanto fazia cortes (foram 11) para suas redes sociais, propunha soluções soluções mirabolantes para espalhar prosperidade e — pasmem! — cantava "Diário de um Detento", dos Racionais MCs, para reforçar a narrativa de "filho da periferia". De quebra, culpou os adversários pelo baixo nível dos debates e reclamou de ser "atacado de forma deselegante". Parecendo se inspirar na profecia de Nelson Rodrigues — de que "os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade" —, "Pablito" declarou que produz idiotices em série porque o eleitor, por idiota, deseja esse tipo de mercadoria, porém a inanição de sua pauta de propostas leva a crer que idiota é quem vota num sujeito como ele. 
Campanha eleitora movida a ódio não é novidade no Brasil — que o digam JânioCollor e Bolsonaro. Mas a coisa terminou mal todas as vezes que a raiva foi industrializada com propósitos políticos: o cachaceiro renunciou, o Rei-Sol foi impichado e o refugo da escória da humanidade perdeu a reeleição, foi declarado inelegível e vive sob a sombra de uma sentença criminal esperando para acontecer — e isso depois de torrar bilhões em verbas orçamentárias secretas na compra do engavetamento de mais de quase 150 pedidos de impeachment.
Houve um tempo em que a mídia controlava as massas. Com a Internet, as massas passaram a controlar a mídia, o idiota da aldeia, que só tinha direito à palavra no boteco, onde enchia a cara a se expressava sem prejudicar a coletividade, passou a ter o mesmo direito de um ganhador do Premio Nobel. Depois que as redes sociais deram asas à idiotice, a melhor vacina contra a desqualificação política seira a qualificação do voto. Mas isso parece cada vez mais um sonho irrealizável.

Caso o endereço do site não apareça ou apareça parcialmente na tela do smartphone, tocar na barra de endereços do navegador permite visualizar o URL completo e conferir a parte final (que é exibida depois do nome do domínio). As subseções invadidas do site geralmente ficam ocultas nos diretórios do serviço e contêm elementos como /wp-content//wp-admin/ ou /wp-includes/

Observação: Algo assim logo após o nome de domínio indica que o site foi comprometido (lembrando que páginas com a extensão .php são comuns, mas, combinada com o caminho de diretório, essa extensão se torna uma evidência convincente de culpa). Se o nome do site parecer suspeito, excluir o final do URL e deixar apenas o nome do domínio levará à página verdadeira, que é diferente da falsa tanto no assunto quanto no design. 
 
O ideal é verificar todos os links antes de clicar, até porque alguns ataques independem de qualquer ação da vítima (basta acessar o site infectado). No computador, posicionar o ponteiro do mouse sobre um link (sem clicar) permite conferir o URL de destino; no smartphone, deve-se manter o dedo sobre o link para para abrir um menu pop-up com diversas opções. 

Jamais clique em links recebidos por email, SMS, WhatsApp etc. para acessar sites de bancos, administradoras de cartões de crédito, lojas virtuais, órgãos públicos etc. Em sendo necessário, digite manualmente o URL na barra de endereços do navegador.

Lembre-se: Macaco velho não pula em galho seco nem mete a mão em cumbuca.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

LULA E O COELHINHO DA PÁSCOA


Não se sabe ao certo o que é o tempo ou se ele realmente existe. Mas o poeta disse que não há nada como o tempo para passar. Com o passar do tempo,
 a abjeta polarização dividiu a população brasileira ao meio  noves fora uma pequena parcela que não tem bandido de estimação, se envergonha da política fisiologista e tem nojo de políticos corruptos. Mas o que seria de esperar dessa escória que o Criador escalou para povoar o país do futuro que nunca chega, cuja descoberta foi uma fraude, a Independência, comprada, e a Proclamação da República, o primeiro de uma sequência de golpes de Estado que pensamos ter terminado com o tão sonhado fim da ditadura?
 
Em abril de 1984, uma maracutaia urdida pela alta cúpula militar sepultou a emenda Dante de Oliveira, mas a semente estava plantada e a campanha pelas Diretas Já culminou na eleição indireta de Tancredo Neves. Mas quis o destino
 (e depois dizem que Deus é brasileiro!) que o presidente eleito, tido e havido como "salvador da pátria", baixasse ao hospital horas antes da cerimônia de posse e à cova 5 semanas depois, levando consigo a esperança de milhões de brasileiros e deixando de herança um neto que envergonharia o país e um combo de oligarca maranhense, escritor, poeta e acadêmico a quem o último presidente-general se recusou a transferir a faixa presidencial (faixa a gente transfere para presidente, não para vice, e esse é um impostor).
 
Após 5 longos anos de desgoverno Sarney, nosso esclarecidíssimo eleitorado — que não votava para presidente desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960 — reafirmou sua estranha predileção pelo "quanto pior, melhor". Embora a lista de postulantes ao Planalto incluísse Ulysses Guimarães, Mário Covas e outros próceres da nossa política (quando nosso política ainda tinha próceres), a récua de muares preferiu Collor e Lula no segundo turno e liquidou a fatura elegendo o pseudocaçador de marajás.
 
Concluído o impeachment do Rei-Sol, o baianeiro namorador Itamar Franco foi promovido a titular e o sucesso do Plano Real garantiu a vitória do 
grão-duque tucano Fernando Henrique, que se reelegeu em 1998, mas não conseguir fazer seu sucessor e deu presidência de bandeja para o desempregado que deu certo e seu espúrio partido.
 
Lula renovou seu mandato em 2006 e, para provar que era "capaz de eleger até poste", emplacou a mulher sapiens em 2010. A dita-cuja fez o diabo para se reeleger em 2014, mas foi penabundada em 2016, sendo sucedida pelo vampiro que tem medo de fantasmas, que claudicou até o final do mandato-tampão e passou a faixa para um combo de mau militar e parlamentar medíocre com vocação para tiranete. E deu no que deu.
 
Com as velas enfunadas por ventos supremos, o ex-presidiário mais famoso 
da história desta banânia zarpou da carceragem da PF e aportou no Planalto pela terceira vez .Vale destacar que a coalizão que se formou em torno do dito-cujo tinha por objetivo impedir a reeleição do "mito" dos anencéfalos e consertar os estragos feitos durante sua execrável gestão. Mas pau que nasce torto nunca se endireita, e o Sun Tzu de Atibaia logo enveredou pelo perigoso terreno das afinidades ideológicas aliadas ao excesso de pretensão sobre seu real tamanho na cena externa.
 
Entre os episódios burlescos protagonizados por D. Lula III  destaca-se a postura de admirador confesso do tiranete venezuelano Nicolás Maduro. Sua majestade disse inicialmente que ouviu do amigo a promessa de um pleito "limpo e democrático" e respeito à vontade do povo, consubstanciada pelo resultado das urnas. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (que é controlado pelo Partido Socialista da Venezuela), o autocrata abjeto foi reeleito com 51,21% dos votos, mas a líder da oposição Maria Corina Machado diz ter provas de que Edmundo González Urrutia venceu por uma ampla vantagem. 
 
Para os observadores internacionais e a maioria dos governos — com exceção de Cuba Rússia, China, Nicarágua, Irã e outros regimes igualmente autoritários —, os dados oficiais são fraudulentos; segundo a Associated PressMaduro perdeu por uma diferença de quase meio milhão de votos. Para surpresa de ninguém, o paradeiro das atas eleitorais que o autoproclamado vencedor prometeu exibir continua incerto e não sabido, até porque seu conteúdo comprovaria o autogolpe. 
 
Num primeiro momento, Lula compactuou com a postura abjeta de seu partido, que reconheceu prontamente a vitória do caudilho venezuelano, mas mudou de ideia depois que Centro Carter afirmou que as atas eleitorais coletadas pela oposição eram "consistentes", e que González venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível". Todavia, ao
 insistir que democracia é um conceito relativo, que a Venezuela não é uma ditadura, mas vive um 'regime desagradável", o petista escancara sua incapacidade de encaixar as palavras "Maduro" e "podre" numa mesma frase e deixa claro que sua abjeta ideológica o impede de se render à realidade, o que é inadmissível para um líder regional. 

Ecoando o ex-chanceler Celso Amorim, seu aspone especial para assuntos internacionais, Lula propôs a realização de um inexequível segundo turno das eleições no país vizinho (proposta essa que foi prontamente rechaçada por Corina, Urrutia e seus apoiadores). Aplicando-se os mesmos conceitos à conjuntura tupiniquim, Bolsonaro seria ligeiramente antidemocrático, o golpe falhado seria aceitável e o petismo aceitaria graciosamente o VAR de uma segunda eleição. 

Lula recebeu Maduro numa cúpula de países sul-americanos e tratou-o com deferência especial. Como anfitrião, foi criticado por seus pares, mas deu de ombros e seguiu na toada de condescendências em série, culminando na situação atual em que o Brasil, de líder, passou a voz praticamente isolada ao se recusar a reconhecer com clareza a fraude eleitoral deflagrada no final do mês passado. Além de desrespeitar o eleitor que votou nele acorrentado ao fator democrático, o pseudo grande estadista desrespeita a si mesmo.
 
Maduro já exibiu sua boca de jacaré, seus dentes de jacaré, seu couro de jacaré e seu rabo de jacaré, mas Lula continua achando que ele é o coelhinho da Páscoa. Num instante em que metade dos brasileiros ainda respira aliviada por ter conseguido se livrar de um candidato a déspota, Lula deveria parar de disputar a liderança da oposição com o "o coisa", sob pena de consolidar a crise venezuelana num processo de erosão da sua própria popularidade.