A "boa notícia" é que o preço baixou para 1/3 do valor praticado no lançamento, e a "má"é que não há informações de que os modelos da marca tenham sido homologada pela Anatel, o que é essencial para garantir que funcionem corretamente nas redes brasileiras e atendam aos padrões de qualidade e segurança exigidos. Assim, só é possível comprá-los de importadores independentes ou recorrer ao site da fabricante.
UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
O SMARTPHONE DA LIBERDADE
A "boa notícia" é que o preço baixou para 1/3 do valor praticado no lançamento, e a "má"é que não há informações de que os modelos da marca tenham sido homologada pela Anatel, o que é essencial para garantir que funcionem corretamente nas redes brasileiras e atendam aos padrões de qualidade e segurança exigidos. Assim, só é possível comprá-los de importadores independentes ou recorrer ao site da fabricante.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
A SAGA DOS VICES
O Barão de Itararé ensinou que político brazuca é um sujeito que vive às claras, aproveita as gemas não despreza as cascas. Isso é prova provada de que o impossível é apenas uma palavra que contém o possível dentro de si. Em 2018, Bolsonaro, então candidato pelo PSL, queria compor uma chapa com Magno Malta, do PL, mas Valdemar Costa Neto preferiu entregar seu tempo de TV à coligação de Alckmin. Exagerando na teatralidade, o chefe do clã das rachadinhas agradeceu o adversário por "ter unido a escória da política brasileira."
Se nada mudou e Lula não mudou nada, ou Alckmin é favor do chefe, ou é contra ele. Não dá para ficar em cima do muro. E da feita que ninguém se candidata a vice para fazer oposição ao titular, então deve ser a favor.
Lula e o PT nunca aceitaram — e jamais aceitarão — o "equilíbrio" com que sonham os analistas políticos. Podem até dar uns empreguinhos e outras esmolas a Alckmin e a seus acólitos, desde que o número 2 não mije fora do penico. Basta uma vista d'olhos na agenda oficial da vice-presidência para perceber que há pouco (ou quase nada) de empolgante no front. E tem sido assim desde a posse, mesmo durante as muitas viagens internacionais do titular.
Sobre as três semanas de convalescença de Lula em outubro, Alckmin perorou: "Não há necessidade de o presidente se afastar do cargo porque vai ser um período curto, praticamente um final de semana, e depois ele despacha do Palácio do Alvorada. Na minha opinião, ele deve continuar, não há necessidade de nenhum afastamento do cargo".
Quando alguém está no buraco e o Universo lhe joga uma corta, esse alguém pode usá-la para sair do buraco ou para se enforcar. Aparentemente, Alckmin concluiu que se aliar ao antigo desafeto era a única maneira de ocupar, ainda que em caráter eventual, a tão cobiçada poltrona presidencial. Claro que sempre existe a possibilidade de Lula ser apeado do cargo ou bater as botas durante o mandato, mas isso é outra conversa.
Num balé em que sujos se misturam a mal-lavados, quem olha de longe fica com dificuldade para distinguir quem é quem. Prevalece a impressão de que em política nada se cria, nada se transforma, tudo se corrompe. A história ensina que é preciso prestar muita atenção na figura do vice. A primeira lição remonta ao século 19, quando Floriano Peixoto, vice de Deodoro da Fonseca, assumiu a Presidência depois que o titular foi "convidado a renunciar". Outros sete casos envolveram Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart, José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer.
Escolhido por Lula para disputar a vice-presidência na chapa de Dilma em 2010 e 2014, Michel Temer deu mais "peso" à candidatura do poste, mas se tornou o mentor intelectual e principal articulador do impeachment de madame. José Alencar, "eleito" vice-presidente em 2002 e 2006, foi um dos principais avalistas avalistas do petista junto à classe empresarial, mas não chegou a assumir a Presidência. O general Hamilton Mourão jamais conspirou contra Bolsonaro, embora não lhe faltassem motivos.
Não fossem os vices, haveria outros sucessores e outras formas de sucessão. E aqui chegamos a um ponto de relevância para um debate sobre a real necessidade dessa figura arcaica e anacrônica. Para o reserva é ótimo: rende palácio à beira do lago, mordomias e, em caso de infortúnio do titular, até a Presidência. Mas para o país inexiste demonstração de que essa peça não passa de mera decoração até virar um foco de conspiração.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023
AINDA SOBRE TRAGÉDIAS E FARSAS...
Visando manter aquecida a poltrona presidencial até poder voltar a ocupá-la, Lula criou um "poste" e o vendeu como "gerentona eficiente". Mas a cria se revelou um conto do vigário no qual próprio criador caiu. Entre 2013 e 2016, a economia brasileira encolheu 6,8% e o desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de pessoas. Se Lula passou à história como presidente que fez a sucessora, Dilma se imortalizou como a criatura que desfez a obra do criador.
Dilma foi um arremedo de guerrilheira que jamais disparou um tiro — a não ser no próprio pé, ao se reeleger, devido ao tamanho da encrenca que herdou de si mesma. Jamais foi política e tampouco demonstrou vocação para gerir o que quer que fosse. Não obstante, com Dirceu e outras estrelas do alto escalão petista no xadrez e sem peito para levar adiante o "golpe via emenda constitucional" que lhe garantiria um terceiro mandato, Lula achou que ela seria mais fácil de manipular do que Marina Silva e, por “não ser política”, não se apegaria ao cargo. Só que a cria tomou gosto pelo poder e "fez o diabo" para se reeleger, azedando suas relações com o criador.
Dilma foi um Pacheco de terninho que, sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, posou de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil em outubro daquele ano e renovou o mandato quatro anos depois. Lula chegou a dizer — em off, naturalmente — que ele próprio foi a maior vítima de Dilma. Sua escolha feriu de morte a relação com Marina, que abandonou o governo em 2008 e o PT em 2009, e disputou a presidência pelo PV em 2010 — quando ficou em 3° lugar, com 19% dos votos válidos.
Dilma tinha o apoio de Lula e de marqueteiros de primeiríssimo time, como João Santana e sua mulher, Mônica Moura — ambos foram presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 31,4 milhões. Com as velas enfunadas por recursos milionários (oriundos, em grande parte, do propinoduto da Petrobras), o "poste" derrotou Marina no primeiro turno e venceu José Serra no segundo (por 46,91% a 32,61% dos votos válidos). Marina votou a disputar o Planalto em 2014 — primeiro como vice na chapa de Eduardo Campos, e depois como titular, já que o cabeça da chapa morreu num acidente aéreo a dois meses do primeiro turno.
Mesmo tendo obtido 2 milhões de votos a mais que em 2010, Marina não conseguiu superar Aécio, que perdeu para Dilma no segundo turno por uma diferença de 3.459.963 votos válidos. Assim, superando a si mesma em incompetência, a cria de Lula pariu a maior crise econômica da história deste país e acabou penabundada do Planalto presidência em 31 de agosto de 2016. Graças a uma vergonhosa maracutaia urdida pelos então presidentes do Congresso e do STF, a gerentona de festim não teve os direitos políticos cassados por 8 anos, ao arrepio da Constituição e da Lei do Impeachment.
Menos de 24 horas após ser notificada de sua deposição, a eterna estocadora de vento conseguiu se aposentar com o estipêndio mensal de R$ 5.189,82 ("teto" pago pelo INSS naquela época), embora o tempo de espera para conseguir atendimento na agência do INSS onde ela fez o pedido fosse de 115 dias. Uma sindicância aberta pelo Ministério do Desenvolvimento Social concluiu que a ex-chefa não só se valeu da influência de servidores de carreira do INSS para agilizar sua aposentaria como conseguiu o benefício sem apresentar toda a documentação necessária.
Segundo a revista VEJA, no dia seguinte ao julgamento do impeachment o então ministro da Previdência Carlos Gagas e uma secretária pessoal de Dilma entraram pela porta dos fundos do posto do INSS, foram atendidos pelo chefe do local e em menos de 10 minutos o processo foi aberto no sistema e concluído de forma sigilosa. De acordo com a sindicância, Gabas usou sua influência no INSS para agilizar a concessão do benefício, e a servidora Fernanda Doerl calculou o tempo de serviço com base em informações fornecidas verbalmente, sem comprovação documental.
Resumo da ópera: Num país onde o desemprego é preocupante (para dizer o mínimo) e o salário-mínimo é de R$ 1.212,00 — quando deveria ser de R$ 6.641,58 segundo o DIEESE — o salário que a pior presidente da história desta bodega (noves fora o assassino de emas) dever receber é mais uma cusparada na cara do contribuinte brasileiro.
Triste Brasil.
sexta-feira, 30 de setembro de 2022
ELEIÇÕES NO PAÍS DA CLEPTOCRACIA DE FATO E DE DIREITO
Sempre que é questionado sobre os crimes contra a administração pública cometidos por ele e seus apaniguados, Lula sai pela tangente. Promovido de presidiário a ex-corrupto por uma sucessão de maracutaias jurídicas, alega que "a corrupção está presente qualquer governo", que a Lava-Jato a transformou "numa questão política para retirá-lo da vida pública", e que foi absolvido em 26 processos "pelo STF e pela ONU, na primeira e segunda instâncias". Balela.
Em 2010, Lula classificou a crise política de "tentativa de golpe". Depois que deixou o cargo, usou a vitória de Dilma para apregoar que o PT no poder era o remédio para todos os males. Em 2014, apoiou (a contragosto) a reeleição da pupila. Em 2018, em entrevista publicada no livro "A Verdade Vencerá", foi mais além: "Na verdade, nunca acreditei na história do mensalão. Essa foi a grande descoberta do século 21: de como a mídia poderia ser utilizada para criminalizar as pessoas antes da Justiça. A mídia tomou a decisão de, ao invés de esperar a Justiça criminalizar, transformar alguns líderes do PT em bandidos".
(*) Modesto Carvalhosa é advogado e autor de Uma nova constituição para o Brasil: de um país de privilégios para uma nação de oportunidades (LMV).
domingo, 14 de agosto de 2022
ERA UMA VEZ, NO PAÍS DAS MARAVILHAS...
Por ter exercido apenas cargos de gestão até 2010, Dilma adquiriu o hábito de mandar. No Planalto, incorporou novas "virtudes", como a soberba, a arrogância e a agressividade. Impaciente, queria tudo “para ontem”. Ignorante, posava de onisciente. Contrariada, atirava objetos nas pessoas — grampeadores eram repostos regularmente em seu gabinete.
As folclóricas "pedaladas fiscais" foram apenas a justificativa mais à mão para o pé na bunda. A estrupícia foi defenestrada por não ter jogo de cintura no trato com o Congresso. Mas seu vice, que foi o grande mentor e o maior beneficiário do impeachment, tinha traquejo político de sobra.
Caçula temporão de oito irmãos, Michel Miguel Elias Temer Lulia graduou-se em Direito pela USP em 1963 e ingressou na política no ano seguinte, mas só se filiou ao PMDB (hoje MDB), em 1981. Depois de ocupar os cargos de procurador-geral do Estado e secretário de Segurança Pública de São Paulo, o futuro vampiro do Jaburu foi deputado federal por seis mandatos e presidente do PMDB por mais de 15 anos. Em 2009, Temer foi o primeiro colocado entre os parlamentares mais influentes do Congresso. No ano seguinte, aceitou o convite de Lula para disputar a vice-presidência na chapa encabeçada por Dilma.
No final de 2015, o nosferatu enviou à "chefa" uma carta (que ele próprio se encarregou de vazar para a imprensa) reclamando de ser um "vice decorativo" e dizendo que sempre teve ciência da desconfiança de Dilma e do PT em relação a ele e ao PMDB. Em resposta, a mandatária afirmou que “não via motivos para desconfiar um milímetro de seu vice, que sempre teve um comportamento bastante correto”, mas logo percebeu que estava enganada.
Assim que a Câmara votou a admissibilidade do impeachment, Temer vazou um arquivo de áudio em que ele falava como se estivesse prestes a assumir o governo. No dia seguinte, Dilma esbravejou que "havia um golpe em curso, e que tinha chefe e vice-chefe" (referindo-se a Temer e a Eduardo Cunha, então presidente da Câmara).
Madame foi afastada no dia 11 de maio e penabundada em 31 de agosto, quando então o "golpista" passou de presidente interino a titular. Os puxa-sacos de plantão convenceram-no a trocar o Jaburu pelo Alvorada, argumentando que "a mudança atribuiria legitimidade a seu mandato". E assim foi feito. Mas Temer voltou ao Jaburu depois de pouco mais de duas semanas; segundo ele próprio afirmou a VEJA, o Alvorada é assombrado.
Como se vê, o Brasil é um país tão surreal que até vampiro tem medo de fantasma.
Inicialmente, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba. Depois de mais de 13 anos ouvindo garranchos verbais de um semianalfabeto e frases desconexas de uma destrambelhada, ter um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises foi um refrigério. Para além disso, Temer conseguiu reduzir a inflação, baixar a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista. Mas seu ministério de notáveis se revelou uma notável agremiação de corruptos.
Em pouco mais de um mês de governo, caíram os ministros do Planejamento, da Transparência e do Turismo. O primeiro, Romero Jucá — que defendeu um pacto para “estancar a sangria” produzida pela Lava-Jato —, ganhou do presidente uma secretaria criada especialmente para evitar que ele perdesse o foro privilegiado. Na sequência, caíram o Advogado-Geral da União e os ministros da Cultura e da Casa Civil (foi num apartamento deste último que a PF apreendeu R$ 51 milhões em dinheiro vivo, armazenados em malas e caixas de papelão). Temer se empenhou em preservar Eliseu Padilha e Moreira Franco, que, nas palavras de Joesley Batista, ajudavam o presidente a comandar “a quadrilha mais perigosa do Brasil”.
Temer almejava entrar para a história como “o cara que recolocou o Brasil nos eixos”. O sonho durou pouco. Depois que sua conversa de alcova com Joesley Batista foi revelada por Lauro Jardim, o presidente passou a ser lembrado pela célebre frase “tem de manter isso, viu”. O então procurador-geral Rodrigo Janot (outra aberração da natureza) ofereceu duas denúncias contra ele, que não se deu por achado: com a ajuda de sua tropa de choque (capitaneada Carlos Marun, o ridículo), montou sua tenda de mascate libanês na porta da Câmara e passou a oferecer cargos e verbas em troca dos votos das marafonas parlamentares.
Observação: Nada muito diferente do que Lula tentou fazer durante o impeachment de sua deplorável sucessora. Mas o petralha malhou em ferro frio, e Temer conseguiu que a maioria do lupanar entoasse a marcha fúnebre enquanto as denúncias de Janot eram sepultadas.
Corta para julho de 2022: Um petista habituado às negociações e articulações políticas afirmou em off que o ex-presidente estava propenso a trabalhar por uma aliança em torno de Lula ainda no primeiro turno, em detrimento da candidatura da senadora emedebista Simone Tebet. Como contrapartida, o vampiro pediu que o PT deixasse de se referir a ele como “golpista”.
Apesar de ser um exímio estrategista, Temer não só deu com os burros n'água como provocou a ira de Dilma, a irascível, ao destacar durante uma entrevista que madame era “honestíssima”. “Não use minha honestidade para aliviar sua traição”, reagiu a estocadora de vento, exsudando ressentimento.
Embora pudesse render bons frutos eleitorais, a aliança era considerada improvável. Querer que o PT deixe de tratar o impeachment como um golpe seria exigir demais da patuleia.
Continua...
segunda-feira, 22 de novembro de 2021
DIVIDIR PARA NÃO CONQUISTAR
"Dividir para conquistar" é uma estratégia (utilizada por Júlio César, Felipe da Macedônia e Napoleão Bonaparte, entre outros) que consiste em fragmentar as forças inimigas para então derrotá-las. No Brasil contemporâneo, esse precioso ensinamento vem sendo desprezado pela assim chamada "terceira via", que parece incapaz (pelo menos até o presente momento) de se unir em torno de um nome que possa despachar para o quinto dos infernos as ambições da desprezível parelha Lula/Bolsonaro.
O PSDB ficou de ir "às urnas" neste domingo
(o fato de eu ter escrito esta postagem na manhã ontem explica o tempo verbal)
para decidir se será João Doria, Eduardo Leite ou Arthur
Virgílio o tucano que pegará em lanças para derrotar a execrável dupla
retromencionada. Para piorar, nada garante que os derrotados apoiarão o
vencedor, e um racha no partido dificultará ainda mais a missão do emplumado
que vencer disputa interna.
Os govenadores de SP e do RS se digladiaram numa campanha
acirrada e com alguns ensaios de golpes abaixo da cintura, ao passo que o
ex-senador, ex-prefeito de Manaus figurou como azarão — só o ego inflado e o
fato de ser um dos caciques da sigla explicam sua participação na disputa. Com
orçamento estimado em quase R$ 5 milhões — financiado pelo partido com recursos
do Fundo Partidário (dinheiro público, em última análise) — essas avis rara
percorreram todos os Estados em busca de apoio dos eleitores (pessoas que se
filiaram ao PSDB até maio deste ano e se cadastraram para a votação até
o último dia 15). Doria e Leite recorreram também a disparos em
massa de mensagens.
ATUALIZAÇÃO: Problemas de instabilidade no aplicativo levaram o PSDB a suspender a votação eletrônica. Ainda não foi definida uma nova data para reabertura do processo para que todos os filiados que não puderam votar no pleito de ontem possam fazê-lo oportunamente. Para o grupo de Doria, o ideal seria abandonar de vez o aplicativo e ampliar o uso das urnas eletrônicas (cedidas pela Justiça Eleitoral e instaladas em Brasília, neste domingo, para as demais capitais e cidades com, no mínimo, 200 mil habitantes. Aliados de Leite, por sua vez, pregam usar cédulas de papel. Como se vê, tomar decisões é um grave problema para o tucanato. Sempre que houver mais de um banheiro no imóvel, tucano que é tucano mija no corredor!
E inegável que a disputa interna exacerbe as divergências
pré-existentes na sigla, mas espera-se que os postulantes preteridos ponham de
lado suas diferenças e apoiem o vencedor em prol do objetivo em comum, que é derrotar
o verdugo do Planalto ou o pontífice da seita do inferno. Comenta-se à boca
pequena que Leite e Virgílio são mais maleáveis do que Doria, que não abrirá
mão de disputar a Presidência.
Oficialmente, o circo eleitoral começa em 16 de agosto do
ano que vem, dez dias antes do purgativo "horário político gratuito"
no rádio e na tv — gratuito no nome, pois quem
paga a fatura desse anacronismo somos nós. Bolsonaro e Lula
estão em campanha desde sempre. O capetão-cloroquina — que prometeu acabar
com o instituto da reeleição e afirmou que não nasceu para ser presidente, mas,
sim, para ser militar — fez da reeleição seu projeto de governo (ou de
poder, melhor dizendo; governar que é bom, néris de pitibiriba). Já o
ex-presidiário de Curitiba pulou do xilindró para o palanque, na certeza de que
a suprema banda podre lavaria sua ficha imunda e transformá-lo-ia em
"ex-corrupto", permitindo-lhe dispensar o bonifrate em 2022.
Não se sabe ao certo quantos serão os candidatos à
Presidência no ano que vem, mas sabe-se que o único sem partido é o atual
inquilino do Planalto. Nossa legislação eleitoral veda candidaturas avulsas,
mas não faltam siglas para todos os gostos (são 33 partidos
registrados no TSE e mais de 70 em "fase de formação").
Devido a de$entendimento$ com o laranjal de Luciano Bivar, Bolsonaro deixou o
PSL em novembro de 2019 e vem buscando desde então um
partido para chamar de seu. Depois que o "Aliança pelo Brasil"
foi
para a cucuia, o capitão passou a buscar uma quadrilha, digo, uma
agremiação que o aceite e lhe dê a chave do cofre. O senador Flávio Rachadinha, príncipe herdeiro do sultão do bananistão, e que já passou pelo PP (duas vezes), PFL, PSC,
PSL e Republicanos, migrou
para o Patriota em maio com o objetivo de organizar a mudança do papai — que
acabou não
acontecendo.
Bolsonaro já arrastou a asa para o PP do
senador Ciro Nogueira e do deputado-réu Arthur Lira e flertou com
o Republicanos, sempre com Valdemar Costa Neto, babalorixá do PL,
atuando nos bastidores. Ao final, o charme do mensaleiro e ex-presidiário conquistou
seu coração, mas a troca de gentilizas ocorrida durante o feriadão da
proclamação da República — com direito a "vá pra
puta que pariu" e "vá tomar no cu, você e seus filhos"
(gente fina é outra coisa) — resultou na suspensão do enlace.
Tudo indica que o casamento ocorrerá de um jeito ou de outro.
Segundo o Messias que não miracula, suas
chances de ingressar no PL eram de 99,9%. Trata-se não de uma paixão
avassaladora, mas de simples pragmatismo: o noivo precisa formalizar a união
para "governar" até 2022 e, eventualmente, evitar a cadeia, e
portanto deve engolir o
xingamento e aceitar as puladas de cerca de Valdemar com Lula — desde
que, para manter as aparências, seu consorte evite
traí-lo em público.
O affair de Bolsonaro com o Centrão soa
como uma velha canção aos nosso ouvidos. Desde que foi expelido do quartel, em
1987, o capitão insurreto perambulou por oito legendas, todas de aluguel. Meses
atrás, deu a chave do reino ao senador pepista Ciro Nogueira — que foi
nomeado ministro-chefe da Casa Civil — e colocou o próprio destino nas mãos do também
pepista deputado Artur Lira — o réu que preside a Câmara e mantém
trancados a sete chaves cerca de 140 pedidos de impeachment. Assim, a intenção
de se amancebar com a agremiação do mensaleiro
e ex-presidiário Costa Neto — um dos expoentes do Centrão,
com atuação fisiológica ao longo de vários governos — não causa estranheza;
pelo contrário: sua alteza irreal deve se sentir em casa entre as marafonas do PL.
Com a terceira maior bancada da Câmara, o partido do
ex-desafeto (a quem Bolsonaro chamou de corrupto e presidiário durante a
campanha de 2018) abocanha fatias consideráveis de fundo eleitoral e tempo de
TV, bem como tem razoável capilaridade: em 2020, elegeu 345 prefeitos, ficando
em 6° lugar no ranking das legendas que mais elegeram representantes nas
prefeituras. Assim, tudo leva a crer que o adiamento
do “casamento” não passou de mero acidente de percurso.
Na última quarta-feira, Costa Neto "recebeu
carta branca" de seus cupinchas para negociar a devolução do anel
de noivado ao dedo do nubente. O problema (ou um dos problemas) é que o
ingresso do capetão no partido impedirá (ou pelo menos dificultará) que
lideranças do PL apoiem adversários do governo nas próximas eleições, e
alguns caciques da sigla são unha-e-carne com Lula e administrações
petistas no nordeste.
A récua de muares descerebrados que por alguma razão ainda
levam fé na lisura do "mito" podem achar constrangedor ver seu amado
líder dividindo espaço na legenda com notórios investigados e suspeitos de
envolvimento em escândalos — como o próprio cacique da tribo, que foi condenado
e preso no mensalão. Mas Bolsonaro sempre foi adepto das práticas da
baixa política e amigo de milicianos. E ainda que assim não fosse, o que é um
peido para quem está cagado? Noves fora os inquéritos a que o mandatário de
fancaria responde (e que já o teriam apeado do cargo se esta banânia fosse um
país sério), quatro de seus cinco filhos (a exceção é a caçula, que tem apenas
11 anos) são
alvo de investigações.
A filiação ao PL não será um seguro contra traições,
já que o partido sempre se notabilizou pela atuação fisiológica no Congresso e por
gravitar no entorno de quem tem mais chances de vencer eleições. Suas
carpideiras acompanham o caixão até a beira da cova, mas não pulam dentro dela
junto com o defunto. Se Costa Netto resolver não lançar candidato
próprio à Presidência no ano que vem, e essa decisão for tomada a partir de
abril, quando o prazo de filiação partidária já tiver expirado, o verdugo do
Planalto estará fora do pleito.
Receber Bolsonaro interessa ao mensaleiro porque anaboliza
as chances do partido de aumentar a bancada no Congresso — que conta atualmente
com 43 deputados e 4 senadores. O tamanho da bancada na Câmara é determinante
na distribuição dos recursos dos fundos eleitoral e partidário, e se a
escumalha que segue o capetão acompanhá-lo na mudança de sigla, Costa Neto
será o morubixaba de uma das maiores tribos da nação tupiniquim. Mas é bom
lembrar que, se Bolsonaro for derrotado nas urnas — possibilidade que se
torna mais provável a cada dia —, o poder de negociação do partido com o futuro
inquilino do Planalto ficará fragilizado.
Eleições presidenciais no Brasil costumam guardar
semelhanças com os pleitos anteriores, mas, paradoxalmente, são as diferenças
que acabam pautando os resultados. Para além disso, o imprevisto sempre pode
ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. Cito como exemplo a facada
que o então candidato do PSL à Presidência levou em Juiz de Fora,
a um mês do primeiro turno do pleito de 2018. Não fosse esse lamentável
incidente, Bolsonaro não teria escapado de ser feito picadinho pela
grandiloquência de Ciro Gomes nos debates televisivos (pode-se
simpatizar ou não com o cearense de Pindamonhangaba, mas jamais menosprezar sua
oratória.
Segundo o cientista político Murillo de Aragão, desde
a volta das eleições diretas que algum grande tema vem prevalecendo, ora vindo
do establishment político, ora como uma surpresa. Collor e Bolsonaro,
ainda que solidamente incrustados no sistema, surgiram como surpresas para o
eleitorado. FHC se viabilizou com o sucesso do Plano Real e foi
eleito em 1994 e 1998, ambas as vezes no primeiro turno, graças ao poder que
conquistou com o desempenho econômico e a fragilidade da narrativa de Lula,
então seu maior adversário.
Em 2002, o picareta dos picaretas se firmou como “surpresa”,
mesmo tendo mais de vinte anos de vida pública, e se elegeu na esteira dos
equívocos dos barões do Tucanistão e de sua maneira desgastada de fazer
política. A era lulopetista se estendeu por mais de 13 anos graças a uma
combinação de fatores — entre os quais o desempenho econômico, que então
avançava por águas mansas, com as velas enfunadas pelos ventos benfazejos
soporados do exterior — que dificilmente se repetirá no médio prazo.
O capital político acumulado pelo petralha lhe assegurou a
reeleição em 2006, a despeito do mensalão, e a eleição de sua nefasta sucessora
em 2010 e 2014, a despeito da notável incompetência da desinfeliz. Mas então Bolsonaro
surgiu do nada, como um rebento bastardo da Lava-Jato e da "descorrupção"
que a força-tarefa de Curitiba produziu no establishment político. E a adesão
do juiz Sergio Moro à campanha fez com que uma parcela considerável dos
brasileiros apoiasse o "mito" — que, como não tardariam a descobrir, tinha
pés de barro, calcanhares de vidro e culpa no cartório.
A incompatibilidade chapada entre bolsonarismo e o
lavajatismo favorece o ex-presidiário convertido a "ex-corrupto", mas
diz um velho ditado que toda araruta tem seu dia de mingau. As denúncias
de corrupção endêmica que marcaram as gestões petistas certamente voltarão à
baila durante a campanha, e poderão atrapalhar os planos do demiurgo
eneadáctilo.
Como dito, todos os pleitos presidenciais desde a redemocratização
foram abrilhantados por algum evento inesperado, que acabou afetando as
campanhas. A pergunta que se coloca é: o que nos reserva a próxima eleição? The answer, my friend, is blowing in the
wind. Mas isso não nos impede de fazer algumas conjecturas.
Até onde a vista alcança, o que se vislumbra é um
"trisal" formado pela conjuntura econômica, pela pandemia e pelos
índices de rejeição (repulsa?) aos dois primeiros colocados nas pesquisas de
intenção de voto, mas a questão do combate à corrução poderá ser relevante para
certos setores do eleitorado, podendo converter esse trisal num "ménage
a quatre".
A economia estará atrelada ao consumo, renda, retomada das
atividades e comportamento da inflação; a pandemia terá seu papel reforçado
pelos "equívocos" do governo e o espantoso número cadáveres —
potencializado pelo negacionismo de um mandatário psicopata.
Um cálculo mostra que, para cada vítima do vírus maldito
(falo do SARS-CoV-2, não do negacionista), pelo menos 100 pessoas são
afetadas emocionalmente, o que perfaz mais de 60 milhões de eleitores passíveis
de ser influenciados por essa tragédia na hora de votar, ainda que a vacinação
continue avançando e o número de mortes diminuindo.
A julgar pelas pesquisas, a substantiva rejeição reduziria a
pó as chances de o atual inquilino do Planalto ter o contrato renovado, mas há
que levar em conta que no Brasil até o passado é incerto. Por enquanto, o sumo
pontífice da seita do inferno é beneficiado pelo recall positivo, mas, quando a
campanha esquentar, todos os equívocos e as denúncias que marcaram as gestões
do PT aflorarão como a merda que transborda de uma privada entupida
quando um incauto aciona a descarga.
Ao fim e ao cabo, os três temas poderão servir de ponte para
que um candidato alternativo transite com sucesso em meio à polarização, sobretudo
se ele trouxer uma boa abordagem para o quarto tópico: o combate à corrupção. O
que nos leva a Sergio Moro, cuja pré-candidatura já foi objeto de
postagens recentes e voltará a sê-lo em meus próximos textos, já que este se
estendeu mais do que eu pretendia.