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domingo, 28 de julho de 2024

O QUE É DE GOSTO REGALA A VIDA (PARTE IV)

SE TIVER DE FAZER SEJA O QUE FOR, PROCURE FAZER BEM FEITO.
 
 
Seguem mais três receitas à base de filé-mignon, começando pelo Filé a Moraes, criado por Salvador Domingos Vidal quando era dono de um boteco na região central da capital paulista. 

Observação: Como a casa funcionava 24/7 horas por dia, a limpeza era feita com os clientes sendo atendidos, o que levou os frequentadores a apelidarem o prato de "bife sujo". Em 1929, Vidal entrou de sócio do Bar, Café e Confeitaria Moraes (na Praça Júlio Mesquita, também no centro de Sampa), e aproveitou a chapa aquecida à lenha para aprimorar sua famosa receita. 
 
Trata-se basicamente de um tornedor de filé-mignon grelhado por 3 minutos de cada lado (de modo a ficar tostado por fora e rosado por dentro), ao alho e óleo e acompanhado de batatas fritas e salada de agrião. Há quem diga que o nome se deveu ao chapeiro, a quem os fregueses (entre os quais Monteiro Lobato) pediam: "salta um filé, Moraes", e que Adoniran Barbosa compôs Trem das Onze enquanto tomava um chope numa mesa da bodega. 
 
Na década de 1960, o estabelecimento passou a se chamar "Restaurante Moraes - O Rei do Filé", e nos anos 1980, durante o nefasto "plano cruzado", suspendeu as atividades devido ao tabelamento de preços e da consequente falta de carne. Mais adiante, porém, o restaurante passou a funcionar em dois endereços (na Praça Júlio Mesquita e na Alameda Santos), mas os proprietários não eram parentes dos fundadores. 
 
Para um prato capaz de empanturrar dois bons garfos, você vai precisar de 500g de filé-mignon cortado grosso (tornedor), 8 dentes de alho; óleo para fritar e sal e pimenta-do-reino branca para temperar. O preparo é simples:

Amoleça os dentes de alho em água fervente por 1 ou 2 minutos, descasque, corte ao meio, doure em óleo bem quente, escorra e reserve. Numa panela ou frigideira de fundo grosso bem quente, grelhe o bife por 3 minutos de cada lado (se preferir o bife bem-passado — o que eu acho uma heresia —, coloque-o forno pré-aquecido a 180 ºC por 2 minutos). Tempere com sal e pimenta, espalhe por cima o alho e um pouco do óleo da fritura e sirva com salada de agrião (ou agrião refogado no alho e óleo) e batatas fritas (também fica bom com farofa e/ou arroz branco, mas 
 
Para a segunda receita — strogonoff de filé — você vai precisar de:
  
— ½ kg de filé mignon picado em cubinhos de mais ou menos 1 cm;
— 2 colheres (sopa) de óleo de soja;
— 1 cebola média picada;
— 1 colher (chá) de sal;
— 2 colheres (chá) de pimenta do reino moída na hora;
— 150g de cogumelos cortados em fatias;
— 1 ½ colher (sopa) de molho inglês;
— ½ xícara de polpa de tomate;
— 1 colher (sopa) de ketchup;
—1 colher (sopa) de mostarda;
— 200 ml de creme de leite;
— 1 dose de conhaque (para flambar).
 
Aqueça o óleo numa frigideira grande, refogue a cebola, acrescente a carne e frite em fogo alto (mexendo para não soltar água), tempere com o sal e a pimenta e junte os cogumelos. Aumente o fogo, despeje o conhaque e incline ligeiramente a frigideira para que a chama do queimador entre em contato com o molho e flambe a carne.
Quando o fogo apagar, acrescente o molho inglês, a polpa de tomate, a mostarda e o ketchup, espere levantar fervura, junte o creme de leite, desligue o fogo e sirva em seguida, com arroz branco e batata “palha”.
 
Observação: A receita serve dois “bons garfos” ou três comensais moderados. Para mais pessoas, ajuste apropriadamente os ingredientes, mas não exagere, porque guardar as sobras e requentar no dia seguinte não é uma boa ideia. Para economizar alguns trocados, você pode usar patinho, alcatra ou outro corte magro. E se você não aprecia cogumelos (como é o meu caso), substitua-os por palmito picado ou azeitonas fatiadas.
 
Por último, mas nem por isso menos saboroso, medalhões de filé ao alho e molho de gorgonzola. Veja como preparar:

Corte o filé em medalhões (mais detalhes na postagem do último dia 7), tempere com sal e pimenta-do-reino, fure os cubos de carne e reserve. Coloque 20 dentes de alho graúdos numa assadeira, regue com azeite extravirgem, tempere com sal e pimenta-do-reino e leve ao forno (pré-aquecido a 180ºC) . Passados 20 minutos, retire do forno e introduza os dentes de alho nos furos, frite os medalhões em 2 colheres (sopa) de manteiga e 3 de azeite de oliva (acerte o ponto do sal e da pimenta se necessário), transfira para uma travessa e reserve.

Na mesma panela, aqueça mais 3 colheres (sopa) de azeite e 1 de manteiga, refogue uma cebola picadinha com o que sobrou dos dentes de alho assados e amassados e ½ xícara (chá) de cebolinha picada. 

Refogue 300g de cogumelos shitake, adicione ½ litro de creme de leite fresco e 150g de queijo gorgonzola. Misture bem até obter um creme homogêneo, junte a carne, misture novamente e sirva com arroz branco ou outro acompanhamento de sua preferência.
 
Dica: Não gosta de cogumelos? Substitua as "casa de sapo" por palmito picado ou azeitonas cortadas ao meio.
 
Bom apetite.

terça-feira, 2 de abril de 2024

60º ANIVERSÁRIO DO GOLPE DE `64

 

O golpe de Estado que prefaciou a ditadura militar — aquela que Bolsonaro sempre negou, mas tentou ressuscitar em 2022, e que seu vice classificou de "ditamole" — completou 60 anos no último domingo. O senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República em 1º de abril de 1964, mas episódio entrou para a História com data anterior para evitar associações jocosas com o "dia da mentira". 

Resumindo a ópera em poucas palavras, a renúncia de Jânio e a aversão dos militares a Jango pavimentaram o caminho do golpe, e os subsequentes 21 anos de ditadura deram azo ao surgimento do lulopetismo corrupto e do bolsonarismo boçal (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo). 

Para quem gazeteou as aulas de História, relembro que a Guerra Fria e a Revolução Cubana levaram o sistema político brasileiro do pluralismo moderado ao pluralismo extremamente polarizado, e a situação se agravou com a vitória chapa Jan-Jan (de Jânio e Jango) em 1960. Jânio se elegeu com a promessa de resolver miraculosamente todos os problemas ligados à corrupção e inflação no país, mas, alegando que "forças terríveis" se levantaram contra ele — e apostando que seria reconduzido ao cargo pelo "clamor popular" — despachou Jango para uma missão na China, apresentou sua carta-renúncia e voou para São Paulo levando a faixa presidencial.

Depois de esperar horas na base aérea de Cumbica pelas multidões não apareceram — talvez porque um arranjo urdido nos bastidores impediu que o povo soubesse onde ele estava, ou talvez porque o povo só poderia ser mobilizado por um partido janista se seu líder tivesse permitido sua existência — o populista cachaceiro embarcou para Europa, e o Brasil mergulhou na crise provocada pelo veto à promoção do "vice comunista" a titular.

Na qualidade de presidente da Câmara, o deputado Ranieri Mazzilli assumiu a chefia do Executivo, mas uma junta provisória formada pelos três ministros militares governou o país até 8 de setembro, quando foi implantado o sistema parlamentarista. Com os poderes limitados e tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro, Jango foi autorizado a assumir a presidência como chefe de Estado. 

Curiosidades1) Dali a 24 anos, o primeiro-ministro de Jango se tornaria o primeiro presidente civil pós-ditadura militar. 2) Em 1962, Jânio concorreu ao governo de São Paulo, mas foi derrotado por seu velho desafeto Adhemar de Barros e só voltou a disputar um cargo público em 1985, quando derrotou o tucano Fernando Henrique e o petista Eduardo Suplicy e se elegeu prefeito da capital paulista.

Jango só assumiu o posto a que tinha direito desde a renúncia de Jânio depois que o referendo de 6 de janeiro de 1963 restabeleceu o presidencialismo, mas as tensões se intensificaram quando ele declarou que a reforma agrária era uma questão de honra em seu mandato. Embora não houvesse a menor possibilidade de uma vitória comunista — nem pela via reformista, nem pela luta armada —, parte da elite brasileira bateu às portas dos quartéis, e os militares atenderam prontamente (até porque a doutrina que aprendiam na caserna era a do Ocidente x Pacto de Varsóvia).

Quando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade escancarou o apoio civil ao golpe, o Congresso, ameaçado de fechamento, chancelou a derrubada de Jango e a "eleição" do então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas — o marechal Castello Branco —, que deixou o Planalto em 15 de março de 1967 e morreu quatro meses depois, vítima de um acidente de avião no Ceará. Outros quatro generais-ditadores — Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo , se revezaram no poder até 1985, num jogo um jogo de cartas marcadas em que o partido de oposição (MDB) era meramente figurativo. 

Observação: Muitos democratas e liberais apoiaram o golpe achando que os militares voltariam para os quartéis em 1965, quando haveria novas eleições e Juscelino (pelo lado reformista democrático) e Carlos Lacerda (conservador liberal, democrata) disputariam a Presidência. Mas eles não demoram a perceber que os militares, picados pela mosca azul, tencionavam se perpetuar no poder. 
 
A dança das cadeiras dos fardados terminou com a eleição indireta de Tancredo Neves, em janeiro de 1985, que reascendeu a chama da esperança no coração de 130 milhões de brasileiros. Mas a alegria durou pouco: por uma trapaça do destino, o presidente eleito baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e bateu as botas 38 dias e 7 cirurgias depois, deixando de herança um neto que envergonhou o país e um vice que se tornou pai e avô do Centrão
O resto é história recente. 
 
Em 1989, já sob a égide da Constituição Cidadã, os brasileiros voltaram às urnas (depois de um jejum de 29 anos) para escolher seu presidente. Entre os 22 postulantes havia políticos do quilate de Ulysses Guimarães, Mario Covas, Leonel Brizola e Ciro Gomes e aberrações como Enéas Carneiro, Livia Maria Pio e Sílvio Santos, mas o eleitor tupiniquim, sempre pronto a fazer as piores escolhas, escalou Collor (com 30,5% dos votos) e Lula (com 17,2%) para disputar o segundo turno, quando então o pseudo caçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo por 53% a 47%.
 
Durante a campanha, Collor prometeu alvejar o "tigre da inflação" com uma "bala de prata". Eleito, apertou o gatilho um dia antes da posse ao pedir a Sarney que decretasse feriado bancário para que o mercado se adequasse ao conjunto de medidas econômicas mais radical que o país já amargou. Além de congelar preços e salários — a exemplo dos planos Cruzado, Cruzado II e Verão, editados durante o governo Sarney—, o Plano Collor bloqueou todo o dinheiro depositado nos bancos e aplicado no mercado financeiro até o limite de Cr$ 50 mil. Como resultado, o PIB encolheu 4,5% e o número de falências, infartos e suicídios teve um aumento significativo.
 
Plano Collor II aumentou tarifas públicas, decretou o fim do overnight e criou a FAF (Fundo de Aplicações Financeiras) e a TR (Taxa de Referência de Juros), mas a inflação voltou a subir, o desemprego cresceu, estatais foram vendidas a preço de banana e houve um desmonte das ferrovias e cortes de investimentos federais em infraestrutura. Entre o fim do Plano Marcílio e o início do Plano Real a inflação baixou dos 2.000% a.a. para "apenas" 1119,91% a.a. — índice registrado no final de 1992, quando o
 Rei-Sol, autoritário como poucos e corrupto como muitos, foi chutado do Planalto pela porta dos fundos
 
Observação: Ciente de que sua deposição eram favas contadas, Collor renunciou às vésperas do julgamento de seu impeachment — que teve como estopim uma entrevista concedida por Pedro Collor à revista VEJA —, mas o Senado seguiu adiante e o condenou (por 76 votos a 3) à perda do cargo e suspendeu seus direitos políticos por 8 anos.   
 
Com a deposição do "Roxinho", o vice Itamar Franco passou a titular e nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda. Impulsionado pelo sucesso do Plano Real, o tucano se elegeu presidente em 1994, comprou a PEC da reeleição em 1997 e se reelegeu 1998. Como não lhe restavam novos coelhos para tirar da velha cartola, FHC não conseguiu eleger José Serra seu sucessor.A
 vitória de Lula em 2002 marcou o início à era lulopetista, que só foi interrompida em 2016, com o impeachment de Dilma

Com a deposição da gerentona de araque, seu vice foi promovido a titular e se mudou para a residência oficial da Presidência, mas voltou semanas depois para o Jaburu, porque, segundo ele, o Palácio da Alvorada é assombrado. Assim, Michel Temer se tornou o primeiro e único caso documentado de vampiro que tem medo de fantasma. 
 
A troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba: após 13 anos de garranchos verbais de um semianalfabeto e frases desconexas de uma anormal incapaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido, um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises pareceu um refrigério. Demais disso, o vampiro do Jaburu
 conseguiu reduzir a inflação (que rodava pelos 10% quando ele assumiu), baixar a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista, mas o ministério de notáveis que prometeu se revelou uma notável agremiação de corruptos, e quando sua conversa de alcova com Joesley Batista veio a público, o sonho de entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos eixos" virou o pesadelo de vir a ser "o primeiro presidente no exercício do mandato denunciado por crime comum". 
 
Observação: A tropa de choque capitaneada por Carlos Marun contratou um coral de 251 marafonas para entoar a marcha fúnebre enquanto a segunda "flechada de Janot" era sepultada na Câmara, mas Temer terminou seu mandato-tampão como um "pato manco" — que é como os americanos se referem a políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons lhes servem o café frio. 
 
Em 2018, uma extraordinária conjunção de fatores empurrou para o Planalto um combo de mau militar e parlamentar medíocre que atribuiu a vitória a uma "cagada do bem". Quatro anos depois, derrotado nas urnas, ele exortou seus paus-mandatos a "virar a mesa". Investigado em sete inquéritos, inelegível até 2030 e na bica de ver o sol nascer quadrado, esse dejeto da escória da raça humana aguarda a primeira condenação posando de perseguido. 
 
A retomada democrática instituída em 1985 com a eleição do presidente "Viúva Porcina" (que foi sem nunca ter sido) e sacramentada em 1988 pela promulgação da Constituição Cidadã não exorcizou os fantasmas da ditadura. No último dia 29, o STF começou a julgar em plenário virtual os limites da atuação das FFAA estabelecidos no Art. 142 da CF (o ministro Luiz Fux, relator da encrenca, já votou pelo sepultamento da tese de que os fardados são o "poder moderador" da República).

Para evitar atritos com as Forças Armadas, Lula vetou qualquer ação alusiva ao golpe de '64, mas sete dos 38 ministros foram às redes sociais prestar homenagens aos "desaparecidos" dos anos de chumbo
Lobotomizados pela polarização semeada pelo "nós contra eles" do xamã petista e estrumada pela extrema-direita radical que saiu do armário durante a campanha de 2018, os devotos do bolsonarismo, vítimas da pior espécie de cegueira, consideram seu "mito" um ex-presidente de mostruário perseguido injustamente por "Xandão", como deixou claro a manifestação de 25 de fevereiro passado.

Observação: Claro que muita gente reza (ou finge rezar) por essa cartilha devido a interesses escusos, da mesma forma e pelos mesmos motivos que muita gente finge acreditar que Lula é a alma viva mais honesta do Universo e que sua prisão "foi uma armação, um dos maiores erros judiciários da história do país". Mas isso é outra conversa. 
 
Em face de todo o exposto, não há o que celebrar em 31 de março (nem em 1 de abril, a não ser o "dia da mentira"). Comemorar a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa é permitir que ódios do passado envenenem (ainda mais) o presente e destruam o futuro. 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

DIA DE FINADOS -- DUAS RECEITAS E UMA HOMENAGEM

 

A postagem de hoje é uma homenagem a meu pai, que, entre muitas outras coisas, me apresentou, nos anos 1960, o inesquecível Filé à Moraes e o delicioso Steak TartareO filé em questão foi criado pelo português Salvador Domingos Vidal, dono de um boteco na região central da capital paulista, e batizado de "bife sujo" pelos frequentadores — como a casa funcionava 24/7 horas por dia, a limpeza era feita com os clientes sendo atendidos. Em 1929, Vidal entrou de sócio do Bar, Café e Confeitaria Moraes (na Praça Júlio Mesquita, também no centro de Sampa), e aproveitou a chapa aquecida à lenha para criar sua mais famosa receita. 

Trata-se de um medalhão de filé de 500 g, grelhado por 3 minutos de cada lado (de modo a ficar tostado por fora e rosado por dentro), ao alho e óleo e acompanhado de fritas e agrião. Há quem diga que o nome do prato deveu-se ao chapeiro, a quem os fregueses (entre os quais Monteiro Lobato) pediam: "salta um filé, Moraes", e que Adoniran Barbosa compôs Trem das Onze enquanto tomava chope numa mesa do boteco. 

 Na década de 1960, o botequim passou a se chamar "Restaurante Moraes- O Rei do Filé", e nos anos 1980, durante o nefasto "plano cruzado", suspendeu suas atividades em razão do tabelamento de preços e consequente falta de carne. Mais adiante, passou a funcionar em dois endereços (na Praça Júlio Mesquita e na Alameda Santos), mas os proprietários não eram parentes dos fundadores. 
 
Para preparar um filé capaz de empanturrar dois bons garfos, providencie 500 g de filé-mignon cortado grosso (em medalhão), 8 dentes de alho, óleo para fritar e sal e pimenta-do-reino branca para temperar. Feito isso, amoleça os dentes de alho em água fervente por 1 ou 2 minutos, descasque, corte ao meio, doure em óleo bem quente, escorra e reserve. Grelhe o bife por 3 minutos de cada lado (se preferir bem-passado, o que é um pecado, leve ao forno pré-aquecido a 180 ºC por 2 minutos). Tempere com sal e pimenta, espalhe o alho e um pouco do óleo da fritura e sirva com salada de agrião (ou agrião refogado no alho e óleo) e batatas fritas.
 
Também conhecido como Filé Tártaro, o Steak Tartare é um acepipe russo feito com carne crua e servido tanto como aperitivo quanto entrada ou prato principal. Os ingredientes (por pessoa) são: 150 g de filé-mignon (moído ou finamente picado); 1 colher (sobremesa) de cebola ralada; 1 colher (café) de alcaparras (se preferir, substitua por azeitonas verdes picadas); 1 colher (chá) de salsinha picada; 1 colher (chá) de cebolinha picada; 1 colher (chá) de molho inglês; 1 colher (sopa) de mostarda; suco de 1 limão; 1 gema de ovo; azeite de oliva extravirgem para regar e sal, pimenta do reino, pimenta caiena e molho tabasco para temperar.
 
Após remover a "capa espelhada", passe a carne (duas vezes) pelo moedor ou corte-a em tirinhas contra o sentido das fibras, pique com a ponta de uma faca bem afiada. 
Transfira para uma tigela, junte a cebola ralada, a salsinha e a cebolinha picadas e misture gentilmente (usando as mãos ou uma colher de pau) enquanto rega com um fio de azeite e adiciona o sal, as pimentas e os demais temperos. 

Faça uma “bola” com a carne, coloque num prato, achate com a mão até formar um "hamburgão" e pressione o centro com o polegar, para criar a concavidade que acomodará a gema do ovo (crua, segundo a receita original, mas você pode cozinhar o ovo e usar a clara para decorar). Leve à geladeira para resfriar e sirva com torradinhas ou batatas chips em volta do prato.
 
Observação: Minha releitura inclui alface picado, ervilhas em conserva, rodelas de tomate e de palmito. Depois de acomodar a carne na parte central do prato e colocar a gema cozida na concavidade, eu distribuo esses ingredientes em volta, acrescento a clara picada e rego tudo com bastante azeite.

Bom apetite.

E. T. - Braga Netto e Bolsonaro foram condenados por 5 votos a 2. Prevaleceu o entendimento segundo o qual a perversão eleitoral foi urdida pela chapa. O relator Benedito Gonçalves, que havia livrado o general da inelegibilidade na sessão anterior, refez o seu voto para acompanhar a maioria. Além da inelegibilidade, os condenados terão que pagar multas de R$ 212 mil e R$ 425 mil, respectivamente.

terça-feira, 20 de junho de 2023

COLLOR LÁ...


Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito pelo voto popular desde Jânio Quadros (1960) e o primeiro a sofrer um processo de impeachment na "Nova República", tornou-se o primeiro ex-presidente desta banânia a ser condenado em última instância por corrupção


Da feita que o Brasil é um país de muitas leis e pouca vergonha na cara, o fato de o meliante ter presidido esta banânia — que deveria ser um agravante — funciona atenuante: na condição de "ex-comandante-em-chefe das Forças Armadas", o "Rei Sol" pode vir a cumprir a pena privativa de liberdade numa sala de Estado Maior.  

 

Regalia semelhante foi concedida a Lula. Em razão da "dignidade do cargo", o petista iniciou o cumprimento da pena numa "cela VIP" de 15 metros quadrados, com mesa redonda e quatro cadeiras, estante, TV de plasma, esteira ergométrica, frigobar, banheiro com pia, vaso sanitário e chuveiro elétrico. Diferentemente dos demais detentos, ele não era obrigado a varrer a cela, limpar o banheiro e recolher o lixo, daí alguns agentes o terem apelidado de “Lula Escobar” — numa alusão ao narcotraficante colombiano Pablo Escobar, que construiu uma mansão-presídio para nela cumprir sua pena.

 

Às 17h43 de 8 de novembro de 2019 — menos de 24 horas depois de o STF reverter seu entendimento sobre a prisão em 2ª instância — o petista deixou a carceragem da PF. Na sequência, também graças às togas camaradas, foi descondenado, reabilitado politicamente e, com mais de 60 milhões de votos no 2º turno no pleito de 2022, conduzido ao Palácio do Planalto pela terceira vez (fato inédito na história desta banânia). 

 

Observação: Nunca é demais lembrar que, se em 2018 o lulopetismo corrupto ensejou a vitória do bolsonarismo boçal, a execrável gestão do pior mandatário desde Tomé de Souza abriu as catacumbas e exumou o chefão petista em 2022. E viva o eleitorado brasileiro!

 

Aos 15 anos, Collor ouviu de uma vidente que seria presidente. Em 1979, entrou para a política como prefeito biônico (indicado pela ditadura) de Maceió. Dez anos depois, prometendo abater com um único tiro o “tigre da inflação” (que avançava a uma velocidade de 80% ao mês), derrotou Lula no 2º turno da primeira eleição presidencial direta desde 1960


Além de substituir o cruzado novo pelo cruzeiro, o “Plano Collor” incluiu ações de impacto  como a extinção ou fusão de ministérios e órgãos estatais, a demissão de funcionários públicos, o congelamento de preços e salários e o confisco dos ativos financeiros. A responsável pelo pacote de maldades foi a ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, que mais adiante teria um tórrido affair com o ministro Bernardo Cabral, conhecido como Boto Tucuxi e desposaria Chico Anysio — que ficou conhecido como "o humorista que casou com a piada"). 


Em janeiro de 1991, Zélia lançou o Plano Collor IICinco meses depois, ela e seu plano foram substituídos, respectivamente, por Marcílio Marques Moreira e pelo Plano Marcílio. Em outubro de 1992, dias antes de Collor ser afastado da presidência, Gustavo Krause assumiu o Ministério da Fazenda.

 

Continua... 

sábado, 8 de abril de 2023

SÓ MUDAM AS MOSCAS

 

O escândalo da muamba fez picadinho da imagem "imaculada" que a ex-primeira dama tentou construir, e está cada vez mais difícil ouvir o ex-mandatário sociopata falar em Deus, pátria e família sem cair na gargalhada. Como bem disse o Fernando Haddad, "ninguém ganha presentes que valem mais de R$ 18 milhões".

Bolsonaro se envolveu em inúmeros escândalos ao longo de sua trajetória política. Na Presidência, recebeu 19.470 presentes, mas nenhum fedeu tanto a propina quanto a "muamba das arábias". A Comissão de Transparência e Fiscalização do Senado está apurando se a venda da refinaria Landulpho Alves aos Emirados Árabes teria relação com o caso. Segundo o senador Omar Aziz (vide CPI do Genocídio), existem indícios de uma "operação cruzada", já que o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis apontou que a refinaria foi vendida por cerca de metade do valor de mercado
 
A Lava-Jato (de saudosa memória) apreendeu centenas de joias, medalhas, objetos de arte e presentes de todo tipo que Lula levou consigo ao deixar o Planalto em 2010 
— além de despachar para "o sítio que nunca foi dele" mais de 200 caixas com parte de sua mudançaEm entrevista à Veja em 2016, o delegado federal Igor de Paula disse que não se encontrou no sítio um único item que não fosse de Lula e familiares, incluindo camisetas e canecas com o escudo do Corinthians, fotografias de parentes, charutos, chapéus e calçados de Lula e senhora, cartões de boas festas e até medicamentos manipulados em nome de Marisa Letícia

Leo Pinheiro prometeu detalhar o obscuro episódio do aluguel de 10 contêineres destinados a armazenar o acervo museológico do ex-presidente (consta que a OAS pagou R$ 1,3 milhão para guardar objetos retirados do Planalto, do Alvorada e da Granja do Torto e acondicionados num depósito climatizado da transportadora Granero (o restante foi armazenado em outro galpão, no bairro do Jaguaré (na capital paulista), e de lá transportado para o Sítio Santa Bárbara.

Entra governo, sai governo, mudam as moscas, mas a merda e a nescidade dos eleitores continuam rigorosamente as mesmas de quando Pelé disse que o brasileiro não sabia votar. Ficando apenas no âmbito das últimas eleições, a rejeição ao lulopetismo corrupto resultou no bolsonarismo boçal, e a decepção com o capetão ensejou a volta da petralhada (com as bênçãos do STF). 

Para a surpresa de quem acreditou na fada do dente e deparou com a conta do dentista debaixo do travesseiro, os primeiros 100 dias da terceira gestão do autoproclamado parteiro do Brasil Maravilha foram tão decepcionantes quanto os do governo anterior. Segundo a última pesquisa Datafolha, 51% dos entrevistados acham que Lula fez pelo país menos do que se esperava dele, e que ele não vai cumprir a maioria de suas promessas (21% disseram que ele não cumprirá nenhuma delas).

A campanha de marketing (que será lançada na semana que vem) com o bordão “O Brasil voltou” não só desperdiça dinheiro público como afronta a inteligência de quem tem alguma noção da conjuntura atual, seja pelo preço da picanha, seja pelo medo do desemprego. Em 2022, o então candidato petista disse: "Nós vamos voltar a reunir a família no domingo e nós vamos fazer um churrasquinho. E nós vamos comer uma fatia de picanha com uma gordurinha passada na farinha e tomar uma p… de uma cerveja gelada. O povo entra em delírio, porque é isso o que o povo quer". 

O preço da picanha baixou 2% desde o início do ano, porém o desemprego voltou a subir após onze meses de queda, e a inflação se mantém no mesmo patamar, a despeito da escorchante taxa de juros. E o tal "arcabouço fiscal" faz lembrar o abjeto "Plano Cruzado" com que Sarney empalou os brasileiros em 1986

Sem ter o que entregar, o Super-Macunaíma que escapou do Mensalão, tropeçou no Petrolão e passou de palanque ambulante a camelô de empreiteiro ataca inimigos reais e imaginários. Mas referir-se a seu antecessor como "coisa", "genocida", "irresponsável" e "miliciano" não melhora em nada sua própria avaliação. Segundo o colunista de Crusoé Augusto de Franco, "estamos vivendo uma prorrogação do processo eleitoral, mas o governo Bolsonaro já não existe mais". 

Na falta de projetos que causem impacto, o PT e seu xamã buscam manter vivo o embate contra o bolsonarismo, como se o "mito" dos apatetados ainda fosse o chefe do executivo e a petralhada, a oposição. Além de não trazerem benefícios, ataques contra Sergio MoroMichel Temer e Campos Neto afetam o desempenho no Congresso, onde a base parlamentar que apoia o governo é mambembe. O indigesto Zeca Dirceu, líder do PT na Câmara, fala em 350 deputados, esquecendo-se de que União BrasilPSDMDBPodemosRepublicanos são tão confiáveis quanto a previsão do tempo. 

Ao montar seu ministério, Lula fez um loteamento inconsequente com a cabeça de 20 anos atrás, como se a conjuntura atual não fosse outra, com deputados e senadores mais independentes em relação aos partidos. Para piorar, o mandatário perde tempo enaltecendo programas que já existiam (leia artigo de Leonardo Barreto), como se seu plano para o futuro fosse ressuscitar notícia velha e fazer promessas vãs — a exemplo do tal churrasco de picanha com uma gordurinha passada na farofa e a porra da cerveja gelada, em que quase ninguém mais acredita

Triste Brasil.

quarta-feira, 23 de março de 2022

VALE A PENA VER DE NOVO — A NOVELA DA PETROBRAS

 


Nosso grande estadista em fim de mandato teve mais de três anos para criar mecanismos que minimizassem os impactos do câmbio e da cotação do petróleo no mercado internacional no preço dos combustíveis, mas preferiu criticar as vacinas, os governadores e o STF pelos danos causados por sua incompetência. Agora, ele diz que vai mandar o Ministro de Minas e Energia notificar os postos que não reduzirem os preços (coisa que ele acha que deveria ocorrer depois da mudança de impostos aprovada no Congresso).

O ex-presidente João Figueiredo — que preferia o cheiro do dos cavalos ao cheiro do povo e disse a uma criança que “daria um tiro no coco” se ele fosse criança e seu pai ganhasse salário-mínimo — ameaçava chamar Walter Pires, o linha-dura que ocupava o ministério do Exército na época, para sugerir que poderia dar o golpe. Em 1986, José Sarney levou às ruas milhares de “fiscais do Sarney” e chegou a mandar a Polícia Federal caçar boi gordo no pasto. Bolsonaro, que imita Figueiredo ameaçando golpe militar há tempos, resolve agora imitar Sarney. Já vimos esse filme e sabemos como ele termina.

Quando o preço do petróleo aumenta no mercado internacional, Bolsonaro diz que a alta não pode influir na Petrobras e pressiona a empresa a segurar o preço. Quando a cotação cai, ele afirma que a queda tem que influir na Petrobras e pressiona a empresa a baixar o preço. Mas só os idiotas veem contradição na conduta e nos argumentos do capetão, que são absolutamente coerentes: ele sempre diz e faz o que acha que vai ajudá-lo a se reeleger. Se isso fere a lógica, a Petrobras ou o Brasil, fodam-se a lógica, a Petrobras e o Brasil.

Já o ex-presidiário que aparece nas pesquisas como o queridinho do desmemoriado eleitorado canarinho culpa a privatização da BR Distribuidora (como se o motorista do caminhão que faz o frete determinasse o preço da mercadoria). Se for eleito, disse Lula, “o preço vai ser brasileiro, porque os investimentos são feitos em real”. Ciro Gomes, que carrega a lanterninha das intenções de voto, disse que “chegando ao governo (…) essa política vai mudar: a Petrobras vai cobrar quanto custa para produzir”.

Vale lembrar que o maior erro de Sarney, na edição do famigerado Plano Cruzado, foi tentar controlar a inflação por decreto. Parafraseando o jornalista H.L. Mencken, “todo problema complexo tem uma solução simples e errada”.

Bolsonaro, Lula e Ciro se esqueceram de combinar com os russos (e americanos, europeus, chineses). Se o preço for baixo aqui, ninguém venderá para o Brasil. Como não somos autossuficientes (ao contrário do que afirmam os petralhas), haverá desabastecimento. Gostemos não, obrigar a Petrobras a vender barato trará prejuízos à companhia e aos acionistas — costumeiramente apresentados como figuras satânicas que auferem lucros abusivos e indevidos, mas que são na maioria empresas e cidadãos brasileiros —, e o acionista majoritário da petrolífera é o próprio Brasil.

A “gerentona de araque” — que antes de ingressar na política faliu duas lojinhas de badulaque importados, e isso na época em que a paridade entre o dólar e o real era sopa no mel para esse tipo de comércio — represou o preço dos combustíveis e impôs à Petrobras um rombo de R$ 100 bilhões, que praticamente quebrou a companhia e se traduziu em mais dívida, descontrole fiscal, inflação etc.

A política de paridade com o preço internacional foi criada justamente para blindar a empresa contra governantes intervencionistas e irresponsáveis como Dilma e outros, de modo que o efeito será similar se o governo determinar o congelamento do preço e escrever um cheque para compensar a perda da Petrobras — ou se partir para a renúncia fiscal, conforme foi aprovado no Congresso. São outras soluções simples e erradas.

Lamentavelmente, ainda há no Brasil quem acredita (ou finge que acredita) em soluções mágicas e enxerga combustível fóssil como fator estratégico. Estratégico é educação, não petróleo. Privatizar a Petrobras geraria recursos para fazer o que é realmente importante, sem falar que a desconcentração reduziria o problema que estamos vivendo atualmente.

Enquanto o mundo civilizado investe em energia limpa, se organiza para abandonar um combustível ambientalmente insustentável e se prepara para entrar de vez no século XXI, o Brasil segue discutindo pautas dos anos 1950, dando subsídio (uniforme!) para combustível fóssil e destruindo o meio ambiente.

Pelo visto, só vamos entender o que está acontecendo quando não houver mais comprador para o petróleo. E isso não demora a acontecer.

Com Ricardo Rangel