REPETIR OS ERROS DO PASSADO ESPERANDO UM RESULTADO DIFERENTE É A MELHOR DEFINIÇÃO DE INSANIDADE QUE EU CONHEÇO.
O período oligárquico e a política do "café com leite" tiveram fim em 1930 — ano em que Julio Prestes foi eleito presidente e Getúlio Vargas deu um golpe de Estado. Enfraquecida, a elite paulista exigiu maior participação nas decisões da união. O ditador gaúcho negou e nomeou um interventor pernambucano para o estado de São Paulo. Isso acendeu o pavio da Revolução Constitucionalista de 1932, que hoje comemora o 92º aniversário. Como não receberam apoio das demais unidades federativas (noves fora Mato Grosso), os paulistas se renderam após três meses de conflito armado, mas nem tudo foi em vão: São Paulo ganhou um interventor paulista e civil e uma nova carta magna foi promulgada (e vigeu até 1937, quando o Estado Novo mudou as regras do jogo).
Observação: Vargas ascendeu ao poder em três ocasiões distintas, duas por golpe e uma pelo voto popular. Depois de apear Washington Luís e pôr fim à República Velha em 1930, o ditador gaúcho deu um autogolpe (1937), instaurou o Estado Novo e se manteve no poder até 1945, quando foi deposto por um golpe militar. Reconduzido à presidência pelo esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim em 1951, o tiranete foi suicidado, digo, suicidou-se com um tiro no peito em 24 de agosto de 1954. Sua carta-testamento terminava com a seguinte frase: "Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História".
Dizem as más-línguas que brasileiro é igual a papel higiênico: quando não está no rolo, está na merda. Com efeito. O povinho de merda que o Criador escalou para esta banânia vive entre a cruz e a caldeirinha, ignora a primeira regra dos buracos, pula da frigideira para o fogo e deste, de volta para aquela. Em 2018, para evitar a vitória de uma marionete de presidiário, o sapientíssimo, guindou ao Planalto o misto de ex-militar e parlamentar medíocre que logo escancarou o viés ditatorial e as pretensões golpistas.
Em 2022, livrar-se do dejeto da escória da humanidade era impositivo, mas reconduzir ao poder um ex-corrupto descondenado era opcional. E deu no que deu. Assim que tomou posse, Lula criou dezenas de novos ministérios para acomodar aliados de ocasião e nomeou antigos comparsas para as demais pastas. Do palanque, prometeu governar para todos, deixar o país nos trinques e pendurar as chuteiras; no trono, com ares de salvador da pátria, ameaçou concorrer à reeleição "para evitar que trogloditas voltem a governar o país". Se ainda caminhar entre os vivos em outubro de 2026, o macróbio petista estará com 81 anos — a mesma idade que Joe Biden tem hoje. Será que Lula nunca ouviu falar em Efeito Orloff?
Escusado detalhar a sucessão de desditas do desgoverno em curso. Passados 18 meses da coroação, o reizinho segue atribuindo ao "infiltrado de Bolsonaro" a culpa por todas as mazelas que o acometeram desde as 10 pragas do Egito. Parece que não aprendeu nada em suas duas gestões anteriores nem nos 580 dias de férias compulsórias que gozou em Curitiba. "Dirige" o país com um olho no retrovisor e outro nas urnas, o que o torna é incapaz de ver o reflexo do verdadeiro culpado no espelho.
A Selic a 10,5% a.a. é um problema, nas não uma novidade para Lula: sob sua indigesta sucessora, a taxa passou de 14% a.a. E o problema não é Campos Neto, mas o déficit público, o cenário internacional, a escalada inflacionária e, principalmente, a aversão do presidente ao corte de gastos.
As contas do reino continuam na enfermaria, mas, indagado sobre o dólar, o sua majestade preferiu falar em "arroz e feijão", substituir as pauladas no chefe do BC pela renovação do compromisso retórico com a responsabilidade fiscal e autorizar Haddad a passar na lâmina R$ 25,9 bilhões do Orçamento de 2025. Isso não resolve o problema, mas ajuda a baixar a febre, até porque, até poucos dias atrás, sua alteza dizia não saber se seria mesmo necessário cortar despesas.
Contribuíram para o recuo tático os conselhos de economistas companheiros, que alertaram o reizinho para os efeitos inflacionários da alta do dólar na taxa de juros e, sobretudo, nos humores do eleitorado. Ficou entendido que sua popularidade em 2026 depende da prosperidade que o ministro da Fazenda for capaz de entregar, mas truques novos não ornam com burros velhos, e nosso xamã continua achando que o pescoço de Campos Neto é um ótimo degrau para chegar ao coração da maioria endividada.
Observação: Eu não era fã de Haddad quando ele foi o poste de Lula na prefeitura de Sampa nem (muito menos) quando se sujeitou ao papel de boneco de ventríloquo do então presidiário mais famoso do Brasil. Minha opinião não mudou, mas reconheço seu empenho em convencer o chefe a não guerrear contra a razão.
Depois que "falcatruas" no leilão de arroz puseram a pique seu projeto de autopromoção, Lula tenciona se valer da regulamentação da reforma tributária para propor outra medida populista, qual seja a isenção de impostos sobre a "carne dos pobres". Isso pode até parecer lindo e justo partindo do candidato que prometeu a volta da picanha e da cervejinha do fim de semana, mas faltou explicar como fazer, na prática, para taxar picanha e filé e isentar "pé de frango" e "carne de pescoço".
Interromper os cortes na Selic foi uma decisão unânime do Copom. Nem mesmo os diretores indicados por Lula sucumbiram à pressão, já que guardam na memória a crise econômica que teve início quando Dilma forçou uma redução artificial dos juros. Repetir o erro teria um impacto negativo em suas reputações (presidentes da República vêm e vão, mas diretores do BC precisam zelar por suas carreiras). Começa agora o difícil teste de Gabriel Galípolo como futuro presidente da instituição, que terá de se equilibrar entre decisões técnicas, mercado desconfiado e um mandatário populista e intervencionista.
Falando em intervencionismo, Lula disse que o STF "não pode se meter em tudo". O cenário já era
nebuloso por ocasião do Gilmarpalooza — 12 empresas que participaram do evento em Lisboa tinham processos em andamento no Supremo. Apenas três ministros (Nunes Marques, Cármen Lúcia e Luiz Fux) declinaram do convite. Gilmar Mendes desdenhou do gasto de R$ 1,3 milhão com passagens, hospedagem e outros mimos a pelo menos 78 pessoas, entre servidores, políticos, seguranças, ministros de Estado e membros do Poder Judiciário.
Observação: Segundo o portal UOL, algumas togas criticaram internamente o encontro. A mesma reação ocorreu nos anos anteriores, mas nunca foi tão forte quanto neste, e, segundo as pesquisas de opinião pública, metade dos brasileiros diz não confiar no Supremo e em seus ministros.
Torçamos para que a democracia que resistiu aos arroubos golpistas de Bolsonaro seja resiliente o bastante para sobreviver a Lula e ao ativismo da cúpula do Judiciário. Mas o que garante essa resistência não é a ação de uns poucos "iluminados", e sim a imprensa independente, as organizações não governamentais, as entidades formadas pelas empresas privadas e a vigilância constante da opinião pública — que barraram o desastroso leilão do arroz estatal e o projeto do Aborto na Câmara.
Triste Brasil.