domingo, 14 de julho de 2024

O QUE É DE GOSTO REGALA A VIDA (PARTE II)

REGRA NÚMERO UM DOS BURACOS: SE VOCÊ ESTIVER DENTRO DE UM, PARE DE CAVAR.


Voltando às delícias da carne vermelha — assunto do post do último domingo —, o miolo do filé-mignon dá um excelente rosbife, mas substituí-lo por lagarto redondo sai mais barato e proporciona um ótimo resultado. Independentemente do corte, os ingredientes e o procedimento são basicamente os mesmos. Você vai precisar de:
 
1 — Um pedaço de lagarto redondo (extralimpo) ou um miolo de filé de aproximadamente 1kg;  
2 — ½ xícara (chá) de mostarda amarela;
3 — 4 dentes de alho grandes socados;
4 — 1 cebola grande picada em pedaços miudinhos;
5 — 1 colher (sopa) de ketchup;
6 — ½ xícara (chá) de molho inglês;
7 — Sal, pimenta-do-reino e molho de pimenta vermelha (tipo Tabasco) a gosto.
 
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Antes da posse de Bolsonaro, dizia-se que os generais conseguiriam moderar o capitão. Deu-se o inverso. Os estrelados foram bolsonarizados e se submeteram às ordens mais bizarras. Ao apelidar sua sala no Palácio do Planalto de "Gulosa", o "mito" revelou seu apetite pantagruélico pelo poder e pelo patrimônio público. Na última quinta-feira, a PF cumpriu 5 mandados de prisão contra pessoas ligadas ao grupo composto por assessores de comunicação do clã Bolsonaro e descobriu que eles contavam com a ajuda da Abin para espalhar fake news sobre integrantes dos Três Poderes e jornalistas. 
Encontrada no computador do delegado federal Alexandre Ramagem, a gravação clandestina da reunião que articulou a blindagem de Flávio Bolsonaro no escândalo da rachadinha faz lembrar o vídeo que expôs a reunião ministerial de 22 de agosto de 2020, no qual se vê Bolsonaro dizendo: "Não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu. Vou interferir. Ponto final".
Ao retirar o sigilo da investigação, o ministro Alexandre de Moraes expôs as franjas de um aparato criminoso montado para bisbilhotar inimigos, monitorar aliados e, sobretudo, blindar os filhos do capitão (além 01, foram socorridos Carlos e Jair Renan) e escancarou que a Abin foi devolvida ao submundo da época do regime militar (quando atendia por SNI) e funcionou sob Augusto Heleno como usina de mentiras para o gabinete do ódio bolsonarista desancar aqueles que enxergava como inimigos.
Os quatro anos sob Bolsonaro empurraram esta banânia da sarjeta para o esgoto. Não que a volta de Lula seja motivo de comemoração, mas a polarização e a ignorância chapada dos brasileiros sufocaram a "terceira via" e obrigaram a minoria pensante a escolher entre Satanás e Belzebu.

Dilua metade da mostarda em ¼ de xícara (chá) de água e reserve. Unte a carne com os demais temperos, coloque num Tupperware com tampa (ou num saco plástico próprio para vinhadalhos) e deixe descansar na geladeira por menos 12 horas, vidando a carne de tempos, para a carne absorver os por igual. 

Doure a carne em óleo fervente por todos os lados, transfira-a para travessa refratária, leve ao forno preaquecido a 200°C e deixe assar por cerca 1 ½ hora (borrifando a mostarda diluída em água a cada 10 minutos). O ideal é que o rosbife fique tostado por fora e vermelho por dentro; se você não aprecia carne malpassada, aumente o tempo de forno em mais 15 ou 20 minutos. 

Depois que a carne esfriar, leve-a de volta à panela, regue com o restante do molho e adicione água fervente até que todo o tempero que sobrou no fundo da panela seja incorporado. Deixe descansar por cerca de 10 minutos e corte o rosbife em fatias bem fininhas (preferencialmente com uma faca elétrica).
 
Para preparar um delicioso bauru de rosbife (lembrando que o verdadeiro bauru não é feito com presunto): 
 
1 — Misture uma colher (sopa) de manteiga com outra de vinagre de vinho branco numa panelinha com um pouquinho de água quente e derreta quantidades iguais de queijos prato, suíço, gruyère e estepe (cerca de 30g de cada tipo para cada sanduíche);
 
2 — Corte pãezinhos franceses ao meio ao comprido, coloque 5 ou 6 fatias do rosbife (cerca de 75 g) na canoa inferior e cubra-as com 3 rodelas finas de tomate e 3 de pepino em conserva. 
3 — Retire o miolo da canoa superior, encha-a com a pasta de queijo derretido, salpique orégano, feche o sanduíche e corte-o ao meio, pela diagonal.
 
Bom apetite.

sábado, 13 de julho de 2024

O ESTADISTA E O DEMAGOGO.


O ESTADISTA GOVERNA PENSANDO NAS PRÓXIMAS GERAÇÕES. 
O POPULISTA GOVERNA PENSANDO NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.

Atribui-se indevidamente a Charles de Gaulle a autoria da frase "le Brésil n’est pas un pays serieux", mas esse equívoco não torna esta banânia menos banânia. A versão oficial da descoberta do Brasil é uma fraude, a independência foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de muitos), 8 dos 38 chefes do executivo foram apeados do cargo prematuramente (começando por Deodoro da Fonseca) e 2 dos 5 presidentes eleitos diretamente desde a redemocratização acabaram impichados — seriam 3 se Rodrigo Maia e Arthur Lira tivessem cumprido seu papel constitucional. 
 
Nosso "melhor" presidente foi Tancredo Neves, que morreu sem tomar posse. Em 1989, após quase 30 anos de jejum de urna, nosso ilustríssimo eleitorado, podendo escolher entre 22 candidatos alguém como Ulysses Guimarães, Mario Covas ou Leonel Brizola, escalou para o embate final um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo. E o resto é história recente. 
 
Tenho saudades do PSDB 
— falo do partido de Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique, não da agremiação anedótica que tenta se reerguer das cinzas com a candidatura de José Luiz Datena à prefeitura de São Paulo, que chega a dar pena). Mas nem os tucanos, conhecidos por mijar no corredor quando há mais de uma banheiro, nem os paulistanos, que já votaram em rinoceronte para vereador e elegeram prefeitos do quilate de Jânio Quadros, Luíza Erundina, Paulo Maluf, Celso Pitta e Fernando Haddad, merecem alguém com histórico de recuos eleitorais como o do apresentador do Brasil Urgente.
 
Datena filiou-se ao PT em 1992 e subiu no palanque para apoiar Lula em 1989. Migrou para o PP em 2016, mas desistiu de disputar a prefeitura de Sampa quando veio a público um desvio de R$ 358 milhões da Petrobras para o partido. Ingressou PRP e desfilou por outros 7 partidos (DEM, MDB, PSL, UNIÃO, PSC, PDT e PSB) até finalmente pousar no ninho dos tucanos. 
Em 2018, já no DEM, candidatou-se ao Senado e chegou se afastar da TV, mas voltou atrás: "Pensei bem, refleti, conversei muito com a minha família, com Deus, com poucos amigos, e achei que ainda não era a hora." 

Em 2020, o apresentador foi cotado para vice na chapa de Bruno Covas, mas retirou a candidatura. Em 2022, recém-filiado ao PSL, trovejou: "Desta vez é pra valer!". Apesar de ter afirmado que só lhe interessava a Presidência, preferiu concorrer ao Senado com apoio de Bolsonaro — isso depois de declarar que não votou em ninguém depois de Lula, que "apoiou Bolsonaro o cacete". Chegou a liderar as pesquisas, mas anunciou sua desistência, desistiu de desistir e desistiu de desistir de desistir no último dia do prazo para deixar a TV. 
 
Se nada mudar até outubro, o embate final pela prefeitura de Sampa será entre  Ricardo Nunes e Guilherme Boulos. O primeiro foi promovido de vice a titular com a morte de Bruno Covas e postula a reeleição com as bênçãos do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas; o segundo é o psicanalista das massas e eterno líder do MTST que conta com o apoio do xamã petista que, a exemplo da Carolina na canção de Chico Buarque, recusa-se a perceber que "o tempo passou na janela". Mas não é só.

Lula estimulou alta do dólar (que chegou a R$ 5,70) ao lançar dúvidas sobre a necessidade de cortar gastos e culpar o presidente do BC por todas as mazelas que enfrentando. Pressionado por Haddad, mudou o discurso, interrompendo a sangria do real. Para 53% dos 2 mil entrevistados ouvidos entre 5 e 8 de julho (muitos dos quais não são capazes de achar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna), as declarações irresponsáveis do xamã petista não foram a causa da alta dólar, mas 34% pensam o contrário e 13% não souberam responder (isso deixa claro em que plano o jogo político se desenrola no Brasil).
 
O discurso falacioso de Lula ressoou bem em boa parte da população. Para 87% dos entrevistados, os juros "estão muito altos" e 67%, acham que "o governo não deve satisfação ao mercado, mas aos mais pobres" (seja lá o que isso quer dizer). Interessa dizer que o fato de a maioria da população não entender o que aconteceu foi ótimo para o petista mas péssimo para o Brasil. O discurso que ele proferiu na posse da nova presidente da Petrobras deveria entrar para a história como uma das manifestações públicas mais fantasiosas e ofensivas já feitas por um presidente no Brasil. Não houve mentiras novas, mas a forma como as velhas falácias foram reunidas contribuiu para sintetizar o quadro lamentável em que o país se encontra desde que o demiurgo foi reconduzido ao Planalto após se livrar da prisão por corrupção.
 
“É sempre uma grande alegria voltar à Petrobras e ver essa empresa pujante, resistente a tantas tentativas de desmonte e dilapidação de seu patrimônio”, discursou o responsável maior pelas tentativas de desmonte e dilapidação do patrimônio da Petrobras. Segundo Lula, a culpa foi da Lava-Jato e da "elite política e econômica deste país" que não tem compromisso com a soberania do Brasil e a melhoria de vida do nosso povo". "Tentaram destruir a Petrobras antes mesmo de sua criação [...] a história jamais esquecerá os editoriais dos grandes veículos de comunicação que preferiam ver o petróleo brasileiro entregue de mão beijada a empresas estrangeiras", perorou sua excelência.
 
Lula reclamou das tentativas de privatizar a Petrobras e de mudar seu nome — o que seria, segundo ele, "negar sua origem 100% brasileira" 
—, comentou a perda de controle governamental sobre a Eletrobras e a Vale e associou a isso à demora para indenizar as vítimas das tragédias de Mariana e Brumadinho, disse que "numa empresa com muitos donos ninguém manda", e que ela "não cumpre o papel social que deveria cumprir". Em outras palavras, o que o presidente quer é ser "dono" de todas as empresas em que conseguir meter a mão.
 
Lula disse que patrocinou o maior ciclo de investimento da companhia (em 2003), exaltou as descobertas do pré-sal e louvou as ações dos governos petistas na área de petróleo. Acusou a Lava-Jato do desmonte e da privatização da Petrobras. "Se o objetivo fosse de fato combater a corrupção, que se punisse os corruptos, deixando intacto o patrimônio do nosso povo. Mas o que foi feito não foi isso. O que foi feito foi uma tentativa de destruir a imagem da empresa." Resta saber quais corruptos deveriam ser punidos depois ele próprio e mais de 100 condenados pela Lava-Jato se livraram das acusações por questões processuais. 

Observação: Ex-coordenador da força-tarefa no paraná, Deltan Dallagnol rebateu as acusações com números: "Nós punimos os corruptos: foram 533 acusados, mais de 250 condenações e um total de 2600 anos de pena. A Lava Jato recuperou mais de R$ 15 bilhões para a sociedade, sendo que R$ 6 bilhões foram devolvidos à Petrobras, que os seus governos petistas destruíram e rapinaram".
 
A alturas tantas, inebriado pela própria narrativa, Lula preparou o tereno para a própria defesa defendendo presidentes do passado. Mencionando o que chamou de "mentiras sobre a Petrobras", disse que Getúlio Vargas "se matou porque fizeram uma denúncia de corrupção contra ele, mas nunca provaram a corrupção que ele tinha feito", e que Juscelino Kubitschek "foi acusado de ter um apartamento em Copacabana, mas nunca se provou o apartamento do Juscelino". 
Na sequência, relembrou a derrota do Brasil para a Alemanha por 7×1 na final da Copa de 2014 e classificou-a como um castigo divino: "E Deus é justo, nós tomamos de 7 a 1 naquela Copa do Mundo da Alemanha. Já que é para castigar, vamos castigar". 
 
Lula é um castigo muito pior que o 7 a 1.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE III)

PIOR QUE FICAR CALADO E DAR ÀS PESSOAS A IMPRESSÃO DE QUE VOCÊ É UM IDIOTA É ABRIR A BOCA E DAR ÀS PESSOAS A CERTEZA DE QUE VOCÊ É UM IDIOTA.
 

Imaginamos o tempo como uma estrada pela qual avançamos, onde podemos ir mais depressa ou mais devagar e até parar. Retornar a uma encruzilhada da vida e virar à direita ao invés de a esquerda é uma perspectiva fascinante, mas para isso seria preciso que a teoria do multiverso se confirmasse. Por enquanto, universos paralelos, multidimensões e outras "realidades alternativas" só existem nos filmes, nos livros de ficção científica e nos quadrinhos. Mas será tudo isso apenas fantasia?  

universo observável tem cerca de 93 bilhões de anos-luz de diâmetro e continua se expandindo. Não sabemos se ele é finito ou se se replica em universos paralelos e forma um "multiverso". Nem todas as teorias pressupõem a existência de diversas versões de nós mesmos, mas todas levam ao multiverso. De acordo com a teoria da inflação cósmica, cosmos dobrou sucessivamente de tamanho milhares de vezes em menos de 10-36 segundos, produziu um universo homogêneo e plano e criou as quatro forças fundamentais, o tempo e o espaço. Mas o que havia antes do Big Bang é um mistério. 

Na visão dos criacionistas e dos seguidores das religiões abraâmicas, Deus criou o mundo e tudo que existe nele em seis dias. Preciso como um cuco suíço, o pastor James Ussher explica no livro The Annals of the World que o início da obra se deu pontualmente às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C., e que todas as espécies criadas jamais sofreram qualquer alteração desde então, mas não revela o que existia às 8h59m do "dia D".

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Inspirado no exemplo de Lula em 2019, Bolsonaro finge que poderá ser candidato ao Planalto em 2026. Há mais chances de o inferno congelar, mas essa tragicomédia mantém a militância na ponta dos cascos. Já o PT e seus acólitos parecem se achar a "última bolacha do pacote". Refratário a críticas e avesso a autocríticas, a legenda se escora em seu xamã, a despeito dos sinais gritantes de desgaste, mais por medo de errar que por vontade de acertar.

O capetão-joinha não estará livre para concorrer em 2026, assim como o então presidiário mais famoso desta banânia não esteve em 2018. Mas seus apoiadores, mais pragmáticos, admitem alternativas (sempre dizendo que Bolsonaro é o "plano A") e fazem circular seus nomes desde já, enquanto os sectários da seita do inferno têm medo de confrontar seu pontífice com a realidade de que o tempo é inexorável — e o dele cedo ou tarde há de passar.


Escorada na Teoria da Relatividade, a teoria clássica do Big Bang sustenta que tudo começou com uma singularidade, mas um artigo publicado no Journal of High Energy Physics sugere que essa singularidade é uma ilusão matemática (os autores se embasaram num estudo que Karl Schwarzschild publicou em 1916 sobre buracos negros — que foi contestado mais adiante pelo astrônomo Arthur Eddington).
 
Observação: A hipótese de existirem regiões do espaço com força gravitacional suficiente para "engolir" a própria luz foi levantada pela primeira vez no século XVIII e ratificada pelas equações de Einstein, que forneceram a base para o entendimento atual dos buracos negros. Mas foi somente em 2019 que o Event Horizon Telescope capturou a imagem de um exemplar no centro da galáxia M87, a cerca de 55 milhões de anos-luz da Terra, tornando real o que até então era uma possibilidade teórica.
 
A física clássica falha em explicar a singularidade. No caso dos buracos negros, a singularidade do horizonte de eventos representa um ponto onde Einstein previu densidade infinita, mas suas teorias não são completas sem a gravidade quântica. As teorias das cordas e da gravidade quântica em loop tentam unificar a relatividade geral e a mecânica quântica e descrever o universo sem singularidades, mas não há evidências que confirmem ou refutem a existência de uma singularidade inicial. 

A matemática pode fornecer várias maneiras de modelar o universo nascituro, e algumas equações sugerem que a singularidade pode ser evitada. Mas isso depende de suposições específicas sobre a natureza do espaço-tempo e a forma como os efeitos quânticos se manifestam. As teorias das cordas e da gravidade quântica em loop ainda estão em desenvolvimento; se uma delas for comprovada, teremos uma descrição do Big Bang que não envolva a singularidade. 

Einstein publicou suas teorias no início do século passado e falhou em descrever o comportamento do espaço-tempo em escalas extremamente pequenas, onde os efeitos quânticos se tornam significativos e a presença de singularidades sugere que precisamos de uma abordagem mais completa, que inclua a gravidade quântica. Em 1995, os físicos propuseram que cinco diferentes teorias das cordas seriam na verdade faces da Teoria de Tudo, que busca unificar a Relatividade Geral — que funciona muito bem em escalas grandes, como planetas, estrelas e galáxias — e a Mecânica Quântica — que explica o comportamento da matéria e energia em escala subatômica, como átomos e partículas fundamentais. 

Não é incomum que teorias aparentemente contraintuitivas ou meramente especulativas sejam comprovadas a posteriori, a partir de novas evidências e métodos experimentais. Exemplos disso incluem a própria relatividade, que revolucionou nossa compreensão do universo no século XX. A física está em constante evolução, e novas descobertas podem nos aproximar de uma resposta definitiva. É saudável manter um ceticismo fundamentado e acompanhar os avanços na área para ver como essas teorias se desenvolvem.
 
Continua...

quinta-feira, 11 de julho de 2024

HOMENAGEM AOS TERRAPLANISTAS

PODE-SE LEVAR UM BURRO ATÉ O RIACHO, MAS NÃO SE PODE OBRIGÁ-LO A BEBER.


Os cientistas acreditavam que o carbono começou a se formar em grandes quantidades 1 bilhão de anos depois do Big Bang, mas o telescópio espacial James Webb permitiu estudar uma das galáxias mais distantes já observadas e descobrir que o elemento não só surgiu bem antes como pode ser o mais antigo do Universo. 
 
O telescópio Hubble proporcionou um formidável salto no conhecimento, mas o LUVOIR (virtual sucessor do Webb) é dezenas de vezes mais potente e capaz de "enxergar" em ultravioleta (além do infravermelho), o que lhe permite identificar sinais de vida nos exoplanetas 
— não homenzinhos verdes com olhos gigantes e pontas dos dedos brilhantes, mas um elo entre a vida como a conhecemos e a parte química que corresponde a sua "composição fundamental". 

Apesar da diversidade do nosso sistema solar, vulcões, oceanos e planícies existentes nos demais planetas são compostos pelos mesmos materiais que formaram o nosso, onde a combinação de elementos inertes deu origem a bactérias, protozoários e organismos mais complexos, que, mais adiante, evoluíram para as plantas e os animais que povoaram a Terra. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

De Gaulle estava certo. Quando o Brasil ainda tentava ser um país sério, a combinação de campanhas eleitorais com inquéritos criminais deixavam partidos e líderes políticos em apuros. Mas isso mudou com Bolsonaro: mesmo virado do avesso por investigações da Polícia Federal, o "mito" dos descerebrados coloca sua "liderança pessoal" a serviço de candidaturas municipais do PL como se nada tivesse sido descoberto contra ele. A PGR cogita de empurrar o próximo capítulo da novela para depois das eleições. Alega-se nos bastidores que o adiamento evitaria que o MPF fosse acusado de tentar influir nas eleições. Essa conversa mole é um atentado contra o direito à informação. Sempre haverá eleitores devotos que não acreditarão nas provas dos malfeitos do "cabo eleitoral de luxo" do PL, mas um eleitor sem cabresto tem o direito de dispor de todos os dados que facilitem a sua escolha, da avaliação dos candidato às denúncias que exponham as vísceras de um cabo eleitoral inelegível.
 
Por volta do século III a.C., 
Aristóteles descobriu que a Terra é redonda e Eratóstenes calculou a circunferência do globo a partir da diferença das sombras em duas cidades próximas. Não consta que o formato do planeta tenha mudado desde então, mas 2% dos norte-americanos se dizem terraplanistas e 5% têm dúvidas sobre a esfericidade da Terra, a despeito das milhares de fotos tiradas do espaço e até da Lua.

Se a Terra fosse tão chata quanto esses muares, os sistemas de navegação por satélite (GPS) não calculariam as posições com precisão, não faria sentido usar fusos horários (já que o dia e a noite só existem porque vivemos num globo que gira em torno do próprio eixo), as rotas mais curtas para os voos internacionais seriam em linha reta (não em círculo máximo), e os belo-horizontinos avistariam as luzes da capital baiana tão facilmente quanto enxergam as estrelas no céu. 

Observação: Como bem observou o escritor português José Saramago (laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1998), o pior tipo de cegueira é a mental

Em pleno século XXI, milhões de desaculturados exóticos questionam do heliocentrismo à força da gravidade, põem em dúvida a existência do espaço sideral e dão ouvidos a teorias conspiratórias sobre a alunissagem da Apollo 11, o assassinato de John F. Kennedy, o 11 de Setembro e a Área 51, entre outras. Fanáticos religiosos pegam em lanças contra ateus, agnósticos e evolucionistas, afirmam que Deus criou o mundo em 6 dias (contados a partir das 9h00 de 23 de outubro de 4004 a.C.) e que as plantas, os animais e os seres continuam exatamente como eram no dia da criação.

Outros tantos abilolados sustentam que Elvis Presley não morreu; que Michel Jackson forjou a própria morte e assumiu a identidade de La Toya; que Paul McCartney foi assassinado e substituído por um sósia; que certo ex-presidiário "descondenado" é a "alma viva mais honesta da galáxia"; que certo ex-presidente golpista é um grande filho da Pátria; que reptilianos dominam o mundo; que vacinas têm microchips; que o 5G causa Covid, e por aí afora.

É fato que todos têm direito às opiniões opiniões, mas fato é que ninguém tem direito aos próprios fatos, e que contra fatos não há argumentos.
 
Continua...

quarta-feira, 10 de julho de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (CONTINUAÇÃO)

SE TEMOS DOIS OUVIDOS E UMA BOCA, DEVEMOS OUVIR MAIS E FALAR MENOS.


Pesquisadores da Universidade de Varsóvia propuseram uma extensão da teoria da relatividade especial para explorar a possibilidade de existirem objetos e observadores capazes de se mover mais rápido que a luz. A ideia é intrigante porque a velocidade com que a luz se propaga no vácuo (1.08 bilhão de quilômetros por hora) é o limite absoluto no Universo conhecido, que, curiosamente, vem se expandindo a uma velocidade superior à da luz. 

A proposta envolve uma nova abordagem matemática que inclui os "táquions" — partículas "superluminais" que viajam mais rápido que a luz, mas cuja existência é meramente especulativa — e admite velocidades superluminais sem violar as bases da relatividade especial. Se isso for comprovado, a possibilidade de reverter a causalidade exigirá uma reformulação dos princípios de transformação de Lorentz, que são fundamentais na relatividade especial.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Ao levantar o sigilo do caso das joias, Alexandre de Moraes enviou o inquérito à PGR, que pode arquivar, requisitar novas diligências ou denunciar Bolsonaro e os outros 11 indiciados. O eventual adiamento da denúncia seria um flerte com a imprudência — uma autoridade que mata o tempo quando os fatos a intimam a agir comete suicídio — e a ilegalidade — o CPP fixa prazos para o oferecimento de denúncia (5 dias se o investigado está preso e 15 dias se ele está solto). A alegação de que o adiamento evitaria a politização da denúncia é balela, pois Bolsonaro jogou o caso no ventilador da política bem antes dos indiciamentos — para o bolsonarismo, culpa virou um outro nome para perseguição, mesmo quando o crime traz a marca do capitão gravada numa mensagem ao ex-ajudante de ordens: "Selva". Se os inquéritos contra o "mito" fizerem escala na gaveta, a gestão de Gonet ganharia um insuportável aroma de Augusto Aras. Convém a um procurador-geral ser a soma de suas decisões, não de suas hesitações. Quem escolhe o momento certo economiza muito tempo.


Na 
relatividade especial (ou restrita), a velocidade da luz como limite garante que a causalidade seja mantida, mas a existência de partículas superluminais poderá levar a paradoxos temporais. Além disso, para levar um objeto com massa até a velocidade da luz exige uma quantidade infinita de energia, de modo que os pesquisadores têm um problemão para resolver.
 
Observação: Como foi mencionado no capítulo anterior, essa "neura" em relação à velocidade da luz se deve ao fato de que, de acordo com as equações de Einstein e até prova em contrário, o tempo é relativo, ou seja, "passa" mais devagar conforme a velocidade aumenta. 
 
A planura do Universo tem implicações profundas na Cosmologia e em nossa compreensão da evolução cósmica. Um cosmos plano pressupõe uma densidade crítica de matéria e energia, onde a quantidade de matéria-energia positiva (como a encontrada em estrelas, planetas e gás) é equilibrada pela quantidade de matéria-energia na forma da energia escura, que impulsiona a aceleração da expansão do Universo. A ideia de um Universo com quatro dimensões (três espaciais e uma temporal) e plano pode parecer paradoxal, mas há relações profundas entre os conceitos de geometria e dimensões em Física e Cosmologia.
 
Na Cosmologia, o espaço-tempo é considerado um contínuo quadridimensional, composto pelas três dimensões espaciais (comprimento, largura e altura) e uma dimensão temporal, conforme descrito pela Relatividade Geral — lembrando que a planura do Universo não está diretamente relacionada ao número de dimensões, mas sim à curvatura do espaço-tempo dentro dessas dimensões. Assim, mesmo num Universo quadrimensional a ideia de planura se mantém consistente. As evidências que sustentam a planura do Universo vêm de várias fontes, incluindo observações de radiação cósmica de fundo em micro-ondas, medidas de supernovas distantes e estudos de estruturas em larga escala no cosmos, que têm apontado para um Universo plano com uma margem de erro muito pequena. 

A descoberta de que o cosmos é plano sugere que ele começou em um estado extremamente uniforme e homogêneo no Big Bang e vem evoluindo desde então, de acordo com as leis da física que conhecemos até hoje. Se ele continuar a se expandir indefinidamente, como as evidências da existência da energia escura sugerem, a taxa de expansão pode superar a força gravitacional que mantém as galáxias unidas, fazendo com que as estrelas se apaguem e o cosmos se torne um imenso vazio.

Continua...

terça-feira, 9 de julho de 2024

SOBRE A REVOLUÇÃO E OS ERROS DO PASSADO


REPETIR OS ERROS DO PASSADO ESPERANDO UM RESULTADO DIFERENTE É A MELHOR DEFINIÇÃO DE INSANIDADE QUE EU CONHEÇO.


O período oligárquico e a política do "café com leite" tiveram fim em 1930 — ano em que Julio Prestes foi eleito presidente e Getúlio Vargas deu um golpe de Estado. Enfraquecida, a elite paulista exigiu maior participação nas decisões da união. O ditador gaúcho negou e nomeou um interventor pernambucano para o estado de São Paulo. Isso acendeu o pavio da Revolução Constitucionalista de 1932, que hoje comemora o 92º aniversário. Como não receberam apoio das demais unidades federativas (noves fora Mato Grosso), os paulistas se renderam após três meses de conflito armado, mas nem tudo foi em vão: São Paulo ganhou um interventor paulista e civil e uma nova carta magna foi promulgada (e vigeu até 1937, quando o Estado Novo mudou as regras do jogo).

Observação: Vargas ascendeu ao poder em três ocasiões distintas, duas por golpe e uma pelo voto popular. Depois de apear Washington Luís e pôr fim à República Velha em 1930, o ditador gaúcho deu um autogolpe (1937), instaurou o Estado Novo e se manteve no poder até 1945, quando foi deposto por um golpe militar. Reconduzido à presidência pelo esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim em 1951, o tiranete foi suicidado, digo, suicidou-se com um tiro no peito em 24 de agosto de 1954. Sua carta-testamento terminava com a seguinte frase: "Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História".

Dizem as más-línguas que brasileiro é igual a papel higiênico: quando não está no rolo, está na merda. Com efeito. O povinho de merda que o Criador escalou para esta banânia vive entre a cruz e a caldeirinha, ignora a primeira regra dos buracos, pula da frigideira para o fogo e deste, de volta para aquela. Em 2018, para evitar a vitória de uma marionete de presidiário, o sapientíssimo, guindou ao Planalto o misto de ex-militar e parlamentar medíocre que logo escancarou o viés ditatorial e as pretensões golpistas. 

Em 2022, livrar-se do dejeto da escória da humanidade era impositivo, mas reconduzir ao poder um ex-corrupto descondenado era opcional. E deu no que deu. Assim que tomou posse, Lula criou dezenas de novos ministérios para acomodar aliados de ocasião e nomeou antigos comparsas para as demais pastas. Do palanque, prometeu governar para todos, deixar o país nos trinques e pendurar as chuteiras; no trono, com ares de salvador da pátria, ameaçou concorrer à reeleição "para evitar que trogloditas voltem a governar o país". Se ainda caminhar entre os vivos em outubro de 2026, o macróbio petista estará com 81 anos — a mesma idade que Joe Biden tem hoje. Será que Lula nunca ouviu falar em Efeito Orloff?  
 
Escusado detalhar a sucessão de desditas do desgoverno em curso. Passados 18 meses da coroação, o reizinho segue atribuindo ao "infiltrado de Bolsonaro" a culpa por todas as mazelas que o acometeram desde as 10 pragas do Egito. Parece que não aprendeu nada em suas duas gestões anteriores nem nos 580 dias de férias compulsórias que gozou em Curitiba. "Dirige" o país com um olho no retrovisor e outro nas urnas, o que o torna é incapaz de ver o reflexo do verdadeiro culpado no espelho. 

A Selic a 10,5% a.a. é um problema, nas não uma novidade para Lula: sob sua indigesta sucessora, a taxa passou de 14% a.a. E o problema não é Campos Neto, mas o déficit público, o cenário internacional, a escalada inflacionária e, principalmente, a aversão do presidente ao corte de gastos. 

As contas do reino continuam na enfermaria, mas, indagado sobre o dólar, o sua majestade preferiu falar em "arroz e feijão", substituir as pauladas no chefe do BC pela renovação do compromisso retórico com a responsabilidade fiscal e autorizar Haddad a passar na lâmina R$ 25,9 bilhões do Orçamento de 2025. Isso não resolve o problema, mas ajuda a baixar a febre, até porque, até poucos dias atrás, sua alteza dizia não saber se seria mesmo necessário cortar despesas.
 
Contribuíram para o recuo tático os conselhos de economistas companheiros, que alertaram o reizinho para os efeitos inflacionários da alta do dólar na taxa de juros e, sobretudo, nos humores do eleitorado. Ficou entendido que sua popularidade em 2026 depende da prosperidade que o ministro da Fazenda for capaz de entregar, mas truques novos não ornam com burros velhos, e nosso xamã continua achando que o pescoço de Campos Neto é um ótimo degrau para chegar ao coração da maioria endividada. 

Observação: Eu não era fã de Haddad quando ele foi o poste de Lula na prefeitura de Sampa nem (muito menos) quando se sujeitou ao papel de boneco de ventríloquo do então presidiário mais famoso do Brasil. Minha opinião não mudou, mas reconheço seu empenho em convencer o chefe a não guerrear contra a razão.
 
Depois que "falcatruas" no leilão de arroz puseram a pique seu projeto de autopromoção, Lula tenciona se valer da regulamentação da reforma tributária para propor outra medida populista, qual seja a isenção de impostos sobre a "carne dos pobres". Isso pode até parecer lindo e justo partindo do candidato que prometeu a volta da picanha e da cervejinha do fim de semana, mas faltou explicar como fazer, na prática, para taxar picanha e filé e isentar "pé de frango" e "carne de pescoço".
 
Interromper os cortes na Selic foi uma decisão unânime do Copom. Nem mesmo os diretores indicados por Lula sucumbiram à pressão, já que guardam na memória a crise econômica que teve início quando Dilma forçou uma redução artificial dos juros. Repetir o erro teria um impacto negativo em suas reputações (presidentes da República vêm e vão, mas diretores do BC precisam zelar por suas carreiras). Começa agora o difícil teste de Gabriel Galípolo como futuro presidente da instituição, que terá de se equilibrar entre decisões técnicas, mercado desconfiado e um mandatário populista e intervencionista.
 
Falando em intervencionismo, Lula disse que o STF "não pode se meter em tudo". O cenário já era
nebuloso por ocasião do Gilmarpalooza — 12 empresas que participaram do evento em Lisboa tinham processos em andamento no Supremo. Apenas três ministros (Nunes Marques, Cármen Lúcia e Luiz Fux) declinaram do convite. Gilmar Mendes desdenhou do gasto de R$ 1,3 milhão com passagens, hospedagem e outros mimos a pelo menos 78 pessoas, entre servidores, políticos, seguranças, ministros de Estado e membros do Poder Judiciário. 

Observação: Segundo o portal UOL, algumas togas criticaram internamente o encontro. A mesma reação ocorreu nos anos anteriores, mas nunca foi tão forte quanto neste, e, segundo as pesquisas de opinião pública, metade dos brasileiros diz não confiar no Supremo e em seus ministros.
 
Torçamos para que a democracia que resistiu aos arroubos golpistas de Bolsonaro seja resiliente o bastante para sobreviver a Lula e ao ativismo da cúpula do Judiciário. Mas o que garante essa resistência não é a ação de uns poucos "iluminados", e sim a imprensa independente, as organizações não governamentais, as entidades formadas pelas empresas privadas e a vigilância constante da opinião pública — que barraram o desastroso leilão do arroz estatal e o projeto do Aborto na Câmara.

Triste Brasil.