sábado, 27 de julho de 2024

PRAGAS E MAIS PRAGAS

MAIS VALE ACENDER UMA VELA DO QUE AMALDIÇOAR A ESCURIDÃO.

Os primeiros registros teóricos de programas capazes de se autorreplicar remontam a meados do século passado, mas o vírus eletrônico só foi batizado como tal em meados dos anos 1980 (mais detalhes na sequência Antivírus — A História)

Para verificar se seu smartphone Android foi infectado por algum tipo de praga sem instalar aplicativos de terceiros, toque em Configurações > Assistência do aparelho > Proteção do Aplicativo > Verificar Aparelho e aguarde a conclusão do escaneamento. Vale também acessar a Google Play Store, tocar na foto de perfil (no canto superior direito), depois em Play Protect > Verificar e aguardar resultado da varredura. 

ObservaçãoO Play Protect escaneia o dispositivo Android e oferece a opção "desinstalar" quando detecta um app potencialmente danoso, mas um botão (Rescan) encontrada na atualização 41.9.17 da Google Play Store permite reavaliar o app suspeito antes de proceder à desinstalação. O Google ainda não informou quando a ferramenta será lançada oficialmente, mas tudo indica que ela seja incluída numa das próximas atualizações.

Com a popularização da Internet, o "malware" (de MALicious softWARE) cresceu exponencialmente, e os códigos, que inicialmente eram inocentes e brincalhões, tornaram-se destrutivos e, mais adiante, "ferramentas de trabalho" dos cibercriminosos. É difícil dizer o número exato de ameaças que circulam na Web, já que cada empresa de cibersegurança usa sua própria metodologia para classificá-las em categorias, mas estima-se que elas passem de 1 bilhão, donde a importância de instalar uma. boa suíte de segurança também no smartphone, sobretudo se você o utiliza como opção primária para navegar na Web, gerenciar emails, acessar redes sociais, efetuar transações bancárias, e por aí vai. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Lula teve o desplante de se dizer surpreso com promessa de Maduro segundo a qual um "banho de sangue" tingirá a conjuntura venezuelana caso a oposição prevaleça nas eleições de amanhã. O companheiro foi curto e grosso: "Quem se assustou que tome chá de camomila". E disse mais: "Temos o melhor sistema eleitoral do mundo, com 16 auditorias. No Brasil eles não auditam um único registro." 
O episódio causou irritação no Planalto, mas foi motivo de festa para os bolsonaristas: "Maduro is my friend KKKKKKKKK", postou Bolsonaro no Xwítter. O Itamaraty minimizou a declaração e avaliou como um discurso para o eleitorado de Maduro. O Ministério de Relações Exteriores também considera que Lula já se posicionou ao cobrar respeito aos resultados das eleições brasileiras e que não vale a pena entrar em embate retórico. Mesmo assim, o TSE decidiu não enviar representantes para acompanhar o pleito do próximo domingo. 
Lula talvez devesse buscar a assessoria de uma criança de cinco anos. No teatro infantil, com seus enredos básicos, sua comédia ingênua e seus exageros trágicos, as crianças se integram com facilidade à catarse, participam do espetáculo, torcem pelos heróis e vaiam os vilões. Uma criança teria saltado da cadeira em maio do ano passado, quando Lula recepcionou Maduro em Brasília, e invadido o palco para avisar ao Chapeuzinho Vermelho do Planalto que o Lobo Mau venezuelano não merecia o benefício da dúvida. Faltou a Lula foi um acompanhante infantil com discernimento para alertar que um presidente marcado pelos calos do 8 de janeiro não deveria se meter em apertos antidemocráticos.

Os sistemas macOS, iOS e iPadOS são menos inseguros que o Windows e o Android, mas estão longe de ser muralhas intransponíveis  até porque o interesse dos cibercriminosos é diretamente proporcional à base de usuários. A Apple não municiou seus dispositivos com uma ferramenta de segurança nativa, e tampouco recomenda o uso de soluções de terceiros, mas é preciso ter em mente que o golpe mais aplicado em usuários de smartphones e PCs no Brasil (e em muitos outros países mundo afora) é o phishing, e ainda não foi criada uma ferramenta de segurança "idiot proof" o bastante para proteger o usuário de si mesmo.
 
Ativar a dupla autenticação e desconfiar de tudo e todos é crucial, independentemente da plataforma, a oferta de suítes de segurança para os sistemas da Apple é menor que para Windows e Android. A empresa de cibersegurança russa Kaspersky recomenda o uso de apps com funções antiphishing e antitracking, já que a bandidagem vem priorizando o fator humano em detrimento das brechas de segurança nos softwares.

O Google introduziu recentemente um recurso batizado de Privacidade nos resultados sobre você, que permite retirar informações como nome, email e telefone dos resultados das buscas (embora não os elimine diretamente das páginas web originais). Para fazer uso da funcionalidade é preciso acessar a página de controle de privacidade, clicar em Começar agora, preencher o formulário com os dados pessoais requeridos, escolher entre receber os resultados da varredura por email ou notificação push, analisar a mensagem recebida para verificar os resultados identificados, selecionar as informações desejadas, clicar em Pedir remoção e então (ufa!) acompanhar o status da solicitação pelo mesmo menu.

Boa sorte.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

CÂMBIO MANUAL, AUTOMÁTICO OU AUTOMATIZADO? (PARTE IV)

GENTE QUE PENSA QUE SABE TUDO É UM PÉ NO SACO DE QUEM SABE ALGUMA COISA.


Até pouco tempo atrás, apenas veículos "premium" tinham transmissão automática, mas os brasileiros finalmente se renderam ao conforto proporcionado pela automação: a participação do câmbio manual, que era de quase 80% em 2012, caiu para 37% em 2022 e deve bater nos 5% em 2030 (desconsiderando as picapes compactas, já que apenas 11% são automáticas). 

O pedal da embreagem ainda marca presença em compactos com motores 1.0 aspirados e alguns modelos de viés esportivo, mas as versões de topo de linha são todas automáticas ou equipadas com câmbio CVT (falaremos disso mais adiante). Os veículos com transmissão automatizada, por sua vez, custam menos e são mais fáceis de manter, mas eram 7,5% em 2015 e agora são apenas 1,4%.
 
 O câmbio automático tradicional (com conversor de torque), o CVT e o automatizado são tecnologias diferentes, mas todas desobrigam o motorista de acionar a embreagem e trocar manualmente as marchas. Basicamente, é preciso apenas ligar o motor, colocar a alavanca na posição "D" (de Drive) e dirigir. Nas manobras, basta mudar a alavanca de "D" para "R" (de Ré") — nem é preciso acelerar, pois a função "creeping" faz o carro avançar ou recuar lentamente. Alguns modelos oferecem a troca de marchas sequencial pela própria alavanca ou por "borboletas" (shift paddles) instaladas atrás do volante, mas só é possível selecionar a marcha imediatamente superior ou inferior de cada vez (isto é, não dá para passar de 1ª para 3ª ou reduzir de 4ª para 2ª, por exemplo).

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A despeito de Nicolás Maduro responder a uma acusação de narcoterrorismo e seu governo estar sob investigação no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade, Lula o recepcionou em palácio com pompa e circunstância, disse que ditadura na Venezuela era mera "narrativa", comparou a resistência ao jogo de cartas marcadas naquele país aos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro e deixou claro que via com bons olhos a recondução ao poder do farsante que há duas décadas e meia manipula regras, aparelha instituições, viola direitos humanos, corrompe as Forças Armadas, asfixia a imprensa e inabilita adversários.

Lula louvou por antecipação a "lisura" e o "clima de confiança e entendimento" do pleito marcado para amanhã, e o déspota retribuiu ameaçando um "banho de sangue" e uma guerra civil se ele não for reeleito. Em entrevista a agências internacionais, o petista disse que "ficou assustado" com a declaração do tirante, que ironizou:" "Quem se assustou que tome um chá de camomila".

A poucos dias da eleição, o déspota venezuelano já não faz discursos, despeja no microfone ganidos apocalípticos de um cachorro louco. Seu comportamento consolida o sepultamento do plano do Sun Tzu de Atibaia de mediar um processo de conciliação naquele país. O funeral começou com a inabilitação de Maria Corina Machado, e a cova foi aberta com o bloqueio do registro da candidatura de Corina Youris, o Plano B da oposição. Maduro joga terra em cima da pretensão de Lula ao insinuar que não aceitará uma eventual derrota para Urrutia, o derradeiro representante oposicionista numa disputa marcada pela opacidade, pela sabotagem e por prisões arbitrárias. 
Por mal dos pecados, na Venezuela a posse do presidente eleito acontece quase seis meses depois das eleições — tempo suficiente para o tiranete de merda fabricar seu apocalipse sanguinário. 

Em linhas (bem) gerais, o que diferencia as três tecnologias é o modo como cada uma recebe, desmultiplica e transmite o torque e a potência do motor para as rodas motrizes. Na transmissão automática tradicional, um sistema planetário atua conforme as exigências do propulsor, dispensando as engrenagens de tamanhos diferentes que representam as marchas nas versões manual e automatizada. O conversor de torque faz o papel da embreagem, permitindo que motor e câmbio girem separadamente em rotações diferentes. Como essas rotações são transmitidas por um sistema hidráulico, as trocas de marcha são quase imperceptíveis, mas as arrancadas ficam mais "letárgicas" — quem gosta de queimar pneus e produzir densas nuvens de fumaça deve escolher um automático com motor de responsa, como o Ford Mustang 5.4 GT 500.
 
A transmissão automatizada surgiu em meados do século passado, mas foi somente nos anos 1990 que o avanço dos sistemas eletrônicos e a miniaturização dos componentes permitiram sua aplicação em veículos pesados e, mais adiante, em carros de passeio. Ela utiliza basicamente a mesma caixa de mudanças usada na versão manual, onde um conjunto de eixos, engrenagens de tamanhos diferentes, garfos e luvas de engate produzem as diversas relações (ou marchas, geralmente 5 para frente e 1 para trás), e um sistema de embreagem convencional, só que controlado por um robô que analisa a rotação do motor, aciona a embreagem e seleciona a marcha mais adequada a cada situação específica

Por ser uma solução mais econômica, a transmissão automatizada serviu para atender a demanda dos motoristas que migrariam alegremente para um carro automático se o preço fosse mais palatável. No entanto, enquanto a venda dos automáticos decuplicou na última década, os automatizados vêm perdendo terreno ano após ano — em 2014 eles somaram 178 mil emplacamentos, mas no ano passado não chegaram sequer a 2% do total de veículos emplacados.
 
Como o próprio nome sugere, a transmissão automatizada de dupla embreagem utiliza duas embreagens, uma para as marchas pares e a ré, outra para as marchas ímpares. Quando uma marcha é selecionada, a embreagem correspondente é desacoplada e a outra, engatada simultaneamente, proporcionando trocas mais rápidas e acelerações e respostas mais precisas. Essa tecnologia foi desenvolvido pela BorgWarner nos anos 80, lançada comercialmente pela Volkswagen em 2003 — com o nome de Direct Shift Gearbox (DSG) — e largamente utilizada no automobilismo de alto desempenho por equipes de Rallye e GT, já que as trocas são mais rápidas e precisas.

Ainda que essa solução funcione bem no Porsche 911, na Ferrari 488 GTB, no Lamborghini Aventador e em outros esportivos "de verdade", a ideia de usá-la nos populares para oferecer uma alternativa mais barata ao conversor de torque levou as montadoras a priorizarem o custo em detrimento da eficiência. Nos últimos anos, a Renault deixou de oferecer a opção automatizada para o Sandero e o Logan e a Fiat, para o Uno. Já a Volkswagen preferiu substituí-la pelo câmbio automático "puro" no Gol e no Voyage.
 
Para não encompridar ainda mais este post, trataremos da transmissão continuamente variável (CVT) na próximo capítulo.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE VI)

A CORRUPÇÃO NA POLÍTICA É O RESULTADO DAS ESCOLHAS FEITAS POR ELEITORES APEDEUTAS.
De acordo com a Teoria da Relatividade e até prova em contrário, a velocidade da luz (299.792.458 m/s ou 1,08 bilhão km/h) é o limite máximo possível no universo. Se o universo se expande a uma velocidade superluminal, é porque não são as galáxias que se afastam umas das outras, mas o espaço entre elas que se expande. Isso fica fácil de compreender se imaginarmos o cosmos como uma bexiga de borracha e as galáxias como a inscrição "Feliz Aniversário". Conforme essa bexiga infla, a distância entre as letras aumenta, não por elas mudarem de lugar, mas por acompanharem a expansão resultante da pressão do ar no interior do bexiga.
Acredita-se que os táquions sejam partículas que "já nascem superluminais" e, ao contrário das partículas comuns, ganham ganhem velocidade à medida que perdem energia e se movem para traz na linha do tempo. Cientistas da Universidade de Varsóvia propuseram uma extensão da teoria relatividade especial para explorar a existência dessas hipotéticas partículas. Se ela restar confirmada, o princípio da causalidade será violado, dando azo a paradoxos tão complexos quanto o do Avô e exigindo a reformulação da Transformação de Lorentz.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

"Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso?", pergunta José Luiz Datena. A comparação não é boa. O presidente americano não desistiu de disputar a reeleição, foi empurrado para fora da raia, ao passo que o apresentador da Band é campeão de defecções
Biden, 81 anos, comportou-se como se a velhice pudesse ser sempre deixada para amanhã; Datena, 67, age como se a velhice chegasse para os seus projetos políticos sempre ontem. Flerta com a política há uma década. Passou por 11 partidos. Às vésperas da convenção do PSDB, procura novamente a porta de saída.
Datena vendeu um terreno na Lua a Tábata Amaral ao admitir que poderia ser vice da candidata do PSB. Revendeu a mesma propriedade ao tucanato, adicionando uma vista para os anéis de Saturno. Seria cabeça de chapa, não vice. Depois de se consolidar como uma espécie de conto do vigário no qual todos caem, o jornalista soa como se receasse ser passado para trás: "Desde o começo, falei: se me sacanearam, eu desisto mesmo!"
"Não confio em palavra de político", disse Datena na semana passada. Na prática, ele usa os políticos, fazendo gato e sapato de todos eles. Nesse jogo de malandro e otário, convém lembrar de um ensinamento de Tancredo Neves: "Esperteza quando é muita engole o dono". O risco que Datena corre é o de reservar para o eleitorado no seu enredo o papel de coadjuvante de uma palhaçada.

Num experimento realizado no CERN em 2011, os neutrinos (partículas subatômicas com quase nenhuma massa) teriam superado a velocidade da luz em 60 bilionésimos de segundo, mas verificou-se mais adiante que esse resultado se deveu um erro de medição causado por um cabo de fibra óptica mal conectado. Em 2022, os pesquisadores conseguiram acelerar fótons (partículas elementares que compõem a luz) a velocidades superluminais, mas vale lembrar que os fótons não têm massa. 
 
Observação: Segundo as equações de Einstein, a única coisa capaz de mover uma partícula com massa é uma força que viaje à mesma velocidade. Da feita que a partícula ganha massa conforme sua velocidade aumenta, a massa será infinita à velocidade da luz, e somente uma força igualmente infinita poderia acelerá-la ainda mais.
 
Ultrapassar a velocidade da luz não é a única forma de fazer o tempo retroceder, pois o espaço-tempo pode ser distorcido pela gravidade do horizonte de eventos de um buraco negro. Admite-se a existência buracos de minhoca no interior dos buracos negros, e que eles funcionam como "atalhos cósmicos", interligando dois pontos no espaço-tempo (para entender melhor, dobre uma folha de papel de 30 cm ao meio e veja que, com a folha dobrada, as margens podem ser interligadas por simples grampo).
 
O nome "buraco de minhoca" (wormhole em inglês) advém de uma analogia com o bicho da maçã, que encurta o caminho entre os dois lados da fruta atravessando seu miolo. Da mesma maneira, uma espaçonave que adentrasse um desses "túneis cósmicos" poderia percorrer milhões de anos-luz em poucos segundos e chegar a galáxias diferentes, neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo. Mas os buracos negros já foram avistados e fotografados, enquanto os buracos de minhoca são hipotéticos e não atravessáveis, já se surgem e desfazem numa fração de segundo. 
 
Observação: Curvar o espaço-tempo a ponto de criar um buraco de minhoca exige uma quantidade imensa de energia escura (cujas propriedades ainda não são conhecidas pelos cientistas). Além disso, a distorção que eles criam no espaço-tempo poderia aumentar 100 vezes a duração de uma viagem a Marte (que sonda Mars Insight fez em cerca de 6 meses). 
Na maior velocidade alcançada por uma sonda espacial até agora (635.266 km/h) seria possível ir à Lua em menos de meia hora e chegar ao Sol em cerca de 10 dias, mas uma viagem até buraco negro Gaia BH1 (que fica a 1.560 anos-luz da Terra) demoraria 2.670 anos, o que torna impossível comprovar experimentalmente que o tempo "congela" devido à singularidade que fica oculta em seu horizonte de eventos.
 
Estudos matemáticos dão conta de que um hipotético viajante do tempo que entrasse numa curva rumo ao passado poderia seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações, já que qualquer tentativa de mudar o que já aconteceu criaria uma LTA (linha de tempo alternativa) paralela à LTO (linha de tempo original) a partir do ponto de mudança. Uma vez que a própria chegada ao passado seria por si só uma mudança, nosso hipotético viajante se materializaria numa hipotética LTA, e nada que ele fizesse alteraria o curso da história em sua linha do tempo original.
 
A existência de uma LTA para cada decisão tomada tornaria a viagem ao passado factível, pois eliminaria paradoxos temporais como o do Avô. Mas isso é apenas mais uma teoria não comprovada experimentalmente, e sem múltiplos universos e linhas do tempo alternativas, o efeito borboleta poderia gerar um loop infinito de causas e efeitos, semelhante ao que acontece quando uma pedra jogada num lago cria ondas que se propagam até a margem.
 
Hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e a vida é feita de escolhas. Quando dobramos à direita em vez de à esquerda numa encruzilhada do hoje, desencadeamos uma sucessão de consequências que se espalham no amanhã como as ondas produzidas pela pedra na água do lago. Além disso, as viagens no tempo só fazem sentido se assumimos que o tempo existe e o comparamos a uma estrada pela qual podemos avançar numa velocidade constante, acelerar, desacelerar e até mesmo parar. 
Como já disse alguém, a única certeza que temos é a de que não temos certeza de nada, mas é justamente essa (in)certeza que nos instiga a continuar investigando o mundo que nos cerca.

Continua...   

quarta-feira, 24 de julho de 2024

CÂMBIO MANUAL, AUTOMÁTICO OU AUTOMATIZADO? (PARTE III)

É PRUDENTE NÃO SABER SEGREDOS E HONESTO NÃO OS REVELAR.

 

A função da embreagem é desacoplar o câmbio do motor, permitindo que ambos girem em rotações diferentes. Nos veículos com transmissão manual, ela é acionada por um pedal que, quando pressionado, move o garfo que empurra o rolamento de encosto contra a mola-diafragma do platô, reduzindo a pressão sobre o disco de fricção. Conforme o pedal é liberado dá-se o inverso: o platô pressiona o disco contra o volante do motor, igualando a rotação que o eixo piloto repassa ao sistema de transmissão (câmbio e diferencial).
 
A maior dificuldade dos motoristas aprendizes é dosar o uso do acelerador e do pedal da embreagem, de modo a evitar que o motor "morra" ou que o carro se mova ao trancos. As transmissões automáticas/automatizadas dispensam o pedal da embreagem, tornando o processo mais simples — o motorista precisa apenas a alavanca seletora na posição adequada (detalhes mais adiante), acelerar, frear e controlar o volante da direção.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Mauro Cid percebeu que não importava o que seu chefe dissesse sobre o caso das joias, tudo caia no colo de terceiros, e decidiu delatar quando percebeu que o próximo colo era o dele. Para evitar que Alexandre Ramagem se torne outro Mauro Cid, o capetão apoia sua campanha à prefeitura do Rio, a despeito de as chances de vitória serem pífias — como ensinou Michael Corleone em O Poderoso Chefão II, "mantenha os amigos por perto e os inimigos mais perto ainda".
Semana passada, fantasiado de perseguido político, o ex-presidente repetiu a cantilena golpista que produziu o 8 de janeiro e compôs o pano de fundo contra o qual o TSE decretou sua inelegibilidade. Disse que Lula subiu a rampa pela terceira vez graças a uma fraude — "um dias nós recuperaremos a liberdade de expressão e vocês tomarão conhecimento do que aconteceu no final de 2022" —, recorreu a uma analogia futebolística — "já vimos um time de futebol ser campeão sem torcida, mas um presidente da República eleito sem povo é a primeira vez na história".
Sobre ter fugido para a Flórida na antevéspera do final do mandato, o "mito" se justificou: "Não passa faixa para ladrão". Num instante em que a banda bolsonarista do Congresso articula uma anistia capaz reabilitá-lo politicamente, insinuou que sua carta voltará ao baralho na próxima sucessão: "Quando se fala em 2026, nós temos que passar por 2024."
Graças à pusilanimidade da PGR (a pretexto de "não tumultuar as eleições municipais), o "mito" dos apatetados posa de cabo eleitoral de luxo. Até aqui, ele vem se saindo bem. Como o sujeito que despenca de prédio de 50 andares e repete para si mesmo ao longo de toda a queda: "até aqui, tudo bem."

Em atenção a quem não leu minha sequência sobre veículos "flex" e o "ciclo Otto", nos motores de quatro tempos a mistura ar-combustível, comprimida no interior dos cilindros e inflamada pela centelha produzida pelas velas de ignição, produz o movimento retilíneo (sobe e desce) dos pistões, que as bielas repassem ao virabrequim (ou árvore de manivelas), fazendo girar o volante do motor. O movimento rotacional do volante é dosado pela embreagem (ou pelo conversor de torque, no caso da transmissão automática), transmitido pelo eixo-piloto para a caixa de câmbio, que o desmultiplica e repassa para o diferencial, que faz girar para as rodas motrizes. 
 
Para produzir um ciclo de força são necessários quatro cursos sucessivos dos pistões (admissão, compressão, explosão e descarga), mas só o terceiro é considerado ativo (os demais não produzem energia). Nos tempos de antanho, a mistura era dosada pelo carburador através de "gicleurs" (gargulantes), resultando numa taxa estequiométrica invariável. Com o advento da injeção eletrônica de combustível, sensores estrategicamente posicionados realizam medições em tempo real e enviam os dados ao módulo (centralina), que ajusta a mistura e o ponto de ignição conforme as necessidades, otimizando a queima da mistura e produzindo mais torque e potência com menor consumo de combustível. 
 
ObservaçãoFoi graças à injeção eletrônica que os motores "flex", que funcionam tanto com gasolina quanto com etanol (ou com a mistura de ambos em qualquer proporção) puderam ser desenvolvidos, mas isso é outra conversa.
 
Nos veículos automáticos, o conversor de torque desempenha o papel da embreagem e um conjunto de planetárias, combinado com um sofisticado mecanismo de apoio, produz as relações de transmissão que são repassadas às rodas motrizes. Os modelos automatizados (ou robotizada) utilizam a mesma caixa de câmbio usada nos veículos com transmissão manual, mas o controle da embreagem e a troca de marchas ficam a cargo de um "robô".
 
Nas caixas manuais, um conjunto de eixos, engrenagens, garfos e luvas de engates produz as diversas relações (marchas) que selecionamos através da alavanca de mudanças. O diferencial, que também integra um rebuscado conjunto de engrenagens (coroa, pinhão, planetárias e satélites), desmultiplica a rotação proveniente do câmbio e a direciona às rodas motrizes, permitindo que elas girem em velocidades diferentes durante as curvas — quando as rodas "internas" percorrem trajetórias menores do que as "externas".  Nos veículos com motor e tração dianteiros, esse componente da transmissão fica acoplado à caixa de câmbio; nos modelos com motor dianteiro e tração traseira, ele é instalado entre as rodas motrizes e recebe o movimento rotacional transmitido pelo câmbio através de um eixo longitudinal conhecido como cardan.
 
Conforme foi dito nos capítulos anteriores, veículos equipados com câmbio automático/automatizado custam mais que os modelos com caixa manual, mas não precisar acionar a embreagem e mudar as marchas no trânsito caótico das grandes metrópoles "não tem preço". Também como já foi mencionado, o pedal de embreagem foi suprimido, mas a alavanca de mudanças continua presente no console central ou na coluna da direção (em alguns modelos top de linha, um seletor ou um conjunto de botões faz o papel da alavanca, mas isso já é outra conversa). 
 
Continua... 

terça-feira, 23 de julho de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE V)

SOMENTE OS EXTREMAMENTE SÁBIOS E OS EXTREMAMENTE ESTÚPIDOS NÃO MUDAM DE OPINIÃO.

Viajamos para o futuro do primeiro vagido ao último suspiro e "visitamos" o passado quando olhamos para o céu e vemos é a luz que as estrelas emitiram há milhares, milhões, bilhões de anos, mas viajar no tempo como nos livros e filmes de ficção científica e nas HQs é outra conversa. Embora essa possibilidade seja admitida (com ressalvas) pela Teoria da Relatividade e pela física atual, a tecnologia de que dispomos atualmente não permite acelerar uma espaçonave à velocidade da luz e/ou levá-la até as imediações do horizonte de eventos de um buraco negro

De acordo com a dilatação do tempo e a dilatação gravitacional do tempo, o tempo é relativo. Sua velocidade é inversamente proporcional à velocidade do observador e à força da gravidade. Isso é imperceptível no dia a dia, mas os relógios dos satélites que orbitam a Terra a 20 mil quilômetros de altitude e 28,2 mil quilômetros por hora atrasam 4.45 µs/dia  devido à velocidade e adiantam 33,64 µs/dia por causa da (menor) gravidade. Já um bate e volta a Alpha Centauri a 99% da velocidade da luz seria praticamente instantâneo para os viajantes, mas levaria de 8,5 anos pelo calendário terrestre (mais detalhes neste artigo). Em outras palavras, a nave e seus ocupantes avançaria quase uma década no tempo.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Num editorial com duras críticas à relutância de Lula em pôr fim à gastança, a revista britânica The Economist ressaltou as críticas ao presidente do Banco Central, anotou que as decisões do governo em relação à política fiscal preocupa os investidores e reiterou que Lula insiste em repetir fórmulas fiscais antigas em vez de preparar "sucessores mais jovens para lutar pela reforma de que o Brasil precisa". Dias antes da publicação do editorial, o petista disse que "precisava ser convencido da necessidade de cortar despesas", que não é "obrigado a seguir meta fiscal" e que muito do que é considerado gasto, como recursos para saúde e educação, ele considera como investimento. Londres fica a 8.5 mil quilômetros de Brasília da Fantasia, mas os editores do periódico britânico enxergam Lula melhor que o próprio se enxerga quando se olha no espelho. Como se costuma dizer, de nada adianta trocar as rodas da carroça se o problema é o burro.
 
A possibilidade de qualquer coisa com matéria superar a velocidade da luz
(299.792.458 m/s ou 1,08 bilhão km/h) contraria as equações de Einstein, mas Gerald Feinberg descreveu os táquions como partículas com massa (ínfima) que "nascem superluminais" e ganham energia à medida que perdem velocidade. Essas partículas ainda não foram observadas ao vivo e em cores porque nossa tecnologia não é capaz capaz de detectar algo que se mova tão rápido. Se sua existência for comprovada (o que pode ser apenas uma questão de tempo), o princípio da causalidade (segundo a qual causa precede a consequência) seria violado, já que eles se moveriam para trás na linha do tempo, criando paradoxos tão complexos quanto o do Avô.

Observação:  Um hipotético táquion emitido por um hipotético piloto de uma hipotética espaçonave para um hipotético receptor na Terra se moveria mais rápido que a luz no referencial deste, mas retrocederia no tempo no referencial daquele. Em outras palavras, a resposta chegaria antes da pergunta, e se ela fosse "não envie o sinal", o piloto não enviaria a pergunta e o receptor não teria nada para responder, o que a afronta o lógica básica da nossa realidade.
 
Para verificar se as leis da física realmente conspiram contra viagens ao passado, Stephen Hawking deu uma festa na Universidade de Cambridge e enviou convites com data, hora e coordenadas exatas do local. O fato de ninguém ter aparecido pode ter a ver com a Teoria do Multiverso, segundo a qual existem universos paralelos semelhantes ao nosso, mas com diferenças fundamentais e que tendem ao infinito em progressão exponencial. Talvez existam versões de cada um de nós em universos semelhantes (ou completamente diferentes), e que fazem escolhas diferentes a cada decisão que tomamos (a soma dos universos paralelos quânticos é chamada de Espaço Hilbert).
 
No famoso experimento Schröedinger, um gato é trancado numa caixa e um único átomo decide se ele morre ou sobrevive. Segundo a interpretação de Copenhague, o bichano está num estado de sobreposição quântica — vivo e morto ao mesmo tempo —, e seu futuro é decidido no momento em que a caixa é aberta. Na interpretação de Everett, o universo se separa em dois; o gato está vivo num deles e morto no outro, ou seja, c
ada realidade fica permanentemente conectada aos estados do átomo e só participa de um dos universos paralelos que, uma vez separados, continuam seu próprio caminho sem jamais interagir com os demais.
 
A teoria do multiverso parece menos absurda quando consideramos que os bits da computação tradicional assumem apenas um valor por vez (0 ou 1), mas os qubits (bits quânticos) podem assumir os valores 0, 1 ou 0 e 1 ao mesmo tempo. No
 Multiverso de Nível 3, tudo que pode acontecer de fato acontece. Ao invés de colapsar, as partículas quânticas ocupam todos os lugares ao mesmo tempo, dando origem a múltiplas realidades diferentes no Espaço Hilbert

Em última análise, tudo que observamos é esquisito e confuso... mas Richard Feynman não disse que ninguém compreende realmente a mecânica quântica?
 
Continua...

segunda-feira, 22 de julho de 2024

BUG DO MILÊNIO EM EDIÇÃO REVISTA E ATUALIZADA

VIVA CADA DIA COMO SE FOSSE O ÚLTIMO; UMA HORA VOCÊ ACERTA.


Em meados da década de 1950, quando os primeiros mainframes foram criados, o hardware custava caríssimo e cada byte contava. Os programadores precisavam espremer seus códigos no menor espaço possível, e escrever o ano com dois dígitos em vez de quatro proporcionava uma economia colossal. 

A possiblidade de as máquinas enlouquecerem quando os relógios saltassem de 23h59 em 31/12/99 para 00h00 de 01/01/00 foi relativizada, já que os programas de então estariam mortos e sepultados no ano 2000. No entanto, era preciso manter a compatibilidade dos novos softwares com os antigos, e o jeito foi continuar registrando o ano com dois dígitos. Conforme a "virada" se aproximava, a expectativa de que o "00" fosse interpretado como uma volta a janeiro de 1900 aumentava. Centenas de bilhões de dólares foram gastos com medidas preventivas. Na França, o Crédit Agricole gastou quase € 140 milhões e a France Telecom, € 160 milhões. A empresa de trens francesa SNCF parou seus trens entre 23h55 e 00h15. Mas acabou que o temido bug do milênio foi muito peido e pouca bosta. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Cresce a pressão no Partido Democrata para que Biden desista de concorrer à reeleição. Depois de dizer que só retiraria sua candidatura se sua saúde o exigisse, o macróbio foi diagnosticado com Covid e cancelou um comício que faria em Las Vegas. Trump, por sua vez, renovou o entusiasmo num discurso de mais de uma hora em Milwaukee. Começou emotivo, pregando união e prometendo "um amanhã rico e maravilhoso” para cidadãos de todas as raças, religiões, cores e credos", mas o tom ameno foi abandonado. Quando parou de ler o teleprompter, o peruquento voltou a atacar democratas e a chamar imigrantes de criminosos, a falar em fraude eleitoral, referir-se à Covid como "vírus chinês", a mentir sobre dados da inflação e a desenhar um país à beira do apocalipse. Repetiu o mote "drill, baby, drill" — espécie de grito de guerra pró-exploração de petróleo e gás — e afirmou não ser "inimigo da democracia", mas seu "salvador". Como se costuma dizer, o lobo perde o pelo, mas não abandona o vício. Entrementes, aliados da vice-presidente Kamala Harris vêm se movimentando nos bastidores para garantir que ela seja a escolhida como líder da chapa caso Biden se afaste. A ver o que vai dar.

Não se sabe se o dinheiro investido ajudou a evitar o desastre, já que as falhas foram igualmente pontuais na Itália, na Coreia do Sul e em outros países que não investiram em prevenção. No Brasil, o governo federal montou uma "sala de situação" do setor elétrico. O governador de São Paulo criou um site para acompanhar os efeitos da "catástrofe" no Estado e o prefeito da capital, antevendo a possibilidade de panes em semáforos causarem congestionamentos monstruosos, colocou 2.700 funcionários da CET de prontidão. Mas os relógios deram meia-noite e nada de incomum aconteceu. Não no réveillon de 2000, pelo menos.
 
Na última sexta-feira (19), um "apagão cibernético" levou ao cancelamento de milhares de voos, causou problemas de comunicação em várias partes do mundo e paralisou sistemas bancários e serviços de emergência. Os impactos foram mais sentidos nos EUA, na Austrália e em alguns países europeus, mas aplicativos do Bradesco, Pan, Neon e Next e fintechs amanheceram com problemas também no Brasil. Nas redes sociais, memes com os dizeres"o bug do milênio chegou 24 anos atrasado" e que "deveria ser rebatizado de Bug Rubens Barrichello" começaram a pipocar já no início da manhã.
 
Pivôs do imbróglio, Microsoft e CrowdStrike se apressaram a identificar e corrigir o "problema subjacente", mas reconheceram que intermitências pontuais poderiam persistir por horas ou dias a fio, já que a natureza do problema exigia a reinicialização manual dos sistemas afetados. 
Em entrevista à imprensa, o CEO da CrowdStrike — empresa de segurança cibernética reconhecida mundialmente por seu sistema de detecção e resposta a ameaças — reconheceu que um bug numa atualização do Falcon Sensor foi o responsável pelas falhas do Azure da Microsoft e pediu desculpas pelo transtorno (nem o Linux nem MacOS apresentaram instabilidades).  
 
Mais de 29 mil clientes CrowdStrike utilizam o Falcon, incluindo empresas dos setores de varejo, saúde, serviços financeiros. A ferramenta inspeciona tudo que acontece nas máquinas para prevenir e neutralizar ataques, mas a falha na atualização de sexta-feira foi fatal para o Windows 
— que, ironicamente, é useiro e vezeiro em brindar os usuários com atualizações problemáticas

Menos de 1% dos computadores corporativos com o sistema da Microsoft foram afetados pela falha (pior seria o problema tivesse sido causado um ataque hacker, já que isso abalaria seriamente a credibilidade do Falcon, que serve justamente detectar e prevenir ataques cibernéticos). Como os criminosos se valem de casos de grande repercussão para disparar mensagens com instruções enganosas e ludibriar suas vítimas, recomenda-se aos usuários domésticos do Windows redobrar os cuidados com mensagens que usem a CrowdStrike como gancho. 

ObservaçãoUma reedição revista e atualizada do "bug do milênio" deve ocorrer às 3h1min7 de 19 de janeiro de 2038, quando os processadores de 32 bits, que contam o tempo desde 1970, chegarão ao limite de segundos e pararão de funcionar, continuarão funcionando com a data errada ou iniciarão uma contagem regressiva de  2.147.483.647 até zero. Atualmente, a maioria dos chips é de 64 bits, mas alguns sistemas usados na operação de servidores ainda são baseados na arquitetura de 32 bits. Enfim, quem viver verá.

Barbas de molho, pessoal.