quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

WHATSAPP — NOVAS OPÇÕES DE PERSONALIZAÇÃO

TODA PARTÍCULA EM SUSPENSÃO NA ATMOSFERA SEMPRE TEM UM OLHO A SUA ESPERA.

 

Uma recente atualização do WhatsApp permite definir novas cores e papéis de parede para seus chats, seja escolhendo entre opções disponíveis, seja utilizando imagens salvas na galeria de fotos.

Diferentemente do que ocorre no Messenger e na seção de mensagens diretas do Instagram, o tema aplicado no mensageiro da Meta só vale para o lado da conversa de quem o aplicou, ou seja, participantes de grupos e contatos de conversas individuais continuarão com os ajustes que eles próprios definiram.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

A PF encontrou no laptop de Mauro Cid o plano de fuga que Bolsonaro pôs em prática na antevéspera da posse de Lula, para acompanhar de um distancia segura os desdobramentos do 8 de janeiro. Entre a confirmação da derrota nas urnas e a fuga para a Flórida, o ainda presidente desapareceu do cercadinho e parou de gravar as tradicionais lives de quinta-feira. Atribuiu-se o autoexílio à melancolia, mas, a portas fechadas, o "gabinete do golpe" funcionava a todo vapor.
Em terra plana de cego, bolsonarista que tem um olho jamais dirá que seu amado líder está nu. Mesmo passando o dedo na sola do sapato e lambendo, essa choldra não admite que pisou na merda. Nem a suspensão do sigilo do inquérito do golpe iluminou as trevas onde vivem os devotos do "mito" — que até aqui se livrou de uma prisão preventiva, mesmo quando escondeu seu medo da cadeia na Embaixada da Hungria, provando que, em situações de perigo, pensa com as pernas. 
Somente neste mês, quatro militares e um policial federal foram presos preventivamente sob a suspeita de planejar um golpe de Estado que matar Lula, Alckmin e MoraesCom essas decisões, o ministro já determinou ao menos 64 ordens desse tipo desde 2020 (sem contar os casos relacionados aos participantes das invasões dos prédios dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023), mas Bolsonaro continua solto, destilando seu veneno. Fazer o quê? Num país presidido por um ex-presidiário "descondenado", o grotesco não chega a surpreender. 
As chances de o pedido de afastamento de Moraes do inquérito envolvendo a tentativa de golpe são subzero. O presidente do STF rejeitou o recurso em fevereiro, e tudo indica que o resultado será o mesmo no plenário virtual — o julgamento começa amanhã, a partir de quando as togas terão uma semana para votar.
Outro pedido de impedimento de Moraes, protocolado na última segunda-feira, será distribuído por sorteio a outro ministro. Na peça, os advogados anotaram que "a absurda presença de um julgador que se considera vítima dos fatos investigados em feitos sob a sua própria relatoria [...] é uma afronta direta ao princípio da imparcialidade, que é essencial para garantir um julgamento justo e equânime". Considerando que, na avaliação dos ministros, a vítima da tentativa de golpe era o sistema democrático, não Alexandre de Moraes, o desfecho também deve ser o indeferimento.

Para personalizar seus chats:
 
1) Abra o WhatsApp, toque em Configurações > Conversas > Tema de conversas padrão > Temas;
2) Selecione uma das opções e deslize a tela para esquerda e para direita para navegar entre os temas pré-definidos;
3) Toque nos botões (na parte inferior da tela) para acessar as opções de personalização do tema;
4) Selecione a opção que mais lhe agradar, toque em Definir (no topo da tela) e confirme.
 
Para criar seu próprio tema, retorne à tela de Tema da Conversa e, em Personalizar, toque em Cor da conversa, selecione a cor desejada (deslize a tela para os lados para ver mais opções), toque no ícone de lua (na parte inferior da tela) caso queira deixar o tema noturno, depois em Definir e confirme.
 
Volte à tela de Tema da Conversa, toque em Papel de parede, deslize a tela para cima e para baixo para ver as opções e sobre elas para ver uma prévia. Se quiser uma cor sólida, clique em Definir cor e escolha uma cor para o plano de fundo; se preferir uma foto da galeria, toque em Escolher no Fotos (ou algo semelhante), escolha uma imagem da sua galeria, toque em Definir e confirme. 
 
Além de alterar o tema de todas as conversas, você pode definir um ajuste de cor e plano de fundo para cada chat. Par isso, abra a conversa, toque sobre o nome do contato e em Tema da conversa. Em Temas, toque numa das opções, deslize a tela para os lados para navegar entre os temas pré-definidos, toque nos botões na parte inferior da tela para acessar as opções de personalização do tema, escolha o tema desejado, toque em Definir e confirme.
 
Também nesse caso você pode criar seu próprio tema retornando à tela Tema da Conversa, tocando em Personalizar, em Cor da conversa, escolhendo a cor desejada, tocando em Definir e confirmando em seguida. Feito isso, retorne mais uma vez à tela de Tema da Conversa, toque em Papel de parede e siga os mesmos passos sugeridos para a personalização "por atacado".

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

AINDA SOBRE O CÂNCER E A METÁSTASE

A CORRUPÇÃO É A MAIOR DAS INVENÇÕES POLÍTICAS. ELA TÃO GRANDIOSA QUE, SE ACABAR, ACABAM OS POLÍTICOS.

Em 1993, o general Ernesto Geisel qualificou Jair Bolsonaro como anormal e mau militar. Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Geisel era um sábio; Pelé e Figueiredo eram profetas e não sabiam.
 
Em 2021, o empresário Paulo Marinho — que transformou a própria casa em estúdio de programa eleitoral para a campanha bolsonarista de 2018 — disse que Bolsonaro sabia que seria preso pelos crimes que havia cometido e ainda cometeria até o final de seu mandato, e planejava "virar a mesa". 
Marinho era um vidente: meses depois, farejando a derrota nas urnas, Bolsonaro rosnou que só haveria eleições se houvesse voto impresso. 

Ao longo de sua passagem pelo Planalto, Bolsonaro incitou ou participou pessoalmente de manifestações pró-ditadura, promoveu "motociatas", cavalgou pela Explanada dos Ministérios (mimetizando o ex-chefe do SNI, Newton Cruz) e articulou um desfile de tanques defronte ao Congresso (para pressionar os parlamentares a aprovar a PEC do voto impresso). 
 
Sempre que se via ameaçado, o capetão fingia recuar. Mas pau que nasce torto morre torto, e ele logo reencarnava o "anormal e mau militar" que, numa democracia séria, seria inexoravelmente apeado do cargo. Mas o Brasil é uma republiqueta de bananas, e o antiprocurador-geral, o imperador da Câmara e o próprio STF fingiram não ver o que o pior mandatário desde Tomé de Souza estava fazendo.  
 
Sem a blindagem do cargo, inelegível até 2030 e na bica de ser processado criminalmente, Bolsonaro admitiu em entrevista ao portal UOL que, se sua prisão for decretada, ele pode se refugiar em alguma embaixada (como fez em fevereiro, quando passou dois dias na embaixada da Hungria, após ter o passaporte apreendido). 
Se a fala foi um ato falho ou uma estratégia para se promover de "perseguido" a "preso político" e causar "comoção social", só saberemos com o desenrolar dos acontecimentos. 
 
De acordo com o relatório da PF, o ex-presidente planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa. O golpe de Estado e da abolição do Estado Democrático de Direito só não se consumou devido a circunstâncias alheias à vontade dos golpistas. O próprio Bolsonaro admitiu que discutiu com militares a decretação de estado de sítio, de defesa, e a utilização do famigerado artigo 142. 
 
Mauro Cid montou em slides um plano de fuga para o chefe e produziu fake news sobre hackers terem encontrado vulnerabilidades nas urnas. A célebre "minuta do golpe" foi apresentada aos comandantes, e o plano "Punhal Verde e Amarelo" foi impresso no Palácio do Planalto pelo então secretário-executivo da Secretaria-geral da Presidência, general Mário Fernandes.
 
Os militares golpistas não têm do que se queixar, pois o golpe veio. Não na forma da ditadura que eles desejavam, mas como um conto do vigário em que eles caíram. Tudo que parecia ser deixou de ser quando Bolsonaro, já então indiciado, negou ter discutido o golpe e classificou o plano de assassinar Lula, Alckmin e Moraes de "papo de quem tem minhoca na cabeça". E como o Brasil é o país da piada pronta, sua defesa diz agora que o golpe não beneficiaria seu cliente, mas uma junta comandada pelos generais palacianos Braga Netto e Augusto Heleno.
 
O abantesma do Planalto assombrou a democracia por quatro anos com o bordão do "meu Exército". Se ele e seus acólitos fardados não concordavam em tudo, pelo menos não discordavam no golpismo. Mas a tentativa de instrumentalizar as FFAA falhou no atacado, e, no varejo, seu ex-comandante-em-chefe arrastou para o rol de indiciados 25 fardados (67,5% do total de candidatos à tranca).
 
A caminho do patíbulo supremo, o verdugo do Planalto se apega ao cinismo como um náufrago se agarra a um jacaré pensando ser um tronco. Se perguntasse ao general Mário Fernandes, preso preventivamente, o que ele está fazendo "lá dentro", Bolsonaro talvez ouvisse do redator do plano que previa os assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes: "O que você está fazendo aí fora?"

ObservaçãoComeça a ser julgado nesta sexta-feira, no escurinho do plenário virtual, o recurso de Bolsonaro que postula o afastamento de Moraes do inquérito do golpe, já que, por ser vítima, não poderia relatar e julgar o caso. Segundo a PGR, o que o ex-presidente pretende é usar o julgamento para tentar convencer a população de que vem sendo perseguido por "Xandão". O pedido foi rejeitado monocraticamente pelo presidente das togas em fevereiro; nos bastidores, dá-se de barato que o resultado do recurso será o mesmo.

O "mito" dos sem-noção continua dizendo que disputará a Presidência em 2026, mas a Operação Contragolpe reduziu a subzero suas chances de reverter a inelegibilidade no TSE, de modo que ele já admite delegar ao filho Eduardo o papel de bonifrate (como fez Lula com Haddad em 2018). 

O ex-presidiário do mensalão, dono do PL e integrante da lista de 37 indiciados pela PF sugeriu lançar a candidatura de Flávio Bolsonaro, mas uma parte da legenda avalia que, por estar mais conectado com a militância de direita que baba os ovos de Trump, o ex-fritador de hambúrgueres que quase virou embaixador seria uma opção melhor que o senador das rachadinhas. Como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado também estão de olho no Planalto, a disputa será acirrada. 
 
Cabe ao STF reaproximar o capitão golpista do seu exército de traíras. Uma sentença criminal está de bom tamanho para o reencontro. Em "Canção da América", Milton Nascimento e Fernando Brandt ensinam que "amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves". 

No mínimo, a 28 anos de cana.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM...

... E O TEMPO RESPONDEU AO TEMPO QUE NÃO TEM TEMPO PRA DIZER AO TEMPO QUE O TEMPO DO TEMPO É O TEMPO QUE O TEMPO TEM.

A diferença na passagem do tempo para objetos que se deslocam em velocidades diferentes é um dos aspectos mais discutidos e menos compreendidos da Teoria da Relatividade. Seus efeitos fazem parte do nosso dia a dia, mas as "dimensões sobre-humanas" envolvidas — foguetes e gêmeos que viajam em naves espaciais, etc. — dificultam a compreensão desse fenômeno.
 
Certa vez, um leigo pediu a Einstein que trocasse em miúdos a "relatividade do tempo", e o físico respondeu: "Coloque a mão na chama de um fogão e um minuto lhe parecerá uma hora; sente-se junto daquela 'pessoa especial' por uma hora e essa hora lhe parecerá um minuto."

Por levar em conta nossas emoções, expectativas e o quanto as tarefas exigem de nós num determinado período, nosso cérebro registra a passagem do tempo de maneira "flexível". Segundo estudos recentes, até o idioma que falamos e o sistema de escrita que adotamos (da esquerda para a direita ou vice-versa) fazem diferença. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Ministros do STF avaliam que o relatório da PF fortalece a possibilidade de a PGR apresentar uma única denúncia contra Bolsonaro, reunindo elementos ligados à trama golpista, às joias sauditas e à fraude em cartões de vacina, pois se tratava de uma "única organização criminosa". 
As provas obtidas mostram que o ex-presidente teve participação no planejamento e na atuação dos atos para a viabilização do golpe, que acabou não ocorrendo "em razão de circunstâncias alheias à sua vontade". 
A partir de 6 de dezembro, no escurinho do plenário virtual, as togas decidirão sobre o pedido de afastamento de Moraes da relatoria dos inquéritos. Nos bastidores, dá-se de barato que Bolsonaro receberá um não como resposta. 
Estima-se que o PGR denunciará os 37 indiciados  no primeiro trimestre de 2025 — num país sério como o nosso, não faz o sentido uma parte do Judiciário trabalhar durante o recesso para apressar o julgamento dessa "suposta" tentativa de golpe. 
Uma vez denunciados e convertidos em réus, Bolsonaro e seus asseclas serão julgados em plenário e condenados por 9 a 2 (vencidos os votos de Nunes Marques e André Mendonça). Isso se o ex-presidente não fugir antes (detalhes no post de amanhã). 
Os kids pretos vigiaram Lula durante dois meses. A PF deveria fazer o mesmo em relação a Bolsonaro, que, em situações de perigo, tem o hábito de pensar com as pernas.
 
Cronos era o deus do tempo na mitologia grega (e devorava os próprios filhos, mas isso é outra conversa), daí usarmos o termo “cronológico” para situar eventos em nossa linha temporal. Mas não se sabe se o tempo passa para nós, se somos nós que passamos por ele, ou se ele é apenas uma convenção criada para colocar alguma ordem no caos. Mas isso não muda o fato de que "viajamos rumo ao futuro" desde o instante em que nascemos e "visitamos o passado" quando olhamos as estrelas, pois o que vemos no céu é a luz que elas emitiram há milhões ou bilhões de anos. 
 
Nossos ancestrais começaram a contar o tempo quando perceberam padrões no amanhecer, no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. Os ciclos diurnos e noturnos foram provavelmente as primeiras unidades de tempo usadas pelos humanos, e as fases lunares, uma das primeiras maneiras de dividir o tempo em períodos maiores, o que ensejou a criação dos calendários lunares. 
 
Consideramos o tempo como o pano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. De acordo com o princípio da causalidade, as causas sempre precedem as consequências, e é por isso que o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje faz o mesmo em relação ao que vai acontecer amanhã. Mas o tempo não é o mesmo em todos os lugares. Um relógio sobre um móvel não marca o mesmo horário de outro que está no chão, assim como o tempo de quem está na praia é diferente do tempo de quem está no topo do Monte Everest. Quanto mais próximo do centro da terra, maior a força da gravidade e mais lenta a passagem do tempo.


O físico italiano Carlo Rovelli ensinou que aquilo que chamamos de tempo é um emaranhado de camadas de fenômenos que podem ser relevantes para alguns e irrelevantes para outros. Se nossas medições fossem precisas o suficiente, veríamos que o tempo corre em velocidades diferentes, dependendo de onde está o observador e de como ele se movimenta. Só não percebemos essas diferenças porque as velocidades que experimentamos no dia a dia são muito pequenas

 

Para atestar a irrealidade do tempo usando o pensamento lógico e um baralho, o filósofo e matemático britânico J.M.E. McTaggart dividiu as cartas em duas pilhas, ordenou-as cronologicamente na primeira e aleatoriamente na segunda, e concluiu que a noção de tempo linear (como na primeira pilha) não basta para capturar a realidade dos eventos, e que sem a ordem temporal (na segunda pilha), os eventos ainda existem, mas não há um "antes" ou "depois". 

 

Num segundo experimento, McTaggart dividiu as cartas em três pilhas, e a introdução da terceira pilha demonstrou que, mesmo que tentemos classificar os eventos em termos de passado, presente e futuro (como na segunda pilha), a realidade dos eventos (terceira pilha) não depende dessa categorização. Diante disso, o tempo não é uma propriedade objetiva do universo em que vivemos, e se ele é um processo que precisa de tempo para acontecer, é preciso tempo para descrever o tempo, e se essa circularidade viola a lógica, então o tempo não existe de verdade.


Segundo Stephen Hawking, se o calendário fosse apenas uma convenção, nossa existência estaria pré-definida desde o Big Bang. Se tudo que existe fosse um efeito-cascata de causas e consequências, o plasma de quark-glúon dos primeiros instantes do universo já estaria destinado a dar origem à matéria, às estrelas, aos planetas e a formas de vida como nós. Na esteira desse raciocínio, nossa correria para cumprir prazos e horários se deve a uma ilusão criada por nós mesmos, da mesma forma que o coelhinho da Páscoa foi criado para impulsionar a venda de chocolate.
 
À luz da física tradicional, o tempo é uma dimensão real tão fundamental quanto o espaço — que Einstein unificou com o tempo num tecido contínuo que ele batizou de espaço-tempo. Mas mesmo que possamos viver nossa vida baseados na ilusão útil do tempo e assumir que tudo é uma sequência de momentos independentes, ainda temos de acordar na hora certa todas as manhãs. Mas há controvérsias. 

 

Para descobrir se, sem a referência das horas, nossos ciclos de sono, alimentação e produtividade se mantém normalmente, o cientista francês Michel Siffre viveu dois meses numa caverna escura, a 130m de profundidade, sem relógio nem qualquer outra maneira de saber o tempo. A única fonte de luz de que ele dispunha era uma lâmpada de mineração, que ele usava para cozinhar, ler e escrever em um diário pessoal. Sempre que se comunicava com a equipe, ele media o próprio pulso e contava os segundos até 120, mas o tempo real cronometrado por seu staff girava em torno de 5 minutos. 

 

Siffre concluiu que, sem os indicadores naturais ao longo dia (como nascer e pôr-do-sol), seus ciclos passaram a ser de 48 horas ao invés de 24. O experimento deveria ter durado 30 dias, mas ele só deixou a caverna depois de 2 meses depois — que lhe pareceram menos de um, pois seu tempo psicológico foi reduzido a menos da metade do tempo cronológico. Suas anotações deram origem ao livro "Beyond Time", lançado em 1964. 

 

Siffre morreu em agosto passado, aos 85 anos de idade. Ao longo de meio século de carreira, ele colaborou com diferentes organizações, entre as quais o Exército francês, que financiou um experimento visando descobrir se um soldado poderia duplicar sua atividade em estado de vigília, e a Nasa, que o procurou para entender os efeitos de missões espaciais de longa duração nos astronautas.


Continua...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A METÁSTASE OCORRE QUANDO O CARCINOMA NÃO É EXTIRPADO A TEMPO

ABYSSUS ABYSSUM INVOCAT.

Napoleão de hospício que se preza come merda e rasga dinheiro. Não é o caso dos idiotas úteis que depredaram as sedes dos Poderes, nem dos autores e executores palacianos da tentativa malsucedida de golpe de Estado. 

Mesmo que essa choldra viva num universo paralelo, surtos coletivos de demência não explicam tudo, e rompantes não duram tanto tempo nem atingem igualmente pessoas com etnias, gêneros, idades e profissões diferentes. 
 
O argumento da trama fornecido por Bolsonaro em sua trajetória pavimentou o caminho para o golpe de Estado que, por amadorismo ou excesso de confiança dos artífices, não levou em conta a possibilidade do fracasso nem os ensinamentos do Conselheiro Acácio sobre consequências.

O intentona não prosperou porque os comandantes do Exército e da Aeronáutica se recusaram a participar, mas o ataque orquestrado contra as instituições da República e o Estado Democrático de Direito pode render ao ex-presidente 28 anos de prisão e outros 30 de inelegibilidade (sem falar nos inquéritos sobre as joias sauditas e os cartões de vacinação fraudados).
 
Em entrevista a jornalistas bolsonaristas da revista Oeste, Bolsonaro se referiu ao relatório de 884 páginas da PF como "peça de ficção da PF" e fez um patético apelo ao STF: "Vamos pacificar, zera o jogo daqui para frente". 

Se vivêssemos num país sério, o então presidente teria sido apeado por um dos 145 pedidos de impeachment que Arthur Lira engavetou — ou pelos crimes apontados no relatório da CPI da Covid — que Augusto Aras se escusou de denunciar. Como vivemos numa republiqueta de bananas, a pergunta que não quer calar só será respondida objetivamente pelo STF, dono da palavra final (ou do direito de errar por último, como fez ao anular as condenações de Lula com base numa duvidosa incompetência territorial).
 
A Lei da Anistia sancionada pelo presidente-general Joao Batista Figueiredo em 1979 passou uma borracha nos crimes políticos e conexos cometidos durante a ditadura militar, mas não apagou a memória do período, e a desconfiança sobre a submissão das Forças Armadas ao poder civil revelou-se justificada na conspiração bolsonarista, cujos detalhes mais estarrecedores foram revelados recentemente pela Operação Contragolpe. 
 
Num pais sério, o Judiciário faria serão para denunciar, processar e julgar Bolsonaro e outros 36 indiciados. Como vivemos numa republiqueta de bandanas, a denuncia só deve acontecer depois do recesso de final de ano, e, se for aceita, a sentença deve sair somente no segundo semestre (para não "contaminar" as eleições de 2026). 

Mas o escárnio não para aí: enquanto o plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes era revelado pela PF, o Congresso debatia a anistia dos presos do 8 de janeiro (e, por antecipação, de Bolsonaro e seus comparsas), sob o pretexto de que o Brasil só será pacificado com a soltura dos "presos políticos" e a concessão de perdão aos demais.
 
Classificar criminosos como "presos políticos" não é apenas distorcer os fatos, mas alimentar uma realidade paralela que serve de base psicológica para os envolvidos nos atentados contra o Estado Democrático de Direito. Transformar em vítimas criminosos que atentaram contra a democracia e depredaram o patrimônio público, histórico e artístico do país é inconcebível.
 
A articulação que adiou temporariamente a votação do projeto de anistia deveu-se ao fato de o imperador da Câmara ver a proposta como uma moeda de troca para barganhar vantagens junto ao Executivo. Enfim, considerando que o golpe, se bem-sucedido, ensejaria a criação de um Estado de Exceção onde as funções republicanas do Congresso não seriam respeitadas torna a defesa da anistia por deputados e senadores totalmente incompreensível. 
 
Segundo o pai da psicanálise, as massas não distinguem verdades de ilusões. No caso em tela, o fanatismo coletivo limita a capacidade cognitiva individual, levando cada "convertido" a agir em grupo como jamais agiria sozinho — cantando o hino nacional para pneu ou pedindo ajuda a ETs, por exemplo — e chegando ao cúmulo de acreditar que está engajados numa batalha divina do bem contra o mal. 
 
Francisco Wanderley Luiz, autor do atentado com bombas na Esplanada dos Ministérios, associava a esquerda ao satanismo em suas redes sociais. Para o policial e os quatro kids pretos presos pela PF, morrer em nome de um "bem maior" era aceitável. Com o raciocínio embotado pelo proselitismo fanático, esses lunáticos se veem como "patriotas e cristãos" e enxergam as instituições republicanas como uma ameaça à ordem democrática e aos pilares da verdadeira fé. Não fosse trágico, seria cômico.
 
A preservação do império da legalidade recomenda enfaticamente a superação do ambiente polarizado sob o qual vivemos há anos. Enquanto a vontade retórica que frequenta discursos não se materializar em ações efetivas, os adversários continuarão se vendo como inimigos a serem aniquilados. Pacificar o país é fundamental, mas dizer que isso só é possível mediante uma anistia ampla, geral e irrestrita aos golpistas e assemelhados é um escárnio. 
 
Bolsonaro e compostura jamais frequentaram os mesmos saraus, mas até a aleivosia tem limite. Se não houve uma trama golpista, como ele afirmou na entrevista, basta-lhe uma boa defesa. Se houve, o caso é de cadeia, não de anistia preventiva. Pedir clemência àqueles que seus cúmplices planejaram assassinar é o cúmulo do cinismo, e insinuar que a pacificação nacional depende da ressurreição de um messiânico com pés de barro é levar o descaramento às fronteiras do paroxismo. 
 
Acometida de cegueira mental, a récua bolsonarista continua enxergando o santarrão de pau oco, sujo com poleiro de galinheiro, como um "guia dos patriotas", conquanto as evidencias revelem que seu "messias" não serve sequer para guia de cego. Mas não há como aceitar que a culpa é da loucura alheia. Se doidos há, por trás deles estão os dirigentes do hospício, delinquentes muito conscientes de sua orientação à guerra. 
 
A atmosfera radicalizada é terreno fértil para defensores de rupturas, e aqueles que pretendem combatê-los com o uso das mesmas armas, ainda que retóricas, fomentam a dinâmica do atrito. A política é a arte de construir convergências preservando as divergências das visões de mundo. Hegemonias absolutas não ornam com democracia, mas alcançá-las parece ser o intuito dos extremistas, que pretendem prevalecer sobre as demais correntes de pensamento.
 
Uma filosófica anedota sobre a criação do mundo explica por que Bolsonaro e Lula são as figuras politicas que mais despertam emoções — tanto positivas quanto negativas —, a despeito de suas visões de mundo — que cada qual deturpa a sua maneira — afrontarem os "não-convertidos" (também chamados de "isentões"). O primeiro está inelegível até 2030, e pode estar cumprindo pena por ocasião das próximas eleições. O segundo, se ainda caminhar entre os vivos em 2026, estará com 82 anos, e ainda mais caquético do que se mostra atualmente. 
 
Com a aprovação em queda, a inflação em alta e o dólar na casa dos R$ 6 (pela primeira vez na história). Nem mesmo o pronunciamento do futuro presidente do BC (indicado por Lula para substituir Campos Neto a partir de 1º de janeiro de 2025) ensejou uma correção de baixa. 

A aversão do xamã petista ao corte de gastos deu azo à procrastinação do anuncio das medidas econômicas que o mercado financeiro esperava havia semanas, e o desconforto dos investidores cresceu ainda mais com o aumento da faixa de isenção do IR: o Ibovespa encerrou novembro aos 125,667,83 pontos, projetando uma baixa acumulada de 3,93% no mês e de 7,14 no ano. 
 
Como se nada mais importante houvesse para noticiar, a mídia reverbera pesquisas eleitoreiras prematuras, que exploram hipotéticas disputa entre Lula, Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro, Ronaldo Caiado, Ciro Gomes e Simone Tebet — não sei como excluíram Marçal e Datena desse abominável exercício de futurologia. Embora o capital eleitoral do ex-verdugo do Planalto permaneça relevante a despeito de sua inelegibilidade, os parlamentares do Centrão são conhecidos por carregar o caixão, não por pular na cova com o defunto 
 
Bolsonaro tentou se lançar como ditador, mas o golpe deu errado, e pode sepultar sua carreira política. Além disso, os inquéritos que tratam das joias sauditas e da fraude nos cartões de vacina têm potencial para jogar a derradeira pá de cal sobre o esquife. Embora ele se compare aos perseguidos políticos na Venezuela, Nicarágua e Bolívia, porém os contextos são totalmente diferentes. 

As investigações da PF promoveram o achismo a convicção, com fatura de provas de crimes variados. Durante sua gestão, Bolsonaro foi blindado pelo antiprocurador-geral e pelo soberano da Câmara, mas a blindagem terminou quando as urnas lhe negaram um segundo mandato e a PF comprovou sua participação na tentativa de subversão do Estado Democrático de Direito.

O que se espera não é achismo nem um paralelo com o que acontece fora do Brasil, mas a pura e simples aplicação da lei penal brasileira a quem cometeu crimes. É isso que Bolsonaro merece, e é isso que ele deve obter se não fugir do Brasil. 

domingo, 1 de dezembro de 2024

PICANHA X CONTRAFILÉ

NOSSOS POLÍTICOS SÃO COMO AMANTES ARGENTINAS; QUANTO MAIS CEDEMOS A ELES, MAIS ELES TOMAM DE NÓS. 

A picanha — cujo nome deriva de uma vara usada pelos vaqueiros para tocar o gado nos pampas — foi considerada carne de segunda até meados da década de '70, quando então passou a ser servida pelas churrascarias. 

Atualmente, o corte é sinônimo de churrasco no Brasil e em outros países, ainda que com nomes diferentes ("poyo" no Uruguai e Paraguai, "llomo" no Chile e Peru, "cuadril" na Argentina, "rump cover" nos EUA e "rump cap" na Austrália e Nova Zelândia). 

 

A diferença entre cortes "de primeira" e "de segunda" não está no valor proteico, mas no sabor, que depende da quantidade de gordura e da maciez, que varia conforme o trabalho muscular realizado pela região do boi de onde a carne é extraída. Pescoço, peito, braço, acém e outros cortes dianteiros costumam ser duros e fibrosos, ao passo que filé-mignon, contrafilé, alcatra, picanha e outros cortes traseiros tendem a ser mais macios e suculentos.
 
A picanha começou a ser separada da alcatra no final dos anos 1950. Segundo o açougueiro húngaro Laszlo Wessel, os imigrantes alemães que trabalhavam na fábrica da VW usavam-na para preparar o tafelspitz (receita austríaca, mas muito apreciada na Alemanha, que consiste em picanha acompanhada de maçã e raiz-forte e servida com batatas). Mas a capa de gordura e a marmorização (filetes de gordura entremeados na carne) despertaram a atenção dos churrasqueiros, e logo a produção nacional se tornou insuficiente para atender à demanda.
 
O "Plano Cruzado" (o primeiro dos malsinados "pacotes" econômicos do desgoverno Sarney) não acabou com a inflação, mas o congelamento dos preços fez a picanha desaparecer dos supermercados e da maioria dos açougues — quem a vendia clandestinamente cobrava de 50% a 300% de ágio sobre o preço tabelado pela SUNAB

Foi nessa época que um açougueiro camarada me sugeriu o miolo de alcatra, que era vendido sem ágio e substituia — e continua a substituir — a picanha tanto no espeto quanto na grelha da churrasqueira. Por outro lado, o contrafilé também é uma ótima opção, seja em bifes fritos, seja assado na brasa, pois sua camada de gordura garante maciez e sabor que nada ficam devendo à picanha.

 

Observação: O coxão-mole é versátil e tem ótimo custo-benefício; coxão-duro e lagarto dão excelentes assados e ótimos bifes rolê e de panela; filé-mignon, contrafilé e miolo de alcatra podem ser fatiados em bifes grossos, mas coxão-mole e patinho devem ser cortados finos, sempre no sentido contrário ao das fibras. 


Quem acreditou nas promessas de Lula deu com a mula n'água. "A carne já abaixou mas tem que baixar mais, muito mais; ou abaixa preço da comida ou sobe salário do povo", trovejou o demiurgo em abril. Mas na vida real a história é bem outra

 

Com a picanha pela hora da morte e a perspectiva de encarecer ainda mais até o final do ano, o sabor marcante e preço mais baixo faz do contrafilé o substituto ideal, tanto para bifes quanto assado em pedaços altos, no espeto ou na grelha, desde que bem vermelhos e levemente marmoreados de gordura. 


Fatie o contrafilé contra os veios da carne em bifes com cerca de 2 cm de espessura e frite-os numa panela de ferro fundido e fundo grosso. Coloque um bife de cada vez, e somente quando a frigideira estiver quente a ponto de fumaçar. Sal e pimenta-do-reino são imprescindíveis para realçar o sabor da carne, mas só devem ser aplicados minutos antes ou durante o preparo. 


No caso do churrasco, corte o contrafilé em pedaços altos e grelhe em fogo médio-alto por 4 ou 5 minutos de cada lado (para o ponto malpassado), virando apenas uma vez. Caso queira assá-los como nas churrascarias, mantenha o espeto distante 30 a 40 cm do braseiro, vire-o de tempos em tempos (para a carne assar por igual) e vá tirando lascas, como no churrasco grego.

 

Com os açougues de bairro em extinção e as "butiques" de carne cobrando os olhos da cara pelos cortes "premium", o jeito é recorrer aos supermercados. Mas é importante escolher um estabelecimento que trabalhe com carne resfriada e açougueiros fatiem as peças ao gosto do freguês. Só compre carne pré-embalada se realmente não houver opção, e somente se ela estiver vermelhinha e não houver excesso de líquido na embalagem. Fuja de bandejas gosmentas ou com cheiro desagradável. 

 
DicaPara preservar a suculência das sobras do churrasco, embrulhe-as em papel alumínio e guarde na geladeira. Se você colocar a carne ainda quente no forno, ela continuará cozinhado no calor residual; se guardá-la num Tupperware com tampa, ela perderá a suculência devido ao vapor que se acumula dentro do recipiente. Já o papel alumínio evita a perda de umidade e o frio da geladeira estabiliza a temperatura interna da carne. Na hora de servir, basta reaquecer e fatiar.
 
Bom churrasco.