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terça-feira, 13 de julho de 2021

O PASTEL, OS TRÊS PATETAS E O MACACO GUARIBA


Em abril do ano passado, questionado sobre o aumento no número de mortes por Covid, Bolsonaro disse que não era coveiro. Sete meses depois, reclamou que sua vida estava uma desgraça, chamou a imprensa de "urubus" e queixou-se de não ter paz sequer para comer um pastel ou tomar um guaraná na rua. Ele mal sabia o que estava por vir. 

A situação do presidente se complica à medida que a CPI revolve as entranhas pútridas do governo federal. Saltam aos olhos evidências robustas de que o negacionismo, o descaso e a incompetência do governo federal foram em grande medida responsáveis pela morte de mais 530 mil pessoas no Brasil. Soterrado pelas evidências de corrupção, o capitão tenta negar o inegável e defender o indefensável com narrativas que não convenceriam nem a Velhinha de Taubaté.

Observação: Velhinha de Taubaté, criada por Luis Fernando Veríssimo durante a ditadura militar, ficou famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo. Ela “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada com o cenário político tupiniquim, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

O senador Omar Aziz disse ontem que o silêncio do presidente no caso Covaxin deixa claro o cometimento de crime de responsabilidade. Ou coisa ainda pior. 

A senadora Simone Tebet, que extraiu do deputado Luis Miranda o nome do líder do governo na Câmara e expôs alterações grosseiras em no documento que o coronel Élcio Franco e o ministro Onyx Lorenzoni apresentaram para rebater as acusações de irregularidades, entende que existem elementos mais que suficientes para embasar um pedido de impeachment. Ela reconhece que ainda não há os 342 votos necessários na Câmara, mas acredita que o quadro venha a mudar nas próximas semanas.

Bolsonaro escreveu ao primeiro-ministro da Índia manifestando interesse na Covaxin, embora tenha insinuado que a vacina da Pfizer transformaria as pessoas em jacarésdesqualificado a CoronaVac — que apresenta eficácia de 78% na prevenção de casos leves e 100% para casos moderados e graves de Covid

Observação: As taxas de eficácia da "vachina do Dória" são semelhantes às verificadas em vacinas que já fazem parte do Plano Nacional de Imunização, como a da gripe. Demais disso, a vacinação contra a Covid no Brasil começou logo após a Anvisa aprovar o uso emergencial desse imunizante, que é responsável por 52,7% das doses distribuídas pelo país — a AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, responde por 43,4% e a Pfizer, por 3,9%.

Bolsonaro disse ontem que a acusação de propina na compra de vacinas não se sustenta, e tornou a recorrer a uma justificativa inconsistente para se defender das denúncias. No sábado, ele apagou um vídeo que havia postado como sendo da motociata em Porto Alegre — que na verdade era do evento realizado em São Paulo no dia12 de junho — e voltou a atacar a CPI, referindo-se à cúpula da Comissão como "os três patetas".

Em resposta, o senador Omar Aziz comparou o presidente ao macaco guariba, que defeca pela boca, e minimizou a abertura de inquérito para apurar possível prevaricação no caso Covaxin: "Não foi a Polícia Federal que abriu absolutamente nada. Ela foi determinada a abrir pela PGR, que, por sua vez, foi determinada pelo Supremo. Não tem muito o que investigar, o próprio presidente admitiu que recebe muitas denúncias, mas não tem como encaminhá-las. Tem tempo pra andar de moto, mas não tem tempo para fazer o que deveria fazer. Ele é um bom motoqueiro e um péssimo presidente".

ObservaçãoA Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a suspeita de prevaricação do presidente. A investigação foi aberta a pedido da PGR, e autorizada pelo STF. De acordo com a decisão da ministra Rosa Weber, o prazo para conclusão das investigações é de 90 dias, mas pode ser prorrogado. O reverendo Amilton Gomes de Paula enviou nesta um atestado informando à CPI da impossibilidade de comparecer ao depoimento agendado para amanhã. O presidente da comissão disse ao Estadão que o dito-cujo afirmou ter problemas renais e que a solicitação está sendo analisada por uma junta médica do Senado.

Aziz afirmou à CNN que o presidente do senado lerá hoje o requerimento que sacramenta a prorrogação da CPI por até mais 90 dias, e que a comissão pretende seguir mais uma semana focada na apuração de possíveis irregularidades na compra de vacinas pelo governo federal.

Com Bolsonaro acuado, surge a discussão: pedir o impeachment ou deixá-lo sangrar? O impedimento é um instrumento que agrega forças e produz um desgaste constante, ensina Fernando Gabeira. Há quem afirme que ele fortalece o governante que o supera no Parlamento, mas não foi isso que aconteceu com Trump. Quando se está num movimento descendente, quase tudo empurra para baixo.

Os áudios divulgados pelo UOL mostram que Bolsonaro também contratava parentes para receber parte de seu salário. Tudo indica que o chefe do clã foi pioneiro no uso da técnica que ensinou posteriormente aos filhos parlamentares. Se ele não participou de grandes esquemas de corrupção ao longo de sua longa carreira, foi porque criou sua própria fonte de financiamento, destinada a manter campanhas e aumentar o patrimônio pessoal.

O povo nas ruas e o aumento da rejeição o "mito" apontam para um novo cenário cujos contornos exatos ainda não estão desenhados. Chega-se a um momento em que a habilidade da oposição se torna o fator decisivo, pois só uma sucessão de erros gigantescos pode tornar Bolsonaro viável nas eleições de 22. Ao menos essa é a leitura que o momento permite.

Com alguma sorte (mais nossa do que dele), Bolsonaro poderá voltar em breve a comer pastel e tomar guaraná na rua. Mas sua vida política será uma desgraça. 

sábado, 4 de abril de 2020

EM QUEM ACREDITAR?

Para Bolsonaro, depois de Deus e de Olavo de Carvalho (não necessariamente nessa ordem), vem Donald Trump, que nosso presidente macaqueia sempre que possível, talvez por ambos estarem focados na reeleição e agirem como biruta de aeroporto. Só que a nossa biruta desafia a lei da física apontando contra o vento. Trump, num inesperado surto de bom senso, estendeu até o final de abril o isolamento em Nova York (epicentro da pandemia do coronavírus nos EUA, com quase metade do total de casos de coronavírus registrado no país), Nova Jersey e partes de Connecticut, que pretendia suspender já no domingo de Páscoa.

 Bolsonaro ora apoia o confinamento, ora o rejeita, ao arrepio das orientações de seu ministro da saúde e da própria OMS, e na contramão do que vem fazendo os mandatários de quase 195 países. Na última quinta-feira, afirmou que "nenhum ministro meu é 'indemissível' e Mandetta tem que ouvir mais o presidente", achando, talvez, que o ouvido do médico seja penico. Disse ainda que "falta humildade" ao ministro da Saúde (este, ao ser perguntado a propósito, disse que estava trabalhando e não viu a entrevista), e que tem decreto pronto para reduzir o isolamento, e só está esperando o povo pedir mais.

Observação: Segundo a revista digital Crusoé, Mandetta afirmou não se importar com o que Bolsonaro fala e pensa, "que o presidente pode dizer o que lhe der na telha, desde que ele [Mandetta] tenha carta branca para gerir a crise e manifestar suas opiniões". 

Situações desesperadoras exigem medidas desesperadas, mas a diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem: se insuficiente, a droga não cura; em excesso, pode matar. A Covid-19 é algo inusitado — exceto para uns poucos macróbios que já se conheciam por gente no biênio 1918/20, quando a gripe espanhola contaminou quase 30% da população mundial e matou dezenas de milhões de pessoas. É certo que a medicina e a tecnologia evoluíram muito desde então, mas a questão é que, cinco meses atrás, ninguém sabia da existência de um tal de SARS-Cov-2 — se é que ele já existia.

Para J.R. Guzzo — por quem eu tenho grande admiração, ainda que não concorde sempre com suas opiniões —, "a OMS não passa de um cabide de empregos que serve de esconderijo, na segurança da Suíça, para marginais que frequentam os galhos mais altos de ditaduras africanas e outros regimes fora-da-lei, um agrupamento político a serviço de interesses terceiro-mundistas, antidemocráticos e opostos à liberdade econômica, embora seja tida no Brasil como 'autoridade em saúde mundial' por ser um órgão da ONU".

A meu ver, Guzzo tem razão em parte. Basta lembrar que em 2018, a pedido da defesa de Lula, o Comitê de Direitos Humanos da ONU recomendou ao Brasil que garantisse ao criminoso o direito de disputar as eleições, numa clara ofensa à soberania nacional. Por outro lado, as recomendações da OMS vêm sendo avalizadas por cientistas, epidemiologistas e pesquisadores do mundo inteiro, e achar que todos estão errados e que a sumidade que elegemos presidente é o único do batalhão que está marchando com o passo certo seria ignorar os princípios mais elementares da lei das probabilidades.

Diferentemente do país comunista onde surgiu, o SARS-Cov-2 é democrático e comunitário. Já infectou ricos e pobres, nobres (o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, e o príncipe Alberto II, de Mônaco, por exemplo) e plebeus. No Brasil, afrouxar as medidas de isolamento (ou distanciamento, melhor dizendo) a esta altura, quando os especialistas preveem que nas próximas semanas a velocidade de contaminação deve aumentar, atingir o ápice entre meados e final de abril, estabilizar-se em maio e declinar progressivamente a partir de então (com alguma sorte, tão rapidamente quanto cresceu) seria uma cretinice, da mesma forma que manter o arrocho por mais tempo que o necessário, já que isso levaria as empresas a respirar por aparelhos e, ao final, sobreviveriam apenas as mais fortes. 

Tratar a Covid-19 como uma “gripezinha” é mais uma demonstração de ignorância do nosso mandatário, mas, de novo, o "X" da equação é dosar adequadamente o remédio, que precisa combater a pandemia sem exterminar a economia. Médicos do mundo inteiro têm feito um esforço conjunto e quase sobre-humano para encontrar uma solução preventiva (vacina) ou curativa (remédio). Na China, onde a Covid-19 surgiu, hospitais foram construídos a toque de caixa (o primeiro começou a funcionar apenas dez dias depois do início das obras). Ao que tudo indica, o vírus já concluiu seu ciclo naquele país, que, aos poucos, começa a retomar a vida normal. 

Mortes são inevitáveis — como disse Bolsonaro, com a sutileza de um elefante numa cristaleria —, mas é possível reduzi-las consideravelmente evitando o colapso do sistema de Saúde. E é por isso que todos cantam em coro o refrão do distanciamento social, que, gostemos ou não, ajuda a frear a contaminação e, consequentemente, retarda a demanda por leitos hospitalares. Mas é bom lembrar — e a imprensa, salvo raras exceções, não tem dado o devido destaque a alguns detalhes importantes, tais como: 1) 202.935 pessoas infectadas já se recuperaram e estão imunizadas, segundo dados da universidade americana Johns Hopkins (isso sem contar as assintomáticas, que nem se deram conta de que tiveram a doença); 2) China é a líder em números de cura, com mais de 76 mil pessoas recuperadas, seguida pela Espanha, com 26.743 curados, pela Alemanha, com 19.175 e pela Itália, com 16.847. 3) No Brasil, 127 pessoas foram curadas até o momento. Veja mais no vídeo a seguir.


Ontem, o governador Ronaldo Caiado publicou novo decreto prorrogando a quarentena por mais quinze dias, mas representantes do setor empresarial de Goiás afirmam que muitas empresas podem não obedecer e abrir de forma descontrolada, gerando desordem e propiciando o aumento do risco de contaminação. Segundo Caiado, a retomada de atividades não essenciais fica impossibilitada porque a China não enviará mais os equipamentos esperados (devido à pressão feita pelos EUA, que precisam desesperadamente deles). Ainda que Goiás conte com capacidade hospitalar, inclusive com a instalação de hospitais de campanha, o sistema de Saúde não dará conta de atender uma demanda alta com os equipamentos que possui hoje. Aliás, isso não é exclusividade de Goiás; o mesmo acontece no Brasil inteiro.

Voltando ao que escreveu Guzzo, embora soe radical, é difícil discordar se levarmos em conta que durante quatro semanas, ainda em dezembro de 2019, com o SARS-Cov-2 matando à vontade, o governo comunista chinês se furtou a admitir a existência de qualquer problema na cidade de Wuhan, o berço desse pesadelo. Não se tratava de nenhuma discussão acadêmica — era um caso de polícia secreta, como é comum acontecer em ditaduras quando aparecem problemas com os quais o governo não sabe lidar. 

Xi-Jinping não só mentiu, dizendo, repetidas vezes, que não havia epidemia nenhuma, como prendeu médicos e cientistas que alertaram sobre o vírus. Pesquisadores sumiram e nunca mais foram vistos. Laboratórios onde faziam seus estudos sobre o coronavírus foram destruídos. Provas materiais da existência do vírus foram confiscadas pelo governo e desapareceram. Todas as opiniões e conclusões diferentes das aprovadas pelo governo foram proibidas; passaram a ser consideradas “crime”. A China insistiu, até o último minuto, em permitir voos internacionais e em recomendar que os homens de negócio estrangeiros — da Itália, por exemplo — continuassem vindo para o país.

E qual foi, desde o início, a posição da OMS? Dar apoio cego a tudo o que o governo chinês determinou. Qualquer dúvida quanto à epidemia era considerada “preconceito” e “racismo”. A proibição de viagens à China por parte dos Estados Unidos foi oficialmente condenada pela OMS. Qualquer advertência sobre os riscos do coronavírus foram classificados como “agressão econômica” pelo órgão encarregado de cuidar da saúde do mundo. 

Até três semanas atrás, a OMS se recusava a reconhecer a situação de "pandemia". E quem é o diretor-geral da OMS? O etíope Tedros Ghebreyesus, que faz parte do grupo que instalou, anos atrás, uma ditadura selvagem na Etiópia, e se mantém no poder até hoje. Como “ministro da Saúde” do regime, Tedros foi acusado de ocultar uma epidemia de cólera em seu país — pelo jeito, é uma de suas inclinações. E quem foi que colocou esse sujeito no comando da OMS? A China, usando de toda a sua influência dentro da ONU.

Mas tanto presidente do Senado, quanto o ministro Gilmar Mendes e a mídia que imagina saber das coisas nos dizem que eles são a autoridade número 1 da saúde mundial e que precisamos obedecer à OMS. Eis aí o Brasil ignorante, subdesenvolvido e destinado a ser sempre a ser o último a saber. De toda a maciça produção de mentiras, declarações hipócritas e decisões desastrosas, devidas à ignorância ou à má fé, tomadas até agora para enfrentar a pandemia, provavelmente nada iguala a estupidez de autoridades e “personalidades” brasileiras em sua insistência de exigir fé religiosa no que diz a OMS. 

Alcolumbre, quando ainda estava isolado por ter contraído o vírus, advertiu-nos, em tom gravíssimo, das nossas obrigações de seguir em tudo o que o órgão está mandando fazer. Sem que se saiba direito porque, Gilmar Mendes, que por sinal andava esquecido com todo esse barulho, entrou no assunto. “As orientações da OMS devem ser rigorosamente seguidas por nós”, disse o ministro. “Não podemos nos dar ao luxo da insensatez.” Obviamente, nem um nem outro têm a menor ideia do que estão falando. Quanto ao chefe do Senado, naturalmente, é exatamente o que se pode esperar. No caso do ministro, a única coisa que faz sentido dizer é o seguinte: insensato, mesmo, é ouvir o que a OMS diz sobre saúde, por cinco minutos que sejam.

Voltando a Bolsonaro, alguns observadores sugerem que seu comportamento desvairado se deve ao populismo, de olho na reeleição em 2022. Outros atribuem sua falta de coerência à influência dos filhos, sobretudo de 02 — recentemente colocado no comando da comunicação do Planalto —, enquanto outros, ainda, consideram-no mentalmente perturbado e defendem sua interdição e subsequente internação (mais detalhes nesta postagem). Eu, particularmente, acho que nenhum deles está totalmente certo nem totalmente errado. Afinal, há mais coisas entre esse "céu" e essa "terra" do que supõe nossa vã filosofia. 

Que Deus nos ajude a todos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

BOLSONARICES E PAZUELLICES

 

Depois que o Colégio Eleitoral ratificou a vitória de Joe Biden e o líder da maioria republicana no Senado cumprimentou o democrata — a exemplo dos presidentes da Rússia e do México —, Bolsonaro (com 38 dias de atraso) finalmente se rendeu aos fatos. Na última terça-feira, durante uma entrevista que concedeu ao apresentador José Luiz Datena, disse nosso morubixaba: 

Alguns minutos antes de entrar no ar eu já dei um ‘start’ para o nosso ministro Ernesto Araújo, para ele fazer essa comunicação nossa, nas redes oficiais do governo. Depois, nas minhas redes particulares. Da minha parte, e da parte dele com toda certeza, o americano é pragmático, nós vamos fazer um trabalho de cada vez mais aproximação.” Até a noite desta terça-feira, somente ele o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, não haviam cumprimentado Joe Biden. Enfim, cada circo tem o palhaço que merece.

No Circo Marambaia tupiniquim, 211,7 milhões de palhaços continuam sem saber se, quando e como serão imunizados contra o vírus que o pior líder mundial no combate à pandemia classificou de “pequena crise” e vaticinou: “serão menos mortes que as [800] causadas pela gripe suína”. 

Clarividente, nosso “mito” vislumbrou por detrás da hecatombe sanitária supostos “interesses econômicos”. Falastrão, gabou-se: “depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, não. Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, o máximo que me aconteceria seria ser acometido de um resfriadinho”. Mais recentemente exortou seus liderados a voltar à normalidade: “O vírus está aí, vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, não como moleques”.

Perguntado sobre o número de mortos, Bolsonaro respondeu ao jornalistas: "Quem fala disso é coveiro. Eu não sou coveiro". Em outra oportunidade, brindou a imprensa com a seguinte pérola: "E daí? Quer que eu faça o quê? Todo mundo vai morrer um dia! Não podemos fugir da realidade." Mais adiante, chamou de "maricas" os brasileiros que usam máscara, fogem de aglomerações e seguem os protocolos estabelecidos por imunologistas e cientistas do mundo inteiro. Semanas atrás, do alto de seus 38% de aprovação popular, sentenciou: "Estamos vivendo o finalzinho de uma pandemia".

Não bastasse ter defenestrado um ortopedista (no dia 16 de abril) e um oncologista (em 15 de maio) do ministério da Saúde para entregar o comando da pasta a um general supostamente especializado em logística (talento que até o momento não apareceu), Bolsonaro, num surto de disputa política e de xenofobia, exigiu do taifeiro-triestrelado que cancelasse a compra da “vacina chinesa do Doria” (que é como nosso líder se refere à CoronaVac) e pressionou a Anvisa para procrastinar a aprovação do imunizante em questão. 

No lance mais recente, o presidente disse que não vai se vacinar, colocou em dúvida a segurança do processo e insinuou uma campanha para alertar a população sobre os riscos dos imunizantes. Compreende-se. Quanto menos gente quiser a vacina, menor será a pressão sobre o governo. O problema é que essas abilolices criam dúvidas onde antes havia esperança. Em agosto, 9% dos brasileiros diziam que não se vacinariam; hoje, são 22%, metade dos quais afirma que jamais tomaria uma vacina desenvolvida na China.

Sabedor de que 52% dos brasileiros ouvidos pelo Datafolha não o culpam pelas vítimas fatais da Covid-19, o presidente caga e anda para a saúde da população. Até porque essas polêmicas o mantêm sob os holofotes. A incompetência chapada e a subserviência desbragada do ministro Pa(u-mandado)zuello justifica um processo de impeachment, mas de nada adiantaria, pois o procurador-pau-mandado-geral dificilmente o levaria adiante.

Observação: Quando assumiu o ministério como interino, Eduardo Pazuello teve justamente a experiência de logística destacada por seus pares. Hoje, constrangidos com o papelão do ministro, os generais afirmam "todos na caserna são experientes em logística, mas o Pazuello não faz mais parte do time".

Ao presidente que não governa, interessa-lhe a tão ambicionada reeleição (para continuar a não governar por outros quatro anos). Desde que o inquérito que o investiga no STF (por ingerência política na PF) seja sobrestado ou arquivado, que seus filhos enrolados não se tornem réus e que o amigão que pagava suas contas não volte para a cadeia, é até bom que as pessoas morram; assim, preocupados em carpir os entes queridos, o povo não sai às ruas para pressionar Rodrigo Maia a tirar seu avantajado buzanfã de cima dos mais de 50 pedidos de despejo do inquilino de turno do Palácio do Planalto.

A despeito de culpar o coronavírus por sua inação — “o Congresso tem de focar a pandemia” —, o presidente da Câmara está preocupado em fazer seu sucessor, e talvez por isso não tenha notado, mas é justamente o não-afastamento do cusco-caguira que atravanca o combate à pandemia. Afinal, se 22% dos brasileiros não querem se vacinar, 78% querem, mas são impedidos por este governo incompetente.

Ontem, ao apesentar a penúltima versão de seu “plano de imunização”, o general-ministro Pazuello assim se pronunciou: “Precisamos produzir mais e ter capacidade para controlar a ansiedade e a angustia para passarmos esses 45, 60 dias que serão fundamentais para que se consigam os registros.”

Disse ainda o fardado que terão de assinar um termo de consentimento aqueles que quiserem tomar uma vacina “eventualmente aprovada para uso emergencial”. Na mesma entrevista, o secretário de Vigilância Sanitária e Saúde, Arnaldo Medeiros, frisou que “a primeira fase de comunicação do plano de vacinação tem o intuito de tranquilizar a população”.

Observação: Especialistas em Saúde dizem que “a necessidade de assinatura de um termo de responsabilidade pode suscitar dúvidas na população e desestimular a vacinação”. Já os juristas afirmam que a obrigatoriedade do termo é ilegal.

Na avaliação do presidente da Câmara, Pazuello vai muito mal e se perdeu na gestão da pasta: “Eu acho o ministro da Saúde um desastre. Vai ser um desastre para o país, primeiro, e para o governo. No momento da pandemia, o ministério da Saúde do jeito que está, quem vai pagar a conta primeiro é a sociedade, que é mais importante do que o governo pagar a conta.”

Maia ironizou a suposta habilidade logística do general, que, segundo ele, até agora não apresentou nada organizado, para a vacina, para nada. Nas palavras do deputado:

 “Eu acho que ele pode, sem dúvida nenhuma, além de prejudicar muito a imagem do Exército brasileiro, ele pode comprometer muito, com essa falta de organização, com essa incompetência, tanto a solução para a vacina quanto a solução para esse movimento, esse aumento no número de infectados, de mortos, que precisaria de uma articulação melhor e de melhor qualidade entre governo federal, estados e municípiosO Exército vai perder o que ganhou nos últimos anos de imagem desde a redemocratização. Pazuello é um ótimo general para fazer a logística do Exército, mas para fazer a logística do Ministério da Saúde é um desastre.”

Encerro com um texto da jornalista Vera Magalhães:

As pesquisas divulgadas no fim de semana pelo Datafolha pintam um cenário tão desanimador quanto a nossa absoluta ausência de estratégia para uma campanha de vacinação eficaz contra o novo coronavírus: elas mostram que boa parte da sociedade brasileira foi inoculada pela boçalidade de Jair Bolsonaro, e que ela se alastra por terrenos perigosos e dá a esse presidente, o pior da República, uma resiliência inacreditável num cenário de mortes e crise econômica.

O presidente, com seu comportamento indigno da cadeira que ocupa, voltou a dizer na terça-feira que não se vacinará contra o coronavírus. Como tantas vezes tem feito nos últimos dois anos, novamente se comportou como um inconsequente, ao promover aglomerações na Ceagesp e instar uma criança a tirar a máscara para ser compreendida, e mostrou o ridículo de que é feito ao se enfurnar no meio da bandinha da Polícia Militar do Estado de São Paulo, numa pose ridícula de prefeito de Sucupira.

Esse tipo de postura se impregnou em setores da sociedade de forma mais deletéria do que poderíamos imaginar antes da pandemia. No Brasil, movimentos antivacina nunca tiveram grande aderência, mas com Bolsonaro até isso vai sendo corroído.

A pesquisa Datafolha mostra que são 22% os que dizem que não pretendem se vacinar. Eram 9% em agosto! Entre os que dizem confiar em Bolsonaro, esse índice vai a 33%. E os que dizem que não aceitariam se vacinar com imunizante chinês são 47%.

É impressionante a adesão de uma parcela imensa dos brasileiros à desinformação absoluta em relação às vacinas, praticada de forma deliberada e estudada pelo presidente e por seus asseclas. Isso no momento em que o País já vive uma segunda onda de contágio pelo Sars-CoV-2 e não tem perspectiva de receber vacinas que não sejam a Coronavacproduzida pelo Butantan, pelo fato de Bolsonaro e seu ministro da Saúde, o inepto general Eduardo Pazuello, não terem feito seu trabalho.

Combinado com os outros dados da pesquisa, que mostram aprovação de 37% dos brasileiros a Bolsonaro e que 44% livram o presidente de culpa pela má condução do combate à pandemia, temos um cenário desolador em que vamos ficar no fim da fila da vacina sem que a população exija de forma altiva o seu direito a ser vacinada para que o País comece a superar a maior epidemia que o atingiu desde 1918!

Trata-se de uma corrosão muito rápida e profunda dos valores que guiam a vida em sociedade — entre os quais a constatação, que deveria ser óbvia, de que a vacinação é um direito, sim, mas também um dever de um indivíduo em relação à coletividade e à saúde pública.

A completa falta de preocupação de Bolsonaro com as mais de 181 mil mortes de brasileiros e sua incapacidade de recomendar àqueles que governa qualquer conduta que não seja individualista, egoísta e baseada numa visão estreita e mesquinha de mundo vão moldando o pensamento de uma parcela do povo brasileiro à imagem e semelhança do capitão. E sua imagem é a de alguém que banaliza a vida.

Diante de tal estado de apatia combinada com cinismo cabe como último recurso contar com o funcionamento ainda que precário das instituições. O STF terá a chance de colocar nos trilhos o Plano Nacional de Imunização indigente divulgado pelo general Pazuello, e estabelecer regras para que sim, a vacinação (quando houver vacina) seja obrigatória para matrícula e frequência em escolas, viagens de avião, inscrição em concursos, frequência em academias de ginástica etc.

Porque só esperar o bom senso dos brasileiros, como mostram as pesquisas e as cenas de aglomeração em várias cidades e as promovidas pelo presidente, não será suficiente.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

A ERA DA (IN)SEGURANÇA — PARTE 9


O ESPÍRITO DA LEI VAI ALÉM DE SUA LETRA FRIA.

Embora a tecnologia tenha evoluído consideravelmente nas últimas décadas, a bandidagem se mantém sempre um passo adiante. Traçando um paralelo com o coronavírus, por mais que a medicina tenha avançado desde o início do século passado, quando a gripe espanhola contaminou quase 30% da população mundial e matou dezenas de milhões de pessoas, ninguém iria desenvolver uma vacina ou remédio para uma doença que não existia (ou de cuja existência não se tinha conhecimento).

Valendo-se da engenharia social, cibercriminosos dão nó em pingo d’água e tiram leite de pato. Como dizia Kevin Mitnick — o papa dos hackers dos anos 1980 —, “computador seguro é computador desligado, mas um hacker competente induzirá a vítima a ligar a máquina para então poder invadi-la”.

Exageros à parte, fato é que no universo digital ninguém está 100% seguro, embora seja possível diminuir os riscos. Mas segurança é um hábito e, como tal, deve ser cultivado.

Suponhamos que você esteja caminhando pela rua, com seu smartphone no bolso do casaco, e outra pessoa caminhe a seu lado digitando uma mensagem de WhatsApp. De qual de vocês dois um amigo do alheio tentaria subtrair o telefone?

Na esteira desse raciocínio, um sistema desprotegido é um alvo mais fácil para um cibercriminoso do que outro que esteja devidamente atualizado e conte com a proteção de uma suíte de segurança responsável. Algumas medidas simples ajudam a evitar que sua conta no Google, no Gmail ou em outro webservice qualquer seja invadida, caso alguém descubra sua senha. Ainda assim, procure não usar usar senhas óbvias — como a placa do carro, o número do telefone ou a data de nascimento, por exemplo.

Uma pesquisa feita pela empresa de segurança digital Keeper analisou 10 milhões de combinações vazadas em violações de dados e concluiu que 111111, 1234, 123456, 123321, 666666 e 7777777 foram as mais usadas, e que 40% dos usuários sequer se dão ao trabalho de escolher combinações com pelo menos 6 caracteres. Segundo a Kaspersky, 35% dos brasileiros usam entre uma e três senhas para todas as suas contas. Por incrível que pareça, ao criar uma senha, muita gente simplesmente escolhe “senha”, “password”, “QWERTY” e que tais.

Mas de nada adianta você criar senhas virtualmente impossíveis de quebrar se, devido à dificuldade de guardá-las de cabeça, precisar anotá-las elas num post-it e colar o dito-cujo canto do monitor. Mal comparando, isso é o mesmo que trancar a porta e deixar a chave na fechadura, ou levar a senha do cartão de crédito presa por um pedaço de durex no verso do próprio cartão.

Alguns truques ajudam a criar senhas fortes e fáceis de decorar. Por exemplo, BaQuNaEsPeCh123 é uma senha 100% segura (ou pelo menos é o que atesta o serviço online Passwordmeter) e, ao mesmo tempo, fácil de guardar, pois foi criada a partir das duas primeiras letras de cada palavra que forma o versinho “batatinha quando nasce esparrama pelo chão”, com letras maiúsculas e minúsculas alternadas e seguida dos três primeiros numerais cardinais. Ou pelo menos era isso que os especialistas recomendavam até não muito tempo atrás, como veremos numa próxima postagem, ainda dentre desta sequência.

Observação: Note que o nível de segurança da senha do nosso exemplo seria ainda maior se a letra E fosse substituída pelo algarismo 3, a letra A pelo 4 ou pelo @ (outras possibilidades são substituir o L pelo ponto de exclamação, o I por 1, o O por 0 (zero), e assim por diante). Para mais dicas, acesse a página da MCAFEE ou recorra ao serviço MAKE ME A PASSWORD; para testar a segurança de suas senhas, acesse a CENTRAL DE PROTEÇÃO E SEGURANÇA DA MICROSOFT ou o site HOW SECURE IS MY PASSWORD.

Como nada é perfeito, recorrer a esse estratagema para criar todas as senhas que você usa no dia a dia para se logar no Windows, no webmail, no Face, nas redes sociais, no serviço de netbanking, etc. o levará de volta estaca zero. Ou seja, seria preciso fazer uma listinha com dicas cifradas para cada senha criada, ou então usar uma única senha para tudo, o que, obviamente, não é recomendável. Portanto, instale um gerenciador de senhas — como o Password Manager 21, o Kaspersky Password Manager, ou ainda o Roboform, que é gratuito para uso não comercial.

Essas ferramentas guardam as informações em um banco de dados criptografado e as inserem automaticamente quando necessário. Depois de instalar e configurar o app que você escolheu, terá preciso memorizar somente a senha-mestra (a que dá acesso ao próprio gerenciador).

Continua...

segunda-feira, 30 de março de 2020

EM TEMPO DE COVID-19, ASSEIO É FUNDAMENTAL



Não, não estou falando em lavar bem as mãos com sabonete ou, na impossibilidade, desinfetá-las com álcool em gel — ou ambas as coisas, pois seguro morreu de velho. Mas morreu. Isso você já deve estar cansado de ouvir, mas continuará ouvindo enquanto não houver uma vacina que previna a Covid-19 ou um medicamente que a cure. Nesse entretempo, a recomendação das autoridades (nem todas, é claro, porque unanimidade e bom senso são artigos tão em falta nas prateleiras do Palácio do Planalto quanto álcool em gel nas dos supermercados) será o isolamento e a desinfecção das mãos quantas vezes for preciso ou tantas quanto possível.

Note que não há garantias de que isso o blindará contra a doença; o que se espera é ao menos evitar que o espraiamento do vírus cause o colapso do sistema de Saúde, porque aí, sim, seria o caos. Daí ser importante você torcer (ou rezar, se tiver fé) para que alguém tire da cartola uma solução que mantenha a economia em animação suspensa até esse maldito pesadelo terminar, ou restará aos brasileiros uma de duas opções: morrer de coronavírus ou de fome. O Brasil precisa encontrar soluções rápidas para que as pessoas não percam a vida nem o emprego. Para chegar lá, faz-se necessária, neste momento, uma poderosa combinação de ciência, equilíbrio, liderança, união e agilidade.

Aproveite sua comunicação com o além — com o Homem lá de cima, Deus, OxaláAláJeová, Krishna, enfim, a divindade ou poder superior em que você crê ou com o qual mais se identifica — para ser um dos abençoados assintomáticos ou, na pior das hipóteses, que a Covid-19 o afete como uma gripe comum, que cause alguns desconforto durante uns poucos dias e depois se vá para nunca mais voltar. 

Observação: Segundo estudo do Imperial College London, pelo menos 70% dos brasileiros precisam estar imunizados para que se possa começar a falar em fim da epidemia da Covid-19 no país. E isso só será possível depois que a maioria da população tiver sido infectada e curada, já que a vacina dificilmente chegará antes do final do ano. Deu pra entender ou quer que eu desenhe?

No momento em que escrevia estas linhas, o número de mortes provocadas pelo coronavírus na Espanha chegava a 6.528 e o total de infectados, a quase 80 mil, mas a boa notícia, se é que se pode dizer assim, é que o aumento de 9% verificado no último sábado INDICA QUEDA PELO TERCEIRO DIA CONSECUTIVO. Depois de atingir quase 30%, na última quarta-feira o índice já girava em torno de 20% e no domingo, pela primeira vez em 15 dias, ficou abaixo de 10%. 

Seja como for, enquanto pesquisadores testam a eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina e buscam desenvolver uma vacina, a adoção de intervenções não farmacológicas para combater o coronavírus é essencial, repito, para evitar o colapso do sistema de saúde, embora também ajude a salvar milhões de vidas. Portanto, preparem-se para mais dois meses de molho e torçam para que a economia resista a esse lockout.

Enfim, quando falei em asseio (no título desta postagem), quis me referir a manter limpos smartphones e outros gadgets. Aliás, isso deveria ser um hábito, não uma necessidade imposta pela pandemia da Covid-19. Segundo o Dr. Bactéria os teclados de computador tendem a acumular mais germes do que vasos sanitários! Então, aproveite esse recesso compulsório para faxinar smartphones, tablets, smartwatches, notebooks, desktops, fones de ouvido, console de games, controles remotos de TV e assemelhados, que são verdadeiros depósitos de sujeira.

Informações de como e com que frequência esses dispositivos devem ser limpos e quais produtos podem ou não ser utilizados costumam ser encontradas no manual dos aparelhos — que o passar do tempo e evolução tecnológica rebaixou de livretos a folhetos semelhantes a bulas de remédio, inclusive no tamanho da letra. Em smartphones e tablets, a versão completa do manual pode vir armazenada na memória interna (geralmente um arquivo .PDF) do próprio aparelho ou em versão online acessível a partir de um link informado nas configurações do telefone (mas aí é necessário haver conexão com a Internet).

Quanto aos demais dispositivos, quem não guardou o manual impresso em local certo e sabido terá de recorrer ao site do fabricante (ou fazer uma pesquisa no Google a partir da marca e do modelo do aparelho). De qualquer forma, segue um resumo que você pode usar como referência se não encontrar informações específicas para o gadget.

Via de regra, deve-se desligar o dispositivo e, se possível, remover a bateria antes de dar início à limpeza. Tanto água (de forma direta ou corrente) quanto produtos abrasivos, limpadores de janelas (Vidrex e cia.), solventes agressivos (à base de aguarrás ou thinner), produtos que contenham amônia (Ajax e congêneres), cloro (água sanitária tipo Cândida), desinfetantes, limpadores em aerossol, polidores de cromados ou prataria (como Kaöl ou Brasso) devem ser evitados. E o mesmo vale para o álcool. Ou valia, porque situações desesperadoras exigem medidas desesperadas.

Devido à propagação do coronavírus, a imprensa tem alertado para a necessidade de higienizar o smartphone e vem dizendo os fabricantes dos aparelhos liberaram o uso do álcool, mas é preciso ter em mente que o álcool que encontramos nos supermercados — isso quando encontramos, já que ele anda meio sumido — é hidratado (46,2% de etanol e 53,8% de água no da marca Coperalcool). Mesmo o álcool em gel — que sumiu das prateleiras ainda mais depressa que o líquido — não é puro (o da Coperalcool contém 70% de álcool e 30% de sabe Deus o quê). E ainda que a Web seja um manancial de receitas para produção caseia de álcool em gel, eu não aconselho seguir nenhuma delas.

O álcool isopropílico, vendido em lojas de suprimentos de informática e de artigos para perfumistas, contém bem menos água e evapora quase imediatamente, sem deixar resíduos. Ele é usado pelos técnicos porque não causa oxidação e outros danos que a umidade acarreta às placas-mãe e outros componentes internos dos aparelhos, mas não é recomendado para limpeza de telas sensíveis ao toque (touchscreen).

A rigor, quando não havia coronavírus nem essa neura toda, os fabricantes de smartphones, tablets, notebooks e monitores de cristal líquido em geral desaconselhavam o uso de qualquer produto químico para limpar as telas. A recomendação era usar um pano de microfibras ou um retalho de camiseta de algodão. Secos. No caso de manchas e sujeiras mais resistentes, podia-se umedecer levemente o pano em água com um pingo de detergente neutro, desde que se tomasse o cuidado de não molhá-lo demais, pois o excesso de líquido poderia escorrer para o interior do aparelho através dos conectores do carregador e fone de ouvido e dos orifícios do microfone e auto-falante.  

Agora, porém, parece que o álcool liberou geral, mas ainda assim, sem embargo das considerações elencadas parágrafos atrás, sugiro que você “desinfete” seu smartphone usando uma toalhinha umedecida, daquelas próprias para higienização de bebês (e largamente utilizadas como complemento do papel higiênico), que vem umedecidas em álcool gel (mas não encharcadas). 

O procedimento correto é fazer a limpeza com movimentos suaves, sem exercer demasiada pressão, sobretudo na tela, que deve ser cuidada antes da carcaça do aparelho — do contrário, algum grão de poeira ou outro tido de resíduo pode acabar riscando a tela. A propósito: repita a operação, se necessário, uma, duas ou mais vezes, até que as marcas de dedos, manchas de gordura ou de suor desapareçam da tela. Ao final, dê o polimento com um pano de microfibras ou retalho de camiseta de algodão (evite flanelas, pois elas criam uma carga eletrostática que atrai poeira). Para mais detalhes, inclusive com dicas de produtos especiais para a limpeza de telas touchscreen, reveja esta postagem).

Não deixe de limpar o entrono dos botões com um cotonete (levemente umedecido, se necessário) e de lavar a capinha do celular, cujas bordas texturizadas proporcionam melhor aderência (ou seja, evitam que o aparelho escorregue da mão do usuário) mas tendem a acumular sujeira. 

Capinhas de couro devem ser limpas a seco ou com um produto apropriado, mas as de plástico ou silicone podem ser mergulhadas numa solução de água morna e detergente neutro e, se necessário, esfregadas com uma escova de dentes. Ao final, seque-as bem com uma toalha ou um pano macio e aguarde pelo menos meia hora antes de recolocar o telefone (para que a umidade remanescente evapore naturalmente).

O que foi dito até aqui vale para tablets. Quanto a computadores portáteis (note e netbooks) e de mesa (desktops), sugiro rever algumas postagens que eu publiquei no Blog ao longo de seus quase 14 anos de existência (clique  aqui, aqui, aqui e aqui).

Smartwatches acumulam suor e partículas contagiosas da mesma forma que as mãos. Use o pano de microfibra umedecido para limpar a tela. Nos botões, passe uma solução de desinfetante com um pincel de cerdas macias. As pulseiras de náilon absorvem o suor com mais facilidade, então a dica é usar um pouco de detergente e um pano úmido para realizar a limpeza. Já as pulseiras de silicone devem ser limpas com uma pequena quantidade de álcool. As de couro pedem um condicionador específico para o produto para finalizar o processo.

No caso dos fones de ouvido com pontas removíveis, retire-as e limpe com água e sabão. Enxágue bem. Use o pano de microfibra umedecido em água para limpar o resto dos fones e o cabo. Para os fones tradicionais, pano úmido na solução basta. Uma escova de cerdas macias limpa os lugares mais estreitos. As pontas dos fones Bluetooth devem ser limpas apenas com um pano seco para evitar danos ao aparelho internamente.

Consoles e controladores de games devem ser desconectados antes de você dar início a limpeza. Utilize uma escova de dentes macia para limpar as entradas dos dispositivos. Para a limpeza da superfície, pano úmido de microfibra e cotonetes para as partes estreitas, pequenas e entre os botões. Para os controles, pano úmido com solução de álcool e água. Não esqueça de limpar o cabo. É importante verificar se tudo está seco antes de reconectar.

Espero que estas informações seja úteis. Cuidem-se todos, e que Deus nos ajude.