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sexta-feira, 29 de março de 2024

MALES QUE VÊM PARA PIOR



Enquanto os sábios aprendem com os erros alheios e os tolos com os próprios, os brasileiros repetem os mesmos erros esperando obter resultados diferentes — o que é burrice, pois o Teorema do Macaco Infinito não orna com eleições bienais.
 
Em dois momentos distintos da ditadura, o "rei" Pelé e o "presidente" Figueiredo alertaram para o risco de misturar brasileiros com urnas em pleitos presidenciais, e o tempo provou que eles estavam certos. Talvez pelo fato de o Criador ter cedido à pressão da oposição, a maioria lobotomizada do eleitorado tupiniquim obriga sistematicamente a minoria pensante a escolher o "menos pior" de seus bandidos de estimação. E galinhas criarão dentes antes que essa récua perceba que políticos não devem serem endeusados, mas cobrados, e defenestrados se mijarem fora do penico.
 
Falando em penico (já que a merda é sempre a mesma, o que mudam são as moscas), um pedido de vista do partido Novo adiou a votação do parecer do relator Darci de Matos, favorável à manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão. O imperador da Câmara — fidelíssimo cumpridor do regulamento da Casa quando lhe convém — determinou que a votação só seja retomada após as duas próximas sessões. Graças à Semana Santa, o adiamento dará tempo para a "fervura baixar", aumentando as chances de soltura do encrencado (para que a prisão seja mantida é preciso que pelo menos 257 dos 513 deputados votem nesse sentido). 
 
Os dicionários definem "apatifar" como "tornar-se um patife", "virar um canalha", "aviltar-se". A Câmara se apatifará se oferecer proteção ao deputado que, segundo a PF, foi um dos mentores do assassinato da vereadora Marielle Franco. Como se apatifou no caso da deputada Flordelis dos Santos, que foi acusada de mandar matar o marido em junho de 2019, mas só foi presa em agosto de 2021, dois dias depois que seu mandato foi cassado (em novembro de 2022, ela sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues foram condenadas a 50 anos e 28 dias de prisão).
 
Eduardo Bolsonaro — também conhecido como o fritador de hambúrgueres que quase virou embaixador — publicou 9 posts no X (antigo Twitter) e outros 5 stories no Instagram relacionados à hospedagem do pai na embaixada húngara. Esgrimindo o típico discurso bolsonarista sobre perseguição da imprensa, o filho do pai afirmou que não houve nenhum indício suspeito na tal "visita diplomática", argumentou que qualquer fala de "fugir" para embaixada beira a insanidade, ponderou que ele retornou espontaneamente dos EUA (onde passou três meses homiziado na cueca do Pateta após a derrota nas urnas) e da Argentina (onde foi prestigiar a posse Milei). 

Observação: 
Zero três chegou mesmo ao absurdo de insinuar o envolvimento da CIA em uma suposta conspiração para incriminar o ex-presidente e a atribuir as denúncias a um "jornal esquerdista" (referindo-se ao New York Times, que é dos mais influentes jornais do mundo). Zero um compartilhou dois posts de outras contas no Instagram em defesa do ex-presidente, disse que não tinha conhecimento da estada do pai na embaixada até segunda-feira, embora Bolsonaro tenha dito a aliados que seus filhos sabiam que ele estava no local. Prova disso é que Zero dois chegou a visitá-lo na embaixada porque, segundo ele, "não frequenta a casa do pai em Brasília devido a uma questão pessoal" (o vereador e a madrasta Michelle não se bicam). 
 
Rui Barbosa ensinou que a força do direito supera o direito da força. As duas noites que Bolsonaro passou sob a asa do embaixador húngaro seriam um bom pretexto para uma exibição de força de "Xandão", mas o ministro preferiu fortalecer os inquéritos que conduz evitando presentear o investigado com um mandado de prisão preventiva. Ao se deixar flagrar pelas câmeras de segurança da embaixada, o encrencado como que soprou uma língua de sogra na cara de "seu algoz". Nem Freud explica. 
 
Moraes deu prazo de 48 horas para a defesa de Bolsonaro explicar o inexplicável. Por meio de nota, seus advogados já haviam pedido ao Brasil e ao STF que se fizessem de bobos pelo bem de seu cliente. Mais adiante, elaboraram a resposta alegando que não havia receio de prisão e, portanto, seria "ilógico" supor que ele se abrigou na embaixada em busca de asilo. 

Não se pode deixar de admirar o talento dos nobres causídicos para ajustar a realidade às conveniências processuais. Na resposta requerida por Moraes, eles trataram o episódio como um fato volúvel e se esforçaram para demonstrar como é injusto sujeitar uma nação inteira ao óbvio sem que Bolsonaro possa reagir. 

Em 2019, quando estava na bica de escolher o seu primeiro procurador-geral, o então presidente deu de ombros para a autonomia constitucional do Ministério Público. Comparando sua gestão a um jogo de xadrez, declarou que o PGR seria a dama — a peça mais poderosa do tabuleiro, pois pode se movimentar em todas as direções — e que ele, Bolsonaro, o rei — a peça mais importante, porque perdê-lo significa ser derrotado no jogo. 

Escolhendo Augusto Aras, o então mandatário se blindou por quatro anos; destronado, está nas mãos de Paulo Gonet — escolhido por Lula e aprovado no Senado com o apoio da bancada bolsonarista —, cujo comportamento "anti-Aras" revela rara sintonia com Alexandre de MoraesNo episódio em tela, Gonet pode fazer quase tudo, exceto papel de bobo. Qualquer cidadão pode se refugiar numa embaixada e requisitar asilo político a um ditador amigo. A questão é que, diante de um esboço tão nítido da rota de fuga de um investigado, nem a PGR nem o Supremo têm direito à inércia. 
 
Moraes mandou dizer resolverá o que fazer depois de receber o parecer de GonetA aleivosia dos advogados de Bolsonaro não alivia sua situação penal, mas a versão segundo a qual ele não teria motivos para "suspeitar minimamente" de que Moraes poderia mandar prendê-lo ajuda a melhorar sua autoestima, e o lero-lero de que dormiu duas noites numa embaixada que fica a 20 minutos de sua casa "apenas para manter contatos com autoridades húngaras" leva paz de espírito a sua alma. Resta saber o ministro vai endossar a linha que ignora o óbvio ou enxergar as explicações sobre a hospedagem como um cutucão da defesa com o pé, para ver se ele morde. 

Bolsonaro demora a perceber que, por mal de seus pecados, a realidade que ele nega tornou-se o único lugar onde se pode conseguir uma tornozeleira eletrônica ou um mandado de prisão preventiva. A prisão seria um presente, pois reforçaria a pose vitimista que o "mito" vende e seus devotos compram alegremente. Conviria ao Supremo converter-se momentaneamente numa espécie de centro terapêutico para tratá-lo de suas loucuras. Mais adiante, quando vier a condenação, a ordem de prisão não seria vista como abuso de poder, mas como uma espécie de cura: encrencados como Bolsonaro não são presos; eles têm alta.
 
Voltando ao caso dos fugitivos de Mossoró, não seria preciso gastar rios de dinheiro (mais de R$ 6 milhões) e mobilizar centenas de policiais durante mais de um mês na tentativa (até agora inexitosa) de recapturá-los se criminosos de alta periculosidade nitidamente irrecuperáveis fossem sentenciados a comer capim pela raiz na chácara do vigário. Até onde se sabe, não há nenhum caso documentado de defunto que fugiu da cova.
 
Triste Brasil.

quinta-feira, 21 de março de 2024

APOCALIPSE DA INTERNET?

TANTAS VEZES VAI O JARRO À FONTE QUE UM DIA LÁ DEIXA A ASA.

O avanço das investigações pode levar algumas pessoas que foram à Paulista apoiar Bolsonaro a considerar a hipótese de terem sido logradas. 
É evidente que isso não se aplica aos fanáticos nem os adeptos da ruptura institucional, apenas àqueles que, por alguma razão, acreditavam que o dejeto da escória da humanidade é vítima de uma narrativa oposicionista. 
Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica foram escolhidos pelo golpista por serem afinados com ele, e tudo indica que seus depoimentos guardaram relação apenas com os compromissos de elogio à verdade e fidelidade aos preceitos inerentes às prerrogativas das fardas estreladas. 
Claro que para enxergar essa obviedade requer olhos (a pior cegueira é a mental) e inferir que o "mito" tentou usar as FFAA em seu projeto golpista  tanto antes quanto depois das eleições de 2022  exige ao menos dois neurônios minimamente funcionais. 
Sabe-se agora que o encastelamento do aspirante a tiranete no Alvorada não decorreu de doença ou depressão pós-derrota, mas da urdidura de uma tramoia para anular o resultado das urnas e continuar no poder. Exibindo sua extraordinária capacidade dedutiva, Sherlock Lula revelou no dia 18 que o golpe só não aconteceu porque "o coisa" é um "covardão". 
Interessa dizer que nossa banânia passou por mais essa provação, que a verdade vem sendo posta e, dando tudo certo, seus detratores serão punidos.

Profetas, videntes e assemelhados trombeteiam vaticínios apocalípticos desde o início dos tempos. No alvorecer da era cristã, respaldados no "Apocalipse de João", vates delirantes agendaram o "juízo final" para algum momento próximo virada do primeiro milênio, depois para 1033, para 1666, e assim por diante. 

Em 1806, uma galinha que passou a pôr ovos com a inscrição "Christ is coming" espalhou pânico nas Ilhas Britânicas — até que se descobriu que uma falsa vidente escrevia a mensagem na casca dos ovos e os enfiava de volta pela cloaca da adivinha emplumada. A Igreja Católica Apostólica (criada em 1836) anunciou que Jesus voltaria após a morte de seus 12 fundadores (o último bateu as botas em 1901) — anúncio que as Testemunhas de Jeová fazem desde 1870. À luz do Teorema do Macaco Infinito, talvez um dia alguém acerte. 
 
Rumores sobre um suposto alerta feito pela Nasa dando conta de um suposto "apocalipse da Internet viralizaram nas redes sociais no final do ano passado, mas nem a agência fez tal anúncio, nem o astrofísico Peter Becker, responsável pelo vaticínio, publicou um estudo que sustentasse suas alegações. É fato que os polos magnéticos do Sol se invertem a cada 11 anos, que essa inversão aumenta a frequência de erupções solares e que uma tempestade solar pode comprometer o funcionamento da Internet, mas fato é que isso jamais aconteceu — e nada indica que desta vez será diferente.
 
Essa teoria conspiratória surgiu a partir de um estudo feito em 2021 sobre os efeitos de uma ejeção de massa coronal extremamente intensa nas redes elétricas e de comunicações tradicionais e na internet global. No entanto, somente três casos foram registrados até hoje: 1) em 1859, o Evento Carrington provocou pane em quase todos os sistemas elétricos existentes na época e gerou auroras polares que puderam ser vistas de todo o planeta, inclusive em regiões tropicais; 2) em 1929, um evento ainda maior causou um incêndio de média escala na Estação Grand Central e derrubou a rede de telégrafos de NYC; 3) em 1989, uma ejeção moderada de massa coronal derrubou a rede elétrica Hydro-Québec, no norte do Canadá, deixando parte daquele país sem energia por cerca de nove horas. 
 
Para os arautos da desgraça, três décadas sem um evento majoritário é sinal de que ele está na bica de ocorrer. Há quem diga que a pandemia de Covid foi a prova provada de nosso despreparo para lidar com cataclismos dessa magnitude. Exageros à parte, numa sociedade extremamente dependente da tecnologia, uma tempestade solar capaz de deixar o planta sem energia elétrica, Internet, satélites, celulares, com noites iluminadas por auroras e aparelhos dando choque mesmo desligados da tomada... não vejo exemplo melhor de antessala do inferno. 

ObservaçãoUma explosão de solar categoria M7 ionizou o topo da atmosfera terrestre no último dia 10, deixando sem sinal de rádio por cerca de 30 minutos partes da África, do Brasil, da Venezuela e da Colômbia. O ciclo solar atual começou em dezembro de 2019. O anterior foi considerado tranquilo, com baixa quantidade de vento solar expelido da estrela no centro do nosso sistema, mas, de outubro de 2021 para cá, o Sol tem gerado manchas e erupções com maior frequência O pico é esperado para este ano. Com sua aproximação, a atividade deve ficar cada vez mais intensa, aumentando a quantidade de erupções e jatos de plasma solar.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E A VIAGEM NO TEMPO (PARTE III)

A CORRUPÇÃO NA POLÍTICA É APENAS UMA CONSEQUÊNCIA DAS ESCOLHAS DO ELEITORADO.

Em 2011, um experimento chamado Oscillation Project with Emulsion-tRacking Apparatus (Opera, na sigla em inglês), desenvolvido por físicos europeus para estudar o fenômeno da oscilação de neutrinos, ameaçou anular tudo o que se sabia até então sobre a velocidade da luz, a Teoria da Relatividade e a física moderna. 

Isso porque, diferentemente das partículas de luz, os neutrinos possuem uma quantidade desprezível de massa e, à luz (sem trocadilho) da teoria de Einstein, deveriam viajar a uma velocidade menor que a da luz. Acabou que o experimento detectou neutrinos se movendo a uma velocidade superior à da luz. Mais adiante, porém, descobriu-se que a divergência foi causada por um relógio mal conectado, que registrou a passagem do Tempo incorretamente. Assim, toda a Física moderna foi questionada devido a um cabo de fibra ótica solto.

Cientistas são pessoas, e pessoas são seres falíveis. A diferença é que os cientistas aprendem com os próprios erros, ao passo que o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim comete o mesmo erro seguidamente, esperando que uma hora isso resulte num acerto. Segundo o Teorema do Macaco Infinito, um milhão de macacos datilografando aleatoriamente em um milhão de máquinas de escrever reproduzirão, em um milhão de anos, a obra completa de Shakespeare. Mas o Brasil não pode esperar um milhão de anos.

Voltando aos computadores quânticos, a velocidade de processamento alcançada por essa tecnologia promete revolucionar o universo da TI, já que, operando com qubits em vez de bits tradicionais, os sistemas quânticos executam em poucos segundos cálculos que os computadores atuais levariam milhões (ou bilhões) de anos para concluir.

Relembrando: Enquanto um bit binário só é capaz de assumir um de dois valores (ou zero, ou um), os bits quânticos — ou qubits  também trabalham com valores 0 e 1, mas não de forma excludente, o que lhes permite a execução simultânea de mais de um bilhão de cópias de um cálculo.

Nem tudo são flores nesse jardim. Para além de um sem-número de dificuldades (cuja discussão foge aos propósitos deste texto), há ainda a questão do custo. Embora as perspectivas sejam alvissareiras — como comprova a máquina quântica que a IBM instalou nas dependências da Cleveland Clinic, no estado norte-americano de Ohio —, muita água vai rolar até podermos ter uma belezinha dessas em casa. Seja devido ao espaço que elas ocupam, seja por ser preciso mantê-las refrigeradas (em temperaturas baixíssimas), seja porque elas custam milhões de dólares.

Por enquanto, os sistemas quânticos são utilizados nos meios científico e acadêmico — em simulações extremamente precisas e complexas do comportamento do clima no planeta, por exemplo. Vale destacar que tamanho poder de processamento seria “sopa no mel” para os cibercriminosos, já que chaves criptográficas que hoje são consideradas seguras poderiam ser quebradas em menos de um segundo.

Ainda que já tenhamos conversado sobre criptografia em outras oportunidades, não custa relembrar que esse processo (também conhecido como encriptação ou ciframento) consiste basicamente em tornar os dados incompreensíveis para quem não dispõe da respectiva “chave criptográfica”. Na E2EE (sigla de End-to-End Encryption), o emissor e o receptor das mensagens contam com uma chave pública, que codifica o conteúdo antes de transmitir as mensagens, e uma chave privada, que decifra o conteúdo das mensagens recebidas (esse processo pode ocorrer de forma simétrica ou assimétrica).

Uma chave de 3 bits, por exemplo, oferece 23 possibilidades (000, 001, 010, 011, 100, 101, 110, 111). Mas cada bit acrescentado ao expoente dobra a quantidade de combinações possíveis, exigindo maior esforço computacional e mais tempo para o exaurimento das possibilidades. A criptografia de 256 bits tem um comprimento de chave de 2265, que oferece 115 quattuorvigintillion de combinações possíveis (número que corresponde a 115 multiplicado por 10 elevado à 75 potência). Faça as contas.

Continua...

segunda-feira, 29 de março de 2021

A PERSEVERANÇA E A OBSTINAÇÃO


O Teorema do Macaco Infinito, descrito pelo matemático Émile Borel em 1913, afirma que um macaco, digitando aleatoriamente em um teclado por um intervalo de tempo infinito, quase certamente escreverá a obra completa de Shakespeare — “quase certamente” é um termo matemático com um significado preciso, enquanto o macaco é apenas uma metáfora para um dispositivo abstrato que produza uma sequência aleatória de letras ad infinitum.

Aceitar essa premissa nos autorizaria a dizer que o governo de Jair Messias Bolsonaro, se mantido por um intervalo de tempo infinito, quase certamente produziria ao menos um resultado positivo. A questão é que o país não dispõe de um intervalo de tempo infinito para pôr à prova a teoria.

Por outro lado, antecipar a troca de comando a 18 meses da próxima eleição presidencial é virtualmente impossível, pelo menos se a ideia for seguir o que reza a Constituição. Pôr para andar um dos mais de 70 pedidos de impeachment que dormitam nos escaninhos da Câmara (ora sob o comando do réu Artur Lira) era algo que deveria ter sido feito em algum momento do biênio 2019/20, quando Rodrigo Maia, cantava de galo no terreiro. Mas Botafogo perdeu o bonde da história. 

Levar adiante o pedido de abertura de CPI para investigar as atrocidades havidas na Saúde durante a gestão do vassalo do capitão-cloroquina — que, se houver empenho dos senadores, trará a lume indícios de crimes de responsabilidade suficientes para embasar mais uma dúzia de pedidos de impeachment contra o suserano do general-interventor Eduardo Pesadelo — também demanda tempo e vontade política. Pelo visto, a permanência (ou não) do general da banda no coreto até o final do ano que vem vai depender do Sars-CoV-2 e a prorrogação de seu mandato, da récua de muares descrebrados (que atendem por "elitorado") que sobreviver à pandemia. 

Vale lembrar que o primeiro caso de Covid no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro de 2020 e a primeira morte, 20 dias depois. Março contabilizou 5.717 novas infecções e 201 vítimas fatais. Em junho, o número de casos passou de 1 milhão; julho terminou com 2,7 milhões de infecções e 90 mil mortos e 2020, com 7,7 milhões e 195 mil. Hoje, enquanto as águas de março fecham o verão tupiniquim, o braço verde e amarelo da pandemia bate firme e forte: somadas aos 3.368 óbitos ocorridos somente no último sábado, a pilha de cadáveres ultrapassou 310 mil, e a média móvel de mortes nos últimos 7 dias chegou a 2.548 (um aumento de 39% em relação a duas semanas atrás). 

Seria injusto culpar apenas a péssima gestão do capitão-negação no enfrentamento da pandemia por tamanho descalabro, embora não seja possível eximi-lo da responsabilidade. O gerenciamento da crise sanitária foi inepto (para não dizer trágico) desde o início. Uma combinação de negacionismo, gritaria em torno de pautas irrelevantes, silêncio sobre assuntos relevantes e estímulo à discórdia levou a esse descalabro. 

Na gestão Mandetta houve mais acertos do que erros; da passagem de Teich pelo ministério — que durou menos de um mês, porque o oncologista se recusou a recomendar oficialmente um protocolo para uso da cloroquina no tratamento da Covid — restaram a valiosa lição de que “a vida é feita de escolhas”. Promovido pelo morubixaba da aldeia a pajé interino em 16 de maio e efetivado no cargo quatro meses depois, o autodeclarado luminar da logística, fiel seguidor do mandamento militar segundo o qual “um manda e o outro obedece”, transformou em cabide de farda a pasta sob seu comando e numa calamidade maior do que a própria pandemia sua desditosa gestão.

Observação: Em entrevista ao Estadão, Ricardo Lacerda, presidente do banco de investimentos BR Partners, assim se pronunciou: “O despreparo de Jair Bolsonaro está levando ao colapso da saúde e da economia. Seus erros estão fartamente documentados. Chegou a hora de dar um basta a tudo isso. O presidente precisa assumir um compromisso com a ciência e com pessoas que trabalhem e deixem a ideologia de lado. Se for incapaz disso, melhor deixar o cargo.”

Em novembro, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que 7 milhões de testes PT-PCR próximos do fim da validade haviam sido “esquecidos” num depósito federal em Guarulhos. O ministério culpou os estados e municípios pela situação, dizendo que se limita a repassar os testes a pedido dos entes federativos. Secretários estaduais e municipais de Saúde acusaram a pasta de ter enviado testes incompletos, com número reduzido de reagentes, tubos e cotonetes para coletar amostras.

Pazuello só apresentou o Plano Nacional de Vacinação após exigência do STF. Pressionado, chegou a dizer que disse que a população começaria a ser imunizada no dia D e na hora H, e a questionar, irritado, o porquê de “tanta ansiedade, tanta angústia” , como se a morte de mais de 1.000 brasileiros todos os dias fosse a coisa mais natural deste mundo. Depois que o governador João Doria ameaçou começar a vacinar os paulistas no dia 17 de janeiro, Pazunaro — ou Bolzuello — despertou de sua letargia, mas os primeiros meses de execução do plano foram marcados por atrasos e revisões de prazo. Só neste mês, em apenas oito dias, o general vassalo do capitão suserano reduziu cinco vezes a previsão de entrega de vacinas (no final de fevereiro, a pasta falava em entregar quase 49 milhões de doses para estados e municípios; em 10 de março, a projeção era de entre 22 milhões e 25 milhões de doses).

Mas não é só. Durante o ápice do colapso sanitário em Manaus, enquanto pacientes morriam nos hospitais por falta de oxigênio, o mestre em logística distribuía kits-covid para um tal “tratamento precoce” que recomendava a ingestão de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina a quem apresentasse os primeiros sintomas da doença. Em janeiro, o general esteve em Manaus para lançar um aplicativo (de uso restrito médico) que indicava os mesmos remédios ineficazes, inclusive para crianças. Dias depois, quando a cidade passou a registrar mortes de pacientes por falta de oxigênio, o app foi tirado do ar.

Sob pressão, Pazuello tentou mudar o discurso: “Falamos de atendimento precoce. Não de tratamento precoce”, disse o militar, tornando a emenda ainda pior que o soneto — além de não conter o avanço da doença, a obstinação pelo tratamento inócuo custou rios de dinheiro que poderiam ter sido canalizados para outras ações, como logística de distribuição de vacinas e suprimento de oxigênio para hospitais. Ainda em janeiro, criticado pela compra frustrada de seringas para a campanha de vacinação o logístico de araque argumentou que o fiasco ocorreu porque o preço cobrado pelas empresas ficou acima do valor estimado pelo governo, quando na verdade faltou planejamento para adquirir os insumos com a devida antecedência.

A despeito disso tudo e mais um pouco, ao anunciar a substituição da incompetência em forma de gente pelo cardiologista Marcelo Queiroga, Bolsonaro assim se pronunciou: “Quero cumprimentar o Pazuello, que está nos deixando amanhã (sexta-feira) e fez um brilhante trabalho no Ministério da Saúde. Quando ele assumiu, lá tinha um problema seríssimo de gestão, muitos ralos, muita coisa esquisita e quase nada informatizado. Ele teve fazer uma assepsia no Ministério da Saúde. E fez um trabalho excepcional”.

Errar é humano, persistir no erro é burrice e repeti-lo incontáveis vezes, esperando produzir um acerto, é uma das melhores definições de cretinice que conheço. Em março do ano passado, a pretexto de aumentar a adesão ao isolamento social, o prefeito Bruno Covas bloqueou ruas e avenidas da capital paulista. A medida só não foi inócua porque serviu para produzir engarrafamentos monstruosos. Em maio, com o mesmo propósito, o tucano achou de endurecer as regras do rodízio municipal — mas voltou atrás 5 dias depois, já que a sandice resultou na superlotação no transporte público. Mais adiante, também a pretexto de estimular a adesão ao isolamento social, Covas e o governador João Doria anteciparam uma penca de feriados para produzir um "megaferiadão". Como era esperado, o tiro saiu pela culatra.

Passado um ano, nosso alcaide se inspirou no inusitado “toque de recolher” que foi incluído pelo governo do Estado na fase mais restritiva de combate à pandemia para alterar o horário do rodízio municipal de veículos, que passou a ser das 8h da noite às 5h da manhã, inclusive nos finais de semana. E como se dois erros tivessem o condão de produzir um acerto, Covas requentou a ideia do “megaferiadão”  — desta vez à revelia de Doria, que criticou a “falta de bom senso” do correligionário. Assiste razão ao governador. Pelo que se viu até agora, para além de gerar atritos com prefeitos de municípios da Baixada Santista — que enfrentam o pior momento da pandemia — a ideia asinina do prefeito causou engarrafamentos quilométricos nas rodovias que levam ao litoral. Nem mesmo as barreiras sanitárias feitas pelas prefeituras foram suficientes para barrar a entrada dos viajantes.

Doria governa o maior e mais importante estado do País — a terceira maior economia da América Latina, responsável por 32% do PIB nacional e o único ente da Federação que apresentou crescimento econômico em 2020. Diante de números assim, pergunta o blogueiro, colunista e contestador por natureza Ricardo Kertzman, qual presidente da República poderia ser estúpido o bastante para, em vez de se associar a São Paulo, ser seu detrator? A resposta é: o mesmo que prefere cloroquina à vacina e curandeirismo à ciência, que é amigão de Fabrício Queiroz, pai do dono de uma mansão de R$ 6 milhões e reconhecido mundialmente como o pior governante do mundo.

Políticos vivem da imagem que constroem e das realizações de seus mandatos. Nada mais natural que politizar ao máximo aquilo que importa à população. Tanto Doria quanto Bolsonaro estão de olho em 2022 e nenhum dos faz um pronunciamento público que não seja de cunho político-eleitoral. A diferença é que Doria politizou a pandemia para o bem e salvou vidas, e Bolsonaro, para o mal, e ajudou a matar seus compatriotas. Enquanto o tucano tem o que mostrar, o sociopata sem partido que transformou o Brasil num cemitério continental mente e ofende por não ter o que mostrar. 

Goste-se ou não do jeito do governador de São Paulo — que para mim não fede nem cheira — devemos muito a ele. Goste-se ou não do jeito do presidente da República — que passei a considerar uma versão de Lula com a polaridade invertida, mas ainda mais tosca e mal-acabada que o ex-presidiário — não lhe devemos nada, senão ações penais pela conduta homicida. O “calça apertada” doa seu salário. O “mito” se apropria de rachadinhas. O marqueteiro de São Paulo faz propaganda de vacina. O de Brasília, de cloroquina. 

Se for para aguentar político fanfarrão e ruim de marketing, fico com o “engomadinho” mesmo.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O BRASILEIRO MERECE!

Em 1949, ao descobrir que todos os eletrodos de um equipamento destinado a medir os efeitos da aceleração e desaceleração em pilotos, o engenheiro aeroespacial panamenho Edward A. Murphy criou um corolário de máximas que ficaria conhecido, mais adiante, como a “Lei de Murphy”. Alguns consideram-na um tratado de negativismo, mas o fato é que ninguém conseguiu revogá-la.

Se algo pode dar errado, dará”, anotou Murphy. Soa fatalista, mas é pura lógica. Se nada dura para sempre, um dia vai quebrar, estragar, deixar de funcionar ou morrer. É mera questão de tempo. 

No Teorema do Macaco Infinito, descrito pelo matemático Émile Borel em 1913, um macaco, digitando aleatoriamente num teclado por um intervalo de tempo infinito, quase certamente criará a obra completa de Shakespeare. O macaco é apenas uma metáfora para um dispositivo abstrato que produza uma sequência aleatória de letras ad infinitum, mas “quase certamente” é um termo matemático com significado preciso.

Fato é que o pão do pobre sempre cai com o lado da manteiga para baixo, e que basta a gente escolher uma fila para a outra começar a andar mais depressa. Por outro lado, se sempre achamos as coisas no último lugar em que as procuramos, é porque não continuamos procurando depois que as encontramos. Mas isso é assunto para outra hora.

O que me leva a essas considerações é o artigo da Lei de Murphy segundo o qual não há nada tão ruim que não possa piorar. Impossível negar essa dura realidade. Cito como exemplo o cenário político atual. Vejamos isso melhor.

Durante o reinado de Lula, passei a ter vergonha de ser brasileiro. Com Dilma na presidência, a vergonha virou nojo. Num primeiro momento, a deposição da anta e a ascensão de Temer acendeu uma luz no fim do túnel. Mas a conversa de alcova que o vampiro do Jaburu manteve, na calada da noite, com certo moedor de carne bilionário deixou evidente que a tal luz era o farol do trem.  

A chama bruxuleante da esperança ressurgiu com a perspectiva da troca de comando em 2018. Mas durou pouco: tivemos de escolher entre o diabo que conhecíamos e o diabo que inevitavelmente passaríamos a conhecer (votar na marionete do criminoso de Garanhuns jamais foi uma opção). Para impedir que o bonifrate do presidiário levasse sua quadrilha de volta ao poder. elegemos o dublê de mau militar e parlamentar medíocre que hoje ocupa o Palácio do Planalto (e o da Alvorada, e a Granja do Torto, e por aí afora).

No segundo turno, votar em quem não se quer para evitar a vitória de quem se quer menos ainda faz parte do jogo político, mas tudo tem limite. Jamais botei fé no capetão, porém nunca imaginei que sua passagem pela Presidência pudesse ser tão desastrosa. 

Como se  vê, nada é tão ruim que não possa piorar.

Observação: Tanto a insistência do picareta dos picaretas em disputar a presidência, mesmo fingindo cumprir pena em Curitiba, numa sala VIP que se fingia de cela, quanto a excrescência a que chamamos "Justiça Eleitoral" reunir sua mais alta cúpula para julgar um pedido cuja desconformidade com a legislação eleitoral qualquer balconista da repartição pública onde se registram candidaturas não levaria mais que alguns minutos para determinar, foram um escárnio, uma bofetada nas fuças dos cidadãos de bem. A essa altura, porém, eu já nem sabia mais como qualificar meu “sentimento nativista”.

A pandemia foi uma fatalidade imprevisível, mas as coisas já andavam mal muito antes de a Covid-19 dar as caras por aqui. 

Relembro o “pibinho” de 2019, que virou chacota nas redes sociais. 

A reforma previdenciária, por cuja aprovação o presidente não só não se empenhou como fez o possível para atrapalhar

A demissão de Mandetta em meio à maior pandemia sanitária dos últimos cem anos. 

A nomeação de um general da ativa para transformar o ministério da Saúde em cabide de fardas (general esse que se sujeita ao papel de taifeiro do capitão-cloroquina e, feito por ele de gato e sapato, dá de ombros e diz que “um manda e o outro obedece”). 

As articulações para empurrar com a barriga a investigação sobre sua interferência na PF (visando proteger familiares e amigos, como o próprio presidente reconheceu). 

A nomeação de ministros da pior qualidade (só na Educação foram quatro até agora, e um pior que o outro). E por aí segue a procissão.

Pelas últimas contas, mais de 50 pedidos de impeachment dormitam sobre a mesa do presidente da Câmara, que só tem olhos para a própria reeleição. Não fosse assim, “Botafogo” veria que o morubixaba de festim afrontou a lei em diversas oportunidades. Entre outras:

Ao apoiar manifestações antidemocráticas;

Ao declarar, em Miami, que as eleições de 2018 foram fraudadas

Ao postar conteúdo pornográfico durante o Carnaval de 2019; 

Ao mandar comemorar o golpe militar de 1964

Ao praticar ofensas de cunho sexual contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha

Ao ignorar lei federal e atuar de modo temerário, propiciando a expansão do coronavírus

Ao flertar com a greve de PMs no Ceará, reconhecendo a suposta legitimidade do movimento

Ao afirmar abertamente que foi à CIA para tratar da deposição de Nicolás Maduro

Ao permitir que ministro, sob o seu comando, demitisse de cargo de confiança um fiscal que o havia multado por pesca irregular;

Um oficial militar disse a Eliane Cantanhêde que, para parar de falar besteira, o presidente tem de “tomar um remedinho”. A jornalista comentou: “Isolado no plano internacional, Bolsonaro será derrotado na eleição para prefeitos e tem contra si parcelas expressivas de governadores, juristas, cientistas, médicos, professores, ambientalistas, diplomatas, artistas e analistas. Não satisfeito, bate boca com Mourão, o que divide os militares. Aonde, afinal, o presidente quer chegar?

Pode-se acusar Bolsonaro de tudo, menos de ser original. Até porque a originalidade exige... bom, deixa pra lá. 

Difícil é identificar de quem o presidente de turno “herdou” seus invejáveis predicados. Seu populismo desbragado teria vindo de Lula ou de Jânio? Sua falta de compostura seria inata ou copiada de Trump? Sua inglória gestão acabará como a de Dilma, de Collor, de Jânio ou de Getúlio? Façam suas apostas.

Para concluir, um texto atribuído ao cineasta e jornalista carioca Arnaldo Jabor:

Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca. 

Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida; pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua, ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; aceitar que ONG's de direitos humanos fiquem dando pitacos na forma como tratamos nossa criminalidade... Não protestar cada vez que o governo compra colchões para presidiários que queimaram os deles de propósito não é coisa de gente solidária. É coisa de gente otária.

Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão. 

Fazer piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada. Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça é o mesmo que contar piada no enterro do pai. Brasileiro tem um sério problema. Quando surge um escândalo, em vez de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo.

Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira. 

Brasileiro é vagabundo por excelência. O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade são oriundos do povo. O brasileiro, ao mesmo tempo que fica indignado ao ver um deputado receber R$ 33 mil por mês para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe que se estivesse no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de R$ 300 mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.

Brasileiro é um povo honesto. Mentira. Já foi; hoje é uma qualidade em baixa. 

Se você oferecer 50 euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso. Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo que fica indignado com a roubalheira dos políticos, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.

90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira. Já foi. 

Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e mulatos, retornando da Guerra do Paraguai, ali se instalaram. Naquela época, quem morava lá era gente honesta, que não tinha alternativa e não concordava com o crime. Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como "aviãozinho" do tráfico. Se a maioria da favela fosse honesta, os bandidos já teriam sido tocados de lá, pois podem matar 2 ou 3, mas não milhares de pessoas. Além disso, cooperariam com a polícia na identificação dos criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas favelas.

O Brasil é um país democrático. Mentira. 

Num país democrático, a vontade da maioria é Lei. A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros foi executado friamente. Num país onde todos têm direitos, mas ninguém tem obrigações, não há que falar em democracia, e sim em anarquia. Num país onde a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita. Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores). Todos sustentados pelo povo, que paga tributos para sustentar os privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar!

Democracia isso? Pense! 

O famoso jeitinho brasileiro é um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política. Brasileiro se acha malandro, muito esperto. Faz um "gato" puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar. Se o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais, caramba, ele sai de lá feliz como se tivesse ganhado na loto... malandrões, esquecem que pagam a maior carga tributária do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação. Mas e daí? Somos penta campeões do mundo, né?

O Brasil é o país do futuro. 

Caramba, meus avós diziam isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar como seria sua indignação se ainda estivessem vivos. Dessa vergonha eles se safaram... Brasil, o país do futuro!? Hoje o futuro chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.

Deus é brasileiro. 

Puxa, essa eu não vou nem comentar... O que me deixa mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.

Para finalizar: O brasileiro merece! Como diz o ditado, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar.

P.S. Publiquei esse texto de Jabor em 2007. Naquela época, visitantes e blogueiro interagiam regularmente. Raro era o dia em que eu não recebia dezenas de mensagens com comentários, sugestões, dúvidas, pedidos de informação e até "colaborações". Esse artigo foi uma delas, e eu o vendi pelo preço que paguei, ou seja, mantive o crédito dado originalmente a Jabor, o que não significa necessariamente que o cineasta o tenha escrito. Evitei ao máximo mexer no conteúdo, embora tenha alterado duas ou três vírgulas, não só pelo fato de a má colocação fugir à norma culta (outras fugiram e eu as mantive), mas porque comprometia o sentido da frase. Ah, também atualizei os valores. Mas o fulcro da questão, a meu ver, é que, se analisarmos o contexto com um todo, veremos que só mudaram as moscas. A merda, infelizmente, continua a mesma.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

14.º ANIVERSÁRIO DO BLOG

A VIDA É COMO ANDAR DE BICICLETA; PARA SE MANTER EQUILIBRADO, É PRECISO SEGUIR EM FRENTE.

Nossa percepção da passagem do Tempo depende de diversas variáveis. Se você estiver a ponto de borrar as calças e ouvir de quem está no banheiro o tradicional “só um minuto!”, esse minuto pode ser um dos minutos mais longos de sua vida. 

Aliás, conta-se que um leigo pediu a Einstein que trocasse em miúdos sua famosa Teoria da Relatividade, e ouviu do físico alemão a seguinte explicação: “Coloque a mão na chama de um fogão por um minuto, e parece que foi uma hora. Sente-se junto daquela pessoa especial por uma hora, e vai parecer que foi só um minuto. Isto é relatividade.”

E o que tem isso a ver com o aniversário do Blog? Talvez nada. Ou muita coisa, pois “parece que foi ontem” que eu criei o meu para embasar a elaboração da edição Blogs & Websites da Coleção Guia Fácil Informática. A ideia era tirá-lo do ar assim que o livrinho chegasse às bancas, mas o estímulo de alguns leitores (que o viram como um canal de comunicação para tirar dúvidas e fazer consultas) levou-me a continuar, e cá estamos nós, 14 anos (ou 5.114 dias) e 5.580 postagens depois.

Nos primeiros aniversários, eu postei textos comemorativos, com retrospectivas, imagens rebuscas, enfim... Mais adiante, conforme o modelo foi se exaurindo (aos poucos, mas progressivamente), sobretudo depois que Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp e afins minaram o interesse dos internautas pelo formato blog. Prova disso é que hoje o número de seguidores deste humilde espaço mal chega a 5% do que alcançou nos tempos áureos. Mas como reclamar disso, se faz anos que eu mesmo não visito nem (muito menos) posto comentários em blogs parceiros? Quando só entre em um blog quando caio lá de pára-quedas, levado por uma busca no Google por um assunto qualquer? Acho que é sinal do tempos, sei lá... Falando em tempo...     

Segundo Einstein, Tempo e Espaço estão entrelaçados. O Tempo não é um valor universal, mas relativo, e varia conforme o ponto de vista de cada um. A questão é complicada, mas se torna compreensível quando imaginarmos o Tempo como uma espécie de caminho, e que se pode avançar por esse caminho mais depressa ou mais devagar. E até mesmo parar e, quiçá, voltar, como veremos mais adiante.

Se ficarmos absolutamente imóveis e observarmos o relógio, veremos que o ponteiro dos segundos continua avançando num ritmo constante, como um trem avança pelos trilhos. Mas a velocidade do “Trem do Tempo” pode variar. Em tese, basta a gente se movimentar para ela diminuir, já que, segundo a teoria de Einstein, o Tempo passa mais devagar para quem se move do que para quem está parado. O problema é que as velocidades que vivenciamos no dia a dia são ínfimas, donde essa diferença é imperceptível.

Suponhamos que passássemos um ano viajando pelo espaço a 1.070.000.000 km/h — ou seja, a apenas 10 milhões de quilômetros por hora da velocidade com que a luz se propaga no Espaço (299.792.458 m/s ou 1,08 bilhão km/h), que, em tese, é a maior velocidade possível no universo. Quando retornássemos à Terra, teríamos envelhecido um ano, mas todos os que por aqui ficaram estariam 10 anos mais velhos. Do nosso ponto de vista, o Tempo passou mais depressa para eles, ao passo que, do deles, passou mais devagar para nós.

Observação: Havia falhas na teoria de Einstein, visto que ele a desenvolveu no início do século passado, quando o Universo era considerado uma esfera de volume constante. Em 1929, o astrônomo norte-americano Edwin Hubble demonstrou que o Universo se expandia, e o físico alemão reconheceu ter cometido "seu maior erro".

A velocidade do Tempo é inversamente proporcional à nossa. Conforme aceleramos nossa hipotética espaçonave, o Tempo reduz a sua na mesma proporção, até parar totalmente quando atingimos a velocidade da luz.  

Conforme a Teoria de Einstein e estudos anteriores de diversos cientistas, nada pode viajar mais rápido do que a da luz no vácuo. A explicação, em linhas gerais, é que o Tempo avança a toda velocidade em relação a um corpo parado, e tende a diminuir, em relação a esse corpo, conforme ele acelera. A 180 km/h, 30 segundos correspondem na verdade a 29,99999999999952 segundos. Daí os relógios internos dos satélites atrasarem 0,007 segundo por dia devido à velocidade com que orbitam a Terra (cerca de 14.000 km/h), mas adiantam 0,0045 segundo por dia devido à gravidade, que é menor a 20.000 km de altitude. Não fosse a teoria de Einstein, não seriam feitas as devidas compensações, e assim a precisão dos sistemas GPS ficaria comprometida (à razão de 10 km/dia).

Voltando à percepção pessoal da passagem do Tempo, ensina a psicóloga Claudia Hammond que, numa situação de medo extremo, nossa mente “vê” o Tempo passar como uma cena exibida em slow-motion. O registro feito por nosso cérebro é flexível e leva em conta emoções, expectativas, o quanto as tarefas exigiam de nós num determinado período, e até os nossos sentidos (um evento auditivo, por exemplo, parece durar mais que um efeito visual). 

É por isso que a maioria das pessoas se lembra mais nitidamente daquilo que viveu entre os 15 e os 25 anos — época da vida que se têm mais experiências novas, e coisas novas tendem a ter um tratamento especial do Tempo Mental, que parece perceber episódios assim como mais duradouros. Pela mesma razão, conforme envelhecemos, os últimos 10 anos parecem ter passado bem mais rapidamente do que as décadas anteriores.

Observação: Enquanto nos deslocamos de casa para o trabalho, por exemplo, temos a impressão de que a viagem demora uma eternidade, mas a sensação é bem outra quando pensamos nisso na hora do almoço ou no meio da tarde.

No que tange à possibilidade de retroceder no Tempo, bem, assumindo que o Tempo passa mais devagar para quem viaja a velocidades maiores, chegando mesmo a parar quando se alcança a velocidade da luz, conclui-se que “o relógio andaria para trás” se essa velocidade fosse superada. Todavia, segundo a Teoria da Relatividade Especial de Einstein, é impossível deslocar um objeto a uma velocidade superior à da luz porque, de forma simples e resumida, a única coisa capaz de mover uma partícula com massa é outra força que viaje a essa velocidade. Como nossa hipotética partícula ganharia massa à medida que sua velocidade aumentasse, quando ela estivesse próxima à velocidade da luz sua massa seria infinita, exigindo uma força igualmente infinita para fazê-la ultrapassar a velocidade da luz.

A famosa equação de Einstein tem uma parte “menos lembrada”, que descreve como a massa de um objeto muda quando há movimento envolvido: E = mc² (isto é, energia é igual a massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz). Na verdade, a equação completa é E²=(mc²)²+(pc)², sendo a parte final a que descreve como a massa do objeto muda quando há movimento envolvido. 

Uma descoberta anunciada em 2011 ameaçou anular tudo o que se sabia até então sobre a velocidade da luz, a Teoria da Relatividade e a física moderna. Isso se deu quando físicos europeus conduziram um experimento chamado Oscillation Project with Emulsion-Tracking Apparatus (Opera, na sigla em inglês) para estudar o fenômeno da oscilação de neutrinos. Diferentemente das partículas de luz, os neutrinos são partículas que possuem uma quantidade desprezível de massa e portanto, à luz da Teoria da Relatividade Especial de Einstein, deveriam viajar a uma velocidade menor que a da luz. No entanto, o experimento detectou neutrinos se movimentando a uma velocidade superior à da luz, o que poderia revolucionar a Física moderna. 

Mas tudo não passou de um mal entendido provocado por um relógio digital, cujo cabo estava mal conectado. Quando o problema foi identificado e o cabo, devidamente conectado, ficou comprovado que os neutrinos estavam viajando a uma velocidade inferior à da luz. A ironia dessa história é que toda a Física moderna foi questionada por conta de um cabo de fibra ótica solto, que levou a passagem do Tempo a ser registrada de maneira incorreta.

Como todos nós, os cientistas cometem erros, mas eles aprendem com os próprios erros, ao contrário da maioria dos eleitores tupiniquins, para quem insistir indefinidamente no mesmo erro acabará produzindo um acerto

Claro que existe o Teorema do Macaco Infinito, segundo o qual um milhão de macacos, datilografando aleatoriamente em um milhão de máquinas de escrever, produziriam, em um milhão de anos, a obra completa de Shakespeare. Mas isso é conversa para outra hora.

Voltando ao aniversário do Blog, o mote de minhas postagens sempre foi a TI, tendo a segurança digital como carro-chefe. Houve postagens sem qualquer relação com informática, mas elas foram poucas e eventuais. 

A primeira vez que tratei de política foi em agosto de 2007, devido ao MENSALÃO. Depois, seguiram-se algumas matérias esparsas, geralmente às vésperas das eleições e/ou logo após os pleitos. Até que a tramitação do impeachment da anta vermelha, em 2016, me levou a replicar aqui os textos que publicava na minha comunidade de política na Rede .Link (rede essa que um belo dia, sem aviso prévio, o webmaster simplesmente tirou do ar, depois tomou Doril). 

Num primeiro momento, eu não vi razão para modificar o título ou a descrição do Blog, mas em 2017, às vésperas do 11.º aniversário do site acabei incluindo a menção à política.

Para encerrar essa conversa, reitero meus sinceros agradecimentos a todos os leitores, em especial àqueles que me acompanham desde os tempos imemoriais da saudosa Coleção Guia Fácil Informática (que, pelos motivos expostos no início desta postagem, foi a pedra fundamental deste humilde espaço).

Por hoje é só, pessoal. Amanhã voltamos à “vida normal”

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR



Se tanto Bolsonaro quanto Lula odeiam a imprensa, por que o fundador do partido dos trabalhadores que não trabalham sempre foi mimado e enaltecendo até por virtudes que não tinha, enquanto o capitão caverna é tratado como inimigo público?

Se o juiz condena o réu, como este pode continuar a ser considerado inocente?

Se a súmula 09 do STJ cristalizou o entendimento de que a prisão do condenado em segunda instância não ofende a presunção de inocência; se, nos últimos 80 anos, a prisão após o trânsito em julgado vigeu somente entre 2009 e 2016, e se, a despeito de esse tema ter sido rediscutido três vezes desde 2016, por que diabos o STF o está julgando novamente?

Observação: A suprema banda podre, digo, ala garantista, parece querer pôr à prova o Teorema do Macaco Infinito, segundo o qual um milhão de macacos datilografando aleatoriamente em um milhão de máquinas de escrever formaria em algum momento a obra completa de Shakespeare.

Por ter vestido uma camiseta com a foto do candidato Bolsonaro, a procuradora Carmen Bastos teve de se afastar do caso Marielle; por ter sido advogado de Lula, Dias Toffoli virou presidente do STF e quer livrar o chefão da cadeia com o fim da prisão de condenados em 2ª instância. Será que há dois tipos de procuradores no Ministério Público? É o que parece, pois os que votaram em Bolsonaro são expulsos de casos que interessam o PT, e os que votam no PT podem tudo, o mundo acaba se alguém tocar neles.

Por que mortes como as de Ulysses Guimarães (1992), PC Farias (1996), Celso Daniel (2002), Eduardo Campos (2014), Teori Zavascki (2017), Marielle Franco (2018) e o atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro (2018) continuam sem solução ou foram classificados como "acidentes" e soterrados sob conclusões nada convincentes? Falta competência à nossa polícia ou vontade política para deixar os policiais fazerem seu trabalho?

Observação: Embora não se trate de crime contra a vida e sim de assassinato de reputações, a espúria Vaza-Jato, produzida a partir de informações tóxicas extraídas de arquivos com conteúdo mais que suspeito e obtidos criminosamente (hackeamento digital), tem indícios claros do envolvimento de Manuela D'Ávila. Segundo diálogos anexados ao inquérito que apura o caso, o líder do grupo hacker, conhecido como Vermelho, ofereceu à ex-deputada psolista munição com poder de fogo para de tirar Lula da prisão e anular os processos da Lava-Jato, e ela mediou a transação entre ele e Verdevaldo das Couves. Tudo com a mais pura das intenções, naturalmente...

Responda quem souber.