Além das supostas mensagens trocadas por Moro, Dallagnol e integrantes da Lava-Jato
no Paraná, vem a lume agora que outros membros do MP receberam torpedos suspeitos, aparentemente do celular do
conselheiro Marcelo Rabello de Souza,
dando conta de que as falas do ex-juiz e do coordenador da força-tarefa eram apenas uma amostra
do que está por vir. Questionado pelo grupo, o remetente respondeu:
"AQUI É O HACKER".
Rabello afirmou
que não estava usando o aparelho no momento em que as mensagens foram enviadas,
e que não estaria fazendo uma brincadeira com os colegas — diante da gravidade da situação, fazer uma brincadeira dessas
seria uma puta irresponsabilidade. A PF
já havia instaurado um inquérito para
investigar ataques feitos por hackers aos celulares de procuradores
atuam na Lava-Jato em Curitiba, no
Rio e em São Paulo, e outro procedimento foi aberto mais recentemente para
apurar ataques ao celular do ministro Sérgio
Moro. Na última segunda-feira, o corregedor nacional do MPF instaurou reclamação disciplinar
para apurar a troca de mensagens envolvendo Deltan Dallagnol (veja mais detalhes no post anterior).
O assunto já deu no saco, mas vale comentar que a complexidade
operacional e o custo de um ataque dessa magnitude sugere que não se trata de trabalho
amador, e que não se deve descartar a possibilidade de alguém de dentro da
empresa que administra o aplicativo de mensagens ter colaborado com o(s)
cibercriminoso(s). O Telegram não negou que houve um ataque a seus sistemas, mas afirma
que o vazamento pode ter decorrido da ação de um malware (programa de computador
com propósitos maliciosos) ou porque as vítimas não se valeram da verificação
de duas etapas no aplicativo.
A exemplo das investigações sobre o atentado contra o então candidato
e hoje presidente Jair Bolsonaro — que se arrastam há 9 meses sem
produzir resultados relevantes —, é possível que a PF não descubra o responsáveis),
embora seguir o dinheiro levaria a quem financiou a operação e ao(s) mandante(s)
do crime. Sem mencionar que qualquer Sherlock
de botequim atentaria para o fato de que Deltan Dallagnol e Sérgio Moro serem vistos como algozes
de políticos corruptos, que Moro é
(ou era) virtual candidato a uma cadeira no STF e que Dallagnol é (ou era) um provável candidato a
substituir Raquel Dodge no comando
da PGR. Dito isso, tirem os leitores
suas próprias conclusões.
A merda bateu no ventilador e vai feder por um bom tempo. Mas
há muita especulação e poucos fatos nesse furdunço. O que me parece inacreditável
é o país simplesmente parar por conta de um vazamento de material claramente obtido
de maneira ilegal, e, pior, que já se fale em abertura de CPI — tramada por culpados e cúmplices do Congresso —, no afastamento
do ministro e outras bobagens que tais. Moro
se prontificou a prestar esclarecimentos no Senado e na Câmara, mas não seria o
caso de convocar, primeiro, o tal Gleen
Greenwald, responsável pelo site que vazou o conteúdo ilegal e cujo viés de
esquerda é público e notório?
Bolsonaro
finalmente quebrou
o silêncio sobre esse imbróglio. Disse que o que Moro fez pelo Brasil não tem preço, que o ex-juiz expôs as vísceras do poder, a promiscuidade do poder no tocante à corrupção,
que o PT quase quebrou a Petrobrás, saqueou o BNDES e fundos de pensão para encher as
burras de companheiros comunistas lá fora e de amigos do rei aqui dentro, e que
as provas contra Lula não foram
forjadas. O presidente questionou também a veracidade da troca de mensagens
publicada pelo Intercept e afirmou
que, se suas conversas privadas vieram a público, ele, Bolsonaro, também será criticado. Ao ser questionado sobre se considerava
normal que um juiz e um procurador conversem sobre uma investigação em curso,
devolveu a pergunta sobre se o normal é "conversar com doleiros"
(ponto para ele).
Resumo da ópera: A mais nova iniciativa contra a maior
operação anticorrupção já realizada na história se escora em um crime: a
invasão dos celulares de autoridades. A questão agora é ajustar a euforia dos
encrencados à realidade. O palco para esse ajuste será, como de hábito, o STF, onde duas correntes já se mostram
visíveis — uma, capitaneada por Gilmar Mendes, o inigualável, para quem prova obtida
ilegalmente pode ser usada para inocentar um injustiçado (leia-se Lula), e
outra, pelo ministro-relator da Lava-Jato,
segundo o qual: "A Lava-Jato é uma
realidade. Não acredito que essa realidade venha a ser afastada por qualquer
circunstância conjuntural". No meio das vozes há um monturo de fatos
malcheirosos: o saque à Petrobras, as delações em série, a devolução de bilhões
roubados do Estado, as condenações e as prisões de corruptos e corruptores
poderosos… Comprometer tudo isso seria uma tragédia. Retroceder como resultado
de um crime cibernético seria um escárnio. Tomara que o bom senso prevaleça.
Atualização: A defesa de Lula pediu a inclusão das mensagens vazadas pelo Interceptor como prova de que Moro foi parcial na condução do caso do tríplex — como se a culpabilidade de molusco não tivesse sido reconhecida por três desembargadores do TRF-4 e quatro ministros do STJ. Na petição apresentada ontem ao ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava-Jato no Supremo, quatro advogados do petralha afirmam que as reportagens com as mensagens “revelam a conjuntura e minúcias das circunstâncias históricas em que ocorreram os fatos comprovados nestes autos”, “tudo a demonstrar situações incompatíveis com a ‘exigência de exercício isento da função jurisdicional’ e que denotam o completo rompimento da imparcialidade objetiva e subjetiva”. A exemplo do que fez na última terça-feira com o pedido de anulação dos julgamentos do TRF-4, a 2ª Turma do STF (composta por Cármen Lúcia, Edson Fachin, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes) deve mandar para o plenário a decisão desse HC, cujo julgamento está marcado para o próximo dia 25, e que já foi rejeitado em diversas instâncias da Justiça, o decano será o fiel da balança, pois, de Lewandowski e Mendes, sabemos perfeitamente o que devemos esperar.
Atualização: A defesa de Lula pediu a inclusão das mensagens vazadas pelo Interceptor como prova de que Moro foi parcial na condução do caso do tríplex — como se a culpabilidade de molusco não tivesse sido reconhecida por três desembargadores do TRF-4 e quatro ministros do STJ. Na petição apresentada ontem ao ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava-Jato no Supremo, quatro advogados do petralha afirmam que as reportagens com as mensagens “revelam a conjuntura e minúcias das circunstâncias históricas em que ocorreram os fatos comprovados nestes autos”, “tudo a demonstrar situações incompatíveis com a ‘exigência de exercício isento da função jurisdicional’ e que denotam o completo rompimento da imparcialidade objetiva e subjetiva”. A exemplo do que fez na última terça-feira com o pedido de anulação dos julgamentos do TRF-4, a 2ª Turma do STF (composta por Cármen Lúcia, Edson Fachin, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes) deve mandar para o plenário a decisão desse HC, cujo julgamento está marcado para o próximo dia 25, e que já foi rejeitado em diversas instâncias da Justiça, o decano será o fiel da balança, pois, de Lewandowski e Mendes, sabemos perfeitamente o que devemos esperar.
Enquanto isso, sob o pretexto de protestar contra a reforma previdenciária,
trabalhadores de diversas categorias estão sendo convocados para uma greve
geral, nesta sexta-feira, pelas centrais sindicais CUT, CTB, Força Sindical, CGTB, CSB, UGT, Nova Central e distintíssima companhia, além do PT e seus satélites, entidades
estudantis e opositores ao governo de Jair
Bolsonaro. A manifestação nacional contra a reforma da Previdência foi
programada há meses, mas novos temas foram adicionados ao protesto, como é o
caso do contingenciamento de verbas da educação, “escândalos” ligados à família
de Bolsonaro e seus ministros, e por
aí segue a procissão.
E viva o povo brasileiro!