Em 2014, a reeleição da cria e pupila do criminoso de Garanhuns jogou o Brasil na pior recessão de sua história. Dentre outras desgraças, o fechamento de postos de trabalho empurrou milhões de brasileiros para o subsolo da linha de pobreza, os índices de mortalidade infantil dispararam e o Brasil se tornou um dos países mais perigosos do planeta.
Em 2015,
tínhamos uma presidanta encurralada, sem autoridade, nexo ou respeito; um
presidente da Câmara descrito como “homem de poderes sobrenaturais” e um ex-presidente da República picareta, sempre prestes a “virar o jogo” mediante
conchavos milagrosos —
que meses depois tentaria nomear a si próprio ministro da Casa
Civil e, a partir daí,
resolver a situação toda em seu próprio benefício. Tínhamos, ainda, um cangaceiro presidindo o Senado e atuando como marechal de campo na guerra
para manter no comando a farsante que se autodeclarava “presidanta honesta, competenta e eleita democraticamente
“.
Em dois mil e
dezechega — como dizíamos no final daquele ano aziago — a anta incompetenta foi expelida (pelo conjunto de sua
imprestável obra e falta de traquejo político para se relacionar com o Congresso;
oficialmente, o motivo do impeachment foram as pedaladas fiscais e maracutaias da ordem de R$ de 60 bilhões). Foi também em 2016 que
o molusco abjeto se tornou réu pela primeira vez e o vice-presidente decorativo, visto como a ponte que poderia conduzir o país
à salvação, foi promovido a titular. E assim a economia deu sinais de
recuperação, a inflação e a taxa básica de juros começaram a recuar, os índices
de desemprego pararam de crescer e reformas importantes para o país começaram a
avançar.
Nem bem o calendário
virou para 2017 — ano em que depositávamos esperanças de melhoras mais
consistentes —, eclodiram rebeliões nos presídios e uma greve absurda da PM, que causou a morte de centenas de inocentes. Vale lembrar que até então ninguém imaginava que dali a três anos
morreriam centenas de pessoas todos os dias, no Brasil, e que nosso
arremedo de presidente daria de ombros, riria e diria: “E daí?”.
Ainda em janeiro de 2017 um trágico acidente aéreo vitimou o ministro Teori Zavascki e deixou o STF sem relator dos processos da Lava-Jato, às vésperas da homologação da Delação do Fim do Mundo. Ainda assim, a despeito do "fogo amigo", houve avanços na luta contra a corrupção.
Foram em cana
desqualificados como Rodrigo Rocha Loures — o “homem da mala”, ex-assessor e pessoa da mais estreita
confiança do presidente Temer —, Geddel Vieira Lima — o homem dos R$51
milhões e também amigão
do peito do mandatário de turno —, os ex-governadores Sérgio Cabral e Anthony Garotinho, quase todos os membros do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e do alto escalão da Alerj (a começar pelo presidente da Casa). Em abril, depois de ter a condenação ratificada
pelo TRF-4 no processo sobre o folclórico tríplex no Guarujá, o picareta dos picaretas finalmente foi preso.
Em meados de maio, Lauro
Jardim trouxe a lume uma conversa de alcova nada republicana entre Temer e o moedor de carne
bilionário dono da JBS. O vampiro do Jaburu fechou-se em copas e
cogitou de renunciar, mas foi demovido pelos puxa-sacos de plantão — com destaque
para o aparvalhado Carlos Marun, que performou uma dancinha patética quando
as marafonas do Congresso livraram o rabo sujo do Diphylla Ecaudata.
Temer ensaiou durante horas o papel de vestal
ofendida, mas só se sentiu preparado para encená-lo na tarde do dia seguinte.
Do Palácio do Planalto para o mundo e em rede nacional, dedicou-se sua insolência à inglória
tarefa de explicar o inexplicável, e terminou o solilóquio lamentando que
"fantasma da crise política" voltara a rondar o Planalto.
“Não renunciarei.
Repito: Não renunciarei. Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo
investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro.
Meu único compromisso é com o Brasil, e só este compromisso me guiará”,
esbravejou o vampiro, com uma cara de pau de deixar Lula roxo de inveja.
A certa altura chegou a dizer que a investigação no STF seria
"o território onde aflorariam as provas de sua
inocência". Mas o que a partir daí, na verdade, foi empenhar sua alma imortal para impedir que a Câmara autorizasse o STF
a processá-lo.
Durante algum tempo dizia-se o tempo todo que o governo estava “com os dias contados”. Mas Temer, tal qual os cagalhões que flutuam no rios Pinheiros e no Tietê (verdadeiros esgotos a céu aberto que cortam São Paulo), não afundou nem com reza brava.
Como
na fábula do Menino e Lobo, a conversa de que “a qualquer momento...” acabou enchendo o saco, até
porque o povo tem mais o que fazer para pôr comida na mesa — e sustentar a
caterva de corruptos fantasiada de agentes públicos.
Ainda assim, aos
trancos e barrancos o pato manco chegou melancolicamente ao final de seu
funesto mandato e, em 1ª de janeiro de 2018, passou
a faixa para sabe-se lá
se uma versão revista e atualizada da Caixa de Pandora
ou uma combinação dos quatro Cavaleiros
do Apocalipse (Peste, Guerra, Fome e Morte),
mas que se encalacrou no Palácio do Planalto e lá permanece até hoje, graças à
inação, a pusilanimidade e o desinteresse dos Poderes Legislativo e Judiciário.
O ano seguinte teve
“seus momentos” — que se podem conferir através do campo “arquivos do Blog”
para revistar as postagens publicadas ao longo de 2018. Mas vale relembrar que foi no
finalzinho de mais esse ano aziago que o ministro Marco Aurélio, cansado
de esperar pela rediscussão da prisão
após condenação em segunda instância, concedeu uma
liminar que por pouco não resultou na soltura de quase
170 mil condenados que aguardavam presos o julgamento de seus
recursos — entre eles o criminoso Lula.
Observação: No recesso de
meio de ano um plantonista delirante do TRF-4, membro praticante da ospália
petista, determinou
a soltura do demiurgo de Garanhuns. A decisão desse desembargador (que deixou
claro não ter juízo sequer para arbitrar pelada de várzea) gerou uma
queda-de-braço que só terminou depois que o presidente do Tribunal, Carlos
Eduardo Thompson Flores, restabeleceu
a ordem no galinheiro.
Em outubro, para
impedir o retorno do criminoso Lula e seus asseclas ao Palácio do Planalto, formos obrigados
a apoiar um dublê de mau militar e parlamentar medíocre (como não havia alternativa, não
há que falar em arrependimento) que sabíamos
não ser grande coisa, mas jamais imaginamos que tê-lo como mandatário seria como enfrentar, a um só tempo e de uma só vez, as Sete
Pragas do Egito.
O fim de 2018 trouxe um 2019 que começou com a posse do
capitão-desgraça, os desmandos inadmissíveis (mas admitidos) de sua prole, a
influência maléfica do guru de merda Olavo de Carvalho no governo, as
intrigas do pitbull do papai (que levaram à demissão de Bebianno e dos
generais Santos
Cruz e Rego
Barros), os rolos cada vez mais enrolados de Queiroz e Flávio “Rachadinha”,
a fieira de promessas de campanha metidas em local incerto e não sabido (mas onde
certamente o sol não bate), a quase derrubada do governo (ainda no primeiro
semestre), a sucessão de crises que o capitão sem luz criava diuturnamente para desviar a atenção do cheiro de podre de seu governo
impoluto, ilibado e incorruptível... Enfim, sugiro, mais uma vez, recorrer aos arquivos do Blog para repassar
as postagens, pois tudo que houve de importante ao longo do 2019 foi discutido
ou, no mínimo, mencionado de passagem.
Observação: Foi também em 2019 que a banda podre do STF restabeleceu (por 6 votos a 5) o império
da impunidade sem que se ouvisse um pio daquele que nos prometeu travar
uma cruzada contra a corrupção — nem de seu superministro da Justiça — que,
convenhamos, não podia contrariar o chefe, sob sob pena de ser penabundado, mas
que passou tempo demais engolindo sapos e bebendo a água da lagoa. O Posto
Ipiranga foi outra decepção, apesar de não lhe caber toda a culpa pelo
fiasco. Como já disse mais de uma vez, ser ministro desse governo de merda
exige estômago de avestruz e vocação inata para lamber botas e dar o rabo pedindo
desculpas por estar de costas. Simples assim.
E então veio 2020, que trouxe a Covid, a demissão de Mandetta em plena pandemia, a militarização
da Saúde por um logístico ilógico, a saída de Moro, o inquérito no STF para investigar o mito mitômano, a subserviência do PGR, as licenças e subsequente aposentadoria do ministro
Celso de Mello, a nomeação de (mais) um pau mandado para preencher sua vaga... enfim, isso tudo é história escrita tão recentemente que a tinta nem secou. Para não abusar da paciência do leitor (mais do que já abusei), encerro a bagaça com um texto de Dora Kramer:
Nos últimos acordes do atípico ano de 2020 o senso comum
lançou em toda parte um sonoro “já vai tarde”, tentando semear a
esperança de que em 2021 será tudo melhor. Que será, será, mas não
necessariamente muito diferente, pois problemas não caminham sozinhos nem são
subservientes ao calendário. Continuam aí, embora o mundo já receba, do esforço
universal tão inédito quanto espetacular dos cientistas, instrumentos para
enfrentar o maior deles a golpes de vacinas.
Para tudo, porém, há um contraponto. A pandemia tirou as
coisas dos eixos tais como vinham girando até que um morcego do outro lado do
planeta pusesse a humanidade à prova, entregue ao desafio de encontrar novos ou
reencontrar antigos pontos de equilíbrio. A disfunção é universal e cada país
ainda tem adversidades específicas — decorrentes voluntária e involuntariamente
da ofensiva do vírus — para administrar.
Os Estados Unidos, por exemplo, livraram-se de uma dessas
circunstâncias que deram um trabalho enorme: um presidente criador de casos,
cujos métodos contribuíram ao longo do ano para o desvio do combate à crise
sanitária.
Por aqui, junto com cargas pesadas a carregar e sapos
robustos para engolir, temos esse tipo de governante, só que
ainda com dois anos de mandato pela frente e sem dar sinal de que pretenda
parar de criar caso com tudo e todos que lhe contrariem a ilusão de poder
absoluto.
Ilusão porque Bolsonaro perdeu e continua perdendo
todas as tentativas de dar contornos reais ao devaneio de mandar porque pode e
daí fazer todos obedecer por ser, na visão dele, providos de juízo. Tenta
compensar no grito as perdas que acumula no Judiciário, no Legislativo, na comunidade
científica, entre governadores, na sociedade organizada (e na desorganizada
também), na imprensa, nos desmentidos que lhe impõem os fatos.
Muito embora a banda da democracia não toque ao ritmo de
marcha militar, o general da banda ganhou algumas paradas ao custo de enormes
prejuízos ao país, levando-nos a perder lugar de destaque e respeito mundiais
na cultura, no trato do meio ambiente, na diplomacia e, mais recente e de modo
especialmente danoso, na política de imunização construída em bases exitosas
nas últimas quatro décadas. Um legado que vai muito além de 2020, cuja marca
foi a da ineficiência.
O que esperar então do amanhã mais imediato? O presidente
continuará nessa toada de cavar chances para celebrar aqui e ali “mais uma
que o Bolsonaro ganhou”, pouco se lhe importando o destino do coletivo. E o
Brasil social e institucionalmente do outro lado seguirá empreendendo um
esforço enorme para reagir e resistir às investidas... nem vou dizer contra a
democracia por se tratar de uma ação inexequível, mas contra a normalidade da
vida e da relação do governante com seus governados.
É toda hora uma declaração estapafúrdia ou uma ação
descolada da realidade, coisas que exigem a mobilização de uma energia brutal
dedicada ao acessório que, no entanto, se torna essencial porque não se pode
deixar passar certas atitudes sob o risco de lá na frente o preço a pagar ficar
muito mais alto.
Esse passivo particularmente brasileiro é que vamos
carregar neste momento em que o combate da pandemia já não é uma hipótese, mas
uma situação concreta na qual seria indispensável contar com uma governança
concentrada na emergência. O plano anunciado é difuso. Os 20 bilhões de reais
de aporte anunciados não ajudam quando se tem um presidente que põe dinheiro,
mas não impõe moral e desqualifica a vacinação e se mostra incapaz de imunizar
a população, a coisa tende a não funcionar.
Problema ainda agravado por dificuldades como a queda de
renda dos mais pobres, a incerteza sobre o andamento dos trabalhos no Congresso
para o que é fundamental na economia, a redução de leitos disponíveis seja pelo
receio de se retomarem os hospitais de campanha devido às falcatruas ocorridas
e/ou da necessidade de atendimento de doenças cuja demanda ficou reprimida pela
prioridade dada à Covid.
Isso sem falar nos efeitos crescentes da tensão
pré-eleitoral em cujas águas o presidente candidato à reeleição navega em clima
de tormenta, donde a tendência de seus pretensos oponentes será a do jogo
pesado, tendo a vacina como centro. Mas essa é outra história. Por ora, fica o
desejo: que a realidade supere as más expectativas e tudo corra bem no ano que
vem.
Boas entradas a todos.