QUEM PARTE, REPARTE E NÃO FICA COM A MELHOR PARTE, OU É BURRO OU NÃO TEM ARTE.
Desde meados da
década passada, quando meu então parceiro Robério e eu editávamos o saudoso Curso Dinâmico de Hardware (publicado
pela Editora Escala), eu anunciava “para breve” o uso do cabeamento da rede de energia elétrica na distribuição do
sinal de Internet em banda larga por todos os cômodos da casa. Com isso, os
usuários ficariam livres da abominável quebradeira de paredes para passar o
cabeamento de rede – que naquela época era a maneira mais comum de compartilhar
a conexão entre vários PCs – ou mesmo dos (bem mais recentes e amigáveis)
roteadores wireless, já que essa modalidade de conexão exige apenas que o
interessado espete um modem específico em qualquer tomada da casa para
transformá-la num ponto de acesso à Internet.
Em dezembro de 2008,
eu postei uma matéria aqui Blog dando conta de que a tecnologia ia muito bem,
obrigado, e que já estava sendo testada por algumas concessionárias de energia
elétrica, embora ainda dependesse de regulamentação por parte da ANATEL. Em
meados do ano seguinte, publiquei uma nova matéria dizendo que era só uma questão
de tempo para que a solução em questão – que já funcionava a pleno vapor em países
como Estados Unidos, Espanha, França, Índia e China – favorecesse também os
internautas tupiniquins, até porque a infra-estrutura necessária para a
disponibilização do sinal (a própria rede elétrica) já se encontra instalada e
tem penetração maior do que a de telefonia e beeeem maior do que a das
TVs por assinatura. Demais disso, uma concorrência saudável sempre trás
vantagens para o consumidor final, tanto em relação ao preço quanto à qualidade
do serviço prestado (se não em ambas essas vertentes).
Volto agora ao
assunto por conta de um newsletter que recebi em agosto passado – mas que ficou
perdido na minha caixa de entrada –, que na verdade era um convite para participar
da primeira Conferência
Latino-Americana da HomePlug Alliance, que seria realizada no dia quatro
daquele mês e reuniria empresas globais de TIC – como Cisco, Qualcomm Atheros, Duke Energy e Broadcom Corporation – em torno de tecnologias que permitem
entrega de serviços de telecomunicações por meio da rede elétrica. Foi uma pena
não ter dado uma sapeada por lá.
Observação: A HomePlug® Alliance integra dezenas de empresas que
trabalham em conjunto para desenvolver especificações de tecnologia, programas
de certificação e selos para equipamentos alimentados pela corrente elétrica.
Com a tecnologia HomePlug, o cabeamento
elétrico pode ser usado em ambientes residenciais para distribuir internet
banda larga – além de vídeo em alta definição, musica digital, aplicações
inteligentes de energia, etc. – com desempenho na casa do Gbps.
Enfim, fuçando a Web
em busca de informações mais recentes, descobri que a ANATEL já regulamentou oficialmente a “nova” tecnologia, e que ela está sendo testada em diversas cidades
tupiniquins. E utilizá-la é muito simples: com o Gigaset HomePlug AV200 Duo, da Siemens
(veja a cara do dito-cujo na figura que ilustra este post), basta proceder à
conexão dos módulos na tomada e no computador; o alcance é de 50 metros e
velocidade nominal, de 200 Mbps.
No Brasil, ainda não
existe um padrão definido, e não é difícil que algum desocupado de plantão
resolva repetir o feito das novas tomadas, criando mais um formato “jabuticaba”,
sem paradigma em parte algum do planeta.
A conferir.
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Será uma luz no fim do túnel?
Segundo a coluna de Merval Pereira (*) publicada na edição de ontem
em O GLOBO sob o título O COMEÇO DO FIM, “mais uma etapa da desconstrução da hegemonia
petista foi cumprida na noite de domingo com o alijamento do partido das
principais funções da Câmara, como presidências de comissões ou postos na nova
direção da Mesa, que será presidida, contra a vontade do Palácio do Planalto,
pelo peemedebista Eduardo Cunha, que transformou a maioria megalômana que o
governo teria teoricamente na Câmara em minoria de 136 votos, menos de 1/3 do
plenário.
‘O governo, em uma só eleição, perdeu o controle que sempre tentou manter sobre o Legislativo e já não é possível garantir que CPIs perigosas para ele, como a da Petrobras, deixarão de funcionar, ou terão sua constituição controlada pelo governo. Mesmo por que já não se sabe mais quem é governo e quem é oposição na Câmara, e tudo terá que ser negociado ponto a ponto, com ministros responsáveis pela articulação política tendo saído desgastados desse embate para a presidência da Câmara.
‘O ministro em teoria responsável maior pelas relações institucionais, o petista Pepe Vargas, que já não tinha o apoio do próprio PT, mostrou que não se sai bem também com os demais aliados. Ainda provocou Cunha ao dizer que o presidente da Câmara "pode muito, mas não pode tudo", o que é uma verdade, mas o muito que ele pode é mais do que Pepe parece perceber.
‘Não se saiu melhor
o Chefe do Gabinete Civil Aloísio Mercadante em sua primeira prova de fogo como
o mais importante ministro do segundo governo Dilma, e potencial candidato à
sua sucessão. O PT mal começa o governo já parece sem capacidade para comandar
uma base aliada que desde a eleição presidencial dava sinais de que não
caminharia unida nesse segundo mandato, conseguido às custas de desgastes
institucionais que cobrarão seu custo ao longo dele.
‘A presidente
Dilma, por sua vez, ampliou a distância que a separa do ex-presidente Lula, que
tentou um acordo com o PMDB temendo a derrota, que afinal veio no primeiro
turno, maior do que previam os articuladores governistas. O que separa Lula de
Dilma não são princípios e valores, mas o pragmatismo, que o ex-presidente tem
de sobra e a atual, não.
“A disputa com o
PMDB, que volta a ocupar as presidências da Câmara e do Senado, leva o Palácio
do Planalto a uma situação de confronto que não serve aos seus interesses
imediatos e, ao contrário, serve aos do PMDB, que se prepara para apresentar
candidatura própria em 2018 ou, no limite, pode ter a presidência da República
no seu colo caso as trapaças da sorte encaminhem o processo de desgaste petista
para um desfecho político provocado pelo julgamento do petrolão.
“A presidente Dilma
tem horror a Eduardo Cunha, dizem, por sua característica marcadamente
fisiológica, e teria razão se fosse esse o motivo. Mas, na presidência da
República, e dirigindo um governo montado na base do fisiologismo, Dilma não
tem mais o direito de alegar questões éticas para tomar decisões políticas.
“Desde quando era a
chefe do Gabinete Civil de Lula, pelo menos, ela sabe como o jogo do poder é
jogado e já teve a experiência dolorosa no seu primeiro governo de ter que
chamar de volta ao ministério partidos que haviam sido expulsos por questões
éticas. Ganhou as duas eleições a bordo de uma aliança política construída à
base de mensalões e petrolões, e já não tem mais condições de convencer ninguém
de que é contra esses métodos.
“Eduardo Cunha de
um lado, potencialmente de oposição, e Renan Calheiros de outro, potencialmente
de situação, podem trocar de lado com a maior tranquilidade, e representam a
maneira de fazer política do PMDB. No embate entre correntes dissidentes nas
duas eleições, o DEM assumiu sua vontade de derrotar o PT e foi com Cunha já no
primeiro turno.
“O PSDB iria com
ele no segundo turno, mas seguiu a máxima expressa pelo senador José Serra de
que para derrotar o PT não vale qualquer coisa. Arlindo Chinaglia achou que era
apoio à sua candidatura, mas na realidade Serra estava acompanhando a
orientação do presidente do partido, o senador Aécio Neves, que levou os
tucanos a apoiar Julio Delgado para dificultar a volta do PSB ao seio
governista.
‘PSDB e PSB fizeram
a coisa certa, apresentaram alternativas às candidaturas favoritas, e ajudaram
a derrotar o governo, que agora tem uma base de apoio imprevisível para anos
políticos imprevisíveis.
(*) Merval Pereira é colunista do GLOBO e comentarista
da CBN e do Globo News, além de membro da Academia Brasileira de Letras, Academia
Brasileira de Filosofia e do Board of Visitors da John S. Knight Fellowships da
Universidade Stanford.