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terça-feira, 26 de outubro de 2021

A REELEIÇÃO É UMA DESGRAÇA — PARTE II


Às vésperas da leitura e votação do relatório final da CPI, Bolsonaro tricota uma estratégia para reagir à acusação por cerca de dez crimes (o documento, que já tem mais de mil páginas, deve sofrer alterações propostas por senadores da base do governo e pelo G7, de modo que o número de infrações penais atribuídas ao capetão ainda pode mudar).

No campo jurídico, a AGU deve se antecipar à avaliação do procurador que não procura enviando à PGR uma petição que questiona a constitucionalidade do relatório da Comissão. Na arena política, o Sultão no Bolsonaristão deve intensificar os ataques a Renan Calheiros, seja conspurcando a idoneidade do relator, seja sustentando que ele atuou na CPI a serviço da candidatura presidencial de Lula.

As duas linhas de defesa são frágeis. Aras tem uma vocação inata para arquivar acusações contra Bolsonaro (donde sua recondução ao cargo), mas terá de encontrar justificativa mais criativa se não quiser ser acusado de prevaricação. Já a biografia de Renan, eivada de processos criminais, não o recomenda, mas o que dizer da vida pregressa do também senador Fernando Bezerra, líder do governo na Casa, que foi indiciado pela PF, juntamente com o filho, sob a acusação de receber de R$ 10,4 milhões em propina quando era ministro do governo petista da gerentona de araque? Ou do deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, cujo nome dispensa maiores apresentações?

Ninguém ignora os vínculos de Renan com Lula, mas apontar a simpatia do senador alagoano pela candidatura do criminoso pernambucano não apaga os malfeitos e perversões colecionados durante a investigação parlamentar. Bolsonaro, associado a acusações sólidas — trocar ciência por ficção científica, espalhar mentiras, desperdiçar verbas com falsas soluções, incitar a prática de crimes, negligenciar cuidados sanitários óbvios, receitar poções mágicas, retardar a compra de vacinas, estimular o contágio do vírus, ignorar avisos sobre corrupção —, teve a biografia é convertida em prontuário. Fosse o Brasil um país sério, não um arremedo de banânia, esses crimes renderiam mais de 80 anos de cadeia ao verdugo do Planalto.

Sobre o indiciamento do "mito", o filho do pai, Flávio "Rachadinha" Bolsonaro, disse que o presidente deu uma sonora gargalhada, e o pai do filho, que não tem culpa de nada. Mas nada é uma palavra que ultrapassa tudo, e o morubixaba de fancaria que se meteu a pajé não dispõe de um tratamento precoce capaz de eliminar a infecção que envia sua reputação à UTI.

O problema é que o acordo do grupo hegemônico livra a CPI do vexame, mas não assegura a punição do presidente. Na prática, a Comissão transfere a batata quente para os dois cúmplices de Bolsonaro, chefes do departamento de blindagens da República. Lira já esclareceu que não cogita de abrir o gavetão em que esconde quase 140 pedidos de impeachment, e ainda que Aras se animasse a abrir investigações cenográficas contra o presidente, os processos se arrastariam pelo ano eleitoral de 2022 sem um desfecho.

O eleitor brasileiro dispõe da possibilidade de fazer justiça com o próprio dedo, demonstrando a na urna que os crimes da calamidade em forma de gente versão 2.0 (a anterior atendia por Dilma Vana Rousseff) não passarão à história como uma gripezinha. As pesquisas demonstram que um pedaço do eleitorado não está disposto a fechar os olhos para o negacionismo, a protelação na compra de vacinas, o kit das poções mágicas, a aposta no contágio coletivo, o desprezo às precauções sanitárias, a picaretagem do mercado paralelo de imunizantes e toda a engrenagem de ações e omissões que adicionaram horror e morte a uma pandemia que levou mais de 605 mil brasileiros à cova.

Numa em entrevista concedida à rádio Jovem Pan em abril de 2019, quando seu governo acabara de completar 100 dias, o Bolsonaro declarou que "a reeleição causou uma desgraça no Brasil", pois há prefeito, governador e até presidente que "se endivida, faz barbaridade, dá cambalhota, faz acordo com quem não interessa para conseguir apoio político." Soou categórico: "A reeleição é péssima no Brasil". Decorridos dois anos e meio, com o teto furado e o governo no telhado, o presidente confirma a profecia.

Obcecado pela reeleição, o dublê de presidente e eterno candidato entrou na fase da barbaridade e da cambalhota. Rendido aos caciques do Centrão, sua insolência utiliza a fome dos pobres como álibi para exterminar os últimos resquícios de responsabilidade fiscal. Paulo Guedes, cuja coluna vertebral já estava arqueada, acocorou-se, e os principais assessores do Ministério da Economia bateram em retirada.

Com o Tesouro em ruínas, Bolsonaro articulou com os coronéis do Centrão uma megapedalada orçamentária que permitirá gastar R$ 83 bilhões no ano eleitoral de 2022. Para chegar a essa cifra, despesas extraordinárias serão acomodadas sobre uma laje acima do teto de gastos. E dívidas judiciais irrecorríveis serão enfiadas dentro do armário. Alega-se que a pandemia tornou incontornável o reforço do Bolsa Família, que passará de R$ 189 para R$ 400. Verdade. O problema é que Bolsonaro prometia há mais de um ano colocar em pé um novo programa de renda mínima, para a fase pós-auxílio emergencial.

Em troca do vale-Covid, que deixa de ser pago no final desta semana, Bolsonaro, que poderia socorrer os famintos cortando os R$ 17 bi de auxílio-Centrão e passando na lâmina R$ 371 bi em isenções tributárias e  nacos dos R$ 83 bilhões que servirão para satisfazer o apetite pantagruélico de parlamentares por emendas secretas e verbas eleitorais, opta pela cambalhota fiscal para oferece uma empulhação eleitoreira batizada de Auxílio Brasil — que, devido à barbaridade orçamentária, será mastigada pela inflação antes mesmo de ser formalizado.

Confirma-se uma outra previsão que Bolsonaro fez em março do ano passado, quando a pandemia da "gripezinha" chegou ao Brasil: "Se a economia afundar, afunda o Brasil. Se acabar a economia, acaba qualquer governo. Acaba o meu governo." Ao encostar uma dezena de crimes no prontuário do capetão despirocado, a CPI encurtou um pouco mais sua margem de manobra, estimulando o malabarismo.

Bolsonaro continua atribuindo a derrocada econômica à política do "fique em casa", que os governadores foram compelidos a adotar para combater a proliferação do coronavírus. A Comissão reforçou a percepção de que, se tivesse combinado sua alegada preocupação econômica com uma noção qualquer de responsabilidade sanitária, talvez tivesse mentido menos e comprado vacinas mais rapidamente.

Consolida-se também a migração de Paulo Guedes do posto de comandante da Economia para o de coordenador do comitê de campanha. Na folclórica reunião ministerial de abril de 2020, o posto Ipiranga avisou: "Vamos fazer todo o discurso da desigualdade, vamos gastar mais, precisamos eleger o presidente." Há cinco meses, numa entrevista à Folha, o superministro de festim declarou que seu ministério jogou na defesa nos três primeiros anos do governo. Anunciou: "Agora, vamos para o ataque".

Numa animação que não ornava com a ruína, Guedes lançou propostas ao vento: um Bolsa Família anabolizado, Bônus de Inclusão ProdutivaBônus de Incentivo à Qualificação... Nessa mesma entrevista, ele admitiu que sua agenda liberal encolheu. Disse que "o grau de adesão do presidente à agenda econômica" caiu de 99% para 65%. O que espanta não é a dificuldade do ministro de reconhecer que o chefe nunca aderiu ao seu liberalismo, mas a conversão do PhD de Chicago ao populismo autodidata de Bolsonaro e dos bacharéis do Centrão.

Será desafiador aturar os 430 dias que faltam para o fim desta desditosa gestão convivendo com um presidente sem projeto, sem partido e sem ministro da Economia, onde o Centrão explodiu o Posto Ipiranga e invadiu o cofre. O país perdeu o chão. O fundo do poço passou a ser apenas mais um estágio rumo às profundezas do inferno.

A primeira vítima da explosão é o brasileiro, que se divide entre a fila do osso e a fila do desemprego. A segunda grande vítima é a semântica. As declarações mais recentes do despresidente desobrigaram tudo mais de fazer sentido. Quando um presidente se junta ao rebotalho político que o cerca para proporcionar a si mesmo um Bolsa Reeleição de mais de R$ 80 bilhões e afirma que nada mudou, você sabe que está no centro de uma crise de significado ou numa roda de cínicos.

Bolsonaro declarou na live da última quinta-feira que Guedes continua firme, que apoia as reformas liberais e que o teto de gastos permanece intacto. Disse tudo isso ao final de um dia em que uma comissão da Câmara aprovou a emenda sobre o calote nas dívidas judiciais, a equipe do Ministério da Economia debandou e as empresas listadas na Bolsa contabilizaram perdas em valor de mercado de R$ 284 bilhões no intervalo de apenas 72 horas.

Ao atear fogo na economia para tentar reacender a chama do seu projeto de reeleição, Bolsonaro força seus adversários políticos a ajustarem suas estratégias. Para não perder eleitores, Lula dobrou o populismo, pregando um Bolsa Família de R$ 600. O inquilino de turno contra-atacou com o Bolsa Caminhoneiro de R$ 400. E os náufragos da chamada terceira via, que tentavam colocar em pé uma agenda para o pós-Bolsonaro foram como que intimados a se preparar para o pré-Dilma. Já não é negligenciável a hipótese de o Brasil viver uma recessão no ano eleitoral de 2022.

Bolsonaro tem razão: A reeleição é mesmo "uma desgraça".

Com Josias de Souza

sábado, 15 de janeiro de 2022

ATÉ QUANDO, CATILINA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA? (FINAL)

 

Jair Messias Bolsonaro nasceu no município paulista de Campinas, cursou a Academia Militar das Agulhas Negras e se formou em Educação Física e mestre em saltos pela Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro. Em 1986, quando servia no 8º Grupo de Artilharia de Campanha, ganhou projeção nacional ao escrever, na seção Ponto de Vista da revista Veja, o artigo intitulado O salário está baixo”. A insubordinação lhe rendeu 15 dias de prisão e 150 telegramas de solidariedade das mais variadas regiões do país, além do apoio de oficiais e de mulheres de oficiais, que realizaram manifestação defronte ao complexo militar da Praia Vermelha, no Rio.

No ano seguinte, Veja noticiou a invasão da prefeitura de Apucarana (PR) pelo capitão Luís Fernando Valter de Almeida — que, à frente de 50 homens, leu manifesto contra os baixos salários das forças armadas — e divulgou um plano em que Bolsonaro e o também capitão Fábio Passos da Silva pretendiam “explodir bombas em várias unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras (...) e em vários quartéis” (a operação só seria executada se o reajuste concedido aos militares ficasse abaixo de 60%, e serviria para “assustar” o ministro do Exército).

Os capitães “negaram peremptoriamente, da maneira mais veemente, por escrito, do próprio punho, qualquer veracidade daquela informação”, mas, após o surgimento de provas documentais (na ocasião da reportagem realizada na Vila Militar, Bolsonaro havia desenhado um croqui, no qual, de forma didática, explicara à repórter o funcionamento de uma carga de dinamite) e depoimentos testemunhais, o ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, deu sinal verde para uma sindicância que concluiu que os insurretos deveriam ser expulsos das forças armadas. Ainda assim, o Superior Tribunal Militar acolheu a tese da defesa, segundo a qual os acusados "foram vítimas de um processo viciado", e a expulsão dos capitães não aconteceu. Mas a carreira militar de ambos terminou ali. 

Bolsonaro passou para a reserva e chegou a cogitar de trabalhar como limpador de casco de navio, aproveitando o curso de mergulho que fizera anos antes, mas sua notória aversão ao batente levou-o a aproveitar a repercussão de sua reforma nos meios militares para se eleger vereador pelo e, na sequência, deputado federal, ambas as vezes pelo PDC. Em 1993, ajudou a fundar o PPR — fruto da fusão do PDC com o PDS — e voltou a provocar polêmica ao defender o retorno do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso.

Observação: A despeito da evidente contradição, o deputado que defendia o fechamento do Congresso — dizendo que preferia “sobreviver no regime militar a morrer nesta democracia” — tornou a se candidatar em 1994 e foi reeleito com 135 mil votos. O TRE-RJ anulou a eleição por suspeita de fraude e realizou um novo pleito, mas Bolsonaro confirmou sua reeleição e foi empossado em fevereiro do ano seguinte.

Em agosto de 1995, com a criação do PPB — resultado da fusão do PPR com o PP —, Bolsonaro migrou para a nova agremiação e foi reeleito, em 1988, com 102.893 votos. Em junho de 1999, a Mesa Diretora da Câmara decidiu propor ao plenário sua suspensão por um mês, por ter defendido o fechamento do Congresso e afirmado que “a situação do país seria melhor se a ditadura tivesse matado mais gente”, incluindo o presidente Fernando Henrique Cardoso. Acabou que a Mesa recebeu uma retratação e decidiu aplicar apenas uma censura, mas voltou atrás quando Bolsonaro alegou que sua assinatura havia sido falsificada. Mesmo assim, a proposta nunca chegou a ser votada pelo plenário da Câmara.

Questionado por empregar em seu gabinete a companheira Ana Cristina Vale, o pai e a irmã dela, Bolsonaro alegou que estava se divorciando e argumentou que, por não ser casado com Ana Cristina, a contratação não caracterizava nepotismo. Em dezembro, durante um almoço de desagravo ao ex-comandante da Aeronáutica, Walter Braüer, o ex-capitão defendeu o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso — chegando mesmo a dizer que o fuzilamento era até “algo honroso para certas pessoas”. O líder do governo na Câmara pediu a cassação de seu mandato, mas, mais uma vez, a proposta nunca chegou ao plenário da casa.

No início de 2000, Bolsonaro defendeu a pena de morte para qualquer crime premeditado e a tortura em casos de tráfico de drogas. Atacou os homossexuais, dizendo não “admitir abrir a porta do meu apartamento e topar com um casal gay se despedindo com beijo na boca, e meu filho assistindo a isso”, e seguiu defendendo os interesses das FFAA. Inconformado com o aumento da ingerência civil sobre os militares a partir da criação do Ministério da Defesa pelo governo FHC, chamou o ministro de “canalha”, “patife” e “imoral”, acusou-o de postergar o reajuste dos militares e de estar “servindo aos interesses dos EUA no país”.

Reeleito em 2002 com 88.945 votos, nosso herói declarou-se contrário à reforma da previdência. Trocou o PPB pelo PTB, que deixou em 2005 para se filiar ao PFL, que deixou meses depois para ingressar no PP (nova denominação do PPB, sua antiga legenda). Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema do mensalão, Bolsonaro endureceu seus ataques ao PT e aos políticos do partido envolvidos nos escândalos. Chamou José Dirceu de “terrorista” e José Genoíno de “delator”. Chegou mesmo a levar à CPI do Mensalão o coronel reformado Lício Augusto Ribeiro Maciel, responsável pela prisão e interrogatório do petista em 1972, para desmentir a versão de que ele teria sido torturado para entregar os companheiros.

Em outubro de 2005, por ocasião do referendo sobre a comercialização de armas de fogo, Bolsonaro, crítico contumaz das campanhas de desarmamento anteriores, mandou confeccionar cartazes com frases como “O exército do PT é o MST” e “Entregue suas armas: os vagabundos agradecem”, e posicionou-se entre os defensores e organizadores da campanha do “não”, dizendo ser favorável “ao desarmamento, sim, mas dos bandidos” (ao final, venceram os partidários do “não”, com 63% dos votos).

Reeleito para o quinto mandato consecutivo com 99.700 votos, Bolsonaro se envolveu em mais uma polêmica, dessa vez por conta da situação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, no estado de Roraima. Na ocasião, o representante indígena no debate atirou água no ex-capitão. Em 2009, o PCdoB entrou com representação contra ele, por quebra de decoro.

Reeleito em 2010 com 120.646 votos, Bolsonaro foi candidato à presidência da Câmara e obteve 9 votos — contra 375 do parlamentar eleito, Marco Maia, 106 de Sandro Mabel e 16 de Chico Alencar. Em abril de 2011, criticou o que batizou de “kit gay” e atacou o deputado homossexual Jean Willys (“Eu não teria orgulho de ter um filho como você”). No mês seguinte, meteu-se em nova polêmica envolvendo o projeto de lei que criminalizava a homofobia. 

Em 2014, já de olho no Palácio do Planalto e diante da recusa de Ciro Nogueira, dono PP, em lançar sua candidatura à Presidência, filiou-se ao PSC. Como a sigla também não lhe fez a vontade, reelegeu-se mais uma vez deputado federal (com 464 mil votos). Durante o impeachment de Dilma, dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como torturador durante a ditadura militar, o que lhe rendeu mais uma denúncia ao Conselho de Ética da Câmara (dessa vez por apologia à tortura). 

Em 2017, concorreu novamente à presidência da Câmara, mas obteve míseros quatro votos (o vencedor foi Rodrigo Maia). Ainda em 2017, sem garantias sobre o lançamento de sua candidatura ao Planalto, cogitou de migrar para o PSDC e chegou a assinar um compromisso de filiação ao PEN.

Em 2018, Gustavo Bebianno articulou a filiação de Bolsonaro e filhos e ao PSL de Luciano Bivar. Na condição de pré-candidato à Presidência, o ainda deputado se dedicou a fazer campanha Brasil afora. Sua candidatura foi oficializada em julho de 2018 e recebeu o apoio formal do PRTB, que indicou como postulante a vice o general Hamilton Mourão. À época, Bolsonaro ressaltou que, embora não tivesse amplas estruturas partidárias e dispusesse de pouco tempo de propaganda na televisão, confiava na espontaneidade dos seus apoiadores, que se mobilizariam em plataformas digitais e viabilizariam uma campanha massiva, mas de baixo custo.

No evento de lançamento da candidatura ao Planalto, defendeu a fusão de ministérios, a privatização de braços da Petrobras e o fim da "indústria de multas", fazendo referência às estradas e também a órgãos associados à defesa do meio ambiente e à fiscalização de condições de trabalho. Foram lançadas ainda as candidaturas dos filhos 01 ao Senado e 03 à Câmara Federal (o primeiro pelo Rio de Janeiro e o segundo por São Paulo). 

Nas pesquisas divulgadas ao longo de 2018, o candidato do PSL chegou a ser apontado como o segundo na preferência dos eleitores, atrás apenas do presidiário Lula, que ainda recorria da condição de inelegível, embora já apontasse o duble de poste e bonifrate Fernando Haddad como seu preposto. Iniciada oficialmente a campanha, Bolsonaro seguiu com sua agenda de viagens pelo Brasil até ser esfaqueado, internado e submetido a uma série de intervenções cirúrgicas. O caso teve ampla repercussão e não só colocou o candidato em evidência como lhe serviu de pretexto para escapar dos debates televisivos.

Tendo o antipetismo como principal cabo eleitoral, Bolsonaro confirmou sua liderança no primeiro turno (e ajudou a eleger diversos parlamentares e que o apoiaram em campanha — entre os quais os filhos Flávio Rachadinha, que conquistou uma cadeira no Senado, e Eduardo Bananinha, que passou a integrar a segunda maior bancada na Câmara Federal) e derrotou Haddad no segundo, (com 55% dos votos válidos) eleger. 

Na condição de presidente eleito, iniciou as tratativas para composição de seu quadro ministerial, que prometeu balizar por critérios técnicos (e não ideológicos). Empossado em 1 de Janeiro de 2019, defendeu ampla agenda de reformas, assumiu compromissos com o combate à criminalidade e à ideologia de gênero, alardeou um modelo conservador e tradicional para a "família", implementou um mote com os dizeres "Mais Brasil e menos Brasília" e defendeu o porte de armas, o excludente de ilicitude e o livre mercado como diretriz econômica. E deu no que deu.

Bolsonaro foi casado com Rogéria Nantes Nunes Braga Bolsonaro, vereadora no Rio de Janeiro entre 1993 e 2001 — com quem teve os filhos Flávio, Carlos e Eduardo, que também seguiram pelo política —, contraiu segundas núpcias com Ana Cristina Vale, com quem teve outro filho (Jair Renan), e, em 2007, com Michele Bolsonaro, com quem teve a menina Laura, hoje com 11 anos de idade. 

No âmbito judicial, o "mito" é investigado em seis inquéritos. O assim chamado inquérito das fake news, que tramita no STF, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia. Outro inquérito (esse no TSE) investiga ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro. Além disso, aliados do presidente foram alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado. Por último, mas não menos importante: dos cinco filhos que o capitão teve em três casamentos, quatro são investigados pela PF (a exceção fica por conta da caçula).

FONTESPortal da Câmara dos Deputados; Portal do Estado de São Paulo; Portal da Folha de São Paulo; Portal O Globo; Portal Jornal do Brasil; Portal IstoÉ; Portal Veja; Portal do Tribunal Superior Eleitoral; Portal de notícias do Jornal Extra; Portal do El País; Portal do jornal Estado de Minas.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

VAI QUE É TUA, BOLSONARO!

No último domingo, 26, Jair Mefistófeles Bolsonaro completou sua milésima primeira noite frente à chefia do Executivo tupiniquim. Inevitáveis são as alusões ao clássico da literatura mundial com a dramática situação do país após quase trinta e três meses de vigência do bolsonarismo boçal. O que me faz lembrar...

Nas 1001 Noites, o sultão Xariar condena à morte a esposa Xazaman, que lhe enfeitou a testa com um vistoso par de chifres, e a partir de então desposa uma jovem diferente a cada noite e a manda para o cadafalso ao nascer do sol. Decidida a pôr fim a esse ciclo vingativo, a filha do grão-vizir se oferece para a noite seguinte, que se multiplica, assim como as histórias que ela conta ao marido, adiando indefinidamente a própria execução. Passadas mil e uma noites, o califa se apaixona pela envolvente Sherazade e suspende a ordem cruel.

Durante as mil e uma noites do bolsonarismo no Brasil, mais de 595 mil inocentes foram sacrificados pela interseção entre a Covid e o governo federal, a economia nacional foi absolutamente devastada e o país virou motivo de chacota junto à sociedade internacional. Xariar encontrou Sherazade, mas nada sugere que a história protagonizada por Bolsonaro, sua família e séquito de lunáticos tenha um final feliz.

Após a farra que viveram ao longo dos últimos trinta anos parasitando o erário brasileiro, mas, sobretudo e de forma ainda mais enfática, considerando as vidas de inocentes que foram sacrificadas durante as mil e uma noites do bolsonarismo no governo federal, o cerco se fecha e as consequências dos atos se aproximam. Somente nos últimos dias, Carlos Bolsonaro, que já não possui foro privilegiado, foi qualificado como "chefe de organização criminosa" por um juiz da 1ª Vara Criminal Especializada do TJ-RJ, que identificou "indícios rotundos de atividade criminosa em regime organizado" cometidos pelo pitbull do papai.

Para além disso, a Anistia Internacional listou trinta e duas violações de direitos humanos e retrocessos durante as mil e uma noites do governo Bolsonaro, líderes mundiais avacalharam o mandatário de festim de uma forma jamais vista, e o escândalo do caso Prevent Senior demonstrou a real profundidade da degradação moral do bolsonarismo e das figuras envolvidas com esse movimento.

A CPI do Genocídio prepara seu golpe final e uma denúncia que deverá ser apresentada junto a cortes internacionais para imputar ao capitão e membros de seu gabinete a prática de crimes contra a humanidade durante os mil dias de governo. Nesse contexto, a postura "menos ofensiva", digamos assim, do presidente nos últimos tempos não decorre de ele se ter encantado pelas histórias de Sherazade, mas de ter se dado conta de que o fim de sua história não será doce e romântico como os dos contos árabes, persas e indianos.

Da feita que testou negativo para a Covid, o presidente poderá levar adiante a série de eventos e inaugurações com que pretende comemorar os 1.000 dia de governo, mas resta saber o que há para comemorar. Na semana passada, durante seu discurso de abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, sua insolência apresentou aos demais chefes de Estado um Brasil que ombreia com as melhores economias emergentes do planeta, esquecendo-se de avisar que o país em questão só existe em seus devaneios e delírios.

Só mesmo idiotas de quatro costados poderiam achar que os três primeiros anos da gestão do "mito" foram excepcionais e que o governo tem o que celebrar. Para a população em geral, as comemorações se resumem a um banho rápido com as luzes apagadas.

Durante a campanha o então candidato do PSL prometeu apoiar incondicionalmente a Lava-Jato e resgatar as dez medidas de combate à corrupção; propor o fim da reeleição, o enxugamento máquina pública e a privatização de estatais. Entre outras falácias, vale destacar também as promessas de nomear ministros com base em critérios técnicos, defender a liberdade de imprensa, reduzir a carga tributária, pôr fim à progressão de pena e à saída temporária de presos, acabar com as indicações políticas em geral e ao Ministério da Saúde em particular e — agora a cereja do bolo — não trocar cargos e verbas por apoio parlamentar.

A ânsia pela reeleição não contribuiu em nada para a estabilidade e a previsibilidade que os agentes econômicos desejam. As consequências são a queda da Bolsa, a alta do dólar, a inflação ascendente, os juros futuros subindo, a fuga de capitais, os investimentos postergados e o desemprego. As crises institucional, econômica e social estão entrelaçadas. As privatizações, reformas, cortes de subsídios e outras medidas aguardadas pelo mercado caminham a passos lentos (isso quando caminham), e não faltam incertezas geradas pelo comportamento permanentemente conflituoso do próprio presidente com os outros Poderes.

O cenário político tem se mostrado desfavorável ao projeto de reeleição — confirmado na entrevista que concedeu à revista Veja, que circula desde a última sexta-feira — que Bolsonaro acalenta desde a posse na Presidência. Sua opção de não descer do palanque custou-lhe caro em termos de popularidade.

Pesquisas apontam que a reprovação do governo ultrapassa a marca dos 50 pontos percentuais: enquanto o índice de pessoas que avaliam a gestão Bolsonaro como boa ou ótima é de 26,9%, as que a consideram ruim ou péssima somam 50,3%. E há uma tendência clara de piora na imagem do morubixaba de festim. Mas o califa do Bolsonaristão vai a Teixeira de Freitas, na Bahia, para inaugurar... 10 km de asfalto.

ObservaçãoO governo vai às ruas nessa semana, na qual se completam mil dias da administração Jair Bolsonaro, para fazer uma série de entregas todos os dias da semana. Hoje, por exemplo, já está confirmado que 12 ministros deixarão Brasília. Isso representa metade do governo. O presidente Bolsonaro vai à Bahia pela manhã para inaugurar pouco mais de 10 quilômetros de duplicação de estradas. Serão 5,4 quilômetros de duplicação na BR-116 e mais cinco quilômetros na BR-101. Depois, segue para Alagoas à tarde. Amanhã, quando o presidente estará em Roraima, serão 10 ministros fora de Brasília

Nos bastidores do poder, em Brasília, crescem rumores de que Bolsonaro pode desistir de concorrer à reeleição para disputar uma cadeira na Câmara ou no Senado. Seria um plano B para o caso de avaliações internas apontarem que ele não teria condições de passar para o segundo turno da disputa. A estratégia visaria manter a prerrogativa de foro privilegiado — o presidente é investigado em cinco inquéritos no STF e no TSE, sendo que dois deles se referem às ameaças feitas à realização das próximas eleições.

Um parlamentar do Centrão confirmou reservadamente ao Correio Brasiliense que têm sido frequentes os relatos de que Bolsonaro pode vir a desistir de concorrer à reeleição, mas diz não acreditar que o bloco político venha a abandonar o governo: “O Centrão não vai desembarcar de ninguém. O Centrão vai no velório, carrega o caixão no cortejo, chora na beira da cova, mas não pula para dentro do caixão. Então, o Centrão, e eu estou dizendo isso inclusive no meu partido, vai ficar no governo até os 45 minutos do segundo tempo. Porque depende muito dessa relação fisiológica do poder, de cargos, emendas”.

Vale destacar que as marafonas do Congresso dormiram no governo Dilma e acordaram no governo Temer. Em julho, durante conversa com apoiadores no chiqueirinho defronte o Alvorada, Bolsonaro admitiu que poderia não disputar a reeleição: “Entrego a faixa para qualquer um, se eu disputar a eleição”, disse ele na ocasião.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos, afirma que a decisão de concorrer a uma eleição é de caráter personalíssimo para qualquer político, mas avalia que Bolsonaro está cada vez mais inviável eleitoralmente. “Acho que está dentro de uma tempestade perfeita do ponto de vista eleitoral. Os índices de popularidade dele são cada vez menores. Ele não tem um partido até agora para disputar a eleição e parece absolutamente incapaz de desmontar essa bomba, que é a crise econômica hoje. Desemprego alto, fome alta, inflação alta, juros altos e uma pandemia que ainda não acabou. Então, eu acho muito difícil ele se viabilizar eleitoralmente, em meio a essa tempestade perfeita”.

O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, diz que as versões sobre uma possível desistência de Bolsonaro começaram antes mesmo da declaração feita pelo chefe do Executivo a apoiadores em julho. “Esses relatos já vêm circulando há um bom tempo. Parlamentares com os quais tenho conversado dizem que, até mesmo internamente, na cúpula do governo, a avaliação é de que Bolsonaro hoje é um candidato disfuncional, não competitivo para chegar com força em 2022”.

Caso Bolsonaro saia mesmo do páreo, haverá uma grande reviravolta na correlação de forças políticas, com um possível crescimento de pré-candidatos de centro nas pesquisas de intenção de voto, beneficiados, principalmente, pelo antipetismo — que ainda é forte entre um segmento de eleitores conservadores.

domingo, 16 de janeiro de 2022

SOBRE A TERCEIRA VIA

O bolsonarismo e o Centrão são formas distintas do proverbial atraso brasileiro. O primeiro é mais virulento e nocivo à democracia; o segundo, paradoxalmente, reduz os riscos no curto prazo, mas sua simbiose com o primeiro tem tudo para condenar o Brasil a seguir, com velocidade cada vez maior, no plano inclinado de um gradual e inseguro declínio econômico e social, com muita instabilidade política. 

Presumir que a democracia poderá escapar sã e salva de um processo como esse é, no mínimo, imprudente. O Brasil tem lideranças lúcidas e antenadas em diversos meios, mas o desafio é dar expressão política a essas forças. 

Primeiro, é preciso compor uma ampla frente política e social para evitar a reeleição de Bolsonaro e qualquer tentativa de desestabilização institucional. Depois, é preciso adotar uma prudente ousadia nas reformas do sistema político brasileiro. Nessa linha, é imperativo reduzir a propensão à fragmentação partidária e mitigar a tendência a crises institucionais de custosa resolução, para o que a eventual adoção do semipresidencialismo, em momento adequado, possa vir a ser um remédio.

Sem abrir mão da prudência, é preciso devolver algum encanto à política. Para isso não é preciso derrubar muros na nossa arquitetura institucional, mas é indispensável reformá-la para abrir mais o sistema político a novas formas de organização, expressão e participação da sociedade, seja pela desobstrução dos canais existentes, democratizando os partidos, seja pela criação de novos canais. Para fortalecer a democracia representativa, é preciso renová-la. E esse objetivo não será alcançado com a reeleição de Bolsonaro nem com a volta do lulopetismo corrupto ao poder.

Seria preferível ver Bolsonaro afastado da Presidência e julgado pelos crimes que cometeu durante seu mandato. Na verdade, a única saída realmente democrática para o Brasil seria o impeachment do sociopata. O problema é que isso vai de encontro aos interesses cleptocratas do Centrão. Se o presidente realmente presidisse alguma coisa, poder-se-ia dizer que, nos moldes do acerto vigente, "Bolsonaro preside e o Centrão governa e dita as regras da reeleição", como escreveu Jose Casado em sua coluna em Veja.

Bolsonaro preside, o Centrão governa. É regra não escrita, mas confirmada por dois fatos da maior relevância. Em setembro, sob forte pressão do agrupamento que é seu esteio parlamentar, o capetão recuou do confronto aberto com o Supremo e foi chorar as pitangas na barra da saia do ex-presidente Michel Temer, numa carta de rendição que, provavelmente, nem o próprio nosferatu assinaria.

Bolsonaro se esforça para desmentir os críticos que o acusam de agir como um demente. Ao ignorar recomendações da Anvisa para proteger o Brasil contra o ômicron, compra que não sofre de insanidade, mas, sim, aproveita cada segundo dela. "Vacina não impede a transmissão da doença", declarou a sumidade. "Tem que aprender a conviver com o vírus", completou.

Aos poucos, o brasileiro vai descobrindo a serventia da passagem de Bolsonaro pelo Planalto, que se consolida como um extraordinário protagonista de tríades: o nascer do Sol, a morte e a próxima estupidez do presidente. Descobre-se agora que há também no universo três coisas irrecuperáveis: a pedra atirada, a denúncia adiada pelo Augusto Aras e o prejuízo imposto ao Brasil por um presidente insano. A pergunta que não quer calar é: o que acontecerá nos próximos dez meses? 

The answer, my friend, is blowing in the wind, mas sempre se pode especular, como fez o Estadão ao dizer que "a dificuldade da terceira via nas pesquisas e os retrocessos da dupla Lula e Bolsonaro criaram no empresariado um ambiente propício para alguns "devaneios eleitorais", e o maior deles é o abandono de Bolsonaro, que desistiria da reeleição em busca de imunidade parlamentar"Ou Diogo Mainardi ao dizer que o devaneio, na verdade, não é um devaneio, pois essa saída está no horizonte de muita gente graúdaBolsonaro ainda acredita que irá recuperar os votos perdidos, mas pode jogar a toalha se isso não ocorrer. Por mais aloprado que seja, ele passou os últimos dois anos tentando evitar a cadeia, mostrando qual é a sua verdadeira prioridade.

A primeira pergunta a ser respondida sobre 2022, na opinião de Mainardi, é a seguinte: Bolsonaro vai levar sua candidatura até o fim? Diogo aposta que ele vai pular fora até junho ou julho. Se tiver a certeza de que será derrotado por Lula no segundo turno ou, de maneira ainda mais humilhante, no primeiro, ele certamente desistirá. Para além disso, outro fator que pode persuadi-lo a fugir das urnas é Sergio Moro — se o ex-juiz crescer mais 6 ou 7 pontos nas pesquisas, Bolsonaro buscará um caminho mais seguro para tentar evitar a cadeia.

Na avaliação de William Waack, o pesadelo encarnado por Bolsonaro e Lula só será derrotado se o candidato da Terceira Via souber oferecer um sonho para o eleitorado. E ele está certo. Antes, porém, é preciso acordar para o fato de que só surgiu um nome capaz de enfrentar o duplo pesadelo — o de Sergio Moro. Ele talvez não seja o candidato dos sonhos para uma parte da Terceira Via, mas é o único.

Assim que Moro for escolhido como candidato único da Terceira Via, a campanha vai mudar. A lógica de uma disputa polarizada só funciona quando há equilíbrio entre os dois polos, e esse equilíbrio — que já é praticamente inexistente, considerando a vantagem insuperável de Lula sobre Bolsonaro — deve desaparecer de uma vez por todas, porque uma candidatura mais competitiva de Moro acabará atraindo uma fatia do eleitorado bolsonarista. E, sem o pesadelo bolsonarista, o pesadelo lulista também se distancia.

Observação: Não se sabe se alguém já teve essa conversa com Bolsonaro. Parece que não. Mas o abandono de sua candidatura tem tudo para representar o “fato imponderável” citado por Waack — “uma mãozinha do destino”, como ele disse.

terça-feira, 12 de julho de 2022

E VIVA O POVO BRASILEIRO...

 

A morte a tiros do dirigente petista Marcelo Arruda pelo bolsonarista José da Rocha Guaranho , na madrugada de domingo, em Foz do Iguaçu, após troca de insultos por divergência política, escandalizou o país e gerou condenação de autoridades e políticos de todos os espectros ideológicos. Um vídeo registrou o momento da invasão de Guaranho à festa de Arruda e a troca de tiros. O PT estuda pedir para que a PF investigue o caso. Bolsonaro disse que dispensa apoio de quem recorre à violência, mas atacou a esquerda. Mais detalhes sobre esse lamentável episódio e o que ele prenuncia no vídeo que eu inseri no final desta matéria.


***


Em plena campanha antecipada, Bolsonaro bateu ponto na festa da independência da Bahia, que também contou com a presença dos principais presidenciáveis (se é que a polarização exacerbada permite considerar Ciro e Simone como tal). Apesar de reclamar da "moto de merda" que lhe arrumaram, o mito dos bolsomínions liderou mais uma motociata pela orla soteropolitana, depois de condenar, num rápido discurso, a alta dos combustíveis, e criticar "os governadores do Nordeste", que são, em sua maioria, apoiadores de Lula. Aliás, fala-se que o staff da campanha do petralha manipulou digitalmente as imagens do evento, de maneira a dobrar o número de participantes que aparecem nas fotos. Triste Brasil!
 
No início de 2014, o então deputado Jair Bolsonaro perorou: "(...) a única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas". Em meados de 2019, já na Presidência, ele disse: "(...) daqueles governadores 'de Paraíba' [sic.], o pior é o do Maranhão". Dois meses depois, perguntado por um deputado baiano se estaria virando um "cabra da peste", respondeu: "(...) só tá faltando crescer um pouquinho a cabeça". Semanas atrás, indagou ao ex-ministro e pré-candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas se ele tem "parentes pau de arara" (confira outras pérolas racistas de seu presidente seguindo este link).
 
O fato de as pesquisas de intenção de voto desfavorecerem Bolsonaro preocupa os articuladores de sua campanha à reeleição, sobretudo depois da prisão do ex-ministro Milton Ribeiro (prontamente revogada pelo desembargador Ney Bello, do TRF-1), que demoliu a farsa bolsonarista de que não existe corrupção no governo. Uma preocupação tardia, convenhamos, já que a primeira das muitas promessas de campanha que Bolsonaro não cumpriu foi justamente a do combate à corrupção. E nem poderia: antes mesmo de ele ser eleito vieram à luz os malabarismos do amigo Fabrício Queiroz, coordenador do "suposto" esquema de rachadinhas do filho Flávio, e a informação de que Wal do Açaí era funcionária-fantasma do próprio Jair. E isso foi só o começo. 
 
Na famosa reunião ministerial de abril de 2020, Bolsonaro deixou evidente, com seu tradicional português castiço, o propósito de interferir politicamente na Polícia Federal. Para quem não se lembra dessa história, segue um trecho de sua fala: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."
 
Nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria na lisura de um governo cujo chefe é useiro e vezeiro em praticar "atos pouco republicanos", alvo de 145 pedidos de impeachment e de quase uma dezena de inquéritos que "apuram" da compra de vacinas superfaturadas ao escândalo do MEC  no qual o envolvimento do chefe do Executivo foi reconhecido expressamente pelo próprio ex-ministro Milton Ribeiro. Mas Bolsonaro conta com escudeiros fiéis na presidência da Câmara e na PGR, de modo que tudo isso deve acabar em pizza. 
 
Sempre que pode, o mandatário alardeia que não há corrupção em seu governo, a despeito de colecionar dezenas de casos espúrios envolvendo ministros, assessores e o próprio clã presidencial. Para aumentar sua base de apoio no Congresso, sua alteza montou um orçamento secreto multibilionário. Boa parte do dinheiro foi destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços superfaturados em até 259%. O conjunto de 101 ofícios encaminhados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional para apontar como eles preferiam utilizar os recursos comprova a farra com o dinheiro público.
 
Observação: As emendas desse bolsolão seguem um rito diferente das demais, que atendem a critérios específicos, visando ao equilíbrio e à equivalência entre todos os integrantes da Câmara Federal. A prática nada mais é do que um acordo informal que permite ao governo, por meio da direção da Casa, comprar o apoio de deputados às propostas encaminhadas pelo Executivo ao Legislativo. Entre outros malabarismos espúrios, o MEC, sob Bolsonaro, abriu um processo de licitação para pagar R$ 480 mil por ônibus escolar destinado ao transporte de estudantes em áreas rurais, quando cada ônibus deveria custar, no máximo, R$ 270 mil.
 
O governo "impoluto" do mito dos apatetados contratou uma empresa de fachada para prestar serviços de pavimentação ao custo de R$ 600 milhões, nos quais o valor total das irregularidades somou R$ 4,3 milhões. Algumas das vias examinadas pela CGU ficam no município alagoano de Barra de São Miguel, cujo prefeito é Benedito Lira, pai do presidente da Câmara dos Deputados.
 
O ex-factótum da Famiglia Bolsonaro depositou pelo menos 21 cheques na conta da hoje primeira-dama entre os anos de 2011 e 2018, que também recebeu pelo menos quatro depósitos de R$ 11 mil feitos por Márcia Aguiar, esposa de Queiroz. Um levantamento feito pelo Estadão revelou um documento do Coaf que aponta movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do ex-assessor parlamentar de Zero Um, e ainda há suspeitas da prática de rachadinha nos gabinetes do filho Zero Dois e do próprio Jair Bolsonaro.
 
O MPF denunciou Bolsonaro-pai e sua ex-funcionária fantasma Walderice Santos da Conceição (a tal "Wal do Açaí") à Justiça Federal de Brasília por improbidade administrativa. Como dito linhas acima, o caso veio à tona em 2018, em meio à campanha eleitoral. Reportagens da Folha revelaram que Wal foi registrada como funcionária de Bolsonaro em sua Secretaria de Gabinete na Câmara dos Deputados, em Brasília, mas vendia açaí no município fluminense de Angra dos Reis.
 
Denúncias apontaram que o contrato entre o Ministério da Saúde e a empresa Precisa, representante do imunizante indiano Covaxin no Brasil, previa a compra superfaturada do produto. Os contrato de R$1,6 bilhão envolveria ainda uma empresa de fachada, a Madison Biotech, localizada em Singapura. 

Ao longo de 2020, o governo gastou R$ 1,8 bilhão em itens de alimentação, sendo R$ 15,6 milhões em leite condensado. Ao rebater as acusações, o mandatário deu mais uma demonstração de sua indefectível polidez: "Quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que comprei 2 milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra puta que pariu, imprensa de merda! É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado.

Bolsonaro já gastou R$ 16,5 milhões com o cartão corporativo em viagens com a comitiva e a família, segundo um levantamento feito pelo TCU. O montante é parte dos R$ 21 milhões torrados pelo presidente, pela primeira-dama e pelo círculo mais próximo do clã presidencial.
 
O senador Flávio Bolsonaro trocou o apartamento funcional que ocupava em Brasília por uma chamativa mansão num dos pontos mais bonitos, seguros e valorizados do DF. O imóvel foi comprado por R$ 6 milhões. Na época, Zero Dois explicou que financiou metade da dívida e que a outra metade teria sido quitada com recursos da venda de um apartamento que ele tinha no Rio de Janeiro e de uma franquia de chocolates. Mas não revelou maiores detalhes do negócio, nem a identidade do comprador. Especulou-se que os rendimentos do parlamentar eram incompatíveis com uma aquisição de tamanho porte, mas, diante da sucessão de escândalos envolvendo essa espúria gestão, o assunto caiu no esquecimento.
 
Tampouco se fala do envolvimento do clã presidencial com milicianos do quilate de Adriano da Nóbrega, líder do "Escritório do Crime", que foi executado pela PM baiana numa operação no mínimo suspeita. O miliciano tinha relações diretas com Queiroz e a família do presidente. A história foi parar na televisão alemã, que divulgou uma matéria sobre a ligação do presidente e seus filhos com milícias fluminenses e sua relação com o assassinato de Marielle Franco, cujo mandante ninguém sabe até hoje quem foi.
 
A lista de prioridades do governo Bolsonaro nunca deixa de surpreender. Após o escândalo da compra de R$ 56 milhões em filé, picanha e salmão, as Forças Armadas adquiriram 35 mil unidades de Viagra, além de torrar R$ 3,5 milhões em próteses penianas. Isso sem falar que Fabio Wajngarten, então chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, recebia (por meio de uma empresa da qual era sócio) dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela SECON, por ministérios e por estatais do governo federal. 

Mais de um ano depois de deixar o Palácio do Planalto em meio a uma disputa sobre a estratégia de comunicação, Wajngarten voltou a Brasília, a convite de Flávio Bolsonaro, para atuar na campanha pela reeleição do pai. Ainda não está definido qual cargo formal ele terá junto ao governo, mas especula-se que atuará como assessor especial da Presidência.


terça-feira, 21 de junho de 2022

A 100 DIAS DO PRIMEIRO TURNO...



Tanto Lula quanto Bolsonaro vivem no passado, saudosos, cada qual a sua maneira, de um Brasil que não existe mais. Em meio a esses devaneios nostálgicos, o eleitorado, desalentado, subnutrido e de olhos vendados pela ignorância, resigna-se, mais uma vez, à perspectiva de votar em quem não quer para impedir a vitória de quem quer menos ainda. 

Os governos do petralha foram melhores que o do malacafento? Foram. Mas ambos se igualam quando adotam o mesmo modelo econômico e práticas corruptas. Hoje, os “queridinhos do eleitorado” são dois atores encenando uma luta de um contra o outro e prometem mudanças que nunca virão.

Bolsonaro ainda não confirmou quem será seu companheiro de chapa. Com Mourão fora do páreo, tudo apontava para o também general Walter Braga Netto, mas o Centrão vem pressionando a troca pela ex-ministra Tereza Cristina — e o Centrão manda e não pede. 

Os motivos para não fazer do general o vice saltam das pesquisas encomendadas pelo comitê da reeleição. Elas coincidem com as sondagens públicas. Apontam uma alta rejeição a Bolsonaro, uma aversão notável do eleitorado feminino e uma dificuldade de encurtar a distância que separa do principal rival. Bolsonaro já comparou o vice a um cunhado — que não se pode mandar embora —, e disse que precisa de um  que "não tenha ambições de assumir a presidência ao longo do mandato".

Observação"Diante da ofensiva do núcleo duro da campanha para emplacar Tereza Cristina, aliados tem estimulado o ex-ministro da Defesa a iniciar uma agenda própria de viagens pelo país para não perder o posto para a ex-colega de Esplanada", diz O Globo. Segundo o jornal, Valdemar Costa Neto, Flávio Bolsonaro e Ciro Nogueira “já se comprometeram a intensificar a ofensiva em favor da deputada”. O Partido Militar, que já tem seu candidato no Palácio do Planalto, talvez tenha de ceder a vice-presidência para o Centrão.

A participação de militares no desgoverno em curso começou com a presunção de que eles conseguiriam controlar os ímpetos autoritários do chefe — um político bronco que lhes permitiria voltar ao poder pela porta da frente. Acabou que eles foram cooptados pelo mandatário para uma ação que se fortalece à medida que as chances de reeleição diminuem. O abuso do poder político e econômico do atual governo arranhou profundamente a fama dos militares de serem a elite do funcionalismo público. 

O ministro da Defesa é um aliado incondicional do presidente na campanha pelo descrédito da urnas eletrônicas e esgarçamento das relações do Executivo com as cortes superiores, notadamente o TSE. A insistência das fardas em apontar supostos problemas no sistema eleitoral denota claramente seu apoio à pregação bolsonarista de que está em curso uma manobra para impedir a reeleição do “mito”.

As comemorações do bicentenário da Independência prometem uma reprise do que ocorreu no 7 de Setembro do ano passado. Como que se aquecendo para o golpe, Bolsonaro voltou a subir o tom contra o STF e o TSE, confraternizou com o criminoso foragido Alan dos Santos, ameaçou (pela enésima vez) desrespeitar decisões dos tribunais superiores e disse que deve se encontrar em breve com Donald Trump, que está às voltas com a Justiça americana por ter arquitetado um golpe de Estado para impedir Joe Biden de assumir seu posto na Casa Branca. 

Embora o TSE e o STF tenham confirmado a cassação de dois deputados bolsonaristas que divulgarem fake news pela internet, Bolsonaro continua seguindo os passos de seu ídolo (só falta pintar os cabelos de laranja). Com todas as pesquisas apontando a vitória de Lula, essa postura leva a crer que o presidente esteja forçando a impugnação de sua candidatura, o que lhe evitaria uma derrota acachapante nas urnas e permitiria reclamar do sistema.

A exemplo do sapo de Guimarães Rosa, Bolsonaro não pula de uma posição política para outra por boniteza, mas por precisão. Braga Netto continua sendo seu preferido. Foi por absoluta necessidade que o presidente reinseriu a carta da ex-ministra da Agricultura no baralho. O general já havia se desincompatibilizado do cargo no início de abril e se filiado ao partido do chefe. Foi nomeado aspone e passou a acompanhar o morubixaba em suas viagens de campanha. 

Bolsonaro já havia declarado sob holofotes que sua efetivação como Número 2 da chapa estava 90% acertada. Deve-se a diferença de 10% à pressão dos caciques do Centrão, e o presidente já se mostra receptivo à argumentação segundo a qual, em política, para cada jeito de fazer há pelo menos mil desculpas para não fazer.

Se na batida do martelo a opção civil prevalecer sobre o general, o pulo será do tamanho da fragilidade exposta nas pesquisas.

Com Josias de Souza

sexta-feira, 1 de julho de 2022

COM A CARA NO FOGO E A CAMINHO DO INFERNO

 

Pode-se morrer de tudo no jornalismo, menos de tédio”, costumava dizer o saudoso Ricardo Boechat — que, por uma ironia do destino, perdeu a vida num surreal acidente — no qual o helicóptero em que voltava de Campinas (SP) para a capital paulista colidiu com um caminhão. 


Observação: Cito essa frase porque estou redigindo este texto seis dias da data prevista para sua publicação, de modo que é bem provável que o escândalo envolvendo o dublê de pastor e ex-ministro da Educação tenha tido novos desdobramentos (vide atualização no final da postagem). 

 

Na avaliação do comitê de campanha de Bolsonaro, a prisão de Ribeiro e dos pastores lobistas do MEC tem alto potencial destrutivo. Montou-se às pressas uma operação para tentar reduzir os danos, mas em cima de um paradoxo: em público, tenta-se distanciar Bolsonaro de Ribeiro. Nos bastidores, o Planalto envia ao ex-ministro a mensagem de que ele não será abandonado. Bolsonaro precisa agora rezar para que o ex-auxiliar se disponha a colocar a cara no fogo por ele.

 

Observação: No último dia 24, o pastor Arilton Moura, apontado como um dos líderes do gabinete paralelo no MEC, disse a um de seus advogados: “Eu preciso que você ligue para a minha esposa... acalme minha esposa... porque se der qualquer problema com a minha menininha, eu vou destruir todo mundo". O trecho do diálogo, e que consta nas investigações, foi divulgado naquele dia pelo jornal O Globo.

 

A 100 dias da eleição, injetou-se uma crise ética dentro da campanha de Bolsonaro num instante em que o capitão já arrasta pela conjuntura a bola de ferro da crise econômica. Elegeu-se como prioridade a preservação de três pilares da estratégia eleitoral traçada anteriormente. Num esforço para manter a pregação anticorrupção, decidiu-se aprofundar a tática de rememorar os escândalos da era petista. Imagina-se que isso inibirá a exploração do escândalo pelo PT e por Lula. 

 

Mobilizaram-se pastores amigos para tentar evitar prejuízos à aliança mística que Bolsonaro cultiva com a religiosidade — donos de 32 milhões de votos, os evangélicos genuínos não costumam compactuar com transgressões éticas. De resto, o comitê do presidente busca informações que permitam à campanha caminhar adiante dos investigadores. Dando de ombros para o fato de que o processo corre em sigilo, Bolsonaro encomendou ao Ministério da Justiça dados detalhados sobre o inquérito da PF.

 

Fiel escudeiro do pai e um dos principais articuladores de sua campanha à reeleição, o senador Flávio Bolsonaro divulgou um vídeo em que compara os casos de corrupção do governo paterno com os escândalos das gestões petistas. “Enquanto no governo Bolsonaro, quando há um caso isolado de suspeita de alguma coisa, a pessoa tem que ser investigada e ela tem que provar sua inocência, nos governos passados, como da Dilma e do Lula, havia um esquema geral de corrupção em que já foram devolvidos muitos bilhões de reais desviados de várias áreas, em especial da Petrobras.”

 

Ao contrário do que o menino de ouro tenta fazer parecer, a corretagem de verbas públicas do MEC por pastores não é um caso isolado, mas o assalto à Petrobras nas gestões petistas teve, de fato, proporções amazônicas — balanço da estatal divulgado em 2014, sob Dilma Rousseff, anotou que o roubo foi de R$ 6,2 bilhões (em valores da época). O grosso desse dinheiro foi recuperado, o que apenas reforça a falta nexo da pureza moral que o filho do presidente atribui à gestão do pai. Primeiro porque Flávio substitui o discurso da “corrupção zero” pela tese segundo a qual agora os desvios são mais comedidos. Segundo porque os bandoleiros da caravana petista estão ao lado de Bolsonaro. 

 

O FNDE, fonte das verbas agenciadas pelos pastores, é controlado por prepostos de Ciro Nogueira — atual ministro-chefe da Casa Civil —, cujo partido, o PP, estrelou o escândalo do petrolão, e pelo ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, presidente do partido ao qual Bolsonaro se filiou, no final do ano passado, para disputar a reeleição. O réu que preside a Câmara, Arthur Lira, que é do mesmo partido de Ciro Nogueira, comanda o rateio do orçamento secreto, que financia desvios em série — da compra de kits de robótica para escolas que não dispõem nem de água potável ao superfaturamento de ônibus escolares e de asfalto. É como se Flávio Bolsonaro, coordenador da campanha do pai, desejasse transformar a polarização com Lula numa gincana de sujos e mal lavados travada numa colônia de nudismo.

 

O presidente, seus filhos e todos os bumbos da banda do bolsonarismo se referiram à prisão de Ribeiro como uma evidência de que o governo não interfere no trabalho da Polícia Federal. Numa correspondência de nove parágrafos, o delegado federal Bruno Calandrini, responsável pelo inquérito sobre o pastoreio de verbas no MEC, triturou essa versão. Numa espécie de desabafo para os colegas que participaram das batidas de busca e apreensão e das prisões, ele sustenta que houve “interferência na condução da investigação”. Espanto! Anota que o ex-ministro “foi tratado com honrarias não existentes na lei”. Pasmo!! Declara que a apuração foi “prejudicada”. Assombro!!! Avalia que não dispõe de “autonomia investigativa para conduzir o inquérito deste caso com independência e segurança institucional”. Estupefação!!!

 

Como evidência da interferência, Calandrini menciona o fato de o ex-titular do MEC não ter sido transferido da cidade de Santos para Brasília, como havia determinado inicialmente o juiz da 15ª Vara Federal do Distrito Federal. Ribeiro acabou sendo conduzido para a carceragem da PF em São Paulo. Segundo a versão oficial, “riscos e dificuldades financeiras” impediram transferência, mas o delegado insinua que as razões foram outras e lamenta a perda da chance de interrogar o ex-ministro nas pegadas de sua detenção. 


Surpreendido, Ribeiro poderia tropeçar na língua, mas o efeito surpresa virou fumaça com a retenção do preso em São Paulo e a posterior ordem de soltura emitida pelo desembargador Ney Bello, do TRF-1. A repórter Malu Gaspar informa no jornal O Globo que Bello — magistrado favorito a assumir uma das vagas à espera de preenchimento no STJ — coleciona um histórico de decisões que ornam com os interesses do Planalto.

 

A propósito da correspondência do delegado Calandrini, a Polícia Federal informou por meio de nota que abrirá apuração “para verificar a eventual ocorrência de interferência, buscando o total esclarecimento dos fatos”. Resta saber quem investigará a apuração da PF.


Atualização: As manifestações de Bolsonaro sobre o escândalo do MEC evoluíram do temerário para o ridículo. O presidente soava temerário quando dizia que colocaria a cara no fogo pelo ministro. Descambou para o ridículo ao sustentar que Milton Ribeiro é perseguido por gente interessada em constranger o governo. O capitão relança a surrada tese da perseguição política. Fala sobre as mazelas criminais ao redor não como presidente, mas como comentarista inocente do seu próprio governo. O comentarista não diz nada sobre o grampo legal que permitiu à PF escutar Ribeiro contando à mulher que o ex-chefe lhe telefonara dos Estados Unidos para avisar sobre a operação de busca e apreensão que acabou ocorrendo 13 dias depois. Finge não existir a gravação em que o ex-ministro declara que abriu as portas do MEC para os pastores traficantes de verbas atendendo a um "pedido especial" dele, Bolsonaro. O presidente comentarista se refere ao relaxamento da prisão do ex-ministro como suposta evidência de que nada foi descoberto sobre ele. Tolice. Bolsonaro ajusta o discurso. Na primeira hora, declarou coisas assim: "Se a Polícia Federal prendeu, tem um motivo." Agora, diz que a cana foi injusta. Bolsonaro faz de conta que ignora o fato de que a decisão provisória que soltou o ex-ministro e os demais integrantes do grupo que a PF chama de "organização criminosa" não tem nada a ver com o conteúdo cabeludo do inquérito. As celas foram abertas porque um desembargador do TRF-1 entendeu que os acusados poderiam responder em liberdade sem interferir na investigação. É bem mais fácil e confortável para o presidente sustentar a tese da formação de um complô urdido por um juiz de primeira instância, procuradores, agentes federais e repórteres comunistas para transformar um capitão modelo em corrupto. A alternativa seria admitir que tudo o que está na cara não passa de uma conspiração da lei das probabilidades contra um comentarista inocente. Bolsonaro evoluiu da temeridade para o ridículo justamente num instante em que o processo foi remetido para o Supremo por conta da suspeita de que o presidente interveio na PF para obstruir a investigação. O presidente e seus operadores contam com a impunidade proporcionada pela blindagem do procurador-geral Augusto Aras.

 

Com Josias de Souza

sábado, 2 de julho de 2022

TÁ CHEIRANDO A SACANAGEM

 

Pelo menos cinco funcionárias da Caixa Econômica Federal denunciaram o presidente da empresa, Pedro Guimarães, por assédio sexual. Os relatos escancaram crime por qualquer ângulo que se observe. O Brasil é um país que maltrata mulheres desde sempre, mas vivemos tempos especialmente cafajestes. Nosso presidente acha que ter filha mulher é “fraquejar”, diz a uma mulher que “não te estupro porque você não merece” e muito mais. Seu exemplo é seguido em vários lugares, não só na CEF.


Bolsonaro está mal nas pesquisas e tem o desafio de reverter a enorme rejeição que sofre por parte das mulheres. Pois essas mulheres acabam de descobrir que Guimarães é um misógino e assediador contumaz, que isso é sabido no governo há tempos, e que mesmo assim era habitué das lives do capitão. 


Nos últimos dias, vazaram a gravação de Milton Ribeiro e a mensagem de Roberto Castello Branco, ambas incriminando o presidente; pedidos de investigação contra ele foram encaminhados ao STF; a CPI do MEC passou com folga; e já há quem fale em CPI da Petrobras. Não é coincidência. 


As revelações contra o mandatário e seu entorno estão vindo à tona porque há uma percepção generalizada de que o governo está fragilizado, vulnerável, sem condições de reagir, e cada novo escândalo torna ainda mais difícil reverter a situação. E — pode escrever — vem mais por aí.


Numa entrevista que concedeu às vésperas de completar os primeiros 100 dias de governo, Bolsonaro declarou que “a reeleição causou uma desgraça no Brasil”, porque “prefeitos, governadores e até o presidente se endividam, fazem barbaridades, dão cambalhotas” para permanecer no Poder. Uma semana atrás, quando começou a contagem regressiva de 100 dias para o encontro dos brasileiros com as urnas, Bolsonaro, rejeitado por 55% do eleitorado e sob a ameaça de amargar uma derrota no primeiro turno para Lula, fazia “barbaridades” e dava “cambalhotas” dentro dos cofres públicos por uma reeleição que as pesquisas apontam como improvável: se a eleição fosse hoje, Lula venceria no primeiro turno com 53% dos votos válidos. 

 

Embora esteja distante da reeleição, Bolsonaro exibe uma resistência notável, que lhe permite cultivar a perspectiva de levar a disputa para um segundo turno. É nisso que apostam seus operadores ao transformar o Tesouro Nacional num puxadinho do comitê de campanha. Entre os eleitores que ganham até dois salários-mínimos, que respondem por 52% dos votos, o ex-presidiário prevalece sobre o ex-capitão por uma diferença de 34 pontos. Como esse pedaço majoritário do eleitorado não só define os rumos da eleição, mas também é o que mais sofre os efeitos da inflação, é para esse público que Bolsonaro exibe suas “cabriolas”. O Bolsa Caminhoneiro de R$ 400, engavetado há oito meses por falta de recursos, ressurge agora como um PIX de R$ 1.000. Reajustado para R$ 400 numa cambalhota do ano passado, o Auxílio Brasil é turbinado para R$ 600, como queria a oposição, e o vale-gás mixuruca de R$ 53 dobra de valor.

 

As benesses de última hora são traçadas num pavimento superior ao teto de gastos e à revelia da lei eleitoral, que proíbe a criação de novas despesas na antessala das eleições. Mas a responsabilidade fiscal e a legalidade tornam-se fatores irrelevantes na fase das “piruetas” do capitão. Se tudo correr como deseja o comitê da reeleição, sua alteza irreal iria ao segundo round para ser surrado pelo sumo pontífice da Petelândia. Num cenário (desalentador) em que Ciro Gomes rala na casa dos 8% e Simone Tebet murcha para 1%, apenas o Senhor Imponderável poderia bagunçar as previsões eleitorais de 2022. Em 2018, essa entidade deu as caras duas vezes: quando o petralha foi preso e quando o dublê de mau militar e parlamentar medíocre levou a famosa facada. Afora o imprevisto, restam as acrobacias. Quanto mais “cambalhotas”, pior será a herança a ser deixada por Bolsonaro para 2023.

 

Em tempos de festas juninas, Bolsonaro continua pulando a fogueira. Com as bochechas carbonizadas, disse ter exagerado quando declarou que “colocaria a cara no fogo” por Milton Ribeiro. Mas afirmou que ainda põe “a mão no fogo” pelo ex-auxiliar, que se encontra bem passado na frigideira do inquérito conduzido pela PF. Na administração pública, as queimaduras podem ser de primeiro, de segundo ou de terceiro escalão. Bolsonaro apresenta reações epidérmicas de terceiro grau desde que solicitou ao então ministro que abrisse as portas que conduziram pastores de sua predileção ao FNDE, um cofre de terceiro escalão fornido com mais de R$ 50 bilhões e gerido pelo indefectível Centrão. 

 

Bolsonaro não é alvo da investigação que corre na primeira instância, mas a gravação em que Ribeiro lhe atribuiu o envio dos pastores ao MEC continua ressoando como um prenúncio do que está por vir, caso o projeto de reeleição naufrague. É graças ao áudio tóxico do ex-ministro que o mandatário mede as palavras ao se referir ao ex-auxiliar. No dia da prisão, tomou distância: “Ele que responda”, mordeu, antes de enaltecer a ação da PF como uma suposta evidência de que não interfere no órgão. “Se prendeu, tem motivo.” Abertas as celas, Bolsonaro soprou: “Nem devia ter sido preso”. A prisão preventiva passou a ser uma “maldade”.

 

A decisão do TRF-1 que levou à libertação dos presos é monocrática e provisória. Terá de ser analisada por uma turma composta por três desembargadores. A discussão não envolve o mérito do processo, que está apinhado de indícios de crimes. Discute-se apenas se os acusados deveriam ou não permanecer presos para não prejudicar a produção de provas. De resto, o bumbo da alegada independência da PF foi silenciado por uma carta do delegado responsável pelo caso, Bruno Calandrini (vide capítulos anteriores). Com Bolsonaro é assim: surge um escândalo dentro do outro.

 

O presidente me ligou, ele tá com um pressentimento...”, disse Ribeiro à filha. Que antevisão teria tido Bolsonaro? “Eles podem querer atingi-lo através de mim... É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?”, disse o pastor à filha que, estranhou: “Ah... Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, como se já tivesse ciência do teor dos “versículos” que seu pai despejava dentro do WhatsApp do presidente. O problema não estava no envio de trechos do novíssimo Testamento que inspira a relação do ex-ministro com o ex-chefe. 

 

A questão era que Bolsonaro pressentira que o sacrossanto relacionamento estava prestes a ser devassado: “Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... Em casa... Sabe?” Por alguma misteriosa razão, a filha de Ribeiro sentiu a necessidade de dar um aviso: “Eu tô te ligando de um celular normal viu, pai?” Era como se a moça, contagiada pelos pressentimentos de Bolsonaro, intuísse que a polícia poderia estar na escuta. O pai, também infectado pelo vírus da premonição, compreendeu rapidamente os temores da filha: “Ah é? Ah, então... Depois a gente fala, então, tá?” Foi nesse ponto que o pastor se apegou à fé como náufrago que agarra o jacaré imaginando que é um tronco. “Deus vai cuidar”, declarou, antes de mudar o rumo da prosa. O religioso parece não levar em conta que, embora Ele esteja em toda parte, o demônio ainda controla o imponderável e alguns setores da Polícia Federal

 

Era 9 de junho quando Bolsonaro disparou o telefonema que ora ex-ministro relatava para a filha. O mandatário se encontrava nos Estados Unidos, participando da Cúpula das Américas, mas o Tinhoso estava no comando. Com os instintos premonitórios aguçados pela companhia do chefe da pasta da Justiça, superior hierárquico da PF, Bolsonaro foi tomado de assalto (ops!) por um desejo irrefreável de conversar com o pastor, embora tivesse acabado de fazer uma viagem transoceânica e sua agenda incluísse um encontro com o presidente dos EUA. Mesmo assim, ele decidiu desperdiçar um naco do seu tempo para avisar o ex-ministro de que ele deveria se preparar para a visita da polícia. Treze dias depois, o presságio do capitão se materializaria na porta do apartamento do ex-ministro, na cidade de Santos. Depois de varejar gavetas e armários, os agentes federais levaram Ribeiro preso. Mas a prisão foi relaxada no dia seguinte. 

 

Perdeu-se algo essencial numa operação policial: o fator surpresa. “No fundo, ele não queria acreditar, mas ele tava sabendo”, declarou Myriam Ribeiro, mulher do pastor, noutro diálogo captado pelos grampos da PF. "Pra ter rumores do alto, a coisa... É porque o negócio já tava certo." Outros membros do grupo que os agentes classificaram como “organização criminosa” foram submetidos, em outras praças, ao mesmo ritual litúrgico. Foram à garra, por exemplo, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, corretores de verbas do MEC junto a prefeituras. 

 

Milton, Gilmar e Arilton são exemplos acabados de uma mutação genética do espécime chamado “pastor bolsonarista”. Milton é pastor da Igreja Presbiteriana. Tem a admiração da primeira-dama. Ascendeu ao MEC por indicação do ministro “terrivelmente evangélico” André Mendonça, outro pastor presbiteriano. Gilmar achegou-se a Bolsonaro como presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil e chefe do Instituto Teológico Cristo para Todos. A credencial de Arilton era de assessor de assuntos políticos da Convenção Nacional das Igrejas. Suponha-se que os três tenham sido devotados servos de Deus. É o que de melhor se pode fazer por eles. Quando se deu a mutação de pastores para alvos de batidas policiais? Infelizmente, o fenômeno da involução moral é infenso a respostas com precisão científica. Poder e dinheiro, naturalmente, contam. Mas como identificar o momento exato em que as portas da tentação se abriram?

 

Para efeito da investigação em curso, a coisa desandou quando a conversão ao bolsonarismo e o culto ao “mito” viraram a cabeça dos pastores e as maçanetas dos gabinetes do Planalto e da Esplanada. Os grampos da PF foram precedidos de gravação na qual a língua de Ribeiro, num movimento diabolicamente celestial, admitiu que os cofres do MEC foram destravados para os pastores graças a “um pedido especial” de Bolsonaro. Para desassossego do presidente, a língua do ex-ministro revelou-se uma venenosa produtora de incontinências verbais. Primeiro, ela, a língua, colocou o capitão na posição de patrono de traficantes de verbas para a construção e aparelhamento de creches e escolas. Agora, a língua exibiu-se para os grampos da PF. Os investigadores constataram que a “organização criminosa” dispunha de linhas telefônicas desconhecidas da polícia. Mas a língua traiu o dono nas conversas com “celulares normais”.

 

Na primeira hora do escândalo, há três meses, Bolsonaro disse que levaria sua cara de pau ao fogo por Milton Ribeiro. Não se deu conta do alto teor de combustão do óleo de peroba. Jogando lenha na fogueira, prefeitos achacados contaram que os pastores do MEC cobravam um pixuleco que variava de R$ 15 mil a R$ 40 mil para franquear o acesso às arcas bilionárias do FNDE. Num dos achaques, o irmão Arilton rogou que a propina fosse liquidada em ouro; noutro, pediu que lhe comprassem mil Bíblias superfaturadas. Numa fase em que ainda era socorrido pelo benefício da dúvida, o então ministro justificou-se alegando que já havia encaminhado as denúncias à CGU. Verdade. O diabo é que Milton não retirou os pastores de sua agenda. E as verbas do FNDE, convenientemente geridas pelo Centrão, continuaram saindo pelo ladrão.

 

Na origem, o inquérito sobre o escândalo do MEC começou a tramitar no STF. Mas Bolsonaro, com as bochechas carbonizadas, viu-se compelido a estimular o pedido de demissão de Milton Ribeiro. Sem mandato, o pastor virou matéria-prima para a primeira instância. O envolvimento de Bolsonaro manteria o caso na Corte Suprema. Entretanto, o departamento de blindagem da PGR sustentou que não havia o que investigar em relação ao presidente, e o caso desceu para o primeiro grau. Deu no que está dando.

 

Bolsonaro agora diz que leva ao fogo por Milton apenas a mão, não a cara. Demora a perceber que entrou processo de autocombustão. Vangloria-se da independência da sua PF. É desmentido pelo delegado que cuida do caso, segundo o qual não só houve interferência como o ex-ministro foi tratado com honrarias não existentes na lei. O delegado lamentou a perda da “autonomia investigativa para conduzir o inquérito com independência e segurança institucional.”

 

A pedido do Ministério Público, o caso subiu novamente para o Supremo, agora puxado pela suspeita de que o “pressentimento” de Bolsonaro é um eufemismo para o crime de obstrução de Justiça. O silêncio dos bumbos do Centrão indica que os pastores não estão sozinhos. O escândalo do MEC, apenas o mais recente de uma série, expõe outros personagens. O espécime “pastor bolsonarista”, em simbiose com uma fauna aliada que —manjada desde a chegada das caravelas— dispensa mutações, faz do governo “sem nenhum caso de corrupção” um antro de perver$ão. Sob Bolsonaro, não há inocentes. Há apenas suspeitos, investigados, denunciados e cúmplices. A corrupção tornou-se parte do sistema do presidente “antissistêmico”. O bolsonarismo está tonto. Antes, guerreava para retirar Bolsonaro da encrenca, empurrando Milton Ribeiro e Cia. para a primeira instância. Agora, questiona a legitimidade do inquérito que instalou grampos na língua dos pastores.

 

Com a experiência de quem matou as provas de sua rachadinha nos tribunais superiores, Zero Um rosnou nas redes sociais: “Então havia gravação do ex-ministro falando que 'ele' achava que poderia ter busca e apreensão? Se 'ele' era Bolsonaro, porque o juiz e o procurador do Ministério Público Federal não remeteram os autos ao Supremo Tribunal Federal ao invés de prender o ex-ministro. Tá cheirando a 'sacanagem', além de crime, claro”. O primogênito parece carregar no DNA o talento do pai para a premonição. 

 

No primeiro ano de governo, numa crise em que levou à frigideira o então chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni, Bolsonaro disse que enxergava os seus ministros como fusíveis. Eles queimam para evitar que o presidente e o sistema entrem em curto-circuito. O problema de um presidente que fabrica crises é a quantidade de fios desencapados que ficam pelo caminho. No dia em que a “organização criminosa” do MEC foi em cana, o pastor Arilton Moura telefonou para um advogado. Escutado pela PF, ele soou assim: “Preciso que você ligue para minha esposa... Porque se der qualquer problema com a minha menininha, eu vou destruir todo mundo! 

 

Todos os cristãos genuínos devem orar para que o irmão Arilton leve às últimas consequências o seu plano de Apocalipse. A essa altura, uma nova operação abafa, com a condescendência do Supremo, autorizaria os contribuintes em dia com o fisco a ecoar Flávio Bolsonaro: “Tá cheirando a 'sacanagem'.” 


Com Ricardo RangelJosias de Souza