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sexta-feira, 5 de março de 2021

O CÚMULO DA CANALHICE

 

Vinte e dois meses atrás, ao votar pela prisão de Michel Temer, o desembargador Abel Gomes, do TRF da 2ª Região, sustentou que, pela forma “incisiva, insidiosa, grave e insistente”, o vampiro do Jaburu deveria ficar preso para ser mantida a ordem pública. Nas palavras do magistrado, “se tem rabo de jacaré, couro de jacaré e boca de jacaré, não pode ser um coelho branco”. 

Seguindo essa mesma linha de raciocínio e após tecer as considerações que eu elenco a seguir, o blogueiro, colunista e “contestador por natureza” Ricardo Kertzman concluiu que se Bolsonaro fala como um canalha, age como um canalha e se comporta como um canalha, então Bolsonaro é um canalha.

De acordo com Kertzman, um canalha ataca pelas costas, e Bolsonaro atacou Roberto da Cunha Castello Branco, presidente da Petrobras, da segurança de seu chiqueirinho à porta do Alvorada (ou pelas redes sociais). Disse que o executivo não trabalhava havia 11 meses porque, idoso, está em “home office”. Detalhe: contrariando a previsão de prejuízo dos analistas, a estatal surpreendeu com um lucro recorde R$ 59,9 bilhões no 4º trimestre de 2020, apesar da pandemia.

Um canalha culpa os outros sem nominá-los, e Bolsonaro, outra vez, colocou a culpa da sua própria incapacidade “neles”. Quem? Nunca dirá, pois não existem. Aliás, bem ao estilo Lula de ser, o corrupto que sempre culpava o tal “eles” pelas besteiras que fazia.

Um canalha acusa sem provas, e Bolsonaro é useiro e vezeiro nessa “arte”. Estamos esperando até hoje as provas de fraude nas eleições presidenciais de 2018 e a emocionante revelação de quem são os agentes do mercado que “estavam gostando” da política de preços da Petrobras.

Um canalha sempre agride para se defender, e Bolsonaro, em vez de explicar os famosos “micheques”, parte para ofensas contra quem lhe pergunta a respeito. Dessa vez, mirou suas cretinices contra os executivos da Petrobras, que “ganham muito sem trabalhar”.

Um canalha usa e abusa do diversionismo — e Bolsonaro, para se livrar de assuntos incômodos, como a rachadinhas de Zero Um, inventa factoides como distração — e recorrer frequentemente ao patriotismo — e Bolsonaro, como Samuel Johnson já nos ensinou em 1775, cumpre à máxima: “o patriotismo é o último refúgio do canalha”. Um canalha mente sem remorso, e Bolsonaro é capaz de mentir sobre qualquer coisa para se livrar de responsabilidades, como a falta de vacinas. E mente ao dizer que não irá interferir na estatal. Ou o que significa “meter o dedo”? Tirar meleca do nariz?

Um canalha não tem piedade, e Bolsonaro jamais se solidarizou de forma honesta com quem perdeu amigos e familiares para a Covid. Afinal, “e daí”, né? (Fico aqui a imaginar o desespero de milhares de pequenos investidores que acreditaram no mito do mito liberal.)

Um canalha é egoísta, só pensa em si mesmo; Bolsonaro não se importa com ninguém e não hesita em atropelar quem se coloca no caminho de sua obsessiva reeleição. Foi assim com Sergio Moro e assim será em breve com Paulo Guedes.

Um canalha vive cercado de canalhas, e Bolsonaro cerca-se de Sara Winter, Daniel Silveira, Collor de Mello, Arthur Lira, Valdemar Costa Neto, Eduardo Bananinha, Carluxo Bolsonaro, Flávio Rachadinha e outros bolsonaristas canalhas.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

NÃO HÁ VENTO BOM PARA NAU SEM RUMO

Cala (sic) a boca! Vocês são uns canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada! Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira! Vocês não prestam!

Bolsonaro está sob pressão. Da CPI e das ruas. Mas nada debilita mais sua imagem do que a própria língua. Ontem, em Guaratinguetá, ele voltou a exibir o que tem por dentro ao perder o controle durante uma entrevista. Irritado com uma pergunta sobre o uso de máscara, chamou a repórter de canalha e mandou-a calar a boca. Como se não bastasse, desancou duas emissoras de televisão usando expressões que não convém repetir aqui (em respeito às crianças, como salientou Josias de Souza em seu comentário no Jornal da Gazeta desta segunda-feira). 

No relacionamento entre a imprensa e os políticos, não há perguntas embaraçosas, apenas respostas constrangedoras. As entrevistas de Bolsonaro sempre foram marcadas pelo constrangimento, não pelas perguntas que ele não é capaz de ouvir, mas pelas respostas que não é capaz de fornecer. O capitão já questionou a sexualidade de um repórter, manifestou a vontade de encher de porrada a boca de outro profissional da imprensa, ofendeu a mãe de um terceiro, fez gracejos sexistas em relação a uma jornalista e chamou outra profissional de quadrúpede. Seu comportamento não é normal. É absurdo. Incapaz de elevar a própria estatura, o mandatário rebaixa o teto da Presidência. 

Um presidente não é apenas uma faixa. É preciso que, por detrás da faixa, exista uma noção qualquer de qualificação. Bolsonaro adoraria que a imprensa ajustasse a realidade ao Brasil paralelo onde ele decidiu viver. A função da imprensa não é ajudar governos, mas informar à sociedade o que está acontecendo. O ataque histérico que a pergunta da repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda (afiliada da Globo), desencadeou no presidente foi mais um episódio lamentável a comprovar o mais absoluto despreparo de Bolsonaro para exercer o cargo que ocupa. Mas é assim que ele ganha as manchetes e alimenta os robôs da sua tropa de choque nas redes sociais. 

Isso nos leva a imaginar (não sem preocupação) como estará o clima em outubro do ano que vem. Mas a pergunta que não quer calar é: a que horas esse presidente governa?

***

Osmar Terra foi ouvido como convidado, nesta terça-feira, pela CPI do Genocídio. Como tal, o ex-ministro da Cidadania do capitão-cloroquina não estava obrigado a prestar juramento — e não o fez. Numa tentativa de minimizar as suas declarações estapafúrdias, ele admitiu subestimou o impacto da pandemia (segundo sua previsão, o número de mortos não chegaria a 2 mil). Até o momento em que eu concluí este texto (16h20), a equipe do senador Renan Calheiros, relator da Comissão, havia apontado oito contradições no depoimento do médico.

Terra disse que as mudanças nas projeções ocorreram devido ao advento de variantes de Covid (coisa que, segundo ele, jamais aconteceu em outras pandemias) e insistiu na tese de que o distanciamento social implementado por governadores e prefeitos não ajudou a evitar o contágio nem as mortes pela doença. O deputado negou que integrasse o chamado gabinete paralelo — que chamou de “ficção”, embora tenha admitido que se reuniu com pessoas apontadas pela CPI como suspeitas de participar do grupo — e que defendesse a “imunidade de rebanho”

O deputado gaúcho negou à CPI ser defensor da imunidade de rebanho, mesmo confrontado com vídeos e falas dele em prol dessa tese, e se disse favorável à compra das vacinas, contrariando um sem-número de ressalvas que fez à aquisição de imunizantes. “Genocida? Nosso presidente não teve poder de decidir nada, não teve a caneta na mão”, afirmou o depoente — que foi prontamente contestado presidente da Comissão: “Não tem mentira maior de dizer que o STF tirou poder do presidente. Isso é a maior mentira que existe”, disse o senador Omar Aziz sobre a decisão do Supremo que deu autonomia a Estados e municípios para tomar medidas contra a propagação da doença, mas jamais eximiu a União de realizar ações e de buscar acordos com gestores locais. Para saber o que é fato ou fake nas declarações do ex-ministro da Cidadania do desgoverno Bolsonaro, siga este link.

*** 

Dados publicados no site Our World in Data dão conta de que a vacinação começou em meados de dezembro em países como Israel, Canadá, Rússia e China. No Brasil, o ministério da Saúde enjeitou a primeira oferta da Pfizer — de 70 milhões de doses — em 14 agosto de 2020 e outras duas ofertas — de 70 milhões de doses cada — nos dias 18 e 26 daquele mês. Todas elas previam o início da entrega de doses ainda no ano passado. A terceira oferta, feita em 26 de agosto, previa a entrega de 1,5 milhão de doses em dezembro de 2020 e outros 3 milhões no primeiro trimestre de 2021 — o resto seria entregue ao longo do ano.

O fantoche do capitão-negação à frente do quartel da Saúde só “se mexeu” quando Doria disse que começaria a vacinar os paulistas no dia 25 de janeiro — aniversário da capital do Estado — se até lá o governo federal não despertasse de sua bizarra letargia. Assim, quando a campanha nacional teve início do Brasil, Estados Unidos e China já haviam imunizado cerca de 30 milhões de pessoas, o Reino Unido, 10 milhões e Israel e Índia, 5 milhões cada.

Pazuello, a quintessência triestrelada da logística, foi o pior ministro de Estado de toda a história do Brasil. E o mais longevo ministro da Saúde da gestão capitaneada pelo pior presidente desde 1889, ano em que Deodoro da Fonseca proclamou a República (para depois ser guindado à presidência e, em seguida, apeado pelo primeiro dos muitos goles de Estado que abrilhantariam a história desta banânia).

Como a tampa e o penico, o general-vassalo e o capitão-suserano parecem ter sido feitos uma para o outro. Se serão responsabilizados por seus atos, só o futuro dirá. Mas, cá entre nós, um governante que, por incúria ou projeto, contribui para a morte de mais de meio milhão de pessoas não pode continuar no comando em meio à guerra que o país está perdendo para a Covid justamente por falta de comando. Por outro lado, num país onde até o passado é incerto e Augusto Aras é o Procurador-geral da República (a quem cabe denunciar o presidente por crime comum), Arthur Lira, o presidente da Câmara Federal (a quem cabe dar andamento a um pedido de abertura de processo de impeachment contra o chefe do Executivo) e mais alta cúpula do Judiciário... enfim, prefiro não comentar. Fato é que a única certeza que se tem neste arremedo de República é a de que não se tem certeza de nada.

Noves fora alguns excessos pontuais e certa desorganização nos interrogatórios, a CPI do Genocídio está deslindando um mistério aterrorizante. A começar pelo fato de os defensores atávicos do mandatário de fancaria — muitos do quais foram incluídos lista de investigados do senador-relator e multinvestigado Renan Calheiros não só mentiram descaradamente à Comissão como ocultaram detalhes estarrecedores sobre este governo — entre os quais o famigerado “gabinete paralelo”, a estratégia de não comprar vacinas para forçar a imunidade de rebanho, o malfadado tratamento precoce com cloroquina, ivermectina e outros fármacos cuja ineficácia foi atestada tanto pela Anvisa quanto pela OMS, e por aí segue a processão.  

Para os bolsonaristas, todos os organismos internacionais são dominados por comunistas e sua orientação não tem valor, pois a soberania do país deve prevalecer sobre as regras gerais. Assim, a política do governo federal, contrária ao distanciamento social, o uso de máscara e a vacinação em massa, impediu que quatro de cada cinco mortes por Covid fossem evitadas. Enquanto isso, Bolsonaro chancela um relatório paralelo — irresponsável e desqualificado em termos científicos — que aponta para uma superestimação do número de vítimas fatais do vírus maldito, a despeito de estudos acadêmicos sérios e confiáveis apontarem que a subnotificação de mortes pode chegar a 40%. Mas quem se espanta? Bolsonaro nunca teve apreço pela verdade (ou não teria sido deputado federal por 7 mandatos), mas acastelar-se no Planalto transformou o “mito” dos microcéfalos num mitômano de quatro costados.

Somado a outras políticas estapafúrdias, o genocídio dos brasileiros — caso exemplar de improbidade administrativa do governo de turno — não pode ser visto como resultado de um “erro de avaliação”. As ações adotadas pelo governo a pretexto de “combater a pandemia” contrariaram flagrantemente todas as recomendações dos órgãos oficiais, da OMS a organizações cientificas internas e externas, deixando claro que o projeto político-eleitoreiro do chefe do Executivo é uma prática criminosa.

Em defesa desse funério governo, pode-se até dizer que não houve dolo — no sentido de intenção de matar — mas negar o mais que evidente dolo eventual — que se caracteriza quando o autor sabe dos riscos e consuma o ato mesmo assim — exigiria um exercício de retórica que transcende a capacidade argumentativa do mandatário de turno et caterva

Lamentavelmente, a interminável lista de crimes (comuns e de responsabilidade) não sensibiliza o PGR a denunciar o presidente, nem o mandachuva do Centrão a dar andamento a um dos mais de 100 pedidos de impeachment (detalhes no § 3) protocolados na secretaria da Câmara.

Alguém precisa alertar esses senhores de que não há mais tempo a ganhar à espera de uma melhora econômica — que, de resto, não trará de volta meio milhão de desinfelizes que tiveram sentença de morte decretada e executada por um governo ímprobo e incompetente.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

COMO DIRIA PAZUELLO, É SIMPLES ASSIM (PARTE II)


Ainda sobre os discursos golpistas do ex-capitão tiranete, se a fala em Brasília foi ruim — uma peça de pura provocação contra os poderes, inclusive o dele, já que suas atitudes criam entraves ao andamento do governo e com isso aumenta a desaprovação ao presidente —, a de São Paulo foi ainda pior.

Além de manter as agressões, Bolsonaro chamou de "canalha" o ministro Alexandre de Moraes e incitou a violência do público contra ele arrastando seus apoiadores ao perigoso terreno da aventura, acusou o presidente do TSE de fraudar as eleições de 2022, e deixou claro que: 1) não pretende cumprir decisões judiciais; 2) não reconhecerá o resultado do pleito se for derrotado (qualquer semelhança com Donald Trump não é mera coincidência). 

Observação: Como se sabe, Bolsonaro recuou e se retratou, embora não tenha tido a hombridade de ler ao vivo e em cores a carta que o vampiro do Jaburu escreveu a seu pedido. Mas há outro fato igualmente grave: ninguém sabe o que eles conversaram, e só Michel Temer sabe se houve algum escambo entre eles. E dois detalhes curiosos: 1) por 3 votos a 2, a 2ª Turma das togas "entendeu" pela suspeição do ex-juiz Sérgio Moro no julgamento do processo do tríplex de Lula; 2) sobre o atual decano do STF, brilhantemente definido por J.R. Guzzo como "fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país", disse um seu colega de toga, em meio a memorável bate-boca: "Há no Supremo gabinete distribuindo senha para soltar corrupto, sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos". Em outra oportunidade, esse mesmo colega se referiu ao semideus togado como "uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia" e o acusou de "desmoralizar o Tribunal". Pois é.

Bolsonaro fez um périplo verbal pelo código penal e pela tipificação do crime de responsabilidade. Depois disso, imaginar-se-ia que o dublê de deputado-réu e presidente da Câmara Federal (também chamada de Casa do Povo) daria seguimento a um dos 136 pedidos de impeachment sobre os quais vem mantendo seu avantajado buzanfã desde fevereiro passado. Leda pretensão: em nenhum momento de sua manifestação (serôdia) sobre a participação do chefe do Executivo nos atos golpistas o deputado alagoano mencionou "impeachment" ou mesmo "crime de responsabilidade".

Os discursos dos presidentes do STF, ministro Luiz Fux (clique aqui para assistir) e do TSE, Luis Roberto Barroso (clique aqui para ler), foram mais incisivos, mas nenhum dos dois deu mostras de que tenciona passar do palavrório para a ação. Há que diga que não existe motivo para tanto, visto que Bolsonaro se retratou (ou se desculpou, ou arregou, como queiram). Mas eu acho que não é por aí.

Não estamos falando de ingênuas Polianas ou crédulas Velhinhas de Taubaté, mas de magistrados experientes. De mais a mais, a patética carta assinada pelo capitão foi escrita pelo igualmente patético ex-presidente Michel Temer, cuja patética passagem pelo Planalto se notabilizou pelos patéticos episódios de escapismo que o ex-vice da patética gerentona de araque protagonizou para fugir das "flechas de Janot".

Como anotou Josias de Souza em sua coluna, faz papel de bobo quem acredita nas variantes moderadas de Jair Bolsonaro, o presidente que agora aderiu a uma nova modalidade de negacionismo: o negacionismo mental.

O pandemônio autoritário era um "golpezinho", o "canalha" do Alexandre de Moraes era apenas uma cepa secundária do respeitado "jurista e professor", e a nova onda do imperador fortão não passava de "conversinha" para dormitar bovinos. Percebendo que havia transformado o trono numa cadeira elétrica, nosso indômito capitão devolveu o Bolsonaristão ao Brasil e fundou uma nova monarquia. Nela, reina o Bolsotemer, um híbrido com o miolo mole do Jair Bolsonaro e a caligrafia do Michel Temer.

Para fundar o novo reino, divulgou-se uma carta à nação. O texto é mais longo do que deveria, mas traz nas entrelinhas apenas dois artigos: 1º) Todo brasileiro sem vergonha na cara deve esquecer as barbaridades que Bolsonaro fez desde o início do seu mandato e as atrocidades que ele declarou nas últimas 48 horas; 2º) Revogam-se as disposições em contrário.

Cerca de três horas após a divulgação da carta, o imperador levou ao ar sua indefectível live semanal das noites de quinta-feira. Em meio a muita desconversa, teve uma recaída. Em resposta ao presidente do TSE, que o chamara de "farsante", voltou a questionar a segurança das urnas eletrônicas. Disse que as "palavras bonitas" de Barroso não convencem ninguém, pois "as urnas são penetráveis".

Ficaram entendidas quatro coisas: 1) Michel Temer é um tranquilizante com prazo de validade vencido. 2) Jair Bolsonaro, personagem que defende a cloroquina e desrespeita as prescrições alheias, precisa do acompanhamento de um profissional da psiquiatria. 3) O Brasil é um país à deriva sem um presidente.

Como diria Pazuello, é simples assim. E viva o povo brasileiro.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

UM PAÍS QUE NÃO PODIA DAR CERTO E O PT NA LATA DO LIXO DA HISTÓRIA



Depois de malhar o PSDB nas postagens de segunda e terça-feira passadas, lembro que o PT foi criado por Lula e seus asseclas para fazer a diferença na política. Só que, ao contrário do que prometeu, o partido não só não combateu a corrupção, mas também a institucionalizou, visando sustentar um espúrio projeto de poder que levou 12 anos e fumaça para ser interrompido (se é que foi interrompido, porque o governo Temer nada mais é do que o “o terceiro tempo” das gestões petistas).

Dilma foi desposta porque era incompetente. Seus crimes de responsabilidade pesaram menos que o estelionato eleitoral que garantiu sua reeleição ― e que foi determinante para levar o povo às ruas ― mas o principal combustível do processo de impeachment foi a absoluta falta de jogo de cintura da anta vermelha no trato com os congressistas.

Por ter ocupado cargos gerenciais durante a maior parte de sua “vida pública”, a nefelibata da mandioca aprendeu a mandar e logo agregou às suas muitas “virtudes” o pedantismo, a arrogância e a agressividade. Subordinados afirmam que ela queria tudo “para ontem” e achava que entendia de qualquer assunto (“Te dou meio segundo para me trazer essa informação”; “O que ocê tá falando é besteira”; “Ocês só fazem merda, pô!”, e por aí afora). Se contrariada, interrompia prontamente o interlocutor (“Ô, ô, querido, negativo, pode parar já!), e, em seus rompantes de fúria, chegava a atirar objetos nas pessoas (grampeadores do seu gabinete tiveram de ser repostos incontáveis vezes). 

Segundo um de seus assessores mais próximos, Dilma jamais disputou uma prévia nem enfrentou uma campanha antes de virar presidente; recebeu o cargo numa bandeja e não teve de aprender a seduzir”. Em síntese: sem saber atirar, ela virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, faz pose de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque, e sem ter tido um único voto na vida, virou candidata à Presidência. E ganhou. Duas vezesdaí eu dizer que o eleitorado tupiniquim é formado majoritariamente por imbecis, que a cada segundo nasce um imbecil neste mundo planeta, e que os que nascem no Brasil já vem com título de eleitor.

Michel Temer, por seu turno, foi deputado federal por não sei quantos mandatos, presidente da Câmara não sei quantas vezes e presidente do PMDB por 15 anos. Isso fez dele um verdadeiro mestre em negociar com os parlamentares, mas a coisa mudou depois que a delação explosiva da JBS o tronou refém do Congresso, sobretudo devido à desesperada compra de votos para barrar as denúncias da PGR.

Nenhum presidente foi tão impopular quanto Temer desde a redemocratização desta Banânia. Em vez de entrar para a história como “o cara que colocou o país de volta nos trilhos do crescimento”, ele será lembrado como o primeiro presidente denunciado por crime comum no exercício do cargo. Mas não poderia ser diferente. 

Embora tenha montado uma boa equipe econômica, o emedebista chegou morto à presidência porque só sabe fazer política, agir e pensar para um Brasil em processo de extinção, onde presidentes da República recebem em palácio indivíduos à beira do xadrez, discutem com eles coisas que jamais deveriam ouvir e não chamam a polícia para levar ninguém preso. Seu governo não existe mais. A atual oposição ― até ontem governo ― do PT-esquerda também deixou de existir, sobretudo depois da prisão de Lula.

Os políticos, como classe, não existem mais. O Brasil de hoje é governado como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. E o que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, que é aberta nas eleições, e a de saída, quando se muda de governo, a merda muda de aparência, troca de nome, recebe nova embalagem ― mas continua sendo merda. Reprocessou-se o governo de Lula, deu no governo de Dilma; reprocessou-se o governo de Dilma, deu no de Temer. Não houve, de 2003 para cá, troca do material processado pela usina. Não houve alternância no poder, e isso inclui o moribundo governo Temer. Continuou igual, nos três, a compostagem de políticos “do ramo”, empreiteiras de obras públicas, escroques de todas as especialidades, fornecedores do governo, parasitas ideológicos, empresários declarados “campeões nacionais” por Lula, por Dilma e pelos cofres do BNDES.

Temer faz parte integral da herança que Lula deixou para os brasileiros. Tanto quanto Dilma, é pura criação do ex-presidente, e só chegou lá porque o PT o colocou na vice-presidência ― ou alguém acha que Temer foi colocado de vice na chapa de Dilma sem a aprovação de Lula? Ninguém votou nele, não se cansa de dizer a patuleia ignara desde que Temer assumiu o cargo. Com certeza: quem fez a escolha foi Lula, ninguém mais. Foi dele o único voto que Temer teve, e o único de que precisava.

Lula está cumprindo pena na carceragem da PF em Curitiba. Sua sucessora é constantemente suscitada em denúncia de pessoas íntimas. Se viver o bastante, certamente terá o mesmo destino de seu criador e mentor. Seu adversário nas últimas eleições, Aécio Neves, é investigado em 9 inquéritos e réu no STF. O governo e o conjunto da vida pública passaram a depender integralmente de delegados de polícia, procuradores públicos e juízes criminais. O voto popular nunca valeu tão pouco: o político eleito talvez esteja no próximo camburão da Polícia Federal. Os sucessores mais diretos de Temer podem estar em breve a caminho do pelotão de fuzilamento; fazem parte da caçamba de dejetos e detritos que há na política brasileira de hoje.

Um país assim não pode funcionar ― não o tempo inteiro, como tem sido nos últimos anos. Isso ficou evidente quando a Lava-Jato começou a enterrar o Brasil Velho, um país cujos “donos” não acreditaram, e tentam não acreditar até hoje, que aquilo tudo estava mesmo acontecendo. O único Brasil possível, para eles, é o que tem como única função colocar a máquina pública a serviço de seus bolsos. E o resultado está aí: um país que não consegue mais ser governado porque os governantes não conseguem mais esconder o que fazem, nem controlar a Justiça e a Lava-Jato.

Para concluir, segue o excerto de um texto magistral do filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, publicado na Folha sob o título “O PT na lata de lixo da história

O PT é uma praga mesmo. Ele quer fazer do Brasil um circo, já que perdeu a chance de fazer dele seu quintal para pobres coitados ansiosos por suas migalhas.

Nascido das bases como o partido de esquerda que dominou o cenário ideológico pós-ditadura, provando que a inteligência americana estava certa quando suspeitava de um processo de hegemonia soviética ou cubana nos quadros intelectuais do país nos anos 1960 e 1970, comportou-se, uma vez no poder, como todo o resto canalha da política fisiológica brasileira.
Vale lembrar que a ditadura no Brasil foi a Guerra Fria no Brasil. Quando acabou a Guerra Fria, acabou a ditadura aqui. E, de lá pra cá, os EUA não têm nenhum grande interesse geopolítico no Brasil nem na América Latina como um todo (salvo imigração ilegal). Por isso, deixa ditadores como Chávez e Maduro torturarem suas populações, inclusive sob as bênçãos da diplomacia petista de então.

O PT apenas acrescentou à corrupção endêmica certo tons de populismo mesclado com a vergonha de ter um exército de intelectuais orgânicos acobertando a baixaria. Esses fiéis intelectuais, sem qualquer pudor, prestam um enorme desserviço ao país negando a óbvia relação entre as lideranças do partido e processos ilegítimos de tráfico de influência. Esse exército vergonhoso continua controlando as escolas em que seus filhos estudam, contando a história como querem, criando cursos ridículos do tipo “golpe de 2016”.

Qualquer um que conheça minimamente os “movimentos revolucionários” do século XIX europeu e o pensamento do próprio Karl Marx sabe que mentir, inventar fatos que não existem ou contá-los como bem entender fazia parte de qualquer cartilha revolucionária.

Acompanhei de fora do Brasil o “circo do Lula”, montado pelo PT e por alguns sacerdotes religiosos orgânicos, na falsa missa que envergonhou a população religiosa brasileira, fazendo Deus parecer um idiota. Estando fora do país, pude ver a vergonhosa cobertura que muitos veículos internacionais deram do circo do Lula, fazendo o petista parecer um Messias traído por um país cheio de Judas.

Eis um dos piores papéis que jornalistas orgânicos fazem: mentem sobre um fato, difamando um país inteiro. Esculhambam as instituições como se fôssemos uma “república fascista das bananas”. Nossa mídia é muito superior àquela dita do “primeiro mundo”.

A intenção de fazer do Lula um Jesus, um Mandela, um Santo Padim Pade Ciço é evidente. Para isso, a falsa missa, com sacerdotes orgânicos rezando para um deus que pensa que somos todos nós cegos, surdos, estúpidos e incapazes de enxergar a palhaçada armada pelo PT, foi instrumento essencial para o circo montado. A própria afirmação de que Lula não seria mais um mero humano, mas uma ideia, é prova do delírio de uma seita desesperada. Um desinformado pensaria estar diante de um Concílio de Niceia perdido no ABC paulista. Se nesses concílios tentava-se decidir a natureza divina e humana de Jesus, cá no ABC tentava-se criar a natureza divina de Lula. Lula, humano e divino, o redentor. Essa tentativa, sim, é típica de uma república das bananas.

Penso que em 2018 o país tem a chance de mostrar de uma vez por todas que não vai compactuar com políticos que querem fazer do Brasil um circo para suas “igrejas”. A praga em que se constituiu o PT pode ser jogada na lata de lixo da história neste ano.

Ninguém aqui é ingênuo de pensar que apenas o PT praticou formas distintas e caras de tráfico de influência. Todas elas são danosas e devem ser recusadas em bloco nas eleições deste ano. Mas há um detalhe muito importante no que se refere ao PT como um tipo específico de agente único de tráfico de influência sistemático no Brasil. Você não sabe qual é? Vou lhe dizer.

O PT é o único partido que é objeto de investigação por corrupção a contar com um exército de intelectuais, artistas, professores, diretores de audiovisual, jornalistas, sacerdotes religiosos e instituições internacionais apoiando-o na sua cruzada de continuar nos fazendo escravos de seus esquemas de corrupção. Esse exército nega frontalmente a corrupção praticada pelo PT e destruirá toda forma de resistência a ele caso venha, de novo, a tomar o poder.

No ano de 2018 o país pode, de uma vez por todas, lançar o PT à lata de lixo da história e amadurecer politicamente, à esquerda e à direita.

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sábado, 24 de fevereiro de 2024

O ANTEONTEM E O AMANHÃ


Tudo tem seu tempo certo, diz a canção. Mas o tempo do Judiciário é incerto, e o do Legislativo não lhe fica atrás. O presidente do Congresso demorou 72 para cobrar de Lula uma retratação por ter jogado o holocausto no ventilador. Agora, Inês é morta. Além de improvável, um pedido de desculpas colocaria o governo brasileiro de quatro diante da provocação barata de Netanyahu. Caberá ao tempo resfriar a crise, e ao Itamaraty, minimizar as consequências. Ao presidente que deu a volta ao mundo proclamando que "o Brasil voltou", caberia perguntar: Voltou para quê?

Bolsonaro cavalgou o oportunismo ao classificar como "discurso criminoso" a fala do petista: em 2021, ele próprio teve um encontro fora da agenda com a deputada alemã Beatrix von Storch, vice-presidente do partido de extrema-direita AfD e nata de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, que foi ministro das Finanças de Hitler por mais de 12 anos. O objetivo de sua crítica — e de seus apoiadores ao pedir o impeachment de Lula — é desviar os holofotes da Tempus Veritatis. Mas a diarreia verbal do mandatário de turno está longe de suplantar a eloquência da fragilidade penal de seu antecessor. 
 
Bolsonaro grita aos quatro ventos que jamais tentou dar um golpe de Estado, mas desperdiçou a oportunidade de refutar os indícios e as provas que a PF coleciona contra ele ficando de bico calado na última quinta-feira. A prerrogativa constitucional de ficar em silêncio visa evitar a autoincriminação dos encrencados, mas a mudez tumular do capetão, somada a três tentativas frustradas de adiar o depoimento, produziu um estrondo constrangedor. Na avaliação dos demais encrencados, o silêncio de Bolsonaro visa ajustar sua defesa a suas conveniências, enquanto eles serão jogados ao mar. 
 
Na manifestação marcada para amanhã, Bolsonaro deve entoar a velha cantilena da perseguição política — que não se sustenta diante da delação de seu ex-escudeiro, do vídeo da reunião em que expôs a trama golpista a seus ministros e de duas dúzias de áudios e mensagens que expõem as conversas vadias de seus cúmplices paisanos e fardados 
—, mas seu mutismo no depoimento é mais eloquente que o barulho valente no carro de som. Até porque, ao contrário da empulhação no palanque, o interrogatório demandava a exibição de fatos. Na avaliação dos demais encrencados. 

ObservaçãoBolsonaro sempre afirmou que se manteve dentro da "4 linhas", mas nunca esclareceu quais eram essas linhas — talvez elas demarcassem um terreno baldio onde ele desovava seu lixo ideológico. E a manifestação de amanhã nada tem a ver com a defesa da democracia. Talvez sua ideia, após falhar em sua carreira militar, parlamentar, como presidente e até como golpista, seja tentar a sorte como humorista. Isso se não for preso em flagrante: dividir o palanque com Valdemar Costa Neto caracterizará descumprimento da proibição de manter contato com outros investigados. Sua habilidade em reunir fanáticos descerebrados ombreia com a de Lula — o que não é pouco —, mas perdeu relevância quando os eleitores o abandonaram e o TSE o declarou inelegível. Ainda que ele consiga transformar a Paulista num grande cercadinho, a desqualificação não vai virar virtude, a delação não vai tomar Doril nem as provas da tentativa irão pra... sumirão do inquérito. Durante 4 anos de empulhação descarada, foi o cenário de duas grandes manifestações bolsonaristas, ambas no feriado de 7 de setembro. Em 2021, o histrião xingou Moraes de canalha e ameaçou não acatar suas decisões, em 2022, insinuou que o golpe de 1964 poderia se repetir, levando ao delírio hordas de extremistas que pediam a volta da ditadura e exibiam montagens com ministros do Supremo dentro de caixões. Nas semanas que se seguiram ao protestos, foi preciso um esforço considerável para restabelecer a normalidade institucional, mas acabou que os eleitores mandaram o tiranete de fancaria de volta para casa, os inquéritos continuaram (e continuam) em andamento e "Xandão", que continua despachado no STF, mandou apreender-lhe o passaporte.
 
Sempre se soube que a conspirata contou com a cumplicidade de integrantes da alta cúpula das FFAA, políticos aliados, empresários amigos, comunicadores cooptados e vândalos radicais, mas, ao acender as luzes da sala de autópsias, a PF iluminou as entranhas pútridas de uma gestão eminentemente golpista. 

O ato marcado para amanhã objetiva não só constranger o STF como também manter a militância unida, de olho nas eleições municipais de outubro. Faz sentido: pior do que estar inelegível e ser preso é estar inelegível, preso e se tornar irrelevante politicamente — o que pode acontecer ao imbrochável incomível e intragável se alguém ocupar seu lugar no comando da extrema direita.

A conferir.

sábado, 8 de maio de 2021

BOLSONARO E O PARAQUEDAS


Insensível ao fato de que é virtualmente impossível defender o indefensável, Bolsonaro considera-se mal defendido por seu pelotão de choque na CPI da Covid. Segundo ele, o ex-ministro Mandetta converteu a Comissão em “palco” sem que os senadores governistas — entre eles o pepista piauiense Ciro Nogueira , espécie de centroavante do Planalto, e o emedebista pernambucano Fernando Bezerra, líder do governo no Senado — o contraditassem à altura.

O presidente cobra mais agressividade. Os senadores pedem mais organização do Planalto. Os ministros palacianos batem cabeça e protagonizam trapalhadas. Josias de Souza aponta pelo menos três: 1) O vazamento das 23 acusações e críticas ao governo enviadas pela Casa Civil a 13 ministérios; 2) as digitais eletrônicas do Planalto em requerimentos apresentados por senadores governistas na CPI; 3) O envio equivocado para o celular de Mandetta, pelo ministro das Comunicações, a pergunta que seria lida durante a sessão da Comissão pelo governista Ciro Nogueira.

Bolsonaro, que se ufana de seu passado de paraquedista, parece não perceber que o cérebro é como um paraquedas: só funciona quando está aberto para a realidade. Dando de ombros para a dependência dos insumos vindos da China, o presidente insinuou que o coronavírus é parte de uma “guerra química” deflagrada de propósito pelo país asiático — para, logo em seguida e com a desfaçatez que se tornou sua marca registrada, dizer que em nenhum momento mencionou o nome do país asiático (como se fosse preciso!). Agora, acuado pelos depoimentos de dois de seus ex-ministros da Saúde, inaugura sua terceira onda de irresponsabilidade sanitária ameaçando baixar um decreto para “garantir ao povo o direito de ir e vir”. 

Observação: O decreto já está pronto. Só falta assinar, e todos vão ter que cumprir”, disse o presidente nesta sexta-feira, durante inauguração de uma ponte em Porto Velho (RO), enquanto, sem máscara, abraçava idosos, punha crianças no colo e cumprimentava os apoiadores. “O meu Exército, a minha Marinha, e a minha Aeronáutica não vão para a rua para impedir as pessoas de sair de suas casas”, frisou. Em abril, ele já havia ameaçado governadores e prefeitos ao afirmar as Forças Armadas poderiam ir às ruas para, segundo ele, “acabar com essa covardia de toque de recolher”.

Há três tipos de gestores públicos: os que fazem, os que mandam fazer e Bolsonaro, que pergunta a si mesmo, atônito: O que está acontecendo? Na primeira onda de sua gestão irresponsável, o capitão deixou a "gripezinha" acontecer. Na segunda, impediu que acontecesse a gestão técnica dos doutores, receitou cloroquina e convidou o brasileiro a desafiar o vírus de peito aberto “como homem, porra, não como um moleque”, pois o Brasil precisa “deixar de ser um país de maricas”. Agora, na terceira, pergunta a seus botões o que está acontecendo, ignorando a lógica de funcionamento do paraquedas, fechando-se em seus rancores e lançando diatribes no ventilador.

Na segunda semana da fase de depoimentos na CPI, devem ser ouvidos o contra-almirante Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo, e um representante da farmacêutica Pfizer. O ex-chanceler Ernesto Araújo também estava escalado, mas os senadores acharam por bem não programar mais de um depoimento por dia. Wajngarten disse em entrevista que o governo demorou a comprar vacinas da Pfizer por “incompetência e ineficiência” do ex-ministro Pazuello, e Araújo é apontado como responsável por envenenar as relações do país com Pequim.

Bolsonaro, que foi denunciado à ONU por “genocídio” e chama de “canalha” quem se opõe ao “tratamento precoce com o kit-covid”, produziu um interminável rastro de provas contra si mesmo durante toda a pandemia, mas parece não entender por que os senadores desejam condená-lo por uma gestão baseada em excesso de cloroquina e escassez de vacinas. A pilha de cadáveres continua crescendo. A reiteração da irresponsabilidade aponta para a marca de 500 mil corpos. 

No futuro, quando conseguir refletir sobre sua Presidência sem colocar a culpa nos outros, Bolsonaro talvez perceba que sua mente fechada produziu danos infinitamente maiores do que um salto malsucedido de paraquedas.