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quinta-feira, 10 de abril de 2025

PROTEJA SUA PRIVACIDADE

PREVENIR ACIDENTES É DEVER DE TODOS

 

A Internet é imprescindível em nosso dia a dia, mas, como toda ferramenta, o risco de "acidentes" está na maneira como ela é usada. O DNS (sigla para Domain Name System), por exemplo, permite acessar as web[ages digitando os respectivos URLs em vez dos endereços IP.


Todavia, além de não serem seguros, os parâmetros fornecidos pelos provedores de acesso (ISP) abrem espaço para um bombardeio de anúncios e põem em risco a privacidade dos internautas. Mas a boa notícia é que existem diversos provedores de DNS que bloqueiam anúncios, rastreadores e sites maliciosos e são gratuitos fáceis de usar, tanto em PCs quanto em smartphones Android, entre os quais eu destaco AdGuard DNS.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Em seus delírios de grandeza, Lula achou que recebeu um terceiro mandato não das urnas, mas do próprio Criador, que o incumbiu de desempenhar o papel de divindade num país cada vez mais profano. Agora, mesmo com a popularidade derretendo como uma bola de neve no inferno, ele ainda lidera as pesquisas, seja num embate improvável com o golpista inelegível, numa disputa com Ronaldo Caiado (que já anunciou que concorrerá ao Planalto em 2026), num embate com Tarcísio de Freitas (candidatíssimo, mas ainda enrustido), ou em cenários rocambolescos com oponentes surreis, como Pablo Marçal, Michelle Bolsonaro, Gusttavo Lima, Felipe Neto ou outra aberração saída do laboratório da pós-política tupiniquim.
Ao nomear correligionários e aliados para cargos de direção, Lula deu azo ao ressurgimento de escândalos como o Mensalão e o Petrolão e anulou conquistas alcançadas durante o governo Temer. Ainda em janeiro de 2023, soube-se que a ministra Daniela Carneiro havia se enrolado numa esquisita relação eleitoral com milícias da Baixada Fluminense, e o ministro Juscelino Filho com o uso do dinheiro de emendas parlamentares para beneficiar fazenda da família no Maranhão. Ela deixou o comando da pasta do Turismo, mas ele continuou no cargo apesar de novos enroscos — como recebimento de diárias, uso de avião da FAB em agenda pessoal, emprego de funcionário fantasma e autorização para "despacho" informal do sogro no gabinete ministerial. O ministro devolveu diárias, mas não dirimiu dúvidas sobre outras acusações.
Lula poderia ter vetado a indicação de Juscelino, teve nova chance quando o ministro cavou uma agenda em São Paulo como pretexto para voar em jato da FAB para um leilão de equinos e perdeu mais uma oportunidade quando a PF indiciou o auxiliar por desviar verbas do antigo orçamento secreto. Embora tenha dito que afastaria o ministro quando e se viesse a denúncia, permitiu que o denunciado saísse a pedido. Um acinte.
A sobrevida de um ministro que nem deveria ter sido nomeado revelou que seu chefe não aprendeu que, com tantos erros novos por cometer, não é preciso repetir erros antigos. Contemporizar com malfeitorias uma vez é negligência, duas é reincidência, três é inconveniência e quatro é indecência. Nos dois primeiros mandatos, o petista suou a camisa para produzir escândalos como o mensalão e o petrolão. Na terceira gestão, incorporou escândalos que já chegaram prontos. Lula disse que todos têm direito à presunção de inocência, mas deveria ter notado que beira de cofre público não é melhor lugar para um ministro provar uma inocência autopresumida. Agora, ele assiste à explosão de um escândalo da era Bolsonaro dentro de seu governo — que há meses o noticiário deixou claro que era um escândalo policial esperando para acontecer.


No Windows, abra o menu Iniciar, digite Configurações de Rede na barra de pesquisa e clique em Alterar as configurações do adaptador. Em seguida, dê um clique direito na conexão de rede que você está utilizando, depois selecione Propriedades > “Protocolo de Internet Versão 4 (TCP/IPv4), clique em Propriedades > Usar os seguintes endereços de servidor DNS, digite os endereços do AdGuard DNS (94.140.14.14 e 94.140.15.15) e clique em OK para salvar as alterações.

 

No Android, acesse as configurações do smartphone, toque em Rede e internet ou em Conexões (o nome pode variar dependendo do fabricante), toque e mantenha pressionada a rede Wi-Fi à qual você está conectado, toque em Modificar rede (ou Gerenciar configurações de rede. procure por Configurações de IP ou algo similar, toque em DHCP, selecione Estático, role a tela até encontrar os campos DNS 1 e DNS 2, digite os endereços do AdGuard DNS e toque em Salvar para confirmar as alterações.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

AINDA SOBRE GOOGLE E PRIVACIDADE

O TEMPO TRANSFORMA TUDO, MAS QUEM NASCE BURRO NÃO MORRE CAVALO.


Um grande vazamento ocorrido no final do mês passado abriu uma das principais caixas-pretas da internet: o Search Engine Optimization, que define quais páginas estarão no topo do buscador mais popular do mundo. 

O assunto sempre foi um segredo guardado a sete chaves, já que o Google defendia que atores maliciosos poderiam se valer das informações para ranquear as buscas. A justificativa faz algum sentido, mas o problema das meias-verdades é que elas costumam salientar a metade que não é verdadeira.

A pergunta que se coloca é: por que milhões de páginas mundo afora dependem de uma boa classificação para se manteres relevantes, gerar tráfego e, consequentemente, se monetizarem? Traduzindo para o português do asfalto: o buscador do Google pode sumir com páginas importantes de interesse público, enquanto dá evidência a conteúdos menos relevantes.  

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Um ministro de Estado indiciado por corrupção não pode continuar no governo, mas Juscelino Filho continua ministro, já que foi indicado pelo senador David Alcolumbre, e Lula não pode se indispor com o Centrão nem (muito menos) com os futuros presidentes da Câmara e do Senado. Talvez por isso ele aposte na agenda nostálgica e invista no acirramento da polarização — cuja semente plantou em priscas eras com seu abjeto "nós contra eles". E se acredita que foi mesmo inocentado, é (mais um) sinal que deveria ser internado.
Algumas melhoras pontuais (como na economia antes do dilúvio) não bastaram para reverter os resultados das pesquisas. Ainda restam 65% do terceiro (e, queira Deus, derradeiro) mandato de Lula, mas as apostas eleitorais para 2026 já começam a ser feitas. Se continuar caminhando entre os vivos, morando no Alvorada e investindo na polarização em outubro de 2026, o xamã petista pode não conseguir sequer uma vitória pífia como a de 2022 (quando derrotou o dejeto da escória da humanidade com a menor diferença de votos válidos desde a redemocratização). Claro que há mais torcida que expectativa de que isso venha a ocorrer, mas é nítido que o xamã petista apostou no descaso, jogou no improviso e agora colhe derrotas.
E o que dizer do tal leilão de arroz, vencido por uma quitanda, uma locadora de veículos e uma sorveteria, senão que Lula parece não ter aprendido nada com o Mensalão, o Petrolão e os 580 dias de férias compulsórias na PF de Curitiba? Depois que a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina acionou o TCU, Lula mandou anular o leilão impregnado de suspeição e aceitou o pedido de demissão — eufemismo para exoneração — do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, "chegado" de Robson Luiz Almeida França, dono de duas das empresas que intermediaram a venda de 44% do arroz adquirido pela Conab. Outra empresa — do mesmo personagem — tinha como sócio Marcelo Geller, filho do secretário demissionário. O cancelamento do leilão não afasta a necessidade de investigação. Se houve inépcia ou desonestidade, o contribuinte merece pratos limpos.
Como se não bastasse, deputados fisiologistas se preocupam em pôr fim à delação premiada de réu preso (como se em liberdade o elemento se sentisse motivado a abrir o bico) e brindar as vítimas de estupro com 20 anos de prisão (o dobro da pena imposta aos estupradores). 
Tudo isso faz parte do mesmo contexto, como disse uma vez Romero Jucá: "temos que estancar esta sangria, com Supremo e tudo”. E é isso que nossos eminentes togadas estão fazendo ao anular provas, condenações, multas e por aí afora.

O vazamento sugere que o buscador estava fazendo coisas que o Google havia dito que não fazia, como ranquear páginas usando dados dos sites, como número de cliques, e dados dos usuários do Chrome. Assim, um site popular com muitos acessos “fura a fila” e aparece primeiro no ranking de buscas, mesmo que as informações sejam de pior qualidade.  

Os documentos sugerem também que o Chrome foi criado porque o Google queria analisar cada clique dos usuários. Considerando que o programa é usado por 64% dos internautas mundo afora, esse escândalo levanta questões sobre privacidade e críticas à IA da empresa.

Google reconheceu o vazamento, mas alegou que não é possível tirar conclusões precisas acerca dos dados expostos publicamente.
 
Vamos ver que bicho dá.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

O STF E A MALDITA POLARIZAÇÃO


Divergências de opinião e disputas pelo poder sempre fizeram parte da política, mas a polarização como a conhecemos hoje, com a divisão da sociedade em dois grupos opostos e antagônicos, é um fenômeno relativamente recente. Com o fim da ditadura militar e a volta do pluripartidarismo, Lula gestou e pariu seu abjeto "nós contra eles", mas os embates eram mais civilizados quando PSDBPT eram os adversários de turno. 

O advento do "bolsonarismo" e a ascensão das "mídias sociais" levaram água ao moinho das "fake news" e à criação de "bolhas" onde as pessoas, tomadas pelo fanatismo, só tomam em consideração as notícias e opiniões que confirmam suas convicções. E a desconfiança no governo, nos partidos políticos e na imprensa tradicional estimula essa récua a busca fontes alternativas de informação (nem sempre confiáveis) que reforcem sua visão deturpada de mundo. 

As eleições presidenciais de 2018 foram as mais polarizadas da nossa história recente, mas perderam o posto para o pleito de 2022, em que Lula, "descondenado" e reabilitado politicamente por uma sequência de decisões teratológicas do STF, derrotou o "mito" dos descerebrados pela menor diferença de votos válidos desde a redemocratização. 

Com o eleitorado dividido entre "nhô-ruim" e "nhô-pior", não havia como a quimérica "terceira via" prosperar — a menos que, metaforicamente falando, um meteoro como o que extinguiu os dinossauros há 66 milhões de anos varresse do cenário político as duas seitas do inferno. 

Dizem que o sábio aprende com os erros dos outros e os tolos, com os próprios, mas o inigualável eleitorado tupiniquim os repete eleição após eleição, como se essa perseverança tivesse o condão de produzir um resultado diferente. Pelo andar da carruagem, teremos neste ano mais um pleito plebiscitário, com postulantes à prefeitura de quase 5.600 municípios apadrinhados pelo capitão-golpista e pelo aspirante a Matusalém. Parece até coisa de Superman x Lex Luthor ou Coringa x Batman! E ainda dizem que Deus é brasileiro!
 
Na desvaliosa opinião deste humilde articulista, J.R. Guzzo, Augusto Nunes, Dora Kramer, Josias de Souza e Reinaldo Azevedo são "monstros sagrados" do  jornalismo político. Mas o mundo gira, a Lusitana roda, a terra plana capota e, como ensinou o saudoso Vinicius de Moraes, "não há nada como o tempo para passar". 

Dora e Josias continuam produzindo textos isentos, mas Guzzo e Nunes se converteram em bolsonaristas convictos, e Azevedo, que cunhou o termo "petralha" quando o escândalo do Mensalão veio à tona, em lulista de carteirinha. De Rodrigo Constantino, então, nem se fala. Parafraseando um slogan do maior jornal paulista — "Folha: Não dá para não ler —, Constantino: "não dá mais para ler". 
 
Seria exagero dizer que nada se aproveita de tudo que esses "convertidos" escrevem. Afinal, até um relógio analógico parado marca a hora certa duas vezes por dia. Além disso, cabe ao leitor sensato diferenciar fatos das versões e "pesquisas de intenção de voto" das manifestação de torcidas organizadas em prol de seus corruptos de estimação. 
 
Após esta breve introdução, segue uma versão condensada do texto (magistral) que Augusto Nunes publicou na edição de 24 de maio da Revista Oeste:  
 
Que García Márquez, que nada. Muito mais assombroso que o universo fictício criado pelo grande escritor colombiano é o estranho país que vem sendo redesenhado desde o início de 2020 por 11 figuras que, em silêncio e vestindo trajes normais, parecem gente como a gente. As diferenças começam pelo dialeto que elas falam e se acentuam quando vestem a fantasia completa. Versão nativa da capa que promove a Superman o introvertido jornalista Clark Kent, a toga pendurada nos ombros do mais medíocre bacharel em Direito anuncia a entrada em cena de um Doutor em Tudo, um Eminente Superjuiz, uma sumidade a serviço do STF, uma alta patente da tropa que recriou o Poder Moderador — que só existiu na experiência constitucional brasileira na Constituição de 1824, e que era exercido pelo Imperador — para salvar a democracia em perigo com métodos que até um ditador parido pelo realismo fantástico acharia exagerados.
 
Que Cem Anos de Solidão, que nada. A esplêndida saga do clã que não terá uma segunda chance na face da Terra é coisa de amador se confrontada com o que fazem e desfazem as estrelas (e os roteiristas) do mais longo e intragável faroeste à brasileira. O coronel Aureliano Buendia meteu-se em dezenas de revoluções. Perdeu todas. Numa visita à cidade natal, o filho revolucionário foi impedido de abraçar a mãe pelos soldados designados para garantir-lhe a integridade física. No Brasil controlado pelo STF, o ministro Alexandre de Moraes não dispensa a companhia de oito brucutus, nem para zanzar pelo clube do qual é sócio. O esquema de segurança não permite que os brasileiros ao menos apertem as mãos do homem que os livrou da ressurreição do fascismo ao sufocar o primeiro golpe de Estado orientado por uma minuta, abastecido por um vendedor de algodão-doce e consumado por civis desarmados e sem comandantes com experiência militar. 
 
Se faltam autores brasileiros no ranking dos melhores do realismo fantástico, não é por falta de personagens prontos e acabados. Em O Outono do Patriarca, Márquez criou um ditador de idade indefinida (calcula-se que tem mais de 107 anos e menos de 232). Moraes terá de viver ao menos mais dois séculos, sem aposentar-se, para concluir o julgamento dos casos que o transformaram em gerente da maior e mais vagarosa Vara Criminal do planeta. O Primeiro Carcereiro disse recentemente que são mais de 2 mil. Não é pouca coisa. Mas o sorriso que acompanhou o cálculo avisou que está longe do fim o aumento da população carcerária embutido no recado que fez publicamente ao parceiro Dias Toffoli em outro comício sem plateia: “Tem muita gente pra prendê (sic), muita multa pra aplicá (sic)”, animou-se o carrasco de plurais, direitos e liberdades. 
 
"Os idiotas perderam o pudor e estão por toda parte”, constatou Nelson Rodrigues na década de 1970. Passados 50 anos, sobram imbecis também na cúpula dos Três Poderes. Alguns ajudam a piorar o Judiciário, mas no Supremo prevalece a tribo dos napoleões de hospício sem remédio. Daqui a muitos anos, diante das verdades preservadas por um punhado de jornalistas decentes, todo brasileiro com mais de dez neurônios se perguntará o que aconteceu com o Brasil na primeira metade da terceira década do século 21. 
 
Em cinco anos, o Supremo pariu o flagrante perpétuo, a presunção de culpa, a prisão sem julgamento, a multa com seis zeros, a verdade oficial, a prisão provisória sem prazo para terminar, o criminoso que não descumpriu nenhuma lei em vigor e outras obscenidades chicaneiras. Decidiu que o ônus da prova agora cabe ao acusado, revogou o devido processo local, aposentou o sistema acusatório e o direito de ampla defesa, tornou rotineira a condenação por decisão monocrática de quem não pode ser julgado pelo Supremo. Fora o resto.
 
Nesta semana, o Brasil que pensa e presta foi insultado por outra carga de cavalaria liderada pela mais insolente dupla de coveiros da Justiça, dos direitos democráticos e do Estado de Direito. Indignado com os brasileiros que rejeitaram a meia-liberdade, jogaram tornozeleiras no lixo e partiram para o exílio, Alexandre de Moraes anunciou que vai prender de novo homens e mulheres que soltou por falta de provas para condená-los. 

Perfeitamente afinado com o colega de toga, Dias Toffoli decidiu que o empreiteiro Marcelo Odebrecht não cometeu as ilegalidades que confessou em depoimento eternizado num vídeo. Coisa de doido? Não deixa de ser. Mas há uma lógica por trás dessas loucuras, como provará esta coluna na próxima edição. Mais importante ainda: é uma indignidade inútil. Mesmo enterrada, a verdade segue viva. E logo estará assombrando os que se julgam condenados à eterna impunidade.
 
Volto a frisar que, a meu ver, Nunes se converteu ao bolsonarismo e a destacar que não concordo com muito do que escreveu sobre Alexandre, mas a parte que toca ao Supremo — e a Toffoli em particular — me levou a publicar esta postagem. 
Cabe ao leitor tirar suas próprias conclusões. 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

EBÓ MAL FEITO, EGUN MAL DESPACHADO

 

Nem a Velhinha de Taubaté acreditaria na falácia vitimista dos bolsonaristas sobre o "episódio Carlos Bolsonaro", que só funciona com a parcela do eleitorado que pula, deita ou rala quando seu "mito" apita. Mas sem a vassalagem do antiprocurador-geral e o aparelhamento da PF, a tese de perseguição política é tudo que resta ao ex-presidente et catervaAo encostar a investigação sobre a "Abin paralela" no pitbull do clã, os investigadores deixam o pai do filho numa posição parecida com a do sujeito que despenca do alto de um edifício de dez pavimentos e, ao passar pelo sexto andar, suspira e diz: "Até aqui, tudo bem!". 
A visita dos rapazes da PF ao refúgio litorâneo onde Bolsonaro tira férias do ócio em companhia da prole é um prenúncio do que está por vir: depois de perscrutar a intimidade de Ramagem e de Zero Dois, os agentes devem invadir a praia do mito dos apatetados, a caminho de sua jugular, tocar a campainha do general Augusto Heleno, ex-superior hierárquico de Ramagem. 
Sempre que se apresenta como vítima de perseguição política, Bolsonaro fala com conhecimento de causa, pois perseguição é uma de suas especialidades. E o bom senso recomenda não discutir com especialistas. No caso da "Abin paralela", no entanto, o debate é até desnecessário: o próprio capetão assumiu a missão inconsciente de desvendar os próprios crimes cometendo-os com desleixo, Infelizmente, a PF chega a ele com quatro anos de atraso. Mas antes tarde do que nunca. 
Lula demorou a demitir o número 2 da Abin, e ainda resiste a trocar o diretor-geral do órgão, com quem tem intimidade. Qualquer semelhança com o caso de GDias não é mera coincidência.

Como se diz na Bahia, "ebó mal feito, egum mal despachado". Enquanto o povinho medíocre que o Criador colocou nesta banânia não aprender a votar, o continuaremos reféns de políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e são endeusados por quem os deveria fiscalizar, cobrar e defenestrar por mijar fora do penico. Até lá, arremedos de parlamentares seguirão dando cabriolas no Erário e, como bons discípulos de Maquiavel, ampliando seu poder a qualquer custo — como fizeram ao aumentar em quase 150% o valor do fundo eleitoral — descalabro que caberia a Lula vetar, mas ele não vetou por ser refém do condestável do Centrão e estar empenhado fortalecer o PT nas eleições municipais de outubro.  
 
Observação: O "fundão" — leia-se financiamento público de campanha — foi criado para mitigar a promiscuidade com empresas, prevenir escândalos de corrupção e reduzir o custo de eleger representantes e administradores públicos, mas o achaque ao bolso do contribuinte vem aumentando exponencialmente a cada eleição. O presidente do Senado e a bancada do Novo se uniram para derrubar o valor para cerca de R$ 2,6 bilhões, mas a proposta foi rejeitada por 355 votos a 101. 
 
No pacote bilionário de emendas parlamentares, a redução de R$ 5,5 bi imposta por Lula causou ranger de dentes e resultou em ameaças. O relator da PEC do Orçamento chegou a dizer que o veto será derrubado se o ministério do Planejamento não encontrar uma maneira de repor a diferença (mesmo com o veto, o saldo de emendas será de R$ 47,5 bi). Como se sabe, boa parte dessas emendas é desviada na forma de tratores, kits de robótica e maracutaias que tais, contribuindo para encher as burras dos congressistas corruptos e seus abjetos apaniguados. 
 
Já que falamos em egum mal despachado, José Dirceu de Oliveira e Silva ressurgiu das profundezas para "salvar o partido que ajudou a fundar de derrotas eleitorais em 2024 e 2026". Com o aval de D. Lula III, o ministro mais poderoso da primeira gestão petista vem atuando como eminência parda do PT e criticando Gleisi Hoffmann, que preside a sigla desde 2017 (para quem não se lembra, a ex-senadora rebaixada a deputada aparecia nas planilhas do propinoduto da Odebrecht como "coxa" e "amante").
 
Aos 77 anos e sem cargo formal no PT, o ex-guerrilheiro de festim pretende reassumir o papel que exerceu entre 2003 e 2005 e abandonou quando foi condenado no escândalo do Mensalão e na Operação Lava-Jato. Com o partido sob o domínio absoluto de Lula e sem hesitação em negociar com adversários, Dirceu personifica a busca pelo fim (no caso, o poder) sem se importar com os meios. A despeito das condenações pendentes, reiniciou o caminho de volta à ribalta com a escolha do filho Zeca como líder do PT na Câmara e com os acenos públicos do Maximus Pontifex da seita do inferno, que o elogiou como "agente e militante político da maior qualidade" e agradeceu pelo "legado no partido e solidariedade na prisão".
 
Na comemoração dos 43 da sigla, o palanque ambulante trombeteou: "Dirceu tem que colocar a cara para fora. A gente tem que construir outra narrativa na sociedade". Durante a campanha, temendo desgaste, sua excelência havia dito que "figuras históricas" não teriam espaço em seu terceiro governo — daí a volta de Dirceu à ribalta política se dar de forma gradual. Na cerimônia de posse do chefe, o "guerreiro do povo brasileiro" assistiu ao evento do gramado da Esplanada dos Ministérios. No fim daquele mês, durante encontro petista no Congresso com a presença do imperador da Câmara, os presentes evitaram posar para fotos com ele. 

Mas não há nada como o tempo para passar.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

LULA, GONET, BOLSONARO E A VELHINHA DE TAUBATÉ

A PF aguardava pela troca de comando na PGR para fechar a conta dos inquéritos sobre Bolsonaro. O procurador Paulo Gonet, escolhido por Lula sob influência do decano Gilmar Mendes e do relator-geral das encrencas bolsonaristas Alexandre de Moraes, esteve um par de vezes no Planalto antes de seu nome ser aprovado no Senado. Sobre o que ele e o presidente falaram, não se sabe, mas nem a Velhinha de Taubaté acreditaria que o futuro criminal do pior mandatário desde Tomé de Souza não foi assunto da conversa.
 
Para refrescar a memória dos mais velhos e informar os mais jovens que não conheceram a ilustre personagem criada durante o governo do último general da ditadura de 64 — aquele que gostava mais do cheiro dos cavalos que do cheiro do povo — a Velhinha de Taubaté acreditava piamente em tudo que lhe diziam, sobretudo se a fonte fosse Brasília. 
Mas nem sua inabalável fé resistiu ao choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão. Em 2005, ao descobrir que seu ídolo — o então ministro da Fazenda Antonio Palocci — estava mergulhado até os beiços num mar de corrupção, a senhorinha sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor. Ainda assim, vira e mexe alguém insiste em descobrir o paradeiro da finada para perguntar a quantas anda sua convicção sobre a credibilidade do governo e a situação política do país. 

Parece que tem uma nova Velhinha na praça. Ao ler as primeiras notícias sobre o golpe que Bolsonaro não pôde dar porque não conseguiu a adesão dos militares, ela se apressou a escrever nas redes sociais: "Se não forem meras conjecturas, os diálogos que vieram à tona nos últimos dias mostram, na verdade, que Bolsonaro salvou a Democracia, ao resistir à pressão sofrida por grande parte de seu entorno. Ele, inclusive, deixou o cargo antes de seu mandato terminar. Não digo isso como forma de defesa, mas como conclusão lógica do material recentemente exposto. Muitos foram os diálogos em que interlocutores imploravam para Bolsonaro dar um golpe e ele não deu, nem tentou.

Observação: A personagem de Veríssimo nunca foi militante, mas sua sucessora é. Bolsonaro chegou mesmo a convidá-la para vice em 2018, mas desistiu e escolheu um general. A Velhinha sem graça se elegeu deputada estadual por São Paulo e disputou uma vaga no Senado em 2022, mas ficou em quarto lugar.
 
No finalzinho de 2023, uma reportagem de Aguirre Talento revelou que a PF programou para o início de 2024 o indiciamento de Bolsonaro nos inquéritos sobre fake news e milícias digitais. Os processos, que incluem da tentativa de golpe à falsificação de certificados de vacinação, da propagação de mentiras ao comércio ilegal de joias, deixarão Gonet entre a cruz e a caldeirinha: ou ele denuncia ex-aspirante a tiranete, ou desmoraliza o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto). Como o mandato do PGR dura apenas dois anos, o desejo de recondução afasta a hipótese de fazer Lula de bobo. 
 
Confirmando-se a denúncia, restarão ao STF duas possibilidades: condenar Bolsonaro ou condenar Bolsonaro. A absolvição ou uma sentença suave, sem cadeia, desmoralizariam a Corte, que já impôs às piabas do 8 de janeiro sentenças de até 17 anos de cana. Já um Bolsonaro encarcerado sob os ritos democráticos ficaria em situação parecida com a que viveu seu adversário, que foi afastado das urnas graças a uma ação coordenada do Supremo — que lhe sonegou um habeas corpus— e do TSE — que o enquadrou na inelegibilidade da Lei da Ficha-Limpa. Já banido das urnas até 2030, o capetão marcharia rumo à cela batendo o mesmo bumbo de perseguido.
 
Com Lula fora da pista, Bolsonaro aproveitou o antipetismo para retirar a direita do armário em 2018. Mas 4 anos de irracionalidade e golpismo produziram a vergonha que colocou a direita civilizada no arco democrático que deu a vitória ao ex-presidiário em 2022. No entanto, a provável asfixia criminal do mito dos descerebrados não torna mais fácil a vida de seu rival. 

Ainda que o imbrochável e o bolsonarismo virassem pó, o conservadorismo troglodita continuaria retirando seu oxigênio do antipetismo. Ou seja: se quiser um quarto mandato (que Deus nos livre e guarde dessa desgraça), o autoproclamado Parteiro do Brasil Maravilha precisa governar direito e aprender a conversar com a direita racional, que lhe deu a vitória em 2022 não por preferência, mas por rejeição à alternativa.
 
Triste Brasil.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

LULA LÁ...



Emparedado pela polarização e incapaz de aturar mais quatro anos (no mínimo) sob o alfange do verdugo do Planalto, muitos brasileiros deixaram de lado a quimérica terceira via e apoiaram a volta do desempregado que deu certo. Outros, temendo um golpe que "transformasse o Brasil numa Venezuela", fizeram as malas e picaram a mula para Portugal ou Miami. Ironicamente, o verdadeiro golpista era Bolsonaro — coisa ele próprio cansou de demonstrar (só o antiprocurador-geral não viu).

Lula bateu três recordes em sequência — em gastos no cartão corporativo, em despesas com publicidade e em emendas parlamentares —, sinalizando que esta gestão será um repeteco (revisto e piorado) de suas passagens anteriores pelo Planalto. A compra de apoio no Congresso  uma das marcas de seu primeiro mandato  desaguou no escândalo do mensalão; dois meses atrás, o governo liberou R$ 11,8 bilhões em verbas parlamentares e abriu caminho para as emendas Pix, que são determinadas pelos congressistas e não se destinam a uma despesa específica. 
 
Lula gastou mais com cartões corporativos nos primeiros sete meses deste governo do que Bolsonaro, Temer ou Dilma no mesmo período, e suas 19 viagens ao exterior foram as principais responsáveis pelo grosso das despesas. Nos dois primeiros mandatos do petista, os gastos com cartões corporativos da Presidência e dos ministros suscitaram fortes críticas. Descobriu-se, por exemplo, que a ministra da Igualdade Racial torrou R$ 171 mil (em 2007) com compras e locação de veículo durante um feriado, e que um funcionário do Ministério das Comunicações usou o cartão para reformar uma mesa de sinuca. 
 
Lula reservou R$ 647 milhões no orçamento do ano que vem para publicidade (o maior valor desde 2004). Ao comprar anúncios (principalmente na TV Globo), o PT espera turbinar seus candidatos nas eleições municipais de 2024 e melhorar a imagem do governo. Vale lembrar que, em 2003, o xamã da Petelândia multiplicou por treze os gastos com propaganda oficial da Presidência, e que esse "investimento" foi fundamental para sua reeleição e, mais adiante, para a eleição de sua sucessora.
 
Se hoje retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia em meu país”, disse Lula em Nova York. É verdade: ele só está no poder porque a ruptura que alguns radicais desejavam não aconteceu. Mas os três recordes mostram que a vitória de uma democracia plena ainda está longe de acontecer. 
 
Triste Brasil

segunda-feira, 29 de maio de 2023

20 ANOS DE CORRUPÇÃO

 

O livro "20 ANOS DE CORRUPÇÃO", de Ivo Patarra, é um amplo documento sobre a corrupção no Brasil moderno. De um ponto de vista factual, há pouco a acrescentar. Apenas me disponho a enumerar algumas dúvidas que me afligem sempre que trato do assunto. Uma delas, talvez a mais persistente, surgiu com a série de candidatos à Presidência que passaram a usar o tema do combate à corrupção como bandeira e que terminaram seus mandatos sob acusações pesadas de que haviam sucumbido àquilo que prometeram varrer da vida política do país. 

Já mencionei em livro a primeira eleição direta logo após a redemocratização, quando os dois candidatos que disputaram o segundo turno tinham como trunfo eleitoral, respectivamente, a luta contra os marajás do serviço público e a luta a favor da ética na política. Considerando os acontecimentos em anos e décadas que se seguiram, caberia perguntar: seria a corrupção uma característica intrínseca às elites políticas brasileiras? Minha resposta buscava então fugir de soluções simplistas. Sem, evidentemente, negar as responsabilidades pessoais, procurei ver no sistema eleitoral uma das principais causas da corrupção. 

Ancoradas em superproduções televisivas, as eleições brasileiras se tornaram muito caras no primeiro período da redemocratização. Na década de 1990, rivalizavam em preços com as norte-americanas. Esse dinheiro não era obtido com métodos tradicionais: rifas, festas e contribuição de simpatizantes. Os personagens principais do financiamento de campanha eram empresários que tinham ou almejavam negócios com o governo. Os custos de campanha tornaram-se, na verdade, investimentos. 

Esse contato mais próximo entre políticos e empresários contribuiu para que alguns tentassem mimetizar o estilo de vida dos próprios milionários. O caso mais radical foi o do ex-governador Sérgio Cabral — um de seus objetos de desejo era um helicóptero idêntico ao do empresário Eike Batista

O problema estrutural do custo das eleições foi parcialmente superado pela lei que transformou o financiamento de campanha numa responsabilidade pública. Isso minimizou as chances de corrupção na chegada ao poder, mas criou outra armadilha: como evitar a corrupção para exercer o poder no contexto de um Congresso fragmentado? 

O escândalo do mensalão foi financiado com dinheiro privado. Na época, parte desse dinheiro era destinado a alimentar também campanhas políticas. Passado esse período, encontramos de novo o mesmo problema no governo Bolsonaro, eleito em 2018. Aqui já não havia dinheiro privado para atrair apoio dos partidos. A saída foi encontrá-lo no Orçamento. 

O chamado “orçamento secreto” significou um avanço considerável da prática da corrupção sobre os mecanismos de combate a ela, pois já traz embutido um antídoto contra seu principal obstáculo: a transparência. Na relação do Executivo com forças regionais que trocam seu apoio por verbas orçamentárias, reside um problema fundamental não resolvido no Brasil. 

O governo Bolsonaro, que se elegeu com o propósito de combater a corrupção, conseguiu, na verdade, sofisticá-la. O mecanismo de vitória eleitoral foi similar ao do início da redemocratização, sendo que Bolsonaro ainda se aproveitou de alguns efeitos do movimento rebelde de junho de 2013 e da Operação Lava-Jato, com repercussão continental.
 
A entrada do juiz Sergio Moro no governo convenceu a muitos que as campanhas contra a corrupção não passam de manobra eleitoral, mas isso não significa que a Lava-Jato possa ser reduzida a uma simples atuação partidária. Num período anterior à própria ditadura, o movimento tenentista já combatia a corrupção, e, nos anos 1950, as revoltas de Aragarças e Jacareacanga também a denunciavam. Mas, para uma operação que se dizia técnica e apresentava novidades em sua própria estrutura de trabalho, como a unificação da PGR, da PF e do Fisco, a proximidade com o bolsonarismo foi muito desgastante. Resta então mais uma dúvida: por que, ao longo do tempo, todas as grandes operações policiais contra a corrupção fracassaram? 
 
A estrutura jurídica brasileira garante ampla liberdade de defesa, e suas trilhas, quando bem exploradas por advogados competentes, acabam por neutralizar o exaustivo trabalho da Polícia Federal, que sempre esbarra em obstáculos intransponíveis. A própria Lava-Jato viveu esse problema, ainda que, paradoxalmente, tenha se beneficiado também de alterações legais. A principal delas foi a lei que regulou a delação premiada, mas
 isso não bastou para que a Lava-Jato não terminasse abatida por vazamentos divulgados pelo site Intercept Brasil e pela ação determinada da 2ª Turma do STF

No pacote de alterações legais havia ainda a possibilidade de prisão em segunda instância. O tema foi igualmente decidido pelo STF, para o qual a prisão só pode ser realizada quando esgotados todos os recursos legais. A lei previa a possibilidade de prisão após a confirmação do veredito por um juízo colegiado, apesar dos recursos cabíveis na suprema corte. A questão acabou voltando ao Congresso, onde os parlamentares já decidiram que não somente vão mantê-las nas gavetas como votarão projetos que abrandem o combate à corrupção. 
 
Se entendemos a luta contra a corrupção como um longo processo, talvez seja razoável dizer que ela vive um momento de defensiva no Brasil, caracterizado pela reação à Lava-Jato entre políticos e ministros do STF. Mas também pelo agravamento da crise econômica, que coloca no topo da agenda outros temas, como desemprego, renda, segurança alimentar. É a única maneira de entender a existência de um orçamento secreto, anticonstitucional, porém combatido brandamente na sociedade. 

Em síntese, o movimento anticorrupção que levou milhões de pessoas às ruas vive hoje um refluxo. Nada indica que seguirá assim eternamente, mas de nada adiantará reacendê-lo sem compreender, de um lado, suas limitações, e de outro, a extraordinária resiliência dos que defendem o status quo.
 
Prefácio de Fernando Gabeira

domingo, 7 de maio de 2023

FILHO DE PEIXE PEIXINHO É

 

Na Famiglia Bolsonaro, quem sai aos seus não endireita. O MPRJ colecionou evidências capazes de transformar em denúncia formal a suspeita de que o gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio é mais uma filial — com trocadilho — do conglomerado familiar da rachadinha. O diminutivo não atenua a gravidade do crime, e o esquema mantém o método do patriarca, que desfrutou de 32 anos de mandatos, elegeu três filhos e com eles construiu a holding da rachadinha. Passaram pelos gabinetes da família, entre ex-mulheres, parentes e laranjas, 102 pessoas que se deixaram extorquir, cedendo parte do salário.

Descobriu-se que o chefe de gabinete Jorge Luiz Fernandes, visto como uma espécie de segundo pai de Carluxo, recebeu algo como R$ 2 milhões em créditos provenientes de contas de seis servidores levados à folha do legislativo municipal pelo vereador. Parte do dinheiro pagou contas do dono do gabinete. A promotoria jogou luz sobre os calcanhares de vidro do pitbull do clã quando se descobriu sete parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro e madrasta do vereador, foram empregados no gabinete, mas não compareciam ao trabalho. 

Observação: Já havia chegado ao ex-presidente e à cúpula do PL a informação de que "está se fechando o cerco" da investigação que o MPRJ conduz sobre Carluxo, que comprova, como revelou o GLOBO, a prática de 'rachadinha' no gabinete do vereador — um pedido de prisão não é descartado pelos correligionários da sigla.


A investigação começou em 2019, primeiro ano do capitão na Presidência. Por uma emboscada do azar, o inquérito amadurece depois que o pai do suspeito, fora do Planalto e crivado de processos, já não dispõe de poder para blindar o filho, como fez com o primogênito. Entende-se agora o porquê de Zero Dois ter propalado, dias atrás, que deixaria de administrar as redes sociais do pai. Ele passou a ter outras prioridades.

E.T. — A versão tupiniquim de El Cid — que nada tem a ver com o nobre guerreiro castelhano que viveu no século XI, época em que a Hispânia estava dividida entre reinos rivais de cristãos e mouros — segue numa unidade militar de Brasília. Valendo-se de intermediários, o esbirro do capetão mandou dizer ao chefe que pretende assumir sozinho a responsabilidade por tudo que a provas colecionadas pela PF tornarem irrefutável. A lealdade do tenente-coronel orna com o enredo construído pela vice-procuradora Lindôra Araújo, mas destoa da percepção do ministro Alexandre de Moraes, segundo a qual "não é crível" a narrativa de que o ajudante de ordens pudesse ter comandado operação criminosa destinada a beneficiar Bolsonaro e a filha dele sem "no mínimo conhecimento e aquiescência" do chefe. 

 

De resto, consolida-se a impressão de que a expressão "eu não sabia" passará à história como uma frase-lema do Brasil pós-ditadura. Será lembrada quando, no futuro, quiserem recordar a época em que o país era regido pelo cinismo. Lula recorreu ao "eu não sabia" no escândalo do mensalão petista. O tucano Eduardo Azeredo repetiu a frase no processo do mensalão tucano. Agora, Bolsonaro se vale do mesmo subterfúgio. Usada assim, tão desavergonhadamente, a expressão já virou uma espécie de código. Quando ela aparece, já se sabe que o país está diante de mais um desses escândalos que, de tão escancarados, intimam o brasileiro a reagir, nem que seja com uma cara de nojo. Mas sempre há quem se disponha a conceder aos encrencados um deixa-pra-lá preventivo, que transforma culpados e cúmplices notórios em cegos atoleimados.

 

A excentricidade da crise do bolsonarismo é a transgressão acéfala, a máfia sem "capo", a quadrilha sem chefe. Estão na cadeia Daniel Silveira, Anderson Torres e Mauro Cid. Na aparência, são seres diferentes; na prática, igualam-se nas bolsonobabaquices. Os três são ex-alguma coisa — ex-deputado, ex-ministro, ex-ajudante de ordens — e se encrencaram por seguir e obedecer ao pior mandatário que esta banânia amargou desde Tomé de Souza. Presos, passaram a ser ignorados pelo líder e ex-chefe. Com um ano de atraso, o Supremo anulou o indulto presidencial que o capetão concedeu a Silveira — cujas férias compulsórias serão longas, já que a sentença de oito anos e nove meses de cana voltou a valer... e Bolsonaro se finge de morto.

 

No caso das muamba das arábias, o verdugo do Planalto disse à PF que não sabe por que Cid correu para tentar reaver as joias. Jura que não ficou cobrando ninguém, e tampouco encomendou cartões de vacina falsos para ele e para a filha. Pelo andar da carruagem, quando for interrogado sobre os atos terroristas e 8 de janeiro, esse repugnante dublê da carcinoma e ajudante do vírus SARS-CoV-2 talvez verta lágrimas (prática cada vez mais frequente) e pergunte: "Quem é Anderson Torres?" 


O capetão virou um antilíder que finge humildade reivindicando o papel de cego abobalhado. Não viu, não soube e não pediu coisa nenhuma. Não vai colar.


Com Josias de Souza

quarta-feira, 3 de maio de 2023

O PAÍS DA VERGONHA

 

Ao retornar da Arábia Saudita em 2019, Bolsonaro disse que "se sentiu quase irmão" do príncipe Mohammed bin Salman (aquele que ordenou a execução de um jornalista nas dependências da embaixada saudita na Turquia). Ao longo dos três anos subsequentes, autoridades brasileiras visitaram aquele pais mais de 150 vezes, e a importação de produtos sauditas bateu recorde em 2022 (US$ 5,3 bilhões). Mas nada foi tão suspeito quanto a venda da refinaria Landulpho Alves para o fundo árabe Mubadala Capital, por metade do valor de mercado, semanas após o ministro Bento Albuquerque e seus acólitos protagonizarem o primeiro capitulo da série A Muamba das Arábias. 
 
Em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro se justificou: Eles têm dinheiro, pô". São joias caras, sim, caríssimas, até pela relação de amizade que eu tive com o mundo árabe". Em depoimento à PF, ele disse que só soube da apreensão das joias 14 meses depois do ocorrido, que buscou informações para evitar um suposto vexame diplomático caso os presentes fossem a leilão, e que tentou reaver o pacote destinado à esposa (aquele avaliado em R$ 16,5 milhões), mas "via ofício, não na mão grande".

Observação: Nessa trama (da qual até a Velhinha de Taubaté duvidaria), Bolsonaro passou quatro anos na Presidência totalmente alheio ao que acontecia à sua volta (nada muito diferente da falácia de velho Lula sobre o mensalão). Se alguém pressionou agentes federais visando liberar os tais bens presos na alfândega, foi sem seu conhecimento. Levou um ano até que ele fosse informado do que estava acontecendo.
 
Bolsonaro tentou vender uma imagem de simplicidade usando esferográficas Bic e relógios de plástico de R$ 30, deixando-se fotografar de chinelo de dedo, comendo pão com leite condensado e com as calças sujas de farofa. Durante sua abjeta passagem pelo Planalto, ele recebeu 19.470 presentes, mas nenhum deles fedeu tanto a propina quanto a muamba saudita. Segundo o jurista Walter Maierovitch, o ex-presidente confessou que cometeu peculato ao reconhecer publicamente que incorporou a seu acervo pessoal o estojo de joias que recebeu do governo saudita. 
 
A pena para este tipo de delito pode chegar a 12 anos de cadeia, mas não se pode perder de vista o fato de que vivemos numa republiqueta de bananas, onde sobram leis e falta vergonha na cara, onde todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros, onde o chefe do Executivo de turno foi guindado ao Planalto (pela 3ª vez) a despeito de ter colecionado 26 processos e de ter sido condenado em dois deles, em 3 instâncias, a mais de 25 anos de reclusão.

Farejando as possíveis consequências do escândalo das joias, a cúpula do PL já se articula para salvar a pele de Michelle — cuja relação com o marido, segundo se comenta, não anda bem das pernas. Quanto ao "mito", o depoimento à PF está sob sigilo, mas alguns trechos que vazaram para a imprensa dão conta de que sua explicações foram ridículas. "Só um bolsominion muito tapado, muito imbecilizado, para acreditar que ele não sabia o que é que tinha naquele estojo e que ele pegou só para não criar um incidente diplomático. Ele sabia. Ele sabia de tudo", escreveu Altamiro Borges na revista eletrônica Crusoé.
 
Ao voltar dos EUA, Bolsonaro encontrou um ambiente muito diferente do que imaginava. Ele ainda conta com uma base significativa de apoiadores, mas seu futuro político é incerto e o poder abomina o vácuo. A extrema-direita precisa de um candidato, que pode ser Tarcísio, Zema, e até Mourão (Vade Retro!).

Atualização

Uma ação da PF autorizada pelo "ministro canalha" do STF resultou na prisão preventiva do tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, esbirro de Bolsonaro. A suposta falsificação do certificado de vacinação do ex-presidente viabilizaria sua entrada nos EUA, e Micheque e filha Laura teriam sido vacinados em 2021. Segundo a colunista Malu Gaspar, o esquema de falsificação dos cartões de vacinação começou em Goiás, depois que um médico bolsonarista do município de Cabeceiras preencheu cartões de vacinação para o capetão, a primeira-dama, a filha do casal e o lambe-botas Mauro Cid

O fritador de hambúrgueres e quase embaixador em Washington foi imunizado em agosto de 2021, um mês depois de o arremedo de o arremedo de ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vacinar seu irmão mais velho, o senador das rachadinhas Flávio Bolsonaro. Já o pitbull do clã furou a fila, mas negou tê-lo feito: "A única coisa que devo ter furado deve ter sido a mãe de quem divulga mais uma fake news de nível global e diária! A escória não vive sem mentir e manipular! Não tomei vacina alguma!". 

Segundo Ancelmo Gois, o vereador carioca que dava expediente em Brasília foi imunizado em 2021, no posto de saúde da Câmara de Vereadores do Rio. Jair Renan contraiu covid em 2020. Na ocasião, ele disse que se tratava de uma "gripezinha" (like father, like son), e que teria tomado cloroquina durante o período em que apresentou sintomas. Como se costuma dizer, vaso ruim é difícil de quebrar.

Triste Brasil.