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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

FATOS, MITOS, BOATOS E TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO (FINAL)

PARA QUEM NÃO TEM NADA, METADE É O DOBRO.


Nos anos 1970, a pretexto de "limpar registros desfavoráveis" sobre a seita e seu fundador, membros da Igreja da Cientologia roubaram arquivos confidenciais do governo americano e de embaixadas e consulados estrangeiros

Conhecida como Operação Branca de Neve, essa ação foi considerada teoria da conspiração até vir a lume o envolvimento de mais de 5 mil "agentes secretos" — entre membros da igreja, funcionários públicos corruptos ou chantageados e investigadores particulares.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

No debate do último domingo, Marçal deixou claro que seu objetivo era irritar os adversários e desviar a atenção das acusações que ele sabia que viriam. Funcionou: o momento em que ele quase levou um pescoção repercutiu muito mais que a questão das fraudes bancárias em Goiás. 

Na noite seguinte, aboletado no centro do Roda Viva da TV Cultura, o "influencer" parecia outro. Até tentar ensinar a jornalista Malu Gaspar a fazer jornalismo e levar uma invertida. A partir de então o espírito de porco da noite anterior tomou o centro da roda, com um entrevistado ora passivo-agressivo, ora só agressivo, que foi ficando mais arrogante enquanto fazia cortes (foram 11) para suas redes sociais, propunha soluções  mirabolantes para espalhar prosperidade e — pasmem! — cantava "Diário de um Detento", dos Racionais MCs, para reforçar a narrativa de "filho da periferia".  De quebra, culpou os adversários pelo baixo nível dos debates e reclamou de ser "atacado de forma deselegante". 

Inspirado na profecia de Nelson Rodrigues — de que "os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade" —, Marçal afirmou que produz idiotices em série porque o eleitor, por idiota, deseja esse tipo de mercadoria, porém a inanição de sua pauta de propostas leva a crer que idiota é quem vota num sujeito como ele.

Campanha eleitoral movida a ódio não é novidade no Brasil, mas a coisa terminou mal todas as vezes que a raiva foi industrializada com propósitos políticos: Jânio renunciou, Collor foi impichado e Bolsonaro perdeu a reeleição, está inelegível e vive sob a sombra de uma sentença criminal esperando para acontecer — e isso depois de torrar bilhões em verbas orçamentárias secretas na compra do engavetamento de mais de quase 150 pedidos de impeachment.

Houve tempos em que a mídia controlava as massas. Com a Internet, as massas passaram a controlar a mídia, e o idiota da aldeia, que só tinha direito à palavra no boteco, passou a ter o mesmo direito de um ganhador do Premio Nobel. 

Depois que as redes sociais deram asas à idiotice, a melhor vacina contra a desqualificação política seira a qualificação do voto. Mas isso parece cada vez mais um sonho irrealizável.


Também foi considerada conspiratória a denúncia de que a NSA plantava escutas ilegais, coletava dados de celulares e monitorava ou uso que os americanos faziam da Internet. O ataque ao World Trade Center serviu de "desculpa" para aumentar essa vigilância — a agência esgrimiu a necessidade de sacrificar algumas liberdades individuais em prol da segurança nacional —, mas uma matéria publicada pelo The Washington Post em 2014 revelou que quase 90% dos dados coletados eram de internautas sem qualquer conexão com terrorismo.

Em 1998, o U.S. Departament of State revelou que, no auge da Guerra Fria, o então Dalai Lama e a outros líderes tibetanos receberam milhões de dólares da CIA para atuar em prol do enfraquecimento do comunismo na China e na URSS, e que a agencia manteve locais secretos de treinamento militar para monges tibetanos no Colorado (USA). 

Observação: Dalai Lama é o título dado ao líder espiritual do povo tibetano e transferido de uma pessoa para outra através de um processo chamado tulku (ou "reencarnação de Avalokiteshvara"). Quando um Dalai Lama morre, Lamas sêniores buscam seu sucessor. Se uma criança testada demonstra características espirituais notáveis e/ou reconhece objetos pessoais que pertenceram ao Dalai Lama anterior, ela é submetida a um treinamento religioso (que pode durar anos) e, após ser oficialmente entronizada, assume o papel de líder espiritual e político do Tibete.
 
Em abril de 1919, enquanto negociava o Tratado de Versalhes para encerrar a Primeira Guerra Mundial, o presidente americano Woodrow Wilson contraiu gripe espanhola e sofreu um derrame que o deixou parcialmente incapaz. Como seu médico pessoal se recusou a assinar o atestado de incapacidade, o vice Thomas R. Marshall não foi promovido a titular; como o real estado de saúde do paciente foi mantido em segredo, a primeira-dama Edith Wilson se autoproclamou "guardiã" do marido e atuou como "presidente de fato" até o término de seu mandato, em março de 1921 (lembrando que a 25ª Emenda, que trata da sucessão presidencial em casos de incapacidade, só foi ratificada em 1967). 
 
Em 1993, 
a pretexto de estudar ionosfera da Terra, as Forças Armadas dos EU criaram o Projeto HAARP. Os conspirólogos alegaram tratar-se de uma arma secreta de controle do clima que seria capaz de desativar satélites inimigos, desestabilizar nações e manipular a mente das pessoas. As autoridades envolvidas no projeto refutarem qualquer propósito sinistro, mas as teorias conspiratórias persistem até hoje, havendo inclusive culpe o projeto enchentes no Rio Grande do Sul.

Capitaneado pela CIA durante a Guerra Fria, Projeto MK Ultra usou abusou de alucinógenos, hipnose, privação sensorial e outras técnicas arrepiantes para controlar a mente das pessoas, e como as cobaias apresentavam sintomas clássicos de paranoia, suas denúncias não eram levadas a sério. Nos anos 1970, porém, Church Committee descobriu mais de 200 mil documentos arquivados erroneamente, e o projeto se tornou um dos maiores exemplos de abuso de poder por parte de uma agência governamental. Segundo os teóricos da conspiração, a CIA seguiu com as experiências espúrias mesmo depois que a maracutaia veio à lume.
 
Um esquema sem título oficial, mas que teve a veracidade comprovada, causou a morte de milhares de americanos durante a Lei Seca. Devido à proibição da produção, importação e venda de bebidas alcoólicas no território norte-americano nos anos 1920/30, produtos à base de etanol usados na fabricação de materiais de limpeza eram redestilados, engarrafados e vendidos no mercado negro. Visando inibir o consumo ilegal dessa bebida, o governo passou a adicionar metanol ao etanol, mas exagerou na dose e matou mais de 10 mil pessoas.
 
Projeto Sunshine, conduzido secretamente pelos EUA nos anos 1950, visava entender os efeitos da radiação nuclear no corpo humano. As amostras de tecidos eram obtidas de cadáveres (não raro roubados de cemitérios), e os 
ossos de crianças recém-nascidas, suscetíveis aos efeitos do estrôncio-90, eram especialmente valiosos para o estudo. Em 1995, o presidente Bill Clinton desclassificou os documentos, mas o altíssimo custo moral do projeto continua ensejado discussões sobre ética em práticas científicas.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A INVASÃO DA UCRÂNIA E O CARMA DO CARNAVAL

Ricardo Boechat dizia que se pode morrer de várias maneiras no jornalismo, menos de tédio. Na madrugada da última quinta-feira, sua tese foi comprovada mais uma vez pela invasão da Ucrânia. 

Conflitos como esse, sabemos como começam, mas não como nem quando terminam. E o mesmo se aplica a suas consequências. Como ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz), o problema com as consequências é que elas vêm sempre depois.

Contrariando a opinião de um sem-número de analistas de internacional, Putin não estava blefando. E a escalada de suas ameaças levava mesmo a crer que a invasão eram favas contadas. Infelizmente, as consequências do desatino transcendem o leste europeu, mas ainda é cedo para avaliar o tamanho da caca e como ela afetará a economia mundial (no mercado financeiro, os índices despencaram, inclusive no Brasil, onde o dólar voltou a subir, pondo fim a uma alvissareira sequência de quedas).

Assinado em 2014, o Acordo de Minsk visava pôr fim aos conflitos armados no leste da Ucrânia com o cessar-fogo imediato entre as regiões envolvidas na guerra civil, mas nunca foi implementado completamente, e a tensão aumentou com as movimentações militares da OTAN e da Rússia nas proximidades de Donbass

Na última terça-feira (22), após o reconhecimento da independência da DPR e da LPR, Putin disse que o acordo estava morto. Na madrugada de anteontem, a despeito das lamentáveis (e lamentavelmente recorrentes) desgraceiras que a mídia canta em verso e prosa dia sim e outro também, a cobertura da guerra no leste europeu varreu da pauta assuntos que vinham ocupando o noticiário nos últimos dias, como a variante ômicron, o preço dos combustíveis e outras mazelas nacionais, entre as quais o fato de 2022 ser o segundo ano consecutivo sem carnaval no país do carnaval.

No que tange ao “Reinado de Momo”, foi durante o carnaval 2019 que um comentário infeliz de Bolsonaro trouxe à baila, com pompa e circunstância, a expressão “Golden Shower”. Mas essa não foi a primeira nem (muito menos) a última estultice do dublê de mau militar e parlamentar medíocre que elegemos para evitar que o país fosse presidido pelo fantoche do então presidiário mais famoso de Pindorama (que hoje posa de “ex-corrupto” e detém a preferência de nosso esclarecidíssimo eleitorado).

Bolsonaro tomou posse em meio à novela do caso Queiroz, mas o rompimento da barragem do Córrego de Feijão desviou o foco da mídia da maracutaia. Seguiram-se o incêndio no Ninho do Urubu, a exoneração de Gustavo Bebianno, a denúncia de estupro apresentada por Najila Trindade contra Neymar Cai-Cai, a Vaza-Jato de Verdevaldo das Couves e a malograda indicação de Eduardo Bananinha para ocupar a Embaixada do Brasil nos EUA

Em seus primeiros três meses de governo, o capitão esteve na Suíça, nos Estados Unidos, no Chile e em Israel, deu uma passadinha rápida em casa (no Rio), e outra no Hospital Sírio Libanês (em São Paulo). Em Brasília, foi ao cinema com a primeira-dama e a ministra-pastora Damares Alves em plena manhã de terça-feira (26 de março, que não era feriado no DF), em meio à articulação da reforma da Previdência (que acabaria sendo aprovada apesar dele).

Poderíamos continuar indefinidamente a relembrar pronunciamentos infelizes do sultão do bananistão — a quem o senador Omar Aziz, então presidente da CPI do Genocídio, referiu-se como “"aquele carioca que tira proveito de funcionários do próprio gabinete" e que "só abre a boca para espalhar fezes" —, mas não faz sentido abusar da paciência do leitor. Passando ao carnaval, os primeiros casos de Covid-19 — que logo se multiplicariam e resultariam na maior pandemia sanitária depois da Gripe Espanhola — foram descobertos no apagar das luzes do primeiro ano do desditoso mandato do capitão cloroquina, e a identificação do primeiro caso em terra brasilis, já em 2020, aconteceu dias antes do início do Reinado de Momo

Devido à magnitude da pandemia, "não houve carnaval" em 2021. No ano em curso, os foliões também não sairão às ruas, mas a data servirá de referência para situar no tempo a invasão da Ucrânia pela Rússia. Resta saber o que nos reserva o próximo Reinado de Momo, que se dará 52 dias depois da posse do próximo presidente desta banânia. 

Pelo andar da carruagem, talvez seja melhor nem fazer previsões.

***

Dias atrás, em mais um périplo internacional bancado pelos contribuintes, Bolsonaro fez uma inoportuna e contraproducente visita dois populistas autoritários. O objetivo, evidentemente, era conseguir imagens para usar em sua campanha pela reeleição. 

Para ser recebido pelo colega russo, nosso mandatário submeteu-se a um distanciamento vigiado e realizou testes em série contra Covid. Na fala de abertura que antecedeu sua conversa com Putin, declarou-se solidário com a Rússia. Na sequência, ofereceu farto material para memes nas redes sociais afirmando que, “coincidência ou não”, Putin reduziu a presença militar na fronteira com a Ucrânia depois da conversa que eles tiveram.

O ex-presidente norte-americano Donald Trump disse condenar a ação de Putin, mas classificou-a de "genial". "O que deu errado foi uma eleição fraudada e o que deu errado é um candidato que não deveria estar lá e um homem que não tem noção do que está fazendo" , disse o egun mal despachado, referindo-se a seu sucessor na Casa Branca. “Se eu estivesse no cargo, isso seria impensável. Isso nunca teria acontecido”. Biden, por sua vez, anunciou "sanções muito mais duras" do que as estabelecidas em 2014, depois da anexação da Crimeia.

Itamaraty afirmou por meio de nota que “o governo brasileiro tem acompanhado com grande preocupação os ataques da Rússia na Ucrânia” e que “apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”. 

Bolsonaro não deu um pio sobre a guerra na manhã de ontem, quando conversou com apoiadores no chiqueirinho defronte ao Alvorada, nem horas mais tarde, no município paulista de São José do Rio Preto, onde participou de um passeio de moto e discursou por 20 minutos. Diante do silêncio do titular (que, calado, é um poeta), o vice disse aos jornalistas que o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano”.

Pelo visto, Mourão e o chefe não rezam pela mesma cartilha também nessa questão. Ou então “faltou combinar com os russos”. 

Enfim, é Carnaval.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

ENTRE GOLPES, IMPEACHMENTS, VAMPIROS E CORUJAS EMPALHADAS

 

Na postagem de sexta-feira eu comentei que Doria havia programado para o dia do aniversário da cidade de São Paulo — segunda-feira passada — um evento destinado a promover a CoronaVac e incentivar a população a se imunizar. 

O governador convidou todos os ex-presidentes que ainda caminham entre os vivos, mas apenas o macróbios compareceram — Fernando Henrique (89), de corpo presente; José Sarney (90 anos), e Michel Temer (80) remotamente. Os menos vetustos Collor (71), Lula (75) e Dilma (73) declinaram do convite.

Segundo José Simão, Sarney parecia uma coruja empalhada que escapou da gripe espanhola. Como é imortal, o eterno donatário da Capitania do Maranhão não precisa se imunizar — a vacina dele é a “FormolVac”, produzida no Egito. Temer, que é vampirão, não quer vacina, quer sangue — a vacina dele é a SangueVacDoria mandou um recado ao capitão-cloroquina pronunciando cada palavra com que em Caps Lock: BOLSONARO, EU SALVO VIDAS. A vacina do tucano, segundo Simão, é a CashmereVac.


Mudando de assunto, a última pesquisa Datafolha atestou que 40% dos brasileiros consideram Bolsonaro ruim ou péssimo (ante 32% no mês passado). Com isso, o capitão-cloroquina passa a ser dono da segunda pior avaliação entre todos os presidentes eleitos desde a redemocratização, atrás apenas de Collor (48%). 

Perguntados sobre o impeachment, 53% do entrevistados disseram-se contrários à abertura do processo, mas os resultados de uma enquete promovida pelo Atlas Político (que deu uma surra nos demais institutos de pesquisa no ano passado) apontam outro cenário: 53,% da população tupiniquim são a favor do impeachment e 41,5% contra.

Em meio à polarização político-ideológica que assola o país, pesquisas, avaliações, opiniões e previsões devem ser recebidas com alguma reserva. O fanatismo emburrece e a burrice cega, levando as pessoas a acreditar no que querem e ver as coisas como gostariam que fossem. Os devotos de S. Lula, o podre, acreditarão ad aeternum na inocência do picareta, a despeito de ele ter sido condenado em dois processos (em três e duas instâncias, respectivamente) e ser réu em mais meia dúzia de ações criminais.

Voltando ao morubixaba de turno, a atuação desastrosa do governo no enfrentamento da pandemia pode ter consequências. Lideranças do Congresso, ex-presidentes da República e até ministros do STF vêm discutindo nos bastidores o impedimento do alienado (ou a cassação da chapa pela qual ele e Mourão se elegeram, o que mataria dois coelhos com um paulada só). 

O movimento pró-impeachment surgiu primeiro em partidos de esquerda e na sociedade civil, mas logo se espraiou, inclusive entre grupos de direita que saíram às ruas para pedir a cabeça de Dilma em 2016. A Folha listou 23 situações que podem embasar uma acusação de crime de responsabilidade contra Bolsonaro, mas Rodrigo Maia dizia ver erros, mas não crimes no procedimento do presidente, e mantinha seu avantajado buzanfã sobre cerca de 60 pedidos de abertura de processo de impeachment. 

Quando o STF decidiu que os presidentes da Câmara e do Senado não poderiam disputar um segundo mandato dentro da mesma legislatura, Maia subiu o tom nos ataques  ao capitão. A uma semana de deixar o posto, o deputado diz que a discussão sobre o impeachment será inevitável, mas achou por bem deixar o abacaxi dos pedidos de abertura processo para seu sucessor descascar. Na política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã. E vice-versa.

Bolsonaro apoia Arthur Lira para a presidência da Câmara (falaremos da capivara do deputado alagoano numa próxima postagem) e Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado (o mesmo candidato apoiado pelo PT). O Psol, “pensando no bem comum”, lançou a "empolgante" candidatura da antediluviana Luiza Erundina, reduzindo a competitividade do desnorteado e combalido movimento oposicionista que sustenta a candidatura do deputado Baleia Rossi.

A despeito de todas as peculiaridade do desgoverno em curso — que é tão nefasto quanto o de Dilma, mas temperado com pitadas de crueldade —, a cantilena dos demais Poderes continua a mesma: as instituições são sólidas, as ameaças à democracia são retóricas, não há motivos para preocupação. Ledo engano. O Supremo, sem Celso de Mello — de quem eu jamais pensei que fosse sentir falta — e com Gilmar Mendes ditando as regras e exigindo obediência dos pares, empurra com a barriga decisões que possam causar desconforto para sua alteza irreal e os príncipes merdeiros.

Bolsonaro flerta com o golpismo desde sempre, com comprova a escolha do sucessor Sergio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública — uma das personalidades mais patéticas do anedotário contemporâneo, que confunde “segurança nacional” com a “honra” de um presidente que estimula o desrespeito à ciência, menospreza a pandemia e chama o povo de maricas

O boicote do capitão-decepção à vacinação terá efeito direto na recuperação da economia. O cenário mais provável é que menos de 80 milhões de brasileiros tenham sido imunizados até o final do ano, o que aumenta as chances de novas medidas restritivas ao funcionamento das empresas e do comércio para evitar o colapso do sistema de Saúde. E o que fazem a respeito o suserano e seu vassalo? Insistem no negacionismo, receitam cloroquina e, pegos com as calças na mão e as cuecas manchadas de batom, mentem deslavadamente.

Simone Tebet, candidata à presidência do Senado, diz que ainda não há força suficiente, nas ruas ou na Câmara, para um processo essencialmente político, como é o caso do impeachment, avançar. Até mesmo opositores do presidente vão nessa mesma linha, ou acham que o Centrão vai barrar o impeachment, o que acirrará a polarização e terá consequências nefastas para o país.

Nada mais natural que a campanha pelo pé na bunda do trevoso comece pequena. A despeito do vulto das manifestações de 2013 — que eclodiram para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público, mas foram adquirindo uma pauta diversa, ganhando corpo e revelando uma insatisfação com a classe política —, Dilma, a insuperável, se reelegeu em 2014 e só foi expelida em 2016.

Há quem considere junho de 2013 um mês que não terminou, que dialoga diretamente com a crise econômica e política vivida hoje pelo país. Mas isso é outra conversa. Fato é que a campanha pelo impeachment não está tão pequena assim. Embora Bolsonaro tenha ironizado as carreatas (com um sorrisinho amarelo), dizendo que “só tinha 10 carros", protestos semelhantes ocorreram país afora no sábado e no domingo (obviamente, o presidente não fez referência a eles). E carretas em dois dias seguidos, bandeiras vermelhas e verde-amarelas, gente de esquerda e de direita… e a carreata da direita saiu da Barra da Tijuca, o bairro mais bolsonarista do Rio de Janeiro, onde moram Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro...

A ideia de que o Centrão vai barrar o impeachment é um engano. Esse bloco fisiologista e venal de marafonas congressista faz o que é bom para si mesmo. Hoje, bom para o Centrão é apoiar o capitão; se amanhã o vento mudar e o impeachment pegar fogo, os ratos abanarão o navio, deixarão o capitão na mão. Nós já vimos esse filme numa versão em que Dilma foi protagonista. E ainda que o impeachment seja derrotado, a pressão servirá ao menos para manter Bolsonaro na defensiva, minimizando seu potencial de causar (ainda mais danos) ao país. 

Dito isso, “passo a palavra” a Ricardo Rangel:

Supondo que não haja impeachment até lá, enfrentaremos uma encruzilhada em 2022. Se Bolsonaro vencer, estará renovado o mandato do pior presidente da história; se perder, o caminho será o golpe — e o roteiro está à vista de todos:

1. Bolsonaro questiona constantemente, sem fundamento, a lisura do processo eleitoral. Se perder, mentirá que a vitória lhe foi roubada e convocará seus apoiadores a “resistir” e tomar o poder na marra.

2. A máquina de fake news bolsonarista faz esforço incansável para desacreditar a imprensa, de modo que o eleitorado duvide quando ela denunciar que Bolsonaro mente.

3. Bolsonaro luta para controlar o Congresso em busca de meios com que barrar os esforços para impedir o golpe vindouro.

4. O presidente fez um “liberou geral” para a compra de armas: de 2019 para 2020, a venda mais do que dobrou. Quem está comprando não são cidadãos moderados e cumpridores da lei: é a extrema direita apoiadora de Bolsonaro.

5. Bolsonaro seduz constantemente as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros (dos quais vêm as milícias, que o presidente sempre defendeu), onde conta com forte apoio, inclusive nas patentes mais altas. Apoia um projeto de lei para reduzir o controle dos governadores sobre as PMs e criar para elas patentes de oficiais generais: se aprovada, tal lei dará aos comandantes grande autonomia, ao mesmo tempo que fará com que sintam gratidão eterna a Bolsonaro. No ano passado, ele estimulou o motim da PM no Ceará.

6. O presidente seduz também as Forças Armadas (onde não tem tanto prestígio): se conseguir uma quebra na hierarquia suficiente para que o Exército não reprima motins das PMs, isso basta.

É sedutora a tese de que nossas instituições são fortes, de que uma tentativa de golpe não terá sucesso, de que Bolsonaro não seria louco de tentar uma loucura dessas. Sedutora e equivocada. Nossas instituições são menos fortes do que gostamos de imaginar: ao contrário dos EUA, que barrou o golpe de Trump, nossa tradição não é liberal e democrática, mas corrupta e autoritária. E, mesmo que seja uma loucura, isso não significa que Bolsonaro — homem despótico, desprovido de senso crítico e com traços de paranoia — não vá tentar o golpe. Até porque sua alternativa é voltar para a planície e assistir placidamente à evolução de processos penais contra seus filhos e, possivelmente, contra ele mesmo.

Se tentar o golpe, mesmo que fracasse, Bolsonaro causará enorme dano ao país. É preciso impedi-lo, e a hora de se mexer é já. O Congresso deve eleger presidentes da Câmara e do Senado sem vínculo com Bolsonaro, repudiar a lei das PMs, criar legislação contra fake news (não é simples, admita-se) e restringir o comércio de armas. PF e Exército devem unificar e melhorar o controle de armas. O Supremo deve concluir o inquérito das fake news e punir os responsáveis. O TSE deve publicar o algoritmo das urnas eletrônicas. Governadores e comandantes das Forças Armadas devem purgar bolsonaristas radicais das tropas. 

Não tomar tais providências é cortejar o desastre no ano que vem.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

CADA CIRCO TEM O PALHAÇO QUE MERECE


Tudo somado e subtraído, quase nada se aproveitou da pantomima falaciosa (mas pomposamente batizada de Apresentação Oficial do Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19) que foi encenada na última quarta-feira, no salão nobre do Palácio do Planalto, para apresentar um plano vacinal feito nas coxas por um general estrategista delirante que acontece de ser ministro da Saúde de um presidente a quem Pedro Bial qualificou de "acéfalo", "desgovernante" e "inominado". 

Bolsonaro se disse "honrado" em receber os governadores e afirmou que alguns não compareceram por "motivo de força maior". João Doria foi um deles. A título de justificativa, o tucano informou que era seu aniversário de 63 anos e que ficaria próximo à família em São Paulo. Mas enviou o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, para representá-lo na efeméride.

Durante a solenidade, uma situação inusitada ocorreu. Ninguém estava de máscara, só o Zé Gotinha — personagem usado pelo Ministério da Saúde desde 1986 em campanhas de vacinação —, que não retribuiu a aperto de mão oferecido pelo presidente, preferindo manter distância e fazer um sinal de “positivo”. Resta saber se o ator que interpretou o mascote permanecerá no posto.

A impressão que ficou, de que nem o suserano nem o vassalo sabiam que estavam falando, só reforçou a sensação de que nenhum dos dois tem a menor ideia do que está fazendo no cargo que ocupa. Para além disso, sobraram perguntas não respondidas e respostas a indagações que não foram feitas. Mas dois pontos chamaram especialmente a atenção:

1) A “aflição” do mandatário de festim (desde o início, segundo ele) com a gravidade da pandemia:

A grande força que todos nós demonstramos agora [governo federal e governos estaduais] é a união para buscar a solução de algo que nos aflige há meses. (...) Nos afligiu desde o início [a Covid-19]", disse Bolsonaro.

2) O fato de o general-ministro da Saúde “estranhar” a ansiedade e a angústia da população em relação à vacina que pode frear uma linha de produção que vem empilhando cadáveres em escala industrial:

"Nós somos os maiores fabricantes de vacinas da América Latina. Para que essa ansiedade e essa angústia?, perguntou Pazuello.

Observação: Segundo balanço do Ministério da Saúde feito na noite da quarta-feira 16, a Covid-19 havia matado 182.799 pessoas no Brasil, sendo 964 apenas nas últimas 24 horas.

Para bom entendedor, pingo é letra. Como nem todo mundo lê entrelinhas o real significado das bolsonarices e pazuellices, dedico mais algumas linhas às falas do suserano e seu vassalo. Começo por lembrar que nenhum dos cinco presidentes-generais que governaram o país durante a ditadura teve um ministro da Saúde que não fosse médico. 

Agora, no entanto, 26 anos depois da redemocratização, o general da banda de turno, que é fã de carteirinha do regime militar, não só troca o comando da pasta duas vezes em menos de 30 dias, como o faz em meio à maior pandemia viral desde a Gripe Espanhola (1918-1920) para empossar um taifeiro triestrelado que se sujeita, sem o menor constrangimento constrangimento, ao aviltante papel de mamulengo.

Em sua participação no jornal da Gazeta da última quarta-feira, Josias de Souza resumiu magistralmente esse deplorável espetáculo circense:

Brasília esteve mais surrealista do que o habitual nas últimas horas. Atingiu-se o ápice da incongruência na cerimônia de anúncio de um hipotético plano federal de vacinação contra a Covid, no Palácio do Planalto. Surgiu em cena um presidente que fala em "união", "entendimento" e "paz". Discursou um ministro da Saúde que questiona a "ansiedade" e a "angústia" dos brasileiros ávidos por vacinas. Ambos soaram inadequados. Jair Bolsonaro foi ofensivo. Eduardo Pazuello, desrespeitoso.

A súbita conversão do presidente à vacina ofende a inteligência alheia. No mesmo discurso em que fez pose de gestor respeitável, Bolsonaro declarou que a pandemia o "afligiu desde o início" e que "se algum de nós exagerou foi no afã de buscar solução." Faltou explicar que aflições atormentavam o presidente quando ele afirmou que a maior crise sanitária do século seria uma "gripezinha". E que solução pretendia alcançar quando declarou que o Brasil precisa "deixar de ser um país de maricas”.

A crítica do ministro da Saúde à "ansiedade" da população desrespeita os mais de 180 mil cadáveres produzidos pela Covid e seus familiares. "Somos os maiores fabricantes de vacina da América Latina", disse Pazuello. "Pra quê essa ansiedade, essa angústia?" O capitão do Planalto e o general da Saúde contraíram o coronavírus. Nenhum dos dois teve de ralar por leitos de UTI e respiradores do SUS. Bolsonaro teve a assistência ininterrupta dos médicos da Presidência. Pazuello foi internado no DF STAR, que é o hospital privado mais bem conceituado de Brasília.

Nas últimas duas semanas, o brasileiro assistiu pela TV ao início da vacinação em massa na Inglaterra e nos Estados Unidos. No Brasil, faltam seringas e vacinas. Sobra improvisação. A CoronaVac, chamada por Bolsonaro de "vacina chinesa do Doria", voltou a ser tratada como opção. Após prever que a imunização começaria em março, dezembro ou janeiro, Pazuello sustenta que, se tudo correr como planejado por ele, as primeiras doses de vacina podem ser aplicadas em fevereiro.

"Não vejo nada de errado", disse o general. "Se tivesse visto, teria corrigido." Então, tá! Resta constatar que a novela da vacina dispõe de novos personagens: um presidente pacificador e um ministro perfeito, gestor de mostruário. Agora só falta convencer o brasileiro a desempenhar nesse enredo o papel de bobo.

Que Deus nos ajude.

sábado, 31 de outubro de 2020

O FEBEAPÁ E O GÊNIO DA GARRAFA


Usado figurativamente para designar pessoas com capacidade intelectual acima da média, o termo gênio (do árabe jinn, que significa “aquele que não se pode ver”) remete originalmente a entes sobrenaturais que povoam a mitologia árabe: os Jinni, que são gênios benfazejos (e por vezes sensuais, como na versão protagonizada por Barbara Eden na série Jeannie é um Gênio), e os Ifriti, que são malévolos.

Gênios gozavam de elevada posição no Paraíso, mas rebelaram-se quando Deus criou Adão e foram expulsos para as míticas Montanhas Káf. A capacidade de assumir qualquer forma lhes permite residir no ar, no fogo, sob a terra e em praticamente qualquer objeto inanimado concebível — como pedras, lamparinas, garrafas vazias etc. —, mas quem conhecer os necessários procedimentos mágicos pode usar em proveito próprio os poderes dessas criaturas. Reza a lenda que os gênios atendem a três pedidos de que os liberta do lâmpada (ou da garrafa) em que foram enclausurados, mas, como se sabe, a maioria dessas história não acaba bem.

Bons ou maus, os gênios ganharam protagonismo em filmes, como Aladdin e Aventuras de Sinbad, o marujo, e têm presença garantida nas mais famosas obras da literatura persa, como As Mil e Uma Noites. Nessa fabulosa coletânea de contos, o sultão Xariar condena à morte a esposa Xazaman, que lhe enfeitou a testa com um vistoso par de chifres. A partir de então, o rei desposa uma jovem diferente a cada noite e a manda para o cadafalso ao nascer do sol. Decidida a pôr fim a esse ciclo vingativo, a filha do grão-vizir se oferece para a noite seguinte, que se multiplica, assim como as histórias que ela conta ao marido, adiando indefinidamente a própria execução. Passadas mil e uma noites, o califa se apaixona pela envolvente Sherazade e suspende a ordem cruel.

Fiz essa breve alegoria porque vejo Jair Bolsonaro como um Ifrit que libertamos para impedir a volta do criminosos Lula e sua quadrilha ao Poder. Enquanto tentamos descobrir como devolvê-lo à garrafa, ele abraça o clientelismo, amanceba-se com o Centrão, anda de braço dado com o dedo-duro do Mensalão, estreita relações com o que há de pior na banda podre do Judiciário e faz do populismo assistencialista trampolim para a reeleição. Pobres de nós.

Segue a transcrição de um artigo que o jornalista, escritor e poeta pernambucano José Nêumanne Pinto publicou no Estadão:

O FESTIVAL DE ABSURDOS QUE ASSOLA O PAÍS

O presidente Jair Bolsonaro nunca foi inteligente nem razoável. Não era de esperar que conduzisse o governo, que conquistou com legítima chancela popular na eleição de 2018, com a competência de gestão surpreendente do grande orador que foi Carlos Frederico Werneck de Lacerda. Afinal de contas, nem sequer administrou carrinho de pipoca em porta de cinema. Seria injusto não reconhecer que ele tem surpreendido pela incapacidade de entender que para tudo deve haver limites na gestão pública, inclusive para a mais rematada burrice, como pratica e professa.

No mandato de deputado federal, em que permaneceu 28 anos depois de uma passagem medíocre em dois na Câmara Municipal do Rio, Sua Insolência patrocinou causas absurdas, como a luta para autorizar a venda de uma tal “pílula do câncer”, invenção de um Professor Pardal abrigado na mais respeitável instituição universitária do País, a USP, e fazendo dupla, nem tão inesperada assim, com o médico e sindicalista petista Arlindo Chinaglia. A manifestação pré-histórica da nojenta aliança “bolsolulista” ganhou a disputa no plenário da Casa, que, fiel à única ciência que seus membros respeitam, a demagogia, aprovou a picaretagem por larga maioria. Só que, mais fiel ao que se imprime nos livros do que um parlamentar que não deve ter lido o Almanaque Capivarol, por abominar qualquer mezinha legalizada pela vigilância sanitária, o Supremo Tribunal Federal proibiu a fancaria. Alçado à Presidência da República, contudo, ele não abdicou de sua vocação de charlatão-em-chefe para reiterar a eminência do alto cargo que exerce fazendo “justiça” ao inventor de araque. Mas sendo injusto com os cardíacos que ajudaram a fazer a fortuna do garimpeiro (como fora seu pai) João Teixeira de Faria, impropriamente chamado de João de Deus. E se agarram a alguma vã esperança para abandonar qualquer tratamento e tomar a “poção mágica”.

A pandemia que devolveu ao mundo o pavor da gripe espanhola há mais de um século era, reconheçamos, uma oportunidade de ouro para exercer mais uma vez do alto do panteão da República insensata a prática ilegal da medicina. Ele nunca foi mesmo mais do que um demagogo sem escrúpulos que se lançou na política com a missão sem empatia de aumentar o próprio soldo. Este é o único projeto a que segue fiel: assumir mais uma vez seu papel favorito, o de camelô de óleo de cobra em feira livre. Sua obsessão pela hidroxicloroquina, insanidade contagiosa de seu ídolo, Donald Trump, sonegador-mor de impostos da segunda maior economia do mundo, foi um avanço de mais uma estação no seu trajeto à embromation recomendada pelo lateral Armero, de seu time, o Palmeiras.

Mas a hidroxicloroquina e o vermífugo apelidado de Anita não lhe bastaram. Ele precisava de um objetivo mais difícil. E aproveitou a onda mundial de imbecilidade negacionista, obscurantista e ignorantista para assumir o papel de detrator das vacinas em nome da bandeira improvável da liberdade individual. Logo ele, quem diria.

“Com tanto sol na minha alma, como fui apostar no absurdo?”, disparou o Prêmio Nobel de Literatura Albert Camus, frase magnífica que me foi lembrada por Nélida Piñon em entrevista que me deu abordando seu lançamento, o romance Um Dia Chegarei a Sagres. E que pode ser encontrada em meu canal no YouTube. Essa seria a melhor epígrafe para esse cabedal de ignorância que assola o País, apesar de todos os exemplos dados, com a deflagração pelo próprio presidente citado de uma guerra da vacina contra seu eventual adversário numa eleição a ser disputada daqui a distantes dois anos, dando-lhe estupidamente o papel de salvador.

Aos parvos, como este autor, que acreditavam que a avalanche obscurantista à qual aderiu Ruy Barbosa, que Jair nem sabe quem pode ter sido, estivesse cancelada desde 1904, quando o presidente Rodrigues Alves reprimiu a Revolta da Vacina e prestigiou o cientista Oswaldo Cruz: que ilusão mais besta! Ruy, Alves e Cruz nem imaginariam a volta do mito das cavernas na pessoa do capitão que saiu do Exército pela porta dos fundos, sendo absolvido dos crimes de terrorismo e indisciplina num julgamento ridículo do Superior Tribunal Militar.

Não dá para calcular quantos brasileiros ainda morrerão cegados pelas trevas desse mandatário escolhido legitimamente por suas vítimas. Mas já se sabe que dele não se pode esperar mais do que mandar o anônimo admirador que lhe pediu que não deixasse o preço do arroz subir comprar o carboidrato de cada dia na vizinha Venezuela, pátria do Chávez que o inspirava e agora adota como inimigo preferencial, como pato de Donald.

Não se sabe, porém, quantas árvores sobreviverão ao ministro do Mau Ambiente, Ricardo Salles, que, sem saber, citou o antigo colega de Jair na Academia Militar das Agulhas Negras, general Santos Cruz, ao definir o desgoverno que nos desmanda de “fofocalhada”. Mal sabia o parceiro de juventude que seria repetido por Ricardo Salles, que chamou seu companheiro de armas Luiz Eduardo Ramos de “maria fofoca”.

Os dois fizeram as pazes, ora vejam só! Já não se fazem mais generais como antigamente. Imagine o leitor que talvez o último general, aliás, marechal, que tinha moral e civismo, Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, derrotado pelo demagogo-mor Jânio Quadros em disputa pela Presidência, tornou-se conhecido pela lenda de ter um dia invadido a sala ocupada pelo oficial que torturou seu neto, na ditadura militar, deu-lhe um tiro na testa para depois conviver com o rapaz torturado, que foi solto. E com a permanente condição de único comandante a promover um golpe militar pelo avesso para garantir a posse do civil eleito, Juscelino Kubitschek, contra os fardados que nove anos depois depuseram João Goulart para instalar a ditadura, que o charlatão-mor nesta República da ignorância finge que exalta, mas desmoraliza em represália pelo tratamento que foi dispensado pelos comandantes da tropa à sua mediocridade.