sábado, 19 de outubro de 2024

O PROBLEMA TEM NOME E CPF



Lula profetizou que as eleições municipais seriam "outra vez Lula x Bolsonaro", mas o fenômeno Pablo Marçal lhe ensinou que há males que vêm para pior. 

Para resolver o problema da "desconexão do PT com o pedaço antipetista da sociedade", o petista instruiu seus correligionários a "conquistar os eleitores na rua". Marçal ensinou que a "rua" pode ser virtual, mas nem o PT nem seu xamã aprenderam a lição. 

Diante do resultado do primeiro turno, o Lula concluiu que "é preciso rediscutir o papel do PT", mas demora a perceber que essa rediscussão pede uma conversa com o espelho, onde seu reflexo exibe rugas, calva, barba branca e outras ofensas do tempo. 
 
Muita coisa mudou desde a fundação do PT — o imposto sindical acabou, a militância envelheceu, a direita ensaia o pós-bolsonarismo, e por aí vai —, mas Lula não mudou. Pior: do alto de seu ego hiperinflado, o macróbio não consegue ver que já não é mais o cabo eleitoral portentoso que foi no passado nem o Sun Tzu latino-americano que imagina ser. 

Três dias depois que o Brasil presenteou a Venezuela com um posicionamento vexatório no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o procurador-geral daquele país o acusou de ser agente da CIA" e indagou: "Quem é você para se intrometer nos assuntos internos da Venezuela?"

Lula condicionou o reconhecimento da vitória de Maduro à exibição de atas eleitorais que comprovem o feito desmentido pelos fatos, mas diz que o regime de Caracas "adquiriu um viés autoritário", e que o tiranete de merda não pode ser chamado de ditador. Como se não bastasse, a cúpula petista assinou um documento do Foro de São Paulo que reconhece a vitória de Maduro — vale lembrar que o PT é Lula e Lula é o PT.
 
Discursando para convertidos, Lula lamentou que trabalhadores com renda superior a dois salários-mínimos e metalúrgicos que ganham mais de R$ 8 mil mensais estivessem fugindo do PT, mas as urnas esboçaram um quadro ainda pior: em 2022, ele venceu Bolsonaro em São Paulo por 53,54% a 46,46% dos votos válidos. 
 
Boulos chegou ao final do primeiro turno com apoio de metade dos eleitores lulistas. No Datafolha do última dia 10, 31% dessa ilustre confraria disseram preferir Nunes. Desses, 27% declararam que jamais votariam no psolista, cuja rejeição bateu em 58%. Nunes segue na liderança (12% segundo o Quaest e 18% segundo o Datafolha), inclusive entre os moradores da periferia, a despeito do esforço de Boulos em culpá-lo pelo apagão da última sexta-feira. 

A exemplo de Bolsonaro no auge da pandemia, Lula vê sua aprovacão separada da reprovação pela margem de erro. Essa similaridade torna imperativa a conversa do petista com o espelho. Se o diálogo for franco, a imagem refletida dirá que o responsável pela dessintonia do PT com o eleitorado se chama Luiz, e que é impossível terceirizar a tarefa de "rediscutir o papel do PT". Se demorar, a autocrítica pode chegar junto com o laudo necroscópico.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

DE VOLTA À CONQUISTA DO ESPAÇO (PARTE III)

NÃO DEIXE QUE SEUS MEDOS SUFOQUEM SEUS SONHOS.

A possibilidade de existir vida extraterrestre fascina a humanidade desde as épocas mais remotas e vem se tornando cada vez mais provável à medida que as buscas por exoplanetas habitáveis se intensificam.

Diferentemente dos dogmas religiosos, que pedem fé inquestionável, a ciência busca evidências e procura comprová-las por meio de experimentos.

Observação: No livro Contato, o astrofísico Carl Sagan anotou que "ausência de evidência não é evidência de ausência". Para ele, a inexistência de vida fora da Terra tornaria o universo um imenso desperdício de espaço.

Evidências de contatos imediatos em vários graus  incluindo abduções e experimentos conduzidos por alienígenas — lotam os arquivos dos pesquisadores. Cerca de 10% dos mais de 12 mil relatos de testemunhas, fotografias, dados astronômicos e registros meteorológicos coletados pelo projeto Blue Book foram considerados inexplicáveis por três comissões patrocinadas pela CIA e pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia. No Brasil, pesquisadores civis e militares do SIAONI (Sistema de Investigação de Objetos Não Identificados) coletaram milhares de descrições, croquis e fotos de OVNIs durante as décadas de 1960 e 1970.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Faltam 9 dias para o segundo turno e uma semana para nos livrarmos do anacrônico "horário eleitoral gratuito" — que, apesar do nome, não há nada de gratuito, a não ser para os partidos e candidatos; toda vez que a programação é interrompida pela conversa mole dos candidatos, quem está pagando a conta é você. Mas a questão que quero abordar é outra. 
Inconformado com a imposição legal de conviver com dirigentes escolhidos sob Bolsonaro, Lula encomendou à AGU estudos para reformular o funcionamento de todas as agências reguladoras e fazer com que o mandato dos diretores passem a coincidir com o do presidente da República. 
A proposta passa a falsa impressão de que a tutela presidencial evitaria flagelos como os apagões reincidentes, mas o verdadeiro problema é o aparelhamento das agências, que foram oferecidas ao Centrão no balcão das nomeações políticas desde os antigos governos petistas e continuaram a sê-lo durante as gestões de Temer e Bolsonaro. A escolha partidária de dirigentes que deveriam ser técnicos submete o bem-estar da população a empresas que vendem serviços que não estão habilitadas a prestar. Se as agências fizessem seu trabalho e fiscalizassem os contratos de concessão, empresas como a Enel pagariam a inépcia com o caixa ou teriam a concessão cassada. 
As deformações do sistema produziram um capitalismo à brasileira, no qual o jogo de empurra das autoridades municipais, estaduais e federais  faz com que a ineficiência seja premiada com a inação. E o consumidor, que paga a conta, descobre que o inferno existe, é aqui, mas não funciona.

No livro Eram os Deuses Astronautas?, publicado em 1968, Erich von Däniken oferece explicações intrigantes para diversos enigmas que a história ainda não elucidou. Segundo sua Teoria dos Antigos Astronautasalienígenas que visitaram a Terra há milhares de anos foram tomados como "deuses" pelos antigos egípcios, gregos, maias e outros, conforme se evidencia em pinturas e esculturas encontradas por arqueólogos.

Embora autores como Pierre Houdin e Bob Brier considerem o trabalho de Däniken uma forma de pseudociência, é possível que haja uma ponta de inveja nessa crítica. Afinal, os livros do "pseudocientista" foram traduzidos para mais de 30 idiomas, venderam dezenas de milhões de cópias e inspiraram a popular série Alienígenas do Passado, do History Channel.

pirâmide de Quéops, construída durante o reinado do faraó homônimo (2520-2494 a.C.), possui 170 metros de altura e uma base de 40.000 metros quadrados. 

Historiadores afirmam que milhares de trabalhadores utilizaram martelos e cinzéis para cortar milhões de blocos de pedra de até 80 toneladas, que toras de madeira foram usadas para rolá-los por centenas de quilômetros de deserto, que elevadores rudimentares e rampas improvisadas foram empregadas para empilhar as pedras com precisão quase milimétrica, e que, com base no "olhômetro", foi possível alinhar perfeitamente a base da pirâmide com os pontos cardeais e a constelação de Orion.

A grande pergunta permanece: onde — ou de quem — os antigos egípcios adquiriram o conhecimento necessário de logística, organização de mão de obra e astronomia para realizar uma obra tão monumental?

Continua...

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

DE VOLTA AO AEROJANJA



Durante seu primeiro mandato, Lula aposentou o Boeing 707 usado por todos os presidentes desde 1986 e mandou comprar um Airbus A319CJ, que custou aos cofres públicos US$ 56,7 milhões mais US$ 13,5 milhões para a inclusão de uma suíte presidencial. 

No início da atual gestão, o petista manifestou o desejo de adquirir uma aeronave com maior autonomia de voo. A FAB aventou duas opções para o Aerojanja: equipar um dos Airbus A330-200 comprados durante o governo Bolsonaro com uma suíte com chuveiro, escritório, sala de reuniões e 100 poltronas para acomodar a comitiva presidencial e jornalistas ou adquirir um novo avião, já com as configurações prontas. 

A ideia foi engavetada para não comprometer o equilíbrio das contas públicas, mas voltou à baila no inicio deste mês, devido a pane no Aerolula quando sua majestade e seu séquito retornavam da Cidade do México para Brasília. 

MAIS DO MESMO

Restavam quatro debates até o segundo turno: o do UOL/RedeTV, nesta manhã, o da TV Record, às 21h do sábado 19, o do UOL/Folha, às 10h da segunda-feira 21, e o da TV Globo, às 22h da sexta-feira 25. 
Com 22 pontos de desvantagem e 58% de rejeição no penúltimo Datafolha, Boulos precisava de um resultado épico no debate da Band, mas obteve um placar magro. Nunes perdeu o debate para o apagão, mas conseguiu evitar uma goleada com jeito de virada a menos de duas semanas da eleição.
Boulos exagerou ao trazer para o segundo tempo esqueletos já bem sacudidos no primeiro e grudar no oponente as pechas de fraco e corrupto. O prefeito, que havia colado sua imagem em Bolsonaro para deter Pablo Marçal, busca agora se decolar do capitão para fugir de sua alta rejeição, mas mete os pés pelas mãos ao pensar com as pernas.
Nunes marcou uma reunião extraordinária para o exato instante do debate desta manhã. "Urgências da prefeitura surgidas desde a tempestade de sexta-feira passada", justificou. E outros eventos serão cancelados "por conta das mudanças climáticas previstas para sexta-feira", anotou no comunicado, evidenciando que não só foge do temporal da semana passada, mas também vive a síndrome das tempestades que estão por vir. 
Candidatos confessam de bom grado suas virtudes, mas nunca as covardias. O prefeito pode fugir do adversário, da ansiedade, do imponderável, de São Pedro e do raio que o parta, mas não pode escapar de si mesmo. Um candidato que descrê do próprio favoritismo corre o risco de perder a eleição não para o oponente, mas para o espelho.

No último dia 6, em entrevista à rádio O Povo/CBNLula informou que comprará não um, mas dois novos aviões para uso dele, de seus ministros e de outros integrantes do primeiro escalão do governo. Com a tranquilidade de quem fala em comprar um novo par de sapatos, disse que encarregou o ministro da Defesa, José Múcio, de avaliar propostas de aviões. Declarou que um presidente da República não pode "correr riscos". Que "é uma vergonha o Brasil não se respeitar". Antecipando-se às críticas, afirmou que "a ignorância não pode prevalecer", pois a nova aeronave "não é para o Lula, Bolsonaro ou Fernando Henrique, é para a instituição, quem quer que seja eleito". Em suas palavras, "não se governa" um país como o Brasil "com ministro coçando em Brasília". 

Lula acertou na mosca ao dizer que "a ignorância não pode prevalecer". Alguém que decide renovar a frota sem oferecer explicações razoáveis ao contribuinte corre o risco de ignorar sua própria ignorância. Em nações desenvolvidas, onde os responsáveis pelo cofre não precisam ralar para obter o equilíbrio de caixa, ministros carregam a própria bagagem e entram na fila do check-in ao lado dos cidadãos que pagam a conta.

ObservaçãoConta-se que general Golbery do Couto e Silva (que era conhecido como "O Bruxo" nos tempos da ditadura militar) teria dito a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de comunista, que não passava de um bon vivant, que deixou de ser operário quando fundou o PT e que trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de US$ 100 no momento em que encontrou quem pagasse a conta (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo).


O desempenho do Aerolula é semelhante ao das aeronaves usadas pelos líderes do G20. Sua autonomia de 11.000 km está dentro da média (11.641 km) e supera em muito a do Airbus A318-112 usado pelo presidente da Turquia, que é de 5.741 km. Com vida útil é estimada em 30 anos, a aeronave poderia continuar operando até 2035, mas Lula quer porque quer novos aviões para a Presidência. 
 
O modelo da FAB cogitado anteriormente era o Airbus A330-200, que é usado pelo primeiro-ministro do Canadá e pelo presidente da França, cuja autonomia é de 15.094 km. A aquisição precisa do aval do Congresso, mas acreditar na lisura de parlamentares que aprovaram um fundo eleitoral de quase R$ 5 bilhões (dinheiro dos contribuintes) é o mesmo que acreditar em Papai Noel ou no coelhinho da Páscoa.

O avião presidencial mais famoso é o Air Force One — conhecido como "Casa Branca flutuante" em razão da estrutura para despachos e reuniões presidenciais —, que foi comprado em 1990 e será substituída em 2027 por um Boeing 747-8i, igual ao usado pelo presidente sul-coreano e o maior dentre os aviões de chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo (noves fora o México, que não tem um avião presidencial; a pretexto de uma política de austeridade fiscal, as autoridades usam somente voos comerciais).
 
Triste Brasil.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

DE VOLTA À CONQUISTA DO ESPAÇO (PARTE II)

PEQUENAS FENDAS PODEM AFUNDAR GRANDES NAVIOS.

Nenhum astronauta voltou à Lua desde a missão Apollo 17, em 1972, mas diversas naves não tripuladas foram enviadas ao satélite pelos Estados Unidos, Rússia, China, Japão, Índia e Israel. 

A NASA encerrou o programa de ônibus espacial em 2011, nas pegadas das trágicas explosões do Challenger e do Columbia, mas planeja um retorno triunfante com o Projeto Artemis, que visa levar novamente astronautas à Lua, incluindo mulheres e afrodescendentes, mediante uma parceria com a SpaceX.

Mas o foco da exploração espacial não se limita mais à Lua. Marte e Vênus se tornaram os principais alvos de missões. As sondas Voyager 1 e Voyager 2, lançadas em 1977, não só visitaram Júpiter e Saturno, como também exploraram Urano e Netuno, e agora vagam pelo espaço interestelar. Outra missão notável foi Cassini-Huygensuma colaboração entre NASA, ESA e ASI que, em 2004, pousou a primeira sonda em Titã, uma das luas de Saturno.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Bolsonaro enxergou na incursão de Marçal pelas urnas o enredo em que ele morreria no final, e suspirou aliviado quando o eleitorado barrou a passagem da ameaça para o segundo turno: tudo na vida passa, imaginou o capetão. Mas o problema é a situação em que ficou o quintal bolsonarista depois da passagem do ex-coach. Ao trovejar "Que porcaria de líder é esse?", o pastor Silas Malafaia deixou claro pedestal não tem escada, e que o futuro do "mito" como líder da direita começa a ficar duvidoso. 
Na noite desta segunda-feira, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos ficaram frente a frente pela primeira vez na etapa decisiva do pleito, uma vez que o alcaide não compareceu ao evento da semana passada. O apagão foi a vedete do debate, dando azo a um intensa troca de acusações. Nunes acusou o Boulos de "não saber o que é trabalhar", provocando risadas e aplausos na platéia. Em resposta, Boulos disse que o prefeito não tem “moral” para falar sobre trabalho por causa do apagão. Na sequência, o psolista desafiou Nunes a abrir seu sigilo bancário. O prefeito disse que a situação "beira o ridículo", que Boulos está desesperado e que "vai perder mais uma" (mais aplausos da platéia).
No minha avaliação, o candidato do Psol, que estava 20 pontos percentuais atrás do emedebista no último Datafolha, saiu-se um pouco melhor no debate. Resta aguardar os resultados da próxima pesquisa, que será a primeira "pós-apagão". 

Em 2006, a NASA lançou a sonda New Horizons, que chegou a Plutão em 2015 e continua sua jornada pelo Cinturão de Kuiper. Lançada em 2018, a Parker Solar Probe vem quebrando recordes de velocidade em sua viagem rumo ao Sol, atingindo impressionantes 700 mil km/h (a essa velocidade, uma viagem de ida e volta à Lua levaria menos de 30 minutos).

Enquanto isso, missões tripuladas a Marte estão previstas para a próxima década, e a exploração das luas de Júpiter e Saturno pode revelar oceanos subterrâneos, onde há potencial para formas de vida. Já em fevereiro deste ano, o telescópio TESS identificou dois exoplanetas "semelhantes" à Terra nas zonas habitável e conservadora da estrela anã TOI-715, a cerca de 137 anos-luz de distância.

Na astronomia, a zona habitável é apelidada de "Cachinhos Dourados" — uma alusão ao conto infantil homônimo, no qual a protagonista não gosta do mingau doce como o do bebê urso nem salgado como o do papai urso, mas "no ponto certo", como o da mamãe ursa (essa região é considerada habitável porque a temperatura na superfície do planeta permite a existência de água na forma líquida). Já na zona conservadora o planeta recebe tanta luz solar quanto a Terra, independentemente da distância.

Os exoplanetas descobertos, TOI-715b e TOI-715c, são "superterras" — maiores que a Terra, mas dentro do limite de duas vezes seu raio e até dez vezes sua massa. A órbita de TOI-715b dura cerca de 10 dias terrestres, enquanto TOI-715c leva 16 dias para completar sua translação.

Essa descoberta aumentou a lista de exoplanetas potencialmente habitáveis e colocou o sistema TOI-715 como alvo para futuros estudos detalhados, aguardando a análise do telescópio espacial James Webb, que poderá comprovar ou não a viabilidade de vida por lá.

Continua...

terça-feira, 15 de outubro de 2024

ESTATIZAÇÃO NÃO É SOLUÇÃO.


Cerca de 250 mil clientes da Enel na região metropolitana de São Paulo continuavam sem energia na manhã desta terça-feira, devido ao temporal da última sexta, quando ventos de até 108 km/h deixaram no escuro 
mais de 2,1 milhões de imóveis — número superior ao registrado na Flórida durante a passagem do MiltonDe acordo com a ANEEL, a concessionária deixou de cumprir com o plano de contingência para eventos climáticos extremos e mobilizou menos funcionários que o esperado, mas atribuir a responsabilidade somente a ela é burrice, e culpar a privatização, burrice ao quadrado.
 
Na década de 1970, a Light São Paulo foi estatizada e passou a ser controlada pela Eletrobrás. Em 1981, o governo do estado criou a Eletropaulo Metropolitana, que começou a ser desestatizada em 1995 e foi adquirida em 1998 por um consórcio liderado pela AES Corporation, que se tornou a única controladora da empresa. Em 2018, a Enel Brasil adquiriu o controle acionário da AES Eletropaulo, que passou a se chamar Enel Distribuição São Paulo. 

O serviço prestado pela AES Eletropaulo deixava a desejar, mas há males que vem para pior. Como dizia o saudoso Tom Jobim, "o Brasil não é para amadores". Por outro lado, fornecer um serviço de qualidade para quase 20 milhões de consumidores — que, por mal de seus pecados, não têm outra opção — é um desafio até mesmo os melhores "profissionais". 
 
Em novembro do ano passado, 4 milhões de domicílios ficaram sem energia em 27 municípios do Estado de São Paulo — alguns por mais de 70 horas. Na ocasião, o governador Tarcísio de Freitas disse que o grande vilão desse episódio foi a questão arbórea, e Nicola Cotugno, então presidente da Enel, identificou um segundo culpado: "Não é para nos desculparmos, não. O vento foi absurdo!
Em outras palavras, as árvores cometeram vários crimes. O crime de simplesmente existir poderia ser considerado simples contravenção se elas não tivessem se multiplicado e, em conluio com a ventania, tombado sobre a fiação elétrica.
 
No Brasil, nenhum problema é tão grande que não caiba no dia seguinte, mas a vileza arbórea forçou as autoridades a dizer alguma coisa. Ciente de que a melhor maneira de fugir do instinto criminoso das árvores seria enterrar os fios, o prefeito Ricardo Nunes aventou a criação de uma taxa para financiar o enterramento da fiação elétrica. A repercussão negativa foi tamanha que, menos de 24 horas depois, o prefeito declarou que jamais imporia semelhante suplício aos paulistanos; caso eles se cotizassem voluntariamente para enterrar os fios por conta própria, a prefeitura participaria da vaquinha. 

Nunes esqueceu de lembrar, ou lembrou de esquecer, que a poda das árvores é uma responsabilidade do município financiada pelo contribuinte, e que, quando os galhos roçam a fiação, a concessionária de energia também pode realizar a poda, até porque o preço já está embutido na conta.

ObservaçãoA falta de energia eletrificará os debates entre os candidatos à prefeitura de Sampa. Boulos já afirmou que o adversário é incapaz de podar as árvores, e Nunes, que o padrinho de seu oponente precisa "criar vergonha e rescindir o contrato" com a Enel. Ecoando o alcaide, o governador disse que cabe ao Ministério de Minas e Energia e à ANEEL fiscalizar a concessão privada, e o ministro do setor, que a Enel recebe proteção da agência reguladora porque esta é gerida por indicados no governo anterior. O que ninguém disse é que Alexandre Silveira virou ministro de Lula na cota do PSD de Gilberto Kassab, homem forte do secretariado do burgomestre que culpou "a questão arbórea" pelo apagão do ano passado. Em resumo, Boulos culpa Nunes, que responsabiliza Lula, que é defendido por Silveira, que foi indicado pelo partido do Kassab, que é homem forte de Tarcísio, que carrega a candidatura de Nunes sobre os ombros. Parece brincadeira de ciranda, cirandinha, mas quem não quiser cirandar no papel de bobo precisa notar que não há inocentes no escuro, apenas culpados e cúmplices.
 
O fornecimento de energia elétrica é uma concessão da União. Em 1996, criou-se a ANEEL — uma autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia que deveria fiscalizar os contratos de concessão, cobrando eficiência dos prestadores privados do serviço. Levada ao balcão, politizou-se. Sob Bolsonaro, foi terceirizada ao Centrão. Em São Paulo, delegou a fiscalização à Arsesp, sua congênere estadual. 
 
No Brasil, a iniciativa privada e o Estado consideram-se isentos de falhas. Agências reguladoras exibem competência inexcedível. O único crime cometido por empresas como a Enel é o excesso de eficiência. Assim, o que desligou São Paulo da tomada em novembro de 202 foi um apagão fitossanitário decorrente da formação de uma quadrilha arbóreo-climática. Já o responsável pela reedição da tragédia que se iniciou na noite da última sexta-feira foi o maior pé de vento registrado na capital paulista desde sua fundação, em 1554.
 
Voltando à questão da privatização, reestatizar o serviço de energia elétrica não só seria um retrocesso como não resolveria o problema. Mas o que não falta nesta banânia é político populista que governa com um olho no retrovisor e o outro em 2026, e eleitor que insiste no erro esperando obter um acerto. O maior desafio, tanto na gestão estatal quanto na privatizada, é a manutenção e o investimento contínuo na infraestrutura. Por complexas, as redes elétricas precisam de atualizações regulares, o que nem sempre (ou quase nunca) é prioridade em nenhuma das duas formas de gestão. 
 
Por serem cabides de emprego a serviço dos governantes, as estatais, mal administradas, malversam o dinheiro dos contribuintes. Isso sem falar na corrupção (basta lembrar o que aconteceu na Petrobras durante as gestões petistas). Na privatização, o maior problema é o monopólio: sem concorrência, as empresas priorizam o lucro em detrimento da qualidade do serviço. 
Em ambos os casos, o consumidor fica refém das empresas e é penalizado com aumentos de impostos e tarifas. Cada mudança vem acompanhada de promessas que não passam de cantilena para dormitar bovinos.
 
Sob o abominável Sistema Telebras, criado pelos militares em 1972, as 
linhas telefônicas custavam os olhos da cara e demoravam anos para ser instaladas. Em Cachoeira do Arari (PA), a espera chegava a 15 anos, e muitos adquirentes do famigerado "Plano de Expansão" da Telepará morreram antes de receber o serviço pelo qual pagaram. Quando a telefonia celular desembarcou no Brasil, habilitar uma terminal móvel custava caríssimo. A insuficiência de células (antenas) restringia o sinal às capitais e grandes centros urbanos, a profusão de "áreas de sombra" limitava ainda mais o uso dos aparelhos, o preço do minuto de ligação era exorbitante e o usuário era cobrado também pelas chamadas recebidas. 

Graças à privatização das Teles (no final dos anos 1990, pelo então presidente Fernando Henrique) uma linha fixa é instalada no dia seguinte ao da solicitação. A mensalidade varia conforme a operadora e o plano contratado, mas há opções a partir de R$ 35 mensais. E a ativar um celular exige apenas a compra de um SIM Card e a escolha do plano que mais adequado — lembrando que, na maioria dos casos, as ligações e o envio de SMS são ilimitados, mas o preço varia conforme a franquia de dados e a prestadora do serviço.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

DE VOLTA À CONQUISTA DO ESPAÇO

GRANDES REALIZAÇÕES E GRANDES AMORES EXIGEM GRANDES RISCOS.

No início do século XVI, Cabral demorou quase dois meses para atravessar o Atlântico — coisa que um transatlântico moderno faz em cerca de 10 dias e um Boeing 737, em menos de 12 horas.

Júlio Verne previu a ida do homem à Lua com um século de antecedência — errando por 20 milhas o local exato do lançamento do Saturno V. Sua profecia foi realizada pela Apollo 11 em julho de 1969, depois de oito alunissagens de missões não tripuladas (3 soviéticas e 5 estadunidenses).

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Na velocidade da luz, 84% dos cerca de 1,7 milhão de votos de Pablo Marçal migraram para Ricardo Nunes. Detectado no último Datafolha, o movimento ocorreu antes que Bolsonaro tivesse a chance de "mergulhar" em São Paulo, como prometeu depois da abertura das urnas do primeiro turno. O sumiço na propaganda eleitoral e nos atos de campanha na primeira fase da corrida paulistana grudou no tornozelo de Bolsonaro a bola de ferro da deslealdade. Até Silas Malafaia avaliou que a covardia fez do "mito" uma "porcaria" de líder. Num instante em que Nunes abre 22 pontos de vantagem sobre Boulos (55% a 33%), o interesse tardio do capetão piora o que já era ruim.

Na era das "grandes navegações", usavam-se bússolas e sextantes; durante a corrida espacial, a NASA utilizou um gigantesco mainframe (cuja capacidade computacional era inferior à de uma calculadora moderna) para guiar a alunissagem da Apollo 11 e permitir que Neil Armstrong desse o famoso "pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para a humanidade". 

Guardadas as devidas proporções, o temor que o espaço sideral causava ao astronautas nos anos '60 era o mesmo que os nunca dantes navegados" causavam aos marujos do século XV. Além disso, tanto as expedições de Colombo e Cabral quanto a corrida espacial foram movidas pela ambição dos governantes de aumentar seu poder. Ou seja, a merda era a mesma, só mudavam as mocas.

Depois da Apollo 11, os EUA enviaram outras cinco missões tripuladas à Lua. Lançada em 11 de abril de 1970, a Apollo 13 teria sido a terceira a pousar por lá, não fosse a explosão de um dos tanques de oxigênio, dois dias após o lançamento, causar o abortamento da missão. Depois de quatro dias confinada no Módulo Lunar, projetado para abrigar dois astronautas por um período breve, a tripulação pousou em segurança no Oceano Pacífico.

Dica: Para quem se interessa pelo tema, recomendo o filme Apollo 13 — Do desastre ao triunfo (1995), estrelado por Tom HanksKevin BaconBill PaxtonGary Sinise e Ed Harris. 

Depois de Apollo 17 (1972), ninguém mais voltou à Lua. As missões Apollo 18, 19 e 20 chegaram a ser projetadas, mas foram canceladas devido ao alto custo, ao fim da pressão soviética e ao desinteresse do público depois que a NASA provou que era possível enviar astronautas à Lua e trazê-los de volta em segurança. 

Com o fim do programa Apollo, a NASA mudou seu foco para o Skylab (1973) e passou a desenvolver ônibus espaciais reutilizáveis, que reduziam significativamente o custo das missões. Apesar das tragédias com o Challenger em 1986, que explodiu poucos segundos após o lançamento, e com o Columbia em 2003, que se desintegrou pouco antes de pousar, os ônibus espaciais continuaram em uso até 2011.

Após a aposentadoria do Atlantis, que realizou 33 missões, totalizando 306 dias fora da Terra, a NASA passou a contar com parceiras privadas, como a SpaceX, para o transporte de astronautas ao espaço.

Continua... 

domingo, 13 de outubro de 2024

AINDA SOBRE MACARRÃO

SE COZINHAR É ARTE, PEDIR DELIVERY É PERFORMANCE.

Muitos usam a expressão "fulano não sabe nem fritar ovo" para indicar inaptidão na cozinha, mas até essa aparentemente simples tarefa requer habilidade. E o mesmo se aplica ao preparo do macarrão, que vai muito além de apenas cozinhar e servir.

Nossas avós costumavam adicionar óleo à água do cozimento para evitar que os fios do macarrão grudassem, especialmente os tipos longos, como espaguete e talharim. É possível que essa técnica funcionasse com as massas caseiras de antigamente. Com as massas industrializadas que usamos atualmente, ela cria uma camada gordurosa que dificulta a aderência do molho.

Para evitar que o macarrão grude, você deve cozinhá-lo em água abundante e bem salgada — como dizem os italianos, "salata come il mare" (salgada como o mar). Use 5g de sal (preferencialmente grosso) para cada litro de água e 1 litro de água para cada 100g de massa, mas só adicione o sal quando a água começar a ferver, e o macarrão quando a água já estiver borbulhando. Aí é só mexer, mexer e mexer até que a massa fique "al dente", ou seja, bem cozida, mas ainda firme ao morder.

O tempo de cozimento varia conforme o tipo e formato da massa. Massas frescas cozinham mais rápido que as secas, e as curtas geralmente demoram mais que as longas. De modo geral, espaguete, linguini e fetuccine ficam prontos em 8 ou 9 minutos, fusilli (ou parafuso) em 11, farfalle (ou gravatinha) em 10, e rigatoni e penne em 12. Siga as instruções impressas na embalagem e reduza o tempo sugerido em 1 ou 2 minutos para a massa não passar do ponto quando ela terminar de cozinhar na panela do molho. 

ObservaçãoO espaguete foi criado para ser enrolado no garfo e degustado em seu comprimento original. Se a panela não for grande o bastante, coloque o macarrão em pé e deixe que ele amoleça naturalmente no calor.

Para evitar que o macarrão fique seco e pegajoso, transfira-o diretamente da água para a panela do molho usando um pegador ou escumadeira. As massas são ricas em amido, e parte desse amido se desprende na água do cozimento. Usar um pouco dessa água na finalização do molho dispensa a adição de farinha de trigo ou maisena para deixá-lo encorpado e cremoso. Isso vale tanto para molhos ao sugo e à bolonhesa quanto para molhos brancos, como bechamel, quatro queijos, Alfredo etc.   

Se você tem pressa ou prefere algo mais simples, o clássico macarrão ao alho e óleo é uma excelente opção. Aqueça azeite extravirgem e manteiga com sal numa panela, frite alho picado ou esmagado, adicione o macarrão al dente, misture bem e finalize com pimenta-do-reino moída na hora e folhas de salsa ou manjericão picadas. E não se esqueça de deixar azeite extravirgem e queijo parmesão ralado à disposição dos comensais. 

Bom apetite!

sábado, 12 de outubro de 2024

COMO LER QR CODE A PARTIR DA TELA DO CELULAR

DIGA A VERDADE APENAS A QUEM ESTIVER DISPOSTO A OUVI-LA. 

código de barras foi inventado nos anos 1970 e, na década de 1980, substituiu as tradicionais etiquetas de preço nos supermercados brasileiros. 

Quick Response Code surgiu no final dos anos 1990, e se destaca por armazenar muito mais informações, ser mais rápido de escanear e poder ser lido de qualquer ângulo, mesmo quando parcialmente danificado. 

QR Code é usado em uma ampla variedade de funções — como pagamentos, marketing, identificação de pets, compartilhamento de informações digitais, e por aí vai— e dispensa a instalação de apps dedicados para ser lido: na maioria dos celulares modernos, a própria câmera se encarrega de exibir as informações contidas no código. Mas como "fotografá-lo" em uma compra online, por exemplo, se ele aparece na tela do próprio dispositivo?

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA 

Três dias depois de ficar em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Sampa, o candidato do PRTB adicionou um limãozinho a seu site, misturou com lero-lero adocicado e voltou a vender "caipirinha da prosperidade" na praia da Internet. 
Antes, a webpage ensinava "sete maneiras de ajudar Pablo Marçal em sua campanha", incluindo a pixcaretagem das doações. Remodelada, a página passou a oferecer "produtos e serviços" que prometem transformar em ricos os pobres que fornecerem seus nomes, email e telefones para o envio das ofertas. 
Na campanha, Marçal era o "vingador que livraria São Paulo dos comunistas no primeiro turno"; derrotado, o empresário retoma a personalidade do idealizador do "primeiro reality show sobre prosperidade", "autoridade na Internet", "mentor" e "estrategista digital". Na prática, porém, o picareta continua vendendo ilusão. 
A derrota — ou "quase vitória", já que menos de 2% dos votos válidos separaram o elemento do segundo turno — aumentou a clientela, e a pose de vítima fará o mesmo com os lucros, já que a prosperidade desse sujeito aumenta na proporção direta da quantidade de otários dispostos a adquirir seu "Plano Família Rica".

A solução pode ser printar a tela, enviar a imagem por email para si mesmo, abri-la no PC e escanear o código com a câmera do celular. Outras opções são usar o WhatsApp ou outro app com scanner integrado, ou então um leitor de QR Code com função de "sobreposição de tela" (que abre a câmera numa janela flutuante sobre outros aplicativos). Mas uma maneira mais prática é usar o Google Lens, que está disponível na Play Store. Confira o passo a passo:

1) Faça um print da tela com o QR Code e salve a imagem na Galeria (no caso de celulares Samsung) ou em Fotos (presente no Android).

2) Abra o Google Lens e selecione a imagem salva.

3)Toque no link ou em "Abrir link".

Problema resolvido!