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sábado, 20 de fevereiro de 2021

AINDA SOBRE A APATIFANTE PATIFARIA


Ainda sobre a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira, a denúncia do MPF, assinada pelo vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros, se deu no âmbito do inquérito que investiga o financiamento e a organização de atos antidemocráticos, e a prisão ocorreu com base no inquérito das fake news, que apura informações falsas e ofensas a ministros da Suprema Corte (o deputado é alvo dos dois inquéritos). Segundo Moraes, a prisão foi em flagrante porque o vídeo foi disponibilizado a quem quisesse assisti-lo, o que caracteriza crime continuado. A gravação, que inclui xingamentos e acusações a magistrados (alguns citados nominalmente), estava disponível neste link, mas foi retirado do ar (por “violar a política do YouTube sobre assédio e bullying”) e colocada em modo privado no canal “Política Play”.

Ontem à noite, por 364 votos a favor e 130 contra, o plenário da Câmara chancelou o relatório favorável à mantença da prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. Houve três abstenções.

Observação: Ao pôr a Alemanha Nazista de joelhos, o chanceler britânico Sir Winston Churchill assim se pronunciou: “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”, No Brasil não há Câmara dos Comuns, mas sobram presidentes incomuns. Incomumente corruptos, incomumente incompetentes, incomumente boçais. Se eu sobreviver aos últimos três (noves fora o vampiro, porque vice promovido a titular não conta), comprometo-me a enviar um telegrama de condolências ao Diabo. Afinal, nem ele merece tanta desgraça junta.

Curiosamente, dos 4 dos 11 togados que compõem o colegiado não foram citados (Cármen Lúcia, Nunes Marques, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber). Marco Aurélio tem seu nome mencionado, mas não foi alvo de qualquer ofensa específica, e Luiz Fux foi citado nominalmente, mas não desrespeitosamente: O único que respeito em conhecimento é o Fux. Único que respeito em conhecimento jurídico de fato

O portal Poder360publicou a transcrição do vitupério, que eu reproduzo a seguir:

  • Edson Fachin – “Seu moleque, seu menino mimado, mau-caráter, marginal da lei, militante da esquerda, lecionava em uma faculdade, sempre militando pelo PT, pelos partidos narcotraficantes, nações narcoditadoras (…) Fachin, você integra, tipo assim, a nata da bosta do STF, certo? (…) Militante idiotizado, lobotomizado, que atacava militares junto com a Dilma [Rousseff], aquela ladra, vagabunda. Com o multicriminoso Luiz Inácio Lula da Silva, de 9 dedos, vagabundo, cretino, canalha. O que acontece, Fachin, é que todo mundo já está cansado dessa sua cara de filho da puta que tu tem. Essa cara de vagabundo, né(…) Por várias e várias vezes já te imaginei tomando uma surra. Ô… quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa Corte. Quantas vezes eu imaginei você, na rua, levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não. Eu só imaginei. Ainda que eu premeditasse, ainda assim não seria crime. Você sabe que não seria crime. Você é um jurista pífio. Vai lá e prende o Villas Bôas, rapidão, só pra gente ver um negocinho. Se tu não tem coragem, porque tu não tem, tu não tem colhão roxo pra isso”. “Você tem que tomar vergonha na sua cara, olhar, quando você for tomar banho, olhar o bilauzinho que você tem e falar: ‘Pô, eu acho que sou um homenzinho. Eu vou parar com as minhas bobeirinhas’. Ah, o quê? Eu estou sendo duro demais? Tô sendo o quê, ogro? Ah, tô sendo tosco? O que você espera? Que eu seja o quê? Que eu tenha um tipo de comportamento adequado para tratar a Vossa Excelência? É claro que eu não vou ter. Eu sei que você está vendo esse vídeo aí”. “[Está] previsto lá no artigo 101 da Constituição os requisitos pra que vocês se tornem ministros, totalmente esvaziados, totalmente inócuos. Totalmente oligofrênicos, ignóbeis. É o que vocês são”. “Principalmente você, Fachin. Você integra, tipo assim, a nata da bosta do STF, certo?”;
  • Roberto Barroso – “[sobre ter “colhão roxo” prender o general Villas Bôas] O Barroso, aí que não tem mesmo. Na verdade ele gosta do colhão roxo”;

  • Alexandre de Moraes – “O Oswaldo Eustáquio, jornalista que vocês chamam de blogueiro, foi preso pelo ‘Xandão do PCC’. Está aí, preso ilegalmente. Eu tive acesso ao diário dele. Sabia, Alexandre de Moraes, que eu tive acesso ao diário dele manuscrito na prisão? Dos agentes que o torturaram? Sabia que eu sei? Sabia que eu sei que um [agente] chegou no ouvido dele e falou assim: ‘A nossa missão é eliminar você’. Sabia que eu sei? Eu sei. E eu sei de onde partiram essas ordens. Acha que eu tô blefando? Por que, Alexandre, você ficou putinho porque mandou a Polícia Federal na minha casa uma vez e não achou nada, na minha quebra de sigilo bancário e telemático? É claro que tu não vai achar, idiota, eu não sou da tua laia, eu não sou da tua trupe. Dessa bosta de gangue que tu integra. Não. Aqui você não vai encontrar nada. No máximo, uns trocadinhos. Dinheiro pouco a gente tem muito. É assim que a gente fala. Agora, ilegal a gente não vai ter nada. Será que você permitiria a sua quebra de sigilo telemático? A sua quebra de sigilo bancário? Será que você permitiria a Polícia Federal investigar você e outros 10 aí da ‘supreminha’? Você não ia permitir. Vocês não têm caráter, nem escrúpulo, nem moral para poder estar na Suprema Corte.”;
  • Dias Toffoli – “Levaram o [meu] celular, a Polícia Federal. Ninguém falou nada. Ninguém mandou um ofício dizendo [que era] relacionado ao mandato [de deputado federal]. Mas quando foram apreender o do [senador] José Serra, rapidamente, quase que num estalar de dedos, [Dias] Toffoli foi lá e, de ofício, [disse] ‘não pode apreender o celular do José Serra, não pode apreender o notebook do José Serra. São relacionados ao mandato’. Dois pesos e duas medidas. Não dá, né, chefe?”;

  • Gilmar Mendes – “Solta os bandidos o tempo todo. Toda hora dá um habeas corpus. Toda hora, vende um habeas corpus, vende sentenças, compra o cliente. ‘Opa, foi preso [por] narcotráfico, opa manda pra mim, eu vou ser o relator, tendo ou não a suspeição, desrespeitando o Regimento Interno dessa supreminha aí que de suprema nada tem. [Está] previsto lá no artigo 101 da Constituição os requisitos pra que vocês se tornem ministros, totalmente esvaziados, totalmente inócuos. Totalmente oligofrênicos, ignóbeis. É o que vocês são”. “Gilmar Mendes… isso aqui é só [gesticula com os dedos, indicando dinheiro]… É isso que tu gosta, né, Gilmarzão? A gente sabe”.

Parte inferior do formulário

Segue a transcrição das falas do congressista, na íntegra:

“Fala, pessoal, boa tarde. O ministro [Edson] Fachin começou a chorar, decidiu chorar. Fachin, seu moleque, seu menino mimado, mau caráter, marginal da lei, esse menininho aí, militante da esquerda, lecionava em uma faculdade, sempre militando pelo PT, pelos partidos narcotraficantes, nações narcoditadoras. Mas foi aí levado ao cargo de ministro porque um presidente socialista resolveu colocá-lo na Suprema Corte pra que ele proteja o arcabouço do crime do Brasil, que é a nossa Suprema, que de suprema nada tem.

Fachin, sabe… às vezes fico olhando as tuas babaquices. As tuas bobeiras que você vai à mídia para chorar, ‘olha o artigo 142 está muito claro lá que as Forças Armadas são reguladas na hierarquia e disciplina e blá-blá-blá, vide o que aconteceu no Capitólio [sede do Congresso dos EUA] porque no Capitólio quando tentaram dar um golpe…’ aquilo não é golpe, não, filhinho. Aquilo ali foi parte da população revoltada que, na minha opinião, foram infiltrados do Black Lives Matter, dos antifas, blackblocks, coisa que você e a sua trupe que aí integra defendem. Vocês defendem a todo custo esse bando de terrorista, esse bando de vagabundo. Vagabundo protege vagabundo. Mas não é essa besteira que a gente vai discutir.

Agora, você fala que o general Villas Bôas, quando fez um tuíte afirmando que deveria ser consultada a população e também as instituições, se deveria ou não utilizar o modus operandi do processo de Lula, hoje você se sente ofendidinho dizendo que ‘ah, isso é pressão sobre o Judiciário, é inaceitável, intolerável’. Vai lá! Prende o Villas Bôas, pô, seja homem uma vez na sua vida. Vai lá e prende o Villas Bôas. Fala pro Alexandre de Moraes, homenzão, né, o fodão, vai lá e manda prender o Villas Bôas, manda, vai lá e prende o general do Exército. Quero ver. Eu quero ver, Fachin, você, [os ministros] Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, o que solta os bandidos o tempo todo. Toda hora dá um habeas corpus. Toda hora vende um habeas corpus, vende sentenças, compra o cliente. ‘Opa, foi preso [por] narcotráfico, opa manda pra mim, eu vou ser o relator, tendo ou não a suspeição, desrespeitando o Regimento Interno dessa supreminha aí que de suprema nada tem. [Está] previsto lá no artigo 101 da Constituição os requisitos pra que vocês se tornem ministros, totalmente esvaziados, totalmente inócuos. Totalmente oligofrênicos, ignóbeis. É o que vocês são. Principalmente você, Fachin. Você integra, tipo assim, a nata da bosta do STF, certo?

E o que acontece é que vocês pretendem permanecer sempre intocáveis. O Villas Bôas disse isso mesmo tudo Fachin. Deixa eu te ensinar isso aqui, e debato com você ao vivo a hora que você quiser. Sobre arcabouço jurídico, filosofia do Direito. Podemos debater tranquilamente sem os seus 200 assessores que, inclusive, tem juizes aí na sua assessoria, sem eles, sem papelzinho na mesa, assim, tête-à-tête. Eu poderia debater com você, Alexandre de Moraes. Tranquilamente. Daí, o único que respeito em conhecimento é o [ministro Luiz] Fux. Único que respeito em conhecimento jurídico de fato e debateria com qualquer um de vocês, sem problema. Não iria dar uma surra de jurídico ou intelectual. Agora, que você tem que tomar vergonha na sua cara, olhar, quando você for tomar banho, olhar o bilauzinho que você tem e falar: ‘Pô, eu acho que sou um homenzinho. Eu vou parar com as minhas bobeirinhas’. Ah, o quê? Eu estou sendo duro demais? Tô sendo o quê, ogro? Ah, tô sendo tosco? O que que você espera? Que eu seja o quê? Que eu tenha um tipo de comportamento adequado para tratar a Vossa Excelência? É claro que eu não vou ter. Eu sei que você está vendo esse vídeo aí, daqui a pouco seus assessores, e o Alexandre de Moraes, e [Dias] Toffoli. Mas eu estou ó [bate com as mãos] cagando e andando para vocês.

O que quero saber é quando que vocês vão lá prender o general Villas Bôas. Eu queria saber o que que você [Fachin] vai fazer com os generais? Os homenzinhos de botão dourado, lembra? Você lembra do AI-5 [Ato Institucional nº 5]. Você lembra. Para. Eu sei que você lembra. Ato Institucional número 5, de um total de 17 atos institucionais. Você lembra. Você era militante lá do PT, partido comunista. Você era da aliança comunista do Brasil. Militante idiotizado, lobotomizado, que atacava militares junto com a Dilma [Rousseff], aquela ladra, vagabunda. Com o multicriminoso Luiz Inácio Lula da Silva, de 9 dedos, vagabundo, cretino, canalha. O que acontece, Fachin, é que todo mundo já está cansado dessa sua cara de filho da puta que tu tem. Essa cara de vagabundo, né. Decidindo aqui no Rio de Janeiro que polícia não pode operar enquanto o crime vai se expandindo cada vez mais. Me desculpe, ministro, se estou um pouquinho alterado. Realmente eu tô. Por várias e várias vezes já te imaginei tomando uma surra. Ô… quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa Corte. Quantas vezes eu imaginei você, na rua, levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não. Eu só imaginei. Ainda que eu premeditasse, ainda assim não seria crime. Você sabe que não seria crime. Você é um jurista pífio, mas sabe que esse mínimo é previsível.

Então, qualquer cidadão que conjecturar uma surra bem dada nessa sua cara com um gato morto até ele miar, de preferência, após cada refeição, não é crime. Você vê, o Oswaldo Eustáquio, jornalista que vocês chamam de blogueiro, foi preso pelo ‘Xandão do PCC’. Está aí preso ilegalmente. Eu tive acesso ao diário dele. Sabia, Alexandre de Moraes, que eu tive acesso ao diário dele manuscrito na prisão, dos agentes que o torturaram? Sabia que eu sei? Sabia que eu sei que um [agente] chegou no ouvido dele e falou assim: ‘A nossa missão é eliminar você’. Sabia que eu sei? Eu sei. E eu sei de onde partiram essas ordens. Acha que eu tô blefando? Por que, Alexandre, você ficou putinho porque mandou a Polícia Federal na minha casa uma vez e não achou nada, na minha quebra de sigilo bancário e telemático? É claro que tu não vai achar, idiota, eu não sou da tua laia, eu não sou da tua trupe. Dessa bosta de gangue que tu integra. Não. Aqui você não vai encontrar nada. No máximo, uns trocadinhos. Dinheiro pouco a gente tem muito. É assim que a gente fala. Agora, ilegal a gente não vai ter nada. Será que você permitiria a sua quebra de sigilo telemático? A sua quebra de sigilo bancário? Será que você permitiria a Polícia Federal investigar você e outros 10 aí da supreminha? Você não ia permitir. Vocês não têm caráter, nem escrúpulo, nem moral para poder estar na Suprema Corte. Eu concordo, né, completamente com [o ex-ministro da Educação] Abraham Weintraub quando ele falou: ‘Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia’, aponta para trás, ‘começando pelo STF’. Ele estava certo. Ele está certo. E, com ele, pelo menos uns 80 milhões de brasileiros corroboram com esse pensamento.

Só que não, você agora ficou putinho, né. O Fachin putinho porque o Villas Bôas disse que a população deveria ser consultada. Olha, tudo que é de relevância nacional, Fachin, você sabe que… de relevância nacional e que é de importância para todo o povo existe um dispositivo chamado plebiscito. Eu sei que você sabe. É basicamente isso o que o general quis dizer. Se é de relevância e interesse nacional, convoque-se então um plebiscito. Chama a população. Chama as instituições para participarem de uma decisão que não cabe ao STF. Ao STF, pelo menos constitucionalmente, cabe a ele guardar a Constituição. Mas vocês não fazem mais isso. Você e os seus 10 abiguinhos [sic] aí, abiguinhos, não guardam a Constituição. Vocês defecam sobre a mesma Constituição, que é uma porcaria. Ela foi feita para colocar canalhas sempre na hegemonia do poder. E, claro, pessoas da sua estirpe evidentemente devem ser perpetuadas pra que protejam o arcabouço dos crimes do Brasil. E se encontram aí, na Suprema Corte.

E vocês acharam que iriam me calar. É claro que vocês pensaram. E eu tô literalmente cagando e andando para o que vocês pensam, né. É claro que vocês vão me perseguir o resto da minha vida política. Mas eu também vou perseguir vocês. Eu não tenho medo de vagabundo, não tenho medo de traficante, não tenho medo de assassino… vou ter medo de 11? Que não servem pra porra nenhuma nesse país? Não. Não vou ter. Só que eu sei muito bem com quem vocês andam, o que vocês fazem. Lembro, por exemplo, quando eu tive aqui meu celular, meu outro celular apreendido, né. E eu deixei levar porque eu queria que os meus apoiadores vissem que eu não tenho nada a dever, nada a temer, por isso, entreguei meu celular mesmo ignorando o artigo 53 da Constituição, o que dá a minha prerrogativa como parlamentar e representante do povo, de uma parte do povo. Esquerdista pra mim é tudo filho da puta. Eu não represento esses vagabundos, não. Mas a parcela que eu represento, Fachin… eu ignorei o artigo 53, a Emenda Constitucional 35 de 2001 que deixa o texto ainda mais abrangente, mais fortalecido para que eu possa representar a sociedade… eu entreguei o celular.

Levaram o celular, a Polícia Federal levou um celular e um papelzinho que tava anotado algumas falas de uma live como essa aqui. Talvez, alguém me pergunta eu vou ali e anoto um ponto pra poder lembrar e naquele dia eu tinha falado. Aí, Fachin, quando foram levar o meu celular, poderia. Podia, na verdade. Ninguém falou nada. Ninguém mandou um ofício dizendo ‘não, é relacionado ao mandato [de deputado federal]‘. Mas quando foram apreender o do [senador] José Serra, rapidamente, quase que num estalar de dedos, Toffoli foi lá e de ofício [disse] ‘não pode apreender o celular do José Serra, não pode apreender o notebook do José Serra. São relacionados ao mandato’. Dois pesos e duas medidas não dá, né, chefe?

Você vai lá e coloca que um pode e outro não pode. Acontece que no meu celular não teria o conluio do crime com vocês. No do José Serra, ia ser muita coisa, né? A Polícia Federal ia ficar em um impasse gigantesco. Ia ter a prova, a materialidade dos crimes que vocês cometem e vocês teriam que aprovar ou não essa investigação. A Polícia Federal ia ter que agir, não ia? É claro que vocês não querem ficar nas mãos de delegados federais. É claro que vocês não vão querer ter que dividir a parcelinha de vocês com mais alguém. Vocês não vão querer fazer a rachadinha de vocês. Porque vocês querem tudo. São goelões. Vocês não querem colocar o copinho na bica e pegar um pouquinho não. Vocês querem tudo para vocês.

E me desculpe, Fachin, se eu estou zangado ou se eu estou alterado ou se eu falei alguma coisa que te ofendeu. Mas foda-se, né? Foda-se, né, porque vocês merecem ouvir. Vocês não esperavam que pessoas como eu fossem eleitas. Que iríamos ter pelo sufrágio universal a representatividade popular. E vocês esperavam que qualquer um que entrasse iria se seduzir pelo poder também e ficar na mãozinha de vocês porque vocês iriam julgar alguém que está cometendo algum crime. Não. Comigo vocês sentaram e sentaram do meio pra trás. E tem mais alguns lá assim também. Pode ter certeza.

Agora, quando você entra politizando tudo, quando o Bolsonaro decide uma coisa você vai lá [e diz] ‘não, isso não pode’, você desrespeita a tripartição dos Poderes. A tripartição do Estado. Você vai lá e interfere, né. Comete uma ingerência na decisão do presidente, por exemplo, e pensa que pode ficar por isso mesmo. Aí quando um general das Forças Armadas, do Exército para ser preciso, faz um tuíte, fala sobre alguma coisa, né, a conversa com o general, o livro que você tá falando, conversa com comandante, salvo engano [livro do general Villas Bôas], e você [Fachin] fica nervosinho, é porque ele tem as razões dele.

Lá em 64 –na verdade em 35, quando eles perceberam a manobra comunista de vagabundos da sua estirpe– em 64, então foi dado o contragolpe militar, é que teve lá, até os 17 atos institucionais, o AI-5 que é o mais duro de todos como vocês insistem em dizer, aquele que cassou 3 ministros da Suprema Corte, você lembra? Cassou senadores, deputados federais, estaduais, foi uma depuração. Com recadinho muito claro: se fizer besteirinha, a gente volta. Mas o povo, àquela época ignorante, acreditando na Rede Globo, disse: ‘Queremos democracia, presidencialismo, Estados Unidos, somos iguais, não sei o quê…’. E os ditadores que vocês chamam entregaram, então, o poder ao povo. Que ditadura é essa, né? Que ao invés de combater a resistência com ferro e fogo, não, ‘eu entrego o poder de volta’. Aí vocês rapidamente, né, Assembleia Nacional Constituinte, nova Constituição, 85, depois 88, fecha, sacramenta, se blinda e aí crescem um bando de vagabundos no poder que se eternizam. Dança das cadeiras. ‘Eu vou pro TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Agora não, eu sou do STF. Agora, eu vou presidir. Quem preside esse ano? A cada 2 anos’… sempre será no TSE o presidente um ministro do STF. Ou seja, perpetuação do poder. E a fraude nas urnas? Não vai estar sempre na nossa cúpula, sempre iremos dominar. Está sempre, tá tudo tranquilo, tá tudo favorável. É sempre o toma lá, toma lá. Não é nem toma lá, dá cá.

Realmente, vocês são impressionantes. Fachin, um conselho para você: vai lá e prende o Villas Bôas, rapidão, só pra gente ver um negocinho. Se tu não tem coragem, porque tu não tem, tu não tem culhão roxo pra isso. Principalmente o Barroso, aí que não tem mesmo. Na verdade ele gosta do culhão roxo. Gilmar Mendes… isso aqui é só [gesticula com os dedos]… Barroso o que que ele gosta? Culhão roxo. Mas não tem culhão roxo. Fachin, covarde. E Gilmar Mendes… é isso que tu gosta, né, Gilmarzão? A gente sabe.

Mas, enfim. Eu sei que vocês querem armar uma pra mim para poder falar ‘o que que esse cara falou aí no vídeo sobre mim. Desrespeitou a Suprema Corte’. Suprema Corte é o cacete. Na minha opinião, vocês já deveriam ter sido destituídos do posto de vocês e uma nova nomeação convocada e feita de 11 novos ministros. Vocês nunca mereceram estar aí. E vários que já passaram também não mereciam. Vocês são intragáveis, tá certo? Inaceitável. Intolerável, Fachin? Não é nenhum tipo de pressão sobre o Judiciário não. Porque o Judiciário tem feito uma sucessão de merda no Brasil. Uma sucessão de merda. E quando chega em cima, na Suprema Corte, vocês terminam de cagar a porra toda. É isso que vocês fazem. Vocês endossam a merda.

Então, como já dizia lá Ruy Barbosa, a pior ditadura é a do Judiciário, pois contra ela não há a quem recorrer. E, infelizmente, infelizmente, é verdade. Vide MP [Ministério Público]. Uma sucessão de merda. Um bando de militante totalmente lobotomizado fazendo um monte de merda. Esquecendo da prerrogativa parlamentar indo atrás da [deputada] Cris Tonietto porque ela falou a respeito de militantes LGBTs, sensualizando crianças, defendendo a ideologia de gênero nas escolas, na verdade, o sexo nas escolas com ideologia. E quando ela fala ela está respaldada, e eu falo por aqui o que eu aqui, e eu estou falando com base na liberdade de expressão que o cretino do Alexandre de Moraes, lá atrás, quando ele foi passar pela sabatina do Senado, falou mais de 17 vezes em menos de 1 minuto de vídeo, ‘liberdade de expressão, liberdade de expressão’ o tempo todo, tá, que está no artigo 5º, que é cláusula pétrea. A chamada cláusula de pedra. Salvo engano, inciso 9º ou inciso 16. Um é pra liberdade de expressão e um pra liberdade de manifestação. Aí, e também falo com base no artigo 53, garantia constitucional. Eu acho que vocês não mereciam estar aí. E, por mim, claro, claro, que se vocês forem retirados daí, seja por nova nomeação, seja pela aposentadoria, seja por pressão popular, ou seja lá o que for. Claro que vocês serão presos, porque vocês serão investigados, então vocês não terão mais essa prerrogativa. Seria um pouco diferente.

Mas eu sei que tem muita gente aí na mão de vocês e vocês na mão de muita gente. Lá no Senado tem muito senador na mãozinha de vocês. E vocês estão nas mãos de muitos senadores. Por isso vocês ficam brigando quando vai ser um presidente ou outro, vocês querem fazer ingerência da Câmara e do Senado. ‘Quem vai ser? Será que vão pautar nosso impeachment?’. Eu só quero 1 ministro cassado. Tudo que eu quero. Um ministro cassado. Para os outros 10 idiotas pensarem ‘pô, não sou mais intocável. É melhor eu fazer o que eu tenho que fazer’. Julgar aquilo que é constitucional, de competência da Corte.

Fachin, intolerável, inaceitável, é termos você no STF. No mais, Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Força e honra”.

Não satisfeito com a montanha de merda que já havia erguido, o desinfeliz, ao ser preso, achou de mandar “um recado” ao supremo togado dona da calva mais luzidia do planeta: Leia a transcrição do que disse o congressista:

“Ministro, eu quero que você saiba que você está entrando numa queda de braço que você não pode vencer. Não adianta você tentar me calar. Eu já fui preso mais de 90 vezes na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Fiquei em lugares que você nem imaginava. Você nem imagina o que eu já enfrentei, ministro.

Tu acha que vai mandar me prender, passando por cima da minha prerrogativa constitucional? Você acha que vai me assustar e me calar? Claro que não. Na verdade isso só vai me motivar. Isso é um combustível. Um aditivo para eu continuar a provar para o povo brasileiro quem são vocês que ocupam o cargo de ministro do STF.

Tenha a certeza que, a partir daqui, o jogo evoluiu um pouquinho. Eu vou dedicar cada minuto do meu mandato a mostrar quem é Alexandre de Moraes. A mostra quem é Fachin, quem é Marco Aurelio Mello, quem é Toffoli, quem é Lewandowski. Eu vou colocar um por um de vocês em seus devidos lugares. As pessoas que estão aqui me assistindo agora ou vão me assistir, eu não me importo nenhum pouco. Pelo meu país eu estou disposto a matar, morrer, ser preso. Tanto faz. Você não é capaz de me assustar.

A Câmara vai decidir sobre minha prisão ou não. Eu tenho a prerrogativa. Você acabou de rasgar a Constituição mais uma vez. Estou passando aqui para todo mundo, para que as pessoas saibam o que está acontecendo, para que eu mostre quem é o inimigo do Brasil. No mais, vou lá dormir na Polícia Federal. E vamos ver o que é que dá daqui para frente, “Xandão”. Vamos ver quem é quem. Se é você ou se sou eu junto com o povo.”

Depois, em outra mensagem no Twitter, o deputado fez uma provocação a supostos “esquerdistas” que estariam comemorando sua prisão. Disse que vai só “dormir fora de casa”.

“Aos esquerdistas que estão comemorando, relaxem, tenho imunidade material. Só vou dormir fora de casa e provar para o Brasil quem são os ministros dessa Suprema Corte. Ser ‘preso’ sob estas circunstâncias é motivo de orgulho”, publicou. 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

E DÁ-LHE RIVOTRIL!

Bolsonaro, calado, é um poeta. O problema é que ele não se cala e, quando fala, espalha fezes, como bem observou o senador Omar Aziz. Como até os ponteiros de um relógio parado marcam a hora certa duas vezes por dia, ele acertou em cheio quando disse que “não há nada tão ruim que não possa piorar”. 

A afirmação, feita em setembro do ano passado, referia-se à disparada do dólar e da cotação do petróleo. O Messias não deixou claro se aludia ao contexto atual da economia ou a governos passados, mas a frase definiu de forma irreprochável sua pavorosa gestão. 


Marx disse que a história se repete: da primeira vez, um fato aconteceria como tragédia; da segunda, como farsa. O filósofo alemão se referia ao golpe de Estado que alçou Napoleão III ao trono da França — uma “farsa” que copiava uma “tragédia”, qual seja o golpe de 18 de Brumário


Na política, a história também se repete, às vezes sem farsa, mas sempre como tragédia. Prova disso são a eleição presidencial de 2018 e a que deve acontecer daqui cinco meses.

 

Entre as muitas promessas que o candidato Bolsonaro fez e que o presidente Bolsonaro descumpriu está o fim da instituição da reeleição. Pior: em 3 anos e 4 meses de desgoverno, o capitão jamais desceu do palanque — talvez seja por isso que não teve tempo de governar, mas essa é outra conversa. A questão é que ele e seus sectários delirantes insistem ad nauseam que não houve um único caso de corrupção no governo. Só não dizem em que país. 

 

Indícios de corrupção brotaram e continuam a brotar como ervas daninhas desde janeiro de 2019, mas não há quem os investigue — noves fora a imprensa, naturalmente, daí o ódio figadal que o presidente nutre pelos jornalistas. E não é só ele: desde sua soltura, em novembro do ano retrasado (o que por si só já foi um descalabro), Lula já falou pelo menos 9 vezes em regular os meios de comunicação. 

 

Costuma-se dizer que Deus é brasileiro. Se isso estiver correto, o imprevisto há de ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos e nem Lula nem Bolsonaro voltarão a conspurcar o instituto da Presidência. Do contrário, esta republiqueta de bananas jamais deixará de ser o país do futuro que com um imenso passado inglório pela frente.


No governo que “não tem um caso sequer de corrupção” há um presidente que, quando candidato, prometeu travar uma cruzada contra os corruptos e pôr fim à nefasta política do toma-lá-dá-cá não para de estampar as manchetes com atos no mínimo insólitos. Cito um exemplo recente: após picanha, Forças Armadas aprovam compra de remédio para disfunção erétil. Será que os militares vão usar o “azulzinho” para foder ainda mais o povo brasileiro? 


Já não basta um presidente da Câmara que escamoteia 143 pedidos de impeachment? Um Procurador-Geral que não acha nada porque não se dá ao trabalho de procurar? Um relatório de CPI que atribuiu mais 9 crimes (entre comuns e de responsabilidade) ao chefe do Executivo, mas permanece engavetado? Um mandatário que flerta com o autogolpe como nenhum outro jamais ousou; que apoia (e estimula) manifestações antidemocráticas; que chama ministros do STF de canalha e de filho da puta; que é alvo de quase uma dezena de investigações (que se arrastam a passo de lesma pelos escaninhos do Judiciário) e tem quatro dos cinco filhos igualmente investigados? (Na semana passada foi a vez Jair Renan — que sequer tem mandato — depor na PF do DF).

 

Mesmo diante de inúmeras evidências de um dos maiores escândalos do atual governo, a AGU solicitou ao TSE o arquivamento de um pedido de investigação contra Bolsonaro pelo favorecimento de pastores na distribuição de verbas do MEC. A justificativa é que “houve somente uma menção indevida ao presidente”, e que não há elementos que justifiquem a abertura de investigação na Justiça Eleitoral. Numa entrevista a um grupo de comunicação do Pará, o capitão disse que a Polícia Federal não precisa se preocupar com seu governo, pois ninguém faz nada de errado. Informou que o toma-lá-dá-cá de recursos públicos e cargos na administração federal acalma os parlamentares. 


O doutor de fancaria distribui cargos e emendas e faz vistas grossas para denúncias de pessoas que atuam em seu nome e demonstram pouca atenção republicana com o dinheiro público. Segundo ele, é a receita que acalma. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira  que, calmíssimo, divide com Arthur Lira o comando do país e a distribuição de medicação aos parlamentares aparece no noticiário como beneficiário de recursos na forma de uma rede de escolas fantasmas


Além de funcionários fantasmas nos gabinetes parlamentares, há também escolas fantasmas. Sabe-se assim que o loteamento do MEC fornece óbolos não apenas a pastores, mas também a gente igualmente próxima ao ex-capitão e ao timoneiro da sua estratégia de sobrevivência política. Todos calmíssimos, naturalmente.

 

Aumentos sucessivos no preço dos combustíveis levaram Bolsonaro a promover a terceira troca de comando na Petrobras. Na avaliação do "mito", era preciso procurar alguém “mais profissional” para presidir a empresa. Faz sentido. Aliás, há muito que os brasileiros deveriam ter procurado alguém “mais profissional” para presidir o país. O que aí está tranquiliza os seus, e não apenas com a distribuição de cargos e verbas. Faz de conta que não existe um orçamento secreto de bilhões de reais, veta de mentirinha um fundo eleitoral de R$ 5 bilhões (para que o Congresso rejeite o veto) e fecha os olhos para denúncias de malfeitos dos seus próximos.

 

De um lado, um Arthur Lira artífice do grande caixa da campanha eleitoral, de outro, um Ciro Nogueira filtro dos repasses das verbas públicas oficiais e, completando a trinca, um Valdemar da Costa Neto, ex-presidiário condenado por corrupção, organizando as "chapas". São quatro no jogo e, nas laterais, jogando junto, filhos numerados e adesistas com patente militar. O aparelhamento dos órgãos de controle do Estado (PGR, PF, COAF etc.), ora transformados em assessorias do presidente da República, não teria sido suficiente para amansar os parlamentares. 

 

A tentativa de Lira de mudar regras de governança da Petrobras para que lobistas pudessem entrar pela porta da frente e mandar na empresa é uma demonstração de que, na prateleira dos medicamentos da estratégia governamental, a cura para o stress tem uma receita: uma dose de orçamento secreto, mais uma injeção de cargos bem pagos e uma colher de chá da Polícia Federal, com um banho de imersão na sonolência induzida da Procuradoria Geral da República


Se a cloroquina não funciona para tratar Covid, quem sabe o Rivotril do receituário do capitão seja eficaz para narcotizar a opinião pública e levá-la a aceitar bovinamente os desmandos, a corrupção, a incompetência e a balbúrdia que abundam neste desgoverno.

 

O conceito de um governo é o resultado da análise de tudo o que sobra para ser desenterrado muitos anos depois. No futuro, quando a arqueologia fizer suas escavações à procura de sinais que ajudem a entender a decadência do governo Bolsonaro, encontrará em meio aos escombros de 2022 evidências de que o cinismo foi o mais perto da honestidade que o atual presidente conseguiu chegar. 

 

Com Olga Curado e Josias de Souza

terça-feira, 6 de setembro de 2022

INCOMPETÊNCIA OU MORTE

 

Depois de visitar o "PR" com Walter Delgatti — o Vermelho, réu na Justiça Federal por invadir celulares de centenas de personagens públicos —, a deputada bolsonarista Carla Zambelli publicou no Twitter uma foto ao lado do marginal e escreveu: "Muita gente deve realmente ficar de cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito. Em breve novidades"Em contatos informais com a imprensa, a assessoria de Bolsonaro disse o presidente foi “pego de surpresa”, que recusou qualquer serviço do hacker e que repreendeu a deputada. Mas tudo de maneira extraoficial, sem qualquer reprimenda pública. Considerando quão verdadeiros costumam ser os pronunciamentos do presidente, o episódio foi mais uma amostra do que se deve esperar da campanha eleitoral nas próximas semanas (a quem interessar possa, recomendo ler a matéria que Cláudio Dantas e Wilson Lima publicaram na revista eletrônica Crusoé sob o sugestivo título "A campanha da sujeira"). 


Observação: Desde julho, o TSE já mandou excluir da internet ao menos 17 conteúdos irregulares a partir de pedidos de presidenciáveis ou de seus aliados, numa média de uma publicação a cada três dias, informa O GloboNo total, o tribunal recebeu, desde o início do ano, 124 ações por propaganda irregular relacionadas aos candidatos ao Planalto, que incluem de remoção de vídeos com discursos ofensivos e fake news. Mais de um terço delas (37%) foi rejeitada. Os partidos da coligação de Lula foram responsáveis pela metade das ações no TSE (62). No entanto, somente 9 foram aceitas totalmente ou parcialmente até agora. A equipe de Bolsonaro, por sua vez, entrou com 17 pedidos. Dois deles foram aceitos.


 

De acordo com a Justiça Eleitoral, mais de 156 milhões de brasileiros estão aptos a votar. A julgar pelo resultado das últimas eleições, a maioria dessas pessoas não deveria participar sequer de uma eleição para síndico de condomínio. 

Sérgio Moro e João Doria poderiam ter rompido a abjeta polarização, mas foram excluídos do pleito. Ciro Gomes e Simone Tebet dificilmente mudarão o quadro, mas poderão ao menos levar a disputa entre Lula e Bolsonaro ao segundo turno. Ao fim e ao cabo, será eleito o candidato que mentir mais e melhor.
 
Pleitos plebiscitários forçam a minoria esclarecida a optar pelo candidato "menos pior". Foi assim em 2018 e será assim neste ano, a menos que o imprevisto (ou o TSE) tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. Lula continuará mentindo que foi absolvido em todas as instâncias da justiça brasileira e inocentado pela ONU, e falando como se as urnas fossem a máquina do tempo que levará o país de volta para 2002.  Já o "mito" dos patetas anda pra lá e pra cá com um pedaço de defunto, discursa como se falasse para a plateia de 2018 (que não existe mais) e prepara um comício golpista para o feriado da Independência. 
 
As eleições deveriam ser a "festa da democracia", e o bicentenário da Independência, um momento de grandes eventos culturais. Sob Bolsonaro, não se sabe quanto desta quarta-feira será comício e quanto será tentativa de golpe. No ano passado, depois de chamar o ministro Barroso de filho da puta, o chefe do Executivo Federal disse que deixaria de cumprir decisões do ministro "canalha" Alexandre de Moraes. No último sábado, voltou à carga pela enésima vez,  chamando o magistrado de "vagabundo". Se as pesquisas o favorecerem, Bolsonaro desistirá do golpe e se concentrará em ganhar a eleição, caso contrário, só lhe restará o tapetão. Como a diferença ainda não é instransponível, fica a dúvida, pois não é fácil dar um golpe de Estado e tocar uma campanha eleitoral ao mesmo tempo. 
 
Se a prioridade for a reeleição, o sociopata continuará fazendo o que fez na "sabatina" do Jornal Nacional, ou seja, mentindo descaradamente sobre coisas que interessam à população — como emprego, comida e vacina. No caso do golpe, as mentiras deverão acirrar o ódio de seus seguidores mais radicais e prometer sofrimento a inimigos reais ou imaginários. Mentir é a única opção porque, se falar a verdade, Bolsonaro terá de admitir que o inimigo da liberdade é ele. Se fosse sincero, seu discurso de 7 de Setembro terminaria com o grito: "Incompetência e morte!".

ObservaçãoUma semana depois da notícia sobre a aquisição de 51 imóveis em dinheiro vivo pelo clã Bolsonaro, o presidente continua devendo explicações convincentes aos brasileiros. Em entrevistas à Jovem Pan e à Rede TV, ele atribuiu parte das transações ao ex-marido da irmã. "O que eu tenho a ver com ex-cunhado? Não vejo esse cara há um tempão", disse. Mas o levantamento feito pela reportagem do UOL apontou que somente oito dos 51 imóveis pagos em dinheiro foram comprados por essa ramificação da família. Mesmo que fossem excluídos da soma final, ainda restariam 43 imóveis negociados com dinheiro em espécie por integrantes do clã. Nas entrevistas concedidas aos dois veículos que têm por norma apoiá-lo, o presidente sentiu-se à vontade para atacar o UOL. Em um momento de vidência, previu que "vão fazer busca e apreensão" na casa de seus parentes. Disse que isso seria estratégia para desgastá-lo. Em tom de bravata, pediu: "Vem pra cima de mim". No único esboço de explicação sobre o seu patrimônio, Bolsonaro disse que o ex-PGR Rodrigo Janot atestou em 2015 que dois de seus imóveis no Rio foram comprados legalmente. Falta explicar a compra de 49. O Brasil continua aguardando justificativas convincentes para tantas transações em dinheiro vivo. Para alguém que a toda hora repete que conhecer a verdade é uma experiência libertadora, isso deveria ser uma prioridade.
 
Tão impensável quanto conceder um segundo mandato ao capetão é devolver o picareta dos picaretas ao Planalto, pois o país continuaria prisioneiro de velhas pautas e velhos ódios. No livro “O Ressentimento na História”, Marc Ferro ensina que "a revivescência da ferida passada é mais forte do que toda vontade de esquecimento; a existência do ressentimento mostra o quanto é artificial o corte entre passado e presente — um vive no outro, o passado tornando-se presente, mais presente que o presente.”
 
Se a pré-candidatura de Moro tivesse prosperado, ficaria mais difícil para o PT apresentar uma realidade alternativa aos eleitores — Bolsonaro poderia cumprir esse papel, mas tem um telhado de vidro de dimensões latifundiárias. Mas nada garante que Moro na Presidência seria a solução, pois ele enfrentaria enorme resistência no meio político — que o detesta —, e o país já problemas demais para se dar ao luxo de mais 4 anos de paralisia.
 
Com Celso Rocha Barros, Chico Alves Carlos Graieb

sexta-feira, 1 de abril de 2022

O MEC, AS IDAS E VINDAS DE DORIA E DE MORO E O FANTASMA DO GOLPE



 

Em 1986, quando acompanhou o então presidente Sarney numa visita oficial a Portugal, o saudoso deputado Ulysses Guimarães comentou com os anfitriões que o direito ao voto no Brasil havia sido estendido aos analfabetos, e ouviu de um interlocutor que "em Portugal não havia analfabetos".


A despeito do Mobral, do Projeto Minerva e de outros programas que tais, a educação nunca foi prioridade para o governo brasileiro. Até porque povo politizado reivindica e não vota em populistas demagogos. O MEC sempre teve mais serventia como moeda de troca e cabide de emprego do que qualquer outra coisa. Para a população, que é quem paga a conta, a pasta é tão “útil” quando o ministério da marinha do Paraguai


A descoberta de que pastores comandavam um balcão de verbas derrubou o ministro-pastor Milton Ribeiro e levou o presidente fazer por pressão o que deixou de fazer por obrigação. Resta saber quem vencerá o cabo de guerra que tem como prêmio o orçamento bilionário do ministério ora acéfalo. Tanto o Centrão quanto a Bancada Evangélica estão de olho na cadeira ocupada interinamente por Vitor Godoy Veiga. 

 

Mudando de um ponto a outro: João Doria desistiu de concorrer à Presidência. A princípio, ele não ia sequer disputar a reeleição para o governo de São Paulo, segundo foi veiculado na manhã de ontem. O Estadão disse ainda que o tucano deixaria o PSDB e que Garcia, surpreendido pela notícia, pediu demissão da Secretaria de Governo.

 

Comenta-se nos bastidores que a decisão foi uma jogada do governador para tentar obter apoio público do partido e de aliados à sua candidatura presidencial. Apesar de ter ganhado as prévias tucanas para ser o candidato à presidência, Doria sofria com a falta de apoio dentro do ninho, onde a ala encabeçada por Aécio Neves vem manifestando apoio a Eduardo Leite — que renunciou ao governo gaúcho na última segunda-feira e anunciou que não deixará o partido


No Brasil, os políticos não confirmam sentados o que disseram em pé. Demais disso, nunca se mente tanto quanto antes de uma guerra, durante eleições e depois de uma pescaria. Doria ficou de falar à imprensa no final da tarde (de ontem) e, como diz o bordão da BandNews, em um segundo tudo pode mudar. 


AtualizaçãoApós carta da direção do PSDB, o governador de São Paulo voltou atrás e manteve a ideia original de renunciar ao cargo para ser candidato à Presidência da República este ano. O anúncio oficial foi feito às 16h de ontem. Por outro lado, lideranças do Podemos acusaram Sergio Moro de trair a sigla ao migrar para o União Brasil depois de ser pressionado a trocar seu domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo. Mais um pré-candidato à presidência que abandona a “duvidosa terceira via” pela “quase certeza de sucesso” na disputa por uma cadeira no Senado ou na Câmara Federal. Ou não (clique aqui para mais detalhes). Resta saber se Doria vai mesmo continuar no páreo e quais serão as consequências da desistência de Moro (caso ela se confirme) na campanha do tucano.


Também nesta quinta-feira 9 ministros do governo Bolsonaro se desincompatibilizam do cargo em busca de novos pastos — no Senado, na Câmara ou num governo estadual. Seria uma ótima notícia se a escolha dos substitutos não ficasse à cargo do mandatário de fancaria: quando o problema é o burro, de nada adianta trocar as rodas da carroça.


Mas isso é do mais o menos. Preocupante mesmo é a recaída de Bolsonaro, que voltou a ameaçar o Judiciário quanto ao resultado das eleições no mesmo dia que a alta cúpula dos fardados publicou nota chamando o golpe de 1964 de "marco histórico da evolução política brasileira".

 

Em seus últimos discursos, o presidente vem dando a impressão de que deve aproveitar a reforma ministerial para ampliar sua influência no comando do Exército — aos desavisados, vale lembrar que estamos em ano eleitoral, que o capitão concorrerá à reeleição e que todas as pesquisas dão como favas contadas a vitória do ex-presidiário de Curitiba —, o que explica a promoção do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual comandante do Exército, para o cargo de ministro da Defesa. Basta ler as entrelinhas para perceber que o fantasma do golpe volta a nos assombrar qual egum mal despachado.

 

Bolsonaro é useiro e vezeiro em defender o voto impresso, inventar mentiras sobre as urnas que o elegeram para sucessivos mandatos, insinuar que as FFAA colecionam indícios de suposta vulnerabilidade do sistema eleitoral e atacar ministros que do STF e do TSE — tendo inclusive chamado publicamente Luís Roberto Barroso de filho da puta e Alexandre de Moraes de canalha — isso não é “liberdade de expressão”, mas sim “avacalhação”. 

 

Quem dá asas a cobra arrisca-se a ver o ofídio voar. Nenhum presidente da “Nova República” vituperou tanto a democracia e flertou tanto com o golpe como Bolsonaro. Em qualquer democracia que se desse minimamente ao respeito, os discursos do último Sete de Setembro resultariam no afastamento do cargo e abertura de inquérito. Curiosamente, os ataques do capitão não produziram maiores consequências para além de escancarar suas reais intenções — ou alguém ainda acredita que haverá transição pacífica de poder se Bolsonaro permanecer no cargo até 1º de janeiro do ano que vem? 

 

Observação: O ministro Luiz Fux fez um dos discursos mais incisivos da história do STF, mas que deveria ter sido feito em 2019, quando o presidente participou de manifestações antidemocráticas na porta do QG do Exército. 

 

"Nós defendemos a liberdade [...] até com o sacrifício da própria vida", bradou Bolsonaro, na última quarta-feira, uma claque de potiguares convertidos. Quem o ouvia pensava que o regime estivesse prestes a entrar em colapso. Não se sabe que surpresas o mandrião palaciano prepara para o final do ano, mas é impossível deixar de notar que há um quê de Donald Trump em sua retórica. 

 

Nos Estados Unidos, a insurreição que se seguiu à derrota eleitoral de Trump durou seis horas e produziu mortes e vexames. Hoje, despacha na Casa Branca o rival Joe Biden. Bolsonaro talvez aproveitasse melhor o seu tempo concentrando-se nos planos para virar votos, não a mesa.


Para concluir: Diogo Mainardi postou n'O AntagonistaO bolsonarismo comemora uma quartelada bananeira de seis décadas atrás. O país do futuro não tem um futuro, só tem um passado – e ele é medonho. De fato, para se livrar de Jair Bolsonaro, que se inspira nos crimes da ditadura, o eleitorado está disposto a votar em Lula, que evoca o movimento contra a ditadura, de quatro décadas atrás, enquanto apaga os crimes da Odebrecht. O tempo não passa – nem no Piaget. Vamos continuar ocultando cadáveres pelas próximas seis décadas.

domingo, 30 de janeiro de 2022

A ÚNICA VACINA

 

Eu considerava a reeleição de Dilma o maior estelionato eleitoral da nossa história recente (e não foi por falta de concorrentes de peso), mas Bolsonaro deixou a mulher anta no chinelo e, entre outras bandeiras de campanha que enfiou em local incerto e não sabido, merece especial destaque a de "acabar com a 'velha política' do toma-lá-dá-cá", que jamais passou de mera demagogia. Ninguém fica na Câmara durante 27 anos sem se dar conta de como a banda toca, ou por outra, de que ex-presidentes que tentaram peitar o Congresso — como Jânio, Collor e Dilma, por razões diferentes e não necessariamente republicanas — perderam seus mandatos.

Ao nomear Ciro Nogueira ministro-chefe da Casa Civil, Bolsonaro entregou ao Centrão as chaves do reino e do cofre. Segundo apurou o EstadãoR$ 25,1 bilhões em emendas parlamentares foram destinadas a deputados e senadores da chamada “base aliada”. O STF considerou irregular o uso político dos recursos Mas e daí? Desde sempre que o capitão cria factoides para manter acirrada sua base ideológica e desviar a atenção da mídia de um tema polêmico para outro. 

Em abril de 2020, durante uma manifestação subversiva defronte ao QG do Exército, Bolsonaro discursou: “Nós não vamos negociar nadaTemos de acabar com essa patifaria. Esses políticos têm de entender que estão submissos à vontade do povo brasileiroÉ o povo no poder”. Para não dizer que nada aconteceu, alguns oficiais tiraram selfies e sorriram para a multidão. O inquérito que está sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes avança a passos de bicho-preguiça, juntamente com outras cinco investigações — inclusive a que apura a “suposta” interferência do capitão na PF.

Em agosto de 2021, Bolsonaro convocou uma blindadociata para pressionar o Congresso a aprovar a PEC do voto impresso — que acabou sepultada. Em seu enésimo comício em Santa Catarina, o "mito" referiu-se ao presidente do TSE como "aquele filho da puta do Barroso" — o vídeo foi prontamente apagado do Facebook, mas a ação não foi rápida o bastante para impedir que a cena viralizasse nas redes sociais. Discursando a apoiadores no feriado de 7 de setembro, chamou Alexandre de Moraes de “canalha”. Mas seu destempero foi alvo de críticas, nada além disso. 

O réu que preside a Câmara e serve de cão-de-guarda a cento e tantos pedidos de impeachment latiu, mas não mordeu; o presidente do Congresso reagiu com a mineirice que lhe é peculiar; o presidente do STF foi mais incisivo, mas tudo voltou a ser como antes no quartel de Abrantes depois que o tiranete despirocado leu a patética missiva redigida a rogo pelo folclórico vampiro que tem medo de assombração.

Os números mostram como o Congresso ampliou seu controle sobre o Orçamento da União ao longo dos anos. O processo começou antes do atual governo, mas cresceu a olhos vistos sob Bolsonaro. Os R$ 25,1 bilhões efetivamente pagos em 2021 representam três quartos dos R$ 33,4 bilhões que foram empenhados (quando o dinheiro é reservado no Orçamento), índice acima de anos anteriores, segundo os dados do Portal do Orçamento do Senado. Para este ano — em que boa parte dos parlamentares disputará eleições — o valor previsto é ainda maior, de R$ 37 bilhões

Para não correr o risco de esse dinheiro ser represado, Bolsonaro assinou um decreto no último dia 13 tirando do Ministério da Economia e dando à Casa Civil a palavra final sobre a gestão orçamentária. Na prática, a liberação dos recursos ficará a cargo do ministro Ciro Nogueira, mandachuva do Progressistas e comandante do Centrão, que passará a decidir sobre Orçamento.

As emendas são indicações feitas por parlamentares de como o Executivo deve gastar parte do dinheiro do Orçamento. Elas incluem desde obras de infraestrutura, como a construção de uma ponte, até valores destinados a programas de saúde e educação. Como mostrou o Estadão, o dinheiro foi utilizado nos últimos anos também para comprar tratores com sobrepreço — o chamado “tratoraço” —, e integrantes do próprio governo admitem que há corrupção envolvendo a liberação desses recursos. 

A despeito de suas promessas de campanha, Bolsonaro usou e abusou da liberação de dinheiro quando precisou de apoio dos adeptos da baixa política. O caso mais emblemático se deu em novembro, quando da votação da PEC dos Precatórios, que abriu caminho para criar o Auxílio Brasil — programa populista que o presidente vai usar como bandeira eleitoral para tentar a reeleição. Na véspera, o governo destinou R$ 1,2 bilhão dos cofres públicos para atender aos interesses dos parlamentares alinhados com o governo. 

Pelo voto de cada parlamentar foram pagos até R$ 15 milhões, como admitiram pelo menos dois deputados ao jornal O Estado de S.Paulo. Além disso, o governo priorizou aliados até na hora de liberar as chamadas emendas individuais — aquelas previstas na Constituição e que garantem a mesma quantia para todos os congressistas. Parlamentares de partidos do Centrão como o PL, o Republicanos e o Progressistas receberam cerca de 70% dos valores destinados a eles; legendas de oposição mais críticas ficaram para trás — PCdoB, Novo e PSOL foram os que receberam menos recursos. 

Políticos da base aliada argumentam que usam as emendas para irrigar programas capitaneados pelos próprios ministérios, o que agiliza o pagamento. Foram eles que mais indicaram recursos pelas transferências conhecidas como “emenda cheque em branco” e “PIX orçamentário”, mediante as quais o dinheiro cai diretamente na conta das prefeituras, ou seja, sem passar pelos ministérios.

A Secretaria de Governo contestou as informações da reportagem do Estadão. Alegou que seus dados são obtidos a partir do Tesouro Gerencial — sistema mantido pelo governo. Mas as informações do Siga Brasil, utilizadas pelo jornal, provieram da mesma base de dados. Questionada, a pasta não forneceu as informações que o Executivo afirma dispor.

Há uma frase lapidar de Abraham Lincoln: “Dê poder a um homem e descobrirá o seu caráter”. Demos o poder a Bolsonaro para evitar que o país fosse governado por uma marionete de presidiário e descobrimos, para além de seu caráter, o péssimo temperamento que o move. O Brasil contabiliza mais de 620 mil óbitos por Covid, boa parte dos quais se deve à desídia e ao viés negacionista do presidente e da caterva que o assessora. Também é conhecida sua falta de empatia e de sensibilidade em relação às vítimas do vírus assassino (falo do biológico) e às pessoas que ficaram sem pais, irmãos, filhos, cônjuges e amigos. 

Em face do exposto, parece-me evidente que nenhum brasileiro que perdeu parentes ou amigos para a pandemia entregará seu voto à reeleição de Bolsonaro — conforme, aliás, dão conta as enquetes eleitoreiras. Com exceção dos apoiadores incorrigíveis do mandatário de fancaria, é preciso ser muito masoquista para desejar a continuidade desse funesto governo.

A pandemia vai acabar um dia. O Sars-CoV-2, a exemplo dos demais vírus, vai se adaptar ao ser humano, e este a ele. Mas a eleição de 2022 engendra 2023, e a Bolsonaro não queremos adaptação. Diante da inércia do Congresso e do STF, o sufrágio é a única vacina contra ele.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS...


A vida é feita de escolhas, escolhas têm consequências e o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois. Numa encruzilhada da vida, se escolhermos virar à direita, abdicamos de seguir em frente ou a esquerda, por exemplo. Quando o resultado não é o esperado, somos assombrados pelo bendito “se”. 


O presente nada mais é senão a consequência da somatória das escolhas que fizemos no passado, mas o futuro do pretérito, também chamado pelos gramáticos de condicional, referencia um presente que poderia ter existido se nossas escolhas fossem outras. 


Em 2018, fomos meio que obrigados a apoiar o bolsonarismo boçal para evitar a volta do lulopetismo corrupto, e a consequência foi o calvário que já dura três anos e quatro meses e, pior, pode ser prorrogado por mais quatro anos — ou sabe-se lá por quanto tempo mais; em se tratando de Bolsonaro, a única perspectiva impossível é a de uma gestão competente de pautada pela probidade.

 

Foi também em 2018 que Sergio Moro escolheu abandonar a magistratura em troca de um ministério no futuro governo, edulcorado pela promessa de uma cadeira no STF. Como consequência, o ex-juiz foi privado do Coaf e obrigado a reverter nomeações, enquanto seu projeto anticorrupção era desmontado. Por algum tempo, ele fingiu não ver, tentou relativizar, mas não se sujeitou ao papel de consultor jurídico informal do enrolado clã presidencial e acabou tendo de engolir sapos e beber a água da lagoa. 

 

Moro abandou a canoa que deveria saber ser furada para tentar salvar o prestígio que ainda lhe restava. Mas já era tarde demais. Odiado por Lula e seus abjetos sectários, viu-se tachado de traidor pelos igualmente abjetos baba-ovos do “mito” de fancaria. A indicação para o STF jamais aconteceu. Segundo a narrativa palaciana, o então magistrado vinculara seu embarque no governo à suprema toga, quando na verdade foi Bolsonaro que lhe prometera a dita-cuja como forma de tê-lo a bordo e de cativar o eleitorado avesso à roubalheira lulopetista. 


Passados dois anos da demissão de Moro — ele “não saiu atirando”, apenas relatou um fato que, se não era público, tornou-se notório depois que o então decano do STF retirou o sigilo da gravação da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, o inquérito instaurado para investigar a interferência criminosa de Bolsonaro na PF deu em nada (a exemplo de tantas outras envolvendo o sultão do Bolsonaristão). 


Nesse entretempo, o presidente que, quando candidato, prometeu pegar em lanças contra a corrupção e a velha política do toma-lá-dá-cá, cometeu toda sorte de barbaridades. Flertou incontáveis vezes com o autogolpe. Chamou o presidente do TSE de filho da puta e um ministro do STF de canalha. Tornou-se alvo de mais de 140 pedidos de impeachment e de uma dezena de inquéritos. Quatro de seus cinco filhos são igualmente investigados. Mais recentemente, vieram a lume evidências gritantes de corrupção no MEC. 


Observação: Ontem, a cereja do bolo: sua alteza irreal anistiou o deputado troglodita baba-ovos Daniel Silveira antes mesmo que a condenação transitasse em julgado. Mais uma vez, o sociopata estica a corda. Se será enforcado com ela ou se a pusilanimidade do STF permitir-lhe-á sair impune, com vem acontecendo desde sempre, só o tempo dirá. O pouco tempo que falta até as cada vez mais próximas eleições. Se alguém acha que esse sujeito vai mesmo largar o osso se assim decidir a ospália votante, esse alguém está redondamente enganado.

 

Políticos pegos com manchas de batom na cueca sempre têm alguma desculpa idiota. Lula se disse traído; Dilma, indignada; Bolsonaro afirma não pode saber de tudo — e para evitar que se venha a saber de (mais) alguma coisa que o desabone, decreta sigilo sobre fatos de interesse público. 


Em julho do ano passado, o Planalto impôs um segredo de 100 anos sobre informações dos crachás de acesso em nome dos filhos 02 e 03. Um cumpre na sede do governo federal (diz-se que no “gabinete do ódio”) seu quinto mandato de vereador, quando deveria dar expediente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O outro é deputado federal por São Paulo, mas acompanha o pai em viagens internacionais, frita hambúrguer nas horas vagas e chegou a ser cotado para chefiar a embaixada do Brasil nos EUA.

 

Em janeiro de 2021, o Planalto decretou 100 anos de sigilo cartão de vacinação do mandatário negacionista e antivacina, a pretexto de os dados dizerem respeito "à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem do presidente”. Em junho de 2021, mandou o Exército impor sigilo de 100 anos ao processo interno isentou de punição o então general da ativa Eduardo Pazuello


Dias atrás, o GSI repetiu a dose em relação às visitas dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos ao Planalto, alegando que “a divulgação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares”. Pressionado, o gabinete comandado pelo general Augusto Heleno liberou os registros, que apontam mais de 30 acessos. O pastor Arilton visitou gabinetes de Mourão, ministros e do responsável pela agenda de Bolsonaro; o pastor Gilmar esteve pelo menos 10 vezes na sede do governo. Detalhe: ambos voltaram ao Planalto mesmo após pedido de apuração

 

Voltando a Sergio Moro — que deve estar tão arrependido de ter aceitado participar deste espúrio governo quanto Lula de ter feito Dilma sua sucessora —, lulistas, bolsonaristas, magistrados ditos “garantistas” e parte da mídia promoveram a párias o ex-juiz federal e o ex-coordenador do braço paranaense da maior operação anticorrupção da história desta banânia, que colocou na cadeia dezenas de empresário e políticos que se locupletaram nos governos petistas. 


No Brasil, a corrupção é como a Hidra de Lerna — bicharoco mitológico com corpo de dragão, hálito venenoso e nove cabeças de serpente capazes de se regenerar. Tudo ia de vento em popa até que, um belo dia, o semideus togado que manda e desmanda no STF virou a casaca, passando de apoiador a inimigo figadal da Lava-Jato. E o resto é história recente.