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sábado, 23 de novembro de 2024

ELE NÃO SABIA DE NADA

QUANDO A GENTE IMAGINA QUE JÁ VIU O PIOR DAS PESSOAS, APARECE ALGUÉM PARA MOSTRAR QUE O MAL É INFINITO.

 

Sob Bolsonaro, o absurdo era tramado com a naturalidade de um batizado. Adorno tétrico da trama, o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes forneceria a apoteose necessária para virar a mesa da democracia em grande estilo. Mas o imprevisto costuma ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, e as consequências sempre chegam depois.
 
"Quem espera sempre alcança", reza a sabedoria popular. Sempre que se via em apuros, Bolsonaro recorria ao versículo multiuso: "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João, 8:32). A Operação Contragolpe proporcionou seu encontro com a verdade, mas, ao invés de libertá-lo, a verdade o empurrará à cadeia. 

Até o momento, quatro militares de alta patente e um policial federal foram presos. Bolsonaro, Braga Netto e Mauro Cid estão entre os 37 indiciados pela "suposta" tentativa de golpe — "suposta" porque, como sabemos, sempre há a possibilidade de o que tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré e dentes de jacaré ser, na verdade, um coelhinho branco.
 
Em junho de 2022, numa reunião em que o presidente foi filmado rosnando contra a democracia e o bobo da corte dizendo que era preciso virar a mesa antes das eleições, o general Mário Fernandes, número dois da Secretaria-Geral da Presidência, fez coro com os insurretos: 
"...É muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o país [...], para que aconteça antes, do que assumir um risco muito maior de conturbação no 'day after', né? Quando a fotografia lá for de quem a fraude determinar". 

Segundo a PF, o "day after" do general incluía uma carnificina que só não aconteceu por falta de adesão da tropa.
 
Bolsonaro perdeu a reeleição e colecionou derrotas nos pleitos municipais. A inelegibilidade o excluiu da cédula de 2026, mas a vitória de Trump o animou a conceder entrevistas em série, pregando uma "pacificação" escorada numa anistia inusitada. A cada vez mais provável condenação criminal pende como uma espada de Dâmocles sobre seu plano de controlar a sucessão no campo da direita.
 
Em público, Valdemar Costa Neto — ex-presidiário do Mensalão e indiciado na última terça-feira — insiste na tese abilolada de que Bolsonaro "não tem nada a ver com nada". Nos bastidores, porém, a cúpula do PL já admite que subiu no telhado a pretensão mimetizar Lula em 2018, registrando uma candidatura legalmente inviável.
 
A esta altura, falar em solidariedade afronta o razoável, mesmo nos insanos territórios da extrema-direita, e a construção de uma chapa conservadora, sem o veneno golpista do "mito", já começa a ser articulada. Mesmo porque os parlamentares do Centrão são conhecidos por carregar o caixão, não por pular na cova com o defunto. 
 
Cabe aos representantes da direita construir uma alternativa sensata, e a Tarcísio de Freitas, o primeiro da fila, tirar a mão da alça do caixão, trocando uma reeleição praticamente certa para o governo de São Paulo pela aventura de concorrer disputar o Planalto em 2026. Na seara da esquerda, Lula diz que concorrerá ao quarto mandato "se tiver saúde" — se tivesse juízo, o macróbio indicaria um sucessor para recompor o arco conservador que o reabilitou, não por gostar dele, mas para se livrar do refugo da escória da humanidade.
 
Indiciado, Bolsonaro renovou a pose de perseguido. Mas demonizar Moraes perdeu o nexo quando quando o delator Mauro Cid, os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica (que não aderiram ao golpe) os investigadores da PF, as togas que avalizam os despachos de Moraes e o procurador-geral Paulo Gonet se juntaram à hipotética confraria de perseguidores.
 
Em 1986, ainda capitão da ativa, Bolsonaro amargou 15 dias de prisão disciplinar por publicar na revista Veja o artigo "O salário está baixo". No ano seguinte, a mesma revista revelou que ele e outro capitão planejavam explodir bombas nos quartéis se o aumento do soldo ficasse abaixo de 60%. O então ministro do Exército pediu a expulsão dos insurretos, mas o Superior Tribunal Militar acatou a tese da defesa.
 
Bolsonaro trocou a caserna por um mandato de vereador e outros 7 de deputado federal. Em 1991, defendeu o retorno do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso. Em 1994, disse que preferia "sobreviver no regime militar a morrer nesta democracia". Em 1999, afirmou que "a situação do país seria melhor se a ditadura tivesse matado mais gente" (incluindo o então presidente FHC). Em 2016, 
ao votar favor do impeachment de Dilma, homenageou o torturador da ditadura Carlos Alberto Brilhante Ustra. 

Sem outra fonte de renda além do salário de parlamentar, a "Famiglia Bolsonaro" comprou mais de 100 imóveis, 51 dos quais foram pagos total ou parcialmente em espécie. Em "O Negócio do Jair", a jornalista Juliana Dal Piva revela o método usado pelo clã para acumular milhões de reais e construir um projeto político iniciado com o emprego de parentes e coordenado pela segunda esposa. O livro detalha ainda as relações da família com o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, que virou chefe da milícia de Rio das Pedras e do Escritório do Crime, e acabou executado em 2020 por policiais militares baianos e fluminenses.  
 
Em meio à pandemia, Bolsonaro desdenhou do vírus, disse que a reação da população e da imprensa era "histeria", chamou a Covid de "gripezinha de nada" e demitiu Mandetta da Saúde porque o médico "estava se achando estrela", nomeou um sucessor que não durou um mês no cargo, e colocou em seu lugar o general Eduardo 
"um manda e o outro obedece" Pazuello. 
 
relatório da CPI da Covid apontou uma dúzia de crimes, mas o genocida saiu ileso graças à subserviência do antiprocurador Augusto Aras, e escapou de 140 pedidos de impeachment porque Rodrigo Maia "viu erros, mas não crimes de responsabilidade", e Arthur Lira avaliou que "todos os pedidos que analisou eram inúteis". 

Ao longo de toda a gestão, o pior mandatário desde Tomé de Souza não só incentivou como participou de atos antidemocráticos, chamou Moraes de canalha e Barroso de filho da puta, transformou o 7 de Setembro em apologia ao golpe de Estado, e por aí afora. Mas o dito ficou pelo não dito. 
 
Derrotado nas urnas, o capetão-golpista se encastelou no Alvorada até a antevéspera da posse de Lula. Mestre em tirar a castanha com a mão do gato, escafedeu-se para a Flórida (EUA) e se homiziou na cueca do Pateta por 89 dias, retornando somente quando poeira dos atos terroristas do 8 de janeiro já havia baixado. 

Observação: Se Bolsonaro não conspirasse 24/7 contra a democracia, não se associasse à a Covid, não rosnasse para o Legislativo e o Judiciário, não se amancebasse com QueirozZambelli, Collor, milicianos e que tais, talvez o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário, ex-condenado etc.) ainda estivesse gozando férias compulsórias na carceragem da PF em Curitiba. Mas de nada adianta chorar sobre o leite derramado.
 
Desde a última terça-feira que só se fala na Operação Contragolpe e seus impactos na situação do ex-presidente — uma novela que começou há anos e deve entrar pelo ano que vem, já que novidades surgem dia sim, outro também, e a última peça nunca fica pronta. 

Moraes deve enviar a PGR, nesta segunda-feira, o relatório de 884 páginas que recebeu da PF, mas Gonet dificilmente denunciará os indiciados até o final do ano, e o tempo necessário para alinhar todas as investigações conduzidas pode empurrar a denúncia para depois do recesso judiciário. O recebimento da denúncia pelo STF abrirá prazo para a instrução da ação penal. 

Espera-se que a sentença saia ainda em 2025, para não contaminar as eleições de 2026. Com as penas impostas aos envolvidos no 8 de janeiro variando entre 16 e 18 anos, é provável que, em caso de condenação, o Messias que não miracula permaneça inelegível por mais tempo que os anos que lhe restam de vida. 

Bolsonaro disse a Veja que "jamais compactuaria com qualquer plano para dar um golpe". Lavou as mãos sobre o plano que previa o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes. Se alguém cometeu algum crime, ele não sabia. Collor também não sabia do esquema PC, e Lula, do Mensalão. O "eu não sabia" é um velho conhecido dos brasileiros, que reaparece sempre que algum personagem capaz de tudo pede à nação que o veja como como um incapaz de todo.
 
O Brasil terá que aprender a conviver com um Bolsonaro inelegível, indiciado e indefensável. Não será fácil, e ficará mais difícil à medida que o indiciamento evoluir para denúncia, ação penal e provável condenação. Essa convivência pode ser longa, já que a Justiça, conhecida por tardar mas não falhar, move-se em solo brasileiro a velocidade de um cágado perneta. 

O fato de a deusa Themis ter sido retratada sentada diante do STF indica que quem recorre àquela corte precisa ter paciência de : dependendo de quem julga e de quem é julgado, a sentença pode demorar 20 horas ou 20 anos (haja vista as condenações de Maluf, de Collor e do próprio Lula).

Triste Brasil.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

AINDA SOBRE A APATIFANTE PATIFARIA


Ainda sobre a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira, a denúncia do MPF, assinada pelo vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros, se deu no âmbito do inquérito que investiga o financiamento e a organização de atos antidemocráticos, e a prisão ocorreu com base no inquérito das fake news, que apura informações falsas e ofensas a ministros da Suprema Corte (o deputado é alvo dos dois inquéritos). Segundo Moraes, a prisão foi em flagrante porque o vídeo foi disponibilizado a quem quisesse assisti-lo, o que caracteriza crime continuado. A gravação, que inclui xingamentos e acusações a magistrados (alguns citados nominalmente), estava disponível neste link, mas foi retirado do ar (por “violar a política do YouTube sobre assédio e bullying”) e colocada em modo privado no canal “Política Play”.

Ontem à noite, por 364 votos a favor e 130 contra, o plenário da Câmara chancelou o relatório favorável à mantença da prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. Houve três abstenções.

Observação: Ao pôr a Alemanha Nazista de joelhos, o chanceler britânico Sir Winston Churchill assim se pronunciou: “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”, No Brasil não há Câmara dos Comuns, mas sobram presidentes incomuns. Incomumente corruptos, incomumente incompetentes, incomumente boçais. Se eu sobreviver aos últimos três (noves fora o vampiro, porque vice promovido a titular não conta), comprometo-me a enviar um telegrama de condolências ao Diabo. Afinal, nem ele merece tanta desgraça junta.

Curiosamente, dos 4 dos 11 togados que compõem o colegiado não foram citados (Cármen Lúcia, Nunes Marques, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber). Marco Aurélio tem seu nome mencionado, mas não foi alvo de qualquer ofensa específica, e Luiz Fux foi citado nominalmente, mas não desrespeitosamente: O único que respeito em conhecimento é o Fux. Único que respeito em conhecimento jurídico de fato

O portal Poder360publicou a transcrição do vitupério, que eu reproduzo a seguir:

  • Edson Fachin – “Seu moleque, seu menino mimado, mau-caráter, marginal da lei, militante da esquerda, lecionava em uma faculdade, sempre militando pelo PT, pelos partidos narcotraficantes, nações narcoditadoras (…) Fachin, você integra, tipo assim, a nata da bosta do STF, certo? (…) Militante idiotizado, lobotomizado, que atacava militares junto com a Dilma [Rousseff], aquela ladra, vagabunda. Com o multicriminoso Luiz Inácio Lula da Silva, de 9 dedos, vagabundo, cretino, canalha. O que acontece, Fachin, é que todo mundo já está cansado dessa sua cara de filho da puta que tu tem. Essa cara de vagabundo, né(…) Por várias e várias vezes já te imaginei tomando uma surra. Ô… quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa Corte. Quantas vezes eu imaginei você, na rua, levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não. Eu só imaginei. Ainda que eu premeditasse, ainda assim não seria crime. Você sabe que não seria crime. Você é um jurista pífio. Vai lá e prende o Villas Bôas, rapidão, só pra gente ver um negocinho. Se tu não tem coragem, porque tu não tem, tu não tem colhão roxo pra isso”. “Você tem que tomar vergonha na sua cara, olhar, quando você for tomar banho, olhar o bilauzinho que você tem e falar: ‘Pô, eu acho que sou um homenzinho. Eu vou parar com as minhas bobeirinhas’. Ah, o quê? Eu estou sendo duro demais? Tô sendo o quê, ogro? Ah, tô sendo tosco? O que você espera? Que eu seja o quê? Que eu tenha um tipo de comportamento adequado para tratar a Vossa Excelência? É claro que eu não vou ter. Eu sei que você está vendo esse vídeo aí”. “[Está] previsto lá no artigo 101 da Constituição os requisitos pra que vocês se tornem ministros, totalmente esvaziados, totalmente inócuos. Totalmente oligofrênicos, ignóbeis. É o que vocês são”. “Principalmente você, Fachin. Você integra, tipo assim, a nata da bosta do STF, certo?”;
  • Roberto Barroso – “[sobre ter “colhão roxo” prender o general Villas Bôas] O Barroso, aí que não tem mesmo. Na verdade ele gosta do colhão roxo”;

  • Alexandre de Moraes – “O Oswaldo Eustáquio, jornalista que vocês chamam de blogueiro, foi preso pelo ‘Xandão do PCC’. Está aí, preso ilegalmente. Eu tive acesso ao diário dele. Sabia, Alexandre de Moraes, que eu tive acesso ao diário dele manuscrito na prisão? Dos agentes que o torturaram? Sabia que eu sei? Sabia que eu sei que um [agente] chegou no ouvido dele e falou assim: ‘A nossa missão é eliminar você’. Sabia que eu sei? Eu sei. E eu sei de onde partiram essas ordens. Acha que eu tô blefando? Por que, Alexandre, você ficou putinho porque mandou a Polícia Federal na minha casa uma vez e não achou nada, na minha quebra de sigilo bancário e telemático? É claro que tu não vai achar, idiota, eu não sou da tua laia, eu não sou da tua trupe. Dessa bosta de gangue que tu integra. Não. Aqui você não vai encontrar nada. No máximo, uns trocadinhos. Dinheiro pouco a gente tem muito. É assim que a gente fala. Agora, ilegal a gente não vai ter nada. Será que você permitiria a sua quebra de sigilo telemático? A sua quebra de sigilo bancário? Será que você permitiria a Polícia Federal investigar você e outros 10 aí da ‘supreminha’? Você não ia permitir. Vocês não têm caráter, nem escrúpulo, nem moral para poder estar na Suprema Corte.”;
  • Dias Toffoli – “Levaram o [meu] celular, a Polícia Federal. Ninguém falou nada. Ninguém mandou um ofício dizendo [que era] relacionado ao mandato [de deputado federal]. Mas quando foram apreender o do [senador] José Serra, rapidamente, quase que num estalar de dedos, [Dias] Toffoli foi lá e, de ofício, [disse] ‘não pode apreender o celular do José Serra, não pode apreender o notebook do José Serra. São relacionados ao mandato’. Dois pesos e duas medidas. Não dá, né, chefe?”;

  • Gilmar Mendes – “Solta os bandidos o tempo todo. Toda hora dá um habeas corpus. Toda hora, vende um habeas corpus, vende sentenças, compra o cliente. ‘Opa, foi preso [por] narcotráfico, opa manda pra mim, eu vou ser o relator, tendo ou não a suspeição, desrespeitando o Regimento Interno dessa supreminha aí que de suprema nada tem. [Está] previsto lá no artigo 101 da Constituição os requisitos pra que vocês se tornem ministros, totalmente esvaziados, totalmente inócuos. Totalmente oligofrênicos, ignóbeis. É o que vocês são”. “Gilmar Mendes… isso aqui é só [gesticula com os dedos, indicando dinheiro]… É isso que tu gosta, né, Gilmarzão? A gente sabe”.

Parte inferior do formulário

Segue a transcrição das falas do congressista, na íntegra:

“Fala, pessoal, boa tarde. O ministro [Edson] Fachin começou a chorar, decidiu chorar. Fachin, seu moleque, seu menino mimado, mau caráter, marginal da lei, esse menininho aí, militante da esquerda, lecionava em uma faculdade, sempre militando pelo PT, pelos partidos narcotraficantes, nações narcoditadoras. Mas foi aí levado ao cargo de ministro porque um presidente socialista resolveu colocá-lo na Suprema Corte pra que ele proteja o arcabouço do crime do Brasil, que é a nossa Suprema, que de suprema nada tem.

Fachin, sabe… às vezes fico olhando as tuas babaquices. As tuas bobeiras que você vai à mídia para chorar, ‘olha o artigo 142 está muito claro lá que as Forças Armadas são reguladas na hierarquia e disciplina e blá-blá-blá, vide o que aconteceu no Capitólio [sede do Congresso dos EUA] porque no Capitólio quando tentaram dar um golpe…’ aquilo não é golpe, não, filhinho. Aquilo ali foi parte da população revoltada que, na minha opinião, foram infiltrados do Black Lives Matter, dos antifas, blackblocks, coisa que você e a sua trupe que aí integra defendem. Vocês defendem a todo custo esse bando de terrorista, esse bando de vagabundo. Vagabundo protege vagabundo. Mas não é essa besteira que a gente vai discutir.

Agora, você fala que o general Villas Bôas, quando fez um tuíte afirmando que deveria ser consultada a população e também as instituições, se deveria ou não utilizar o modus operandi do processo de Lula, hoje você se sente ofendidinho dizendo que ‘ah, isso é pressão sobre o Judiciário, é inaceitável, intolerável’. Vai lá! Prende o Villas Bôas, pô, seja homem uma vez na sua vida. Vai lá e prende o Villas Bôas. Fala pro Alexandre de Moraes, homenzão, né, o fodão, vai lá e manda prender o Villas Bôas, manda, vai lá e prende o general do Exército. Quero ver. Eu quero ver, Fachin, você, [os ministros] Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, o que solta os bandidos o tempo todo. Toda hora dá um habeas corpus. Toda hora vende um habeas corpus, vende sentenças, compra o cliente. ‘Opa, foi preso [por] narcotráfico, opa manda pra mim, eu vou ser o relator, tendo ou não a suspeição, desrespeitando o Regimento Interno dessa supreminha aí que de suprema nada tem. [Está] previsto lá no artigo 101 da Constituição os requisitos pra que vocês se tornem ministros, totalmente esvaziados, totalmente inócuos. Totalmente oligofrênicos, ignóbeis. É o que vocês são. Principalmente você, Fachin. Você integra, tipo assim, a nata da bosta do STF, certo?

E o que acontece é que vocês pretendem permanecer sempre intocáveis. O Villas Bôas disse isso mesmo tudo Fachin. Deixa eu te ensinar isso aqui, e debato com você ao vivo a hora que você quiser. Sobre arcabouço jurídico, filosofia do Direito. Podemos debater tranquilamente sem os seus 200 assessores que, inclusive, tem juizes aí na sua assessoria, sem eles, sem papelzinho na mesa, assim, tête-à-tête. Eu poderia debater com você, Alexandre de Moraes. Tranquilamente. Daí, o único que respeito em conhecimento é o [ministro Luiz] Fux. Único que respeito em conhecimento jurídico de fato e debateria com qualquer um de vocês, sem problema. Não iria dar uma surra de jurídico ou intelectual. Agora, que você tem que tomar vergonha na sua cara, olhar, quando você for tomar banho, olhar o bilauzinho que você tem e falar: ‘Pô, eu acho que sou um homenzinho. Eu vou parar com as minhas bobeirinhas’. Ah, o quê? Eu estou sendo duro demais? Tô sendo o quê, ogro? Ah, tô sendo tosco? O que que você espera? Que eu seja o quê? Que eu tenha um tipo de comportamento adequado para tratar a Vossa Excelência? É claro que eu não vou ter. Eu sei que você está vendo esse vídeo aí, daqui a pouco seus assessores, e o Alexandre de Moraes, e [Dias] Toffoli. Mas eu estou ó [bate com as mãos] cagando e andando para vocês.

O que quero saber é quando que vocês vão lá prender o general Villas Bôas. Eu queria saber o que que você [Fachin] vai fazer com os generais? Os homenzinhos de botão dourado, lembra? Você lembra do AI-5 [Ato Institucional nº 5]. Você lembra. Para. Eu sei que você lembra. Ato Institucional número 5, de um total de 17 atos institucionais. Você lembra. Você era militante lá do PT, partido comunista. Você era da aliança comunista do Brasil. Militante idiotizado, lobotomizado, que atacava militares junto com a Dilma [Rousseff], aquela ladra, vagabunda. Com o multicriminoso Luiz Inácio Lula da Silva, de 9 dedos, vagabundo, cretino, canalha. O que acontece, Fachin, é que todo mundo já está cansado dessa sua cara de filho da puta que tu tem. Essa cara de vagabundo, né. Decidindo aqui no Rio de Janeiro que polícia não pode operar enquanto o crime vai se expandindo cada vez mais. Me desculpe, ministro, se estou um pouquinho alterado. Realmente eu tô. Por várias e várias vezes já te imaginei tomando uma surra. Ô… quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa Corte. Quantas vezes eu imaginei você, na rua, levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não. Eu só imaginei. Ainda que eu premeditasse, ainda assim não seria crime. Você sabe que não seria crime. Você é um jurista pífio, mas sabe que esse mínimo é previsível.

Então, qualquer cidadão que conjecturar uma surra bem dada nessa sua cara com um gato morto até ele miar, de preferência, após cada refeição, não é crime. Você vê, o Oswaldo Eustáquio, jornalista que vocês chamam de blogueiro, foi preso pelo ‘Xandão do PCC’. Está aí preso ilegalmente. Eu tive acesso ao diário dele. Sabia, Alexandre de Moraes, que eu tive acesso ao diário dele manuscrito na prisão, dos agentes que o torturaram? Sabia que eu sei? Sabia que eu sei que um [agente] chegou no ouvido dele e falou assim: ‘A nossa missão é eliminar você’. Sabia que eu sei? Eu sei. E eu sei de onde partiram essas ordens. Acha que eu tô blefando? Por que, Alexandre, você ficou putinho porque mandou a Polícia Federal na minha casa uma vez e não achou nada, na minha quebra de sigilo bancário e telemático? É claro que tu não vai achar, idiota, eu não sou da tua laia, eu não sou da tua trupe. Dessa bosta de gangue que tu integra. Não. Aqui você não vai encontrar nada. No máximo, uns trocadinhos. Dinheiro pouco a gente tem muito. É assim que a gente fala. Agora, ilegal a gente não vai ter nada. Será que você permitiria a sua quebra de sigilo telemático? A sua quebra de sigilo bancário? Será que você permitiria a Polícia Federal investigar você e outros 10 aí da supreminha? Você não ia permitir. Vocês não têm caráter, nem escrúpulo, nem moral para poder estar na Suprema Corte. Eu concordo, né, completamente com [o ex-ministro da Educação] Abraham Weintraub quando ele falou: ‘Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia’, aponta para trás, ‘começando pelo STF’. Ele estava certo. Ele está certo. E, com ele, pelo menos uns 80 milhões de brasileiros corroboram com esse pensamento.

Só que não, você agora ficou putinho, né. O Fachin putinho porque o Villas Bôas disse que a população deveria ser consultada. Olha, tudo que é de relevância nacional, Fachin, você sabe que… de relevância nacional e que é de importância para todo o povo existe um dispositivo chamado plebiscito. Eu sei que você sabe. É basicamente isso o que o general quis dizer. Se é de relevância e interesse nacional, convoque-se então um plebiscito. Chama a população. Chama as instituições para participarem de uma decisão que não cabe ao STF. Ao STF, pelo menos constitucionalmente, cabe a ele guardar a Constituição. Mas vocês não fazem mais isso. Você e os seus 10 abiguinhos [sic] aí, abiguinhos, não guardam a Constituição. Vocês defecam sobre a mesma Constituição, que é uma porcaria. Ela foi feita para colocar canalhas sempre na hegemonia do poder. E, claro, pessoas da sua estirpe evidentemente devem ser perpetuadas pra que protejam o arcabouço dos crimes do Brasil. E se encontram aí, na Suprema Corte.

E vocês acharam que iriam me calar. É claro que vocês pensaram. E eu tô literalmente cagando e andando para o que vocês pensam, né. É claro que vocês vão me perseguir o resto da minha vida política. Mas eu também vou perseguir vocês. Eu não tenho medo de vagabundo, não tenho medo de traficante, não tenho medo de assassino… vou ter medo de 11? Que não servem pra porra nenhuma nesse país? Não. Não vou ter. Só que eu sei muito bem com quem vocês andam, o que vocês fazem. Lembro, por exemplo, quando eu tive aqui meu celular, meu outro celular apreendido, né. E eu deixei levar porque eu queria que os meus apoiadores vissem que eu não tenho nada a dever, nada a temer, por isso, entreguei meu celular mesmo ignorando o artigo 53 da Constituição, o que dá a minha prerrogativa como parlamentar e representante do povo, de uma parte do povo. Esquerdista pra mim é tudo filho da puta. Eu não represento esses vagabundos, não. Mas a parcela que eu represento, Fachin… eu ignorei o artigo 53, a Emenda Constitucional 35 de 2001 que deixa o texto ainda mais abrangente, mais fortalecido para que eu possa representar a sociedade… eu entreguei o celular.

Levaram o celular, a Polícia Federal levou um celular e um papelzinho que tava anotado algumas falas de uma live como essa aqui. Talvez, alguém me pergunta eu vou ali e anoto um ponto pra poder lembrar e naquele dia eu tinha falado. Aí, Fachin, quando foram levar o meu celular, poderia. Podia, na verdade. Ninguém falou nada. Ninguém mandou um ofício dizendo ‘não, é relacionado ao mandato [de deputado federal]‘. Mas quando foram apreender o do [senador] José Serra, rapidamente, quase que num estalar de dedos, Toffoli foi lá e de ofício [disse] ‘não pode apreender o celular do José Serra, não pode apreender o notebook do José Serra. São relacionados ao mandato’. Dois pesos e duas medidas não dá, né, chefe?

Você vai lá e coloca que um pode e outro não pode. Acontece que no meu celular não teria o conluio do crime com vocês. No do José Serra, ia ser muita coisa, né? A Polícia Federal ia ficar em um impasse gigantesco. Ia ter a prova, a materialidade dos crimes que vocês cometem e vocês teriam que aprovar ou não essa investigação. A Polícia Federal ia ter que agir, não ia? É claro que vocês não querem ficar nas mãos de delegados federais. É claro que vocês não vão querer ter que dividir a parcelinha de vocês com mais alguém. Vocês não vão querer fazer a rachadinha de vocês. Porque vocês querem tudo. São goelões. Vocês não querem colocar o copinho na bica e pegar um pouquinho não. Vocês querem tudo para vocês.

E me desculpe, Fachin, se eu estou zangado ou se eu estou alterado ou se eu falei alguma coisa que te ofendeu. Mas foda-se, né? Foda-se, né, porque vocês merecem ouvir. Vocês não esperavam que pessoas como eu fossem eleitas. Que iríamos ter pelo sufrágio universal a representatividade popular. E vocês esperavam que qualquer um que entrasse iria se seduzir pelo poder também e ficar na mãozinha de vocês porque vocês iriam julgar alguém que está cometendo algum crime. Não. Comigo vocês sentaram e sentaram do meio pra trás. E tem mais alguns lá assim também. Pode ter certeza.

Agora, quando você entra politizando tudo, quando o Bolsonaro decide uma coisa você vai lá [e diz] ‘não, isso não pode’, você desrespeita a tripartição dos Poderes. A tripartição do Estado. Você vai lá e interfere, né. Comete uma ingerência na decisão do presidente, por exemplo, e pensa que pode ficar por isso mesmo. Aí quando um general das Forças Armadas, do Exército para ser preciso, faz um tuíte, fala sobre alguma coisa, né, a conversa com o general, o livro que você tá falando, conversa com comandante, salvo engano [livro do general Villas Bôas], e você [Fachin] fica nervosinho, é porque ele tem as razões dele.

Lá em 64 –na verdade em 35, quando eles perceberam a manobra comunista de vagabundos da sua estirpe– em 64, então foi dado o contragolpe militar, é que teve lá, até os 17 atos institucionais, o AI-5 que é o mais duro de todos como vocês insistem em dizer, aquele que cassou 3 ministros da Suprema Corte, você lembra? Cassou senadores, deputados federais, estaduais, foi uma depuração. Com recadinho muito claro: se fizer besteirinha, a gente volta. Mas o povo, àquela época ignorante, acreditando na Rede Globo, disse: ‘Queremos democracia, presidencialismo, Estados Unidos, somos iguais, não sei o quê…’. E os ditadores que vocês chamam entregaram, então, o poder ao povo. Que ditadura é essa, né? Que ao invés de combater a resistência com ferro e fogo, não, ‘eu entrego o poder de volta’. Aí vocês rapidamente, né, Assembleia Nacional Constituinte, nova Constituição, 85, depois 88, fecha, sacramenta, se blinda e aí crescem um bando de vagabundos no poder que se eternizam. Dança das cadeiras. ‘Eu vou pro TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Agora não, eu sou do STF. Agora, eu vou presidir. Quem preside esse ano? A cada 2 anos’… sempre será no TSE o presidente um ministro do STF. Ou seja, perpetuação do poder. E a fraude nas urnas? Não vai estar sempre na nossa cúpula, sempre iremos dominar. Está sempre, tá tudo tranquilo, tá tudo favorável. É sempre o toma lá, toma lá. Não é nem toma lá, dá cá.

Realmente, vocês são impressionantes. Fachin, um conselho para você: vai lá e prende o Villas Bôas, rapidão, só pra gente ver um negocinho. Se tu não tem coragem, porque tu não tem, tu não tem culhão roxo pra isso. Principalmente o Barroso, aí que não tem mesmo. Na verdade ele gosta do culhão roxo. Gilmar Mendes… isso aqui é só [gesticula com os dedos]… Barroso o que que ele gosta? Culhão roxo. Mas não tem culhão roxo. Fachin, covarde. E Gilmar Mendes… é isso que tu gosta, né, Gilmarzão? A gente sabe.

Mas, enfim. Eu sei que vocês querem armar uma pra mim para poder falar ‘o que que esse cara falou aí no vídeo sobre mim. Desrespeitou a Suprema Corte’. Suprema Corte é o cacete. Na minha opinião, vocês já deveriam ter sido destituídos do posto de vocês e uma nova nomeação convocada e feita de 11 novos ministros. Vocês nunca mereceram estar aí. E vários que já passaram também não mereciam. Vocês são intragáveis, tá certo? Inaceitável. Intolerável, Fachin? Não é nenhum tipo de pressão sobre o Judiciário não. Porque o Judiciário tem feito uma sucessão de merda no Brasil. Uma sucessão de merda. E quando chega em cima, na Suprema Corte, vocês terminam de cagar a porra toda. É isso que vocês fazem. Vocês endossam a merda.

Então, como já dizia lá Ruy Barbosa, a pior ditadura é a do Judiciário, pois contra ela não há a quem recorrer. E, infelizmente, infelizmente, é verdade. Vide MP [Ministério Público]. Uma sucessão de merda. Um bando de militante totalmente lobotomizado fazendo um monte de merda. Esquecendo da prerrogativa parlamentar indo atrás da [deputada] Cris Tonietto porque ela falou a respeito de militantes LGBTs, sensualizando crianças, defendendo a ideologia de gênero nas escolas, na verdade, o sexo nas escolas com ideologia. E quando ela fala ela está respaldada, e eu falo por aqui o que eu aqui, e eu estou falando com base na liberdade de expressão que o cretino do Alexandre de Moraes, lá atrás, quando ele foi passar pela sabatina do Senado, falou mais de 17 vezes em menos de 1 minuto de vídeo, ‘liberdade de expressão, liberdade de expressão’ o tempo todo, tá, que está no artigo 5º, que é cláusula pétrea. A chamada cláusula de pedra. Salvo engano, inciso 9º ou inciso 16. Um é pra liberdade de expressão e um pra liberdade de manifestação. Aí, e também falo com base no artigo 53, garantia constitucional. Eu acho que vocês não mereciam estar aí. E, por mim, claro, claro, que se vocês forem retirados daí, seja por nova nomeação, seja pela aposentadoria, seja por pressão popular, ou seja lá o que for. Claro que vocês serão presos, porque vocês serão investigados, então vocês não terão mais essa prerrogativa. Seria um pouco diferente.

Mas eu sei que tem muita gente aí na mão de vocês e vocês na mão de muita gente. Lá no Senado tem muito senador na mãozinha de vocês. E vocês estão nas mãos de muitos senadores. Por isso vocês ficam brigando quando vai ser um presidente ou outro, vocês querem fazer ingerência da Câmara e do Senado. ‘Quem vai ser? Será que vão pautar nosso impeachment?’. Eu só quero 1 ministro cassado. Tudo que eu quero. Um ministro cassado. Para os outros 10 idiotas pensarem ‘pô, não sou mais intocável. É melhor eu fazer o que eu tenho que fazer’. Julgar aquilo que é constitucional, de competência da Corte.

Fachin, intolerável, inaceitável, é termos você no STF. No mais, Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Força e honra”.

Não satisfeito com a montanha de merda que já havia erguido, o desinfeliz, ao ser preso, achou de mandar “um recado” ao supremo togado dona da calva mais luzidia do planeta: Leia a transcrição do que disse o congressista:

“Ministro, eu quero que você saiba que você está entrando numa queda de braço que você não pode vencer. Não adianta você tentar me calar. Eu já fui preso mais de 90 vezes na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Fiquei em lugares que você nem imaginava. Você nem imagina o que eu já enfrentei, ministro.

Tu acha que vai mandar me prender, passando por cima da minha prerrogativa constitucional? Você acha que vai me assustar e me calar? Claro que não. Na verdade isso só vai me motivar. Isso é um combustível. Um aditivo para eu continuar a provar para o povo brasileiro quem são vocês que ocupam o cargo de ministro do STF.

Tenha a certeza que, a partir daqui, o jogo evoluiu um pouquinho. Eu vou dedicar cada minuto do meu mandato a mostrar quem é Alexandre de Moraes. A mostra quem é Fachin, quem é Marco Aurelio Mello, quem é Toffoli, quem é Lewandowski. Eu vou colocar um por um de vocês em seus devidos lugares. As pessoas que estão aqui me assistindo agora ou vão me assistir, eu não me importo nenhum pouco. Pelo meu país eu estou disposto a matar, morrer, ser preso. Tanto faz. Você não é capaz de me assustar.

A Câmara vai decidir sobre minha prisão ou não. Eu tenho a prerrogativa. Você acabou de rasgar a Constituição mais uma vez. Estou passando aqui para todo mundo, para que as pessoas saibam o que está acontecendo, para que eu mostre quem é o inimigo do Brasil. No mais, vou lá dormir na Polícia Federal. E vamos ver o que é que dá daqui para frente, “Xandão”. Vamos ver quem é quem. Se é você ou se sou eu junto com o povo.”

Depois, em outra mensagem no Twitter, o deputado fez uma provocação a supostos “esquerdistas” que estariam comemorando sua prisão. Disse que vai só “dormir fora de casa”.

“Aos esquerdistas que estão comemorando, relaxem, tenho imunidade material. Só vou dormir fora de casa e provar para o Brasil quem são os ministros dessa Suprema Corte. Ser ‘preso’ sob estas circunstâncias é motivo de orgulho”, publicou. 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

E DÁ-LHE RIVOTRIL!

Bolsonaro, calado, é um poeta. O problema é que ele não se cala e, quando fala, espalha fezes, como bem observou o senador Omar Aziz. Como até os ponteiros de um relógio parado marcam a hora certa duas vezes por dia, ele acertou em cheio quando disse que “não há nada tão ruim que não possa piorar”. 

A afirmação, feita em setembro do ano passado, referia-se à disparada do dólar e da cotação do petróleo. O Messias não deixou claro se aludia ao contexto atual da economia ou a governos passados, mas a frase definiu de forma irreprochável sua pavorosa gestão. 


Marx disse que a história se repete: da primeira vez, um fato aconteceria como tragédia; da segunda, como farsa. O filósofo alemão se referia ao golpe de Estado que alçou Napoleão III ao trono da França — uma “farsa” que copiava uma “tragédia”, qual seja o golpe de 18 de Brumário


Na política, a história também se repete, às vezes sem farsa, mas sempre como tragédia. Prova disso são a eleição presidencial de 2018 e a que deve acontecer daqui cinco meses.

 

Entre as muitas promessas que o candidato Bolsonaro fez e que o presidente Bolsonaro descumpriu está o fim da instituição da reeleição. Pior: em 3 anos e 4 meses de desgoverno, o capitão jamais desceu do palanque — talvez seja por isso que não teve tempo de governar, mas essa é outra conversa. A questão é que ele e seus sectários delirantes insistem ad nauseam que não houve um único caso de corrupção no governo. Só não dizem em que país. 

 

Indícios de corrupção brotaram e continuam a brotar como ervas daninhas desde janeiro de 2019, mas não há quem os investigue — noves fora a imprensa, naturalmente, daí o ódio figadal que o presidente nutre pelos jornalistas. E não é só ele: desde sua soltura, em novembro do ano retrasado (o que por si só já foi um descalabro), Lula já falou pelo menos 9 vezes em regular os meios de comunicação. 

 

Costuma-se dizer que Deus é brasileiro. Se isso estiver correto, o imprevisto há de ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos e nem Lula nem Bolsonaro voltarão a conspurcar o instituto da Presidência. Do contrário, esta republiqueta de bananas jamais deixará de ser o país do futuro que com um imenso passado inglório pela frente.


No governo que “não tem um caso sequer de corrupção” há um presidente que, quando candidato, prometeu travar uma cruzada contra os corruptos e pôr fim à nefasta política do toma-lá-dá-cá não para de estampar as manchetes com atos no mínimo insólitos. Cito um exemplo recente: após picanha, Forças Armadas aprovam compra de remédio para disfunção erétil. Será que os militares vão usar o “azulzinho” para foder ainda mais o povo brasileiro? 


Já não basta um presidente da Câmara que escamoteia 143 pedidos de impeachment? Um Procurador-Geral que não acha nada porque não se dá ao trabalho de procurar? Um relatório de CPI que atribuiu mais 9 crimes (entre comuns e de responsabilidade) ao chefe do Executivo, mas permanece engavetado? Um mandatário que flerta com o autogolpe como nenhum outro jamais ousou; que apoia (e estimula) manifestações antidemocráticas; que chama ministros do STF de canalha e de filho da puta; que é alvo de quase uma dezena de investigações (que se arrastam a passo de lesma pelos escaninhos do Judiciário) e tem quatro dos cinco filhos igualmente investigados? (Na semana passada foi a vez Jair Renan — que sequer tem mandato — depor na PF do DF).

 

Mesmo diante de inúmeras evidências de um dos maiores escândalos do atual governo, a AGU solicitou ao TSE o arquivamento de um pedido de investigação contra Bolsonaro pelo favorecimento de pastores na distribuição de verbas do MEC. A justificativa é que “houve somente uma menção indevida ao presidente”, e que não há elementos que justifiquem a abertura de investigação na Justiça Eleitoral. Numa entrevista a um grupo de comunicação do Pará, o capitão disse que a Polícia Federal não precisa se preocupar com seu governo, pois ninguém faz nada de errado. Informou que o toma-lá-dá-cá de recursos públicos e cargos na administração federal acalma os parlamentares. 


O doutor de fancaria distribui cargos e emendas e faz vistas grossas para denúncias de pessoas que atuam em seu nome e demonstram pouca atenção republicana com o dinheiro público. Segundo ele, é a receita que acalma. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira  que, calmíssimo, divide com Arthur Lira o comando do país e a distribuição de medicação aos parlamentares aparece no noticiário como beneficiário de recursos na forma de uma rede de escolas fantasmas


Além de funcionários fantasmas nos gabinetes parlamentares, há também escolas fantasmas. Sabe-se assim que o loteamento do MEC fornece óbolos não apenas a pastores, mas também a gente igualmente próxima ao ex-capitão e ao timoneiro da sua estratégia de sobrevivência política. Todos calmíssimos, naturalmente.

 

Aumentos sucessivos no preço dos combustíveis levaram Bolsonaro a promover a terceira troca de comando na Petrobras. Na avaliação do "mito", era preciso procurar alguém “mais profissional” para presidir a empresa. Faz sentido. Aliás, há muito que os brasileiros deveriam ter procurado alguém “mais profissional” para presidir o país. O que aí está tranquiliza os seus, e não apenas com a distribuição de cargos e verbas. Faz de conta que não existe um orçamento secreto de bilhões de reais, veta de mentirinha um fundo eleitoral de R$ 5 bilhões (para que o Congresso rejeite o veto) e fecha os olhos para denúncias de malfeitos dos seus próximos.

 

De um lado, um Arthur Lira artífice do grande caixa da campanha eleitoral, de outro, um Ciro Nogueira filtro dos repasses das verbas públicas oficiais e, completando a trinca, um Valdemar da Costa Neto, ex-presidiário condenado por corrupção, organizando as "chapas". São quatro no jogo e, nas laterais, jogando junto, filhos numerados e adesistas com patente militar. O aparelhamento dos órgãos de controle do Estado (PGR, PF, COAF etc.), ora transformados em assessorias do presidente da República, não teria sido suficiente para amansar os parlamentares. 

 

A tentativa de Lira de mudar regras de governança da Petrobras para que lobistas pudessem entrar pela porta da frente e mandar na empresa é uma demonstração de que, na prateleira dos medicamentos da estratégia governamental, a cura para o stress tem uma receita: uma dose de orçamento secreto, mais uma injeção de cargos bem pagos e uma colher de chá da Polícia Federal, com um banho de imersão na sonolência induzida da Procuradoria Geral da República


Se a cloroquina não funciona para tratar Covid, quem sabe o Rivotril do receituário do capitão seja eficaz para narcotizar a opinião pública e levá-la a aceitar bovinamente os desmandos, a corrupção, a incompetência e a balbúrdia que abundam neste desgoverno.

 

O conceito de um governo é o resultado da análise de tudo o que sobra para ser desenterrado muitos anos depois. No futuro, quando a arqueologia fizer suas escavações à procura de sinais que ajudem a entender a decadência do governo Bolsonaro, encontrará em meio aos escombros de 2022 evidências de que o cinismo foi o mais perto da honestidade que o atual presidente conseguiu chegar. 

 

Com Olga Curado e Josias de Souza

terça-feira, 6 de setembro de 2022

INCOMPETÊNCIA OU MORTE

 

Depois de visitar o "PR" com Walter Delgatti — o Vermelho, réu na Justiça Federal por invadir celulares de centenas de personagens públicos —, a deputada bolsonarista Carla Zambelli publicou no Twitter uma foto ao lado do marginal e escreveu: "Muita gente deve realmente ficar de cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito. Em breve novidades"Em contatos informais com a imprensa, a assessoria de Bolsonaro disse o presidente foi “pego de surpresa”, que recusou qualquer serviço do hacker e que repreendeu a deputada. Mas tudo de maneira extraoficial, sem qualquer reprimenda pública. Considerando quão verdadeiros costumam ser os pronunciamentos do presidente, o episódio foi mais uma amostra do que se deve esperar da campanha eleitoral nas próximas semanas (a quem interessar possa, recomendo ler a matéria que Cláudio Dantas e Wilson Lima publicaram na revista eletrônica Crusoé sob o sugestivo título "A campanha da sujeira"). 


Observação: Desde julho, o TSE já mandou excluir da internet ao menos 17 conteúdos irregulares a partir de pedidos de presidenciáveis ou de seus aliados, numa média de uma publicação a cada três dias, informa O GloboNo total, o tribunal recebeu, desde o início do ano, 124 ações por propaganda irregular relacionadas aos candidatos ao Planalto, que incluem de remoção de vídeos com discursos ofensivos e fake news. Mais de um terço delas (37%) foi rejeitada. Os partidos da coligação de Lula foram responsáveis pela metade das ações no TSE (62). No entanto, somente 9 foram aceitas totalmente ou parcialmente até agora. A equipe de Bolsonaro, por sua vez, entrou com 17 pedidos. Dois deles foram aceitos.


 

De acordo com a Justiça Eleitoral, mais de 156 milhões de brasileiros estão aptos a votar. A julgar pelo resultado das últimas eleições, a maioria dessas pessoas não deveria participar sequer de uma eleição para síndico de condomínio. 

Sérgio Moro e João Doria poderiam ter rompido a abjeta polarização, mas foram excluídos do pleito. Ciro Gomes e Simone Tebet dificilmente mudarão o quadro, mas poderão ao menos levar a disputa entre Lula e Bolsonaro ao segundo turno. Ao fim e ao cabo, será eleito o candidato que mentir mais e melhor.
 
Pleitos plebiscitários forçam a minoria esclarecida a optar pelo candidato "menos pior". Foi assim em 2018 e será assim neste ano, a menos que o imprevisto (ou o TSE) tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. Lula continuará mentindo que foi absolvido em todas as instâncias da justiça brasileira e inocentado pela ONU, e falando como se as urnas fossem a máquina do tempo que levará o país de volta para 2002.  Já o "mito" dos patetas anda pra lá e pra cá com um pedaço de defunto, discursa como se falasse para a plateia de 2018 (que não existe mais) e prepara um comício golpista para o feriado da Independência. 
 
As eleições deveriam ser a "festa da democracia", e o bicentenário da Independência, um momento de grandes eventos culturais. Sob Bolsonaro, não se sabe quanto desta quarta-feira será comício e quanto será tentativa de golpe. No ano passado, depois de chamar o ministro Barroso de filho da puta, o chefe do Executivo Federal disse que deixaria de cumprir decisões do ministro "canalha" Alexandre de Moraes. No último sábado, voltou à carga pela enésima vez,  chamando o magistrado de "vagabundo". Se as pesquisas o favorecerem, Bolsonaro desistirá do golpe e se concentrará em ganhar a eleição, caso contrário, só lhe restará o tapetão. Como a diferença ainda não é instransponível, fica a dúvida, pois não é fácil dar um golpe de Estado e tocar uma campanha eleitoral ao mesmo tempo. 
 
Se a prioridade for a reeleição, o sociopata continuará fazendo o que fez na "sabatina" do Jornal Nacional, ou seja, mentindo descaradamente sobre coisas que interessam à população — como emprego, comida e vacina. No caso do golpe, as mentiras deverão acirrar o ódio de seus seguidores mais radicais e prometer sofrimento a inimigos reais ou imaginários. Mentir é a única opção porque, se falar a verdade, Bolsonaro terá de admitir que o inimigo da liberdade é ele. Se fosse sincero, seu discurso de 7 de Setembro terminaria com o grito: "Incompetência e morte!".

ObservaçãoUma semana depois da notícia sobre a aquisição de 51 imóveis em dinheiro vivo pelo clã Bolsonaro, o presidente continua devendo explicações convincentes aos brasileiros. Em entrevistas à Jovem Pan e à Rede TV, ele atribuiu parte das transações ao ex-marido da irmã. "O que eu tenho a ver com ex-cunhado? Não vejo esse cara há um tempão", disse. Mas o levantamento feito pela reportagem do UOL apontou que somente oito dos 51 imóveis pagos em dinheiro foram comprados por essa ramificação da família. Mesmo que fossem excluídos da soma final, ainda restariam 43 imóveis negociados com dinheiro em espécie por integrantes do clã. Nas entrevistas concedidas aos dois veículos que têm por norma apoiá-lo, o presidente sentiu-se à vontade para atacar o UOL. Em um momento de vidência, previu que "vão fazer busca e apreensão" na casa de seus parentes. Disse que isso seria estratégia para desgastá-lo. Em tom de bravata, pediu: "Vem pra cima de mim". No único esboço de explicação sobre o seu patrimônio, Bolsonaro disse que o ex-PGR Rodrigo Janot atestou em 2015 que dois de seus imóveis no Rio foram comprados legalmente. Falta explicar a compra de 49. O Brasil continua aguardando justificativas convincentes para tantas transações em dinheiro vivo. Para alguém que a toda hora repete que conhecer a verdade é uma experiência libertadora, isso deveria ser uma prioridade.
 
Tão impensável quanto conceder um segundo mandato ao capetão é devolver o picareta dos picaretas ao Planalto, pois o país continuaria prisioneiro de velhas pautas e velhos ódios. No livro “O Ressentimento na História”, Marc Ferro ensina que "a revivescência da ferida passada é mais forte do que toda vontade de esquecimento; a existência do ressentimento mostra o quanto é artificial o corte entre passado e presente — um vive no outro, o passado tornando-se presente, mais presente que o presente.”
 
Se a pré-candidatura de Moro tivesse prosperado, ficaria mais difícil para o PT apresentar uma realidade alternativa aos eleitores — Bolsonaro poderia cumprir esse papel, mas tem um telhado de vidro de dimensões latifundiárias. Mas nada garante que Moro na Presidência seria a solução, pois ele enfrentaria enorme resistência no meio político — que o detesta —, e o país já problemas demais para se dar ao luxo de mais 4 anos de paralisia.
 
Com Celso Rocha Barros, Chico Alves Carlos Graieb

sexta-feira, 1 de abril de 2022

O MEC, AS IDAS E VINDAS DE DORIA E DE MORO E O FANTASMA DO GOLPE



 

Em 1986, quando acompanhou o então presidente Sarney numa visita oficial a Portugal, o saudoso deputado Ulysses Guimarães comentou com os anfitriões que o direito ao voto no Brasil havia sido estendido aos analfabetos, e ouviu de um interlocutor que "em Portugal não havia analfabetos".


A despeito do Mobral, do Projeto Minerva e de outros programas que tais, a educação nunca foi prioridade para o governo brasileiro. Até porque povo politizado reivindica e não vota em populistas demagogos. O MEC sempre teve mais serventia como moeda de troca e cabide de emprego do que qualquer outra coisa. Para a população, que é quem paga a conta, a pasta é tão “útil” quando o ministério da marinha do Paraguai


A descoberta de que pastores comandavam um balcão de verbas derrubou o ministro-pastor Milton Ribeiro e levou o presidente fazer por pressão o que deixou de fazer por obrigação. Resta saber quem vencerá o cabo de guerra que tem como prêmio o orçamento bilionário do ministério ora acéfalo. Tanto o Centrão quanto a Bancada Evangélica estão de olho na cadeira ocupada interinamente por Vitor Godoy Veiga. 

 

Mudando de um ponto a outro: João Doria desistiu de concorrer à Presidência. A princípio, ele não ia sequer disputar a reeleição para o governo de São Paulo, segundo foi veiculado na manhã de ontem. O Estadão disse ainda que o tucano deixaria o PSDB e que Garcia, surpreendido pela notícia, pediu demissão da Secretaria de Governo.

 

Comenta-se nos bastidores que a decisão foi uma jogada do governador para tentar obter apoio público do partido e de aliados à sua candidatura presidencial. Apesar de ter ganhado as prévias tucanas para ser o candidato à presidência, Doria sofria com a falta de apoio dentro do ninho, onde a ala encabeçada por Aécio Neves vem manifestando apoio a Eduardo Leite — que renunciou ao governo gaúcho na última segunda-feira e anunciou que não deixará o partido


No Brasil, os políticos não confirmam sentados o que disseram em pé. Demais disso, nunca se mente tanto quanto antes de uma guerra, durante eleições e depois de uma pescaria. Doria ficou de falar à imprensa no final da tarde (de ontem) e, como diz o bordão da BandNews, em um segundo tudo pode mudar. 


AtualizaçãoApós carta da direção do PSDB, o governador de São Paulo voltou atrás e manteve a ideia original de renunciar ao cargo para ser candidato à Presidência da República este ano. O anúncio oficial foi feito às 16h de ontem. Por outro lado, lideranças do Podemos acusaram Sergio Moro de trair a sigla ao migrar para o União Brasil depois de ser pressionado a trocar seu domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo. Mais um pré-candidato à presidência que abandona a “duvidosa terceira via” pela “quase certeza de sucesso” na disputa por uma cadeira no Senado ou na Câmara Federal. Ou não (clique aqui para mais detalhes). Resta saber se Doria vai mesmo continuar no páreo e quais serão as consequências da desistência de Moro (caso ela se confirme) na campanha do tucano.


Também nesta quinta-feira 9 ministros do governo Bolsonaro se desincompatibilizam do cargo em busca de novos pastos — no Senado, na Câmara ou num governo estadual. Seria uma ótima notícia se a escolha dos substitutos não ficasse à cargo do mandatário de fancaria: quando o problema é o burro, de nada adianta trocar as rodas da carroça.


Mas isso é do mais o menos. Preocupante mesmo é a recaída de Bolsonaro, que voltou a ameaçar o Judiciário quanto ao resultado das eleições no mesmo dia que a alta cúpula dos fardados publicou nota chamando o golpe de 1964 de "marco histórico da evolução política brasileira".

 

Em seus últimos discursos, o presidente vem dando a impressão de que deve aproveitar a reforma ministerial para ampliar sua influência no comando do Exército — aos desavisados, vale lembrar que estamos em ano eleitoral, que o capitão concorrerá à reeleição e que todas as pesquisas dão como favas contadas a vitória do ex-presidiário de Curitiba —, o que explica a promoção do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual comandante do Exército, para o cargo de ministro da Defesa. Basta ler as entrelinhas para perceber que o fantasma do golpe volta a nos assombrar qual egum mal despachado.

 

Bolsonaro é useiro e vezeiro em defender o voto impresso, inventar mentiras sobre as urnas que o elegeram para sucessivos mandatos, insinuar que as FFAA colecionam indícios de suposta vulnerabilidade do sistema eleitoral e atacar ministros que do STF e do TSE — tendo inclusive chamado publicamente Luís Roberto Barroso de filho da puta e Alexandre de Moraes de canalha — isso não é “liberdade de expressão”, mas sim “avacalhação”. 

 

Quem dá asas a cobra arrisca-se a ver o ofídio voar. Nenhum presidente da “Nova República” vituperou tanto a democracia e flertou tanto com o golpe como Bolsonaro. Em qualquer democracia que se desse minimamente ao respeito, os discursos do último Sete de Setembro resultariam no afastamento do cargo e abertura de inquérito. Curiosamente, os ataques do capitão não produziram maiores consequências para além de escancarar suas reais intenções — ou alguém ainda acredita que haverá transição pacífica de poder se Bolsonaro permanecer no cargo até 1º de janeiro do ano que vem? 

 

Observação: O ministro Luiz Fux fez um dos discursos mais incisivos da história do STF, mas que deveria ter sido feito em 2019, quando o presidente participou de manifestações antidemocráticas na porta do QG do Exército. 

 

"Nós defendemos a liberdade [...] até com o sacrifício da própria vida", bradou Bolsonaro, na última quarta-feira, uma claque de potiguares convertidos. Quem o ouvia pensava que o regime estivesse prestes a entrar em colapso. Não se sabe que surpresas o mandrião palaciano prepara para o final do ano, mas é impossível deixar de notar que há um quê de Donald Trump em sua retórica. 

 

Nos Estados Unidos, a insurreição que se seguiu à derrota eleitoral de Trump durou seis horas e produziu mortes e vexames. Hoje, despacha na Casa Branca o rival Joe Biden. Bolsonaro talvez aproveitasse melhor o seu tempo concentrando-se nos planos para virar votos, não a mesa.


Para concluir: Diogo Mainardi postou n'O AntagonistaO bolsonarismo comemora uma quartelada bananeira de seis décadas atrás. O país do futuro não tem um futuro, só tem um passado – e ele é medonho. De fato, para se livrar de Jair Bolsonaro, que se inspira nos crimes da ditadura, o eleitorado está disposto a votar em Lula, que evoca o movimento contra a ditadura, de quatro décadas atrás, enquanto apaga os crimes da Odebrecht. O tempo não passa – nem no Piaget. Vamos continuar ocultando cadáveres pelas próximas seis décadas.