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sexta-feira, 3 de março de 2023

UTILIDADE PÚBLICA

As vacinas contra a Covid criadas desde 2021 eram monovalentes, mas as mais recentes podem tanto substituir a terceira ou quarta dose para quem está atrasado como servir como dose de reforço para quem está com o esquema vacinal em dia. O intervalo para a aplicação é de quatro meses contados a partir da última dose. 

De acordo com o cronograma de entregas da Pfizer, 38 milhões de doses da vacina já foram enviadas ao Brasil, e mais 10 milhões devem chegar até junho. A vacinação será escalonada em etapas, de acordo com o envio das doses aos estados e com o recebimento das novas levas. 

O ministério divulgou no último final de semana um informe técnico com previsão de datas para as cinco etapas, mas estados e cidades podem implementar seus próprios calendários, de modo que é importante checar os dias exatos e os grupos divulgados pelas secretarias estaduais e municipais. 

Segundo a estimativa do ministério:
  • Fase 1 (27/02): Pessoas acima de 70 anos; pacientes imunocomprometidos a partir de 12 anos; pessoas vivendo em instituições de longa permanência (ILP) e comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas;
  • Fase 2 (06/03): Pessoas de 60 a 69 anos;
  • Fase 3 (20/03): Gestantes e puérperas;
  • Fase 4 (17/04): Trabalhadores da saúde;
  • Fase 5 (17/04): Pessoas com deficiência permanente a partir de 12 anos, pessoas privadas de liberdade e adolescentes cumprindo medidas socioeducativas.
Em alguns países, a bivalente é indicada à população geral, mas não há planos para que pessoas de fora dos grupos de risco recebam indicação para a nova dose no Brasil. No entanto, a população em geral também é alvo da nova campanha devido às baixas coberturas com a terceira e a quarta doses (são cerca de 60 milhões de brasileiros sem o primeiro reforço).
 
O ministério adverte que as pessoas que não vão receber a bivalente — como crianças, jovens e a maior parte dos adultos — precisam estar com os reforços previstos para cada faixa etária atualizados. Hoje, mais de 90% das vítimas fatais da Covid são pessoas que não estão adequadamente vacinadas com todas as doses indicadas do imunizante original. 

Ainda não foi decidido se as pessoas que não receberão a bivalente serão convocadas para uma eventual quinta dose do imunizante monovalente, bem como se a vacinação será anual, como a da gripe, já que isso depende da evolução do vírus.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A INVASÃO DA UCRÂNIA E O CARMA DO CARNAVAL

Ricardo Boechat dizia que se pode morrer de várias maneiras no jornalismo, menos de tédio. Na madrugada da última quinta-feira, sua tese foi comprovada mais uma vez pela invasão da Ucrânia. 

Conflitos como esse, sabemos como começam, mas não como nem quando terminam. E o mesmo se aplica a suas consequências. Como ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz), o problema com as consequências é que elas vêm sempre depois.

Contrariando a opinião de um sem-número de analistas de internacional, Putin não estava blefando. E a escalada de suas ameaças levava mesmo a crer que a invasão eram favas contadas. Infelizmente, as consequências do desatino transcendem o leste europeu, mas ainda é cedo para avaliar o tamanho da caca e como ela afetará a economia mundial (no mercado financeiro, os índices despencaram, inclusive no Brasil, onde o dólar voltou a subir, pondo fim a uma alvissareira sequência de quedas).

Assinado em 2014, o Acordo de Minsk visava pôr fim aos conflitos armados no leste da Ucrânia com o cessar-fogo imediato entre as regiões envolvidas na guerra civil, mas nunca foi implementado completamente, e a tensão aumentou com as movimentações militares da OTAN e da Rússia nas proximidades de Donbass

Na última terça-feira (22), após o reconhecimento da independência da DPR e da LPR, Putin disse que o acordo estava morto. Na madrugada de anteontem, a despeito das lamentáveis (e lamentavelmente recorrentes) desgraceiras que a mídia canta em verso e prosa dia sim e outro também, a cobertura da guerra no leste europeu varreu da pauta assuntos que vinham ocupando o noticiário nos últimos dias, como a variante ômicron, o preço dos combustíveis e outras mazelas nacionais, entre as quais o fato de 2022 ser o segundo ano consecutivo sem carnaval no país do carnaval.

No que tange ao “Reinado de Momo”, foi durante o carnaval 2019 que um comentário infeliz de Bolsonaro trouxe à baila, com pompa e circunstância, a expressão “Golden Shower”. Mas essa não foi a primeira nem (muito menos) a última estultice do dublê de mau militar e parlamentar medíocre que elegemos para evitar que o país fosse presidido pelo fantoche do então presidiário mais famoso de Pindorama (que hoje posa de “ex-corrupto” e detém a preferência de nosso esclarecidíssimo eleitorado).

Bolsonaro tomou posse em meio à novela do caso Queiroz, mas o rompimento da barragem do Córrego de Feijão desviou o foco da mídia da maracutaia. Seguiram-se o incêndio no Ninho do Urubu, a exoneração de Gustavo Bebianno, a denúncia de estupro apresentada por Najila Trindade contra Neymar Cai-Cai, a Vaza-Jato de Verdevaldo das Couves e a malograda indicação de Eduardo Bananinha para ocupar a Embaixada do Brasil nos EUA

Em seus primeiros três meses de governo, o capitão esteve na Suíça, nos Estados Unidos, no Chile e em Israel, deu uma passadinha rápida em casa (no Rio), e outra no Hospital Sírio Libanês (em São Paulo). Em Brasília, foi ao cinema com a primeira-dama e a ministra-pastora Damares Alves em plena manhã de terça-feira (26 de março, que não era feriado no DF), em meio à articulação da reforma da Previdência (que acabaria sendo aprovada apesar dele).

Poderíamos continuar indefinidamente a relembrar pronunciamentos infelizes do sultão do bananistão — a quem o senador Omar Aziz, então presidente da CPI do Genocídio, referiu-se como “"aquele carioca que tira proveito de funcionários do próprio gabinete" e que "só abre a boca para espalhar fezes" —, mas não faz sentido abusar da paciência do leitor. Passando ao carnaval, os primeiros casos de Covid-19 — que logo se multiplicariam e resultariam na maior pandemia sanitária depois da Gripe Espanhola — foram descobertos no apagar das luzes do primeiro ano do desditoso mandato do capitão cloroquina, e a identificação do primeiro caso em terra brasilis, já em 2020, aconteceu dias antes do início do Reinado de Momo

Devido à magnitude da pandemia, "não houve carnaval" em 2021. No ano em curso, os foliões também não sairão às ruas, mas a data servirá de referência para situar no tempo a invasão da Ucrânia pela Rússia. Resta saber o que nos reserva o próximo Reinado de Momo, que se dará 52 dias depois da posse do próximo presidente desta banânia. 

Pelo andar da carruagem, talvez seja melhor nem fazer previsões.

***

Dias atrás, em mais um périplo internacional bancado pelos contribuintes, Bolsonaro fez uma inoportuna e contraproducente visita dois populistas autoritários. O objetivo, evidentemente, era conseguir imagens para usar em sua campanha pela reeleição. 

Para ser recebido pelo colega russo, nosso mandatário submeteu-se a um distanciamento vigiado e realizou testes em série contra Covid. Na fala de abertura que antecedeu sua conversa com Putin, declarou-se solidário com a Rússia. Na sequência, ofereceu farto material para memes nas redes sociais afirmando que, “coincidência ou não”, Putin reduziu a presença militar na fronteira com a Ucrânia depois da conversa que eles tiveram.

O ex-presidente norte-americano Donald Trump disse condenar a ação de Putin, mas classificou-a de "genial". "O que deu errado foi uma eleição fraudada e o que deu errado é um candidato que não deveria estar lá e um homem que não tem noção do que está fazendo" , disse o egun mal despachado, referindo-se a seu sucessor na Casa Branca. “Se eu estivesse no cargo, isso seria impensável. Isso nunca teria acontecido”. Biden, por sua vez, anunciou "sanções muito mais duras" do que as estabelecidas em 2014, depois da anexação da Crimeia.

Itamaraty afirmou por meio de nota que “o governo brasileiro tem acompanhado com grande preocupação os ataques da Rússia na Ucrânia” e que “apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”. 

Bolsonaro não deu um pio sobre a guerra na manhã de ontem, quando conversou com apoiadores no chiqueirinho defronte ao Alvorada, nem horas mais tarde, no município paulista de São José do Rio Preto, onde participou de um passeio de moto e discursou por 20 minutos. Diante do silêncio do titular (que, calado, é um poeta), o vice disse aos jornalistas que o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano”.

Pelo visto, Mourão e o chefe não rezam pela mesma cartilha também nessa questão. Ou então “faltou combinar com os russos”. 

Enfim, é Carnaval.

terça-feira, 13 de julho de 2021

O PASTEL, OS TRÊS PATETAS E O MACACO GUARIBA


Em abril do ano passado, questionado sobre o aumento no número de mortes por Covid, Bolsonaro disse que não era coveiro. Sete meses depois, reclamou que sua vida estava uma desgraça, chamou a imprensa de "urubus" e queixou-se de não ter paz sequer para comer um pastel ou tomar um guaraná na rua. Ele mal sabia o que estava por vir. 

A situação do presidente se complica à medida que a CPI revolve as entranhas pútridas do governo federal. Saltam aos olhos evidências robustas de que o negacionismo, o descaso e a incompetência do governo federal foram em grande medida responsáveis pela morte de mais 530 mil pessoas no Brasil. Soterrado pelas evidências de corrupção, o capitão tenta negar o inegável e defender o indefensável com narrativas que não convenceriam nem a Velhinha de Taubaté.

Observação: Velhinha de Taubaté, criada por Luis Fernando Veríssimo durante a ditadura militar, ficou famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo. Ela “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada com o cenário político tupiniquim, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

O senador Omar Aziz disse ontem que o silêncio do presidente no caso Covaxin deixa claro o cometimento de crime de responsabilidade. Ou coisa ainda pior. 

A senadora Simone Tebet, que extraiu do deputado Luis Miranda o nome do líder do governo na Câmara e expôs alterações grosseiras em no documento que o coronel Élcio Franco e o ministro Onyx Lorenzoni apresentaram para rebater as acusações de irregularidades, entende que existem elementos mais que suficientes para embasar um pedido de impeachment. Ela reconhece que ainda não há os 342 votos necessários na Câmara, mas acredita que o quadro venha a mudar nas próximas semanas.

Bolsonaro escreveu ao primeiro-ministro da Índia manifestando interesse na Covaxin, embora tenha insinuado que a vacina da Pfizer transformaria as pessoas em jacarésdesqualificado a CoronaVac — que apresenta eficácia de 78% na prevenção de casos leves e 100% para casos moderados e graves de Covid

Observação: As taxas de eficácia da "vachina do Dória" são semelhantes às verificadas em vacinas que já fazem parte do Plano Nacional de Imunização, como a da gripe. Demais disso, a vacinação contra a Covid no Brasil começou logo após a Anvisa aprovar o uso emergencial desse imunizante, que é responsável por 52,7% das doses distribuídas pelo país — a AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, responde por 43,4% e a Pfizer, por 3,9%.

Bolsonaro disse ontem que a acusação de propina na compra de vacinas não se sustenta, e tornou a recorrer a uma justificativa inconsistente para se defender das denúncias. No sábado, ele apagou um vídeo que havia postado como sendo da motociata em Porto Alegre — que na verdade era do evento realizado em São Paulo no dia12 de junho — e voltou a atacar a CPI, referindo-se à cúpula da Comissão como "os três patetas".

Em resposta, o senador Omar Aziz comparou o presidente ao macaco guariba, que defeca pela boca, e minimizou a abertura de inquérito para apurar possível prevaricação no caso Covaxin: "Não foi a Polícia Federal que abriu absolutamente nada. Ela foi determinada a abrir pela PGR, que, por sua vez, foi determinada pelo Supremo. Não tem muito o que investigar, o próprio presidente admitiu que recebe muitas denúncias, mas não tem como encaminhá-las. Tem tempo pra andar de moto, mas não tem tempo para fazer o que deveria fazer. Ele é um bom motoqueiro e um péssimo presidente".

ObservaçãoA Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a suspeita de prevaricação do presidente. A investigação foi aberta a pedido da PGR, e autorizada pelo STF. De acordo com a decisão da ministra Rosa Weber, o prazo para conclusão das investigações é de 90 dias, mas pode ser prorrogado. O reverendo Amilton Gomes de Paula enviou nesta um atestado informando à CPI da impossibilidade de comparecer ao depoimento agendado para amanhã. O presidente da comissão disse ao Estadão que o dito-cujo afirmou ter problemas renais e que a solicitação está sendo analisada por uma junta médica do Senado.

Aziz afirmou à CNN que o presidente do senado lerá hoje o requerimento que sacramenta a prorrogação da CPI por até mais 90 dias, e que a comissão pretende seguir mais uma semana focada na apuração de possíveis irregularidades na compra de vacinas pelo governo federal.

Com Bolsonaro acuado, surge a discussão: pedir o impeachment ou deixá-lo sangrar? O impedimento é um instrumento que agrega forças e produz um desgaste constante, ensina Fernando Gabeira. Há quem afirme que ele fortalece o governante que o supera no Parlamento, mas não foi isso que aconteceu com Trump. Quando se está num movimento descendente, quase tudo empurra para baixo.

Os áudios divulgados pelo UOL mostram que Bolsonaro também contratava parentes para receber parte de seu salário. Tudo indica que o chefe do clã foi pioneiro no uso da técnica que ensinou posteriormente aos filhos parlamentares. Se ele não participou de grandes esquemas de corrupção ao longo de sua longa carreira, foi porque criou sua própria fonte de financiamento, destinada a manter campanhas e aumentar o patrimônio pessoal.

O povo nas ruas e o aumento da rejeição o "mito" apontam para um novo cenário cujos contornos exatos ainda não estão desenhados. Chega-se a um momento em que a habilidade da oposição se torna o fator decisivo, pois só uma sucessão de erros gigantescos pode tornar Bolsonaro viável nas eleições de 22. Ao menos essa é a leitura que o momento permite.

Com alguma sorte (mais nossa do que dele), Bolsonaro poderá voltar em breve a comer pastel e tomar guaraná na rua. Mas sua vida política será uma desgraça. 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

ENTRE GOLPES, IMPEACHMENTS, VAMPIROS E CORUJAS EMPALHADAS

 

Na postagem de sexta-feira eu comentei que Doria havia programado para o dia do aniversário da cidade de São Paulo — segunda-feira passada — um evento destinado a promover a CoronaVac e incentivar a população a se imunizar. 

O governador convidou todos os ex-presidentes que ainda caminham entre os vivos, mas apenas o macróbios compareceram — Fernando Henrique (89), de corpo presente; José Sarney (90 anos), e Michel Temer (80) remotamente. Os menos vetustos Collor (71), Lula (75) e Dilma (73) declinaram do convite.

Segundo José Simão, Sarney parecia uma coruja empalhada que escapou da gripe espanhola. Como é imortal, o eterno donatário da Capitania do Maranhão não precisa se imunizar — a vacina dele é a “FormolVac”, produzida no Egito. Temer, que é vampirão, não quer vacina, quer sangue — a vacina dele é a SangueVacDoria mandou um recado ao capitão-cloroquina pronunciando cada palavra com que em Caps Lock: BOLSONARO, EU SALVO VIDAS. A vacina do tucano, segundo Simão, é a CashmereVac.


Mudando de assunto, a última pesquisa Datafolha atestou que 40% dos brasileiros consideram Bolsonaro ruim ou péssimo (ante 32% no mês passado). Com isso, o capitão-cloroquina passa a ser dono da segunda pior avaliação entre todos os presidentes eleitos desde a redemocratização, atrás apenas de Collor (48%). 

Perguntados sobre o impeachment, 53% do entrevistados disseram-se contrários à abertura do processo, mas os resultados de uma enquete promovida pelo Atlas Político (que deu uma surra nos demais institutos de pesquisa no ano passado) apontam outro cenário: 53,% da população tupiniquim são a favor do impeachment e 41,5% contra.

Em meio à polarização político-ideológica que assola o país, pesquisas, avaliações, opiniões e previsões devem ser recebidas com alguma reserva. O fanatismo emburrece e a burrice cega, levando as pessoas a acreditar no que querem e ver as coisas como gostariam que fossem. Os devotos de S. Lula, o podre, acreditarão ad aeternum na inocência do picareta, a despeito de ele ter sido condenado em dois processos (em três e duas instâncias, respectivamente) e ser réu em mais meia dúzia de ações criminais.

Voltando ao morubixaba de turno, a atuação desastrosa do governo no enfrentamento da pandemia pode ter consequências. Lideranças do Congresso, ex-presidentes da República e até ministros do STF vêm discutindo nos bastidores o impedimento do alienado (ou a cassação da chapa pela qual ele e Mourão se elegeram, o que mataria dois coelhos com um paulada só). 

O movimento pró-impeachment surgiu primeiro em partidos de esquerda e na sociedade civil, mas logo se espraiou, inclusive entre grupos de direita que saíram às ruas para pedir a cabeça de Dilma em 2016. A Folha listou 23 situações que podem embasar uma acusação de crime de responsabilidade contra Bolsonaro, mas Rodrigo Maia dizia ver erros, mas não crimes no procedimento do presidente, e mantinha seu avantajado buzanfã sobre cerca de 60 pedidos de abertura de processo de impeachment. 

Quando o STF decidiu que os presidentes da Câmara e do Senado não poderiam disputar um segundo mandato dentro da mesma legislatura, Maia subiu o tom nos ataques  ao capitão. A uma semana de deixar o posto, o deputado diz que a discussão sobre o impeachment será inevitável, mas achou por bem deixar o abacaxi dos pedidos de abertura processo para seu sucessor descascar. Na política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã. E vice-versa.

Bolsonaro apoia Arthur Lira para a presidência da Câmara (falaremos da capivara do deputado alagoano numa próxima postagem) e Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado (o mesmo candidato apoiado pelo PT). O Psol, “pensando no bem comum”, lançou a "empolgante" candidatura da antediluviana Luiza Erundina, reduzindo a competitividade do desnorteado e combalido movimento oposicionista que sustenta a candidatura do deputado Baleia Rossi.

A despeito de todas as peculiaridade do desgoverno em curso — que é tão nefasto quanto o de Dilma, mas temperado com pitadas de crueldade —, a cantilena dos demais Poderes continua a mesma: as instituições são sólidas, as ameaças à democracia são retóricas, não há motivos para preocupação. Ledo engano. O Supremo, sem Celso de Mello — de quem eu jamais pensei que fosse sentir falta — e com Gilmar Mendes ditando as regras e exigindo obediência dos pares, empurra com a barriga decisões que possam causar desconforto para sua alteza irreal e os príncipes merdeiros.

Bolsonaro flerta com o golpismo desde sempre, com comprova a escolha do sucessor Sergio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública — uma das personalidades mais patéticas do anedotário contemporâneo, que confunde “segurança nacional” com a “honra” de um presidente que estimula o desrespeito à ciência, menospreza a pandemia e chama o povo de maricas

O boicote do capitão-decepção à vacinação terá efeito direto na recuperação da economia. O cenário mais provável é que menos de 80 milhões de brasileiros tenham sido imunizados até o final do ano, o que aumenta as chances de novas medidas restritivas ao funcionamento das empresas e do comércio para evitar o colapso do sistema de Saúde. E o que fazem a respeito o suserano e seu vassalo? Insistem no negacionismo, receitam cloroquina e, pegos com as calças na mão e as cuecas manchadas de batom, mentem deslavadamente.

Simone Tebet, candidata à presidência do Senado, diz que ainda não há força suficiente, nas ruas ou na Câmara, para um processo essencialmente político, como é o caso do impeachment, avançar. Até mesmo opositores do presidente vão nessa mesma linha, ou acham que o Centrão vai barrar o impeachment, o que acirrará a polarização e terá consequências nefastas para o país.

Nada mais natural que a campanha pelo pé na bunda do trevoso comece pequena. A despeito do vulto das manifestações de 2013 — que eclodiram para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público, mas foram adquirindo uma pauta diversa, ganhando corpo e revelando uma insatisfação com a classe política —, Dilma, a insuperável, se reelegeu em 2014 e só foi expelida em 2016.

Há quem considere junho de 2013 um mês que não terminou, que dialoga diretamente com a crise econômica e política vivida hoje pelo país. Mas isso é outra conversa. Fato é que a campanha pelo impeachment não está tão pequena assim. Embora Bolsonaro tenha ironizado as carreatas (com um sorrisinho amarelo), dizendo que “só tinha 10 carros", protestos semelhantes ocorreram país afora no sábado e no domingo (obviamente, o presidente não fez referência a eles). E carretas em dois dias seguidos, bandeiras vermelhas e verde-amarelas, gente de esquerda e de direita… e a carreata da direita saiu da Barra da Tijuca, o bairro mais bolsonarista do Rio de Janeiro, onde moram Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro...

A ideia de que o Centrão vai barrar o impeachment é um engano. Esse bloco fisiologista e venal de marafonas congressista faz o que é bom para si mesmo. Hoje, bom para o Centrão é apoiar o capitão; se amanhã o vento mudar e o impeachment pegar fogo, os ratos abanarão o navio, deixarão o capitão na mão. Nós já vimos esse filme numa versão em que Dilma foi protagonista. E ainda que o impeachment seja derrotado, a pressão servirá ao menos para manter Bolsonaro na defensiva, minimizando seu potencial de causar (ainda mais danos) ao país. 

Dito isso, “passo a palavra” a Ricardo Rangel:

Supondo que não haja impeachment até lá, enfrentaremos uma encruzilhada em 2022. Se Bolsonaro vencer, estará renovado o mandato do pior presidente da história; se perder, o caminho será o golpe — e o roteiro está à vista de todos:

1. Bolsonaro questiona constantemente, sem fundamento, a lisura do processo eleitoral. Se perder, mentirá que a vitória lhe foi roubada e convocará seus apoiadores a “resistir” e tomar o poder na marra.

2. A máquina de fake news bolsonarista faz esforço incansável para desacreditar a imprensa, de modo que o eleitorado duvide quando ela denunciar que Bolsonaro mente.

3. Bolsonaro luta para controlar o Congresso em busca de meios com que barrar os esforços para impedir o golpe vindouro.

4. O presidente fez um “liberou geral” para a compra de armas: de 2019 para 2020, a venda mais do que dobrou. Quem está comprando não são cidadãos moderados e cumpridores da lei: é a extrema direita apoiadora de Bolsonaro.

5. Bolsonaro seduz constantemente as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros (dos quais vêm as milícias, que o presidente sempre defendeu), onde conta com forte apoio, inclusive nas patentes mais altas. Apoia um projeto de lei para reduzir o controle dos governadores sobre as PMs e criar para elas patentes de oficiais generais: se aprovada, tal lei dará aos comandantes grande autonomia, ao mesmo tempo que fará com que sintam gratidão eterna a Bolsonaro. No ano passado, ele estimulou o motim da PM no Ceará.

6. O presidente seduz também as Forças Armadas (onde não tem tanto prestígio): se conseguir uma quebra na hierarquia suficiente para que o Exército não reprima motins das PMs, isso basta.

É sedutora a tese de que nossas instituições são fortes, de que uma tentativa de golpe não terá sucesso, de que Bolsonaro não seria louco de tentar uma loucura dessas. Sedutora e equivocada. Nossas instituições são menos fortes do que gostamos de imaginar: ao contrário dos EUA, que barrou o golpe de Trump, nossa tradição não é liberal e democrática, mas corrupta e autoritária. E, mesmo que seja uma loucura, isso não significa que Bolsonaro — homem despótico, desprovido de senso crítico e com traços de paranoia — não vá tentar o golpe. Até porque sua alternativa é voltar para a planície e assistir placidamente à evolução de processos penais contra seus filhos e, possivelmente, contra ele mesmo.

Se tentar o golpe, mesmo que fracasse, Bolsonaro causará enorme dano ao país. É preciso impedi-lo, e a hora de se mexer é já. O Congresso deve eleger presidentes da Câmara e do Senado sem vínculo com Bolsonaro, repudiar a lei das PMs, criar legislação contra fake news (não é simples, admita-se) e restringir o comércio de armas. PF e Exército devem unificar e melhorar o controle de armas. O Supremo deve concluir o inquérito das fake news e punir os responsáveis. O TSE deve publicar o algoritmo das urnas eletrônicas. Governadores e comandantes das Forças Armadas devem purgar bolsonaristas radicais das tropas. 

Não tomar tais providências é cortejar o desastre no ano que vem.

domingo, 20 de dezembro de 2020

MAIA DÁ NOMES AOS BOIS, MAS NÃO PÕE ORDEM NO CURRAL

 

Em 2018, para impedir que o criminoso Lula guindasse sua quadrilha de volta ao poder, elegemos um parlamentar medíocre, inclusive mau militar — como o General Ernesto Geisel classificou o capitão da reserva Jair Messias Bolsonaro, que foi expelido da caserna por indisciplina e insubordinação

Durante a campanha, visando aliciar os mercados e obter o apoio do empresariado, o então candidato convidou Paulo Guedes para comandar a Economia (e assim o superministro embarcou numa canoa que deveria saber furada). 

Para endossar a promessa de promover a maior cruzada contra a corrupção da história e conquistar a confiança de quem estava até os tampos com a roubalheira de Lula, do PT e de seus satélites, o capitão-honestidade, adepto desde sempre das práticas da baixa política e amigo de milicianos, convidou o ícone da Lava-Jato para comandar a pasta da Justiça (e assim Sérgio Moro embarcou numa canoa que deveria saber furada). 

E para rebater a acusação de que acabaria com os programas assistencialistas, prometeu criar o abono natalino para o Bolsa Família, que qualificou de “uma grande conquista dessas pessoas que tanto necessitam e ficaram esquecidas por muito tempo” (o respectivo ato normativo foi assinado em 11 de abril de 2019).

Acabou que a pandemia da “gripezinha” superou a expectativa do presidente, tanto em número de vítimas fatais (que, segundo o vaticínio do capitão-oráculo, seria inferior ao da gripe H1N1) quanto em gastos (noves fora a roubalheira; de acordo com o TCUR$ 54,7 bilhões desceram pelo ralo da corrupção via fraudes envolvendo o Auxílio Emergencial). Assim, o país se viu na situação da maioria dos trabalhadores tupiniquins — que, quanto tem emprego, vê sobrar mês no fim do salário). Em outras palavras, a festa acabou, a fonte secou e a popularidade caiu (notadamente entre os mais pobres, sobretudo nos estados do norte e nordeste, para os quais os R$ 600 mensais do Corona-Voucher, que deixa de ser pago este mês, equivalia a quatro meses de Bolsa Família).

Para não arcar com o ônus, o capitão-conversinha fez o de sempre, ou seja, culpou a vítima da vez. Aliás, da mesma forma como Lula nunca via nada, nunca sabia de nada, Bolsonaro nunca tem culpa de nada: se não deu certo, foi porque o Congresso atrapalhou, se não funcionou, foi porque o STF não deixou... e por aí vai. No caso em tela, o “culpado” de turno foi Rodrigo Maia. Em sua live da última quinta-feira, disse sua excelência: "Sabia que não teve (13° para o Bolsa Família) nesse ano? Foi promessa minha? Foi. Foi pago ano passado? Foi. Mas, o presidente da Câmara deixou caducar a MP. Vai cobrar de mim? Cobra do presidente da Câmara". A questão é que a MP não foi votada por causa de uma articulação do próprio governo, que custaria R$ 8 bilhões aos cofres públicos.

No dia seguinte, assim se manifestou Paulo Guedes: “Sou obrigado, contra minha vontade, a recomendar que não pode ser dado o 13.º do Bolsa Família. É lamentável, mas precisa escolher entre um crime de responsabilidade (13.º) e a lei.” O ministro explicou ainda que a exceção dada pelo Congresso por meio do orçamento de guerra, que livrou o governo de amarras fiscais e da necessidade de compensações, vale apenas para gastos relacionados à pandemia, o que não é o caso do 13.º do Bolsa Família. “Acabou esse espaço fiscal”, disse.

A fala do Posto Ipiranga foi endossada pelo líder do governo na Câmara. Ricardo Barros foi a plenário e confirmou que a MP não foi votada a pedido do governo. “Não havia recursos para isso, e portanto, o Ministério da Economia pediu que essa medida não fosse votada”, disse, pedindo ainda que a MP da prorrogação não fosse colocada em votação porque seu efeito já havia sido cumprido, o que o presidente da Casa acatou.

Na tarde de sexta-feira, foi a vez de Rodrigo Maia usar a tribuna para contra-atacar, acusando Bolsonaro de participar de uma articulação para desmoralizar adversários: Mais um episódio ocorrido ontem quando, infelizmente, o presidente da República mentiu em relação a minha pessoa. Aliás, muita coincidência, a narrativa que ele usou ontem e a narrativa que os ‘bolsomínions’ usam há um ano comigo, em relação as MPs [Medidas Provisórias] que perdem a validade nessa Casa, é a mesma narrativa. É uma articulação conjunta para desqualificar e desmoralizar a imagem dos adversários do Presidente da República”.

Maia, que depois de seu discurso recebeu apoio de diversos líderes, inclusive da oposição, disse ainda que Bolsonaro foge das suas responsabilidades como presidente e que o país só não tem um novo programa social, ou um fortalecimento do Bolsa Família, por responsabilidade do presidente. “Se o presidente da República tivesse tido coragem, podíamos estar discutindo o 13º do Bolsa Família aqui hoje, podíamos estar discutindo a expansão do auxílio emergencial aqui hoje. Se hoje o governo não consegue promover uma melhora no Bolsa Família para esses milhões de brasileiros que ficarão sem nada a partir de 1º de janeiro, a responsabilidade é exclusiva dele (do presidente).”

Maia afirmou ainda que o Congresso assumiu a liderança durante a pandemia, aprovando medidas, porque o governo, movido pelo negacionismo do presidente e pela inação de Guedes, que passou mês no Rio de Janeiro, não fez absolutamente nada. “Garantimos o país funcionando porque o negacionismo do governo e a depressão do ministro da Economia fizeram com que o Parlamento assumisse esse papel”, disse o presidente da Câmara, que tenta articular um nome para contrapor ao líder do PP, Arthur Lira, apoiado por Bolsonaro. Um dos motivos do apoio do presidente a Lira, já declarado por várias vezes, é a promessa de que o deputado irá levar adiante medidas barradas por Maia, como a ampliação do porte de arma.

Estarei onde sempre estive: do lado da democracia, contra a agenda de costumes que divide o Brasil, que radicaliza o Brasil, que gera ódio entre as pessoas. E como essa é a agenda do presidente, eu continuarei sendo um leal adversário do presidente da República naquilo que é ruim para o Brasil e serei um aliado do governo, e não do presidente da República, nas pautas que modernizam o Estado brasileiro”, encerrou Maia.

Veja a íntegra do discurso:

O SR. RODRIGO MAIA (DEM – RJ. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Eu vou aproveitar o pedido da Líder Deputada Sâmia Bomfim e do Líder Deputado Ricardo Barros e o episódio – mais um episódio – ocorrido no dia de ontem, Líder Deputado Aluisio, quando infelizmente o Presidente da República mentiu em relação a minha pessoa.

Aliás, é muita coincidência a narrativa que ele usou ontem com a narrativa que os “bolsominions” usam há um ano comigo em relação às medidas provisórias que perdem validade nesta Casa. É a mesma narrativa! A narrativa que eu deixei caducar a medida provisória do 13.º não vem de hoje. Peguem as redes sociais dos extremistas “bolsominions” que vocês vão ver lá: “Rodrigo Maia derruba e caduca medida provisória do 13.º do Bolsa Família e do BPC”. Então, há uma articulação conjunta para desqualificar e desmoralizar a imagem dos adversários do Presidente da República.

Mas hoje, o próprio Ministro Paulo Guedes confirmou que o Presidente é mentiroso, quando disse que de fato não há recursos para o 13.º do Bolsa Família.

Então, eu acho que essas coisas para um País com a dificuldade que estamos passando, com a dificuldade que vamos passar a partir de 1º de janeiro com o fim da PEC da Guerra, que todos os partidos aqui votaram, do PSOL ao PSL, todos colaboraram e deram as condições para o Governo governar o nosso País, eu acho que nós deveríamos estar mais preocupados em sentar em uma mesa dialogando sobre o nosso futuro do que tentar transferir responsabilidade para os outros.

Quando você disputa um eleição para ser Presidente do Brasil, você assume a responsabilidade de dar um norte para o nosso País. Infelizmente não é o que tem acontecido nos últimos 2 anos.

Digo mais, se o Presidente da República tivesse tido coragem, nós podíamos estar discutindo, sim, o 13.º do Bolsa Família aqui hoje, podíamos estar discutindo a expansão do Auxílio Emergencial aqui hoje.

É claro que a visão da esquerda em relação a esse caminho é diferente da nossa visão, que somos liberais na economia, mas, mesmo no nosso campo, fizemos muitas propostas. Muitos economistas considerados liberais e um grupo grande de economistas de São Paulo fizeram uma proposta para a expansão do Auxílio Emergencial ou ampliação e fortalecimento do Bolsa Família, que não seria muito diferente. Claro que do nosso campo, com restrições nas despesas públicas, respeitado o Teto de Gastos.

Hoje aqui não estamos discutindo o novo programa social para o Brasil, porque o Presidente da República proibiu o Senador Marcio Bittar — ou pelo menos o indicou. Claro que ele não pode proibir um Senador de nada —, mas indicou o Senador da PEC Emergencial, que aliás foi prometida por este Governo para ser votada em 05 de dezembro do ano passado, mas o Presidente pediu que nada de gatilho fosse votado.

Nós que temos uma visão liberal na economia tentamos trazer os gatilhos para dentro do projeto de lei, que votamos anteriormente, o PL 101, mas o Governo não consegui as condições. O Deputado Ricardo Barros tentou, mas não conseguiu.

Então, se hoje o Presidente não consegue promover uma melhora ou uma expansão do Bolsa Família para esses milhões de brasileiros que ficarão sem nada, a partir de 1º janeiro, a responsabilidade é exclusiva dele, que tem um governo que é liberal na economia, mas não tem coragem de implementar essa política dentro do Governo e principalmente no Parlamento.

Eu escrevi um artigo longo, de uma página quase inteira, no jornal Folha de S. Paulo, em setembro, quando eu dizia que para criar um programa social — isso respeitando a posição daqueles que acham que o Teto de Gasto está errado, que essas restrições estão erradas. Eu acho que são visões distintas para se chegar ao mesmo objetivo, que era um auxílio mais amplo, a partir de 1º de janeiro. Eu escrevi um longo artigo falando sobre o Teto de Gastos e de onde poderiam vir os recursos para a ampliação do Bolsa Família e para a modernização do Cadastro Único, que não pode ser encerrado. Ele tem que ser modernizado, utilizado de forma de melhor qualidade por parte do Governo.

Eu escrevi coisas que, talvez em setembro, com uma eleição no Rio de Janeiro, com o DEM disputando a Prefeitura, com o meu pai disputando uma eleição para Vereador, talvez não fosse o melhor momento para eu dizer que precisaríamos desindexar as aposentadorias, precisaríamos acabar com o abono salarial, precisaríamos acabar com o seguro defeso, precisaríamos também acabar com a indexação de outros contratos do Governo, com alguns auxílios que os servidores e os militares recebem. Talvez em setembro não fosse um momento adequado. Talvez o adequado, se eu quisesse usar politicamente a Presidência da Câmara, era ter votado a Medida Provisória nº 1.000, faltando uma semana para a eleição.

Nós saberíamos… Nós sabemos qual seria o resultado dessa votação. Nós sabemos qual seria o resultado dessa votação. Eu, por responsabilidade da minha visão de Brasil e de gasto público, concordando com a visão do Governo de que a medida provisória já fez seus efeitos e entendendo que o Governo não teve a coragem de jogar a PEC Emergencial do Senado, no plenário, para que fosse aprovada, e nem de utilizar a nossa, do Deputado Pedro Paulo, que está aprovada desde dezembro do ano passado na CCJ e que vai na mesma linha, entendo que infelizmente o Governo não tem condições de tratar da ampliação de nenhum gasto público, senão estará cometendo crime, já que, a partir do próximo ano, a LRF, a regra de ouro e o próprio teto de gastos voltam a funcionar da mesma forma que antes da PEC de Guerra, que todos nós aqui, de forma quase unânime, aprovamos para o bem do Brasil.

Então, eu quero deixar esse registro. É óbvio que nós queremos construir as condições para… não vou dizer para o 13.º do Bolsa Família, porque acho que essa não é a melhor palavra. Seria uma melhoria da transferência de renda para as atuais famílias e para novas famílias que, por essa crise, vão precisar dos recursos, até porque nós sabemos que o crescimento de 4% no próximo ano, Deputado Aluisio, diante de uma queda de 4,5% a 5% nesse ano, equivale a quase zero de crescimento, é apenas o efeito estatístico.

Portanto, o que nós deveríamos fazer — e foi o que eu propus, mas infelizmente não vai acontecer, porque o Senado também não quer — era não termos recesso, nem a Câmara nem o Senado nem o Judiciário, para que, juntamente com o Poder Executivo, com o fim do estado de calamidade, com o fim da PEC de Gerra, nós pudéssemos em janeiro trabalhar na construção de um programa social dentro da realidade do Brasil, de um orçamento primário na ordem de 1 trilhão e 485 bilhões, que é o orçamento primário que o Brasil tem, lembrando que 1 trilhão e 410 bilhões são despesas correntes. Há um espaço muito pequeno para que se possa mexer com investimento e ampliação de gastos públicos.

Eu fiz questão de fazer esse registro, Líder Molon, porque não vieram de hoje as agressões convergentes do Presidente e de seus aliados radicais nas redes sociais contra a minha pessoa, porque o Presidente não gosta de adversários que jogam de forma aberta e transparente. Ele prefere os aliados — ele vai conhecer, um dia, alguns — que estão sempre jogando pelas costas, e, quando podem, nós sabemos o que fazem com os Governos. Então, eu fiz questão de fazer esse registro.

Ontem, de fato, eu fiquei muito irritado, porque eu nunca poderia imaginar que, em um País como o Brasil, um Presidente da República pudesse, de forma mentirosa, tentar comprometer a imagem do Presidente da Câmara ou de qualquer cidadão brasileiro. E, sem falsa modéstia, foi a Câmara dos Deputados que comandou o País no ano passado, quando o Bolsonaro ficava nos ameaçando nessas redes sociais dele. Na pandemia, quando o Ministro da Economia ficou 1 mês no Rio de Janeiro, o Presidente ficou negando a pandemia e o Ministro da Economia disse que com 5 bilhões de reais ele aniquilava o Coronavírus — revista Veja, entrevista do mês de março —, fomos nós, unidos, e o Senado que construímos os caminhos.

Construímos o auxílio emergencial; construímos a PEC de Guerra, com data para acabar, diferentemente das outras crises; construímos as soluções das medidas provisórias de crédito, porque o Governo mandou medidas fracas, com textos ruins, que só foram executadas depois da aprovação do Congresso; aprovamos recursos para a cultura, para o esporte, para os profissionais de saúde, para as comunidades indígenas; garantimos que o País funcionasse, porque o negacionismo do Governo e a depressão do Ministro da Economia fizeram com que o Parlamento assumisse esse papel.

Esse foi o motivo de, no meio da pandemia, ele ter vindo com tantas agressões.

Eu poderia agora — e tenho muitos pedidos no meu WhatsApp — anunciar aqui que colocaríamos em votação a Medida Provisória nº 1.000, mas, como disse o Líder do Governo, não há interesse, por parte da base do Governo e do próprio Governo, em votar essa matéria porque ela já fez os seus efeitos. No entanto, eu precisava fazer o meu discurso para resguardar a imagem desta Casa e da minha Presidência porque amanhã a narrativa vai deixar de ser o 13.º do Bolsa Família e vai passar a ser outra e o Presidente pode vir a dizer que nós é que acabamos com o auxílio emergencial porque não votamos a medida provisória.

Então, foi muito importante o Governo entrar em obstrução contra a Medida Provisória nº 1.000 — isso foi muito importante, isso está registrado na imprensa, está registrado em plenário — porque nós queremos, tenho certeza, e estamos dispostos ainda a trabalhar no mês de janeiro e a construir caminhos para que 8, 10, 12 milhões de brasileiros possam ser incluídos no Bolsa Família de forma a respeitar o Orçamento primário. É claro que aqui temos visões diferentes de como chegar a isso, mas, no campo liberal da economia, ainda queremos e estamos dispostos — e sei que o plenário inteiro está, até para discutir as matérias — a discutir esses caminhos.

E os nossos caminhos passam pela PEC Emergencial, pela reforma tributária, pela discussão da reforma administrativa, mas não para perseguir servidor, e sim para valorizá-lo, para valorizar a qualidade do serviço público. É disso que estamos tratando. É claro que alguns olham apenas cortes, cortes, cortes, mas não adianta cortar se não dermos condições para que o servidor atenda bem ao cidadão brasileiro.

Eu fiz questão de fazer este registro — sei que ele está sendo longo, que não é a primeira vez e tenho certeza de que não será o último — porque continuarei no mesmo lugar que sempre estive: ao lado da democracia e contra a agenda de costumes, que divide o Brasil, que radicaliza o Brasil, que gera ódio entre as pessoas. Como essa é a agenda do Presidente, continuarei sendo um leal adversário do Presidente da República naquilo que é ruim para o Brasil, mas serei um aliado do Governo, e não do Presidente, nas pautas que modernizem o Estado brasileiro, respeitando o limite de gastos, já que a nossa carga tributária é muito alta e a população não merece mais uma vez pagar a conta da incompetência e da falta de coragem do Governo em enfrentar aquilo que prometeu que é a reestruturação das despesas públicas, começando pela PEC Emergencial.

Muito obrigado pela atenção. Fica aqui o meu registro na tarde de hoje. (Palmas.)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

CADA CIRCO TEM O PALHAÇO QUE MERECE


Tudo somado e subtraído, quase nada se aproveitou da pantomima falaciosa (mas pomposamente batizada de Apresentação Oficial do Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19) que foi encenada na última quarta-feira, no salão nobre do Palácio do Planalto, para apresentar um plano vacinal feito nas coxas por um general estrategista delirante que acontece de ser ministro da Saúde de um presidente a quem Pedro Bial qualificou de "acéfalo", "desgovernante" e "inominado". 

Bolsonaro se disse "honrado" em receber os governadores e afirmou que alguns não compareceram por "motivo de força maior". João Doria foi um deles. A título de justificativa, o tucano informou que era seu aniversário de 63 anos e que ficaria próximo à família em São Paulo. Mas enviou o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, para representá-lo na efeméride.

Durante a solenidade, uma situação inusitada ocorreu. Ninguém estava de máscara, só o Zé Gotinha — personagem usado pelo Ministério da Saúde desde 1986 em campanhas de vacinação —, que não retribuiu a aperto de mão oferecido pelo presidente, preferindo manter distância e fazer um sinal de “positivo”. Resta saber se o ator que interpretou o mascote permanecerá no posto.

A impressão que ficou, de que nem o suserano nem o vassalo sabiam que estavam falando, só reforçou a sensação de que nenhum dos dois tem a menor ideia do que está fazendo no cargo que ocupa. Para além disso, sobraram perguntas não respondidas e respostas a indagações que não foram feitas. Mas dois pontos chamaram especialmente a atenção:

1) A “aflição” do mandatário de festim (desde o início, segundo ele) com a gravidade da pandemia:

A grande força que todos nós demonstramos agora [governo federal e governos estaduais] é a união para buscar a solução de algo que nos aflige há meses. (...) Nos afligiu desde o início [a Covid-19]", disse Bolsonaro.

2) O fato de o general-ministro da Saúde “estranhar” a ansiedade e a angústia da população em relação à vacina que pode frear uma linha de produção que vem empilhando cadáveres em escala industrial:

"Nós somos os maiores fabricantes de vacinas da América Latina. Para que essa ansiedade e essa angústia?, perguntou Pazuello.

Observação: Segundo balanço do Ministério da Saúde feito na noite da quarta-feira 16, a Covid-19 havia matado 182.799 pessoas no Brasil, sendo 964 apenas nas últimas 24 horas.

Para bom entendedor, pingo é letra. Como nem todo mundo lê entrelinhas o real significado das bolsonarices e pazuellices, dedico mais algumas linhas às falas do suserano e seu vassalo. Começo por lembrar que nenhum dos cinco presidentes-generais que governaram o país durante a ditadura teve um ministro da Saúde que não fosse médico. 

Agora, no entanto, 26 anos depois da redemocratização, o general da banda de turno, que é fã de carteirinha do regime militar, não só troca o comando da pasta duas vezes em menos de 30 dias, como o faz em meio à maior pandemia viral desde a Gripe Espanhola (1918-1920) para empossar um taifeiro triestrelado que se sujeita, sem o menor constrangimento constrangimento, ao aviltante papel de mamulengo.

Em sua participação no jornal da Gazeta da última quarta-feira, Josias de Souza resumiu magistralmente esse deplorável espetáculo circense:

Brasília esteve mais surrealista do que o habitual nas últimas horas. Atingiu-se o ápice da incongruência na cerimônia de anúncio de um hipotético plano federal de vacinação contra a Covid, no Palácio do Planalto. Surgiu em cena um presidente que fala em "união", "entendimento" e "paz". Discursou um ministro da Saúde que questiona a "ansiedade" e a "angústia" dos brasileiros ávidos por vacinas. Ambos soaram inadequados. Jair Bolsonaro foi ofensivo. Eduardo Pazuello, desrespeitoso.

A súbita conversão do presidente à vacina ofende a inteligência alheia. No mesmo discurso em que fez pose de gestor respeitável, Bolsonaro declarou que a pandemia o "afligiu desde o início" e que "se algum de nós exagerou foi no afã de buscar solução." Faltou explicar que aflições atormentavam o presidente quando ele afirmou que a maior crise sanitária do século seria uma "gripezinha". E que solução pretendia alcançar quando declarou que o Brasil precisa "deixar de ser um país de maricas”.

A crítica do ministro da Saúde à "ansiedade" da população desrespeita os mais de 180 mil cadáveres produzidos pela Covid e seus familiares. "Somos os maiores fabricantes de vacina da América Latina", disse Pazuello. "Pra quê essa ansiedade, essa angústia?" O capitão do Planalto e o general da Saúde contraíram o coronavírus. Nenhum dos dois teve de ralar por leitos de UTI e respiradores do SUS. Bolsonaro teve a assistência ininterrupta dos médicos da Presidência. Pazuello foi internado no DF STAR, que é o hospital privado mais bem conceituado de Brasília.

Nas últimas duas semanas, o brasileiro assistiu pela TV ao início da vacinação em massa na Inglaterra e nos Estados Unidos. No Brasil, faltam seringas e vacinas. Sobra improvisação. A CoronaVac, chamada por Bolsonaro de "vacina chinesa do Doria", voltou a ser tratada como opção. Após prever que a imunização começaria em março, dezembro ou janeiro, Pazuello sustenta que, se tudo correr como planejado por ele, as primeiras doses de vacina podem ser aplicadas em fevereiro.

"Não vejo nada de errado", disse o general. "Se tivesse visto, teria corrigido." Então, tá! Resta constatar que a novela da vacina dispõe de novos personagens: um presidente pacificador e um ministro perfeito, gestor de mostruário. Agora só falta convencer o brasileiro a desempenhar nesse enredo o papel de bobo.

Que Deus nos ajude.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

BOLSONARICES E PAZUELLICES

 

Depois que o Colégio Eleitoral ratificou a vitória de Joe Biden e o líder da maioria republicana no Senado cumprimentou o democrata — a exemplo dos presidentes da Rússia e do México —, Bolsonaro (com 38 dias de atraso) finalmente se rendeu aos fatos. Na última terça-feira, durante uma entrevista que concedeu ao apresentador José Luiz Datena, disse nosso morubixaba: 

Alguns minutos antes de entrar no ar eu já dei um ‘start’ para o nosso ministro Ernesto Araújo, para ele fazer essa comunicação nossa, nas redes oficiais do governo. Depois, nas minhas redes particulares. Da minha parte, e da parte dele com toda certeza, o americano é pragmático, nós vamos fazer um trabalho de cada vez mais aproximação.” Até a noite desta terça-feira, somente ele o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, não haviam cumprimentado Joe Biden. Enfim, cada circo tem o palhaço que merece.

No Circo Marambaia tupiniquim, 211,7 milhões de palhaços continuam sem saber se, quando e como serão imunizados contra o vírus que o pior líder mundial no combate à pandemia classificou de “pequena crise” e vaticinou: “serão menos mortes que as [800] causadas pela gripe suína”. 

Clarividente, nosso “mito” vislumbrou por detrás da hecatombe sanitária supostos “interesses econômicos”. Falastrão, gabou-se: “depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, não. Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, o máximo que me aconteceria seria ser acometido de um resfriadinho”. Mais recentemente exortou seus liderados a voltar à normalidade: “O vírus está aí, vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, não como moleques”.

Perguntado sobre o número de mortos, Bolsonaro respondeu ao jornalistas: "Quem fala disso é coveiro. Eu não sou coveiro". Em outra oportunidade, brindou a imprensa com a seguinte pérola: "E daí? Quer que eu faça o quê? Todo mundo vai morrer um dia! Não podemos fugir da realidade." Mais adiante, chamou de "maricas" os brasileiros que usam máscara, fogem de aglomerações e seguem os protocolos estabelecidos por imunologistas e cientistas do mundo inteiro. Semanas atrás, do alto de seus 38% de aprovação popular, sentenciou: "Estamos vivendo o finalzinho de uma pandemia".

Não bastasse ter defenestrado um ortopedista (no dia 16 de abril) e um oncologista (em 15 de maio) do ministério da Saúde para entregar o comando da pasta a um general supostamente especializado em logística (talento que até o momento não apareceu), Bolsonaro, num surto de disputa política e de xenofobia, exigiu do taifeiro-triestrelado que cancelasse a compra da “vacina chinesa do Doria” (que é como nosso líder se refere à CoronaVac) e pressionou a Anvisa para procrastinar a aprovação do imunizante em questão. 

No lance mais recente, o presidente disse que não vai se vacinar, colocou em dúvida a segurança do processo e insinuou uma campanha para alertar a população sobre os riscos dos imunizantes. Compreende-se. Quanto menos gente quiser a vacina, menor será a pressão sobre o governo. O problema é que essas abilolices criam dúvidas onde antes havia esperança. Em agosto, 9% dos brasileiros diziam que não se vacinariam; hoje, são 22%, metade dos quais afirma que jamais tomaria uma vacina desenvolvida na China.

Sabedor de que 52% dos brasileiros ouvidos pelo Datafolha não o culpam pelas vítimas fatais da Covid-19, o presidente caga e anda para a saúde da população. Até porque essas polêmicas o mantêm sob os holofotes. A incompetência chapada e a subserviência desbragada do ministro Pa(u-mandado)zuello justifica um processo de impeachment, mas de nada adiantaria, pois o procurador-pau-mandado-geral dificilmente o levaria adiante.

Observação: Quando assumiu o ministério como interino, Eduardo Pazuello teve justamente a experiência de logística destacada por seus pares. Hoje, constrangidos com o papelão do ministro, os generais afirmam "todos na caserna são experientes em logística, mas o Pazuello não faz mais parte do time".

Ao presidente que não governa, interessa-lhe a tão ambicionada reeleição (para continuar a não governar por outros quatro anos). Desde que o inquérito que o investiga no STF (por ingerência política na PF) seja sobrestado ou arquivado, que seus filhos enrolados não se tornem réus e que o amigão que pagava suas contas não volte para a cadeia, é até bom que as pessoas morram; assim, preocupados em carpir os entes queridos, o povo não sai às ruas para pressionar Rodrigo Maia a tirar seu avantajado buzanfã de cima dos mais de 50 pedidos de despejo do inquilino de turno do Palácio do Planalto.

A despeito de culpar o coronavírus por sua inação — “o Congresso tem de focar a pandemia” —, o presidente da Câmara está preocupado em fazer seu sucessor, e talvez por isso não tenha notado, mas é justamente o não-afastamento do cusco-caguira que atravanca o combate à pandemia. Afinal, se 22% dos brasileiros não querem se vacinar, 78% querem, mas são impedidos por este governo incompetente.

Ontem, ao apesentar a penúltima versão de seu “plano de imunização”, o general-ministro Pazuello assim se pronunciou: “Precisamos produzir mais e ter capacidade para controlar a ansiedade e a angustia para passarmos esses 45, 60 dias que serão fundamentais para que se consigam os registros.”

Disse ainda o fardado que terão de assinar um termo de consentimento aqueles que quiserem tomar uma vacina “eventualmente aprovada para uso emergencial”. Na mesma entrevista, o secretário de Vigilância Sanitária e Saúde, Arnaldo Medeiros, frisou que “a primeira fase de comunicação do plano de vacinação tem o intuito de tranquilizar a população”.

Observação: Especialistas em Saúde dizem que “a necessidade de assinatura de um termo de responsabilidade pode suscitar dúvidas na população e desestimular a vacinação”. Já os juristas afirmam que a obrigatoriedade do termo é ilegal.

Na avaliação do presidente da Câmara, Pazuello vai muito mal e se perdeu na gestão da pasta: “Eu acho o ministro da Saúde um desastre. Vai ser um desastre para o país, primeiro, e para o governo. No momento da pandemia, o ministério da Saúde do jeito que está, quem vai pagar a conta primeiro é a sociedade, que é mais importante do que o governo pagar a conta.”

Maia ironizou a suposta habilidade logística do general, que, segundo ele, até agora não apresentou nada organizado, para a vacina, para nada. Nas palavras do deputado:

 “Eu acho que ele pode, sem dúvida nenhuma, além de prejudicar muito a imagem do Exército brasileiro, ele pode comprometer muito, com essa falta de organização, com essa incompetência, tanto a solução para a vacina quanto a solução para esse movimento, esse aumento no número de infectados, de mortos, que precisaria de uma articulação melhor e de melhor qualidade entre governo federal, estados e municípiosO Exército vai perder o que ganhou nos últimos anos de imagem desde a redemocratização. Pazuello é um ótimo general para fazer a logística do Exército, mas para fazer a logística do Ministério da Saúde é um desastre.”

Encerro com um texto da jornalista Vera Magalhães:

As pesquisas divulgadas no fim de semana pelo Datafolha pintam um cenário tão desanimador quanto a nossa absoluta ausência de estratégia para uma campanha de vacinação eficaz contra o novo coronavírus: elas mostram que boa parte da sociedade brasileira foi inoculada pela boçalidade de Jair Bolsonaro, e que ela se alastra por terrenos perigosos e dá a esse presidente, o pior da República, uma resiliência inacreditável num cenário de mortes e crise econômica.

O presidente, com seu comportamento indigno da cadeira que ocupa, voltou a dizer na terça-feira que não se vacinará contra o coronavírus. Como tantas vezes tem feito nos últimos dois anos, novamente se comportou como um inconsequente, ao promover aglomerações na Ceagesp e instar uma criança a tirar a máscara para ser compreendida, e mostrou o ridículo de que é feito ao se enfurnar no meio da bandinha da Polícia Militar do Estado de São Paulo, numa pose ridícula de prefeito de Sucupira.

Esse tipo de postura se impregnou em setores da sociedade de forma mais deletéria do que poderíamos imaginar antes da pandemia. No Brasil, movimentos antivacina nunca tiveram grande aderência, mas com Bolsonaro até isso vai sendo corroído.

A pesquisa Datafolha mostra que são 22% os que dizem que não pretendem se vacinar. Eram 9% em agosto! Entre os que dizem confiar em Bolsonaro, esse índice vai a 33%. E os que dizem que não aceitariam se vacinar com imunizante chinês são 47%.

É impressionante a adesão de uma parcela imensa dos brasileiros à desinformação absoluta em relação às vacinas, praticada de forma deliberada e estudada pelo presidente e por seus asseclas. Isso no momento em que o País já vive uma segunda onda de contágio pelo Sars-CoV-2 e não tem perspectiva de receber vacinas que não sejam a Coronavacproduzida pelo Butantan, pelo fato de Bolsonaro e seu ministro da Saúde, o inepto general Eduardo Pazuello, não terem feito seu trabalho.

Combinado com os outros dados da pesquisa, que mostram aprovação de 37% dos brasileiros a Bolsonaro e que 44% livram o presidente de culpa pela má condução do combate à pandemia, temos um cenário desolador em que vamos ficar no fim da fila da vacina sem que a população exija de forma altiva o seu direito a ser vacinada para que o País comece a superar a maior epidemia que o atingiu desde 1918!

Trata-se de uma corrosão muito rápida e profunda dos valores que guiam a vida em sociedade — entre os quais a constatação, que deveria ser óbvia, de que a vacinação é um direito, sim, mas também um dever de um indivíduo em relação à coletividade e à saúde pública.

A completa falta de preocupação de Bolsonaro com as mais de 181 mil mortes de brasileiros e sua incapacidade de recomendar àqueles que governa qualquer conduta que não seja individualista, egoísta e baseada numa visão estreita e mesquinha de mundo vão moldando o pensamento de uma parcela do povo brasileiro à imagem e semelhança do capitão. E sua imagem é a de alguém que banaliza a vida.

Diante de tal estado de apatia combinada com cinismo cabe como último recurso contar com o funcionamento ainda que precário das instituições. O STF terá a chance de colocar nos trilhos o Plano Nacional de Imunização indigente divulgado pelo general Pazuello, e estabelecer regras para que sim, a vacinação (quando houver vacina) seja obrigatória para matrícula e frequência em escolas, viagens de avião, inscrição em concursos, frequência em academias de ginástica etc.

Porque só esperar o bom senso dos brasileiros, como mostram as pesquisas e as cenas de aglomeração em várias cidades e as promovidas pelo presidente, não será suficiente.