quinta-feira, 11 de abril de 2024

SOBRE EMOJIS E EMOTICONS

GENTE QUE PENSA QUE SABE TUDO É UM PÉ NO SACO DE GENTE QUE SABE ALGUMA COISA.

Anunciada como alternativa para reduzir a tarifa e promover energia verde, a MP que o governo assinou na terça-feira 9 pode ser mais um tiro no pé (do consumidor). Além do texto de difícil compreensão — "é preciso uma pedra de roseta para decifrar a MP" afirmou um ex-diretor-geral da Aneel —, o alívio momentâneo (entre 3,5% e 5%, segundo o governo) vai gerar prorrogação de subsídios para empresas que não precisam e o aumento da conta de luz, a partir de 2029, em no mínimo 7%. 
Ao contrário do que o todo o setor elétrico tem defendido, Lula e seu ministro de Minas e Energia insistem em medidas isoladas e paliativas, sem ouvir a sociedade e o setor. Em vez de buscar caminhos para diminuir o preço da conta de luz dos brasileiros — uma das mais caras do mundo —, o governa cria uma despesa adicional, que fatalmente cairá no colo dos consumidores. 
Em janeiro de 2013, já de olho na reeleição, Dilma anunciou em rede nacional uma redução de 18% na conta de luz (vale a pena relembrar a íntegra do discurso da sumidade). A julgar pela MP do criador e mentor da mulher sapiens, não são só os eleitores que repetem os mesmos erros esperando resultados diferentes. Triste Brasil.

Ainda podemos digitar uma sequência de "K" (“KKKKKK”) ou de "RS" (“RSRSRSRS”), como fazíamos no tempos do ICQ e MSN Messenger, para dar a ideia de que escrevemos a mensagem em tom de brincadeira, Mas tanto as redes sociais quanto os apps mensageiros atuais suportam emoticons (combinações de caracteres de texto que formam imagens simples) e emojis (imagens coloridas e detalhadas)

Os emoticons (de "emotion + icon") surgiram nos anos 1980 e combinavam sinais gráficos  dois pontos (:), traço (-) e parêntesis — para representar rostinhos sorridentes ou amuados. Os emojis surgiram uma década depois, inspirados nos ícones que os meteorologistas usavam para indicar tempo ensolarado ou chuvoso e nos símbolos empregados em mangás (histórias em quadrinhos japonesas). 

Observação: A palavra "emoji" vem da união de "e" (), que significa imagem, e "moji" (文字), que significa letra em japonês. No kaomoji, os símbolos são formada por letras do alfabeto cirílico e outros caracteres que não integram a codificação ASCII (usada em computadores e sistemas operacionais ocidentais), daí eles aparecem para nós como um quadradinho brancoO primeiro conjunto era composto por 176 símbolos distintos, cada um com 12 pixels de resolução
 
O objetivo dos emojis é auxiliar na contextualização das mensagens — às vezes o texto dá margem a interpretações diferentes da pretendida por quem o escreveu, e um emoji pode deixar claro o tom ou a intenção por trás da mensagem 
—, mas muita gente os borrifa sem saber exatamente o que significam, já que muitos deles não representem exatamente o que parecem representar (uma dica para não errar é consultar a Emojipedia).
 
Os emojis de rosto são os mais usados. O sorriso com olhos fechados, por exemplo, sugere felicidade ou que algo é engraçado. A carinha sorridente expressa felicidade ou transmite uma ideia positiva. Os emojis de gestos são igualmente populares e podem representar diferentes ações ou sentimentos. Polegar para cima, por exemplo, funciona como um "joinha" virtual; polegar para baixo indica desaprovação ou que algo não é bom; mão acenando serve para dizer "oi" ou "tchau", e por aí vai. Os emojis de animais são menos populares, mas
 o cachorro sugere lealdade, amizade e fidelidade, enquanto o gato simboliza independência, mistério e agilidade.
 
As figurinhas mais usadas no WhatsApp variam de acordo com o país e a cultura, e algumas podem ter significados ambíguos ou ser difíceis de entender sem contexto. A senhora com a mão no queixo pode ser interpretada como pensativa, duvidosa e até descontente, e a mão com os dedos juntos costuma ser usada para representar algo pequeno, mas pode ter
 outros significados  alguns chegam a ser ofensivos em determinadas culturas.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

SUTILEZAS ESTARRECEDORAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

UNS LEVAM ALEGRIA AONDE VÃO, OUTROS DÃO ALEGRIA QUANDO SE VÃO.

Poucos infortúnios são mais inquietantes do que a espera por um infortúnio. Mas a expectativa dos aliados de Bolsonaro em relação à decisão de Alexandre de Moraes a respeito da estadia do investigado na embaixada da Hungria evolui rapidamente do temor para a galhofa. 
No último sábado, um integrante da brigada bolsonarista disse que "falta coragem ao Xandão" . Disse que "encarcerar Mauro Cid é uma coisa, e outra bem diferente é prender Bolsonaro sem uma sentença. Afirmou que "o barulho seria grande no Congresso e nas ruas", e que "a prisão preventiva seria uma covardia injustificável." 
Depois que o Times noticiou os dois pernoites de Bolsonaro na sede da embaixada da Hungria, Moraes intimou a defesa a se explicar e requisitou manifestação da PGR. Os defensores do encrencado sustentaram que não havia razões para ele razões ele temer ser preso, e que seria absurdo supor que ele dormiu duas noites na embaixada para ficar fora do alcance da PF ou negociar um pedido de refúgio diplomático. O teor do parecer da PGR, encaminhado ao Supremo na última quinta-feira, permanece em segredo. Nos bastidores, diz-se que o documento exclui a hipótese de prisão preventiva. 
A posição do Ministério Público pode ser acatada ou desprezada por Moraes, mas vale lembrar que, além da prisão, há alternativas menos gravosas. O ministro, que já confiscou o passaporte do investigado, pode impor a ele o uso de tornozeleira eletrônica e obrigá-lo a se apresentar semanalmente perante o Judiciário.
O bolsonarismo aposta que Xandão deixará tudo como está para ver como é que fica. Façam suas apostas.

Certa vez, li num adesivo colado no caixa de uma padaria os seguintes dizeres: "MINHA EDUCAÇÃO DEPENDE DA SUA". Em outra ocasião, vi numa churrascaria de estrada um quadro informando que: "SE OS CLIENTES INSISTIREM EM DEPOSITAR CINZA DE CIGARRO NOS PRATOS E COPOS, TEREMOS PRAZER EM SERVIR A COMIDA NOS CINZEIROS". 

Se grosseria tem limite, salamaleques em excesso devem ser evitados — a menos que a intenção seja expressar ironia. Aliás, li certa vez que "A PAZ QUE PROCURAMOS PODE ESTAR NO FODA-SE QUE NÃO DIZEMOS". Diz um ditado que "QUEM FALA DEMAIS DÁ BOM-DIA A CAVALO" (mais uma pérola para sua coleção de inutilidades); como já não usamos carroças como meio de transporte, o equivalente seria dizer "muito obrigado" ao carro ao final uma viagem sem sobressaltos. 

Não me lembro de ter feito isso nem tampouco de ter visto alguém fazer, mas sei de gente que cumprimenta a Alexa antes de formular uma pergunta e, ao final, agradece a ajuda prestada. Parece caso de internação, mas talvez não seja.

Gadgets alimentados por IA são programados para tratar os usuários com cortesia — o que é fácil para eles, que não estão sujeitos a "dias difíceis". Isso me lembra a anedota do médico que, repreendido pelo diretor do hospital por ter sido rude com uma enfermeira, explicou que perdeu a hora, que seu carro não deu a partida, que foi difícil encontrar um taxi e, quando ele finalmente chegou ao hospital, o elevador estava em manutenção. Subiu 18 andares pela escada, chegou a sua sala suado e esbaforido, e então a tal enfermeira apareceu e disse: "Doutor, o paciente do quarto tal amanheceu morto. Sobrou este supositório. O que faço com ele?"

Algumas pessoas tratam sistemas tecnológicos — computadores, celulares, televisores etc. — como se esses aparelhos fossem humanos. Isso vem sendo estudado há tempos. Num experimento realizado nos anos 1990, um computador que foi programado para elogiar um grupo de pessoas por executar bem uma tarefa recebeu uma nota maior, ainda que os participantes soubessem que os elogios foram gerados automaticamente. Desde então, vários estudos demonstraram que costumamos antropomorfizar as máquinas, e que, quando um sistema tecnológico imita qualidades humanas, como a cortesia, percebemos um melhor desempenho de sua parte. 

O que se pretende descobrir é se é ou não apropriado ser educado com Alexa, ChatGPT, Copilot, Luzia e companhia, se faz ou não sentido considerar chatbots como sujeitos morais e se a cortesia no tratamento influencia a eficiência operacional desses dispositivos. O sistema nervoso dos animais lhes permite sentir dor, prazer, e até ter um nível de consciência que pode ser afetado positiva ou negativamente pela ação dos humanos, mas as máquinas não têm essas capacidades emocionais e, portanto, não podemos compará-las a animais nem (muito menos) a pessoas. 

Para o professor Enrique Dans diz que não há nada de errado em ser gentil com as máquinas, embora se deva ter em mente que, sem percepções, emoções ou consciência, elas não são capazes de compreender e valorizar a cortesia ou a gratidão que expressamos. Mas será mesmo que elas não são? 

É o que veremos nos próximos capítulos, que deixarão claro o porquê de eu ter incluído o termo "estarrecedor" no título desta matéria.

terça-feira, 9 de abril de 2024

DE VOLTA AOS PARADOXOS E ÀS VIAGENS NO TEMPO

O ÚNICO TALENTO DE ALGUMAS PESSOAS É EXALTAR O ÓBVIO.

 

Elon Musk deu ao absurdo uma doce e admirável naturalidade ao desperdiçar o final de semana postando no X uma espetacularização das suas contrariedades. Na noite de domingo, o ministro Alexandre de Moraes empurrou o bilionário para dentro do inquérito sobre milícias digitais e fixou multa diária de R$ 100 mil por perfil, caso a ameaça de levar ao ar conteúdo tóxico banido da rede por ordem judicial seja cumprida. 
Assim, o STF e o dono do ex-Twitter executam um balé de elefantes à margem da regulamentação das atividades de conglomerados que controlam redes de comunicação sem produzir conteúdo. Em vez de potencializar a democracia ecoando um debate racional sobre temas de interesse coletivo, promovem uma inusitada tribalização social monetizando a mentira e o ódio. 
Em plena era da inteligência artificial, computadores e celulares tornaram-se difusores de uma ignorância natural que industrializa a raiva, a desinformação e a criminalidade. O Congresso, incapaz de produzir consensos, mantém no gavetão dos assuntos pendentes o Projeto de Lei das Fake News, enquanto o Supremo retarda o julgamento de quatro ações que poderiam impor limites éticos e legais às big techs, e a República, rendendo-se ao absurdo e desafiada pelas bravatas de resultados de Musk, demora a perceber a falta que faz a racionalidade.

Paradoxos são afirmações aparentemente verdadeiras que desaguam em contradições lógicas. Se um hipotético viajante do tempo voltasse ao passado e matasse o próprio avô antes de ele se casar, por exemplo, esse viajante criaria um conflito lógico de existência que obstaria seu próprio nascimento — se ele não nascesse, não poderia viajar a parte alguma, muito menos para o passado. 
 
As equações de Einstein admitam as viagens no tempo, mas a volta ao passado esbarra nos paradoxos. Além de intrigar astrofísicos cosmólogos, essas "inconsistências" inspiram obras de ficção como a trilogia "De volta ao futuro e o seriado "Dark". Mas um artigo publicado na New Scientist descreve um modelo no qual seria matematicamente possível "contornar esse obstáculo" viajando de uma linha do tempo para outra através de um buraco de minhoca. 
 
Essa teoria sugere a existência de infinitos universos paralelos diferentes, mas onde as coisas são praticamente as mesmas. Como cada um deles é matematicamente uma linha de espaço-tempo separada, seria possível um viajante do tempo matar o avô sem produzir um paradoxo. Detalhe: se voltar a
o passado não interfere com a linha do tempo do viajante, a Segunda Guerra Mundial teria ocorrido no universo de onde o viajante partiu, de modo que não faria sentido ele matar Hitler.
 
Para resolver a questão dos paradoxos, estudaram matematicamente o comportamento de um corpo que entra numa curva de viagem ao passado e concluíram que ele poderia seguir seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações. Isso significa que os eventos se ajustam em prol de uma solução solução única e consistente.
 
Tomando como exemplo a pandemia de Covid, se alguém retornasse ao passado e evitasse que o paciente zero fosse infectado, não haveria pandemia; se não houvesse pandemia, não haveria motivo para esse alguém viajar ao passado. 
Trocando em miúdos, nosso hipotético viajante teria livre arbítrio para fazer o que quisesse, mas nada que ele fizesse mudaria o curso da história, pois os eventos mais relevantes seriam recalibrados constantemente de modo a evitar inconsistências (paradoxos) e produzir sempre o mesmo resultado. 

Resta agora colocar a teoria à prova. 

segunda-feira, 8 de abril de 2024

NADA É TÃO RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR

 

"Morre-se de tudo no jornalismo, menos de tédio", dizia o Ricardo Boechat, que ancorava um programa na BandNews FM cujo bordão, "em 20 minutos tudo pode mudar", havia mudado para "em 1 minuto tudo pode mudar" meses antes de o helicóptero em que ele viajava colidiu com um caminhão. 
 
Observação: Em 2016, o Sensacionalista publicou que "o brasileiro tinha medo de ir ao banheiro na democracia e voltar na monarquia", e sugeriu que a emissora reduzisse o intervalo para "dois segundo ou mesmo alguns milésimos". A sugestão foi atendida em novembro de 2019, quando o slogan passou a ser "em 1 segundo tudo pode mudar".
 
Magalhães Pinto ensinou "política é como as nuvens no céu; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram". Indo mais além, escrever sobre política é como trocar pneu com o carro andando. Para pior, "mudar" não é sinônimo de "evoluir". No país do futuro que nunca chega, as mudanças costumam ser para pior.
 
Eleito presidente em 1994, Fernando Henrique alterou a Constituição para disputar a reeleição e derrotou Lula em 1998, mas não conseguiu fazer seu sucessor em 2002, e a derrota de José Serra deu início a 13 anos e fumada de jugo lulopetista. Em 2016, o impeachment de Dilma, foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba, mas o ministério de notáveis prometido por
 Michel Temer era na verdade uma notável confraria de corruptos, e um conversa de alcova com o moedor de carne bilionário Joesley Batista transformou o vampiro do Jaburu em "pato manco". 
 
Eleito em 2018, Bolsonaro ressuscitou a extrema-direita radical que pensávamos ter sido sepultada com o fim da ditadura e a volta dos militares aos quartéis. Para piorar, sua derrota em 2022 não despachou o bolsonarismo boçal para armário e, para piorar ainda mais, trouxe de volta o egum mal despachado que julgávamos ter sido exorcizado pelo impeachment de Dilma.
 
Marx ensinou que "a história acontece como tragédia e se repete como farsa". O retorno do ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto) é a prova provada de que, pelo menos nisso, o filósofo alemão estava coberto de razão. Como também estava Pelé e Figueiredo, que alertaram para o risco de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. E assiste razão também ao jornalista Ricardo Kertzman, quando ele diz que "para o líder do mensalão passar por Pinóquio só falta o nariz e ser de madeira".
 
A investigação da PF que envolve Rui Costa possui todos os ingredientes para se transformar numa espécie de "Disneylândia do bolsonarismo": um ministro petista com gabinete no Planalto, um negócio da China, a pandemia da Covid, uma delação e um inusitado aroma de maconha. 
O caso envolve a compra de respiradores chineses, em abril de 2020, para abastecer o Consórcio Nordeste — grupo composto por estados governados por petistas e aliados e presidido por Costa, então governador da Bahia. A transação foi orçada em R$ 48 milhões, a emergência fez sumir a licitação, e pagou-se antecipadamente por equipamentos que jamais foram entregues.
 
Escolheu-se para importar os respiradores pulmonares a Hempcare 
 empresa sem qualificação para a tarefa que, no papel, dedicava-se a distribuir medicamentos à base de canabidiol. Sócia da arapuca, a delatora Cristiana Taddeo empurrou para dentro do inquérito um enredo que deixa mal o homem forte do governo Lula 3 e mencionou dois intermediários, um deles com supostos laços de amizade com a mulher de Costa. O inquérito irá delimitar as culpas, mas a alegação não livra o ex-governador petista sequer da pecha da incompetência. 
 
Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda de 1974 a 1979, ensinou que, quando alguém traz o projeto de uma obra, deve-se perguntar quanto custará a comissão e, descoberto o percentual, pagar e não falar mais na obra. Costa não teria virado matéria-prima para o bolsonarismo se tivesse aplicado essa regra quando da proposta de importar respiradores da China através de uma distribuidora de remédios derivados da maconha.
 
art. 5º da Constituição Cidadã explicita que todos são iguais perante a lei, mas até as pedras sabem que alguns são mais iguais que os outros. 
A exemplo do que fez com os ministro Juscelino Filho (Comunicações), Fufuca (Esportes) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), Lula presenteou Costa — a quem considera como um primeiro-ministro — com a mesma blindagem assegurada aos suspeitos do Centrão.

Observação: Acusado de aplicar R$ 5 milhões do orçamento federal em benefício próprio, Juscelino continua na Esplanada. Autor de emenda que derramou R$ 4,7 milhões na construção de um estádio desnecessário, Fufuca segue ministro. Continua no cargo também Alexandre Silveira, um ex-policial civil, servidor e parlamentar que esconde atrás de sua modéstia patrimônio de notáveis R$ 79 milhões.
 
Costa reconhece que avalizou a compra dos respiradores com pagamento antecipado e que a empresa contratada
 jamais entregou os equipamentos. Ele alega que, consumada a lambança, ele próprio chamou a polícia, mas silencia diante da acusação da delatora de que a polícia baiana tentou apagá-lo do inquéritoNa prática, o ministro de Lula pede à plateia que o enxergue como um gestor inepto, não um reles desonesto. O diabo é que nenhuma das duas condições orna com o tamanho do cofre que Lula lhe confiou ao acomodar na Casa Civil a coordenação do PAC — um programa de obras orçado em R$ 1,7 trilhão, entre verbas públicas e privadas.
 
Lula subiu a rampa pela terceira vez prometendo uma gestão de mostruário, mas dirige o país com os olhos no retrovisor. Enxergando o terceiro reinado como uma extensão do segundo, quando ele se orgulhava se ser capaz de "eleger qualquer poste", acha que a sociedade ainda o vê como antigamente. Se ele limitar sua segunda reforma ministerial a uma troca de cúmplices (como fez na primeira), baterá mais um prego em seu caixão (metaforicamente falando, claro).

Lula fez duras críticas à atuação de Bolsonaro no enfrentamento da Covid. Agora, em meio a uma das maiores epidemias de dengue da história do país, seis das oito secretarias de seu Ministério da Saúde (que manejam um orçamento de R$ 169,5 bi) estão sob influência de Alexandre Padilha. O Centrão, liderado por Arthur Lira, trava uma disputa com o governo por verbas da Saúde, e a queda de braço escancara a falta de autonomia de Nísia Trindade, que não pode sequer escolher seu subordinado direto — a contratação de Swedenberger Barbosa para secretário-executivo foi uma demanda de Lula

Observação: Homem de confiança de José Dirceu nos primeiro governos petistas, Berger monitora a execução do orçamento da Saúde — da verba própria às emendas parlamentares. Em 2023, a pasta deixou pela primeira vez R$ 32 bilhões do orçamento em "restos a pagar" a serem executados em 2024 — R$ 5 bilhões a mais do que deixou o governo anterior. A responsabilidade pela paralisia no Congresso é creditada a ele mas é Nísia quem recebe as críticas do PT, do "centrão-raiz" (formado por PPPL e Republicanos) e do próprio "presidengue" (como os bolsonaristas se referem ao xamã petista nas redes sociais). 

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que vinha sendo dissolvido em banho-maria na Casa Civil de Rui Costa, foi empurrado por Alexandre Silveira para dentro do óleo quente. Costa, Silveira e Haddad decidiram, à revelia de Prates, distribuir os R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários da Petrobras que foram retidos em 7 de março. Informado de que Aloizio Mercadante foi sondado para ocupar seu lugar, o quase ex-presidente da estatal percebe que Lula o carbonizou sem tocá-lo.
 
O vírus do intervencionismo intoxica a Petrobras e assusta investidores, mas Lula, aferrado a um período mesozoico que deixou na maior estatal do país um rastro ruinoso, diz que "o mercado é um dinossauro voraz".
 
Com Josias de Souza

domingo, 7 de abril de 2024

WHATSAPP — VISUALIZAÇÃO ÚNICA

NÃO DEIXE A MÃO ESQUERDA SABER O QUE A DIREITA ESTÁ FAZENDO.

Disse Jesus a seus discípulos: "quando deres esmola, procura que tua mão esquerda nem saiba o que faz a direita." E isso quando ainda não havia Internet, redes sociais nem WhatsApp
Nos tempos que correm, privacidade na Web é história da Carochinha. Mas é possível minimizar os riscos evitando expor-se desnecessariamente — sobretudo ao compartilhar conteúdo com "ilustres desconhecidos"

WhatsApp permite enviar fotos e vídeos de "visualização temporária", ou seja, que desaparecem assim que o destinatário os visualizar (afinal, namoros terminam, noivados são rompidos, casamentos acabam em divórcio — nem sempre de forma amigável — e segredo entre três, só matando dois).
 
Para enviar arquivos de mídia de "visualização única":

1) Acesse o aplicativo;

2) Abra uma conversa (individual ou em grupo);

3) Toque no ícone do clipe (anexar) e, em seguida:

3.1) Toque no ícone da câmera para tirar uma foto ou gravar um vídeo;

3.2) Toque no ícone da galeria para anexar um arquivo de mídia salvo no smartphone. 

4) Ao final, toque no ícone do número 1 (ao lado do botão enviar) e envie a mensagem normalmente (a confirmação "mensagem aberta" será exibida na conversa assim que o destinatário visualizar a foto ou o vídeo).
 
visualização única é diferente das mensagens temporárias, que se autodestroem após 24 horas, 7 dias ou 90 dias. Um arquivo visualização única não pode ser salvo, reencaminhado, printado, favoritado ou visto novamente pelo destinatário depois que ele fechar o visualizador de mídia (para saber mais, clique aqui). Mas é bom ter em mente que a pessoa pode fotografar
 a tela com outro dispositivo antes que o arquivo desapareça. 

Para ativar ou desativar o recurso, abra uma conversa, toque no nome do contato, selecione o prazo desejado em Duração das mensagens e envie a mensagem normalmente, lembrando que as mensagens temporárias podem ser guardadas na conversa para não desaparecerem. Para mais detalhes, clique aqui.

Havendo tempo e jeito, assista a este vídeo:

 

sábado, 6 de abril de 2024

SUTILEZAS DO GOOGLE TRADUTOR

FAZER O CERTO É FÁCIL; ESCOLHER O QUE É CERTO É QUE É DIFÍCIL.
 
O general Mauro César Lourena Cid, que passou uma vida ensinando ao filho Mauro César Barbosa Cid que o amor à pátria é inegociável, foi usufruir em Miami das vantagens pecuniárias de uma boquinha na Apex (agência que promove as exportações brasileiras) e acabou pilhado em investigação da PF negociando nos Estados Unidos parte do acervo da União. Quando moço, Cidão aprendeu nas escolas militares que dever-se-ia morrer pela pátria; maduro, entusiasmou-se com a ideia do amigo Bolsonaro de matar a democracia e, num instante em que o capitão discutia minutas golpistas com chefes militares, abalou-se de Miami até Brasília para fazer um tour pelo acampamento que pedia intervenção militar defronte ao QG do Exército e apoiar a conspiração contra a posse de Lula. Filmado no passeio com um assessor a tiracolo, introduziu na crônica do patriotismo à moda Bolsonaro uma modalidade nova de perversão: o golpismo recreativo. Se o ministro Alexandre de Moraes anular a delação de Cidinho, a imunidade à desfaçatez de Cidão, reivindicada como parte do prêmio pela colaboração judicial, perderá a validade.

Quando foi criado, lá pelos idos de 2006, o Google Tradutor fazia traduções somente entre inglês e árabe. Dez anos depois, ele já suportava 103 línguas, mas, em algum momento a partir de então, o Google deixou de divulgar os novos idiomas adicionados e passou a informar apenas que mais de 100 línguas são suportadas.
 
Usar o Google Tradutor no PC para fazer traduções do português para o inglês é simples, até porque essa é a configuração padrão exibida quando se acessa a página https://translate.google.com/ a partir do Brasil. Mas é possível escolher uma das opções localizadas acima da caixa (Texto, Imagem, Documentos ou Sites), informar o conteúdo, definir os idiomas (nas caixas à esquerda e à direita) e conferir o resultado da tradução, lembrando que na opção Documentos os formatos suportados são .docx, .pdf, .pptx e .xlsx. 
 
Para usar a ferramenta no celular, basta acessar endereço pelo navegador ou baixar o app da Google Play Store (ou App Store, conforme o sistema operacional do seu aparelho), escolher entre fazer login com sua conta Google — para salvar o histórico de tradução — e usar o app sem uma conta, ir até a parte superior da tela, definir os idiomas de origem e de destino (da mesma forma como no PC), tocar na caixa de texto para acessar o teclado e digitar o que se deseja traduzir (se tocar no ícone de alto-falante, no lado esquerdo da tela, você ouvirá a tradução em voz alta). 

Observação: Logo abaixo da caixa de texto há outras possibilidades (câmera, conversa e transcrição), mas alguns recursos, como a tradução por foto, podem não funcionar para todas as línguas, embora a plataforma consiga fazer a tradução para a maioria delas.

A ferramenta é uma mão na roda quando a gente quer ler um documento ou livro no original ou em viagens a países estrangeiros, mas para usá-lo offline é preciso primeiro fazer o download dos idiomas desejados (basta abrir o aplicativo do Google Tradutor e, na parte inferior da tela, selecionar o idioma e tocar no ícone do Download).

sexta-feira, 5 de abril de 2024

NA GUILHOTINA, MORO ESTREITA INIMIZADE COM GILMAR

 

Nomeado ministro da Saúde após a demissão de Luís Mandetta, Nelson Teich pediu o boné a dois dias de completar um mês no cargo. Na coletiva de imprensa que convocou para informar o desembarque, ele ensinou que "a vida é feita de escolhas". Faltou dizer que escolhas têm consequências, que as consequências sempre vêm depois, e que a terra plana não dá voltas, capota. 

Sergio Moro não teria capotado se continuasse engolindo sapos e sorvendo a água suja da lagoa palaciana como fez durante 1 ano e 4 meses, mas reunião interministerial de 22 de abril de 2020 foi a gota que entupiu o canudinho. Ao atribuir o desembarque às constantes ingerências de Bolsonaro na PF, ele iniciou um périplo pelos nove círculos do inferno que não sabe se, como e quando terminará.
 
Como juiz federal, Moro enquadrou poderosos em processos de grande repercussão, como o escândalo do Banestado, a Operação Farol da Colina e a Operação Fênix. No auge da finada Lava-Jato, condenou figuras do alto escalão da política e do empresariado tupiniquim, como LulaJosé DirceuSérgio Cabral e Marcel Odebrecht. No governo, foi traído por Bolsonaro. Como aspirante à Presidência, filiou-se ao Podemos, migrou para o União Brasil e foi sabotado por Luciano Bivar. Candidatou-se a deputado por São Paulo e se elegeu senador pelo Paraná. Dos 8 projetos que apresentou, nenhum foi aprovado. 
 
Moro se tornou refém da imagem de herói nacional que cultivou e do político pouco habilidoso que se tornou. Quando juiz, jurou que jamais entraria para a política; ministro, simulou desinteresse pelo Planalto; pré-candidato à Presidência, prometeu levar a campanha até o final; candidato a deputado por um partido, elegeu-se senador por outro; e
xecrado pela esquerda, abandonado pela extrema-direita (e por boa parte de direita) e antipático aos olhos da alta cúpula do Judiciário, passou a colher os frutos do que plantou ao trocar o certo pelo duvidoso (ou pelo errado, como descobriu mais adiante).
 
Moro colecionou muitos inimigos, mas ninguém investiu tanto contra sua reputação quanto ele ao ajudar a incinerar as sentenças que lhe deram fama e a carbonizar as multas de corruptores confessos no forno do Supremo. Na Divina ComédiaDante Alighieri percorre o Inferno e o Purgatório guiado pelo poeta Virgílio e o Paraíso, por sua amada Beatriz. Na política, cada um precisa fazer seu caminho; Moro entrou nessa sem guia, e terá de sair sozinho.
 
PL e PT se uniram em busca da cassação de seu mandato. Como as ações foram movidas contra a chapa, eventual condenação se estenderá aos suplentes, levando os eleitores paranaenses de volta às urnas para escolher outro senador, Entre os urubus que sobrevoam a carniça, destacam-se a ex-primeira-dama e atual presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, e os deputados petistas Zeca Dirceu e Gleisi Hoffmann. 
 
A acusação de abuso do poder econômico é sólida, já que os gastos na pré-campanha presidencial estão documentados, mas irônica, pois a "superexposição" que garantiu a eleição para o Senado não foi obtida nos poucos meses de campanha, mas a longo de quatro anos e fumaça na vitrine da Lava-Jato. 

Na última segunda-feira, depois que o relator das ações no TRE-PR votou contra a cassação, um pedido de vista suspendeu o julgamento. Na quarta, quando o placar estava em 1 a 1, outro pedido de vista adiou para a próxima segunda a coleta dos 5 votos restantes. Independentemente do resultado, o veredito final será proferido em Brasília, já que a parte derrotada recorrerá da decisão da Justiça no TSE e no STF.
 
Como desgraça pouca é bobagem, o
 corregedor do Conselho Nacional de Justiça liberou para votação o relatório que aponta "gestão caótica" de verbas resultantes de acordos firmados com empresas pelo MPF e homologados pelo então juiz da Lava-Jato. Ainda não há uma data definida para a sessão, mas o imbróglio pode resultar num procedimento cuja palavra final será dada pelo STF, onde o prestígio do ainda senador não é dos melhores. 
 
Com a corda no pescoço e os pés no cadafalso, o ministro que engolia batráquios virou o senador que engole elefantes, e seu desejo de salvar o país da corrupção, ânsia de livrar a si mesmo da cassação. A perspectiva de um processo criminal levou-o a pedir (e obter) uma audiência com o ministro Gilmar Mendes (que passou de defensor do combate à corrupção a crítico ferrenho da Lava-Jato no Paraná e desafeto figadal do ex-magistrado)
 
Observação: Até as pedras sabem o que os dois pensam um do outro. No ano passado, Moro foi filmado numa festa junina falando em "comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes", ao que o ministro reagiu: "Quem tem que fazer explicações sobre venda de decisões é ele". 
 
Segundo a coluna de Igor Gadelha, o encontro humilhante se deu no gabinete de Gilmar, foi intermediado pelo senador Wellington Fagundes e durou 90 minutos. Quando Moro tentou se desvincular do ex-coordenador da Lava-Jato e deputado cassado Deltan Dallagnol, ouviu do ministro: "Você e Dallagnol roubavam galinha juntos. Tudo que a Vaza-Jato revelou, eu já sabia. Vocês combinavam o que estaria nas peças. Não venha dizer que não".
 
No século 19, certas diferenças só podiam ser lavadas com sangue num duelo. Hoje, a hemorragia de Moro escorre sobre as cinzas da Lava-Jato. Quem consegue avistar uma saída honrosa na mais degradante desonra pode achar alvissareira a tentativa do ex-candidato da antipolítica estreitar sua inimizade com a toga mais política do Supremo, mas o excesso de cinismo reforça a percepção de que a política é mesmo o território da farsa.

Com Josias de Souza

quinta-feira, 4 de abril de 2024

TECNOLOGIA EMBARCADA E AUTOMÓVEIS INTELIGENTES

É MELHOR SER BOM DO QUE MAU, MAS O PREÇO DE SER BOM É TERRIVELMENTE ALTO.

Numa evidência de que a realidade não deixa de existir porque Bolsonaro a renega, o STF foi compelido a refutar, no âmbito de ação movida pelo PDT em 2020, uma leitura extravagante do artigo 142 da Constituição. Naquele ano, Bolsonaro declarou durante reunião ministerial que "todo mundo quer fazer cumprir o artigo 142 da Constituição". Desde então, o bolsonarismo intensificou a pregação bizarra de que a intervenção militar dispunha de amparo constitucional.
Há políticos cuja obra só será devidamente compreendida daqui a um século. Com Bolsonaro é diferente. As ações do capitão só poderiam ser perfeitamente entendidas dois séculos atrás, quando a Constituição de 1824 previa o poder moderador e o atribuía ao imperador. 
Admitir que Bolsonaro pudesse manejar as Forças Armadas para virar a mesa da democracia, coroando-se imperador do Brasil, representaria não uma reedição mequetrefe do golpe de 1964, mas um recuo de 200 anos na história.

A Inteligência Artificial de que dispomos não se compara às do HAL 9000 e do Skynet, até porque o que se tem presentemente são computadores conectados à Web e "educados" por meio de bilhões informações. Mas já se fala-se em direção autônoma há algum tempo, já existem veículos que controlam a direção, os freios e o acelerador com o auxílio de sensores cada vez mais sofisticados e precisos (radar, câmeras, lidar), e o MIT vem desenvolvendo um projeto de "Moral Machine" cujo objetivo é criar um código moral a ser ensinado às inteligências artificiais.
 
Telas para o carona e os passageiros que viajam no banco traseiro são o presente; no futuro, elas serão ainda mais inteligentes, com realidade aumentada e a integração do ChatGPT, que permitirá ao software adequar as faixas musicais ao gosto do motoristas da vez e tornar ainda mais precisas as atualizações OTA. 
 
Observação: ChatGPT deslumbrou o mundo com respostas assustadoramente humanas a perguntas aleatórias; integrado aos veículos, ele tornará os assistentes de voz mais sofisticados. Os motoristas poderão controlar vocalmente os sistemas de bordo para ajustar a temperatura do habitáculo, abrir as janelas ou mudar a estação do rádio. Alguns assistentes de voz já entendem comandos como "estou com frio" ou "conte-me uma piada", mas mesmo os mais avançados podem ter dificuldade em entender o que o motorista está dizendo. A Mercedes-Benz fechou um acordo com a Microsoft para levar o ChatGPT a seus carros, e a General Motors também está explorando essa possibilidade
 
Luzes-espia que indicam problemas no sistema perderão a razão de existir quando a IA antecipar qualquer mau funcionamento através de check-ups preditivos. Nos carros elétricos, o navegador por satélite incluirá paradas de carregamento e recalculará a rota se detectar mudanças no trânsito, nas condições climáticas ou no estilo de direção. A IoT (internet das coisas), que designa qualquer dispositivo conectado à rede, será a base das cidades inteligentes, onde semáforos, edifícios e veículos V2V (Vehicle To Vehicle) conversarão entre si, reduzindo consideravelmente os congestionamentos.
 
Tecnologias em desenvolvimento já fazem parte dos planos de figurões da tecnologia para nos levar ao limiar da ficção científica, mas é preciso ter em mente que elas também implicam riscos. Talvez não faça sentido temer uma "revolta das máquinas", mas softwares cada vez mais complexos podem tanto resolver como criar problemas — vale lembrar o velho adágio segundo o qual "os computadores vieram para resolver todos os problemas que não existiam quando não havia computadores". 
 
Um problema desafiador é proteger dos cibercriminosos os dados que trafegam na rede. Afora a possibilidade de informações pessoais caírem nas mãos de pessoas mal-intencionadas, os riscos de o veículo ser roubado ou controlado remotamente porque alguém que conseguir acesso ao sistema para gerenciar a direção, o acelerador e os freios são preocupantes.

A conferir.