No cinquentenário da Guerra do Yom Kippur, Israel foi vítima do extremismo islâmico do Hamas — que, mesmo tendo funções administrativas na Faixa de Gaza, jamais abandonou sua essência terrorista e, além de odiar os judeus, despreza o próprio povo pelo qual diz combater, pois é ele, e não Israel, quem coloca os palestinos na linha de fogo ao concentrar suas instalações em áreas densamente povoadas. Diante de uma ameaça de tamanha magnitude, só resta ao judeus buscar a aniquilação completa do agressor — o que não é tarefa fácil, pois os terroristas usam civis palestinos como escudos humanos, e como atuam numa das áreas mais densamente povoadas do mundo, empregam até mesmo hospitais e escolas como base para suas atividades.
As consequências do conflito vão muito além da região conflagrada, pois há um delicadíssimo equilíbrio geopolítico em jogo, e a resposta israelense aos ataques tornará insustentável, dentro dos países árabes, qualquer postura de conciliação com Israel no futuro próximo, afastando ainda mais a chance de uma convivência pacífica. Os líderes dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e da Itália emitiram, no último dia 9, uma declaração conjunta expressando o seu apoio a Israel e classificando o ataque desfechado pelo Hamas de "terrível ato de terrorismo". Mas o Brasil adotou a mesma postura de quando Putin invadiu a Ucrânia.
Observação: Lula se disse "chocado com os ataques terroristas", mas evitou citar nominalmente o Hamas, e o Itamaraty só falou explicitamente em "atentado" depois que morte de dois brasileiros foi confirmada. E outras alas da esquerda exaltaram explicitamente o Hamas e criticaram o contra-ataque de Israel.
A busca do judeus pela Terra Prometida remonta aos tempos bíblicos. Segundo o Antigo Testamento, o "Povo de Deus" deixou o Egito e empreendeu uma jornada pelo deserto que durou 40 anos. A certa altura, Moisés estendeu seu poderoso cajado sobre o Mar Vermelho, e um poderoso vendaval (soprado por Deus em pessoa) separou as águas, garantindo aos peregrinos a travessia segura em terra seca. Mas a Terra Santa continua sendo objeto de disputa de judeus e palestinos, e apesar do território corresponder a ¼ do tamanho da cidade de São Paulo, sua população supera a de muitas capitais brasileiras.
Desde o século 5º a. C., quando foi fundada, Gaza foi invadida diversas vezes por israelitas, babilônios, persas, assírios, macedônios e romanos. O Império Otomano controlou a região até o final da 1ª Guerra Mundial, quando ela se tornou parte do mandato da Liga das Nações da Palestina sob domínio britânico. Mas faltou combinar com os palestinos, que a consideravam parte integrante do estado que eles queriam criar — e que englobava Israel como um todo.
Em 1947, a ONU decidiu que Gaza e uma área a seu redor ficariam com os árabes e o restante (hoje Israel), com os judeus. Com o fim do mandato britânico, os dois povos voltaram a guerrear pelo território e, apesar do Acordo de Armistício entre Israel e Egito, o conflito nunca acabou. Em 1967, Israel tomou dos egípcios o território da Cisjordânia e Jerusalém Oriental, onde ficam símbolos religiosos importantes para judeus, árabes e cristãos. Os ânimos voltaram a se acirrar em 1987 e em 1993, mas os judeus só deixaram o território em 2005.
Em 2012, a ONU reconheceu a Palestina (Faixa de Gaza e Cisjordânia) como um Estado-observador permanente, mas o Hamas não reconhece Israel como um Estado e reivindica o território para a Palestina. Essa seleta confraria surgiu em 1987 como um desdobramento da Irmandade Muçulmana (grupo islâmico sunita fundado no final da década de 1920 no Egito), mas, diferentemente de outras facções palestinas, não dialoga com Israel. Depois de reivindicar inúmeros ataques a Israel, essa récua de fanáticos foi designada organização terrorista pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel (Lula ainda não se convenceu, mas cedo ou tarde terá de dar o braço a torcer).
O Brasil vive uma treva diplomática e moral que começou com golpe militar de 1889 — aquele que os compêndios didáticos chamam de "Proclamação da República". Meses depois, o país conheceu a primeira crítica articulada sobre o processo que substituiu a monarquia constitucionalista pela república presidencialista: o livro Fastos da Ditadura Militar no Brasil, escrito em 1890 pelo advogado paulistano Eduardo Prado, o primeiro autor a considerá-lo um "golpe de Estado ilegítimo" aplicado pelos militares.
O Brasil vive uma treva diplomática e moral que começou com golpe militar de 1889 — aquele que os compêndios didáticos chamam de "Proclamação da República". Meses depois, o país conheceu a primeira crítica articulada sobre o processo que substituiu a monarquia constitucionalista pela república presidencialista: o livro Fastos da Ditadura Militar no Brasil, escrito em 1890 pelo advogado paulistano Eduardo Prado, o primeiro autor a considerá-lo um "golpe de Estado ilegítimo" aplicado pelos militares.
Deodoro da Fonseca ocupou a presidência até 1891, quando foi "convidado a renunciar" e substituído pelo vice Floriano Peixoto, que cumpriu o mandato-tampão e foi sucedido por Prudente de Moraes — nosso primeiro presidente civil escolhido pelo voto popular. Muita água rolou até a renúncia de Jânio pavimentar o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes 21 anos de ditadura militar, que terminaram com a eleição indireta de Tancredo Neves, em janeiro de 1985 (a movimentação épica pelas "Diretas Já" não impediu os militares de pressionar os deputados a sepultar a emenda Dante de Oliveira, em 1984, mas ensejou a convocação do colégio colégio eleitoral).
Tancredo baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu 37 dias e 7 cirurgias depois, deixando de herança o vice José Sarney, sob cuja batuta a restauração democrática assumiu ares de anarquia econômica e administrativa. Ainda assim, foi durante a gestão desse oligarca da política de cabresto nordestina que a Constituição Cidadã foi promulgada e a eleição solteira de1989, realizada.
Observação: A despeito de políticos do quilate de Mario Covas e Ulysses Guimarães figurarem entre os 22 postulantes ao Planalto em 1989, o pseudo caçador de marajás e o desempregado que deu certo disputaram o segundo turno, comprovando, mais uma vez, o que disseram Pelé e Figueiredo sobre o despreparo do eleitorado tupiniquim.
Em 1992, o primeiro impeachment da "Nova República" apeou Fernando Collor e promoveu o vice Itamar Franco a titular. Nomeado ministro da Fazenda, Fernando Henrique se autoproclamou Primeiro-Ministro informal e, graças ao sucesso do Plano Real, derrotou Lula no primeiro turno da eleição de 1994. Mas foi picado pela mosca azul, comprou a PEC da Reeleição e tornou a derrotar Lula em 1998 (novamente no primeiro turno).
Em 2002, após três tentativas frustradas, o ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista e fundador do Partido dos Trabalhadores que não trabalham se elegeu presidente e, a despeito de seu estilo de governar (baseado em alianças tóxicas financiadas por mensalões e petrolões), foi reconduzido ao Planalto em 2006 e elegeu uma aberração chamada Dilma para manter a poltrona quente até 2010, quando ele poderia voltar a ocupá-la. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram.
Após usufruir de seus dois mandatos, o sumopontífice da petralhada deixou o governo enfiando os dedos no favo de mel de uma taxa de popularidade de 84% — e fugiu das abelhas até abril de 2018, quando acabou preso. O "poste" vendido como "mãezona" e "gerentona" revelou-se um conto do vigário no qual o próprio Lula caiu: entre 2013 e 2016, a economia encolheu 6,8% e o desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Em outras palavras, a criatura desfez a obra do criador.
Com o impeachment de madame, Michel Temer prometeu um ministério de notáveis, mas se cercou de uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" virou pinguela, e ele próprio se transformou num pato manco (termo que designa políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que os garçons, de má vontade, lhes servem o café frio). Em 2018, surfando na onda do antipetismo e explorando a facada desfechada por um aloprado, Jair Messias Bolsonaro, que não passava de um obscuro dublê de ex-militar e parlamentar medíocre, foi catapultado à Presidência da República.
Durante a campanha, para provar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estatista que acreditava em Estado grande e intervencionista, que sempre lutou por privilégios para corporações que se locupletam do Estado há décadas, foi buscar Paulo Guedes, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. Para provar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o deputado que, em sete mandatos, pertenceu a oito partidos de aluguel e foi adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos cooptou o (então herói nacional) Sergio Moro, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. E para obter o apoio das Forças Armadas, o oficial de baixa patente despreparado, agressivo e falastrão, que foi enxotado da corporação por indisciplina e insubordinação, foi buscar legitimidade em uma fieira de generais, que embarcaram em uma canoa que deveriam saber furada.
Observação: Acabou que o chefe do clã das rachadinhas e mansões milionárias não só se tornou o pior mandatário desde Tomé de Souza como chefiou o governo civil mais militar da história, consolidando a fama do Brasil de "gigante adormecido que se recusa a despertar" e de "país do futuro que tem um longo passado pela frente".
Como uma borboleta que volta à condição de larva, esta republiqueta de bananas chegou a 2023 arrastando seu passado como um casulo pesado e pegajoso. Evitar a reeleição do capetão era fundamental, mas trazer Lula de volta era opcional. E tão difícil quanto entender como alguém pôde apoiar a reeleição do devoto da cloroquina depois de quatro anos sob sua abominável gestão é explicar por que tanta gente achou que o ex-presidiário era a única alternativa. O que nos leva de volta à pergunta inicial: foi para isso que lutamos tanto pela vota das eleições diretas? Para trocar um genocida golpista por um monumento ao atraso, que se alia ao que existe de mais degenerado no cenário internacional, apoia ditaduras, reluta em reconhecer a natureza terrorista do Hamas, lamenta os assassinatos, mas fica a favor dos assassinos, e sugere "a paz", mas irreleva o sequestro de crianças, mulheres e velhos, e a tortura de reféns e a chacina de civis?
Como uma borboleta que volta à condição de larva, esta republiqueta de bananas chegou a 2023 arrastando seu passado como um casulo pesado e pegajoso. Evitar a reeleição do capetão era fundamental, mas trazer Lula de volta era opcional. E tão difícil quanto entender como alguém pôde apoiar a reeleição do devoto da cloroquina depois de quatro anos sob sua abominável gestão é explicar por que tanta gente achou que o ex-presidiário era a única alternativa. O que nos leva de volta à pergunta inicial: foi para isso que lutamos tanto pela vota das eleições diretas? Para trocar um genocida golpista por um monumento ao atraso, que se alia ao que existe de mais degenerado no cenário internacional, apoia ditaduras, reluta em reconhecer a natureza terrorista do Hamas, lamenta os assassinatos, mas fica a favor dos assassinos, e sugere "a paz", mas irreleva o sequestro de crianças, mulheres e velhos, e a tortura de reféns e a chacina de civis?
Por não saber governar o Brasil, o autoproclamado "parteiro do Brasil maravilha" e "alma viva mais honesta do Universo" se exibe há nove meses em viagens milionárias a grandes nações democráticas — as mesmas onde nossos supremos togados vivem palestrando sobre como salvaram a democracia brasileira —, mas, ao invés de se aliar a elas no combate à selvageria, fica do lado do agressor. Em sua visão de "estadista", a Ucrânia é culpada por ter sido invadida pela Rússia, Israel é responsável pelos ataques que sofre de uma ditadura terrorista, e por aí segue a procissão, deixando claro como funciona sua política externa. Enquanto isso, o imbroxável inelegível e intragável sobrevoa de helicóptero, na boa companhia no governador bolsonarista de Santa Catarina, as cidades alagadas pelas chuvas torrenciais dos últimos dias.
Lula, que parece convencido de ter sido eleito para o cargo de Deus, recebe com honras o ditador da Venezuela, que é procurado pela polícia internacional e está com a cabeça a prêmio, a 15 milhões de dólares, por tráfico de drogas. Diz que a culpa da miséria em Cuba, após 60 anos de regime comunista, é do "bloqueio" dos Estados Unidos (vale lembrar que 200 outros países do mundo, inclusive o Brasil, não fazem bloqueio nenhum contra a "Pérola do Caribe"), e, junto com o PT e o Psol, que assinaram manifestos em favor da "causa palestina" e apoiam a ditadura do Hamas sobre os territórios árabes que controlam através do crime e do terror, coloca o Brasil, cada vez mais, como inimigo da liberdade.
Com Gazeta do Povo