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terça-feira, 18 de julho de 2017

VOCÊ CONHECE SEU PC? Parte X

BONS ARTISTAS COPIAM, GRANDES ARTISTAS ROUBAM, VERDADEIROS ARTISTAS SIMPLIFICAM. 

As placas-mãe se dividem ainda em onboard e offboard, embora essa nomenclatura fizesse mais sentido na pré-história dos microcomputadores, quando os modelos offboard traziam quase que exclusivamente o BIOS e o chipset ― todos os demais componentes, aí incluídos o coprocessador matemático, as controladoras dos drives de disquete e HD, as portas seriais, de impressora (paralela) e a memória cache eram vendidos separadamente e instalados em soquetes apropriados (para saber mais, clique aqui).

A cada nova geração, mais recursos são integrados aos circuitos das placas-mãe e respectivos chipsets (seu principal componente lógico), visando reduzir a quantidade de dispositivos autônomos e, por tabela, o custo final do aparelho. Para os fabricantes de chipsets, é conveniente embutir funções adicionais no "espaço ocioso" deixado pela progressiva miniaturização dos transistores, e como os fabricantes de placas precisam apenas adicionar os conectores apropriados para permitir seu aproveitamento, junta-se a fome à vontade de comer. Também nesse caso uma máquina comprada pronta limita as opções do usuário a aceitar ou recusar a configuração definida pelo fabricante, de modo que não há muito para onde correr.

O HDD, como já foi mencionado anteriormente, é a “memória de massa” do sistema e tem por função armazenar os de modo persistente. O primeiro modelo de que se tem notícia foi fabricado em meados do século passado pela IBM, e embora fosse composto de 50 pratos de 24 polegadas de diâmetro, sua capacidade de armazenamento mal chegava a 5MB. De lá para cá, a evolução tecnológica cumpriu seu papel, e esses componentes não só diminuíram de tamanho caíram de preço, mas também passaram a oferecer cada vez mais espaço: hoje, qualquer PC de entrada de linha integra um drive de pelo menos 500GB (já existem modelos com capacidade dezenas de vezes maior).

O resto fica para a próxima, pessoal. Até lá.

FICOU PARA AGOSTO, PARA SETEMBRO, OU PARA AS CALENDAS GREGAS.

Depois da substituição (imoral) de 13 dos 66 integrantes da CCJ do Senado e da farta distribuição de verbas parlamentares, ofertas de parcelamento de dívidas de prefeituras e outras benesses prometidas a políticos que se vendem como prostitutas em bordéis, o relatório alternativo (do tucano Paulo Abi-Ackel, que integra a “panelinha” de Aécio Neves) foi aprovado, mas os conspícuos congressistas anteciparam o recesso, bateram as asas e voaram para suas bases, inviabilizando tanto a leitura do relatório ― procedimento regimental indispensável à inclusão do tema na pauta de votação ―, já que somente 13 deputados registraram presença na Câmara, nesta segunda-feira, quando seriam necessários 51 para a abertura da sessão.

Fica evidente, portanto, que nem o governo nem a oposição seriam capazes de reunir os 342 deputados necessários para votar a autorização da denúncia da PGR contra Temer, que deve ficar mesmo para agosto, quando suas excelências retornarem das “merecidas férias”, ou para as calendas gregas, como afirmam alguns palpiteiros de plantão.

Ministros, assessores e outros baba-ovos do presidente se revezam em entrevistas, pontuando a necessidade de virar essa página o quanto antes, sem o que a Câmara não pode retomar a pauta de votações e aprovar reformas importantes, etc. e tal ― como se estivessem realmente preocupados com os interesses da nação, e não em salvar o “chefe” (para não cair junto com ele). Depois, em novo discurso, cantaram a vitória do governo e disseram que o problema passou a ser da oposição ― mas o fato é que tentaram até o último momento garantir a votação antes do recesso; só que não conseguiram sensibilizar nem mesmo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que não moveu uma palha para acelerar o cronograma.

Observação: Botafogo, como Maia era chamado na lista de propinas da Odebrecht, ou Bolinha, como se refere a ele alguns desafetos, seria, pelo menos em tese, aliado do Planalto, mas é o primeiro na lista sucessória presidencial e, portanto, o maior beneficiário de uma eventual deposição de Michel Temer ― daí dizerem que ele foi “picado pela mosca azul”, numa alusão ao poema Mosca Azul, de Machado de Assis (*).

Ainda no mês passado, Maia teria dito em off que a votação da denúncia só ocorreria em plenário depois do recesso, o que que agora se confirma. Para o ministro chefe da Casa Civil ― mais um do primeiro escalão que é réu no Supremo e investigado na Lava-Jato ―, o Bolinha tem sido de uma lealdade absoluta, mas, na prática, se não conspira abertamente ― como fez Temer durante o impeachment de Dilma ―, ele tampouco torce a favor do “chefe”. Até porque já vem se formando um consenso em torno de seu nome, com apoio de parlamentares e de setores da economia, que o consideram uma alternativa válida para substituir o impopular e desmoralizado presidente de plantão, dar andamento às reformas e comandar o país até o final de 2018).

Os próximos 15 dias serão de expectativa para Michel Temer. O doleiro Lúcio Funaro e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha disputam o interesse dos investigadores por suas possíveis delações, que focam na cúpula do PMDB (detalhes nesta postagem). E se o Planalto tinha votos suficientes para enterrar essa primeira denúncia (Janot deve apresentar mais duas antes de deixar a PGR, em meados de setembro), caso quórum para votá-la na sexta-feira passada ou nesta segunda, nada garante que o mesmo ocorra em agosto, pois, pressionados pelas bases durante o recesso, muitos deputados podem não estar propensos a apoiar o governo agonizante de um presidente impopular e acusado de corrupção passiva.

A condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro contribuiu para mudar, ainda que temporariamente, o foco dos holofotes, e a aprovação do texto base da reforma trabalhista deu algum fôlego ao governo, mas não é o caso de soltar rojões. E já que falamos no petralha mor, vejam mais um escárnio, mais um tapa na cara da sociedade de bem: O deputado petista Vicente Cândido pariu uma excrescência que já vem sendo chamada de "Emenda Lula". A proposta, feita sob medida para favorecer o molusco abjeto, visa aumentar de 15 dias para oito meses o período anterior às eleições em que presumíveis candidatos só podem ser presos em flagrante delito. Mas é possível que essa questão nem chegue a ser debatida na Câmara, até porque foi colocada pelo relator da proposta de reforma política sem ter sequer o consenso de seus colegas de bancada, e vem sendo repudiada pela maioria dos parlamentares.

Pela proposta esdrúxula, os postulantes apresentariam à Justiça Eleitoral uma declaração de que serão candidatos nas eleições de Outubro, e a partir daí ficariam imunes à prisão. Segundo Merval Pereira, essa patacoada evitaria apenas uma eventual prisão de Lula, e não sua inelegibilidade, sem mencionar que poderia ser alvo de contestação no Supremo, pois os autodeclarados candidatos deixariam de ser cidadãos iguais aos demais, o que contraria a Constituição. Em última análise, bastaria que um bandido, mesmo que não fosse parlamentar, se apresentasse como possível candidato para estar livre da prisão por oito meses, abrindo uma nova modalidade de ilegalidade aos partidos políticos: a venda de vagas para a imunidade.

Mais uma vez, as propostas de mudança nas regras eleitorais estão sendo utilizadas para resolver interesses pontuais. Quem observa os deputados federais tem a clara impressão de que “a ficha ainda não caiu”. A despeito de o atual sistema ter-se esgotado, arrastado para a vala dos escândalos de corrupção, ainda há parlamentares apegados, que não conseguem pensar em outra maneira de fazer campanha, de se relacionar com o poder Executivo ou mesmo de manter o padrão de vida conquistado nos últimos anos.

(*) Para encerrar, o poema Mosca Azul, de Machado de Assis:

Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão.
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada.
Em certa noite de verão.

E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua — melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.

Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
— "Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
Dize, quem foi que te ensinou?"

Então ela, voando e revoando, disse:
— "Eu sou a vida, eu sou a flor
Das graças, o padrão da eterna meninice,
E mais a glória, e mais o amor".

E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo
E tranqüilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.

Entre as asas do inseto a voltear no espaço,
Uma coisa me pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço,
Eu vi um rosto que era o seu.

Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vixnu.

Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.

Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios.
Voluptuosamente nus.

Vinha a glória depois; — quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.

Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.

Então ele, estendendo a mão calosa e tosca.
Afeita a só carpintejar,
Com um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.

Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.

Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.

Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.

Hoje quando ele aí cai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar taful
Dizem que ensandeceu e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

UMA HISTÓRIA DO OUTRO MUNDO



EU VOU CONTAR PRA TODOS/A HISTÓRIA DE UM RAPAZ/QUE TINHA HÁ MUITO TEMPO A FAMA DE SER MAU/SEU NOME ERA TEMIDO, SABIA ATIRAR BEM/SEU GÊNIO VIOLENTO, JAMAIS GOSTOU DE ALGUÉM.

Os versos acima foram pinçados da canção "A HISTÓRIA DE UM HOMEM MAU" (querendo, dê play no vídeo abaixo e ouça a música).

A razão de esse velho sucesso dos anos 1960 me ter vindo à mente e o porquê de eu usá-lo na abertura deste texto ficarão claros ao longo desta postagem.


Há quem acredite na existência de dimensões paralelas, onde clones de nós vivem as vidas que viveríamos se tivéssemos escolhido virar à direita em vez de à esquerda, ou vice-versa, nas diversas encruzilhadas que se nos apresentam ao longo de nossa existência (a quem interessar possa, sugiro a leitura deste artigo).

A ideia de múltiplos universos existindo simultaneamente em dimensões paralelas deu azo a inúmeros livros e filmes — dentre os quais eu recomendo o fantástico (sem trocadilho) seriado Fringe, de J.J. Abrans (de Armageddon e Missão Impossível 3), cujo piloto, tão caro quanto o de Lost, que já era um dos mais caros da história, àquela época, começa com um misterioso caso que, para resolver, a agente Olivia Dunham (Anna Torv) busca a ajuda do cientista excêntrico  Walter Bishop (John Noble), que não à toa foi internado em um manicômio.

Basicamente, a ideia é de que há tanto regiões do universo que foram inflacionadas no passado e criaram matéria e radiação quanto outras que ainda estão inflacionando e devem gerar em algum momento mais matéria e radiação, dando origem a novos universos.

Nesse multiverso, a Terra é apenas um dos planetas que compartilham nosso sistema solar, que é um dos incontáveis sistemas estelares que compõem a Via Láctea, que é uma das inúmeras galáxias que existem no Universo — algumas tão distantes que a luz de suas estrelas ainda não foram captadas por nossos mais poderosos telescópios.

Para além disso tudo, especula-se que haja outros universos, mas em dimensões diferentes — alguns tão minúsculos que seus sistemas estelares estariam dentro dos átomos que formam a matéria. Num deles, ou em alguns deles, ou em milhões, bilhões ou trilhões deles, talvez exista um "outro você" vivendo num mundo que pode ser igual a este, mas onde a história seguiu um curso diferente.

Detalhar tudo isso foge ao escopo desta postagem (para saber mais sobre multiverso clique aqui) e à esfera de conhecimentos deste humilde blogueiro, sem mencionar que fazê-lo tornaria esta introdução maior que a historinha de ficção que vou narrar a seguir — por "ficção" entenda-se "fantasia", algo que é fruto da criatividade e/ou imaginação do autor; assim, quaisquer semelhanças com fatos, eventos ou pessoas, vivas ou mortas, neste ou em outro país, serão meras coincidências.

Era uma vez um desses universos paralelos que supomos existir. Num de seus zilhões de galáxias, brilha uma estrela de quinta grandeza orbitada por uma porção de planetas, dentre os quais o Lodo, que abriga um paisinho sem-vergonha chamado Bostil.

Reza a lenda que o Criador foi magnânimo com Bostil ao distribuir benesses e desgraças entre os 7 continentes de Lodo. Assim, ao verem o país ser favorecido por um clima predominantemente subtropical, fauna e flora diversificadas e abundantes, mais de 8 mil quilômetros de costa e 5 mil quilômetros quadrados de florestas numa área chamada de Bananônia Legal — onde todo ano ocorrem queimadas, e todo ano ONGs e comunidades internacionais (pois é, isso existe também por lá) reagem como se a fumaça estivesse prestes sufocar toda a população do planeta —, a oposição chiou. Mas o Senhor das Esferas sentenciou: Esperem para ver o povinho de merda que eu vou colocar aí". Dito e feito.

Os primeiros habitantes de Bostil eram silvícolas preguiçosos, que não cultivavam nada, nem tampouco replantavam o que consumiam. Quando exauriam os recursos naturais da área ocupada por suas aldeias, simplesmente mudavam-nas para outro lugar. Quando suas mulheres pariam, refestelavam-se em suas redes; quando eram forçados pelos "colonizadores" a trabalhar, preferiam morrer (literalmente) a pegar no batente — qualquer semelhança com certo ex-presidente de origem popular, que séculos depois espoliaria o Erário de Bostil para se perpetuar no poder (pois é, coisas assim também acontecem por lá), pode ou não ser mera coincidência. Mas vamos por partes.

Bostil proclamou sua independência, trocou a monarquia pela república, foi presidido por uma sucessão de populistas e amargou por 21 anos uma ditadura militar que o atual presidente afirma jamais ter existido. O último ditador, que apreciava mais o cheiro dos cavalos que o do povo, pressionado por movimentos pró-diretas comandados por líderes políticos como Tronqueto Merdes e Ulyxo Cagalhões, deu início a um tortuoso processo de abertura. Mas não só deixou claro Bostil ainda teria saudades dele como se recusou a passar a faixa presidencial a José Sarnento, vice de Tronqueto — o primeiro presidente civil pós-ditadura eleito indiretamente (para evitar que o populacho fizesse merda), mas que esticou as canelas antes de tomar posse.

Durante a gestão do Sarnento-de-Bigode-e-Jaquetão, foi promulgada uma Constituição — a sétima da história de Bostil — que instituiu um formidável festival de bondades, mas se esqueceu de apontar quem bancaria a farra. E foi então que o sonho começou a virar pesadelo.

Sucedeu-lhe no cargo o primeiro presidente efetivamente eleito pelo valoroso voto popular na "nova república". Dois anos depois, denunciado por corrupção e ciente de que seria inexoravelmente penabundado, o escroque renunciou para evitar a perda de seus direitos políticos — mas então já era tarde demais: diante da forte pressão popular, o Congresso cassou-o mesmo assim... e, acredite se quiser, anos depois esse sacripanta foi eleito senador da república. Quem não está acostumado estranha, mas vai por mim: absolutamente tudo pode acontecer em Bostil.

Seguiu-se um governo de transição comandado pelo prosaico Lindomar Frango, e os bons resultados no combate à hiperinflação que campeava solta havia décadas levaram os bostileiros a eleger presidente seu ministro do fazenda, o grão-duque do partido "Rei na Barriga".

Devido à inenarrável soberba da legenda (curiosamente emblemada por um tucano), sucederam a seu governo 13 anos e fumaça da mais inacreditável roubalheira, então sob o comando do "Partido dos Camarões" (assim chamado porque seus integrantes e apoiadores não só são "vermelhos" e têm os intestinos na cabeça). Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca termine — mesmo nesse rincões da galáxia —, a sucessora do primeiro presidente Camarão, indicada para manter quente a poltrona presidencial enquanto seu padrinho político e mentor cumpria o intervalo constitucional de 4 anos após o qual poderia voltar a se candidatar ao posto, foi picada pela mosca azul (lá também tem mosca azul), fez um pacto com o diabo para se reeleger, mas acabou penabundada antes de concluir seu segundo mandato (ainda pior do que o primeiro).

Como consequência, durante dois anos e fumaça os bostileiros foram assombrados por um vampiro (vampiros existem nesse mundo paralelo, e não só em Bostil, mas em todo o planeta Lodo). Hoje, até onde se sabe, o país é comandado por Javir Bostonardo, um inconsequente saudosista da ditadura militar (por incrível que pareça, coisas assim acontecem por lá), mas isso já é assunto para o próximo capítulo, que pretendo publicar depois de amanhã. Até lá.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

BOLSONARO: AUTOGOLPE? — DE VOLTA À RENÚNCIA DE JÂNIO, SUAS CONSEQUÊNCIAS E OUTRAS CURIOSIDADES (CAPÍTULO 4)


A possibilidade de um suposto autogolpe urdido por Bolsonaro não explica satisfatoriamente o comportamento errático do capitão da caverna das trevas, mas certamente vai dar muito pano pra manga. A menos, naturalmente, que algo ainda mais relevante surja no cenário. E como estamos atravessando uma pandemia sanitária com vocês sabem quem na cabine de comando, é bem possível, infelizmente, que isso ocorra. Senão vejamos.

Paulo Guedes, por falta de alternativas, passou pano na estultice do chefe: "Bolsonaro é um democrata que 'sai correndo atrás' de passeata que tiver bandeira do Brasil. O governo tem compromisso com a democracia, um regime 'que faz barulho', e que o país vive um período de aperfeiçoamento institucional." Então tá.

A fala de Bolsonaro e sua participação na ato popular de domingo provocaram fortes reações no mundo jurídico e político. Rodrigo Maia disse ser uma “crueldade imperdoável com as famílias das vítimas” pregar uma ruptura democrática em meio às mortes da pandemia da Covid-19. Para Dias Toffolinão há solução para o país fora da democracia. Já o governador de São Paulo classificou como "lamentável" o fato de o presidente "apoiar um ato antidemocrático, que afronta a democracia e exalta o AI-5", e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi na mesma direção: chamou de "lamentável" a participação do capitão e disse que: "É hora de união ao redor da Constituição contra toda ameaça à democracia."

Bolsonaro amenizou o tom, mas a avaliação prevalente, segundo a Folhaé a de um paradoxo: a fraqueza política do presidente só tende a acirrar sua agressividade no embate, o que ocorreu no último final de semana. Mas é preocupante, a meu ver, a posição da ala militar do governo, que negou às cúpulas do Congresso e do Judiciário haver qualquer risco de ruptura democrática por parte de Jair Bolsonaro, mas também fez questão de dizer que considera que os Poderes têm agido de forma a cercear o presidente na crise do coronavírus. Preocupante, mas previsível. 

Mourão é vice-presidente, de modo que está sujeito à vergonhosa, mas poderosa, Bic de sua alteza. Mas o mesmo não se aplica ao ministério. Tanto auxiliares civis quanto militares podem ser exonerados por dá cá aquela palha, como descobriram o anjo da guarda de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, o incompetente ministro da educação Ricardo Vélez, os amigos de longa data e ministros generais Santos Cruz e Floriano Peixoto, os não tão amigos de tão longa data, mas igualmente ministros Gustavo Canuto e Osmar Terra, o secretário nazista Roberto Alvim e mais duas dúzias de presidentes de órgãos federais e dezenas de secretários e diretores do segundo escalão do governo. Um levantamento do Estado de agosto do ano passado apontava que havia, em média, uma demissão a cada sete dias

Sobre o lamentável episódio de domingo passado, o próprio ministro da defesa, general Fernando Azevedo e Silva divulgou nota reiterando o comprometimento das Forças Armadas com a Constituição e priorizando o combate ao coronavírus "e suas consequências sociais" — uma deixa não casual, alinhada à ênfase que Bolsonaro faz do impacto econômico da pandemia. Por outro lado, interlocutores do ministro entendem que a ala militar do governo não reprova a irritação de Bolsonaro, ao contrário

Na avaliação dos fardados, o Congresso tem agido sistematicamente contra Bolsonaro, tolhendo suas iniciativas. O Supremo também colabora com o clima de cerco ao Planalto com suas decisões em prol dos governadores e prefeitos na emergência sanitária. Isso alarmou atores políticos em Brasília, que passaram a segunda trocando impressões sobre quais podem ser os próximos passos da crise. Afinal, esperar que Bolsonaro venha um dia a respeitar a liturgia do cargo e agir com bom senso e discernimento é o mesmo que acreditar que um macaco consiga ensinar boas maneiras à mesa a um urso.

Se a ala militar foi compreensiva com o gesto do chefe, o mesmo não se pode dizer da ativa das Forças Armadas. Alguns membros do Alto Comando do Exército, usualmente simpáticos a Bolsonaro, se disseram chocados com o uso simbólico do QG da Força para o proselitismo do presidente. Assim, é possível dizer que o delicado equilíbrio entre um governo loteado por militares e os fardados da ativa sofreu um abalo significativo. A defesa constitucional feita por Fernando Azevedo foi pactuada para acalmar ânimos, mas as fissuras devem continuar.

Ainda segundo a Folha, a inflexão da ala militar precisa ser acompanhada de perto. Desde que recuperou prestígio no governo, no começo do ano, ela servia mais de anteparo ao radicalismo de Bolsonaro do que de amplificador de crises. Do ponto de vista institucional, todos parecem convencidos de que não há riscos reais de ruptura, até porque o presidente não tem força para isso — não há amplo apoio social, empresarial ou de militares a quaisquer aventuras. Mas também é claro o método de Bolsonaro em seus flertes autoritários. O presidente faz um gesto, é repreendido e modera o tom no dia seguinte. Mas a corda foi esticada mais alguns centímetros. Caso o capitão se sinta amparado pelos militares do governo, novos episódios serão inescapáveis. Com o agravante de que os elementos de mediação evaporam aos poucos.

Feita essa atualização dos fatos, vamos à postagem do dia:

A Nau dos Insensatos, onde repousa eternamente em berço esplêndido o gigante adormecido, navega por águas revoltas e sob nuvens de tempestade desde a redemocratização. E o que começou mal, devido à frustração da população com o naufrágio da Emenda Dante de Oliveira, em 1984, foi piorando ao longo dos milhares de milhas náuticas percorridos nos últimos 35 anos. Senão vejamos.

A emenda em questão defendia a volta das eleições diretas para presidente da República, mas a pressão dos militares — que também são sujeitos à picada “mosca azul” — inibiu parte dos deputados, que acabou votando contra a proposta, se abstendo de votar ou mesmo não comparecendo a sessão. Sem votos necessários para aprová-lo, o projeto sequer foi encaminhado ao Senado. Mas àquela altura o processo de reabertura política já havia ultrapassado “ponto sem retorno”.

Em 15 de Janeiro de 1985, Tancredo Neves (MDB) foi escolhido em eleição indireta (por um colegiado formado por senadores, deputados federais e representantes dos Estados) o primeiro presidente civil desde o início da ditadura militar, derrotando Paulo Salim Maluf (ARENA), que era o candidato apoiado pelos militares, por 480 votos a 180. Por ocasião do golpe de 1964, o político mineiro era Ministro do Trabalho no governo de João Goulart, e foi deposto juntamente com o chefe. Mas seguiu na vida pública durante toda a ditadura, daí muitos considerarem-no um estadista e outros, um oportunista que lambeu as botas dos militares para não perder a “boquinha”.

Seja como for, o avô daquele que em 2014 disputaria a presidência com a anta pedanta, seria derrotado por um punhado de votos que muita gente atribui a urnas com vontade própria e tendências esquerdistas, e que mais adiante se revelaria mais um político corrupto, outra vergonha nacional entre tantas) ganhou, mas não levou. Na madrugada do dia da posse, Tancredo foi internado no Hospital de Base de Brasília, submetido a uma cirurgia de urgência e, 38 dias (e sete cirurgias) depois, vira a falecer em São Paulo, justamente  no 21 de abril, que, por ironia do destino, é a data em que o país homenageia Tiradentes, o Mártir da Independência.

A morte de Tancredo mudou radicalmente o destino do eterno donatário da capitania do Maranhão — não à toa o estado mais pobre da Federação. Falo do senador biônico oligarca José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, o cacique da velha política coronelista maranhense mais conhecido como José Sarney, a quem o general João Batista de Oliveira Figueiredo (que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo e disse certa vez que daria “um tiro no coco” se fosse criança e seu pai ganhasse salário mínimo) se recusou a passar a faixa presidencial por considerá-lo um traidor por ter abandonado a ARENA e se filiado ao MDB para concorrer a vice na chapa de Tancredo. Como se vê, a mosca azul não perdoa ninguém.

Para não encompridar ainda mais esta postagem, o resto fica para amanhã

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

CURTAS, MAS RELEVANTES


Pelo andar da carruagem, a reforma política vai mesmo ficar para as calendas. Com a nova denúncia contra Temer, a votação certamente ficará prejudicada. Aliás, até os principais interessados ― os próprios políticos ― não parecem tão interessados assim: durante os debates desta semana, dois deputados ferraram no sono. Misael Varella, do DEM de Minas Gerais, deu umas “pescadas”, mas Vicente Arruda, do PDT cearense, puxou um ronco de fazer gosto (vide foto que ilustra esta postagem).

O Banco Central reduziu ainda mais a expectativa da inflação para este ano e para os seguintes. Segundo a FOLHA, o órgão prevê índices de 3,2% para 2017, 4,3% para 2018, 4,2% para 2019 e 4,1% para 2020. Parece que os “pilotos de prova de escrivaninha” do BC não fazem compras no supermercado, não pagam planos de saúde e nem abastecem o carro. Além disso, num cenário em que não se sabe sequer se o presidente dura mais um mês no cargo, fazer previsões para um futuro “tão distante” é uma temeridade (sem trocadilho).

A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática desbaratou uma quadrilha que clonava cartões de crédito e os usava para comprar entradas para jogos de futebol, eventos culturais e shows, que revendiam no câmbio negro após alterarem os vouchers. Essa seleta confraria atuava no Rio, mas um de seus líderes foi preso em São Paulo. O fiduma tem apenas 16 anos, mas seu futuro é promissor, especialmente se entrar para a política.

Muito se tem criticado a “judicialização” ― algo que Gilmar Mendes, o ministro supremo, definiu como “república de juízes e promotores” ― mas o poder abomina o vácuo, e com o Executivo na situação em que está e o Legislativo sob investigação e sem consenso, resta ao Judiciário preencher as lacunas e pôr ordem no galinheiro. E é bom que o faça, porque o cenário atual é terreno fértil para os populistas e alienados de ocasião. Veja o leitor que alguns generais já perderam o pudor e vêm defendendo abertamente a intervenção militar para solucionar a crise, caso ela não seja resolvida pelas próprias instituições ― o candidato a candidato Jair Bolsonaro apoiou o falastrão, que, ao que tudo indica, receberá apenas uma advertência verbal.

Volto a lembrarMilitares não são imunes à picada da mosca azul, e a história ensina que eles vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam no poder, prendem e arrebentam a torto e a direito e não resolvem merda nenhuma.

Dias atrás, comentei que as fantasiosas declarações de Temer em relação às acusações feitas contra ele são um repeteco das de Lula, embora o peemedebista ainda não tenha se tornado réu, e o petista já colecione 7 ações criminais e sido condenado em uma delas. Acho que tem alguém vendendo algum tipo de “manual do corrupto” lá em Brasília, haja vista que todos os investigados, acusados, denunciados e assemelhados protestam inocência, afirmam que jamais receberam um tostão ilegal e que são alvo de acusações levianas feitas por delatores mentirosos, capazes de dizer qualquer coisa para reduzir as respectivas penas.
A defesa de Temer pediu afastamento de Janot; a defesa de Aécio pediu afastamento de Edson Fachin, a defesa de Lula pediu afastamento de Sérgio Moro e a defesa de Aldemir Bendine imitou a defesa de Lula. Cada investigado ― peemedebista, tucano ou petista ― atribui a seus denunciadores ou julgadores um caráter persecutório.

Observação: Os advogados de Lula vêm sistematicamente testando a paciência do Judiciário com seu jus sperniandi, mas, por óbvio, perdem um recurso atrás do outro. Depois do pedido de suspeição contar o juiz Moro ter sido negado pelo TRF-4, eles recorreram ao STJ, mas o ministro Felix Fischer negou monocraticamente o apelo.

Felipe Moura Brasil, que agora integra a equipe do site O ANTAGONISTA, diz que as perguntas da vez são: Quem irá pedir a “suspeição” de Antonio Palocci? Quem vai alegar que ele não é “o competente” para dar testemunho? Quem vai acusá-lo de decisão “monocrática”?

O máximo que se pode argumentar contra Palocci, no padrão dos pedidos de afastamento feitos por investigados, é que ele “extrapola a normal conduta de um membro do PT”, pois rompe a Omertà ― a Lei do Silêncio da Máfia, que até agora vem sendo respeitada por petistas históricos, como Dirceu e Vaccari. Mas isto só potencializa a força inédita de seu depoimento, que levou as linhas auxiliares do PT a começar a pular do barco de Lula e avaliar o lançamento de candidaturas próprias para 2018.

E diz mais o jornalista: Se “um é pouco, dois é bom, três é demais”, para a esquerda “um” foi Marcelo Odebrecht, “dois” foi Feira (João Santana e Mônica Moura), “três” foi Palocci. Até Ciro Gomes, que defendeu Lula da condução coercitiva, da divulgação da conversa com Dilma sobre o “termo de posse” e da condenação no caso do triplex, admitiu que o depoimento “fere o centro da narrativa de Lula e do PT, de que há um inimigo externo ao PT promovendo, via judicial, uma perseguição injusta contra o presidente, e, na medida em que um braço direito de Lula faz isso, fica difícil sustentar a narrativa” ― narrativa até então ecoada por Ciro. Tão difícil que o PT reduziu de 100 mil (no primeiro depoimento de Lula em Curitiba) para 2.500 (no segundo) a previsão de militantes na Capital paranaense, com o objetivo evidente de evitar uma nova impressão geral de fiasco. E fizeram bem, como agora se sabe. No último dia 13, havia mais policiais, no entorno do edifício onde fica a 13ª Varal Federal do Paraná, do que manifestantes.

A bomba do insuspeito Palocci explodiu Lula e despedaçou a esquerda nacional.

Tenham todos um ótimo domingo.

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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

DE VOLTA A RENÚNCIA DE JÂNIO, SUAS CONSEQUÊNCIAS E OUTRAS CURIOSIDADES — PARTE 8


Vimos no capítulo anterior que o grão duque tucano, insuflado pelos ventos benfazejos do Plano Real, elegeu-se presidente em 1994 e, picado pela célebre “mosca azul”, articulou a aprovação de uma reforma constitucional destinada a permitir que presidentes da República (e seus vices) disputassem a reeleição (apenas uma vez para um mandato subsequente e sem restrição para um pleito não consecutivo).

Como é burro ou não tem arte quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, o próprio FHC disputou a reeleição em 1998 e tornou a derrotar, já no primeiro turno, um certo retirante nordestino analfabeto, desculturado e malandro, que usou o sindicalismo como trampolim para a política e fundou uma agremiação de criminosos disfarçada de partido (que se locupletaria do Erário por anos a fio).

Sobre a reeleição em sentido lato, falaremos em outra oportunidade; sobre a emenda constitucional que a implementou, vale relembrar em poucos parágrafos como funciona a política brasileira. Aliás, em 2014, quando FHC criticou Lula pelo baixo nível da campanha de Dilma, o sevandija de Garanhuns respondeu: “Vi o ex-presidente falar com a maior desfaçatez:É preciso acabar com a corrupção’. Ele devia dizer quem é que estabeleceu a maior promiscuidade entre Executivo e Congresso quando ele começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição”.

Lula reclamar de corrupção em governo alheio é o mesmo que Marcola, chefe do PCC, imputar crimes à facção arquirrival Comando Vermelho, mas o fato é que, menos de quatro meses depois que a PEC da reeleição foi aprovada na Câmara, o jornal Folha de São Paulo publicou reportagem com chamada em duas linhas na primeira página: “Deputado conta que votou pela reeleição por R$ 200 mil”.

A matéria citava os deputados federais Ronivon Santiago e João Maia, que afirmaram em depoimentos gravados que receberam 200 mil reais cada, em dinheiro, para votar a favor da emenda; seu pares Chicão Brígido, Osmir Lima e Zila Bezerra foram mencionados nominalmente e dúzias de outros parlamentares figuraram como suspeitos de participação no esquema. Ao fim e ao cabo, ninguém foi preso.

Uma semana depois de a Folha ter publicado a denúncia, Santiago e Maia renunciaram por “motivos de foro íntimo”, segundo ofícios idênticos enviados ao Presidente da Câmara, e Chicão, Osmir e Zila foram absolvidos pela CCJ em processo relatado por deputado governista. Apesar da fartura de provas documentais, o então engavetador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não acolheu nenhuma representação que pedia o envio de denúncia ao STF.

Em 4 de junho a emenda foi aprovada pelo Senado, onde o governo já contava com ampla maioria, e imediatamente promulgada, de modo a garantir sua vigência nas eleições do ano seguinte, das quais Fernando Henrique sairia como primeiro presidente reeleito. 

Em 27 de junho de 1997, por indicação de FHC, o engavetador-geral foi reconduzido ao cargo (que acabou exercendo por oito anos, de julho de 1995 a junho de 2003).

FHC sempre negou o esquema, mas em 2007 mudou um pouco a história: “O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovou. (…) Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito menos”. 

Anos mais tarde, em delação premiada firmada com a força-tarefa da Lava-Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa, que admitiu ter se envolvido em crimes desde seu primeiro mandato parlamentar, em 1978, pela extinta Arena, e que foi condenado pelo então juiz Sergio Moro a 20 anos e três meses de prisão quando ainda cumpria sua pena no mensalão, afirmou aos investigadores que o episódio envolvendo a PEC da reeleição no governo FHCfoi um dos momentos mais espúrios” que ele presenciou em todos os anos de deputado federal.

Segundo Corrêa, houve uma disputa de propinas para aprovar a PEC. De um lado, FHC; do outro, Paulo Maluf — que na época havia deixado a prefeitura de São Paulo com alta aprovação e com sua candidatura à Presidência da República cogitada.

Por parte do governo federal, a iniciativa da reeleição foi liderada pelo então ministro das Comunicações Sérgio Motta (morto em 1998) e pelo então presidente da Câmara Luis Eduardo Magalhães (também morto em 1998), com o apoio do então deputado Pauderney Avelino e dos então governadores do Amazonas e do Acre “entre outras lideranças governistas”.

O delator disse ainda que essas lideranças compraram os votos de mais de 50 deputados, e que, além dos fatos já narrados, também participou desse episódio, mas de forma contrária, tentando alijar com propinas deputados em desfavor da emenda constitucional com recursos do então ex-prefeito da cidade de São Paulo e hoje deputado federal, Paulo Maluf.

Maluf sabia que, se o governo conseguisse passar a emenda da reeleição, seu maior concorrente seria o presidente à época, FHC”, disse Corrêa, e que ele e os deputados Severino Cavalcanti e Salatiel Carvalho foram convocados pelo turco “para se contrapor ao governo e também cooptar, com propina, parlamentares que estivessem se vendendo ao governo FHC”.

FHC disse que Corrêa apenas repetiu o que foi veiculado pela imprensa na época e que já tratou do assunto em sua biografia lançada recentemente sobre o período em que ocupou a Presidência da República, chamada Diários da Presidência. No livro, ele relata que o episódio foi uma “questão do Congresso”.

Em um dos “diários”, o tucano chega a relatar que foi informado por Luis Eduardo Magalhães que Maluf teria oferecido R$ 1 milhão ao deputado Fernando Brandt, da comissão da Câmara que analisava a proposta da emenda constitucional da reeleição, para votar contra a medida, mas não cita outros parlamentares nem os detalhes relatados por Corrêa.

Segundo a Gazeta do Povo, a assessoria de  Maluf disse que “O favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso com a sua reeleição, e portanto é o FHC que deve ser ouvido”. Pauderney Avelino, por meio de nota, rechaçou as acusações do delator e afirmou que não responderia a “bandidos e ladrões do dinheiro público”. ACM Neto, da família de Luis Eduardo Magalhães, não se manifestou, a exemplo dos demais políticos citados na delação que ainda estão vivos.

Continua no próximo capítulo.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

A REPÚBLICA DE JUÍZES E PROMOTORES

Muito se tem criticado a “judicialização” ― que Gilmar Mendes, o ministro supremo, definiu como “república de juízes e promotores”. Mas há que se ter em mente em mente que o poder abomina o vácuo, e com o Executivo na situação em que está e o Legislativo sob investigação e sem consenso, cabe ao Judiciário preencher as lacunas e pôr ordem no galinheiro ― e com a possível urgência, para evitar que populistas de plantão se aproveitem da situação.

Mas não é só: esse cenário de incertezas pode levar outros militares de alta patente a apoiar as ideias do general Mourão, e aí, um belo dia, acordamos com as tropas nas ruas, numa “intervenção militar” que soa bem nos ouvidos peludos dos admiradores de Bolsonaro, mas que, na prática, sabemos muito bem no que dá. Melhor apostar as fichas num Judiciário capenga, porque os milicos não são imunes à picada da mosca azul, e a história ensina que eles vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam, prendem, arrebentam e não resolvem porra nenhuma.

Observação: Segundo o cientista político Murillo de Aragão, quatro fatores favorecem o predomínio do Judiciário: O primeiro é a incapacidade de o mundo político esboçar uma reação conjunta e coerente frente aos eventos derivados da Operação Lava-Jato; o segundo resulta da crescente fragmentação do Congresso e da sua consequente incapacidade de decidir questões complexas (levando o Judiciário a preencher essa lacuna); o terceiro é o efeito conjunto dos dois primeiros, que resulta num ativismo crescente por parte de juízes e promotores, que testam ao máximo os limites da lei e acabam “legislando”, preenchendo lacunas do sistema legal; o quarto é a tendência inexorável de punição aos políticos envolvidos nas investigações da Lava-Jato.  

O problema é que, se em Curitiba, berço da Lava-Jato, figurões como Lula, Eduardo Cunha e outros 105 investigados já acumulam penas que, somadas, chegam a 1634 anos de cadeia, em Brasília, onde são investigados cerca de 250 políticos com prerrogativa de foro, ninguém foi condenado até agora. O STF já homologou 120 delações premiadas. Delas, resultaram 185 inquéritos, mas apenas 6 denunciados se tornaram réus e 3 foram presos ― e um deles, o ex-senador Delcídio do Amaral, já teve a prisão revogada.     

Nas ações que tramitam no STF, mesmo quando há fartura de provas, os políticos com mandato continuam livres. Fernando Collor, Gleisi Hoffmann e Valdir Raupp integram a seleta confraria de senadores réus na Lava-Jato. Há cerca de um mês, a 2ª Turma do STF acolheu parcialmente a denúncia apresentada pela PGR (em 2015) contra o “caçador de marajás” de araque, por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas, traçando um paralelo com a situação legal do deputado Paulo Maluf, que há 4 meses foi condenado a 7 anos, 9 meses e 10 dias de prisão em regime fechado (*) e continua flanando pelo Congresso ― a despeito de a mesma 2ª Turma ter determinado sua interdição para o exercício de cargo e função pública de qualquer natureza pelo dobro da pena privativa de liberdade ―, não espere viver para ver toda essa caterva na cadeia. Aliás, talvez seja por isso que se diz que “bandido esperto vai para a política e bandido burro, para a cadeia”.

Para não encompridar demais este texto, o resto fica para uma próxima postagem ― aliá, imagino que você esteja tão de saco cheio de ler sobre a corrupção e a impunidade na política quanto eu de escrever sobre o tema.

(*) A 1ª Turma do STF marcou para esta terça-feira, 26, o julgamento dos derradeiros recursos interpostos pela defesa do turco lalau, nos processos em que ele foi condenado por lavagem de dinheiro na Ilha de Jersey. Dependendo do resultado, Maluf, desde 2010 na lista da Interpol e já condenado pela Justiça brasileira, pode acabar o dia na cadeia. 

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segunda-feira, 18 de março de 2024

DANDO NOME AOS BOIS

 

Quem dá a chave do galinheiro às raposas não pode reclamar do sumiço das galinhas, e quem vota em políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e legislam em causa própria não pode reclamar da corrupção. 

Nos idos de 1970, o "rei" Pelé e o "presidente" Figueiredo alertaram para o perigo de colocar brasileiros e urnas no mesmo ambiente; passados 50 anos, o eleitorado apedeuta ainda não aprendeu que "agentes políticos" são funcionários públicos pagos com dinheiro dos impostos para servir aos interesses da nação. 

Uma rápida vista d'olhos nos "eleitos" desde a redemocratização (não que a situação fosse muito melhor antes de 1964) sugere que galinhas criarão dentes antes de que a ralé escalada pelo Criador para povoar esta banânia descobrir que político não deve ser endeusado, mas cobrado — e penabundado se mijar fora do penico. 
 
Na eleição solteira de 1989 — a primeira pelo voto popular desde 1960 — havia 22 postulantes ao Planalto, entre
 os quais Ulysses Guimarães e Mário Covas. Acabou que o esclarecidíssimo eleitorado despachou Collor e Lula para o segundo turno. O caçador de marajás de mentirinha derrotou o desempregado que deu certo de verdade, mas se envolveu com corrupção e renunciou horas antes do julgamento de seu impeachment.

Com a deposição do "Rei Sol", Itamar Franco foi promovido a titular. Tendo o sucesso do Plano Real como cabo eleitoral, Fernando Henrique derrotou Lula em 1994; picado pela mosca azul, comprou a PEC da reeleição (detalhes nesta postagem) e derrotou Lula em 1998. Mas já não restavam ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola, e Lula venceu Serra em 2002 e Alckmin em 2006. 

Em 2010, o "cara" de Barack Obama escalou uma gerentona de araque para manter aquecida a poltrona que tencionava voltar a ocupar dali a quatro anos, mas madame pegou gosto pelo poder, promoveu o maior estelionato eleitoral da história e venceu Aécio Neves em 2014 — com a menor diferença de votos desde a eleição de Juscelino em 1955. 
 
Promovido de vice a titular pelo impeachment da "mulher sapiens", Michel Temer 
conseguiu baixar a inflação e a Selic e aprovar o Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu "ministério de notáveis" revelou-se uma notável confraria de corruptos, e o fato de ter sido citado nas delações da Odebrecht (43 vezes somente na do ex-diretor de relações institucionais da empreiteira não ajudou) não contribuiu para a popularidade de um presidente visto como traidor e golpista pelos petistas e malvisto pelos que comemoraram o final do governo petista (por ter sido vice de Dilma e presidido o maior partido da base aliada do governo petista por 15 anos).

Observação: Num primeiro momento, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba. Após 13 anos e fumaça ouvindo os garranchos verbais de um semianalfabeto e as frases desconexas de uma  destrambelhada, um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises era um refrigério. 

Quando vieram a público o áudio da conversa de alcova com o carniceiro de luxo Joesley Batista e o vídeo de Rodrigo Rocha Loures arrastando uma mala de dinheiroTemer viu seu sonho de entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos trilhos" se transformar no pesadelo de se tornar primeiro Presidente denunciado no exercício do cargo por corrupção, formação de quadrilha e obstrução da Justiça. 

Demovido da ideia de renunciar por Eliseu Padilha, Moreira Franco, Carlos Marun, Romero Jucá e outros puxa-sacos que perderiam os cargos e o foro privilegiado se o chefe pedisse o boné, o nosferatu tupiniquim esbravejou — num pronunciamento à nação feito mais de 40 horas depois do furo de Lauro Jardim  que o STF seria "o território onde surgiram as explicações e restaria provada sua inocência". A partir daí, pôs-se a mentir descaradamente para justificar o injustificável, moveu mundos e fundos — especialmente fundos — para se escudar das "flechadas de Janot" e claudicou pela conjuntura como pato manco até o final do mandato-tampão, que se encerrou com a transferência da faixa presidencial para Jair Bolsonaro, o subproduto da escória da raça humana que se elegeu graças a uma formidável conjunção de fatores

Como ensinou o Conselheiro Acácioas consequências sempre vêm depois. Para supresa de ninguém, o deputado do baixo-clero que aprovou dois projetos em 7 mandatos e obteve míseros 4 votos quando disputou a presidência da Câmara (em 2017) se tornou o pior mandatário desde Tomé de Souza — e o primeiro, desde a redemocratização, a não conseguir se reeleger. Se essa criatura repulsiva não tivesse conspirado 24/7, fomentado a Covid, rosnado para o Congresso e o Supremo e se amancebado com Queiroz, Zambelli, milicianos e outros imprestáveis, é possível que o xamã do PT continuasse gozando férias compulsórias na carceragem da PF em Curitiba. 

Uma vez confirmada a derrota nas urnas, o "mito" da extrema-direita radical se encastelou no Alvorada, onde ficou até a antevéspera da posse de Lula, quando então desabalou para os EUA e se homiziou na cueca do Pateta por quase três meses, aguardando o desenrolar dos acontecimentos urdidos no Brasil por seus comparsas golpistas. 
 
Lula merece um capítulo especial, que lhe será dedicado na próxima postagem.

terça-feira, 8 de maio de 2018

SOBRE A AMEAÇA DA INTERVENÇÃO MILITAR



Se as forças armadas assumissem o governo, fechassem o Congresso, o STF, e mandassem essa corja toda para o xadrez, quantos brasileiros ficariam a favor dos militares? É difícil dizer. Mas o número de pessoas que vê a intervenção militar como a única solução para limpar a estrabaria em que se transformou o poder público tupiniquim cresce a olhos vistos a cada dia que passa.

Sempre tive comigo que a pior democracia ainda é melhor que a melhor das ditaduras, e que os militares não são imunes à corrupção nem à picada da mosca azul. Aliás, a história ensina que eles vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam no poder, prendem, arrebentam e não resolvem merda nenhuma. De uns tempos a esta parte, no entanto, venho repensando esses conceitos.

Com a possível exceção da extrema direita, ninguém gosta de falar abertamente em intervenção militar, regime militar, ditadura militar. É preciso ficar contra, é claro, mas ficar contra agora pode ser um problemão depois, se um dia a casa cair. Por isso, como ressalta o jornalista J.R. Guzzo em mais um artigo magistral, publicado na edição impressa de Veja desta semana, quem tem algum interesse em política já não se sente desconfortável em tocar no assunto, sobretudo se não tiver mais paciência com o lixo que as mais altas autoridades produzem sem parar e despejam todos os dias à sua porta.

Avança a passos de gigante o número de cidadãos que veem com bons olhos a possibilidade de os militares promoverem uma faxina em regra no que é hoje a vida pública neste país. O assunto é espinhoso, e discuti-los abertamente é como falar em corda em casa de enforcado. Mas não é assobiando que se espanta a assombração, nem fazendo cara de preocupado em programas de TV ou escrevendo artigos para pedir aos militares, por favor, que respeitem a Constituição, as instituições e os monstros que ambas pariram e hoje estão soltos por aí.

Embora não haja dados oficiais ― até porque os institutos de pesquisa não fazem a pergunta, talvez por medo de ouvir a resposta ―, imagina-se que uma parte significativa da população receberia com uma salva de palmas as imagens de tanques rolando nas ruas e políticos, ministros supremos e empreiteiros de obras atropelando-se uns aos outros para fugir pela porta dos fundos. E diminui a cada dia o número de pessoas realmente dispostas a brigar pela manutenção dessa democracia que está aí. Afinal, você sairia às ruas para defender, por exemplo, o mandato dos senadores Renan Calheiros, Aécio Neves, Romero Jucá e outros que tais?

Por mais que se faça de conta que as instituições estão funcionando, a classe política perdeu o respeito dos cidadãos deste país. Afinal, se quem deveria manter o regime democrático funcionando se desmoraliza a cada dia e despreza solenemente as regras da democracia, como, então, achar que está tudo bem? Só nossas “autoridades constituídas” dizem que está: como a Constituição proíbe o fechamento do Congresso, do Supremo, etc., imaginam que podem pintar e bordar, que os militares, informados de que existe uma “cláusula pétrea” mandando o Brasil ser uma democracia, continuarão assistindo impassíveis à anarquia promovida por magistrados supremos, ministros de Estado, líderes parlamentares e outros que têm a obrigação de sustentar o cumprimento das leis, mas vivem em colapso moral e não conseguem manter em pé nem mesmo um guarda-sol de praia.

Falam que não se pode confundir a democracia com as pessoas que ocupam cargos de governo ― de outra forma, um regime democrático só existiria numa sociedade de homens justos e racionais ― e que os que estão mandando mal podem ser substituídas através de eleições, processos judiciais e demais mecanismos previstos em lei, e blá, blá, blá... Mas é exatamente isso que vem sendo feito no Brasil, sem sucesso, desde 1985. Nossa democracia faliu. Tenta-se fazê-la funcionar há mais de 30 anos, mas ela não funciona. Talvez seja possível seguir adiante por mais algum tempo, com um remendo aqui e outro ali, mas é indubitável que, neste momento, há menos gente disposta a escorar o que está ruindo do que a chutar o pau da barraca.

O Brasil é um país sui generis. Em qualquer lugar do mundo, golpes são promovidos por quem tem o apoio das forças armadas e quer mandar às favas a Constituição. Aqui, os militares dizem ― com deu a entender semanas atrás o General Villas Boas ― que exigem o cumprimento da Constituição e das leis penais para continuar nos quartéis. Quem está querendo abolir a Constituição e as leis penais são Lula, o PT e seus satélites, que não conseguem sobreviver com as regras atuais ― eles e a cáfila de políticos de todos os partidos que estão com a Justiça seus calcanhares, as empreiteiras de obras públicas, os fornecedores do governo e tantos outros que vivem de rapinar o Tesouro Nacional.

O último esforço (último no sentido de mais recente, não de derradeiro, infelizmente) em favor dessa corja abjeta partiu do trio assombro togadoGilmar, Toffoli e Lewandowski ―, com vistas a tirar Lula da prisão, suprimir provas e anular sua condenação. É o sonho do criminoso de Garanhuns, de seus advogados milionários de Brasília, do PT-PSOL-PCdoB etc. e de dez entre dez bandidos sob ameaça de punição: declarar a Lava-Jato ilegal, sumir com tudo que ela já fez e demitir o juiz Moro a bem do serviço público, juntamente com todos os magistrados que combatem a corrupção no Brasil. Claro que os ministros supremos não dizem isso com essas palavras, e sim estão aplicando o embargo dos embargos do agravo teratológico com efeito suspensório diante da combinação hermenêutica de mutatis mutandis interlocutórios com ora pro nobis infringentes. Nem perca tempo com o vodu jurídico que a mídia repassa com casca e tudo: é pura tapeação para ver se soltam Lula e ajudam a ladroagem a escapar do xadrez e continuar roubando em paz.

Lula e seu sistema de apoio não querem a democracia. Recusam-se a cumprir a lei e a aceitar decisões legítimas da Justiça. Sabem que não têm futuro num regime democrático, com poderes independentes, Lava-Jato, imprensa livre e o restante do pacote. Eles precisam estar no governo, não só para ter empregos, fazer negociatas e ganhar dinheiro da Odebrecht, mas porque estar no poder é a diferença entre estar dentro ou fora da cadeia. É por isso que o deputado petista Wadih Damous disse outro dia que “é preciso fechar o STF” ― depois de reconhecer que o ministro Gilmar Mendes é um aliado do partido.

O mundo político e a elite, caídos de quatro no chão, olham em silencio para tudo isso, aterrorizados por Lula e assustados com a voz da tropa. Quando quiserem reclamar, poderão se ver reclamando sozinhos. E tarde demais.

Com J.R. Guzzo.

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