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domingo, 26 de fevereiro de 2017

MAIS UM CARECA A MENOS NUMA ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS CADA VEZ MAIS ENROLADA

Na noite da última quinta-feira, José Serra entregou sua carta de demissão ao presidente Michel Temer, que, pego de surpresa, tentou convencê-lo a optar por uma licença. Mas o ministro foi irredutível. Segundo ele, o pedido se deve a uma “instabilidade segmentar vertebral e estenose foraminal” ― um problema na coluna cervical ― e requer um tratamento intensivo de quatro meses, durante os quais ele não poderia fazer os longos voos internacionais, indispensáveis ao exercício das funções de chanceler, sob pena de lesão na medula.
Assim, a “equipe de notáveis” do governo abre mais uma vaga a ser preenchida. Fala-se que a pasta será mantida sob o controle do PSDB, e o principal cotado ― até o momento ― é o líder do governo no Senado Federal, Aloysio Nunes Ferreira. Serra reassumirá suas funções no Senado, na vaga ocupada hoje pelo suplente José Aníbal, e assim terá mais tempo para dedicar também à sua defesa, já que ele é um dos mais de 100 citados na Delação do Fim do Mundo.

Observação: Com a aprovação de Alexandre Moraes para substituir Teori Zavascki no Supremo, restou a Temer escolher um novo ministro da Justiça e Segurança Pública. Meio que a contragosto e a despeito das críticas públicas do vice-presidente da Câmara, o presidente convidou o deputado Osmar Serraglio, que não só aceitou o cargo como se comprometeu a “manter distância” da Lava-Jato. Resta ainda definir que ocupará a secretaria nacional da Segurança Pública, hoje sob o comando do Ministério da Justiça. Fala-se no criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, amigo de Temer, que chegou a ser cotado para comandar o próprio Ministério quando o PMDB chegou ao poder, mas acabou sendo descartado devido a declarações que deu com críticas à Lava-Jato.

Falando em delações e que tais, Eliseu Padilha, o todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil e amigo pessoal de Michel Temer, pediu afastamento do governo na última quinta-feira (23), a pretexto de fazer uma cirurgia de retirada de próstata. O pedido se deu um dia após as declarações do ex-assessor especial da Presidência da República José Yunes, de que teria intermediado o recebimento e a entrega de um envelope ao ministro, em setembro de 2014 (pouco antes da eleição presidencial na qual a chapa Dilma-Temer foi reeleita), pelo doleiro Lúcio Funaro, apontado pela Lava-Jato como operador do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

A matéria de capa da revista Veja com a informação de que Yunes afirma ter sido “mula” de Padilha também alimentou, no início da noite da quinta-feira, as teorias de que o ministro estaria sendo “rifado”. Fontes próximas a Yunes e Temer disseram ter sido “surpreendidas” com as declarações do ex-assessor, enquanto auxiliares de Padilha afirmaram, em caráter reservado, que a declaração de Yunes parecia ser uma estratégia de “fogo amigo” para tirar o ministro da Casa-Civil. Para O ANTAGONISTA, é mais do que evidente que a manobra foi combinada com o presidente: Yunes entrega Padilha, que deixa o governo para tratar da saúde e não vota mais, sacrificando-se em benefício de Temer.

Volto a lembrar que o time de notáveis ― prometido por Temer quando assumiu interinamente a presidência com o afastamento da mulher sapiens, em maio do ano passado ―, revelou-se um notável time de enrolados com a Justiça. Tanto que seu ministério teve sucessivas baixas desde então, fechando o ano passado com a média uma por mês. Agora, com a confirmação de Moreira Franco para a Secretaria Geral da Presidência da Banânia e a saída de Serra e de Padilha, o primeiro escalão do governo ainda conta com quatro integrantes citados na Lava-Jato (dentre os quais o próprio Michel Temer), sem prejuízo de outros nomes que podem surgir depois do Carnaval, por conta da recém-homologada delação dos 77 da Odebrecht.

Para evitar uma degradação ainda maior da sua já escassa popularidade, Temer disse, no último dia 13, que “meras citações” não bastam para provocar demissões, mas que afastará temporariamente qualquer auxiliar que venha a ser denunciado pela PGR (situação em que o direito a salários e ao foro privilegiado são mantidos) e definitivamente se e quando o STF aceitar a denúncia (antes, portanto, da sentença condenatória, caso o réu seja declarado culpado). Aparentemente, trata-se de uma medida saneadora; na prática, porém, ela concede sobrevida aos delatados na Lava-Jato ― mantido o atual ritmo de tramitação dos processos no Supremo (detalhes nesta postagem), não há a menor possibilidade de alguém ser denunciado antes do final do mandato do presidente, em dezembro do ano que vem.

Para a oposição, a regra estabelecida por Temer, visando amenizar um previsível desgaste futuro, pode não funcionar depois que o conteúdo das delações e todos os seus detalhes forem revelados. Mas, convenhamos, todo esse desgaste poderia ter sido evitado se o presidente tivesse sido mais seletivo na escolha de seus “notáveis”: Maurício Quintella, por exemplo, jamais deveria ter sido nomeado ministro (dos Transportes), já que havia sido condenado pela Justiça Federal de Alagoas em 2014. E o mesmo vale para Blairo Maggi (da Agricultura), que réu em um processo que trata do uso de dinheiro público para suposta compra de uma vaga no Tribunal de Contas do Estado; para Gilberto Kassab (de Ciência, Tecnologia e Comunicações), réu em diversas ações de improbidade administrativa na Justiça de São Paulo (além de citado na Lava-Jato); José Serra (que, como dito nesta matéria, acabou de se demitir do Ministério das Relações Exteriores), por ser réu em um processo de improbidade administrativa na Justiça Federal do Distrito Federal; e para Eliseu Padilha (também citado linhas atrás), que é réu desde 2014 em um processo de improbidade administrativa na Justiça Federal do Rio Grande do Sul, além de ser citado também na Lava-Jato.

Será que, como Lula no Mensalão e no Petrolão, nosso ilustre presidente também “não sabia de nada”? Conversa! Ele sabia de tudo desde 2014 (e Lula também, mas isso já é outra história). Temer e Yunes são amigos desde a década de 60. No ano passado, essa amizade rendeu a este último a presidência do diretório municipal do PMDB em Sampa e a chefia do gabinete adjunto de agenda do presidente, de onde passou para assessoria especial da Presidência. Em dezembro, porém, afirmando que seu nome havia sido “jogado no lamaçal de abjeta delação por irresponsáveis denúncias” (leia-se a delação de Cláudio Mello Filho, um dos 77 da Odebrecht), ele se afastou do governo, embora tenha mantido a direção do PMDB ― e o comando do Yacht Club de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo.

Temer vê com preocupação o imbróglio que arrasta seu principal ministro para o olho do furacão da Lava-Jato e coloca seus dois velhos amigos em rota de colisão. Ele sabia que Yunes havia prestado depoimento ao Ministério Público e também sobre a entrevista à revista Veja ― onde Yunes afirma que Padilha o usou como “mula” na campanha de 2014. “Contei tudo ao presidente em 2014. “O presidente sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o Padilha. Reagiu com aquela serenidade de sempre (risos). Eu decidi contar tudo a ele porque, em 2014, quando aconteceu o episódio e eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o “currículo” dele. Nunca havia conhecido o Funaro”, afirmou ele, segundo o jornal O Globo.

Vamos continuar de olho nessa Casa de Noca para ver que bicho dá.

Bom Carnaval a todos.

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terça-feira, 14 de março de 2017

FAVORITOS E AM-DEADLINK

NINGUÉM SE CONFORMA DE JÁ TER SIDO.

Conforme navegamos pela imensidão da Web, é comum irmos parar no site do YouTube, por exemplo, embora nossa intenção original fosse cotar preços de pendrives.

Usuários mais “focados” até resistem a essa tentação e conseguem deixar tais distrações para outra hora, mas se até lá o histórico de navegação já tiver sido apagado ― coisa que, por questões de segurança, a gente deve fazer ao final de cada sessão de navegação ―, aí a porca torce o rabo.

Por conta disso, os navegadores permitem armazenar os URLs numa pasta (bookmarks ou favoritos, conforme a denominação utilizada pelo programa), e a partir dele retornar mais facilmente às páginas que despertaram nosso interesse, mas que por algum motivo não pudemos explorar naquela oportunidade. No entanto, alguns “favoritos” que salvamos podem deixar de funcionar, mudar de endereço ou simplesmente ser removidos da Web, e se mantê-los na nossa lista não faz sentido, testar os favoritos, um a um, para descobrir quais entradas não funcionam ― ou mesmo remover redundâncias desnecessárias ― é um procedimento trabalhoso e enfadonho.

A boa notícia é que o freeware AM-DeadLink facilita sobremaneira esse processo. Basta clicar neste link, baixar os arquivos de instalação, selecionar o idioma desejado (Português BR, no caso dos internautas tupiniquins), rodar a ferramenta, definir o navegador desejado (no canto superior esquerdo da janela), comandar a busca (pelo botão verde), aguardar o sinal sonoro e vasculhar a lista dos favoritos, que exibe o status de cada um deles e outras informações importantes (caminho, pasta, tipo de erro, etc.).

As entradas problemáticas são grafadas em vermelho (convém clicar em Bookmarks > Colocar Bookmarks com erro no topo da lista para facilitar a análise) e acessar os sites em questão a partir da pasta Favoritos (ou Bookmarks) do seu navegador.

Observação: Às vezes, um site deixa de responder devido a problemas momentâneos com o servidor que o hospeda; portanto, não apague a entrada sem antes tentar acessar a página novamente em outra oportunidade. Alternativamente, acesse http://www.downforeveryoneorjustme.com/, digite o URL da página que você não está conseguindo acessar na caixa de diálogo, tecle Enter (ou clique em “or just me”, tanto faz) e confira o resultado.

Para localizar entradas duplicadas, torne a clicar no menu Bookmarks e selecione “Mostrar Bookmarks duplicados”; para mais informações, consulte a ajuda do programa.

PADILHA E A JARARACA

Citado por delatores da Lava-Jato, o ministro da Casa Civil Eliseu Padilha retorna à Brasília após ser submetido a uma cirurgia de próstata no último dia 27, embora afirme que volta para trabalhar, fontes ligadas ao Planalto sinalizam que seu destino é incerto. Diz-se à boca-pequena que Temer vai cobrar explicações sobre as denúncias, e que Padilha ― um dos maiores articuladores do governo ― pode acabar se retirando de cena, talvez indefinidamente.

Para Jucá ― outro articulador importante e igualmente delatado na Lava-Jato ―, Padilha é uma peça importante do governo, e “enquanto tiver a confiança de Michel, a decisão de mantê-lo caberá a Michel”. Caju disse também “estar tranquilo” em relação à lista de Janot. Acredite quem quiser.
A posição de Temer é delicada. A volta do ministro recoloca o Planalto no palco da Lava-Jato, mas seu afastamento deixaria o presidente sem seu principal articulador ― ou, como dizem alguns, o “cérebro” do governo. O fato é que Padilha era o negociador da reforma da Previdência junto ao Congresso, e alguns caciques peemedebistas dizem até que Yunes o atacou para “blindar” Temer nas denúncias da Lava-Jato.

Na última sexta-feira, a situação se complicou: o delator José Carvalho Filho, ex-funcionário da Odebrecht, afirmou em depoimento no TSE que negociou diretamente com Padilha repasses de R$ 4 milhões para o PMDB, e que o ministro foi procurado depois de reclamações do ex-deputado Eduardo Cunha de que não recebera seu dinheiro. Segundo o depoente, Padilha deu senhas para os repasses, e a última parcela foi de R$ 500 mil.

Pelo visto, honestidade, em Brasília, é algo tão raro quanto nota de US$ 100 em bolso de pensionista da Previdência. Não é à toa que Lula, o comandante-chefe da ORCRIM segundo o Ministério Público, nem chega a corar quando se autodeclara “a alma viva mais honesta do Brasil”.

Falando no capo di tutti i capi, de tanto repetir a falácia que criou para ilaquear a boa-fé dos otários, é possível que até ele acredite em seu retorno à presidência da Banânia. Aliás, diante dessa perspectiva surreal, melhor seria devolvermos o Brasil aos silvícolas com um pedido de desculpas pelo estrago e torcermos para que espanhóis ou ingleses redescubram a terra onde “em se plantando, tudo dá” ― nada contra os portugueses, mas só é permitido errar uma vez; da segunda em diante não é erro, é burrice...

Os petistas vêm farejando uma possível prisão de Lula em maio ― mês em que o petralha deverá depor ao juiz Moro. Segundo O Globo, a militância vermelha pensa em organizar uma caravana para cercar o prédio do tribunal. O Antagonista diz que será difícil reunir muita gente, pois até lá o indigitado estará completamente desmoralizado pelos depoimentos de Emilio e Marcelo Odebrecht, Pedro Novis e Léo Pinheiro.

Lula deve depor nesta terça-feira, em Brasília ― além dos dois processos na 13ª Vara Federal de Curitiba, o petralha é réu em mais três ações penais, e outras certamente virão com os cerca de 80 pedidos de abertura de inquérito que Janot encaminhou ao ministro Fachin, respaldado nas delações dos 77 da Odebrecht. Mesmo assim, ele se reuniu com líderes do PCdoB, na semana passada, para confirmar que será candidato à presidência. “Para vocês posso dizer: eu serei candidato à Presidência da República”, publicou O Estadão.

Segundo O Antagonista, os comunas, que não são bobos nem nada, sabem que essa candidatura é mera cantilena para dormitar bovinos. O site afirma que o PCdoB “já faz previsões para se descolar do PT, lançando o governador do Maranhão, Flávio Dino, à sucessão do presidente Michel Temer”.
Neste editorial, o Estadão explicou o desespero do petralha. Destaco um trecho: “É compreensível que [Lula] queira antecipar o processo eleitoral de 2018, manifestando desde já sua disposição de concorrer uma vez mais à Presidência da República. Com tal gesto, ele evidencia o duplo desespero que o move: o medo de ser condenado e preso e o temor de ver extinto o seu partido político, afogado no mar de lama que ele mesmo criou”.

O fato é que Lula quer oficializar sua candidatura antes de ser confrontado pelo juiz Moro. Mas muita água vai rolar antes disso. Nesta semana ― em que a Lava-Jato completa 3 anos ―, Emilio Odebrecht e Pedro Novis, em depoimento no processo contra Palocci, devem explicar que o Italiano administrava a conta corrente da propina do PT e que seu chefe era Lula. Em 10 de abril, Marcelo Odebrecht será interrogado no mesmo processo, e deve dizer que, além de administrar a propina destinada ao PT, Palocci administrava também o mata-bicho destinado à Jararaca, depositado na conta corrente “Amigo”. No dia 20 [de abril], Léo Pinheiro, da OAS, deve repetir o que já disse à PGR, ou seja, que o triplex foi descontado da conta da propina do PT e que Lula sabia de tudo. Mais alguns dias e teremos acesso aos depoimentos de Alexandrino Alencar e outros delatores da Odebrecht, que vão detalhar os pagamentos para a reforma do sítio do Lula, para a compra do terreno do Instituto Lula, para a compra da cobertura do Lula, para as palestras do Lula, para o marqueteiro do Lula em países da América Latina e da África, para o filho do Lula, e por aí segue essa execrável procissão.

O petralha tem muito com que se preocupar nas próximas sete semanas. O ambicioso projeto de voltar ao Planalto deveria ser a menor dessas preocupações, até porque não faz sentido um penta-réu (em via de se tornar hexa) candidatar-se à presidência da República. Mas estamos no Brasil, que Charles de Gaulle já dizia não ser um país sério. Voltarei a esse assunto numa próxima oportunidade.

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sábado, 17 de dezembro de 2016

COM AMIGOS COMO ESSES...

Vimos na última quarta-feira que a delação de Cláudio Melo Filho, o “homem da Odebrecht em Brasília”, atingiu a alta cúpula do governo, e que dentre os nomes suscitados está o do próprio presidente da República, cuja campanha de 2014, segundo o delator, foi patrocinada por um aporte de R$ 10 milhões, parte dos quais teria sido entregue no escritório de José Yunes, em dinheiro vivo, por um emissário da empreiteira.

Observação: Yunes é assessor especial da presidência da República e amigo pessoal de Temer. Ou era, melhor dizendo, já que pediu demissão após tomar conhecimento de que Marcelo Odebrecht avalizou, em sua própria delação, a acusação feita por Melo Filho (esta não é foi primeira vez que o nome de Yunes é associado a supostas movimentações financeiras de Temer; o ex-deputado Eduardo Cunha já havia levantado suspeitas sobre a relação entre eles e um suposto caixa dois).

O dinheiro, segundo o “Príncipe das Empreiteiras”, foi solicitado durante um jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, que contou com a presença de Temer, então vice-presidente, e do hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. No entanto, Marcelo não deu detalhes sobre a operacionalização do dinheiro, que, de acordo com Melo Filho, foi feita por Padilha (segundo a Folha, os três negam qualquer tipo de irregularidade, e a empreiteira não se manifesta sobre o teor dos acordos). Em sua carta de demissão, Yunes afirmou que seu nome foi “jogado no “lamaçal de abjeta delação e enxovalhado por irresponsáveis denúncias” ― e, claro, negou enfaticamente qualquer participação ou mesmo conhecimento da história dos 10 milhões de reais.

Como se vê, cada presidente tem seu José Carlos Bumlai. Para quem não se lembra, o pecuarista era uma espécie de “consiglieri” da Famiglia Lula da Silva e tinha acesso irrestrito ao gabinete presidencial. Depois que foi preso e sentenciado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e 10 meses de prisão por gestão fraudulenta de instituição financeira e corrupção, o amigão de Lula passou a “não ser tão amigo assim” ― segundo o próprio molusco abjeto, que até hoje nega ser o dono do famoso sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e do não menos notório tríplex no Guarujá, a despeito da cachoeira de evidências que demonstram o contrário do que ele afirma. Mas isso já é outra história.

A que se aplaudir a iniciativa de Yunes, que minimiza o constrangimento imposto ao presidente pela suposta associação de mais um assessor e amigo pessoal a práticas nada republicanas. Seu exemplo deveria ser seguido por outros “amigões” de Temer, como o angorá e o primo ― leia-se Moreira Franco e Eliseu Padilha ―, até porque o governo já vai mal das pernas, e manter-se cercado de suspeitos (ainda que por enquanto sejam “apenas suspeitos”) não melhora em nada a credibilidade de quem, como a mulher de César, além de ser honesto, precisa parecer honesto. Será que já não bastava vermos o presidente se curvar ao todo-poderoso cangaceiro das Alagoas ― que, através de nefanda meia-sola constitucional urdida em conluio com o STF, foi afastado da linha sucessória, mas mantido Senador e presidente do Congresso Nacional “em prol da governabilidade” ―, a pretexto da uma eventual cassação pôr em risco a aprovação da PEC dos gastos e outras medidas caras ao governo?

Enfim, sua insolência se despediu nesta quinta-feira da presidência do Senado e do Congresso Nacional. Depois do recesso parlamentar de final de ano, haverá nova votação para a escolha do novo presidente. E Renan já vai tarde. E queira Deus que não tarde a ser devidamente despachado para a carceragem da PF em Curitiba. Até porque nada menos que 12 processos contra ele tramitam no STF,  num dos quais o dito-cujo já é réu. Isso sem falar numa nova denúncia apresentada contra por Janot na última segunda-feira, por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva na contratação da empresa Serveng Civilsan pela Petrobras. De gente assim, o povo já está até os tampos!

Voltando a Temer, com amigos desse tipo, quem precisa de inimigos?

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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O REI ESTÁ MORTO. VIVA O REI! ― OU: FOI-SE 2017; QUE 2018 SEJA MELHOR, E COM LULA LÁ (EM CANA)!


O ano que se encerrou anteontem não correspondeu às expectativas de quem achava que teríamos calmaria depois das tormentas de dois mil e dezechega. Já nas primeiras horas de 2017 o sistema prisional tupiniquim exibiu seu descontrole, com centenas de detentos mortos em diferentes rebeliões e outros tantos foragidos de casas prisionais em diversos Estados. Viriam em seguida o trágico acidente que matou Teori Zavascki (às vésperas de o ministro homologar a delação dos 77 da Odebrecht) e a greve dos policiais do Espírito Santo, que resultou na morte de centenas de inocentes. E, como agora sabemos, isso seria apenas o começo. Para Michel Miguel Elias Temer Lulia, no entanto, o inferno astral começaria em abril, com a divulgação de trechos de sua conversa nada republicana com o açougueiro bilionário e criminoso Joesley Batista, justamente quando a economia dava os primeiros sinais de recuperação.

Abatido em seu voo de galinha, o peemedebista viu o sonho de entrar para a história como o “o cara que recolocou o país nos trilhos do crescimento” transformar-se no pesadelo de ser o primeiro presidente do Brasil denunciado ― no exercício do cargo ― por crimes de corrupção, formação de quadrilha e obstrução da Justiça.

Pego com as calças, mas demovido da ideia de renunciar pelos puxa-sacos de plantão ― que perderiam o cargo e a prerrogativa de foro se o chefe deixasse o Planalto ―, Temer, num pronunciamento inflamado à nação, afirmou que a investigação no STF seria o território onde aflorariam as provas de sua inocência”. Mas a máscara de bom moço caiu quando Janot desfechou sua primeira flechada, expondo a verdadeira face do político da velha escola, que presidiu o PMDB por 15 anos e foi vice decorativo (mas conivente com os desmandos) da Rainha Bruxa do Castelo do Inferno de 2011 a maio de 2016. E a coisa ficou ainda pior com a segunda denuncia, que, além do presidente, atingiu os ex-deputados Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures e Henrique Alves, o ex-ministro Geddel Vieira Lima e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, todos do PMDB.

Observação: Curiosamente, não houve panelaço, buzinaço ou manifestações populares nas ruas. Como vaquinhas de presépio, os brasileiros aceitaram tudo pacificamente, talvez intuindo que a emenda seria pior que o soneto ― tanto no caso de um novo presidente tampão ser escolhido através de eleições diretas realizadas a toque de caixa quanto de nosso Congresso apodrecido pinçar de suas fileiras o felizardo da vez. Aliás, falando em eleições diretas, dos 4 presidentes eleitos pelo voto popular desde o final da ditadura militar, o único que escapou ileso (até agora) foi FHC. Collor e Dilma foram depostos, e Lula, embora tenha concluído seus dois mandatos, coleciona 7 processos, é investigado em outros tantos inquéritos e já foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão (Lula lá!).

Temer passou a maior parte de 2017 articulando manobras espúrias para se manter no cargo. Com o auxílio dos comparsas Romero JucáEliseu PadilhaMoreira Franco. Isso sem mencionar os inestimáveis serviços prestados pelo pitbull Carlos Marun, principal responsável por garantir o apoio necessário, na Câmara, ao sepultamento de ambas as denúncias de Janot. Aliás, Marun, que já havia se notabilizado por defender caninamente o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, chegou mesmo a ensaiar ridículos passinhos de dança quando, pela segunda vez, as marafonas do Congresso livraram o rabo sujo de seu amado chefe. Sua fidelidade e absoluta falta de escrúpulos lhe renderam a Secretaria de Governo da Presidência da República e, ao que parece, a missão de oficializar o toma-lá-dá-cá no vergonhoso “parlamentarismo informal”, onde ministros negociam diretamente com o Congresso a favor do presidente e reassumem seus mandatos na Câmara para votar projetos de interesse do Executivo.

O derradeiro ano de Temer na presidência da Banânia começa com índices de rejeição ao peemedebista que rivalizam com os de Collor e Dilma durante os respectivos processos de impeachment. Mesmo procurando aparentar tranquilidade e afirmando que o governo não parou um instante sequer, o presidente é desmentido por uma sucessão de gafes, sobretudo em viagens e encontros internacionais.

Ao receber o presidente do Paraguai, por exemplo, Temer brindou a Portugal; na passagem pela Rússia e pela Noruega, colecionou uma lista de momentos esquecíveis: da partida, ao colocar em sua agenda que iria para a União Soviética, extinta há mais de vinte anos, até a volta, de mãos abanando, passando por uma menção a Harald V como o rei da Suécia, quando o monarca é norueguês. Para sua sorte, os depoimentos dos delatores da JBS/J&F caírem em descrédito depois que informações omitidas por eles no acordo de colaboração vieram à tona, mas isso não lhe permite avançar em seu projeto de legado reformista sem emplacar a reforma da Previdência, que se tornou seu “samba de uma nota só”.

Fato é que, em meio a tudo isso, Temer mudou de vez seu comportamento diante das investigações e dos órgãos de Justiça. Embora Nicolao Dino tenha sido mais votado que Raquel Dodge na eleição interna do MPF, seu nome foi preterido na sucessão do padrinho Rodrigo Janot. Em novembro, foi a vez da Polícia FederalLeandro Daiello, que ficou sete anos no cargo e viu a Lava-Jato nascer, foi substituído por Fernando Segovia, que começou mal ao tentar minimizar, em seu discurso de posse, a importância dos fatos que respaldaram a primeira denúncia contra o presidente ― dizendo, dentre outras coisas, que “uma mala de dinheiro não prova nada”.

Aos 77 anos idade, Temer tornou-se frequentador assíduo do Hospital Sírio-Libanês ― onde já foi submetendo a procedimentos cirúrgicos para solucionar problemas urológicos e desobstruir artérias do coração. Some-se ao peso dos anos a tensão provocada pela turbulência política, que impõe pesados tributos a um presidente já enfraquecido e carente de respaldo popular. Mesmo que os indicadores econômicos continuem emitindo sinais positivos, sua incapacidade de reunir os 308 votos necessários à aprovação das tão necessárias reformas escancaram a fragilidade do seu governo.

Conforme combinado com Rodrigo Maia, a votação da PEC da Previdência só seria pautada quando houvesse certeza de aprovação, mas mesmo depois de dois meses de articulações intensas, mudanças no ministério e o perdão de dívidas dos deputados da base que se posicionaram contra o governo na segunda denúncia, esse número não foi alcançado e nada indica que virá a sê-lo em fevereiro, já que as dificuldades aumentam conforme as eleições se aproximam ― em anos eleitorais, os políticos fazem o possível e o impossível para não desagradar seus eleitores.

Mesmo assim, sua insolência se diz pronta para o que vier em seu derradeiro ano no cargo. É bom seja assim: a batalha pelas mudanças na Previdência promete, e dela dependem o futuro do governo e o objetivo do governante de entrar para a história como um presidente reformista.

Mais uma vez, desejo a todos um feliz 2018.

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domingo, 4 de junho de 2017

INGENUIDADE UMA OVA! DESFAÇATEZ DA GROSSA, ISSO SIM!

Referindo-se à Operação Lava-Jato, Lula disse que “está na hora de parar de palhaçada” (mais detalhes nesta postagem). Que alguém lembre o flibusteiro parlapatão de ter cuidado com o que deseja: o juiz Sérgio Moro deve julgar ainda este mês ― e junho é mês de festa junina, de “quadrilha” ― a ação sobre a posse do famoso tríplex no Guarujá. E até a cúpula petista acredita na condenação do imprestável.

Mas não é só: Lula e seu pimpolho Luiz Cláudio deverão depor (como réus) ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, no próximo dia 22 (na ação que trata de crimes praticados entre 2013 e 2015). E, se não me falha a memória, os autos do processo em que o molusco indigesto é acusado de obstrução da Justiça (por tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró) já estão conclusos para sentença.

A demora na prisão de Lula tem sido motivo de chacota internacional. Num país civilizado, bem antes de se tornar réu em cinco ações penais e investigado em mais uma cachoeira de inquéritos ― que deverão ser convertidos em denúncias nos próximos meses ― o ex-presidente já estaria mofando na cadeia. Mas isto aqui é uma republiqueta de bananas, onde o povo vê com naturalidade um penta-réu alardear aos quatro ventos sua candidatura à presidência e aceita bovinamente o fato de uma ex-presidente recém-penabundada ― por afundar o país na maior crise de sua história e investigada por uma série de atos bem pouco republicanos ― pleitear a anulação de seu impeachment e sua recondução ao cargo, “agora que o golpista traidor não tem mais condições de governar a Banânia”. É o roto falando do esfarrapado!

Jamais acreditei na “santidade” de Temer, mas nunca o imaginei capaz de tamanha sem-vergonhice. Daí a dificuldade de seus assessores em defende-lo. Na contramão das evidências e à ausência de argumentos críveis para apresentar em favor do presidente, Eliseu Padilha, seu amigo dileto, ministro-chefe da Casa Civil e investigado na Lava-Jato, chegou a afirmar ― pasmem! ― que Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala de Temer, “caiu em um engodo ao ser filmado transportando uma mala com R$ 500 mil”. É ou não fazer pouco caso da inteligência alheia?

Parece que estamos assistindo a uma competição infantil, onde vence quem cria a fábula mais inverossímil. Temer diz que foi “ingênuo” ao receber Joesley Batista no Palácio do Jaburu e tenta desqualificar o áudio gravado à sorrelfa pelo moedor de carne. Mas não nega (e nem poderia) que ouviu a fieira de crimes com a tranquilidade de quem ouve um amigo confidenciar suas escapadelas extraconjugais. A justificativa? Ora, o dono da JBS seria um notório falastrão, e como está sendo alvo de inquérito, estaria apenas contando vantagens ― afinal, como Temer poderia crer que membros do Ministério Público e do Judiciário estivessem sendo cooptados? 

Pelo visto, nosso presidente não lê jornais e nem assiste ao noticiário. Ingênuo? Nem por sombra. O cara é matreiro e têm décadas de janela e outras tantas de vão de porta. Alegar ingenuidade para tentar se justificar por ter sido pego com as calças na mão e batom na cueca é puro desespero, e achar que sua retórica capenga e infundada será capaz de desautorizar fatos que saltam aos olhos até do observador menos atento beira o desvario.

Ninguém além da seleta confraria de apoiadores que vela seu governo agonizante engoliria sua versão estapafúrdia do ocorrido e, de sobremesa, os devaneios do ministro Padilha, que, em entrevista à Rádio Gaúcha, disse: “A versão que nos chegou é que ele [Loures] caiu em um engodo, que havia a necessidade de gravar ele com essa mala, com esse dinheiro. Foi preparado todo um processo em que ele [Temer] e o Rodrigo caíram. Não se deu conta de que estava sendo utilizado. Ali, o objetivo era só ter a filmagem”.

Padilha argumentou também que o dinheiro foi devolvido, e que não poderia opinar sobre o motivo pelo qual Rocha Loures pegou a quantia: “Ele [Loures] é um aliado do Palácio do Planalto. Mas agora o Palácio não pode sair atrás e dar busca dos atos de cada uma das pessoas que trabalham para o governo, e atos que não dizem respeito à sua atuação como representante do governo”. Quanta cara-de-pau, ministro! Nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria em tamanha impostura!

Observação: A Velhinha de Taubaté é uma personagem criada por Luis Fernando Veríssimo durante a gestão do ex-presidente Figueiredo (1979-1985), que se tronou famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo. A crédula senhora “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada com o quadro político brasileiro, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

Temer e Loures são investigados no STF por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça. Na última quinta-feira, a PGR pediu novamente a prisão do ex-deputado. Na noite desta sexta, o ministro Fachin a concedeu, e o homem da mala foi preso pela PF na manhã do sábado.

Loures perdeu o direito ao foro privilegiado quando Serraglio deixou o ministério da Justiça e reassumiu sua cadeira na Câmara dos Deputados do Paraná. E se ele já se mostrava inclinado a negociar uma delação, agora, mesmo que seu inquérito esteja atrelado ao Temer e, portanto, não baixe imediatamente para a primeira instância, a perspectiva de se tornar hóspede do sistema penal tupiniquim servirá como um estímulo adicional.

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domingo, 18 de junho de 2017

NO MATO SEM CACHORRO

Quem não tem cão caça com gato, diz um velho ditado. Mas nem gato sobrou. O que se tem é gatuno roubando a esperança dos brasileiros, gatuno ignorando provas em julgamentos, gatuno governando o país, gatuno candidato à reeleição presidencial e até gatuno defendendo a antecipação das diretas. Tudo em nome da governabilidade e do estado democrático de direito, como se a palavra democracia ainda significasse alguma coisa nesta republiqueta de bananas.

Em 2012, assistimos estarrecidos, mas esperançosos, a condenação da alta cúpula do Mensalão. No ano passado, livramo-nos daquela que afundou o Brasil na maior recessão da sua história, e que entrou para a vida pública após levar à falência duas lojinhas tipo R$1,99 quando a paridade cambial entre o real e o dólar favorecia sobremaneira a importação e revenda de badulaques ― a propósito, leia o post que publiquei no final de 2014, caso não lhe baste o excerto que transcrevo a seguir:

Pão & Circo. Com esse nome sugestivo — alusivo à estratégia romana destinada a entreter e ludibriar a massa insatisfeita com os excessos do Império —, Dilma montou, em fevereiro de 1995, uma lojinha de bugigangas, nos moldes das populares casas de R$ 1,99. O negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre, onde funcionava a matriz. Quatro meses depois, uma filial foi erguida no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. O problema, para Dilma e seus três sócios, é que a presidente cuidou da contabilidade da empresa como lida hoje com as finanças do País. (...) Em apenas 17 meses, a loja quebrou; em julho de 1996, ela já não existia mais. Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que 15 anos depois se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar seu comércio, Dilma cometeu erros banais e em sequência. Qualquer semelhança com a barafunda administrativa do País e os equívocos cometidos na área econômica a partir de 2010, levando ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, é mera coincidência. Ou não. (...) Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. Às favas o planejamento — primeiro passo para criação de qualquer negócio que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os “Cavaleiros do Zodíaco”. Os artigos revendidos pela Pão & Circo eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde Dilma e uma das sócias, a ex-cunhada Sirlei Araújo, viajaram três vezes para comprar os produtos. Apesar de os produtos custarem bem pouco, o negócio de Dilma era impopular — como se tornou a ex-presidanta ao longo do seu governo. Ao abrir a vendinha, a anta vermelha não levou em conta que “o olho do dono engorda o porco”, e só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia, como fez ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política ao vice Michel Temer, até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo (então) ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante. Na sociedade da Pão & Circo, o equivalente ao Mercadante era Carlos Araújo, o ex-marido, que aconselhava a “chefa” sobre como ela turbinar as vendas, mas era tão inepto quanto aquela que viria ser a chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás no governo de Lula, por ocasião da negociata de Pasadena. Mesmo assim, a gerentona de araque teve uma carreira meteórica: sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente da Banânia.

Livramo-nos de Dilma, mas herdamos Michel Temer, que jamais conquistou a simpatia dos brasileiros ― e nem poderia, tendo sido vice de quem foi e presidente do PMDB por 15 anos ―, mas que vinha logrando êxito em descascar o monumental abacaxi herdado das gestões lulopetistas até ser abatido em seu voo de galinha pela delação premiada de Joesley Batista e mais 6 altos executivos da JBF/J&F.

Temer nos prometeu um ministério de notáveis, mas cercou-se de uma notável confraria de corruptos. O primeiro a cair foi Romero Jucá, o “Caju”, que deixou o Ministério do Planejamento uma semana depois de ser nomeado ― só que continua no governo, ocupando uma secretaria criada especialmente para preservar seu direito ao foro privilegiado. Na sequência, demitiram-se ― ou foram demitidos ― Fabiano Silveira, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e outra meia dúzia de ministros e/ou assessores presidenciais, em grande parte por serem investigados na Justiça ou acusados de corrupção por delatores na Lava-Jato. Temer moveu mundos e fundos para preservar Eliseu Padilha, o “Primo”, e Wellington Moreira Franco, o “Angorá”, que o ajudam a comandar a quadrilha mais perigosa do Brasil, como afirmou o megaempresário moedor de carne em entrevista à revista Época desta semana.

Até os pedalinhos do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, sempre souberam que Lula institucionalizou a corrupção no Brasil. E quem não sabia ficou sabendo pelo procurador Deltan Dallagnol, que, no final do ano passado, apresentou à imprensa um PowerPoint tosco, mas indiscutivelmente elucidativo, mostrando que o molusco abjeto, ora penta-réu e às vésperas de sua primeira condenação na Lava-Jato, era, sim, o comandante máximo da ORCRIM. Agora, a se confirmarem as acusações de Joesley Batista, o petralha perderá o posto para Temer, como o Mensalão perdeu para o Petrolão o título de “maior escândalo de corrupção da nossa história” e rebaixou o famigerado “Esquema PC”, responsável pelo impeachment de Collor em 1992, a “coisa de ladrão de galinhas”.

Parece de nada adiantou o esforço do ministro Gilmar Mendes (que ora é alvo de um pedido de impeachment) para preservar o cargo de Michel Temer ao arrepio da avassaladora torrente de provas de práticas espúrias que propiciaram a reeleição da chapa Dilma-Temer em 2014. Como de nada deve adiantar a nota divulgada pelo Planalto, na manhã deste sábado, segundo a qual “o dono da JBS é um bandido notório que desfia mentiras”, e que o presidente ingressará com ações na Justiça contra ele. Resta explicar porque Temer não pensou nisso quando recebeu o empresário à sorrelfa nos “porões do Jaburu”, ouviu seu relato de práticas criminosas ― como a compra do silencio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro e o pagamento de suborno a magistrados e procuradores da República ― e encerrou conversa como se nada houvesse acontecido, sem lhe dar voz de prisão ou determinar a imediata abertura de um inquérito para apurar os fatos.   

Na entrevista, Joesley reafirma as denúncias que fez ao Ministério Público e à Polícia Federal contra as cúpulas de PT, PMDB e PSDB. Segundo ele, tudo começou há cerca de 10, 15 anos, quando surgiram grupos com divisão de tarefas: um chefe, um operador e um tesoureiro. Disse também que esses esquemas organizados começaram no governo do PT, com a criação de núcleos, divisão de tarefas entre integrantes, em estados, ministérios, fundos de pensão e bancos, dentre os quais o BNDES; que o modelo foi reproduzido por outras legendas, e que, na maioria dos casos, os pagamentos viraram uma obrigação (ele cita como exemplo Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma: “Era só o Guido dizer no BNDES que não era mais do interesse do governo investir no agronegócio e pronto. Bastava uma mudança de diretriz de governo para acabar com o negócio”).

Joesley disse ainda que o presidente “não é um cara cerimonioso com dinheiro” (para bom entendedor...), além de acusa-lo de chefiar “a organização criminosa da Câmara, composta por Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Eliseu Padilha e Moreira Franco”, e que, “em Brasília, quem não está preso está no Planalto”.

Durma-se com um barulho desses!

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quinta-feira, 9 de março de 2017

GERENCIADOR DE SENHAS ― É SEGURO USAR? (Parte II)

MULHER EXPONDO TEORIA SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL É SOLTEIRA NA CERTA.

Muitos usuários questionam a segurança dos gerenciadores de senhas, achando que usá-los é o mesmo que delegar a alguém a tarefa de guardar suas chaves e as fornecer na medida das necessidades ― vai que uma hora esse diligente assistente falhe e entregue o ouro ao bandido... Infelizmente, essa possiblidade existe, mas o risco é maior se você simplesmente recorrer a senhas óbvias (fracas, mas fáceis de decorar) ou criar uma senha forte e usá-la para tudo.

Há também quem questione a segurança dos gerenciadores open-source, ponderando que qualquer um pode ter acesso ao código-fonte do software, e aí... Só que ter acesso ao código é uma coisa, modificá-lo para fazer o que você bem entender é outra. Além disso, é a senha ― e não o código ― que dá acesso aos dados criptografadas e armazenadas pelo aplicativo.

Note ainda que bugs e backdoors em programas de código aberto tornam-se conhecidos publicamente tão logo são descobertos, ao passo que, nos softwares proprietários, os desenvolvedores evitam divulga-los, para não dar a impressão de que seus produtos sejam inseguros (para saber mais sobre código aberto e proprietário, reveja esta sequência de postagens). 

Gerenciadores de senhas existem aos montes, mas você estará mais garantido com aplicativos desenvolvidos por empresas conceituadas (sugiro o Steganos Password Manager). Caso não possa ou não queira investir num programa pago, o RoboForm ― que gerencia senhas e informações de login, preenche dados exigidos pelos sites e serviços e ainda oferece um gerenciador de anotações, um gerador de senhas e um mecanismo de busca ― e o KeePass ― que dispensa instalação (roda direto de um pendrive ou de uma pasta no HD) e protege suas senhas com criptografia de 256 bits ― são boas alternativas gratuitas. Aliás, se você usa o Google Chrome, o plug-in LastPass pode ser uma mão na roda (mas não deixe de ler atentamente as informações antes de instalar a extensão)

A maioria dos navegadores se propõe a memorizar dados de login e informações básicas de formulários para autopreenchimento, o que é prático, pois desobriga o usuário de baixar e configurar uma ferramenta dedicada. Mas daí a ser uma opção segura vai uma boa distância, já que qualquer pessoa que tenha acesso ao computador (e que conheça o caminho das pedras) poderá descobrir as senhas salvas pelo navegador. No Chrome, basta você (ou quem quer que esteja usando o seu PC) acessar as configurações e clicar em um botão para exibir todas as senhas na aba de preferências. O Internet Explorer é mais seguro, pois não exibe as senhas salvas, mas isso pode ser contornado facilmente com ferramentas como o WebBrowserPassView, da Nirsoft, e se um aplicativo consegue recuperar esses dados, um malware instalado subrepticiamente no PC pode fazer o mesmo.

Observação: O WebBrowserPassView não é capaz de recuperar senhas protegidas por uma senha-mestra, e como o Firefox oferece essa proteção, ele se torna mais seguro do que seus concorrentes, mas você precisa configurá-lo adequadamente (clique em Configurações > Segurança e defina uma senha-mestra), já que o recurso não vem ativado por padrão.

Gerenciadores baseados na Web costumam oferecer recursos como a geração de senhas aleatórias seguras e armazenamento de informações adicionais (números de cartões de crédito e afins). Eles criptografam os dados e criam uma senha-mestra que somente o usuário conhece. A encriptação e decriptação ocorrem localmente, ou seja, no computador do usuário, e como as empresas não tem acesso a essa senha (ou chave criptográfica, melhor dizendo), um eventual ataque a seus servidores não colocará em risco a privacidade dos clientes.

O LastPass é líder entre os gerenciadores de senhas online porque é fácil de usar e pode ser bloqueado facilmente. Suas opções de segurança permitem que você adicione um forte esquema de autenticação em dois passos, restrinja o acesso por país e habilite recursos adicionais, como email de segurança dedicado e acesso móvel restrito (para saber mais, clique aqui).

FORA TEMER, A LAVA-JATO E O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Escrevi há pouco, num comentário a uma postagem de um amigo, que as manifestações populares previstas para este mês de março, em favor da Lava-Jato, são salutares, mas que o engrossamento da grita de “fora geral” é no mínimo preocupante. Como bem lembrou Guilherme Fiuza em sua coluna na revista Época desta semana, os célebres protestos de junho de 2013, cujo estopim foi o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus, continuam sendo descritos por narradores diversos ― e o que não falta por aqui é narrador ― como um divisor de águas na política nacional. Todavia, aquele mar de gente nas ruas não chegou realmente a incomodar os verdadeiros responsáveis pela insatisfação geral.

Como sabemos hoje (e já era fácil enxergar em 2013), a derrocada econômica tupiniquim foi obra exclusiva da quadrilha que governava o país. Lula, Dilma, Mercadante e pouco distinta companhia fizeram a festa em pronunciamentos, coletivas, anúncios de reformas políticas, promessas de plebiscito e toda sorte de reminiscências de seus tempos de militância. Só que os delinquentes federais saíram ilesos ― e alguns foram até reeleitos.

Fato é que o impeachment, a mudança do partido no poder (?!), a prisão de Eduardo Cunha, a roubalheira gigantesca de Sérgio Cabral e outros escândalos trazidos à tona nos últimos meses levaram as massas a mudar o foco do PT para o PMDB. E se as próximas manifestações abraçarem a causa do “Fora Todo Mundo”, muito provavelmente vão se desmanchar na história como as de 2013, além de atrapalhar o trabalho da equipe econômica do atual governo, que, aos trancos e barrancos, está arrumando a casa.

O Brasil pode até ser maior do que a crise, mas se tem estrutura para passar por outra deposição presidencial num espaço de tempo tão curto já é outra história. E o pior é que, manifestações à parte, esse risco existe, sobretudo se as tentativas do Planalto de levar o TSE a separar as contas de Temer das de Dilma não lograrem êxito.

Uma possível cassação da chapa não teria maiores consequências para a anta vermelha, a não ser, talvez, a suspensão de seus direitos políticos por 8 anos. Do ponto de vista da “justiça poética”, isso até corrigiria a absurda decisão do Senado no processo de impeachment que a defenestrou a imprestável da presidência sem incompatibilizá-la com o exercício de cargos públicos (nem vou relembrar aqui quem armou essa jabuticaba, até porque falar em gente como Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski me faz mal para o estômago). Para Temer, no entanto, a história é outra, pois ele perderia o mandato. Seus advogados insistem em que o TSE deve analisar separadamente as condutas de ambos, mas os defensores da mulher sapiens são contrários à separação, entendendo que, se suas contas estiverem atreladas às de Temer, ela terá mais chances de se safar.

Observação: Temer nunca negou que deu um jantar no Jaburu para diretores da Odebrecht e que ali se falou em doações. O próprio Marcelo Odebrecht afirmou que jamais tratou de valores com o então vice-presidente. Todo o acerto teria sido feito com Eliseu Padilha, contra quem pesa a delação de Cláudio Mello Filho, segundo o qual, no tal jantar, acertou-se a doação ao PMDB pelo caixa dois, e o ministro teria sido um dos operadores.

E o que acontecerá se Temer realmente for cassado? Diz o Art. 81 da Constituição que, vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga (e complementa em seu § 1º: ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei). Então, um novo presidente seria escolhido por eleição indireta, na qual votam apenas deputados federais e senadores, mas, nesse entretempo, quem comandaria o jogo? Rodrigo Maia, Eunício Oliveira ou Carmen Lucia?

O presidente da Câmara, primeiro da lista, é alvo de um inquérito sigiloso no STF, baseado em mensagens trocadas entre ele e Léo Pinheiro, dono da OAS, sobre uma doação de campanha em 2014. O presidente do Senado, segundo da lista, é citado nas delações de Delcídio do Amaral, Nelson Mello e Cláudio Melo Filho ― aliás, tanto Maia quanto Oliveira estão em excelente companhia, considerando que todos os ex-presidentes da República que ainda caminham pelo mundo dos vivos são alvo de delações e/ou figuram entre os investigados da Lava-Jato (o molusco, vale lembrar, já é penta-réu, e o placar deve subir nos próximos dias, quando a PGR der nomes aos bois nas delações dos 77 da Odebrecht).

Resta então a ministra Carmen Lucia, presidente do Supremo e, portanto, a terceira na linha sucessória. Sobre ela, eu não sei o que dizer. Segundo Elio Gaspari, a magistrada estaria bem cotada numa eventual eleição indireta para substituir Temer, e talvez até para disputar a presidência 2018. Mas ainda é um pouco cedo para se pensar nisso. Ou será que não?

Há quem garanta que a eleição do próximo presidente será direta, seja neste ano ou no ano que vem. De acordo com uma regra estabelecida na minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso em 2015, caso haja “decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário”, serão convocadas novas eleições no prazo de 20 a 40 dias (a eleição só seria indireta se o registro fosse cassado nos últimos seis meses do mandato). Outros, todavia, entendem que as eleições teriam de ser indiretas, pois a Constituição se sobrepõe ao Código Eleitoral. Segundo o TSE, há realmente duas legislações regulando essa questão, mas o texto da minirreforma eleitoral está “em plena vigência” e, portanto, as eleições seriam diretas (desde que a cassação decorresse de decisão da Justiça Eleitoral; do contrário, aplicar-se-ia o art. 81 da Constituição). A verdade é uma só: Ninguém sabe merda nenhuma! Nem mesmo o TSE! Como ainda não há jurisprudência sobre o tema, deve-se aguardar o julgamento do processo pelo Plenário do TSE (volto a este assunto com mais detalhes numa próxima oportunidade).

Enfim, gostemos ou não de Temer, aprovemos ou não sua “equipe de notáveis” ― que na verdade formam uma notável equipe enrolados na Justiça, tanto é que vêm caindo feito moscas, à razão de um por mês ―, não me parece ser o momento de torcer para que o depoimento de Marcelo Odebrecht ao TSE resulte na sua cassação. Até porque existe a possibilidade de o plenário da Corte aceitar a tese da divisão de chapa e merda cobrir Dilma e nem respingar em Temer. Mas o mais recente imbróglio envolvendo amigões do peito de sua excelência (leia-se José Yunes e Eliseu Padilha) é preocupante para o Planalto, que parece vir apostando suas fichas na lentidão do processo ― os depoimentos dos delatores da Odebrecht vão tomar tempo, novas testemunhas poderão ser arroladas, e por aí afora ― e na boa vontade do ministro, Gilmar Mendes, presidente do TSE, para empurrar o julgamento para o ano que vem. Isso sem mencionar que, na eventualidade de vir a ser cassado, Temer certamente irá recorrer STF para continuar no cargo, amparado por liminares, até o final do seu mandato (31 de dezembro de 2018). Mas, convenhamos, para um presidente que carece de apoio popular, isso reduziria ainda mais suas chances de êxito nas tão necessárias reformas e de entrar para a história como “o cara que recolocou o país nos trilhos”.

O mais irônico é que a economia vem exibindo sinais melhora ― pífios, é verdade, mas irrefutáveis ―, ao passo que a crise política só faz se agravar. Enfim, o jeito é acompanhar e ver que bicho dá.

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sábado, 12 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XII)


— Não renunciarei. repito: não renunciarei. Se quiserem, me derrubem! — rosnou Michel Temer, o dedo em riste demonstrando que o que lhe importava era se manter no cargo a qualquer custo. “Renunciar seria uma confissão de culpa”, asseverou o nosferatu tupiniquim, como se àquela altura suas justificativas estapafúrdias tivessem alguma credibilidade.

Na verdade, (quase) todo mundo queria ver Temer pelas constas, só que ninguém queria fazer o trabalho sujo. Assim, o governo ruiu, mas o mandatário continuou lá, aprovando coisas um tanto sem sentido, apenas para sinalizar que tudo estava na mais perfeita ordem, na mais santa paz (nada muito diferente do que acontece com o atual governo, onde Bolsonaro finge que preside enquanto o Centrão dá as ordens).

Quando a delação de Joesley Batista veio à tona, Temer perdeu a segunda grande chance de renunciar (a primeira foi por ocasião da deposição de Dilma). Comentou-se que ele chegou a pensar seriamente em fazê-lo, mas foi demovido da ideia por Eliseu PadilhaMoreira Franco, Carlos Marun, Romero Jucá e outros assessores puxa-sacos, igualmente investigados ou suspeitos de práticas nada republicanas, que perderiam os cargos e o foro privilegiado se o presidente renunciasse.

Em seu primeiro pronunciamento à nação depois que Lauro Jardim revelou a conversa de alcova de Temer e o moedor de carne bilionário, o presidente disse que o inquérito no STF seria “o território onde surgiram as explicações e restaria provada sua inocência”. E o que fez a partir de então? Mentiu descaradamente para justificar o injustificável, atacou seus acusadores e moveu mundos e fundos (especialmente fundos) para obstruir a denúncia. 

Descartada a renúncia e afastado o impeachment, não só porque Rodrigo Maia decidira empurrar a coisa com a barriga enquanto pudesse, mas também porque o processo demoraria demais e o país sofreria as consequências de outra deposição presidencial, via Congresso, em menos de 18 meses, só restou o inquérito no STF e o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE — ação proposta pelo PSDB a pretexto de “encher o saco do PT”, conforme revelou o candidato derrotado Aécio Neves numa conversa gravada por (ele de novo!) Joesley Batista, que vinha se arrastando havia anos. 

Por (mais) uma ironia do destino, o partido que se tornou o maior aliado do governo com o impeachment transformou-se em seu algoz. Mas os tucanos mantiveram um pé no poleiro e os olhos no TSE, prontos para bater asas e voar assim que a cassação da presidanta lhes parecesse inevitável.

A procrastinação do julgamento complicou ainda mais a situação de Temer, pois ensejou a inclusão de outros elementos contra ele. Assim, se não havia evidências de que o vice não recebeu dinheiro de caixa 2 para sua campanha, não falavam provas de que a chapa recebeu, e ele se beneficiou dos mesmos recursos que garantiram a reeleição da presidanta. 

Depois de dizer que “os juízes não são de Marte” — dando a entender que seria impossível ignorar o cenário político e as consequências da cassação de (mais) um presidente — Gilmar Mendes adiantou para a imprensa que o julgamento seria “jurídico e judicial”, que o Tribunal não era “joguete de ninguém”, e que não cabia à Corte “resolver crise política”.

Antes do vazamento da delação dos donos da JBS, dava-se de barato que o TSE livraria a pele de Temer. A última coisa que se desejava naquele momento era mais uma troca de comando, mesmo porque o governo vinha tocando as reformas e a economia, dando sinais de recuperação. Mas seria difícil justificar a manutenção de um presidente altamente impopular e, ainda por cima, investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.

O ministro-relator Hermann Benjamin — que produziu um calhamaço de mais 1.000 páginas — defendia eleições diretas para a escolha do próximo presidente. Em sua avaliação, se a eleição de 2014 sagrou vencedora uma chapa que comprovadamente fraudara o pleito, a vontade popular fora desrespeitada e a eleição deveria ser anulada, dispensando o cumprimento do art. 81 da Constituição (que estabelece a realização de eleições indiretas no caso de vacância a partir de dois anos do mandato). Acabou que Gilmar Mendes entrou em ação e a chapa foi absolvida por 4 votos a 3 — “por excesso de provas”, como observou posteriormente o relator.

Enquanto houver bambu, vai ter flecha”, avisou o PGR Rodrigo Janot, que simpatizava com Dilma, mas não suportava Temer. Respaldado nos depoimentos de Joesley Batista e Lúcio Funaro (o homem da mala do presidente), Janot apresentou duas denúncias contra o vampiro do Jaburu, mas ambas foram barradas pela Câmara. Temer não foi apeado do cargo porque: 

1) Faltou consenso em torno do seu eventual sucessor (os parlamentares não estavam dispostos a abrir mão das eleições indiretas nem de escolher um de seus pares para o mandato-tampão); 

2) Não houve vontade política dos nobres congressistas; 

3) Não faltam, entre os 513 deputados federais, quem se disponha a votar contra ou a favor de qualquer coisa, desde que haja a "devida reciprocidade".

Continua...

terça-feira, 11 de julho de 2017

VOCÊ CONHECE SEU PC? ― Parte VI

NEURASTENIA É DOENÇA DE GENTE RICA. POBRE NEURASTÊNICO É MALCRIADO.

Embora o termo "memória" designe, no jargão da informática, qualquer meio destinado ao armazenamento de dados, quando usado genericamente ele remete à RAM, que é a memória física do sistema e principal ferramenta de trabalho do processador. Nenhum computador é capaz de funcionar sem memórias, e o PC as utiliza em diversos formatos e tecnologias.

Observação: RAM é a sigla de Random Access Memory, ou “memória de acesso aleatório”. Trata-se de um tipo de memória volátil ― ou seja, que só retém os dados quando energizada (daí o boot precisar ser refeito toda vez que ligamos o computador) ―, mas que permite o acesso a qualquer dos seus endereços aleatoriamente, o que lhe confere tempos de resposta e taxas de transferência que deixam os drives de HD eletromecânicos no chinelo.

Tanto o sistema operacional quanto os aplicativos e demais arquivos são carregados na RAM a partir da memória de massa (HDD ou SSD, conforme o caso), onde os dados são armazenados de forma persistente, e novamente salvos no disco depois de manipulados (de outra forma, as modificações seriam perdidas sempre que o computador fosse desligado).

A RAM é comercializada em pentes (ou módulos) compostos por diversos chips soldados numa placa de circuito. Diversas tecnologias foram criadas desde a pré-história da informática (FPM, EDO, SDR, RAMBUS, DDR, DDR2, DDR3 e DDR4) e disponibilizadas em módulos de vários formatos (SIMM, DIMM, RIMM, etc.), mas a maioria dos PCs atuais integra memórias DDR3 em módulos com 240 pinos. As DDR4, lançadas em 2014, ainda não são massivamente utilizadas em máquinas de entrada de linha, embora o padrão DDR5 deva ser lançado comercialmente já no próximo ano.

Continuamos na próxima postagem. Até lá.

O INFERNO ASTRAL DE TEMER

Enquanto Lula posa de candidato ― como se não fosse penta-réu na Lava-Jato e não estivesse prestes a receber sua primeira condenação ― e a caterva vermelha colhe assinaturas (?!) para anular o impeachment da anta incompetenta ― como se não bastasse a roubalheira e a destruição que mestre e pupila promoveram durante mais de uma década ―, o governo agoniza, o país anda de lado, Rodrigo Maia cresce e Michel Temer se apequena.

Michel, ma belle, sont les mots qui vont très bien ensemble, tres bien ensemble: Não foi Deus quem o colocou na presidência. Foi Lula. Como vice da anta vermelha, vossa excelência se beneficiou do financiamento espúrio das campanhas milionárias, foi conivente e cúmplice de toda sorte de malfeitos e, por estar no lugar certo na hora certa, subiu de posto, deixando passar uma excelente oportunidade de pedir o boné, voltar para Câmara, ou para onde bem entendesse, e tocar sua vida como se nada tivesse acontecido.

Mas não seria mesmo de se esperar esse ato de grandeza de quem tanto fez para “chegar lá”. Só que o sonho de entrar para a história como “o cara que reconduziu o Brasil ao caminho do crescimento” fica mais distante a cada dia, embora se tenha mostrado plausível durante algum tempo, mesmo que os critérios adotados na formação da equipe econômica não tenham sido estendidos a todo o ministério e, pior, a velha política de compadrio ter sido mantida, a despeito de a sociedade clamar por novos moldes. Em pouco tempos, os pífios índices de popularidade de Michel Temer caíram a níveis abissais, quase tão baixos quanto os de Collor no auge do processo de impeachment e os de Sarney nos tempos “áureos” da hiperinflação.

O que já era ruim ficou ainda pior depois da divulgação da conversa nada republicana com certo moedor de carne bilionário, quando, pela segunda vez, a janela de oportunidade da renúncia se descortinou. Mas os argumentos de Eliseu Padilha, Moreira Franco e outros amigos e assessores enrolados com a Justiça ― que seriam igualmente defenestrados e deixariam de ser investigados no Supremo, onde os processos levam décadas para ser julgados e não raro resultam em impunidade, por conta da prescrição da pena ― falaram mais alto, e a renúncia foi abortada.

Em vez da notícia do afastamento, o que se ouviu do presidente foi um pronunciamento indignado, onde, à repudia às suspeitas descabidas, seguiu-se a afirmação enfática de que “o inquérito no STF seria o território onde surgiriam todas as explicações e de que seria feita “uma investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro”. Palavras vazias, como se veria mais adiante, quando as ações desmentiram o discurso e o esforço para barrar o processo ganhou vulto.

A tranquilidade do presidente não passa de fleuma: em recentes incursões pela Rússia e Noruega, onde lhe foi dispensado tratamento de chefete de republiqueta de bananas, Temer chegou mesmo a trocar o nome de um país e referir-se ao monarca do outro aludindo a um terceiro ― gafes esperadas de uma besta quadrada e despreparada como sua antecessora, mas não do grande Michel Temer, político experimentado e constitucionalista consagrado. Na semana passada, diante de meia dúzia de gatos pingados, na Alemanha, ele revelou sua vocação para comediante de stand-up ao dizer que não havia crise econômica no Brasil, a despeito de 14 milhões de desempregados desmentirem essa falácia.

Agora, horas antes (*) da leitura do relatório na CCJ da Câmara ― que determinará, ou não, a admissibilidade do inquérito e cuja decisão certamente influenciará o resultado da votação no plenário ―, Temer sabe que o tempo do “está ruim com ele, mas seria pior sem ele” já passou. Agora, seu apelo é para que os deputados olhem para os ganhos obtidos durante seu governo, que supram em muito a gravidade das acusações, como que defendendo o “rouba, mas faz” adotado por políticos como Adhemar de Barros, Paulo Maluf e distinta companhia.

(*) Enquanto eu elaborava este texto, o deputado Sergio Zveiter, relator da denúncia contra Michel Temer na CCJ, defendeu a aceitação pela Câmara da acusação apresentada pela PGR. Apesar de ser do mesmo partido do presidente, o relator já era considerado um parlamentar de atuação independente, o que era motivo de preocupação para a base aliada. Na próxima quarta-feira, iniciam-se os debates, com o direito à fala dos 66 titulares e 66 suplentes. Além destes, os líderes partidários podem se manifestar a qualquer momento. A expectativa é de que a Comissão possa analisar o relatório de Zveiter até a próxima sexta-feira, em votação simbólica que pode influenciar a decisão do plenário. 

Rodrigo Janot quer a cabeça Temer, e precisa consegui-la até setembro, quando termina seu mandato à frente da PGR. Ele já avisou que, enquanto houver bambu, vai ter flecha. Pena não ter tido o mesmo procedimento quando o petralha Aluízio Merdandante, então ministro da Justiça da anta vermelha, foi gravado tentando silenciar o senador preso Delcídio do Amaral. Ou quando a Lava-Jato expôs a própria anta vermelha no centro da maior quadrilha política da história ocidental. Igualmente lamentável é o fato de a imprensa não demonstrado o mesmo empenho para desmontar os discursos falaciosos e trapaceiros dos ex-presidentes Lula e Dilma, mas tudo isso são águas passadas e de nada adianta chorar sobre o leite derramado.

Dizer que a acusação da PGR é uma obra de ficção soa patético, como também a tentativa de se defender acusando o acusador. As acusações feitas pelo presidente são eminentemente revanchistas e baseadas em ilações sem qualquer fundamento. Para piorar, ele não negou ― e nem teria como negar ― seu encontro fortuito com Joesley no Jaburu, nem a conversa mantida entre eles. Disse apenas que não acreditou no que ouviu, que o empresário era um notório falastrão e que achou que ele estaria se vangloriando (?!) de ter subornado juízes, procuradores e comprado o silêncio de Eduardo Cunha e Lucio Funaro ― hoje hóspedes do sistema prisional tupiniquim.

Questionar a validade da gravação como prova não anula seu conteúdo, e o laudo do perito Ricardo Molina, divulgado na mídia como um espetáculo circense, acabou sendo desmontado pela PF, que procedeu a investigações bem mais meticulosas e, além de atestar que não houve quaisquer edições, ainda recuperou trechos inaudíveis da gravação original. E agora, José, digo, Michel?  

Janot vem cozinhado em fogo brando um dos inquéritos que têm com alvo o Presidente da Câmara (prova disso é que a PF concluiu o relatório em fevereiro, mas a PGR ainda não apresentou a denúncia no STF). Maia nega estar conspirando contra Temer, mas o fato é que, nos bastidores, já se fala que o governo está com os dias contados. O senador Cássio Cunha Lima diz que o presidente não dura mais 15 dias no cargo, e o senador Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB, vem tentando convencer os tucanos a “descer do muro” e retirar seu apoio ao Planalto.

Como não existe nada ruim que não possa piorar, as possíveis delações premiadas de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro, Rodrigo Rocha Loures e Geddel Vieira Lima devem complicar ainda mais a situação de Temer, sem mencionar que mais hora, menos hora, o presidente da Câmara terá de dar andamento a pelo menos um dos mais de 20 pedidos de impeachment que vem engavetando desde o vazamento da delação de Joesley e companhia. A lua-de-mel entre Michel Temer e Rodrigo Maia acabou depois que Maia resolveu votar em separado as duas outras denúncias que Janot ainda deverá apresentar, em vez de juntar tudo e fazer uma votação única. O resultado será mais desgaste para um governo que já enfrenta dificuldades para reunir votos contrários à abertura do processo.

Segundo levantamento da revista Época, 330 deputados disseram que participarão da votação, a despeito do esforço do Planalto em esvaziar a sessão. A ausência dos parlamentares causa menos desgaste político do que o apoio expresso ao presidente, já que, como no impeachment de Dilma, o voto será aberto, declarado em pé, ao microfone, e transmitido em tempo real para todo o Brasil. Temer e os poucos aliados que lhe restam sabem que é pesado demais para um parlamentar que disputará eleições no ano que vem declarar abertamente seu apoio a um presidente acusado de corrupção passiva e que tem míseros 7% de popularidade.

Ainda de acordo com a reportagem, dos 513 deputados federais, 153 declararam que votarão a favor da denúncia e 51, contra (os 308 restantes estão indecisos ou não responderam, e o presidente da Casa não precisa votar, a não ser em caso de empate). Claro que sempre existe a possibilidade de pressões e ofertas de verbas e cargos produzirem algumas mudanças, mas o governo já liberou R$ 1,8 bilhão em verbas e agora, às vésperas de votação, pouco resta para investir. E se as dificuldades já são grandes para barrar a primeira denúncia, repetir o feito outras duas vezes, com novas negociações, barganhas e convencimento dos parlamentares... Sei não.

Observação: Às vésperas da votação do impeachment de Dilma, o molusco eneadáctilo abancou-se num hotel em Brasília para oferecer cargos e verbas em troca do apoio dos parlamentares. E deu no que deu. Temer tem feito basicamente a mesma coisa, mas errou ao comprar a fidelidade dos parlamentares cedo demais. Uma burrice imperdoável de quem participou ativamente das negociações em 2016, quando ele Eduardo Cunha se mobilizaram para cobrir as ofertas feitas por Lula e Dilma aos parlamentares. Agora, Temer age como Dilma, e Rodrigo Maia, como Temer na ocasião, prometendo, inclusive, manter os cargos que os aliados têm no governo, para ganhar equilíbrio e evitar ataques.

Parece um jogo sórdido ― e é ―, mas é assim que se faz política no presidencialismo de coalização tupiniquim. Para Jereissati, o país está no limiar da ingovernabilidade, e urge costurar um acordo que permita chegar às eleições de 2018. Maia, por sua vez, já se comprometeu a manter a equipe econômica, e esta já pensa no cenário “pós-Temer”: no mês passado, Henrique Meirelles declarou a investidores em Paris que seguiria no cargo, mesmo que Temer caísse.

Pelo andar da carruagem, falta pouco para o consenso de que Temer é tão útil quanto um engraxate nas areias da praia se cristalizar, e isso é péssimo para um presidente impopular, enrolado na Justiça, desprestigiado no Congresso e que precisa lutar para se manter no cargo.  

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