TODOS TÊM
DIREITO A SUAS PRÓPRIAS OPINIÕES, MAS NÃO A SEUS PRÓPRIOS FATOS.
O aplicativo russo
FaceApp está fazendo sucesso no
mundo inteiro, sobretudo no Brasil. Ele usa filtros especiais para
produzir o efeito oposto ao do conhecido Snapchat
com filtro de bebê, ou seja,
retrabalhar fotos de modo “envelhecer” a aparência das pessoas (embora haja
outras possibilidades, como veremos a seguir).
Há versões tanto para
iOS quanto para Android, pagas e gratuitas. Nas
pagas, que oferecem mais filtros e recursos, a assinatura mensal custa 4 US$ e a
licença "lifetime", U$ 40. Em em qualquer caso, é preciso aceitar
os termos de uso do aplicativo e conceder permissões para que ele acesse as
imagens salvas no smartphone, grave cookies, etc., e é aí que mora o perigo (volto a essa questão mais adiante). Concluída a instalação, basta selecionar a foto a ser
editada, definir o filtro a
ser aplicado — há opções para envelhecer, rejuvenescer, modificar a cor do
cabelo, acrescentar barba, mudar o gênero, e por aí afora —, clicar em Aplicar (na parte inferior da tela) e salvar
ou compartilhar a foto.
As informações
fornecidas no Google Play dão conta
de que o FaceApp é produzido por uma
empresa norte-americana sediada em Delaware
(estado que fica na região nordeste dos EUA), mas o que existe lá é apenas um escritório virtual — ou seja, um endereço,
geralmente em local geograficamente privilegiado, que muitas empresas usam para
receber correspondência e manter um atendente telefônico, por exemplo. Não se
sabe ao certo se há realmente algum funcionário da desenvolvedora do aplicativo
por lá.
Segundo o especialista em ataques cibernéticos Altieres Rohr, todos os websites têm
informações de registro, incluindo endereço, email e, às vezes, telefone. O
site "faceapp.com" está
registrado para um endereço no Panamá
de um serviço destinado a ocultar as informações verídicas nesse registro
obrigatório. Outro endereço fica na cidade russa de São Petersburgo, e aparece nos "termos de uso" do
serviço. O nome da empresa "Wireless
Lab" também surge nesse documento, bem como na App Store, da Apple.
Tanto os “termos de uso” quando o "acordo
de privacidade", que explica quais informações o app coleta e como elas
são utilizadas, são “genéricos” — ou seja, não foram escritos especificamente
para o FaceApp. Embora saibamos que empresas
pequenas costumam usar “geradores de contratos” para cortar custos, esse
detalhe aciona o “desconfiômetro” dos usuário mais precavidos. Também sabemos
que, no âmbito dos smartphones, o elo mais fraco da segurança são os
aplicativos. E a maioria de nós armazena fotos, emails, senhas, token de acesso
ao net banking e toda sorte de dados que são um prato cheiro para golpistas.
Basta lembrar a dor de cabeça que a invasão de celulares e, sobretudo, o acesso
criminoso aos históricos de mensagens no Telegram
tem dado ao ministro Sérgio Moro,
ao procurador Deltan Dallagnol e a outras
altas autoridades da República.
Ainda que o Google
e a Apple filtrem os aplicativos
oferecidos nos portfólios da Play Store
e da App Store, programinhas nocivos são descobertos
a torto e a direito. O código-fonte do iOS é proprietário, mas o do Android é aberto, e o sistema recebe aplicativos de quase uma
centena de desenvolvedores. Essa diversidade impede o Google de ser tão rigoroso quanto a Apple e torna o Android
mais susceptível a incidentes de segurança — o que não significa que donos de iPhones e iPads estejam 100% protegidos, apenas que a empresa da Maçã estabelece regras de mais rígidas para os
desenvolvedores de aplicativos.
Continua no próximo capítulo.