A MAIORIA DAS
PESSOAS IMAGINA QUE O IMPORTANTE, NO DIÁLOGO, É A PALAVRA. ENGANO: O IMPORTANTE
É A PAUSA. É NA PAUSA QUE DUAS PESSOAS SE ENTENDEM E ENTRAM EM COMUNHÃO.
Pegando um
gancho no post de ontem, lembro a meus caríssimos leitores que, a partir do
último dia 1º, as multas de trânsito tiveram seus valores revistos e
atualizados ― em meio à uma crise econômica que torna o momento bem pouco
oportuno para o governo meter a mão mais fundo no bolso da população. Além do
aumento, houve mudanças de categoria, como no caso da multa para quem usa o celular enquanto dirige ―
infração que passou a ser considerada “gravíssima”, implicando em 7 pontos a mais na carteira de motorista e
R$ 293,47 a menos no bolso.
De acordo
com o Departamento Nacional de Trânsito,
a intenção dos reajustes não é aumentar a arrecadação (nossa!, será que alguém iria pensar isso?), mas até aí morreu
Neves. O que importa mesmo é saber que a lei não proíbe falar ao celular através do sistema de espelhamento com a
central multimídia do veículo. Nessa hipótese, você sabe quem está ligando
pela tela multimídia e atende (ou derruba) a chamada pressionando um botão no
volante, por exemplo. Se atender, ouvirá a voz do interlocutor pelo sistema de
som do veículo, e sua voz será transmitida por um pequeno microfone, estrategicamente
posicionado para esse fim.
Vale salientar
que isso não se aplica ao viva voz do
celular, já que aí é preciso manusear o aparelho para fazer ou atender as
ligações ― no espelhamento, geralmente é possível fazer ligações por comando de
voz, o que, em tese, dispensa o motorista de tirar as mãos do volante. Também é proibido usar fones de ouvido (seja
para falar ao telefone, seja para ouvir música), já que a legislação que
regulamenta o assunto é explícita nesse sentido.
Enfim, se
seu carro oferece a possibilidade de espelhamento, não deixe de habilitá-la. Já
bastam as “infrações” registradas por radares fotográficos e lombadas
eletrônicas (algumas delas quando se está a menos de “absurdos” 50 km/hora),
instalados em pontos previamente selecionados com vistas a alimentar indústria da
multa e penalizar os infelizes proprietários de veículos, que já pagam um
absurdo de IPVA, taxa de licenciamento, seguro obrigatório e outros que tais.
RODRIGO CONSTANTINO X
REINALDO AZEVEDO
Admiro ― ou será que admirava? ― o colunista Reinaldo Azevedo, ex-colega de VEJA. Estivemos juntos algumas vezes,
todas em momentos de bate-papo agradável. Além disso, aprecio seu estilo de
escrever, e costumava concordar com a maioria das coisas, tanto que vivia o
citando em meu blog, sem me importar com a ausência de recíproca. Não sou
muito vaidoso, e prefiro focar na causa e nos resultados.
Acompanhei sua estranha guinada à esquerda (ou para longe da
Lava-Jato) com alguma
curiosidade, sempre preservando o benefício da dúvida. Lia e relia
seus textos com boa fé, tentando refletir sobre os argumentos. Cheguei a
questionar se não haveria um bom ponto neles, se eu é que poderia estar
equivocado.
Num dos textos que
escrevi, disse que o seu apreço ao legalismo parecia excessivo, mas que
eventualmente eu mesmo poderia migrar nessa direção caso a
Lava-Jato assumisse ares de justiceira
extralegal. Mas estamos longe disso, muito longe!
Por isso fui vendo o massacre de
Reinaldo Azevedo nas redes sociais em silêncio, lamentando e cada
vez encontrando menos razão para defendê-lo. Em sua
coluna na Folha,
esse limite do obsequioso silêncio foi ultrapassado. Em respeito aos meus
leitores, preciso me posicionar, tenho de reagir.
Reinaldo
simplesmente compara a atuação de Sergio
Moro com a de Robespierre na Revolução Francesa, e ainda diz que Lula não fez um governo de esquerda.
Como assim?! Era “populista” e “ladrão”, mas não de esquerda? Balela! Esse
discurso falso só interessa à própria esquerda, mais especificamente aos
tucanos da velha guarda que pretendem substituir o PT na defesa do esquerdismo. O
socialista José Serra que o diga. Azevedo escreve:
“Tampouco me incomoda
a figura de Lula, que tanto rancor
desperta na extrema-direita boçal: porque operário na origem, porque
supostamente ignorante, porque nordestino, porque padece de idiopatia
gramatical, porque é eneadáctilo… A propósito: Geddel Vieira Lima tem dez dedos. Lula ainda é uma das maiores inteligências políticas do Brasil. Sua
trajetória prova isso. De resto, nunca foi esquerdista. Tampouco fez um governo
de esquerda. O que matou o PT foi o
misto de populismo e roubalheira. O primeiro levou a economia para o buraco. A
outra minou-lhe a reputação. E, sim, era Lula
o chefe inconteste da equação”.
Por que reduzir tanto o papel sombrio de Lula na podridão em que o Brasil se
encontra hoje? Por que compará-lo a um Geddel
Vieira? Este, por acaso, quase se tornou o Chávez brasileiro, o Fidel
Castro da terra brasilis? O que matou o PT foi um misto de populismo e roubalheira, sim,
mas também com sua visão esquerdista de mundo! Ignorar isso
é má-fé ou desinformação. E tenho dificuldade de ver Reinaldo Azevedo como alguém ignorante.
O projeto lulopetista tem tudo a ver com o
esquerdismo, com uma visão de mundo em que o estado assume um papel cada vez maior,
controlador, intervencionista, “justiceiro social”. Como dissociar isso da
esquerda? Por que fazer esse esforço? Reinaldo
diz:
“Causavam-me ainda
repúdio a contaminação ideológica de organismos de Estado como Ministério
Público, Defensorias e Judiciário; a transformação das universidades públicas
em aparelhos do partido; a permanente crispação que buscou dividir o país entre
‘nós (eles) e eles (nós)’; a determinação de eliminar os adversários, não
apenas de vencê-los; as ações concretas e objetivas que buscavam instaurar, na
prática, um regime de partido único no país, ainda que as siglas fossem se
multiplicando”.
Mas, ora bolas, ele está descrevendo justamente as táticas
esquerdistas de chegada e permanência no poder! Foi assim na Argentina, na Venezuela, na Bolívia,
no Equador… E depois diz que isso
não tem nada com a esquerda? Abana o rabo como um cachorro, late como um
cachorro, mas não é cachorro? É gato? É pato?
Voltando à Lava-Jato,
Reinaldo se diz um liberal defensor
do Estado de Direito, um legalista purista, mas esquece que o poder Executivo,
em conluio com o Legislativo, está tentando barrar a lei, operar na
sombra para impedir o avanço no combate à corrupção. O que a maioria
dos políticos atuais quer é impunidade!
Só alguém com um termômetro muito mal calibrado pode estar
mais preocupado hoje com eventuais excessos de Sergio Moro e Deltan
Dallagnol do que com os esquemas dos grandes partidos no Congresso, com
apoio do Planalto, para enterrar a Lava-Jato. Em que mundo vive? Reinaldo conclui:
“Não darei a demiurgos
os seus dez meses de Terror Salvacionista. Já tiveram a chance de dizer a que
vieram, durante a Revolução Francesa, entre setembro de 1793 e julho de 1794.
Não foi bacana. Meu apoio à Lava Jato,
nos limites da lei e da Constituição, é incondicional. Meu liberalismo não
admite um período de autoritarismo profilático. Liberalismo assim é coisa de
abestado”.
Lamento, mas coisa de abestado é usar a energia, o espaço na
imprensa e os neurônios para combater a Lava-Jato, como se ela estivesse agindo fora dos limites da lei, e
ainda fazer isso em nome do liberalismo, como se a turma da nova direita
estivesse toda clamando por justiceiros, déspotas esclarecidos, e não pelo
próprio cumprimento da lei, que está ameaçado por conta dos parlamentares
corruptos!
Diante disso tudo, pergunto: Reinaldo
Azevedo está mesmo defendendo apenas a lei, o Estado de Direito, os interesses
do Brasil, ou teria outro interesse mais obscuro por trás dessa batalha que ele
resolveu travar? Pois parece que ligou uma motosserra e a apontou na direção de
Moro. Serra, serra e serra, até
dividir o povo do lado de cá, que deveria estar unido no propósito de impor, de
fora para dentro, as mudanças necessárias e inadiáveis na política nacional,
endireitando assim o país. Serra…