Se Bolsonaro não aprendeu
nada com Paulo Guedes nestes 11
meses de governo, o ministro parece ter absorvido por osmose a vocação inata do
capitão para falar merda, como deixou bem claro duas vezes seguidas numa entrevista em Washington (EUA).
É fato que essa coisa de “AI-5”, que a maioria nem sabe o que é, virou uma tremenda chatice. Ninguém pode abrir a boca para dizer “AI-5” e a elite do bem entra em crise de nervos imediata. Nem é preciso defender, basta mencionar para ser excomungado. Sabendo disso, só não evita quem não quer.
Conhecido por seu pavio curto, o Posto Ipiranga de Bolsonaro mordeu a isca jogada pelo dublê de semeador do caos e sumo-pontífice da seita do inferno, que recuperou a liberdade por uma decisão do STF ainda mais estapafúrdia que as falas infelizes do ministro e agora assumiu o papel revolucionário-mor deste arremedo de república, onde ninguém parece ter colhões para pôr ordem no galinheiro e devolver esse crápula vermelho ao lugar a que ele pertence.
O primeiro troçulho veio à luz quando o ministro disse que "ninguém deve estranhar se alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil", e o cagalhão seguinte, quando, face à redução da Selic, afirmou que "a cotação de equilíbrio do dólar tende a ir para um lugar mais alto", e que "flutuações no câmbio não são motivo de preocupação".
Diante dessas lamentáveis asnices, a cotação da moeda americana disparou — forçando o BC a intervir duas vezes para conter a alta — e o índice B3 da Bolsa de Valores despencou quase 2 pontos.
É fato que essa coisa de “AI-5”, que a maioria nem sabe o que é, virou uma tremenda chatice. Ninguém pode abrir a boca para dizer “AI-5” e a elite do bem entra em crise de nervos imediata. Nem é preciso defender, basta mencionar para ser excomungado. Sabendo disso, só não evita quem não quer.
Conhecido por seu pavio curto, o Posto Ipiranga de Bolsonaro mordeu a isca jogada pelo dublê de semeador do caos e sumo-pontífice da seita do inferno, que recuperou a liberdade por uma decisão do STF ainda mais estapafúrdia que as falas infelizes do ministro e agora assumiu o papel revolucionário-mor deste arremedo de república, onde ninguém parece ter colhões para pôr ordem no galinheiro e devolver esse crápula vermelho ao lugar a que ele pertence.
O primeiro troçulho veio à luz quando o ministro disse que "ninguém deve estranhar se alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil", e o cagalhão seguinte, quando, face à redução da Selic, afirmou que "a cotação de equilíbrio do dólar tende a ir para um lugar mais alto", e que "flutuações no câmbio não são motivo de preocupação".
Diante dessas lamentáveis asnices, a cotação da moeda americana disparou — forçando o BC a intervir duas vezes para conter a alta — e o índice B3 da Bolsa de Valores despencou quase 2 pontos.
Torno a dizer que nosso presidente falastrão, admirador
confesso dos tempos do "prendo e arrebento" (falo da ditadura que sucedeu
ao golpe de 1964 e durou vinte e um anos), criticou os generais por prenderem
demais e matarem de menos, e agora, por medo de melindrar os togados supremos que
blindaram seu primogênito das investigações do "caso Queiroz", fecha-se em copas e engole calado todos os sapos a que têm direito. Lembro também que o próprio Lula, depois de ser conduzido coercitivamente para depor na PF do Aeroporto de Congonhas em 2016, ensinou
que "para matar a jararaca é preciso bater na
cabeça; como bateram no rabo, a jararaca continua viva como sempre esteve".
Não se controla a hidrofobia acorrentando o cão raivoso; é preciso sacrificar o animal. Mas pensar está longe de ser nosso esporte nacional, daí o brasileiro ter tanta dificuldade para aprender as lições que vida dá. Dito isso, passo a palavra ao mestre Josias de Souza:
O medo tem múltiplos olhos. Eles são invisíveis. E enxergam
coisas no subsolo da existência. Já se sabia que a família Bolsonaro cria as assombrações e depois se assusta com elas.
Descobre-se agora que os fantasmas dos Bolsonaro
apavoram também Paulo Guedes. Com
pânico de Lula, o ministro da
Economia teve um surto de inépcia. Aderiu ao radicalismo da estupidez. Numa
viagem em que deveria acalmar investidores nos Estados Unidos, Guedes conseguiu inquietar observadores
no Brasil.
Numa única entrevista, revelou-se alérgico ao cheiro de
asfalto — "Acho uma insanidade chamar o povo pra rua pra fazer bagunça"
—, sensível aos pendores repressivos de Jair
Bolsonaro — "Ele só pediu o
excludente de ilicitude" — e permeável a aventuras ditatoriais —
"Não se assustem se alguém pedir o
AI-5". Sob o impacto do ronco emitido pelas ruas em países vizinhos,
atribuiu a letargia das reformas pós-Previdência ao medo do monstro: "Qualquer país democrático, quando vê o povo
saindo para a rua, se pergunta se vale a pena fazer tantas reformas ao mesmo
tempo."
Na sequência, o ministro elegeu Lula como culpado pela
insanidade que o rodeia: "Assim que ele [Lula] chamou para a confusão, veio logo o outro lado e disse: "É, sai pra rua, vamos botar um excludente
de ilicitude, vamos botar o AI-5, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo. Que
coisa boa, né? Que clima bom!".
Lulafóbico, o ministro perdeu a noção do tempo e do
ridículo. Eduardo Bolsonaro, o filho
Zero Três, levou o AI-5 à vitrine antes do discurso de
porta de cadeia em que a divindade petista exaltou as manifestações que sacodem
a América Latina. De resto, os bolsonaristas é que tomaram gosto pelas ruas.
Praticam a democracia direta, na qual o meio-fio e a internet produzem maioria
parlamentar na marra.
Lula e o petismo
não se auto atribuem tanto poder. No ano passado, ao discursar no comício que
antecedeu a sua prisão, Lula testou
seus poderes ao convocar os devotos para "queimar os pneus que vocês tanto
queimam, fazer as passeatas, as ocupações no campo e na cidade…" O orador
foi em cana. E seus seguidores foram para casa.
No 7º Congresso do PT,
encerrado no domingo passado, a ala esquerdista da legenda sugeriu a adesão ao
"Fora Bolsonaro". O grupo
majoritário, liderado por Lula,
injetou no documento aprovado no encontro uma emenda que expõe os pés de barro
do petismo. Ficou decidido que a direção do PT pode exigir a saída de Bolsonaro
a qualquer momento, desde que se materialize uma "evolução das condições sociais", da "percepção pública sobre o caráter do governo" e da "correlação de forças".
Quer dizer: a insurreição das ruas não depende de Lula. O asfalto só vai roncar se Bolsonaro e Guedes fornecerem material. E a dupla parece decidida a
corresponder às expectativas dos seus adversários. Há irresponsáveis na
oposição. Mas nada supera a irresponsabilidade de um governo que, tendo 12 milhões
de desempregados para atender, prefira transformar o país num trem-fantasma.