UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
domingo, 5 de abril de 2020
COVID-19 — EDIÇÃO REVISTA E ATUALIZADA DA GRIPE ESPANHOLA?
sábado, 23 de maio de 2020
SOBRE PANDEMIAS, INCOMPETÊNCIA, CRETINICE E BAIXARIA
Determino o levantamento da nota de sigilo imposta em despacho por mim proferido no dia 08/05/2020 (Petição nº 29.960/2020), liberando integralmente, em consequência, tanto o conteúdo do vídeo da reunião ministerial de 22/04/2020, no Palácio do Planalto, quanto o teor da degravação referente a mencionado encontro de Ministros de Estado e de outras autoridades”.
A quem interessar possa, basta clicar aqui para ler a transcrição.
Mas tem mais: O pedido de apreensão dos celulares de Jair Bolsonaro e do filho Zero Dois, feito em notícias-crimes enviadas pelo PDT, PSB e PV ao STF e apensadas ao inquérito que apura suposta tentativa de intervenção do presidente na PF, foi recebido pelo decano e encaminhado ao PGR para manifestação. O desmemoriado ministro-chefe do GSI, em nota, classificou o pedido de "afronta à intimidade do chefe do Executivo" e afirmou que "poderá haver consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional", por ser uma evidente "tentativa de comprometer a harmonia entre o poderes".
Vale ressaltar que o decano seguiu fielmente o que determina o CPP Brasileiro, e que a reação do general foi exagerada, para não dizer absurda. Em vez de rosnar contra o STF, o estrelado deveria estrilar com sua assessoria Aliás, há algumas semanas atrás ele deu piti porque o decano usou a expressão "debaixo de vara" ao convocar os ministros militares para testemunharem no imbróglio Moro x Bolsonaro, que não tem conotação pejorativa: as divisões do poder judiciário são denominadas "varas", e a expressão "conduzido debaixo de vara" significa "mediante condução coercitiva", ou seja, “forçado pela autoridade judicial”. Enfim, a julgar pelo "nível" da reunião ministerial, não era mesmo de se esperar coisa melhor dos assessores do presidente. E nem do próprio, cujas falas foram de uma grosseria a toda prova.
Passemos ao texto que eu havia programado para hoje:
Uma velha marchinha de carnaval — do Sílvio Spantus, se não me falha a memória — dizia que “o homem nasce, o homem cresce, depois fica bobo e casa”. Faz sentido, mas o ponto a que quero chegar é outro: todos os seres vivos — pelo menos os deste planeta — seguem a mesma monótona rotina: nascem, crescem, reproduzem-se e morrem. E o ser humano não foge à regra (alguns preferem não se reproduzir, mas isso é outra conversa).
Sob Pazuello, o Ministério da Saúde divulgou na última quarta-feira o protocolo que libera no SUS o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina também para casos leves de Covid-19. Até então, o uso do medicamente era autorizado somente para casos graves. Não é à toa que Bolsonaro pretende manter o militar à frente da pasta "por um bom tempo".
Pelo menos 2897 militares, dos três ramos das Forças Armadas, integravam o governo em março passado. E o número cresceu depois que Pazuello carregou nada menos que nove colegas de farda para o ministério da Saúde. E a mesma militarização campeia nos segundo e terceiro escalões dos demais ministérios, especialmente nos oito que são chefiados por militares.
sábado, 11 de junho de 2016
PINGA, AGUARDENTE E CAIPIRINHA
OS LINKS PARA AS DUAS COMUNIDADES - PARA AS TRÊS, MELHOR DIZENDO, QUE HÁ TAMBÉM A DE INFORMÁTICA, ONDE O LEITOR PODERÁ ENCONTRAR POSTAGENS DIFERENTES DAS PUBLICADAS AQUI NO BLOG - FICAM AÍ AO LADO, NO TOPO DA COLUNA À DIREITA. VISITAS E COMENTÁRIOS - QUE EXIGEM LOGIN, MAS BASTA INSERIR ALGUNS DADOS E EM POUCOS SEGUNDOS O INTERESSADO JÁ ESTARÁ PARTICIPANDO DA REDE .LINK, ONDE EU HOSPEDO MINHA COMUNIDADES - SERÃO MUITO BEM VINDOS. MAS CHEGA DE PAPO E VAMOS AO QUE INTERESSA:
No que concerne à caipirinha, muitos acham que não tem segredo: basta esmagar limão com açúcar, acrescentar gelo e cachaça, mexer e pronto. Mas tudo tem sua ciência, e esse drinque não é exceção.
Comecemos pela origem, que remonta ao ano de 1918, época em que a gripe espanhola campeava solta. Dizem os estudiosos e curiosos de plantão que alguém resolveu unir o útil ao agradável ao criar uma receita de xarope, que levava limão, alho, mel e um pouco de cachaça ― antigamente, era comum usar álcool para acelerar o efeito dos medicamentos. Daí para “outro alguém” eliminar o alho e substituir o mel por açúcar (para reduzir a acidez do limão) foi um pulo.
Hoje em dia, muita gente substitui o tradicional limão por outras frutas, como abacaxi, caju, kiwi, maracujá, morango, e por aí afora, além de, em vez da tradicional cachaça, usar destilados “mais nobres”, como gim, rum, saquê, tequila, uísque, vodca, e assim por diante.
Outro detalhe que merece menção: pinga, cachaça e aguardente são termos largamente utilizados como sinônimos, embora aguardente seja o nome que se dá a qualquer bebida obtida a partir da fermentação de vegetais doces, e cachaça, à aguardente de cana-de-açúcar. Já o termo pinga é usado vulgarmente como sinônimo de cachaça, e sua origem remonta ao tempo dos engenhos (século XVI). Naquela época, os escravos eram encarregados da destilação da aguardente, e como o vapor condensava no teto pingava sobre eles... Enfim, interessa mesmo dizer é que toda cachaça é aguardente, mas nem toda aguardente é cachaça.
No que diz respeito à receita perfeita de caipirinha, bem, fazendo uma analogia com o futebol (outra preferência nacional), a coisa é como a escalação da seleção ― ou seja, cada um tem a sua. Importante mesmo é seguir algumas regrinhas básicas, dentre as quais:
― Embora o limão galego e o siciliano apresentem excelentes resultados, a receita tradicional leva mesmo o tahiti. Mas é importante escolher os de casca lisa e fina (que geralmente são mais sumarentos) e evitar os “muito moles”, que provavelmente estão “passados”.
― Descascar ou não o limão é uma questão de preferência pessoal, até porque o amargor não provém da casca, mas da columela (o “miolo branco da fruta). Então, o importante é cortar o limão ao meio, mas não de forma transversal, como fazemos quando cortar laranjas para espremer, e sim longitudinal (ao comprido). Depois, deve-se cortar as metades pela metade, de modo a facilitar a remoção da parte branca. Se preferir, corte o limão em rodelas e remova o miolo de cada uma delas, que também fica bom.
― Segundo os especialistas, é importante macerar a fruta no próprio copo (evite, pois, usar coqueteleiras). Coloque as quatro bandas da fruta com a polpa virada para cima (para não macerar demais a casca, que aí, sim, pode resultar num indesejável gosto amargo), cobri-las com açúcar e então socá-las com o pilão (mas soque apenas o suficiente para liberar o sumo, pois socar demais irá fatalmente resultar em amargor, mesmo que você tenha tomado as precauções anteriores). Ah, procure usar copos baixos e de boca larga, como os do tipo “Ilhabela”.
― Se você está de dieta, o melhor a fazer é não tomara caipirinha, pois substituir o açúcar por adoçante, embora não haja problema algum nisso, não fará grande diferença, já que as calorias provêm mesmo é do álcool (como sabemos, bebidas destiladas são extremamente calóricas; uma dose de cachaça chega facilmente a 150kcal).
― Gelo é essencial ― caipirinha morna, ninguém merece! Mas convém usar água mineral ou filtrada e colocar o gelo no copo depois de macerar o limão com o açúcar (em cubos, mas você pode adicionar um pouco de gelo picado, se quiser, já que ele derrete mais rapidamente e “enfraquece” um pouco a bebida), e só então acrescentar a cachaça ou o destilado de sua preferência.
― Se for para servir várias pessoas (como num churrasco com amigos, por exemplo), o preparo individual se torna por demais trabalhoso. Nesse caso, você pode adiantar o expediente preparando a bebida numa coqueteleira, transferindo-a para uma jarra e completando com gelo. Mas o resultado nunca fica igual.
― Já a escolha da cachaça também vai da preferência de cada um. O importante é usar um produto de boa qualidade ― ou seja, fugir daquelas cachaças “mata-pinguço”, que cheiram como o álcool que você usa para abastecer o carro. E ao contrário do que muita gente pensa, pode-se perfeitamente usar aquela pinguinha de alambique, dita “artesanal”. O problema é o “custo benefício”, já que uma aguardente dessas pode custar tanto quanto ― ou até mais que ― um bom uísque.
Receitas mais “rebuscadas” podem agradar muita gente, mas convém ter em mente que algumas combinações são mais bem-sucedidas do que outras. Prefira misturar hortelã com frutas cítricas ou ácidas, e pimenta com as mais doces (maracujá, caju, carambola). E tome cuidado para não abusar de ervas muito aromáticas, como manjericão e alecrim, que podem deixar o sabor do drinque “intenso” demais.
Vale lembrar que destilados como cachaça, vodca e saquê, por exemplo, têm características distintas, e combinam melhor com determinadas frutas. A pinga vai muito bem com limão, lima-da-pérsia e jabuticaba, por exemplo. O saquê deve ser reservado para frutas mais delicadas e menos ácidas, como kiwi, uva verde e morango, também por exemplo. Já a vodca é versátil e combina com quase tudo, com a possível exceção de frutas mais cremosas, como mamão ou banana ― mas quem é que vai fazer caipirinha de mamão ou banana?
Para concluir, confira as receitas abaixo:
- Macere a polpa de 1/2 maracujá azedo com dois talos de capim-limão e açúcar. Complete com gelo e rum branco e decore com folhas de capim-limão.
- Macere de 8 a 12 jabuticabas com casca e caroço (mas deixe algumas inteiras). Complete com gelo e cachaça e mergulhe um picolé de limão no copo.
- Congele 6 bagos de uva Itália (verde) e oito de uva niágara (roxa). Macere 4 colheres (sopa) de graviola fresca (com as sementes) com uma de açúcar. Junte as uvas congeladas e complete com gelo e cachaça.
- Macere uma carambola fatiada e alguns pedaços de abacaxi com açúcar. Acrescente 1 cravo da índia inteiro e folhas de manjericão (sem amassar). Complete com gelo e vodca.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
CADA CIRCO TEM O PALHAÇO QUE MERECE
Tudo somado e subtraído, quase nada se aproveitou da pantomima falaciosa (mas pomposamente batizada de Apresentação Oficial do Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19) que foi encenada na última quarta-feira, no salão nobre do Palácio do Planalto, para apresentar um plano vacinal feito nas coxas por um general estrategista delirante que acontece de ser ministro da Saúde de um presidente a quem Pedro Bial qualificou de "acéfalo", "desgovernante" e "inominado".
Bolsonaro se disse "honrado" em receber os governadores e afirmou que alguns não compareceram por "motivo de força maior". João Doria foi um deles. A título de justificativa, o tucano informou que era seu aniversário de 63 anos e que ficaria próximo à família em São Paulo. Mas enviou o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, para representá-lo na efeméride.
Durante a solenidade, uma situação inusitada ocorreu.
Ninguém estava de máscara, só o Zé Gotinha — personagem usado pelo Ministério
da Saúde desde 1986 em campanhas de vacinação —, que não retribuiu a aperto
de mão oferecido pelo presidente, preferindo manter distância e fazer um
sinal de “positivo”. Resta saber se o ator que interpretou o mascote
permanecerá no posto.
A impressão que ficou, de que nem o suserano nem o vassalo sabiam que estavam falando, só reforçou a sensação de que nenhum dos dois tem a menor ideia do que está fazendo no cargo que ocupa. Para além disso, sobraram perguntas não respondidas e respostas
a indagações que não foram feitas. Mas dois pontos chamaram especialmente a
atenção:
1) A “aflição”
do mandatário de festim (desde o início, segundo ele) com a gravidade
da pandemia:
“A grande força que todos nós demonstramos agora [governo
federal e governos estaduais] é a união
para buscar a solução de algo que nos aflige há meses.
(...) Nos
afligiu desde o início [a Covid-19]", disse Bolsonaro.
2) O fato de o general-ministro da Saúde “estranhar”
a ansiedade e a angústia da população em relação à vacina que pode
frear uma linha de produção que vem empilhando cadáveres em escala
industrial:
"Nós somos os maiores fabricantes de vacinas da
América Latina. Para
que essa ansiedade e essa angústia?, perguntou Pazuello.
Observação: Segundo balanço do Ministério da Saúde
feito na noite da quarta-feira 16, a Covid-19 havia matado 182.799
pessoas no Brasil, sendo 964
apenas nas últimas 24 horas.
Para bom entendedor, pingo é letra. Como nem todo mundo lê entrelinhas o real significado das bolsonarices e pazuellices, dedico mais algumas linhas às falas do suserano e seu vassalo. Começo por lembrar que nenhum dos cinco presidentes-generais que governaram o país durante a ditadura teve um ministro da Saúde que não fosse médico.
Agora, no entanto, 26 anos depois da
redemocratização, o general da banda de turno, que é fã de carteirinha do
regime militar, não
só troca o comando da pasta duas vezes em menos de 30 dias, como o faz em
meio à maior pandemia viral desde a Gripe Espanhola (1918-1920) para empossar um taifeiro triestrelado que se sujeita, sem o menor constrangimento constrangimento, ao aviltante papel de mamulengo.
Em sua participação no jornal da Gazeta da última quarta-feira,
Josias de Souza resumiu magistralmente esse deplorável espetáculo circense:
Brasília esteve mais surrealista do que o habitual nas
últimas horas. Atingiu-se o ápice da incongruência na cerimônia de anúncio de
um hipotético plano federal de vacinação contra a Covid, no Palácio do
Planalto. Surgiu em cena um presidente que fala em "união",
"entendimento" e "paz". Discursou um ministro da Saúde que
questiona a "ansiedade" e a "angústia" dos brasileiros
ávidos por vacinas. Ambos soaram inadequados. Jair Bolsonaro foi
ofensivo. Eduardo Pazuello, desrespeitoso.
A súbita conversão do presidente à vacina ofende a
inteligência alheia. No mesmo discurso em que fez pose de gestor respeitável, Bolsonaro
declarou que a pandemia o "afligiu desde o início" e que "se
algum de nós exagerou foi no afã de buscar solução." Faltou explicar que
aflições atormentavam o presidente quando ele afirmou que a maior crise
sanitária do século seria uma "gripezinha". E que solução pretendia
alcançar quando declarou que o Brasil precisa "deixar de ser um país de
maricas”.
A crítica do ministro da Saúde à "ansiedade" da
população desrespeita os mais de 180 mil cadáveres produzidos pela Covid
e seus familiares. "Somos os maiores fabricantes de vacina da América
Latina", disse Pazuello. "Pra quê essa ansiedade, essa
angústia?" O capitão do Planalto e o general da Saúde contraíram o
coronavírus. Nenhum dos dois teve de ralar por leitos de UTI e respiradores do
SUS. Bolsonaro teve a assistência ininterrupta dos médicos da
Presidência. Pazuello foi
internado no DF STAR, que é o hospital privado mais bem conceituado de Brasília.
Nas últimas duas semanas, o brasileiro assistiu pela TV ao início da vacinação em massa na Inglaterra e nos Estados Unidos. No Brasil,
faltam seringas e vacinas. Sobra improvisação. A CoronaVac, chamada por Bolsonaro
de "vacina chinesa do Doria", voltou a ser tratada como opção.
Após prever que a imunização começaria em março, dezembro ou janeiro, Pazuello
sustenta que, se tudo correr como planejado por ele, as primeiras doses de
vacina podem ser aplicadas em fevereiro.
"Não vejo nada de errado", disse o general.
"Se tivesse visto, teria corrigido." Então, tá! Resta constatar que a
novela da vacina dispõe de novos personagens: um presidente pacificador e um
ministro perfeito, gestor de mostruário. Agora só falta convencer o brasileiro
a desempenhar nesse enredo o papel de bobo.
Que Deus nos ajude.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
ENTRE GOLPES, IMPEACHMENTS, VAMPIROS E CORUJAS EMPALHADAS
Na postagem de sexta-feira eu comentei que Doria havia programado para o dia do aniversário da cidade de São Paulo — segunda-feira passada — um evento destinado a promover a CoronaVac e incentivar a população a se imunizar.
Segundo José Simão, Sarney parecia uma coruja empalhada que escapou da gripe espanhola. Como é imortal, o eterno donatário da Capitania do Maranhão não precisa se imunizar — a vacina dele é a “FormolVac”, produzida no Egito. Temer, que é vampirão, não quer vacina, quer sangue — a vacina dele é a SangueVac. Doria mandou um recado ao capitão-cloroquina pronunciando cada palavra com que em Caps Lock: BOLSONARO, EU SALVO VIDAS. A vacina do tucano, segundo Simão, é a CashmereVac.
Mudando de assunto, a última pesquisa Datafolha atestou que 40% dos brasileiros consideram Bolsonaro ruim ou péssimo (ante 32% no mês passado). Com isso, o capitão-cloroquina passa a ser dono da segunda pior avaliação entre todos os presidentes eleitos desde a redemocratização, atrás apenas de Collor (48%).
Em meio à
polarização político-ideológica que assola o país, pesquisas, avaliações, opiniões
e previsões devem ser recebidas com alguma reserva. O fanatismo emburrece e a burrice cega,
levando as pessoas a acreditar no que querem e ver as coisas como gostariam que fossem. Os devotos de S. Lula,
o podre, acreditarão ad aeternum na inocência do picareta, a despeito de ele ter sido condenado em dois processos (em três e duas instâncias,
respectivamente) e ser réu em mais meia dúzia de ações criminais.
Voltando ao morubixaba de turno, a atuação desastrosa do governo no enfrentamento da pandemia pode ter consequências. Lideranças do Congresso, ex-presidentes da República e até ministros do STF vêm discutindo nos bastidores o impedimento do alienado (ou a cassação da chapa pela qual ele e Mourão se elegeram, o que mataria dois coelhos com um paulada só).
O movimento pró-impeachment surgiu primeiro em partidos de esquerda e na sociedade civil, mas logo se espraiou, inclusive entre grupos de direita que saíram às ruas para pedir a cabeça de Dilma em 2016. A Folha listou 23 situações que podem embasar uma acusação de crime de responsabilidade contra Bolsonaro, mas Rodrigo Maia dizia ver erros, mas não crimes no procedimento do presidente, e mantinha seu avantajado buzanfã sobre cerca de 60 pedidos de abertura de processo de impeachment.
Quando o STF decidiu que os presidentes da Câmara e do Senado não poderiam disputar um segundo mandato dentro da mesma legislatura, Maia subiu o tom nos ataques ao capitão. A uma semana de deixar o posto, o deputado diz que a discussão sobre o impeachment será inevitável, mas achou por bem deixar o abacaxi dos pedidos de abertura processo para seu sucessor descascar. Na política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã. E vice-versa.
Bolsonaro apoia Arthur Lira para a presidência da Câmara (falaremos da capivara do deputado alagoano numa próxima postagem) e Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado (o mesmo candidato apoiado pelo PT). O Psol, “pensando no bem comum”, lançou a "empolgante" candidatura da antediluviana Luiza Erundina, reduzindo a competitividade do desnorteado e combalido movimento oposicionista que sustenta a candidatura do deputado Baleia Rossi.
A despeito de todas as peculiaridade do desgoverno em curso — que é tão nefasto quanto o de Dilma, mas temperado com pitadas de crueldade —, a cantilena dos demais Poderes continua a mesma: as instituições são sólidas, as ameaças à democracia são retóricas, não há motivos para preocupação. Ledo engano. O Supremo, sem Celso de Mello — de quem eu jamais pensei que fosse sentir falta — e com Gilmar Mendes ditando as regras e exigindo obediência dos pares, empurra com a barriga decisões que possam causar desconforto para sua alteza irreal e os príncipes merdeiros.
Bolsonaro flerta com o golpismo desde sempre, com comprova a escolha do sucessor Sergio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública — uma das personalidades mais patéticas do anedotário contemporâneo, que confunde “segurança nacional” com a “honra” de um presidente que estimula o desrespeito à ciência, menospreza a pandemia e chama o povo de maricas.
O boicote do capitão-decepção à vacinação terá efeito direto na recuperação da economia. O cenário
mais provável é que menos de 80 milhões de brasileiros tenham sido imunizados até o final do ano, o que aumenta as chances de novas medidas restritivas ao funcionamento das empresas e do comércio para evitar o colapso do sistema de Saúde. E o que fazem a
respeito o suserano e seu vassalo? Insistem no negacionismo, receitam cloroquina e, pegos com as calças na mão e as cuecas manchadas de batom, mentem deslavadamente.
Simone Tebet,
candidata à presidência do Senado, diz que ainda não há força suficiente, nas
ruas ou na Câmara, para um processo essencialmente político, como é o caso do
impeachment, avançar. Até mesmo opositores do presidente vão nessa mesma linha, ou acham que o Centrão vai barrar o impeachment, o que acirrará a polarização e terá consequências nefastas para o país.
Nada mais natural que a campanha pelo pé na bunda do trevoso
comece pequena. A despeito do vulto das manifestações de 2013 — que eclodiram para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público, mas foram
adquirindo uma pauta diversa, ganhando corpo e revelando uma insatisfação com a
classe política —, Dilma, a insuperável,
se reelegeu em 2014 e só foi expelida em 2016.
Há quem considere junho de 2013 um mês que não terminou, que dialoga diretamente com a crise econômica e política vivida hoje pelo país. Mas isso é outra conversa. Fato é que a campanha pelo impeachment não está tão pequena assim. Embora Bolsonaro tenha ironizado as carreatas (com um sorrisinho amarelo), dizendo que “só tinha 10 carros", protestos semelhantes ocorreram país afora no sábado e no domingo (obviamente, o presidente não fez referência a eles). E carretas em dois dias seguidos, bandeiras vermelhas e verde-amarelas, gente de esquerda e de direita… e a carreata da direita saiu da Barra da Tijuca, o bairro mais bolsonarista do Rio de Janeiro, onde moram Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro...
A ideia de que o Centrão vai barrar o impeachment é um engano. Esse bloco fisiologista e venal de marafonas congressista faz o que é bom para si mesmo. Hoje, bom para o Centrão é apoiar o capitão; se amanhã o vento mudar e o impeachment pegar fogo, os ratos abanarão o navio, deixarão o capitão na mão. Nós já vimos esse filme numa versão em que Dilma foi protagonista. E ainda que o impeachment seja derrotado, a pressão servirá ao menos para manter Bolsonaro na defensiva, minimizando seu potencial de causar (ainda mais danos) ao país.
Dito isso, “passo a palavra” a Ricardo
Rangel:
Supondo que não haja impeachment até lá, enfrentaremos
uma encruzilhada em 2022. Se Bolsonaro
vencer, estará renovado o mandato do pior presidente da história; se perder, o
caminho será o golpe — e o roteiro está à vista de todos:
1. Bolsonaro
questiona constantemente, sem fundamento, a lisura do processo eleitoral. Se
perder, mentirá que a vitória lhe foi roubada e convocará seus apoiadores a
“resistir” e tomar o poder na marra.
2. A máquina de fake news bolsonarista faz esforço
incansável para desacreditar a imprensa, de modo que o eleitorado duvide quando
ela denunciar que Bolsonaro mente.
3. Bolsonaro
luta para controlar o Congresso em busca de meios com que barrar os esforços
para impedir o golpe vindouro.
4. O presidente fez um “liberou geral” para a compra de
armas: de 2019 para 2020, a venda mais do que dobrou. Quem está comprando não
são cidadãos moderados e cumpridores da lei: é a extrema direita apoiadora de Bolsonaro.
5. Bolsonaro
seduz constantemente as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros (dos quais
vêm as milícias, que o presidente sempre defendeu), onde conta com forte apoio,
inclusive nas patentes mais altas. Apoia um projeto de lei para reduzir o
controle dos governadores sobre as PMs e criar para elas patentes de oficiais
generais: se aprovada, tal lei dará aos comandantes grande autonomia, ao mesmo
tempo que fará com que sintam gratidão eterna a Bolsonaro. No ano passado, ele estimulou o motim da PM no Ceará.
6. O presidente seduz também as Forças Armadas (onde não
tem tanto prestígio): se conseguir uma quebra na hierarquia suficiente para que
o Exército não reprima motins das PMs, isso basta.
É sedutora a tese de que nossas instituições são fortes,
de que uma tentativa de golpe não terá sucesso, de que Bolsonaro não seria louco de tentar uma loucura dessas. Sedutora e
equivocada. Nossas instituições são menos fortes do que gostamos de imaginar:
ao contrário dos EUA, que barrou o golpe de Trump, nossa tradição não é
liberal e democrática, mas corrupta e autoritária. E, mesmo que seja uma
loucura, isso não significa que Bolsonaro
— homem despótico, desprovido de senso crítico e com traços de paranoia — não
vá tentar o golpe. Até porque sua alternativa é voltar para a planície e
assistir placidamente à evolução de processos penais contra seus filhos e,
possivelmente, contra ele mesmo.
Se tentar o golpe, mesmo que fracasse, Bolsonaro causará enorme dano ao país. É preciso impedi-lo, e a hora de se mexer é já. O Congresso deve eleger presidentes da Câmara e do Senado sem vínculo com Bolsonaro, repudiar a lei das PMs, criar legislação contra fake news (não é simples, admita-se) e restringir o comércio de armas. PF e Exército devem unificar e melhorar o controle de armas. O Supremo deve concluir o inquérito das fake news e punir os responsáveis. O TSE deve publicar o algoritmo das urnas eletrônicas. Governadores e comandantes das Forças Armadas devem purgar bolsonaristas radicais das tropas.
Não tomar tais providências é cortejar o desastre no ano que vem.
sexta-feira, 20 de março de 2020
SE HOUVER AMANHÃ...
Nos dias seguintes, pessoas começaram a procurar hospitais da cidade com queixas de sintomas semelhantes ao de uma pneumonia viral, mas que não respondiam a tratamentos comuns. Os médicos notaram que todos trabalhavam no mercado Huanan, onde carnes variadas, exóticas e animais silvestres vivos eram vendidos em um ambiente pouco salubre. No dia 31 de dezembro, o governo de Wuhan foi forçado a admitir que 27 pessoas estavam infectadas com uma pneumonia desconhecida, mas afirmou que a doença era “evitável e controlável”. O escritório da OMS em Pequim também foi alertado, mas o tom do governo local era de otimismo e sugeria que não havia transmissão entre humanos.
No dia 7 de janeiro, foi anunciado que um novo vírus havia sido identificado, e no dia 9 a Covid-19 fez sua primeira vítima fatal, cuja morte só foi anunciada dois dias depois, após seu código genético ser divulgado em um banco de dados público para que pesquisadores do mundo inteiro pudessem estudá-lo. No dia 13 a Tailândia registrou o primeiro caso de Covid-19 fora da China. Dia 16, foi a vez do Japão. Com a disseminação, no dia 18 Pequim mandou a Wuhan o epidemiologista Zhong Nanshan, que anunciou em rede nacional que o vírus era transmitido entre humanos. O presidente Xi Jinping também se pronunciou, e partir daí, a resposta foi rápida. O resto é história recente.
A questão é que a maneira como Eduardo Bolsonaro — que chegou a ser cogitado para assumir o posto de embaixador do Brasil nos EUA — tratou essa questão não foi lá muito diplomática. Em seu perfil oficial no Twitter, ele sugeriu que o Estado chinês teria escondido “algo grave” e comparou o caso com Chernobyl. O embaixador da China no Brasil repudiou a publicação e exigiu pedido de desculpas. Zero três tornou a emenda pior que o soneto, o que levou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a apresentar um pedido de desculpas.
Bolsonaro pai, habitualmente loquaz, não deu um pio, mas o vice, general Hamilton Mourão — que teve papel decisivo na reaproximação do Brasil com China após o então candidato a presidente ter disparado declarações hostis ao país asiático durante toda a campanha eleitoral — tentou minimizar o impacto: “(A declaração) não é motivo de estresse, pois a opinião de um parlamentar não corresponde à visão do governo. Nenhum membro do governo tocou nesse assunto”, disse Mourão ao Estado. Já o governador de São Paulo, João Doria, chamou de “lamentável” e “irresponsável” a postagem do deputado fritador de hambúrgueres.
sábado, 4 de abril de 2020
EM QUEM ACREDITAR?
Já Bolsonaro ora apoia o confinamento, ora o rejeita, ao arrepio das orientações de seu ministro da saúde e da própria OMS, e na contramão do que vem fazendo os mandatários de quase 195 países. Na última quinta-feira, afirmou que "nenhum ministro meu é 'indemissível' e Mandetta tem que ouvir mais o presidente", achando, talvez, que o ouvido do médico seja penico. Disse ainda que "falta humildade" ao ministro da Saúde (este, ao ser perguntado a propósito, disse que estava trabalhando e não viu a entrevista), e que tem decreto pronto para reduzir o isolamento, e só está esperando o povo pedir mais.
A meu ver, Guzzo tem razão em parte. Basta lembrar que em 2018, a pedido da defesa de Lula, o Comitê de Direitos Humanos da ONU recomendou ao Brasil que garantisse ao criminoso o direito de disputar as eleições, numa clara ofensa à soberania nacional. Por outro lado, as recomendações da OMS vêm sendo avalizadas por cientistas, epidemiologistas e pesquisadores do mundo inteiro, e achar que todos estão errados e que a sumidade que elegemos presidente é o único do batalhão que está marchando com o passo certo seria ignorar os princípios mais elementares da lei das probabilidades.
Diferentemente do país comunista onde surgiu, o SARS-Cov-2 é democrático e comunitário. Já infectou ricos e pobres, nobres (o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, e o príncipe Alberto II, de Mônaco, por exemplo) e plebeus. No Brasil, afrouxar as medidas de isolamento (ou distanciamento, melhor dizendo) a esta altura, quando os especialistas preveem que nas próximas semanas a velocidade de contaminação deve aumentar, atingir o ápice entre meados e final de abril, estabilizar-se em maio e declinar progressivamente a partir de então (com alguma sorte, tão rapidamente quanto cresceu) seria uma cretinice, da mesma forma que manter o arrocho por mais tempo que o necessário, já que isso levaria as empresas a respirar por aparelhos e, ao final, sobreviveriam apenas as mais fortes.
Xi-Jinping não só mentiu, dizendo, repetidas vezes, que não havia epidemia nenhuma, como prendeu médicos e cientistas que alertaram sobre o vírus. Pesquisadores sumiram e nunca mais foram vistos. Laboratórios onde faziam seus estudos sobre o coronavírus foram destruídos. Provas materiais da existência do vírus foram confiscadas pelo governo e desapareceram. Todas as opiniões e conclusões diferentes das aprovadas pelo governo foram proibidas; passaram a ser consideradas “crime”. A China insistiu, até o último minuto, em permitir voos internacionais e em recomendar que os homens de negócio estrangeiros — da Itália, por exemplo — continuassem vindo para o país.
E qual foi, desde o início, a posição da OMS? Dar apoio cego a tudo o que o governo chinês determinou. Qualquer dúvida quanto à epidemia era considerada “preconceito” e “racismo”. A proibição de viagens à China por parte dos Estados Unidos foi oficialmente condenada pela OMS. Qualquer advertência sobre os riscos do coronavírus foram classificados como “agressão econômica” pelo órgão encarregado de cuidar da saúde do mundo.
Mas tanto presidente do Senado, quanto o ministro Gilmar Mendes e a mídia que imagina saber das coisas nos dizem que eles são a autoridade número 1 da saúde mundial e que precisamos obedecer à OMS. Eis aí o Brasil ignorante, subdesenvolvido e destinado a ser sempre a ser o último a saber. De toda a maciça produção de mentiras, declarações hipócritas e decisões desastrosas, devidas à ignorância ou à má fé, tomadas até agora para enfrentar a pandemia, provavelmente nada iguala a estupidez de autoridades e “personalidades” brasileiras em sua insistência de exigir fé religiosa no que diz a OMS.
Alcolumbre, quando ainda estava isolado por ter contraído o vírus, advertiu-nos, em tom gravíssimo, das nossas obrigações de seguir em tudo o que o órgão está mandando fazer. Sem que se saiba direito porque, Gilmar Mendes, que por sinal andava esquecido com todo esse barulho, entrou no assunto. “As orientações da OMS devem ser rigorosamente seguidas por nós”, disse o ministro. “Não podemos nos dar ao luxo da insensatez.” Obviamente, nem um nem outro têm a menor ideia do que estão falando. Quanto ao chefe do Senado, naturalmente, é exatamente o que se pode esperar. No caso do ministro, a única coisa que faz sentido dizer é o seguinte: insensato, mesmo, é ouvir o que a OMS diz sobre saúde, por cinco minutos que sejam.
Que Deus nos ajude a todos.
quarta-feira, 8 de abril de 2020
A ERA DA (IN)SEGURANÇA — PARTE 9
Exageros à parte, fato é que no universo digital ninguém está 100% seguro, embora seja possível diminuir os riscos.
Suponhamos que você esteja caminhando pela rua, com seu smartphone no bolso do casaco, e outra pessoa caminhe a seu lado digitando uma mensagem de WhatsApp. De qual de vocês dois um amigo do alheio tentaria subtrair o telefone?
Na esteira desse raciocínio, um sistema desprotegido é um alvo mais fácil para um cibercriminoso do que outro que esteja devidamente atualizado e conte com a proteção de uma suíte de segurança responsável.
Observação: Note que o nível de segurança da senha do nosso exemplo seria ainda maior se a letra E fosse substituída pelo algarismo 3, a letra A pelo 4 ou pelo @ (outras possibilidades são substituir o L pelo ponto de exclamação, o I por 1, o O por 0 (zero), e assim por diante). Para mais dicas, acesse a página da MCAFEE ou recorra ao serviço MAKE ME A PASSWORD; para testar a segurança de suas senhas, acesse a CENTRAL DE PROTEÇÃO E SEGURANÇA DA MICROSOFT ou o site HOW SECURE IS MY PASSWORD.