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quarta-feira, 30 de abril de 2025

WINDOWS 10 — UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

OS POLÍTICOS SÃO A MENTIRA LEGITIMADA PELA VOTO POPULAR.

Quatro meses depois de anunciar o lançamento do Windows 11 e informar que o Windows 10 deixaria de receber suporte em 14 de outubro de 2025, a Microsoft começou a distribuir o upgrade para a versão pronta e acabada do novo sistema para usuários que rodassem o Ten em máquinas "elegíveis" ou que se dispusessem a comprar um computador novo, que viria com o Win11 pré-instalado ou poderia ser atualizado via Windows Update pelo próprio usuário.

Naquela ocasião, a empresa estimava que todos os aparelhos compatíveis estariam rodando o Win11 em meados de 2022, mas faltou combinar com os russos: o Win10 velho de guerra continua firme e forte, com 68% da preferência dos usuários, enquanto seu sucessor contabiliza 27%, e as versões 8.1, 7, Vista e XP somam 4,5%.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Em 2015, a PGR denunciou Fernando Collor por surrupiar R$ 20 bilhões da BR Distribuidora. Em 2023, o STF o condenou a 8 anos e 10 meses de prisão, mas seus advogados conseguiram procrastinar o cumprimento da pena até a semana passada. 

Nesse entretempo, Gilmar Mendes (atual decano da Corte e verdadeira herança maldita de FHC) votou pela absolvição e, vencido, tentou reduzir a pena à metade. Exausto das manobras protelatórias da defesa, Alexandre de Moraes, relator da encrenca, determinou a prisão imediata do Rei Sol, que, a pedido, foi envidado para uma “hospedaria especial” em Maceió. 

Moraes submeteu seu despacho ao plenário, Gilmar esboçou um pedido de destaque, mas recuou. O placar chegou a 6 a 0 pela prisão, mas o "terrivelmente evangélico" André Mendonça divergiu e foi seguido por Gilmar, Fux e o ministro-tubaína Nunes Marques. Zanin, como costuma fazer em processos da Lava-Jato, se absteve de votar. A defesa apresentou um pedido de prisão domiciliar, que ora se encontra pendente de manifestação da PGR.

Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura — e o primeiro a ser penabundado do cargo por impeachment. Sua trajetória errática e politicamente camaleônica incluiu alianças com Bolsonaro e com o PT. Em 2014, pediu votos para Dilma e até usou um trecho elogioso de Gleisi Hoffmann em sua propaganda. Em 2022, perdeu a disputa pelo governo de Alagoas com pífios 14% dos votos. Após sua prisão, o PRD o expulsou, seus aliados silenciaram e os líderes da legenda o descreveram como "distante da cúpula e irrelevante nas decisões". 

Sua prisão tardia e cercada de privilégios, representa o ocaso de um personagem que simbolizou tanto o colapso precoce da Nova República quanto a persistência das velhas práticas políticas. Já se ele vai realmente cumprir a pena, bem, eu não tenho bola de cristal, mas tampouco tenho memória de galinha. Para quem nao se lembra, em 2018 o TRF-4 aumentou de 8 para 12 anos a pena de Lula no processo do triplex e determinou sua prisão. Em 2019, numa votação apertada (6 votos a 5), o STF mudou seu entendimento sobre a "prisão em segunda instância", e Lula deixou sua cela VIP em Curitiba no dia seguinte, depois de 1 anos e 5 meses gozando da hospitalidade da PF em Curitiba. 

Em 2017, depois de procrastinar sua prisão por 4 décadas, Paulo Maluf — ex-prefeito da capital paulista (1969-1971; 1993-1996), ex-governador de São Paulo (1979-1982), candidato à Presidência em 1995 e 1989, ex-secretário dos Transportes, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, ex-vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, quatro vezes deputado federal, líder de cinco partidos políticos e réu em 70 processos — foi finalmente encarcerado na Papuda. Três meses depois, graças ao bom coração do eminente ministro Dias Toffoli — que foi presenteado por Lula com a suprema toga, mesmo tendo levado bomba duas vezes seguidas em concursos para juiz—, foi enviado para casa por "razões humanitárias" e permaneceu em prisão domiciliar até maio de 2023, quando teve a pena extinta com base no indulto natalino concedido por Bolsonaro.

Na visão de Toffoli, o turco ladrão, então com 87 anos, estava à beira do desencarne; hoje, aos 93, se ele realmente está morrendo, é de rir de quem acredita na justiça desta banânia. 


Em julho de 2015, quando deu à luz o Win10, a Microsoft previu que seu novo rebento ultrapassaria a marca de 1 bilhão de instalações em três anos. Apesar do upgrade gratuito, essa meta só foi alcançada em janeiro de 2020, quando faltavam menos de 2 anos para o lançamento oficial do Win11, que é mais exigente, em termos de hardware, e bem menos simpático que seu antecessor aos olhos dos usuários. 

Faltando menos de seis meses para o Win10 deixar de receber suporte e atualizações de segurança da Microsoft, manter o sistema em uso após o prazo final aumentará significativamente o risco de ser vítima de pragas digitais, cibercriminosos e assemelhados. 

No ambiente corporativo, máquinas desatualizadas podem facilitar ataques de ransomware, sequestro de dados, sabotagens e outros incidentes graves. E a solução vai além da simples compra de novas licenças ou realização de upgrades: é preciso avaliar a compatibilidade de hardware, a maturidade dos aplicativos que rodarão no novo sistema, as políticas de segurança e criptografia (como a exigência do TPM 2.0, por exemplo) e, principalmente, o treinamento e adaptação das equipes que usarão diariamente essas máquinas.

Sensível ao fato de que cerca de 240 milhões de computadores podem se tornar lixo eletrônico devido à incompatibilidade com o Win11, a Microsoft criou programas de suporte estendido. Mas eles custam dinheiro e são meros paliativos, já que não eliminam a necessidade da mudança sem a qual o aumento da insegurança pode minar a competitividade das empresas.

No âmbito doméstico, a solução é mais simples: quem tem um PC compatível e não migrou pode fazer o upgrade, e quem tem máquinas incompatíveis pode "forçar" a instalação do novo sistema ou migrar para o Linux, por exemplo — distribuições como o Ubuntu oferecem uma interface semelhante à do Windows, tornando o "reaprendizado" uma questão de dias ou semanas. O macOS é imbatível, mas só roda no hardware fabricado pela própria Apple, o que encarece a mudança (embora ela valha cada centavo).

Uma alternativa que a própria Microsoft oferece, ainda que discretamente, consiste em adotar uma versão do Win10 Enterprise, como a LTSC 2021, que é baseada na versão 21H2 do Windows 10 e deve receber suporte até janeiro de 2027. A IoT Enterprise LTSC 2021, também baseada na versão 21H2, se parece e funciona como o clássico sistema para desktop, embora existam diferenças pontuais em relação às edições Home ou Professional — nas versões LTSC, o usuário permanece com a versão básica (21H2, build 19044), recebendo apenas patches de segurança e estabilidade. No entanto, como não haverá novas versões importantes após a 22H2, isso não chega a ser um grande inconveniente.

Chaves de produto do Windows 10 Home ou Professional não funcionam para ativar uma edição Enterprise LTSCA adoção deve ser feita mediante um contrato de licença por volume (VLAs) para menos 5 estações de trabalho, mas é possível negociar licenças individuais com alguns revendedores. Embora existam fontes não oficiais e ferramentas de ativação circulando na Internet, seu uso viola os termos de licenciamento da Microsoft.

Migrar para uma versão Enterprise LTSC significa abrir mão da Microsoft Store, da Cortana, do OneDrive e de aplicativos pré-instalados como Weather, Mail ou Contacts. Mas o Windows Defender, o navegador Edge e acessórios clássicos, como o Bloco de Notas e o WordPad, continuam presentes. O processo de instalação é semelhante ao convencional. O sistema tenta se conectar a uma conta corporativa, mas também oferece a opção de criar uma conta local tradicional. 

A versão IoT usa o inglês americano como idioma padrão, enquanto a Enterprise LTSC oferece mais opções linguísticas. Mas ambas são soluções legítimas para quem deseja manter o Windows 10 em seu hardware atual por até sete anos após 14 de outubro.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

PONTOS A PONDERAR...

DE PENSAR MORREU UM BURRO.

Quem leu O Príncipe sabe que o bem deve ser feito aos poucos e mal, de uma só vez. Mas a récua de muares que atende por "eleitorado" certamente não leu, e repete a cada dois anos o que Pandora fez uma única vez.
 
Churchill ensinou que a democracia é a pior forma de governo, exceto por todas as outras já tentadas, mas ressaltou que o melhor argumento contra ela é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano. Se tivesse conhecido o eleitor brasileiro, o estadista britânico certamente reduziria esse tempo para 30 segundos.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Em entrevista publicada pelo The New York Times, Bolsonaro disse que estava tão animado com o convite do Trump que nem ia mais tomar Viagra. Mas tomou na tarraqueta: horas depois, alegando que em diversas ocasiões o indiciado manifestou-se favoravelmente à fuga de condenados no caso do 8 de janeiro e admitiu em entrevista a UOL a hipótese de ele próprio "evadir-se e solicitar asilo político para evitar eventual responsabilização penal no Brasil", Moraes indeferiu o pedido de liberação de seu passaporte
O ministro anotou ainda que Zero Três, intermediário do convite da família Trump ao pai, também endossou a defesa da fuga de condenados. Na véspera, a PGR havia se manifestado contra a ida do capetão à posse de seu ídolo, sustentando que a viagem serve ao "interesse privado" do ex-presidente, em contraposição ao "interesse público", que "se opõe à saída do requerente do país". A defesa de Bolsonaro recorreu, mas Moraes manteve sua decisão
A manifestação de Gonet e as decisões de Xandão são prenúncios do que vem pela frente na excursão do refugo da escória da humanidade pelos nove círculos do inferno. Em outras palavras, o que o PGR e o supremo togado disseram foi que não convém fornecer material para a fuga de um ex-presidente da República que frequenta o inquérito do golpe como uma condenação criminal esperando na fila par acontecer. Nesse entretempoBolsonaro escalou Celso Vilardi, um dos criminalistas mais experientes do país, reforçar o time de defensores do indefensável.
 
Em momentos distintos da ditadura, Pelé Figueiredo alertaram para o risco de misturar brasileiros e urnas em eleições presidenciais. Ambos foram muito criticados, mas como contestá-los se lutamos tanto pelo direito de votar para Presidente e elegemos gente como Lula, Dilma, Bolsonaro?
 
Não se sabe como o Brasil estaria hoje se golpe de Estado de 1889 não acontecesse, Ou se a renúncia de Jânio Quadros não levasse ao golpe de 64 e subsequentes 21 anos de ditadura militar. Ou se Tancredo Neves não fosse internado horas antes de tomar posse e batesse as botas 38 dias e 7 cirurgias depois, levando para a sepultura a esperança de milhões de brasileiros e deixando de herança um neto que envergonharia o país e um vice que promoveu a anarquia econômica e administrativa que levou à vitória de um pseudo caçador de marajás sobre um desempregado que deu certo na eleição solteira de 1989.
 
Usamos o tempo verbal "futuro do pretérito" (chamado de "condicional" até 1959) para falar de eventos cuja concretização depende de uma condição ou para fazer pedidos de forma educada. Embora usemos as palavras "pretérito" e "passado" de forma intercambiável no dia a dia, elas possuem nuances diferentes. Assim, o futuro do pretérito é um futuro que poderia ter acontecido, mas não aconteceu porque estava condicionado a algo que não se concretizou. 
 
No imaginário nacional, Tancredo foi o melhor de todos os presidentes, já que, a exemplo da Viúva Porcina no folhetim Roque Santeiro, "foi sem nunca ter sido" — mutatis mutandis, é como nos discursos fúnebres, onde virtudes que o falecido nunca teve são exaltadas. Conta-se que um padre recém-ordenado assumiu sua paróquia um dia antes da morte do prefeito, que era corrupto, rabugento e malquisto pelos locais. Sem elementos para embasar a homília fúnebre, o batina exortou os presentes a relembrar as qualidades do "nosso querido alcaide". Como ninguém se manifestou, a viúva, constrangida, ponderou: "O pai dele era ainda pior."
 
Muita coisa podia dar errado no capítulo final da novela da ditadura. Em 1984, numa conversa com Henry Kissinger, o ainda presidente João Figueiredo confidenciou que uma parte das Forças Armadas apoiava a volta do governo civil e a outra parte estava disposta a tudo para evitar que "os esquerdistas tomassem o país". Figueiredo considerava Tancredo uma pessoa capaz e moderada, mas cercada e apoiada por muitos radicais de esquerda que talvez não conseguisse controlar. 
 
Como estaríamos hoje se Tancredo tivesse presidido o Brasil? The answer, my friends, is blowing in the wind. De 15 de janeiro de 1985 — quando a raposa mineira derrotou o turco lalau, que era apoiado pelos militares, por 480 a 180 votos de um Colégio Eleitoral composto por deputados federais, senadores e delegados das Assembleias Legislativas dos Estados — até 14 de março, quando baixou ao hospital, ecoaram rumores de que os militares não deixariam o presidente eleito tomar posse, e os boatos ganharam força depois o general Newton Cruz revelou que, a três meses da votação, Maluf o havia procurado para propor um golpe 
 
Alguns conspirólogos alardearam que Tancredo havia sido baleado enquanto assistia a uma missa na Catedral de Brasília (faltou luz durante a cerimônia, e alguns presentes disseram ter ouvido um tiro), outros, que ele havia sido envenenado por militares apoiados pela CIA (por uma estranha coincidência, seu mordomo morreu dias depois, vítima de complicações gastrointestinais). A alteração da causa mortis de "infecção generalizada" para "síndrome da resposta inflamatória sistêmica" deixou muita gente com a pulga atrás da orelha — lembrando que alguns anos antes o papa João Paulo I, com apenas 33 dias de pontificado, foi encontrado morto em seus aposentos (após tomar uma mui suspeita xícara de chá0.
 
Observação: No livro "In God's Name", David Yallop popularizou a tese de envenenamento, mas as evidências em que ele se escorou não foram confirmadas pelas investigações, que apontaram "infarto fulminante" como causa mortis. Outras teorias sugerem que o assassinato foi orquestrado por grupos maçônicos ou resultou de uma conspiração envolvendo cardeais que se opunham a suas ideias e às reformas que ele pretendia implementar no Banco do Vaticano. A falta de autópsia e de uma investigação transparente alimentou as teorias conspiratórias, mas a maioria delas se baseia em especulações, rumores e testemunhos duvidosos.
 
A posse de Sarney ecoou como a "gargalhada do diabo" nos estertores da ditadura — que só terminou três anos depois, com a promulgação da Constituição Cidadã, que distribuiu diretos a rodo sem apontar de onde viriam os recursos para bancá-los (e que foi remendada mais de uma centena de vezes em 136 anos, enquanto a constituição norte-americana, que tem apenas 7 artigos, recebeu 27 emendas em 237 anos).
 
Observação: A palavra "direito" é mencionada 76 vezes na Carta, enquanto "dever" aparece apenas quatro e "produtividade" e "eficiência". duas e uma vez, respectivamente. O que esperar de um país que tem 76 direitos, 4 deveres, 2 produtividades e 1 eficiência? Na melhor das hipóteses, uma política pública de produção de leis, regras e regulamentos que quase nunca guardam relação com o mundo real.
 
O último dos 5 generais-presidentes da ditadura — que dizia preferir o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo e que daria um tiro no coco se fosse criança e seu pai ganhasse salário-mínimo — se recusou a transferir a faixa para Sarney (faixa a gente transfere para presidente, não para vice, e esse é um impostor), lembrando que o obelisco da política de cabresto nordestina trocou a ARENA pelo MDB para integrar a chapa de oposição.

Sarney nem imaginava o tamanho da encrenca que seria assumir a presidência sem ter indicado os ministros nem participado da elaboração do plano de governo, mas herdado dos militares uma inflação de 220% a.a. Durante sua aziaga gestão, ele enfrentou mais de 12 mil greves e foi vítima de pelo menos um atentado. Em março de 1990, além da faixa presidencial, ele entregou a Collor uma superinflação de 1.800% a.a. e mudou seu domicílio eleitoral do Maranhão para o recém-criado estado do Amapá, onde conseguiu se eleger senador. Em 2014, aos 83 anos, deixou a vida pública para se dedicar à literatura em tempo integral — conta-se que um belo dia a governadora Roseana Sarney telefonou para informar que um dilúvio havia deixado metade do Maranhão debaixo d’água, e ouviu do pai a singela pergunta: "Sua metade ou a minha?
 
Tancredo, Ulysses e Covas lideraram a campanha pelas "Diretas Já", que reuniu mais de 1 milhão de pessoas no Anhangabaú em 1984. O movimento fracassou, mas o político mineiro foi escolhido pelo Colégio Eleitoral. Se ele, e não Sarney, tivesse presidido o Brasil de abril de 1985 a março de 1990, talvez a estabilidade econômica alcançada em 1994 com o Plano Real (conquista que Lula 3 vem tentando reverter) tivesse chegado mais cedo, livrando-nos dos nefastos planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor.

Talvez Collor não se elegesse presidente e Lula assistisse à visita de Obama ao Brasil pela TV — sem à oposição ao "Rei-Sol", é possível que xamã da petralhada continuasse como deputado federal (cargo para o qual ele foi eleito em 1986) ou se aboletasse no Senado. Sem Collor, sem Zélia nem sequestro dos ativos financeiros e o congelamento da poupança, que derrubou quase à metade a venda de imóveis residenciais. 
Sem essas medidas heterodoxas e a sucessão de planos econômicos escorados no congelamento de preços e salários, a redução da miséria brasileira poderia ter começado muito antes, e hoje mais gente teria casa para morar.

Nada garante que seria assim, mas poderia ter sido. Só que não foi. 

Triste Brasil.

sábado, 10 de agosto de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (FINAL)

O FATO DE NINGUÉM VER A ÁRVORE CAIR NÃO SIGNIFICA QUE ELA NÃO CAIU.

Segundo o filósofo e metafísico inglês J.M.E. McTaggart, pode-se atestar a irrealidade do tempo usando apenas o pensamento lógico e um baralho de cartas.

Primeiramente, ele divide as cartas em duas pilhas. Na primeira pilha, elas são ordenadas cronologicamente, ou seja, a carta no topo representa o evento mais recente e a carta na base, o evento mais antigo. Na segunda, as cartas são embaralhadas aleatoriamente, ou seja, os eventos não são organizados em sequência temporal, e não há indicação de qual evento ocorre antes ou depois do outro. 


McTaggart concluiu que a noção de tempo linear (como na primeira pilha) não basta para capturar a realidade dos eventos, e que, na pilha 2, sem a ordem temporal, os eventos ainda existem, mas não há um "antes" ou "depois". Isso sugere que o tempo como o concebemos pode ser uma construção mental e não uma característica fundamental da realidade e, portanto, ele não existe de verdade.  


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Para surpresa de ninguém, a interferência política na Petrobras — ora presidida pela obediente Magda Chambriard — resultou num prejuízo de R$ 2,6 bilhões de reais no segundo trimestre. A despeito das acrobacias que circulam nos jornais para nos convencer de que o errado está dando certo, quem tem ao menos dois neurônios ativos e operantes percebem que, sob o tacão do governo Lula, a companhia substituiu a política de paridade com preços internacionais pela política do segura-aí-enquanto-você-acha-que-dá. Ou seja, os acionistas da Petrobras estão pagando do bolso para a população menos esclarecida ter a ilusão de que a gasolina não sobe ou sobe menos nas bombas.
Isso também não causa espécie: segurar artificialmente os preços dos combustíveis deu errado no governo Dilma, e Lula é useiro e vezeiro em repetir os erros cometidos no passado — não sei se ele acredita mesmo que pode obter um resultado diferente valendo-se da melhor definição de "estupidez" que se conhece, mas enfim...
Além de eminentemente populista, a manobra que sangra a empresa represa momentaneamente a inflação, permitindo que o governo continue a gastar o que não tem e a imprimir cada vez mais dinheiro para pagar a conta que não fecha — que, por sinal, é a verdadeira causa da inflação.
Em última análise, o povo paga em dobro pelo prejuízo da Petrobras. Como acionista indireto, já que o governo brasileiro tem quase 29% da empresa e a população acaba sendo prejudicada pelos maus resultados, e como cidadão, já que esse dique artificial vai se romper em alguma momento.

Numa segunda empreitada, McTaggart acrescenta uma terceira pilha de cartas. Na primeira pilha, nada muda em relação ao experimento anterior, ou seja, ela representa a ordem cronológica dos eventos. Mas a segunda pilha passa a representar os eventos em termos de passado, presente e futuro, e as cartas mudam do futuro para o presente e deste para o passado. Já na terceira pilha as cartas são novamente embaralhadas, simbolizando a ideia de que os eventos existem independentemente do tempo.

A introdução da terceira pilha visa ilustrar que, mesmo que tentemos classificar os eventos em termos de passado, presente e futuro (como na segunda pilha), a realidade dos eventos (terceira pilha) não depende dessa categorização. Portanto, o tempo parece ser uma construção subjetiva, e não uma propriedade objetiva do universo em que vivemos. E se o tempo é um processo que precisa de tempo para acontecer, é preciso tempo para descrever o tempo, e essa circularidade viola a lógica


Em outras palavras, McTaggart afirma que o tempo como uma sequência de eventos do passado para o presente e depois para o futuro pode não ter uma realidade objetiva, e sim uma ilusão, uma construção da mente humana, e que a verdadeira natureza da realidade pode ser atemporal. Mas os C-theorists discordam. Para eles, colocar as cartas do antes para o depois é tão inútil quanto escolher esta ou aquela tábua para iniciar a numeração de cerca circular.


É difícil dizer quem tem razão nesse furdunço, já que é tudo uma questão de ponto de vista. Mas fato é que McTaggart conseguiu construir uma teoria sobre a inexistência do tempo usando apenas o pensamento lógico, por mais ilógico que isso possa parecer. 

Observação: A quem interessar possa, o artigo que me serviu de base para esta postagem e a anterior pode ser acessado através deste link

quinta-feira, 11 de abril de 2024

SOBRE EMOJIS E EMOTICONS

GENTE QUE PENSA QUE SABE TUDO É UM PÉ NO SACO DE GENTE QUE SABE ALGUMA COISA.

Anunciada como alternativa para reduzir a tarifa e promover energia verde, a MP que o governo assinou na terça-feira 9 pode ser mais um tiro no pé (do consumidor). Além do texto de difícil compreensão — "é preciso uma pedra de roseta para decifrar a MP" afirmou um ex-diretor-geral da Aneel —, o alívio momentâneo (entre 3,5% e 5%, segundo o governo) vai gerar prorrogação de subsídios para empresas que não precisam e o aumento da conta de luz, a partir de 2029, em no mínimo 7%. 
Ao contrário do que o todo o setor elétrico tem defendido, Lula e seu ministro de Minas e Energia insistem em medidas isoladas e paliativas, sem ouvir a sociedade e o setor. Em vez de buscar caminhos para diminuir o preço da conta de luz dos brasileiros — uma das mais caras do mundo —, o governa cria uma despesa adicional, que fatalmente cairá no colo dos consumidores. 
Em janeiro de 2013, já de olho na reeleição, Dilma anunciou em rede nacional uma redução de 18% na conta de luz (vale a pena relembrar a íntegra do discurso da sumidade). A julgar pela MP do criador e mentor da mulher sapiens, não são só os eleitores que repetem os mesmos erros esperando resultados diferentes. Triste Brasil.

Ainda podemos digitar uma sequência de "K" (“KKKKKK”) ou de "RS" (“RSRSRSRS”), como fazíamos no tempos do ICQ e MSN Messenger, para dar a ideia de que escrevemos a mensagem em tom de brincadeira, Mas tanto as redes sociais quanto os apps mensageiros atuais suportam emoticons (combinações de caracteres de texto que formam imagens simples) e emojis (imagens coloridas e detalhadas)

Os emoticons (de "emotion + icon") surgiram nos anos 1980 e combinavam sinais gráficos  dois pontos (:), traço (-) e parêntesis — para representar rostinhos sorridentes ou amuados. Os emojis surgiram uma década depois, inspirados nos ícones que os meteorologistas usavam para indicar tempo ensolarado ou chuvoso e nos símbolos empregados em mangás (histórias em quadrinhos japonesas). 

Observação: A palavra "emoji" vem da união de "e" (), que significa imagem, e "moji" (文字), que significa letra em japonês. No kaomoji, os símbolos são formada por letras do alfabeto cirílico e outros caracteres que não integram a codificação ASCII (usada em computadores e sistemas operacionais ocidentais), daí eles aparecem para nós como um quadradinho brancoO primeiro conjunto era composto por 176 símbolos distintos, cada um com 12 pixels de resolução
 
O objetivo dos emojis é auxiliar na contextualização das mensagens — às vezes o texto dá margem a interpretações diferentes da pretendida por quem o escreveu, e um emoji pode deixar claro o tom ou a intenção por trás da mensagem 
—, mas muita gente os borrifa sem saber exatamente o que significam, já que muitos deles não representem exatamente o que parecem representar (uma dica para não errar é consultar a Emojipedia).
 
Os emojis de rosto são os mais usados. O sorriso com olhos fechados, por exemplo, sugere felicidade ou que algo é engraçado. A carinha sorridente expressa felicidade ou transmite uma ideia positiva. Os emojis de gestos são igualmente populares e podem representar diferentes ações ou sentimentos. Polegar para cima, por exemplo, funciona como um "joinha" virtual; polegar para baixo indica desaprovação ou que algo não é bom; mão acenando serve para dizer "oi" ou "tchau", e por aí vai. Os emojis de animais são menos populares, mas
 o cachorro sugere lealdade, amizade e fidelidade, enquanto o gato simboliza independência, mistério e agilidade.
 
As figurinhas mais usadas no WhatsApp variam de acordo com o país e a cultura, e algumas podem ter significados ambíguos ou ser difíceis de entender sem contexto. A senhora com a mão no queixo pode ser interpretada como pensativa, duvidosa e até descontente, e a mão com os dedos juntos costuma ser usada para representar algo pequeno, mas pode ter
 outros significados  alguns chegam a ser ofensivos em determinadas culturas.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

ACABOU O CARNAVAL (FINAL)

 

Antes de encerrar esta sequência — ou interrompê-la, melhor dizendo, já que é inevitável retomar o assunto mais adiante —, relembro um brocardo atribuído a Magalhães Pinto: "Política é como as nuvens; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram". E vou mais além: "Escrever sobre política é como trocar pneu com o carro em movimento", pois o cenário, caleidoscópico, muda numa questão de segundos. 

 

Em seus quatro anos de mandato, Bolsonaro moveu montanhas para converter o Brasil numa autocracia de bananas, e, nesta banânia em particular, a Justiça não só tarda como nem sempre chega. Não houvesse na Praça dos Três Poderes uma filial da Pizzaria do Inferno, eu diria que a prisão do "imbrochável seriam favas contadas — como disse sobre a de Lula muito antes de sua condenação no processo do triplex. Mas é impossível não lembrar que Bolsonaro foi alvo de 150 pedidos impeachment e colecionou dezenas de acusações por crimes comuns, e que tudo foi parar na lata do lixo devido à inércia de Rodrigo Maia, à cumplicidade de Arthur Lira e à subserviência do antiprocurador Augusto Aras (que acreditou na promessa de uma vaga no STF, mas ficou a ver navios). 

 

O petismo experimentou forte crescimento até 2002 — ano em que Lula finalmente ascendeu ao Planalto após três derrotas consecutivas para o PSDB — em 1989, 1994 e 1998 —, mas começou a declinar em 2013. Em 2016, o impeachment de Dilma acirrou a polarização semeada por seu criador e mentor com o "nós contra eles", e a rejeição ao PT e seus satélites anabolizou a extrema direita, ensejando a vitória de Bolsonaro em 2018. Mas não há nada como o tempo para passar e o vento para mudar. 

 

Depois de gozar 580 dias de férias compulsórias em Curitiba, Lula deixou sua suíte VIP na carceragem da PF, foi "descondenado" e reabilitado politicamente por togas camaradas e derrotou Bolsonaro com a menor diferença de votos entre postulantes à Presidência no segundo turno desde a redemocratização. A propósito, volto a frisar que extirpar o câncer do bolsonarismo antes que ele evoluísse para metástase era fundamental, mas trazer o PT de volta ao Planalto era opcional. As demais opções eram desalentadoras, mas mesmo assim...

 

Ao vestir a faixa presidencial pela terceira vez, o pontifex maximus da seita do inferno pareceu acreditar que fora eleito o cargo de Deus. Sem se dar conta de que já não esbanja carisma como em 2010 — quando se orgulhava de eleger até poste —, confunde o Planalto com o Olimpo da mitologia grega. Para acomodar aliados da falaciosa "frente democrática", criou dezenas de novos ministérios. Para as pastas já existentes, nomeou antigos aliados — muitos dos quais foram sepultados no julgamento do Mensalão ou submergiram quando a (hoje finada) Lava-Jato expôs as entranhas pútridas do Petrolão. 

 

Lula recebeu em Palácio — e com pompa e circunstância — o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Presenteou Dilma, a inolvidável, com a presidência do Banco do Brics. Indicou para o STF seu amigo e advogado particular Cristiano Zanin e seu ministro da Justiça Flávio Dino. Para ocupar o lugar do ministro declaradamente comunista, chamou de volta da aposentadoria o velho "cumpanhêro" Ricardo Lewandowski — cujos ombros ele próprio cobriu com a suprema toga em 2006, a pedido da então primeira-dama, que era amiga da mãe do magistrado. 

 

No primeiro ano de sua terceira gestão, O primeiro-casal passou visitou 26 países a expensas dos contribuintes. Na última sexta-feira, depois de visitar o Egito, Lula e Janja — que encarna o papel de presidenta-adjunta — iniciaram um passeio de três dias pela Etiópia. Mas não é só: Janeiro nem tinha acabado e os ministros Daniela Carneiro Juscelino Filho já estavam enroscados — ela, devido a uma esquisita relação eleitoral com milícias da Baixada Fluminense, e ele, ao uso do dinheiro de emendas parlamentares para beneficiar a fazenda da família. Daniela deixou a pasta do Turismo em julho, mas Juscelino segue no comando das Comunicações, a despeito de novos enroscos terem vindo à luz — de diárias e requisição de jatinhos da FAB para viagens pessoais a emprego de funcionário-fantasma e uso do gabinete pelo sogro para receber empresários e realizar despachos.

 

Lula está velho e rabugento. No ano passado, a dor no joelho não o deixava dormir direito. Uma "pneumonia leve" resultou no adiamento de sua viagem à China. O petista disse que estava poupando a voz para o encontro com Xi-Jinping, mas vale lembrar que nem o líder chinês fala português, nem o brasileiro domina o mandarim — na verdade, Lula mal consegue se expressar em português sem assassinar o vernáculo. 


Dias atrás, na Etiópia, Lula voltou a se referir à ação militar israelense em Gaza de "genocídio" e comparou a situação com o HolocaustoA fala foi considerada antissemita por entidades judaicas e israelitas e acendeu o pavio de mais uma crise diplomática. Benjamin Netanyahu disse que o brasileiro "cruzou a linha vermelha" com essa comparação "vergonhosa", e determinou que o embaixador do Brasil em Israel seja chamado às falas. Se serve de consolo, o Hamas agradeceu a declaração do Sun Tzu de Garanhuns, que, segundo o grupo terrorista, descreveu com perfeição o que acontece na Palestina. Alguém deveria fazer a ele a pergunta que o rei Juan Carlos fez a Maduro em 2007¿Por qué no te callas?
 
Saber quando calar é uma virtude, sobretudo quando um governo que mal começou começa mal sob muitos aspectos. Lula queria a cabeça de Roberto Campos Neto, como se a Selic estivesse em 13,75% por um capricho do presidente do BC, e não como tentativa de conter a inflação. O mal que o xamã do PT disse desejar "a esse cidadão que chefia o Banco Central" perdeu a relevância diante da incapacidade de Lula de fazer bem a si mesmo e a seu governo. Enquanto o bumbo de Haddad assegurava que a nova regra fiscal e a reforma tributária fariam deslanchar a economia, seu chefe sinalizava a investidores que ansiavam pelo nascer do Sol que a alvorada talvez, quem sabe, só chegaria em abril. Ela não chegou, e dinheiro não gosta de dúvidas e imprevistos.
 
No comando da pasta da Defesa, Dino não apreendeu armas destinadas ao crime organizado, que cresceu e ficou ainda mais organizado sob sua gestão, mas ganhou sua suprema toga. Anielle Franco — a ministra da "Igualdade Racial" que embolsava mais de R$ 400 mil por ano para não trabalhar numa empresa estatizada — requisitou um jatinho da FAB para assistir a um jogo de futebol no estádio do Morumbi, na capital paulista. E o resto é pinga da mesma pipa.

Apesar disso tudo (e muito mais), torço pelo sucesso do atual governo. Não por patriotismo hipócrita, mas porque mudar de país a esta altura da vida não é uma opção que eu possa me dar ao luxo de exercer. Faço votos de que a derradeira passagem de sua alteza pelo Planalto contribua para mitigar a abjeta polarização que tanto mal fez ao Brasil nos últimos anos, notadamente depois que o capitão-rascunho-do-mapa-do-inferno tomou o lugar que o tucanato ocupou de 1994 até 2014. 
 
Numa sociedade polarizada, um presidente que tem respaldo do Congresso consegue implementar políticas públicas que privilegiam seus apoiadores em detrimento do restante da sociedade. Essa erosão da representação política só não sufocará nossa frágil democracia se o eleitor mediano — que é o esteio da estabilidade e da racionalidade — reassumir seu posto, pois só assim o país escapará da sinuca de bico criada por idiotas de esquerda e extremista boçais de direita. Cabe à esquerda (enquanto poder) suavizar a radicalização interna, e à direita (como oposição) abandonar o extremismo e se reagrupar como um movimento mais ao centro. Sem esse esforço conjunto, o Brasil dificilmente voltará a crescer. Mas, desgraçadamente, não é isso que está acontecendo. 
 
Bolsonaro tem um longo histórico de ataques às instituições. Agora, em face das revelações da Tempus Veritatis, ele lança mão da mesma tática que usou inutilmente contra o STF e o TSE: gente na rua. A manifestação, por si mesma, não é crime. Mas, quando diz querer a "fotografia", confessa que seu objetivo é constranger o Supremo. O chefe do clã das rachadinhas e das mansões milionárias segue firme em seu intento de cassar as prerrogativas das togas — como fez reiteradamente quando presidente. Enquanto ele tentava executar sua catastrófica política de saúde — que correspondia a homicídio em massa —, decisões emanadas do Supremo salvavam milhares de vidas, inclusive garantindo a vacinação.
 
Diante de um inevitável encontro com a cadeia, o "mico" tenta fazer alguma coisa — com o mesmo desespero de quando buscava evitar a eleição do adversário, alertando que depois seria tarde demais. Como bem anotou Reinaldo Azevedo em sua coluna, Bolsonaro será preso. Pode não ser amanhã, mas também pode ser. Só depende dele. 

Que faça besteira e que seja preso. Pelo bem do Brasil.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

AINDA É CARNAVAL

 

Era questão de tempo. A julgar pela dimensão do caso, não demorou tanto assim. Levou um ano e um mês para a PF bater às portas dos tubarões envolvidos na conspiração golpista que culminou com os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023, dando uma resposta a quem reclamava que as investigações, processos e condenações alcançavam apenas os "peixes pequenos" executores da depredação nas sedes dos Poderes. 
 
Como dizia minha avó, "um dia a casa cai". E a casa de Bolsonaro e seus cúmplices paisanos e fardados na intentona golpista está na bica de cair. Pelo exposto na justificativa da operação de buscas, apreensões e prisões da cúpula então governista da sedição, não restam dúvidas de que os "bagrões" serão condenados, e a penas maiores que as imputadas à massa de manobra dos "bagrinhos" ensandecidos. 
 
O que houve está sendo muito bem contado. Não se trata de conjeturas ou meras conversas sobre hipóteses bravateiras. Havia um presidente da República em estado de sublevação empenhado em colocar o governo a serviço de um golpe em andamento. As ações estavam em marcha. Na luz e na sombra. 
Durante o mandato de Bolsonaro foram inúmeras e reiteradas as manifestações públicas ofensivas ao Estado de Direito feitas por ele, ministros, assessores e políticos afinados, enquanto montava-se nos gabinetes o roteiro da infâmia.
 
O planejamento de um golpe é de gravidade extrema e requer punição. Até porque, quando é de fato executado, não há essa oportunidade. Os golpistas assumem o poder e os legalistas vão para a prisão. Já vimos esse filme — que completa seis décadas neste ano. Sem a inevitável condenação dos conspiradores, a obra da resistência não estaria completa. Não poderíamos dizer que as instituições estão firmes e fortes, e que sua plenitude nos permite conhecer a história do motim antidemocrático que não foi, mas poderia ter sido.
 
Bolsonaro não poderia ter sido mais sincero quando disse que "a eleição de um deputado do baixo clero, desprezado, só pode ter sido um engano". Hoje, com sua percepção descolada da realidade, ele tem certeza de que foi roubado na eleição. Por sua lógica desviada, se a maioria dos brasileiros é cristã e se cristãos não podem ser esquerdista (e muito menos comunistas), então o TSE fraudou o pleito, já que ele, Bolsonaro, teve 49,1% dos votos válidos no segundo turno. Mas nem todo mundo pensa assim. 
 
Soube-se pelas pesquisas que muita gente votou no mix de mau militar e parlamentar medíocre, em 2018, por considerar o bonifrate de Lula a pior opção. Não por considerar o xamã do PT comunista, mas principalmente por causa de uma calamidade chamada Dilma, de um Mensalão e de um Petrolão. 
Mas as pesquisas mostram também que, mesmo inelegível e prestes a gozar férias compulsórias na Papuda ou no diabo que o carregue, o imbrochável incomível e insuportável ainda conta com o aval de 35% e 40% do "esclarecidíssimo" eleitorado tupiniquim.
 
Voltando à afirmação da aberração de que sua eleição só poderia ter sido um engano, a pergunta que se coloca é: como tantos se equivocaram tanto? E a resposta é: Não há resposta (ou melhor, eu não tenho a resposta). Mas imagino que, quando fala em comunismo, o estrupício se refere à Venezuela, onde Maduro capitaneia uma ditadura de ladrões que montam empresas-sinecuras e destroem o Estado. 
 
Houve grossa corrupção no Brasil, e todos ficaram sabendo. Portanto, não há falar em ditadura nesta banânia. 
Haveria se a intentona bolsonarista tivesse vingado. Mas o que aquele aquele bando de incompetentes conseguiu produzir foi quebra-quebra de 8 de janeiro — e (pasmem!) deixar para trás minutas do golpe espalhadas por escritórios e celulares, vídeos e gravações de reuniões secretas, conversas de WhatsApp, fake news primárias. Estariam guardando para a posteridade? Achariam que ainda poderiam dar o golpe? Julgavam-se imunes? Deu piada. Exército de Brancaleone foi a associação óbvia para os mais velhos. 
 
Bolsonaro e sua turma tiveram — e têm — apoio nas Forças Armadas, entre políticos e na elite brasileira. O ex-superministro Paulo Guedes é um representante da elite financeira, e está no vídeo, traçando um sanduíche (mudo então e depois). Houve chefes militares que não embarcaram, e isso foi crucial para que o golpe não prosperasse. Mas também houve quem topasse aderir 
— desde que o chefe assinasse a ordem. Mas o chefe esperava antes a adesão dos comparsas em comando militar. 

Um lado esperando o outro, cada qual com medo de sair na frente. Menos mal que não houve golpe. Mas o mais espantoso é estarmos comemorando isso. É como o sujeito que despenca do 20º andar e, ao passar pelo sexto, suspira e diz: "Até aqui, tudo bem!"
 
Com Dora Kramer e Carlos Alberto Sardenberg