CONSERTE AS GOTEIRAS ENQUANTO O TEMPO ESTÁ FIRME. O sabor da macarronada, do nhoque, do rondelle e de outros tipos de massa depende diretamente do molho, mas nem só de massa "vive" o molho. Dito isso, veremos como preparar almôndegas —ou polpette, como os italianos se referem a essas bolas de carne temperada servidas "al pomodoro", ou seja, com molho de tomate.
Você vai precisar de: - ½ kg de patinho moído; - 1 cebola média picada; - 3 dentes de alho; - 1 ovo - ½ xícara (chá) de queijo parmesão ralado fino; - ¼ de xícara (chá) de farinha de rosca; - 6 raminhos de salsa; - Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto; - Azeite. O preparo é simples:
Misture a carne moída com ¾ da cebola, 2 dentes de alho e a salsinha picados e tempere com sal e pimenta a gosto.
Quebre o ovo num copo ou xícara (assim você não perde a receita se ele estiver estragado), transfira para a tigela com a carne e os temperos e misture com as mãos por cerca de 2 minutos;
Faça uma bola de carne e arremesse-a contra a tigela algumas vezes (o choque evita que as almôndegas se desmanchem durante a fritura), adicione o queijo ralado e a farinha de rosca e amasse novamente para incorporar.
Unte as mãos com óleo ou azeite e enrole porções da massa não menores que bolas de pingue-pongue nem maiores que bolas de tênis, coloque-as numa travessa e reserve.
Aqueça uma colher (chá) de azeite numa panela ou frigideira de borda alta, esmague os dentes de alho restantes com com sal até formar uma pasta e, usando uma colher de pau ou de silicone, misture essa pasta ao azeite na panela.
Coloque as almôndegas uma ao lado da outra (sem amontoar), doure-as por cerca de 5 minutos (virando as bolinhas de vez em quando, para que fiquem douradas por igual), transfira-as para uma travessa forrada com papel-toalha e repita o processo com as demais almôndegas (se necessário, acrescente um pouco mais de azeite).
Coloque um pouco de água na frigideira e raspe bem para "deglaçar" (ou seja, diluir e transformar em molho os resíduos da fritura que ficaram grudados no fundo da panela).
Adicione o molho de tomate (receita nesta postagem), deixe cozinhar em fogo médio até ferver, retorne as almôndegas douradas à frigideira com o molho, baixe o fogo e deixe cozinhar por mais 6 minutos, polvilhe com parmesão ralado e decore com folhinhas de manjericão.
Aproveitando o embalo, segue uma variação que é muito popular na Alemanha, onde esses bolinhos de carne são chamados de Frikadellen, Bulette, Fleischklöpse, Fleischpflanzerl, Klops, Fleischküchle, Hacktätschli, Beefsteak, Brisolette, FaschierteLaibchen, Fleischlaberl, conforme a região:
Misture ½ kg de carne moída, 1 cebola cortada em cubinhos, 4 ovos inteiros, ½ maço de cebolinha, sal, pimenta-do-reino, orégano, páprica doce e molho de pimenta a gosto, ½ maço de cebolinha picada e farinha de rosca, faça bolinhos pequenos, frite-os em óleo bem quente, virando de todos os lados para dourar por igual, e sirva com mostarda escura.
Se alguém botar defeito nessas delícias, é porque esse alguém tem problemas de paladar. Nada que um bom otorrino não resolva. Bom proveito.
SABEMOS QUE VIVEMOS TEMPOS ESTRANHOS QUANDO OS FATOS SE CALAM PARA NÃO OFENDER AS VERSÕES E OS SÁBIOS SILENCIAM PARA NÃO CONSTRANGER A ESTUPIDEZ.
A dica de hoje não é inédita aqui no Blog, mas a audiência é rotativa, hoje é domingo, 29, e domingo é dia de sugestões culinárias e dia 29 é dia de "nhoque da sorte". Essa simpatia remonta ao século IV. Reza a lenda que um médico cristão conhecido como Pantaleão de Nicomédia (que foi canonizado em 1602 pelo papa Clemente VIII) disfarçou-se de andarilho faminto e bateu à porta de uma família humilde.Mesmo com poucas provisões, a família acolheu o suposto mendigo e dividiu com ele o nhoque que seria seu jantar. A divisão rendeu sete nhoques para cada um. Depois que o visitante partiu, a família encontrou moedas de ouro debaixo dos pratos, daí a tradição de comer nhoque todo dia 29 para ter sorte e prosperidade. Para seguir o ritual, você deve colocar uma nota de dinheiro sob prato, comer os primeiros sete nhoques em pé, fazendo um pedido para que a sorte e o dinheiro nunca faltem, e depois sentar-se à mesa e degustar o nhoque com o molho de sua preferência. Ao final, guarde o dinheiro na carteira até o dia 29 do mês seguinte e gaste-o na compra dos ingredientes que serão usados para repetir a receita. Você pode comprar os nhoques no supermercado (e economizar tempo e trabalho) ou fazê-los em casa, como nossas avós. Os ingredientes são os seguintes: — 8 batatas Asterix; — 2 gemas; — 1 xícara (chá) de farinha de trigo. — Sal refinado; — Farinha de trigo para polvilhar a bancada. Descasque e corte as batatas em pedaços, coloque-os numa panela, cubra com água e leve ao fogo alto. Quando a água ferver, adicione ½ colher (sopa) de sal, baixe o fogo e deixe cozinhar por cerca de 20 minutos. Quando elas estiveres macias, passe-as pelo espremedor, deixe amornar, adicione 2 colheres (chá) de sal e ¼ de xícara (chá) de farinha de trigo e use as mãos para misturar.
Quando a massa estiver homogênea, acrescente as gemas, amasse bem, adicione o restante da farinha (aos poucos) e continue amassando por mais um ou dois minutos. Lave as mãos e modele uma bolinha; se ela não grudar, a massa estará no ponto de enrolar. Encha três quartos de uma panela com água e leve ao fogo alto. Enquanto espera a água ferver, unte uma assadeira (ou refratário) com óleo ou manteiga, polvilhe a mesa ou o tampo da pia com farinha, faça rolinhos com cerca de 1 cm de diâmetro e corte-os em pedaços de 2 cm cada. Mergulhe de 15 a 20 nhoques por vez na água fervente; quando eles flutuarem, retire com uma escumadeira, transfira para a assadeira untada, repita o processo com os demais nhoques e reserve. Dica: Se quiser finalizar mais tarde ou no dia seguinte, mergulhe os nhoque cozidos numa tigela com água e gelo antes de transferir para a assadeira untada, cubra com filme plástico e deixe no refrigerador até a hora de usar. Para servir com um molho quente, mergulhe os nhoques rapidamente em água fervente ou doure-os numa frigideira com azeite. Para o molho ao sugo, você vai precisar de: — 2 colheres (sopa) de azeite de oliva virgem; — 3 dentes de alho picados; — 1/2 kg de tomates Débora maduros, mas firmes; — 2 cebolas grandes cortadas em cubos; — 10 folhinhas de manjericão e um raminho de louro fresco; — Sal e pimenta-do-reino. Lave os tomates, retire a pele e as sementes e cozinhe em fogo médio (sem óleo e sem temperos) por aproximadamente 15 minutos, mexendo de vez em quando para não grudar. Ao final, bata no liquidificador e reserve. Em outra panela, refogue o alho e a cebola no azeite, junte a polpa de tomate, acrescente o louro e metade das folhinhas de manjericão e cozinhe em fogo baixo por cerca 30 minutos (sem tampar a panela). Quando apurar, retire o louro e o manjericão, acerte o ponto do sal e da pimenta, despeje o molho sobre os nhoques, leve a assadeira ao forno a 150ºC para aquecer, polvilhe com parmesão ralado, decore com as folhas de manjericão que você não usou e sirva em seguida. Bom apetite e buona fortuna.
Consta que Marco Polo trouxe o macarrão da China para a Itália no século XIII, mas há indícios de que os sicilianos já consumiam uma forma primitiva desse tipo de massa séculos antes da viagem do explorador veneziano.
Controvérsias à parte, a "pastasciutta" se tornou a peça chave da dieta dos italianos e foi trazida para o Brasil no início dos anos 1900, juntamente com o queijo, o vinho e outros produtos típicos, e não demorou a ser produzida nos "bairros italianos" de algumas cidades das regiões sul e sudeste.
Mais adiante, a produção de massas (macarrão, lasanha, nhoque, rondelle, ravioli, capelete etc.) passou de artesanal a industrial, e o consumo, antes limitado aos nati e oriundi, se disseminou entre os brasileiros, que logo as combinaram com ingredientes locais para criar pratos saborosos e baratos.
Pastifícios como Adria, Renata e Petybon oferecem pasta de "grano duro" (feita com uma espécie de trigo de grãos mais duros, que é responsável pela consistência "al dente" e pela cor dourada e brilhante do macarrão cozido), de boa qualidade, mas que não ombreiam com as melhores marcas italianas.
Pastasciutta sem molho é como pastel sem recheio ou pizza sem cobertura. Molhos ao sugo e à bolonhesa não ornam com estômagos sensíveis, mas basta remover a pele e as sementes dos tomates para reduzir sua acidez (lembrando que a pele sai mais facilmente se você, fizer um corte em "X" no topo dos tomates, fervê-los por alguns minutos e mergulhá-los em água gelada).
Adicionar açúcar ao molho mascara a acidez do tomate, mas deixa a pasta doce e potencializa o risco de caramelização. Fermento e bicarbonato de sódio também funcionam, mas amargam e comprometem a textura do molho — e mesmo se aplica ao vinho doce, ao ketchup, ao azeite e à manteiga, que não só adocicam o molho como aumentam seu potencial calórico.
Dito isso, minha dica é cozinhar uma cenoura descascada junto com o molho e retirá-la ao final do processo — a cenoura "quebra" a acidez do tomate sem alterar o sabor do molho, e deixa o molho mais encorpado se for ralada e incorporada aos demais ingredientes.
Para preparar o molho:
- Aqueça azeite em fogo médio, baixe o fogo, refogue alho, cebola e manjericão bem picadinhos por 2 ou 3 minutos;
- Tempere com sal e pimenta. junte os tomates sem pele e sem sementes (amassados com um garfo ou batidos no liquidificador), aumente o fogo para médio e cozinhe por 5 minutos, mexendo de tempos em tempos para não deixar grudar.
- Coloque o macarrão (cozidoal dente e devidamente escorrido) na panela do molho, misture bem com uma colher de pau (ou de silicone), transfira para uma travessa e sirva em seguida.
Observação: A massa "al dente" (cozida, mas levemente resistente à mordida) aumenta a saciedade, ou seja, faz com que o corpo a digira mais lentamente. Isso se aplica tanto a massas de grano tenro como de grano duro.
O tempo de cozimento varia conforme o tipo e formato da massa — as frescas cozinham mais depressa que as secas, e as longas levam menos tempo que as curtas. Em média, 10 minutos são suficientes, mas veremos isso melhor no post do próximo domingo, que tratará também dos molhos.
Passados 7 anos da cassação de Dilma e depois que a Justiça Federal confirmou o arquivamento de uma ação contra ela por improbidade administrativa, a petralhada e o sumo pontífice da seita do inferno voltaram a contestar o impeachment. Em agosto, Lulaafirmou que a sua cria foi "absolvida", que o Brasil lhe "deve desculpas" e que é preciso discutir como ela poderá ser reparada por ter sido julgada "por uma coisa que nunca aconteceu"—como se já não bastasse acomodar mulher sapiens na presidência do Brics, com salário de quase R$ 300 mil por mês. Como dizia meu avô, "não se deve mexer em merda seca" — ou seja, revolver problemas resolvidos ou que não têm solução. No último dia 15, Rosa Webervotou contra as ações, argumentando que o impeachment é um processo eminentemente político, que o STF não deve interferir na decisão do Senado e que não há como determinar, sete anos depois, que os parlamentares refaçam a votação sobre a cassação dos direitos políticos da impichada. Os demais ministros seguiram esse entendimento, e o julgamento foi encerrado no último dia 22.
Poucas coisas conseguem unir o ser humano em uma única crença como as superstições. Tem quem acredite que o número 13 é sinônimo de azar, quem use amuletos para se proteger do mau-olhado, quem foge de gatos pretos e evita passar debaixo de escadas, e por aí vai. Por mais que saibam que essas crendices sejam irracionais, as pessoas preferem acreditar nelas a dar chance ao azar.
As superstições advêm de nosso desejo de controlar todos os aspectos da vida — até aqueles que não dependem de nós. Em situações associadas a algo importante (como um casamento ou uma entrevista de emprego, por exemplo), rituais e amuletos criam a falsa sensação de que algo foi feito em prol de um desfecho positivo. É comum relacionarmos acontecimentos aleatórios a alguma causa e criarmos mecanismos que organizem as informações.
Quando não há uma explicação clara aparente, nosso cérebro faz uma associação que não é 100% racional, dando azo às superstições. Em outras palavras, o medo do desconhecido suscita dúvidas e incertezas — que geram angústia e sofrimento —, e as associações dão às pessoas a falsa sensação de controle. E mesmo sabendo que esse controle é ilusório, elas continuam acreditando, porque é sempre melhor pingar do que secar.
Embora não tenham poderes mágicos, as superstições são úteis quando influenciam positivamente a forma como agimos. Seguir um ritual nos leva a acreditar que tudo sairá bem — nada muito diferente do velho efeito placebo. É comum os vemos jogadores realizarem determinados movimentos antes da partida, mas é preciso ter em mente que a superstiçãotraz conforto, mas o TOC não produz alívio.
Não há nada de mais em usar a "camisa da sorte" durante o jogo do "time do coração" nem em pular sete ondas na passagem de ano, por exemplo. Eu não me considero supersticioso, mas tenho cá minhas crendices (como disse ocriador de D. Quixote, Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay), e uma simpatia de que gosto muito é o "gnocchi della fortuna ".
Reza a lenda que, numa noite de 29 de dezembro do século IV d.C.,São Pantaleão se vestiu de mendigo e bateu à porta da casa de uma família pobre e numerosa, que fez questão de dividir o jantar com o desconhecido, mesmo tendo de servir penas sete grãos de nhoque para cada pessoa. Depois de agradecer a hospitalidade, o santo se foi. Ao tirar a mesa, a família encontrou moedas de ouro sob os pratos.
Para fazer essa simpatia se o trabalho de cozinhar as batatas, preparar a massa e cortá-la em gominhos, cozinhe 500 g de massa fresca de nhoque em água fervente. Quando os gominhos subirem, retire-os com uma escumadeira e reserve (não deixe de ler as instruções impressas na embalagem, já que alguns produtos precisam ser cozidos em água fervente e outros podem ser misturados ao molho, levados ao forno e servidos em seguida).
Você pode degustar seu nhoque à bolonhesa, no alho e óleo ou com molho branco. Eu prefiro o meu ao sugo. Para fazer o molho como nos tempos da vovó, você vai precisar de:
— 2 colheres (sopa) de azeite de oliva virgem; — 3 dentes de alho; — 1/2 kg de tomates maduros; — 2 cebolas grandes; — 10 folhinhas de manjericão, — 2 folhinhas de louro fresco; — Sal e pimenta a gosto.
Bata os tomates no liquidificador, coe, refogue em azeite com as cebolas raladas e os dentes de alho (picados ou esmagados) e acrescente o sal, a pimenta, o louro e parte das folhas de manjericão (devidamente picadas). Quando o molho apurar, despeje-o sobre os nhoques cozidos, decore com as folhinhas de manjericão que sobraram, polvilhe com queijo parmesão ralado, espere gratinar e sirva.
A simpatia manda comer os primeiros sete grãos em pé, depois colocar o prato sobre uma nota de dinheiro (o valor fica a seu critério), sentar-se à mesa e aproveitar a refeição. Ao final, deve-se guardar a nota na carteira até o dia 29 do mês seguinte, e então gastá-la na compra de algum ingrediente que será usada para repetir a receita.
Assírios, persas, fenícios e egípcios comemoravam a virada do ano em 23 de setembro. Para os gregos o novo ano começava entre 21 e 22 de dezembro. Os romanos, que consideravam a passagem de ano como o fim de um ciclo e o início de outro, acomodaram o réveillon no dia 1º de janeiro, e a data foi mantida nos calendários Juliano e Gregoriano.
Poucas coisas conseguem unir o ser humano em uma única crença como as superstições. Imagine quantas pessoas acreditam que o número 13 é sinônimo de azar, que usam amuletos para se protegerem do mau-olhado, que fogem de gatos pretos e evitam a todo custo passar debaixo de escadas, por exemplo. Por mais que saibam que essas crendices são irracionais, preferem não dar chance para o azar e continuar acreditando nelas.
De acordo com o psicólogo comportamental Stuart Vyse, especialista em crença e superstições, isso se deve à nossa necessidade de controlar todos os aspectos da vida — até aqueles que não dependem de nós. Ele explica que esse processo acontece em situações associadas a algo importante, como o nascimento dos filhos, um casamento ou uma entrevista de emprego, e os rituais e amuletos criam uma falsa sensação de que algo foi feito para garantir que o desfecho positivo vai acontecer.
As pessoas tendem a enxergar fenômenos relacionados à vida e morte, ao mundo etc. como sendo causados por alguma coisa, e assim criam associações para tentar estabelecer padrões que expliquem e organizem as informações. Quando não há uma explicação clara aparente, o cérebro acaba fazendo uma associação que não é 100% racional, e aí surgem as superstições. Para além disso, o medo frente ao desconhecido causa dúvidas e incertezas, que geram angústia e sofrimento. As associações dão às pessoas a sensação de estar no controle. Mesmo sabendo que esse controle é ilusório, elas continuam acreditando, porque é melhor pingar do que secar.
Mesmo não tendo poderes mágicos, as superstições podem ser úteis se nos influenciarem positivamente a forma como agimos. Assim, seguir um ritual que supostamente trará nos faz ter confiança de que tudo correrá bem — nada muito diferente do velho e bom efeito placebo. Em um estudo feito na Universidade de Colônia, na Alemanha, cientistas concluíram que "ativar" amuletos por meio de frases relativas à boa sorte antes de qualquer performance melhorou o desempenho durante a prática de golfe e solução de anagramas e jogos de memória.
É comum, por exemplo, jogadores realizarem determinados movimentos antes da partida e torcedores só assistirem ao jogo usando uma determinada peça de roupa. Quando esse excesso de ritualização foge ao controle, os comportamentos repetitivos podem estar associados ao TOC — mas é importante destacar que a superstição traz conforto e TOC não provoca alívio.
Não há nada de errado em usar a "camisa da sorte" ao assistir ao jogo do "time do coração", ou em pular sete ondas no mar, na noite da passagem de ano.Eu, particularmente, não me considero supersticioso, mas tenho cá minhas crendices (como disse ocriador de D. Quixote, Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay).
Uma simpatia de que gosto muito é a do "gnocchi della fortuna ". Reza a lenda que, em uma noite de 29 de dezembro do século IV d.C., São Pantaleão setravestiu de mendigo e bateu à porta de uma família. Embora fosse pobre e numerosa, essa família fez questão de dividir o jantar com o desconhecido, ainda que coubesse a cada comensal míseros sete grãos de nhoque. Após agradecer a hospitalidade, o santo se foi. Quando tirou a mesa, a família descobriu que havia moedas de ouro sob cada prato.
Você pode degustar seu nhoque ao sugo, à bolonhesa, no alho e óleo ou com molho branco, mas o ritual manda primeiro colocar uma nota de dinheiro sob o prato, comer sete nhoques em pé, fazendo um pedido para cada um deles, e então sentar à mesa e terminar a refeição.
Se quiser preparar a massa você mesmo, lave, descasque e corte em pedaços 8 unidades médias de batata do tipo Asterix, transfira para uma panela, cubra com água e leve ao fogo alto. Quando a água ferver, junte meia colher (sopa) de sal, baixe o fogo e deixe cozinhar por cerca de 20 minutos.
Quando a batata estiver no ponto (espete com o garfo para verificar se ela está bem macia), escorra, passe por um espremedor, deixe amornar, tempere com duas colheres (chá) de sal, acrescente um quarto de xícara (chá) da farinha de trigo e use as mão para misturar tudo muito bem misturado. Feito isso, junte as gemas, amasse bem, adicione o restante da farinha (aos poucos) e continue a amassar até que a massa atinja o ponto de enrolar (para verificar, lave as mãos e modele uma bolinha; se ela não grudar é porque está no ponto).
Encha três quartos de uma panela grande com água e leve ao fogo alto. Enquanto espera a água ferver, unte duas assadeiras grandes (ou refratários) com óleo ou manteiga, polvilhe a mesa ou bancada com farinha e molde os nhoques — faça rolinhos de cerca de 1 cm de diâmetro e corte-os em pedaços de cerca de 2 cm cada.
Mergulhe uma dúzia de nhoques por vez na água fervente, espere até que eles flutuem, retire-os com uma escumadeira, escorra e transfira para uma das assadeiras untadas. Faça o mesmo com o restante da massa. Ao final, leve as assadeiras ao forno quente, espere gratinar e sirva o nhoque com o molho de sua preferência e parmesão ralado a gosto.
Observação: Se quiser finalizar mais tarde ou no dia seguinte, mergulhe os nhoques cozidos numa tigela com água e gelo antes de os transferir para a assadeira untada com óleo. Depois, cubra com plástico filme e deixe no refrigerador até a hora de usar. Para servir com um molho quente, mergulhe os nhoques rapidamente em água fervente ou doure-os numa frigideira com azeite.
Comprar a massa em pacotinhos sai mais caro, mas economiza tempo e trabalho. Não deixe de ler as instruções impressas na embalagem, pois alguns produtos precisam ser cozidos em água fervente e outros podem ser misturados ao molho, levados ao forno e servidos em seguida. Mas faça o molho o você mesmo, como se fazia no tempo da vovó. Você vai precisar de:
— 2 colheres (sopa) de azeite de oliva virgem;
— 3 dentes de alho;
— 1/2 kg de tomates maduros;
— 2 cebolas grandes;
— 10 folhinhas de manjericão,
— 2 folhinhas de louro fresco;
— Sal e pimenta a gosto.
Bata os tomates no liquidificador, passe por uma peneira, refogue no azeite com as cebolas raladas e os dentes de alho picados ou esmagados e acrescente o sal, a pimenta, o louro e parte das folhas de manjericão (bem picadinhas). Quando o molho apurar, despeje-o sobre os nhoques cozidos, decore com o restante das folhinhas de manjericão, polvilhe com parmesão ralado, espere gratinar e sirva. A simpatia recomenda comer os primeiros sete “grãos” em pé e colocar o prato sobre uma nota de dinheiro (o valor fica a seu critério) antes de sentar e aproveitar a refeição.
Ao final, guarde a nota na carteira até o dia 29 do mês seguinte e gaste-a na compra de algum ingrediente a ser usado no próximo dia 29, quando você repetir a receita.
Em 1863, no Discurso de
Gettysburg, o presidente norte-americano Abraham Lincoln definiu
a democracia como o "governo do povo, pelo povo, para o povo".
No Brasil, os governantes eleitos pelo povo seguem a ordem alfabética, visando
primeiro ao bolso (o próprio).
Na cerimônia de promulgação da Carta de 1988, o saudoso
Ulysses Guimarães (que dorme
com os peixes há 29 anos) reconheceu que a Lei não era perfeita — o
que ela própria confessava ao admitir reformas. E com efeito: os
constituintes roubaram o país que tínhamos e nos transformaram em escravos de
nossos “representantes”. Essa caterva, que deveria exercer o poder em nome
do povo (que a elegeu para isso), faz o que quer, quando quer e como quer, sem
prestar contas a ninguém e quase sempre em benefício próprio — seja para
aumentar a burocracia que mantem o status quo, seja para angariar votos
para a próxima eleição, seja para proteger seus asseclas.
A tal Constituição Cidadã não previa a reeleição de
presidente e vice. Mas o
ego inflado de FHC não coube em "míseros" 5 anos de mandato
(mais detalhes nesta
postagem). Uma vez aberta a Caixa de Pandora, seguiram-se as reeleições do próprio, de Lula (a despeito do Mensalão) e de Dilma (a
despeito do Petrolão).
O impeachment da anta arroganta deu azo à ascensão
de Temer — cujo governo acabou quando veio a lume a conversa de alcova
do vampiro com o moedor de carne bilionário Joesley Batista, gravada
pelo próprio nos porões do Jaburu. Na esteira dessa desgraça, o bolsonarismo boçal derrotou o
lulopetismo corrupto no pleito de 2018, e o resultado foi a tempestade perfeita
que pandemia tornou pior, com a imprescindível ajuda do mandatário de fancaria. A despeito da atual gestão ser uma extraordinária sucessão de descalabros, o Messias que não miracula continua desafiando a lei da gravidade (com a imprescindível cumplicidade do procurador-geral
da República e do réu que preside a Câmara Federal.
Ao longo dos últimos seis meses, a CPI do Genocídio jogou
luz sobre a podridão que aflora dos subterrâneos do governo federal. Não
bastassem os 140 pedidos de abertura de processos de impeachment em desfavor do obelisco do negacionismo — pedidos esses que o deputado-réu Arthur Lira mantém inacessíveis
sob seu buzanfã —, o relatório aprovado por 7 dos 11 membros titulares da
comissão (debalde o prodigioso esforço da tropa de choque do governo) recomenda
que Bolsonaro seja investigado e, eventualmente, responsabilizado por 10
crimes, bem como o indiciamento de outras 77 pessoas — incluindo ex-ministros, ministros, políticos, servidores públicos,
empresários, membros do chamado "gabinete paralelo" — e duas empresas.
No caso de Bolsonaro, as suspeitas de crime comum serão encaminhadas à PGR,
as de crime de responsabilidade, à Câmara Federal, e as de crimes contra
a humanidade, ao Tribunal Penal Internacional. Detalhe: Lira telefonou
duas vezes para alertar o presidente da CPI de que a inclusão dos nomes
de deputados bolsonaristas no relatório final da comissão abriria um "perigoso precedente", e que ele reagiria se isso ocorresse. Na visão de sua excelência,
"não é adequado senador investigar deputado".
Um grupo de senadores entregou
pessoalmente ao ministro Alexandre de Mores, do STF, e a Augusto
Aras, comandante supremo da PGR, o relatório produzido pela
Comissão. A senadora Simone Tebet disse que sempre foi crítica à
procuradoria e ao trabalho de Aras, mas dessa vez "o
procurador foi firme". Cabe ao Ministério Público promover
a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. Caso a denúncia seja
oferecida, os fatos serão analisados pela instância da Justiça competente. Se
um investigado tiver foro privilegiado em âmbito federal — situação que inclui Bolsonaro,
por exemplo —, o foro proporcional é o STF.
O senador Omar Aziz, presidente da CPI, disse
a Aras que "tenha compromisso com a nação: 600 mil vidas não podem
ser engavetadas. Qualquer que seja o argumento, nós estaremos discutindo
publicamente. Os documentos sigilosos são comprometedores e serão
disponibilizados para que possam continuar a investigação". Pela
manhã, durante a audiência, Aziz demonstrou preocupação com declarações dadas por
parlamentares governistas de que Aras iria arquivar o relatório da CPI
num curto prazo, e já havia cobrado o procurador-geral.
O senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI,
disse que os membros da Comissão acertaram com Aras que fariam (como de
fato fizeram) a entrega dos processos às demais instâncias do Ministério
Público. Parte dos senadores receiam que o PGR engavete as sugestões
da comissão, já que ele foi indicado e reconduzido ao cargo por Bolsonaro,
cujo governo é o principal alvo da investigação de irregularidades. Aras
afirmou que fará uma análise independente. E eu acredito em Papai Noel.
Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-procurador da Lava-Jato,
também não acredita que Aras fará algo de efetivo sobre o relatório. "Ele
vai possivelmente tocar isso de uma maneira a não dar espaço para que haja
movimentação alternativa, tocando esse inquérito de uma maneira leniente",
declarou o ex-procurador em entrevista ao portal UOL. Aras foi nomeado
para o cargo por ter uma postura passiva em relação à abertura de investigações,
por "representar o não fazer", por subordinar o Ministério
Público aos desejos da política.
"Esta
CPI já produziu resultados. Temos denúncias, ações penais, autoridades
afastadas e muitas investigações em andamento e agora, com essas novas
informações, poderemos avançar na apuração em relação a autoridades com
prerrogativa do foro nos tribunais superiores", disse o procurador-geral através de postagem feita por sua assessoria no Twitter. Vale destacar que a Comissão não tem poder para punir
suspeitos — o aprofundamento de investigações e indiciamentos contidas no
relatório ficará a cargo de órgãos de fiscalização e controle — sobretudo o Ministério
Público Federal, por meio da PGR, e o Ministério Público dos Estados,
com foco no Distrito Federal e em São Paulo, onde já existem
apurações em andamento.
A PGR já abriu 92
investigações preliminares relativas ao presidente da República, mas
não apontou nenhum crime que teria sido praticado pelo mandatário. Numa de suas
manifestações mais polêmicas, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo alegou não ter visto crime na decisão de Bolsonaro de não usar máscara e
levantou dúvidas sobre a eficácia do material de proteção, cuja importância é
amplamente propagada por especialistas. De acordo com a jornalista e colunista
do Globo Bela Megale, Aras submete o relatório da CPI à
análise prévia paraganhar
tempo e se blindar com Bolsonaro e Senado.
Em entrevista à recém-inaugurada TV Jovem Pan News, o
"mito" dos bolsomínions disse que "a CPI foi uma palhaçada".
Repetindo o discurso com que tentou desde sempre desacreditar a comissão, sua alteza concentrou as baterias no relator, senador Renan Calheiros, que "agiu
por vingança". Ao ser questionado
sobre 'rachadinha' pelo filho de Paulo Marinho, o capetão simplesmente encerrou a entrevista.
Nesse entretempo, o
TSE rejeitou a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Os ministros Luís
Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís
Felipe Salomão e Mauro Campbell Marques criticaram o chefe do
Executivo e afirmaram que foi comprovada a existência de um esquema ilícito de
propagação de notícias falsas via WhatsApp no último pleito para beneficiar
Bolsonaro, mas consideraram que não havia gravidade suficiente para
cassar a chapa. Os ministros Sérgio Banhos e Carlos Horbach entenderam
que sequer foram apresentados elementos que permitissem chegar à conclusão de
que houve algum tipo de disseminação de fake news em benefício do atual
presidente.
Barroso, Moraes e Fachin mandaram duros
recados a Bolsonaro e afirmaram que, embora o tribunal não tenha imposto
pena ao chefe do Executivo neste caso, o julgamento serviu para preparar a
corte para 2022, quando o esclarecidíssimo eleitorado canarinho voltará às
urnas para escolher presidente e vice, governadores, deputados federais e
estaduais e 1/3 dos senadores da República (outros 2/3 foram eleitos em 2018).
Pelo andar da carruagem, essa "festa da democracia" deve ocorrer
ainda em meio a pandemia sanitária, sem as reformas estruturantes prometidas,
com desemprego, desalento e estagflação,
crises hídrica e energética batendo as portas, dólar acima de R$ 5,
denúncias de corrupção em todos os escalões do governo (governo esse que diz
ter acabado com a Lava-Jato porque "não existe mais corrupção")
e uma corja de políticos que só pensam em si mesmos.
EM TEMPO: Se você tem fé, reze por um milagre. Se sua fé não chega a tanto, aproveite que hoje é dia 29 para fazer a simpatia do nhoque. Se não melhorar, piorar também não vai.
Depois das mensagens de Moro, Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, ministros do STF, deputados e senadores, o interesse por vazamentos caiu muito. O editor do Intracept estava desesperado.
— De que adianta fazer esse fuzuê todo? Dinheiro que é bom, nada! — desabafou. Precisamos nos reinventar. Precisamos monetizar nosso negócio.
Os hackers se entreolharam, sem saber o que dizer. Foi um estagiário quem teve a sacada.
— Brasília saturou. Vamos expandir. O negócio é hackear gente comum.
A ideia se provou genial. Seu chefe é um panaca? Hackeie o WhatsApp dele (“R$ 2 mil por 15 dias ou consulte tabela”). Sua namorada está te traindo? Hackeie o Snapchat dela. (“Só R$ 500 por 7 dias. O oitavo é grátis!”). E por aí foi.
Patrícia e Geraldo tinham vida de núcleo rico de novela. Apartamento com varanda gourmet, viagem com personal shopper, SUV coreana blindada. Casamento inabalável, todo mundo dizia.
Um dia Patrícia acordou, pegou o iPad para ver as notícias e, mesmo sendo muito equilibrada, não conteve o calor que lhe subiu até as orelhas. Estava lá, escancarada, a foto do marido e o título: “Intracept vaza WhatsApp de Geraldo Freire”.
Ele não era famoso nem nada. Mas de uns meses para cá era assim. Ninguém estava salvo. Patrícia não conseguia imaginar alguém capaz de uma maldade dessas com o marido — e com ela.
Porque não há dignidade que sobreviva a um vazamento do Intracept. Ainda por cima quando vão liberando um pouco por dia. Qualquer desculpa esfarrapada de um dia não se sustenta no outro. Toda semana tem um anônimo novo com a vida devassada.
Patrícia sempre acabava conhecendo alguém.
— Porque esse mundo é uma ervilha, né?
Só esse mês, no cabeleireiro, teve notícia de dois divórcios. Luciana, amiga íntima, teve as mensagens do Insta divulgadas. O marido a botou para fora de casa sem direito nem ao iPhone.
— Pede um novo para ele, safada! — gritou para o condomínio ouvir.
As conversas que vazaram eram comprometedoras demais: Luciana e um amigo do tempo de faculdade trocavam receitas de nhoque, ravióli, linguine, tudo com as respectivas fotos. Não tem casamento que resista.
Mas não era hora de pensar nos outros. Patrícia olhou para o marido que dormia com seu ronronar de homem de bem. Ela não teve coragem de clicar no link. Contou para a mãe pelo Facebook.
— Coisa de amante, filha. Batata. Sempre disse para você ficar esperta. Deu nisso — respondeu.
Patrícia balançou o marido até acordá-lo. Geraldo despertou com o iPad esfregando a ponta do seu nariz. Leu o texto ainda com os olhos melados de sono. Geraldo também sabia que não existe vida após vazamento. Era só ver Brasília. Virou uma cidade fantasma.
Ele se reagrupou.
— Amor, calma. Vamos superar isso juntos.
Patrícia concordou, chorando.
Aquela semana seria definitiva para o casamento, para o futuro dos dois. Combinaram de ler as mensagens juntos, para que Geraldo pudesse explicar qualquer mal-entendido.
E assim foi. A semana passou tensa, arrastada, discutindo a relação, é verdade, mas surpreendentemente, nenhuma mensagem comprometedora foi revelada. Patrícia mal podia conter o orgulho.
Geraldo era o assunto de todas as conversas no cabeleireiro, entre as amigas e até da sogra. Vazou até a mensagem com o agente de turismo sobre hotéis em Positano, estragando a viagem surpresa para o aniversário dela. Quando acabou a semana, o casamento estava mais forte do que nunca. Ela nunca desconfiou de nada.
Na segunda-feira seguinte, Geraldo pagou a outra metade do pacote Vazamento do Bem do Intracept.
— O negócio é esse mesmo! — vibrava o editor com a nova ideia do ex-estagiário, agora editor assistente — Tem que diversificar para sobreviver.
Diante dos vazamentos, poucos casamentos resistem. O de Patrícia até saiu fortalecido. Mas as mensagens sobre a viagem para a Itália estariam no contexto?
Na última quarta-feira, a Câmara aprovou em primeiro turno o
texto-base da reforma previdenciária. Na noite da sexta, os deputados votaram os destaques
que ampliaram as concessões a algumas categorias, reduzindo em cerca de R$ 70 bi a economia prevista
inicialmente. Como o expediente dos parlamentares em Brasília vai de terça a quinta (e eles ainda têm direito a férias duas vezes por ano) a apreciação da proposta em segundo turno ficou para
agosto, depois do recesso de meio de ano. A pergunta é: se o recesso começa no
dia 18 de junho, por que, então, não liquidar essa fatura na semana que vem, antes das “merecidas férias”? Aliás, considerando a importância do tema em pauta, por
que não adiar ou suspender o recesso?
Sabe o leitor quanto ganha um deputado?
Não? Pois então anote aí: o salário dos parlamentares é de R$ 33.763, mais uma verba mensal (CEAP) para
bancar despesas com passagens aéreas, telefonia, serviços postais e manutenção
de escritórios de apoio — pagamento de condomínio, IPTU, seguro contra
incêndio, água, luz locação de móveis e equipamentos, material de expediente,
suprimentos de informática, acesso à internet, TV a cabo, licença de uso de
software, assinatura de publicações, etc. Essa cota varia conforme o estado do congressista;
representantes do DF recebem o menor valor — R$ 30.788,66 — e os de Roraima, o
maior — R$ 45.612,53.
Os deputados também recebem R$ 106.866,59 por mês para
bancar a contratação de até 25 secretários parlamentares (no gabinete ou no estado do deputado), cujos salários variam de R$ 980,98 a R$ 15.022,32 por mês. E além de um auxílio-moradia de R$ 4.253 — concedido aos
parlamentares que não moram em residências funcionais em Brasília —, todos têm
direito a atendimento gratuito no Departamento Médico da Câmara — benefício extensivo a
familiares e dependentes elencados na declaração de imposto de renda. Para quem preferir recorrer a serviços médicos e hospitalares fora da
rede do Demed, é só apresentar os comprovantes que o reembolso será efetuado.
Os nobres deputados podem solicitar a confecção de
material de papelaria oficial (cartões, pastas, papel timbrado e envelopes) e a
impressão de documentos e publicações. No início e no fim do mandato, eles recebem uma ajuda de custo equivalente ao valor mensal da remuneração (destinada
a compensar as despesas com mudança e transporte), e o Plano de Seguridade
Social dos Congressistas (Lei 9.506/97) assegura aposentadoria com proventos
proporcionais ao tempo de mandato (calculados à razão de 1/35 por ano de
mandato). É mole?
Como é melhor rir que chorar, segue um texto bem-humorado
de Mentor Neto:
Depois das mensagens de Moro,
Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, togados supremos, deputados
e senadores, o interesse por vazamentos caiu muito. O editor do Intracept estava desesperado.
— De que adianta fazer esse fuzuê todo? Dinheiro que é bom,
nada! — desabafou. Precisamos nos reinventar. Precisamos monetizar nosso
negócio.
Os hackers se entreolharam, sem saber o que dizer. Foi um
estagiário quem teve a sacada.
— Brasília saturou. Vamos expandir. O negócio é hackear
gente comum.
A ideia se provou genial. Seu chefe é um panaca? Hackeie o
WhatsApp dele (“R$ 2 mil por 15 dias ou consulte tabela”). Sua namorada está te
traindo? Hackeie o Snapchat dela. (“Só R$ 500 por 7 dias. O oitavo é grátis!”).
E por aí foi.
Patrícia e Geraldo tinham vida de núcleo rico de
novela. Apartamento com varanda gourmet, viagem com personal shopper, SUV
coreana blindada. Casamento inabalável, todo mundo dizia. Um belo dia, Patrícia
acordou, pegou o iPad para ver as notícias e, mesmo sendo muito equilibrada,
não conteve o calor que lhe subiu até as orelhas. Estava lá, escancarada, a
foto do marido e o título: “Intracept
vaza WhatsApp de Geraldo Freire”. Ele não era famoso nem nada. Mas de uns
meses para cá era assim. Ninguém estava salvo. Patrícia não conseguia imaginar alguém capaz de uma maldade dessas
com o marido — e com ela. Porque não há dignidade que sobreviva a um vazamento
do Intracept. Ainda por cima quando
vão liberando um pouco por dia. Qualquer desculpa esfarrapada de um dia não se
sustenta no outro. Toda semana tem um anônimo novo com a vida devassada. Patrícia sempre acabava conhecendo
alguém.
— Porque esse mundo é uma ervilha, né?
Só esse mês, no cabeleireiro, teve notícia de dois
divórcios. Luciana, amiga íntima,
teve as mensagens do Insta divulgadas. O marido a botou para fora de casa sem
direito nem ao iPhone.
— Pede um novo para ele, safada! — gritou para o condomínio
ouvir.
As conversas que vazaram eram comprometedoras demais: Luciana e um amigo do tempo de
faculdade trocavam receitas de nhoque, ravióli, linguine, tudo com as
respectivas fotos. Não tem casamento que resista. Mas não era hora de pensar nos outros. Patrícia olhou para o marido que dormia com seu ronronar de homem
de bem. Ela não teve coragem de clicar no link. Contou para a mãe pelo Facebook.
— Coisa de amante, filha. Batata. Sempre disse para você
ficar esperta. Deu nisso — respondeu.
Patrícia balançou
o marido até acordá-lo. Geraldo
despertou com o iPad esfregando a ponta do seu nariz. Leu o texto ainda com os
olhos melados de sono. Geraldo
também sabia que não existe vida após vazamento. Era só ver Brasília. Virou uma
cidade fantasma. Ele se reagrupou.
— Amor, calma. Vamos superar isso juntos.
Patrícia
concordou, chorando. Aquela semana seria definitiva para o casamento, para o
futuro dos dois. Combinaram de ler as mensagens juntos, para que Geraldo pudesse explicar qualquer
mal-entendido. E assim foi. A semana passou tensa, arrastada, discutindo a
relação, é verdade, mas surpreendentemente, nenhuma mensagem comprometedora foi
revelada. Patrícia mal podia conter
o orgulho. Geraldo era o assunto de
todas as conversas no cabeleireiro, entre as amigas e até da sogra. Vazou até a
mensagem com o agente de turismo sobre hotéis em Positano, estragando a viagem
surpresa para o aniversário dela. Quando acabou a semana, o casamento estava
mais forte do que nunca. Ela nunca desconfiou de nada. Na segunda-feira
seguinte, Geraldo pagou a outra
metade do pacote Vazamento do Bem do Intracept.
— O negócio é esse mesmo! — vibrava o editor com a nova
ideia do ex-estagiário, agora editor assistente — Tem que diversificar para
sobreviver.
Diante dos vazamentos, poucos casamentos resistem. O de Patrícia até saiu fortalecido. Mas as
mensagens sobre a viagem para a Itália estariam no contexto?