sábado, 16 de novembro de 2024

VOCÊ SABIA?

A DISTINÇÃO ENTRE PASSADO, PRESENTE E FUTURO NÃO PASSA DE UMA ILUSÃO TEIMOSAMENTE PERSISTENTE.

A tetravó do celular nasceu na década de 1930, quando a Alemanha Alemanha começou a testar em trens a telefonia móvel que seu exército usaria na Segunda Guerra Mundial, mas a iniciativa de levar o telefone para o carro partiu de uma parceria entre a empresas norte-americanas Motorola e a Bell

Em 1948, esse sistema já atendia 4 mil usuários em 60 cidades, mas o hardware, caro e volumoso, e o preço, proibitivo, afugentava os interessados. Em abril de 1973, um engenheiro da Motorola ligou para um colega da AT&T usando um protótipo do DynaTAC (foto). O trambolho pesava cerca de 1kg, media 25cm x 7cm, tinha autonomia de 20 minutos e demorava 10 horas para recarregar a bateria... mas funcionava. E o resto é história recente.

O celular desembarcou no Brasil nos anos 1980 e se popularizou depois que FHC privatizou as TELES, e o que era bom ficou ainda melhor quando Steve Jobs revolucionou o mercado com o iPhone (2007). E menor, já que, com a transformação dos dumbphones em microcomputadores ultraportáteis, a miniaturização deixou de fazer sentido.

ObservaçãoVale registrar que o primeiro celular capaz de acessar a Internet não foi o iPhone, mas o Nokia 9000 Communicator, lançado em 1996.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

As cabeças de direita carecem de miolos. A esquerda sofre da mesma carência, mas só tem uma cabeça (quase careca e remendada com 5 pontos). A lufada conservadora nas eleições municipais já havia acomodado o PT no divã, mas a vitória de Trump fez da autocrítica um fator de sobrevivência do grupo.
O fascismo verde-oliva sobreviveu às passeatas pacíficas e triturou a resistência armada. Lula, então crítico ferrenho do "milagre" militar, mudou a agenda da esquerda e deu aulas de pragmatismo jogando o jogo de um capitalismo que ideólogos pequeno-burgueses desprezavam, e a  proeminência sindical lhe rendeu a ascendência política — ele chegou a ensaiar uma parceria com FHC, mas um foi fundar o PT e o outro, o PSDB. 
No alvorecer da redemocratização, a derrota para Collor desenvolveu no petista um complexo social — o rico derrotou o representante da maioria pobre —, e as duas derrotas para FHC plantaram em sua alma de operário um complexo intelectual — a USP prevaleceu sobre o chão de fábrica da VW e da GM. 
Nos dois mandatos de FHC, partidos herdeiros da Arena se consolidaram como legendas de adesão e trocaram governabilidade por cargos e verbas. Lula farejou a fadiga de material do tucanato, recuperou o pragmatismo e, vestindo Armani e suavizando o discurso numa Carta aos Brasileiros, ganhou a classe média. Em seus dois primeiros mandatos, o matrimônio com o centrão evoluiu para o patrimônio. Deu em Mensalão, em Petrolão, no impeachment de Dilma, em Bolsonaro e no orçamento secreto, que manteve o grotesco no Planalto por quatro anos e transformou a palavra "governabilidade" em outro nome para corrupção. 
O retorno de Lula se deveu à formação de uma falaciosa frente ampla em defesa da democracia. Do palanque, o ex-presidiário "descondenado" prometeu um governo "para além do PT", mas o quebra-quebra do 8 de janeiro foi um aperitivo do que estava por vir: pela primeira vez na história, um presidente assumiu o Planalto com um pedaço da população pedindo intervenção militar na porta dos quartéis. 
A conspiração sobreviveu às urnas, mas a ideologia de Lula é a saudade: hoje, o petista lamenta que a realidade seja tão reacionária e pergunta a seus botões por que pregoeiros ultradireitistas do evangelho da prosperidade encantam a periferia com ilusões vendidas no templo das redes sociais. Vivo, Freud lhe recomendaria investigar seus motivos inconscientes.

O Google lança novas versões do Android anualmente, mas as novidades nem sempre saltam aos olhos. Muitos usuários desconhecem a divisão de tela, por exemplo, que foi inaugurada no Android 9. Para utilizá-la, abra os programas desejados, toque no botão que exibe os apps recentes (na barra inferior da tela), no ícone de um deles (na parte superior da janelinha) e em Abrir na opção em tela dividida.
 
Outro recurso pouco conhecido, mas útil quando você empresta seu celular a alguém, é o perfil de convidado. Tocando em Configurações > Usuários > DispositivosConvidado, você ativa um perfil que limita a acesso desse alguém a seus aplicativos e arquivos pessoais (lembrando que isso não funciona todas as marcas/modelos de smartphones Android).
 
Para definir quais aplicativos podem enviar alertas, toque em Configurações > Aplicativos > Gerenciar Permissões > Notificações e faça os ajustes desejados. 

Para não ser interrompido por mensagens, ligações etc., ative o Modo Foco  toque em Configurações > Modos e rotinas > Trabalho e estipule o tempo durante o qual somente funções como Telefone e Relógio ficarão  acessíveis (aproveite o embalo para conhecer outros "modos" que você pode ativar, como Sono, Cinema, Direção, Exercício, etc.)
 
Na maioria dos smartphones, pressionar os botões liga/desliga e diminuir volume ao mesmo tempo "printa" a tela, mas você pode escolher outras maneiras tocando em Configurações > Recursos Avançados > Tecla lateral

Em alguns aparelhos, a opção "printar a tela" do painel rápido também funciona, mas a Seleção Inteligente permite fazer capturas retangulares ou ovais da janela ativa ou de qualquer porção dela. Para habilitá-la, toque em Configurações > Visor e ligue a chavinha ao lado de Painéis Edge. 
 
O celular se tornou um microcomputador ultraportátil, mas continua servindo para fazer e receber ligações telefônicas. Se você digitar #31# antes do número a ser chamado, o número da sua linha não será exibido, mesmo que esteja na agenda de contatos do destinatário da ligação. Mas vale lembrar que muita gente não atende chamadas de "número desconhecido" ou "número não identificado". 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

WINDOWS 10 — UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL?

QUEM PERSEGUE DUAS LEBRES NÃO ALCANÇA UMA DELAS E DEIXA A OUTRA ESCAPAR.
 
fim do suporte ao Windows 10 obrigará milhões de usuários a escolher entre continuar usando um sistema inseguro, forçar o upgrade numa máquina que não atende às exigências do Win11, comprar um computador novo, ou migrar para o Linux. 

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O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão. O desempenho medíocre do PT nas eleições municipais e a vitória de Donald Trump na disputa pela Casa Branca comprovam essa máxima. De celebrada por encarnar esperança e renovação, Kamala Harris passou a culpada pela estagnação do discurso em tempo já ultrapassado pelas demandas do eleitorado. 
A esquerda brasileira olha para o resultado das urnas como se o problema não remontasse ao primeiro governo Dilma. Num comício da campanha de Haddad à Presidência, o rapper Mano Brown apontou o afastamento do PT da "multidão que precisa ser conquistada" e levou uma tremenda vaia. O abismo estava logo ali, mas o autoengano prevaleceu — e cresceu quatro anos depois, com a volta do ex-presidiário descondenado ao Planalto. 
Lula e seus sectários não praticam autocrítica. Segundo eles, fazê-lo equivaleria a baixar a guarda e abrir passagem para os adversários. Mas retificar condutas não significa capitular. Ao contrário. É, no dizer do samba de Paulo Vanzolini, reconhecer a queda, não desanimar, sacudir a poeira e preparar a volta por cima. 
Irritado com ponderações sobre os erros da esquerda, o deputado Ivan Valente, ex-petista atualmente no PSOL, pontificou: "Isso é conversa de intelectual que nunca foi para porta de fábrica entregar panfleto". Alguém deveria lembrar ao nobre parlamentar que o conceito de "porta de fábrica" deixou de existir quando o panfleto passou a ser digital.

Observação: Comemora-se hoje o 135° aniversário do primeiro golpe militar desta republiqueta de bananas. Clique aqui para ler um breve resumo da verdadeira história da Proclamação da República.
 
Microsoft decidiu oferecer mais um ano de atualizações de segurança a quem se dispuser a desembolsar US$ 30 (lembrando que novos recursos, correções de bugs e suporte técnico não fazem parte do pacote). 

A decisão não foi tomada por solidariedade às "viúvas do Ten", mas porque elas representam mais de 60% dos usuários do Windows.

Aceitar a "gentil oferta" é uma medida paliativa, que serve apenas para emburrar o problema com a barriga até outubro de 2026. Mas por que resolver hoje um problema que pode ficar para amanhã?

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

NOVA POLÍTICA DE PRIVACIDADE DO X

TEM GENTE QUE ATÉ QUANDO ACERTA ESTÁ ERRADA.

 

Começa a valer amanhã a nova politica de privacidade do XwitterSe você está pensando em bater asas e voar do ninho do passarinho azul, seja seja bem-vindo ao clube. 

O processo de exclusão da conta é simples, mas leva 30 dias para ser consumado. Nesse entretempo, seu perfil não poderá ser acessado pelos demais usuários da rede, mas suas informações e publicações continuarão passíveis de recuperação. Então, se a ideia é pular do barco, não torne a se logar durante esses 30 dias.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

No estádio em que é disputado o campeonato do ajuste fiscal, Lula pode ficar na tribuna de honra, dando palpites e provocando os jogadores, ou vestir a camisa do time de sua preferência e descer ao gramado para disputar a bola. O que não pode é fazer as duas coisas. 
Ao se contrapor à ideia de colocar nas costas do brasileiro pobre todo o peso do ajuste nas contas nacionais e insinuar que o Congresso não vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores, o petista borrifou na atmosfera uma segunda interrogação: "Os empresários que vivem de subsídio do governo vão aceitar abrir mão de um pouco para a gente poder equilibrar a economia brasileira?" 
O problema é que o Brasil não o elegeu para lançar dúvidas em entrevistas, mas para apresentar soluções. Se o Planalto não incluir as castas no jogo do ajuste, Lula vai virar comentarista de seu próprio governo.
 
No PC, acesse o site do X, faça login, clique na sua foto de perfil (canto inferior esquerdo), selecione Configurações e suporte > Configurações e privacidade, vá até a seção Sua conta e clique em Desativar conta, leia as informações sobre o que acontece quando você desativa a conta e então clique em Desativar e confirme inserindo sua senha.
 
No celular, abra o app do X, faça login, toque no seu ícone de perfil (canto superior esquerdo no Android e barra inferior no iOS), selecione Configurações e suporte > Configurações e privacidade, vá até Sua conta, toque em Desativar conta, leia as informações, toque em Desativar e insira sua senha para confirmar.

Observação: Em 6 de novembro, dia seguinte ao da vitória de Trump, o X registou a maior debandada de usuários desde a sua compra pelo bilionário sul-africano Elon Musk. Milhares de pessoas e marcas famosas começaram a migrar para plataformas com menos bots, publicidade política e conteúdo de ódio. Usuários entrevistados pela NBC News disseram que, sob Musk, a rede perdeu os valores de um espaço aberto para comunicação, tornando-se um ambiente hostil. Se a situação do X indica, realmente, que a escolha da rede social depende cada vez menos da funcionalidade e mais dos valores éticos que representa, talvez nem tudo esteja perdido.

Bye, bye, Mr. Musk.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

CIÊNCIA X RELIGIÃO... (CONTINUAÇÃO)

NÃO CONFUNDA A OBRA DO MESTRE PICASSO COM A PICA DE AÇO DO MESTRE DE OBRAS.

No tempo das cavernas, tempestades, terremotos, eclipses e outros fenômenos naturais eram atribuídos a forças sobrenaturais. Esse misticismo deu origem às religiões, mas é importante não confundir religião com fé: embora ambas andem de mãos dadas, tanto é possível ter fé e não ser religioso quanto seguir uma religião sem ter fé (apenas por tradição familiar ou convenção social), 

A religião deveria servir para "religar" o homem a Deus, mas cada vertente — cristã, budista, hinduísta, xamânica, espiritualista, gnóstica, etc. — define "Deus" a sua maneira. Ao longo da História, Cristo, Buda, Maomé, Krishna e outros ícones religiosos deixaram mensagens para determinados povos em determinadas épocas. No entanto, em vez de levarem à unidade, ao amor e ao bem de todos, essas mensagens foram deturpadas para atender a interesses escusos daqueles que detêm o poder e o utilizam para manipular seus semelhantes. 

Os primeiros textos védicos remontam a 1.500 a.C., mas os conceitos que eles encerram foram transmitidos oralmente durante séculos. A frase "este é meu corpo" — que Cristo teria dito na Última Ceia — é repetida até hoje durante a EucaristiaQuando "lavou as mãos"Pilatos deixou clara a ligação entre religião e política — aliás, Igreja e Estado foram as duas faces da mesma moeda até a Revolução Francesa, e velhos vícios e maus hábitos costumam ser difíceis de erradicar.
 
Toda sociedade tem uma religião, toda religião tem um propósito social e toda cerimonia religiosa tem um ritual. O Seder de Pessach e a comunhão, por exemplo, são adaptações litúrgicas de uma pratica observada nos chimpanzés. As religiões perderam muito da
 empatia que tinham nos tempos de antanho, mas fenômenos complexos se desenvolvem a partir de começos simples, e como tudo o que fazemos é influenciado por nossa história biológica e cosmológica, a conclusão é óbvia. 

Diferentemente do que se imaginava alguns séculos atrás, o Universo surgiu há 13,8 bilhões de anos e o homo sapiens, há cerca de 300 mil anos — a partir da evolução de outros primatas, e não de Adão e Eva. O Velho Testamento é um conjunto de lendas e tradições culturais que foram transmitidas oralmente até 1200 a.C., quando então foram compiladas por Moisés em algum momento de sua longa jornada pelo deserto do Sinai, em busca da terra prometida a Abraão por Jeová. 

Observação: Talvez os efeitos do sol escaldante explique por que o autor do Pentateuco retratou o Criador como uma entidade rancorosa e vingativa, tão diferente da imagem vendida nas igrejas, templos por padres e pastores que se locupletam do dinheiro que extorquem dos fiéis ameaçando-os com a "danação eterna" — quando deveriam lhes oferecer orientação e conforto espiritual.
 
As religiões, como os vaga-lumes, precisam da escuridão para brilhar e são úteis para os poderosos, que lhes dão ares de verdade para ludibriar os menos esclarecidos. É imperativo questionar as crenças enraizadas, pois é a partir da reflexão que se alcança uma espiritualidade mais ampla e profunda. A possibilidade d
e existir um ente superior é admissível, mas como acreditar num "criador" que concede livre-arbítrio às criaturas, promete recompensar os "bons" com a vida eterna num inverossímil "paraíso celestial" e punir os "maus" com o fogo eterno num hipotético inferno comandado por um "anjo caído"?
 
A rigidez das religiões 
tende a perpetuar tradições e práticas que raramente resistem ao questionamento crítico, ao passo que a fé resultante de experiências espirituais e emocionais leva as pessoas a acreditar em algo que não lhes foi enfiado goela abaixo por dogmas religiosos. A flexibilidade faz com que a fé se adapte aos valores e interpretações de cada um, e sua relação com a religião é ainda mais intrigante quando se questiona a natureza da divindade — aliás, dizem que Deus criou a fé e o amor, e o diabo, invejoso, as religiões e o casamento. 

Segundo Aristóteles, "o sábio duvida e o sensato reflete". Dito isso, qualquer pessoa minimamente esclarecida deveria questionar a ideia de passar a eternidade tocando harpa numa nuvem ou assando lentamente num espeto. Ainda assim, toda religião é a verdade absoluta para aqueles que a professam e mera fantasia para os devotos das outras seitas. Em pleno século XXI, doutrinas as mais inverossímeis têm hostes de seguidores que pegam em lanças para defender seus rituais e liturgias. 
 

No Mito da Caverna, Platão ensinou que que a sabedoria e o conhecimento estão além das aparências superficiais, e que só a reflexão crítica leva à compreensão das nossas convicções e narrativas que escolhemos abraçar. Infelizmente, argumentar com quem renunciou à lógica é como dar remédio a um defunto...

 

Continua...

terça-feira, 12 de novembro de 2024

AS AVES QUE AQUI GORJEIAM NÃO GORJEIAM COMO LÁ


"O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", disse Juracy Magalhães, que foi embaixador em Washington pelo marechal Castello Branco quando esta banânia era mais uma ditadura militar instalada sob o pretexto de salvar a América Latina do comunismo.

Para os que gazeteavam nas aulas de História, relembro que a renúncia de Jânio Quadros e a aversão dos militares ao vice João Goulart levaram ao golpe de Estado que prefaciou a ditadura que Bolsonaro sempre negou e seu vice classificou de ditamole. A vacância da Presidência foi declarada em 1º de abril de 1964, mas a História marca o evento no dia anterior, para evitar associações jocosas com o "dia da mentira".
 
Quando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade escancarou o apoio civil ao golpe, o Congresso, ameaçado de fechamento, chancelou a derrubada de Jango e a "eleição" de Castello Branco, então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Quem apoiou o golpe acreditando que a democracia seria restabelecida com eleições diretas no ano seguinte deu com os burros n'água: a ditadura se estendeu até 1985, com outros quatro generais se revezando no poder, num jogo de cartas marcadas onde o partido de oposição (MDB) era meramente figurativo.
 
Os milicos não retornaram para a caserna graças ao espírito democrático de Geisel e Figueiredo, mas devido às manifestações populares pelas Diretas Já. Todavia, embora Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola e Ciro Gomes figurassem na lista dos 22 postulantes ao Planalto, o eleitorado brasileiro, sempre inclinado a fazer as piores escolhas, escalou para o embate final um caçador de marajás demagogo e populista e um ex-metalúrgico populista e demagogo. E o resto é história recente: a vitória de Collor e o "nós contra eles" de Lula pavimentaram o caminho para a polarização que, 29 anos depois, dividiria o país em sectários do lulopetismo corrupto e devotos do bolsonarismo boçal. 
 
Se dependesse de Bolsonaro — o filhote da ditadura que, segundo ele, deveria ter torturado e matado muito mais gente —, a democracia jamais teria sido restabelecida. Agora, estimulado pela vitória de seu ídolo — um criminoso condenado, já indiciado por tentar melar a eleição anterior e às voltas com inéditas pendências judiciais — o capetão declarou que "quase tudo o que acontece lá acontece aqui", que "partiremos para uma revolução em 2026" e que "podemos ter uma bancada enorme de senadores e deputados de outros partidos do nosso lado".
 
A torcida de Lula pela vitória de Kamala Harris foi desnecessária, pois ninguém ignorava sua aversão por Trump, e inútil, já que o poder o petista como cabo eleitoral tornou-se discutível até no Brasil. Compelido pelo fato consumado a parabenizar o eleito, disse o Sun Tzu de Atibaia que "o mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto", esquecendo-se de lembrar (ou lembrando-se de esquecer) que Trump retornará ao poder com maioria no Congresso e uma Suprema Corte de viés conservador, e que sua coleção de processos judiciais já foi encostada no arquivo. Alguém deveria lembrar ao petista que Trump converterá a Casa Branca numa sucursal do inferno, e que o governo brasileiro terá que dialogar com o capeta, pois ignorar os fatos não faz a realidade desaparecer.
 
Como para comprovar o ditado "quem sai aos seus não degenera", Zero Um declarou que a "via crucis" que Trump enfrentou nos EUA é "muito parecida com a que seu pai está atravessando aqui", e que, "se descondenaram o Lula depois de tudo o que ele fez", não há motivo para a inelegibilidade de Bolsonaro não ser revertida. E Zero Três foi além: "Eu não vejo eles [o governo norte-americano] mandando recado para o TSE ou algo assim, mas o STF... um ou dois juízes que ficam mais à vontade para adotar suas políticas... eles vão ficar com o pé atrás."
 
"Há dois anos querendo me incriminar como golpista, vai à merda, porra...", disse Bolsonaro, referindo-se ao ministro Alexandre de Moraes, talvez com o intuito de manter na ponta dos cascos a récua de muares descerebrados que lhe babam os ovos. Mas a porca torce o rabo quando ele insinua que Trump gostaria de vê-lo anistiado. Cabe a Moraes autorizar ou não o mentor intelectual e principal beneficiário do 8 de Janeiro comparecer à posse de sua musa inspiradora, mas dois pedidos de devolução do passaporte já foram recusados, e tudo indica que desta vez não será diferente, com ou sem a ameaça de retenção do visto feita por um grupelho de congressistas trumpistas ao ministro do STF.
 
Pode-se gostar ou não de Trump, mas não se pode negar que ele é um fenômeno político. Já Bolsonaro não passa de uma imitação grosseira. O peruquento se manteve à tona por quatro anos, e agora está de volta, ao passo que o clone mal-ajambrado entrou para a História como o único presidente brasileiro que tentou a reeleição e foi barrado nas urnas — e, de quebra, corre o risco de acabar na prisão.
 
Se tiverem juízo, a PGR e o STF se apressarão em demonstrar que suas palmeiras não fornecem sombra para delinquente nem seus sabiás cantam mais afinados que os melros-azuis na terra do Tio Sam. As eleições foram usadas como pretexto para retardar seu indiciamento, mas agora não há motivo para que ele não se torne réu, seja julgado e sentenciado. Ao contrário do que disse o embaixador americano nos anos 1960, o que pode ser bom para os EUA pode não ser necessariamente bom para o Brasil.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

CIÊNCIA X RELIGIÃO — CADA QUAL NO SEU QUADRADO

SUTOR, NE ULTRA CREPIDAM.
 
O Velho Testamento é um conjunto de lendas, mitos e tradições culturais que foram transmitidas oralmente por várias gerações até serem compiladas (supostamente) por Moisés em 1200 a.C. O Gênesis — primeiro livro da Bíblia judaico-cristã, mas não o primeiro a ser escrito — começa com a palavra bereshit (no princípio, em hebraico), e narra a origem da vida, do mundo e do povo que Moisés liderou rumo à terra que Deus prometera a Abraão e seus descendentes. 

Diz a Bíblia que, a alturas tantas, Moisés estendeu seu cajado e o Mar Vermelho se abriu, para que os judeus o atravessassem, e se fechou em seguida, afogando o exército egípcio que os perseguia. Embora dominasse os segredos das águas, o líder dos "judeus errantes" não fez bom uso do GPS fornecido por Jeová: ele e seu povo só encontraram Canaã após caminharam 40 anos pelo deserto do Sinai — sem falar que o conceito de "terra prometida" só fez sentido quase 3 mil anos depois, com a criação do Estado de Israel. 

Por outro lado, o que começou como uma jornada pelo deserto se tornou uma diáspora cheia de reviravoltas, exílios e retornos que talvez tenha menos a ver com a busca pela terra prometida e mais com a obstinação do povo judeu em seguir adiante, independentemente de quão longa seja a estrada. Mas isso é outra conversa.
 
As narrativas que compõem o Gênesis não fornecem uma explicação científica ou histórica sobre o passado, até porque a literatura bíblica não é jornalismo nem os fatos foram registrados em tempo real. Ainda assim, os criacionistas e os seguidores das religiões abraâmicas acreditam que Deus criou o mundo e tudo que nele existe em seis dias. O arcebispo irlandês James Ussher vai ainda mais além: em "The Annals of the World", ele afirma que o Criador iniciou sua obra às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C.).
 
Enquanto os dogmas religiosos pedem fé inquestionável, a ciência busca evidências e procura comprová-las por meio de experimentos. Premissas científicas podem ser questionadas e modificadas conforme novas descobertas surgem, mas a interpretação literal da Bíblia ignora o conhecimento científico adquirido e acumulado nos últimos séculos, ao longo dos quais áreas como física, astronomia e biologia evolutiva revelaram uma complexidade maior que as descrições encontradas em textos antigos. A evolução das espécies e a formação de estrelas e planetas são processos que ocorreram ao longo de bilhões de anos. 

Escorado na Teoria do Big Bang, o modelo cosmológico mais aceito atualmente sustenta que o Universo surgiu a partir de uma explosão de energia e matéria ocorrida há 13,8 bilhões de anos — ou há 26,7 bilhões de anos, como sugeriu recentemente o físico indiano Rajendra Gupta, após a descoberta de galáxias primitivas supostamente mais antigas que o próprio Universo. Nosso sistema solar se formou há 5 bilhões de anos e a Terra, 500 milhões de anos depois. A família dos Hominídeos divergiu das demais há 20 milhões de anos, o gênero Homo surgiu 2,5 milhões de anos atrás, e o Homo sapiens evoluiu do Homo erectus há 300 mil anos. Não se trata de conjecturas, mas de estimativas baseadas em descobertas arqueológicas e no estudo de ossos e crânios encontrados por paleontólogos.
 
Fé e a ciência não são mutuamente excludentes, mas desde que a esfera de cada uma seja respeitada. Quanto às religiões, cabe a elas oferecer conforto espiritual e respostas a questões como o propósito e o sentido da vida. Não se deve subestimar a importância da Bíblia nem negar a enorme influência cultural do Gênesis, mas tomar o livro da criação como evidência factual é ignorar séculos de progresso científico que expandiram nossa compreensão sobre o mundo e tudo que existe nele. 
 
Deve-se manter a Bíblia dentro de seu contexto histórico e mitológico, sem desdenhar das revelações científicas sobre a criação do mundo, e ter em mente que não deve o sapateiro ir além das sandáliasO literalismo religioso pode alimentar a negação de descobertas científicas amplamente aceitas, como a evolução e o aquecimento global, e movimentos que rejeitam essas descobertas em nome de crenças religiosas minam o progresso em questões vitais para o futuro da humanidade.

Continua... 

domingo, 10 de novembro de 2024

DE VOLTA AO MOLHO DO MACARRÃO

A DISCÓRDIA ALMOÇA COM A ABUNDÂNCIA, JANTA COM A POBREZA, CEIA COM A MISÉRIA, E DORME COM A MORTE.

Macarronada sem molho é como pastel sem recheio, mas molhos ao sugo e à bolonhesa levam tomate, e a acidez do tomate não combina com estômagos sensíveis.
 
Remover a pele e as sementes dos frutos e cozinhar meia cenoura junto com o molho (detalhes nesta postagem) diminui seu pH sem deixá-lo adocicado ou calórico (como quando se adiciona ketchup ou manteiga), mas os
connoisseurs sugerem misturar uma colher de bicarbonato ou de fermento em pó no finalzinho do preparo, mexer bem e cozinhar o molho por mais alguns minutos. Se ainda assim o estômago reclamar, um sal de frutas deve resolver. 
 
Molhos como manda o figurino começam com a escolha dos tomates (o Débora é menos ácido que o Cármen, mas tem mais sementes que o Italiano), que devem estar frescos, maduros e firmes. Depois de
 retirar a pele e as sementes, você deve contá-los em quatro e deixar no forno (a 160° C) até as bordas tostarem (o calor irá caramelizar o açúcar, dispensando a adição de ingredientes mirabolantes).
 
Dica: É possível obter o mesmo resultado cozinhado os tomates numa panela em fogo baixo. Leva mais tempo que no forno, mas também funciona.
 
Feito no capricho, nenhum molho ao sugo fica pronto em menos de 2 horas, já que o cozimento se dá por evaporação. Mas você pode ganhar tempo usando molhos industrializados ou tomates pelados. Em ambos os casos, é preciso refogar em azeite temperado com alho, cebola e manjericão o conteúdo das embalagens, mas os"pelatti" precisam ser cozidos previamente em fogo baixo por 30 minutos, com ½ cebola descascada (que deve ser descartada no final).
 
Para servir quatro comensais, você vai precisar de:

— 500g de massa;
— 1kg de tomates tipo Débora
— Um maço de manjericão fresco;
— 5 dentes de alho;
— Azeite extravirgem, sal e pimenta-do-reino moída na hora.

ObservaçãoComo os carboidratos do macarrão são digeridos rapidamente, servi-lo acompanhado de uma fonte de proteína (almôndega, frango, bife à rolê) prolonga a sensação de saciedade e ajuda a manter os níveis de glicose no sangue estáveis por mais tempo. 
 
Passando ao "finalmentes", lave bem os tomates, retire as "tampas", corte-os em quatro no sentido vertical, remova as sementes e qualquer parte escura ou danificada, coloque-os numa panela, tampe e leve ao fogo por cerca de 15 minutos, mexendo de quando em quando. 

Em outra panela, refogue em azeite as folhas de manjericão e os dentes de alho (cortados ao comprido, mas não partidos ao meio). Passe os tomates uma peneira, coloque a polpa na panela do refogado, acerte o ponto do sal e da pimenta e deixe cozinhar por duas horas (sem tampar a panela).
 
O sabor da comida está no tempero, e o molho de tomate não foge à regra. Alho e azeite agregam sabor, mas a receita ficará mais gostos com cebola picadinha, orégano, tomilho, cominho e louro, por exemplo. E vale lembrar  que u
ma xícara (chá) da água do cozimento da massa e uma colher de extrato de tomate dispensam você de usar maisena ou farinha de trigo para encorpar o molho.
 
Observação: Se o molho aguar, mantenha a panela em fogo baixo até o excesso de líquido evaporar. Para obter um resultado mais rápido, transfira uma concha do molho para outro recipiente, misture o espessante de sua preferencia (maisena, farinha de trigo, etc.) e mexa até dissolver. Com o restante do molho em fogo baixo, adicione essa mistura aos poucos e mexa até o molho encorpar.
 
A Air Fryer é uma mão na roda para preparar molho "a toque de caixa". Asse os tomates por 15 minutos a 200° C, bata os tomates (já sem a pele) no liquidificador, transfira a pasta resultante para uma panela com alho e cebola refogados em azeite, tempere com sal, pimenta e ervas, mexa bem, tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo por 10 minutos. (Você pode guardar a sobra do molho por 5 dias na geladeira ou por até 3 meses no congelador.) 

Caso prefira uma opção sem tomate e que fica pronta em 20 minutos, sugiro o molho pesto. Trata-se de uma receita tradicional genovesa, cujo nome remete ao verbo "pestare" (na receita tradicional, os ingredientes são esmagados em um pilão). 

Você vai precisar de: 

- 2 xícaras (chá) de manjericão fresco; 
- ½ xícara (chá) de queijo parmesão ralado; 
- ½ de xícara (chá) de pinoli (ou nozes); 
- 2 dentes de alho; 
- ½ xícara (chá) de azeite de oliva extravirgem; 
- Sal e pimenta-do-reino a gosto; 
- Suco de ½ limão taiti ou siciliano (apenas para dar um toque cítrico).

Ferva água numa panela, junte as folhas de manjericão, espere 30 segundos, escorra e bata no liquidificador (ou no processador) com o alho, os pinoli (ou as nozes), o parmesão e o suco de limão, adicionando o azeite aos poucos. Misture esse pesto ao macarrão (cozido al dente) numa tigela grande e mexa delicadamente. 

Observação: No ponto "al dente", a massa está cozida, mas levemente resistente à mordida). O tempo de cozimento varia conforme o tipo e formato da massa — as frescas cozinham mais depressa que as secas, e as longas levam menos tempo que as curtas —, de modo que você deve seguir as instruções impressas na embalagem. 

Tempere com sal e pimenta a gosto, adicione um pouquinho da água do cozimento do macarrão (que, como vimos, deixa o molho encorpado e cremoso), finalize com um fio de azeite e queijo parmesão ralado e sirva em seguida.

Buon appetito.