quarta-feira, 30 de julho de 2025

BATERIAS E MAIS BATERIAS

QUEM NÃO CRESCE APODRECE.


Ao contrário de trens, trólebus e bondes, que percorrem trajetos fixos, os carros elétricos são alimentados por baterias recarregáveis, que determinam o período de tempo durante o qual eles podem rodar sem precisar de recarga.


Guardadas as devidas proporções, isso se aplica também a notebooks, smartphones e tablets, já que suas autonomias dependem, dentre outros fatores, da capacidade da bateria — expressa em miliampere-hora (mAh) — e do consumo energético, que varia conforme as condições de uso e o perfil do usuário.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Enquanto o Brasil acompanha apreensivo a contagem regressiva para a entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto por Trump, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro leva aos lábios o trombone para anunciar que está trabalhando em prol do fracasso das negociações com a Casa Branca. Segundo o imprestável, qualquer revisão nas tarifas está vinculada ao fim do processo por tentativa de golpe contra seu igualmente imprestável pai.

A comissão de parlamentares que foi aos EUA ainda não conseguiu se reunir com nenhuma autoridade americana, e reconhece que a situação está cada vez mais complicada, tanto pelo prazo exíguo quanto pelo fato de nosso país estar isolado. O vice-presidente Geraldo Alckmin — também conhecido por "picolé de chuchu" — disse que o governo está dialogando pelos canais oficiais e também reservadamente com autoridades americanas. 

Lula, por sua vez, disse esperar que Trump reflita sobre a importância do Brasil, e que está disposto a se sentar à mesa de negociação com o despirocado da peruca laranja. Falando nisso, o Brasil é hoje o maior exportador de suco de laranja para os EUA.

Ah, antes que eu me esqueça: prenderam a Carla Zambelli.


Observação: Um mAh corresponde a 3,6 coulombs, ou seja, a carga elétrica transferida por uma corrente constante de um milésimo de ampère durante uma hora. Já a potência da bateria é expressa em watts (W), equivalentes a joules por segundo (J/s). Se uma bateria opera a 12V e fornece 2A, sua potência instantânea é de 24W (ou 24 J/s).


Apesar dos avanços recentes, as baterias ainda não acompanharam o ritmo das exigências dos smartphones. Modelos com 5.000 ou 6.000 mAh prometem mais de 30 horas longe da tomada, mas heavy users podem ficar na mão antes do final do dia. Assim, ou o usuário adota uma configuração mais “espartana”, ou carrega um carregador sobressalente no bolso — ou ainda um modelo veicular no carro.

Novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas para espaçar as recargas e reduzir o tempo necessário para elas. Os chineses criaram uma mini bateria nuclear capaz de durar mais de 7.000 anos, e os dinamarqueses, uma superbateria "movida a sal", com eficiência de 90%, capaz de abastecer 100 mil casas por 10 horas. 


Ainda não se sabe quando — nem se — essas soluções chegarão ao mercado, mas a Honor já oferece celulares com baterias de silício-carbono, que prometem até três dias de autonomia e mantêm a capacidade máxima de carga mesmo após três anos de uso.


Realme já lançou modelos com 10.000 mAh, que tornam os 5.000 mAh da concorrência quase obsoletos, e o OnePlus 13T vai além: é capaz de operar sem bateria quando conectado diretamente à rede elétrica. Apostar nessas tecnologias não sai barato, mas insistir em lançar aparelhos com 5.000 mAh é flertar com o passado.


Enquanto isso, a Hyme Energy está desenvolvendo o que promete ser o maior sistema de armazenamento de energia térmica industrial do mundo: um espaço de 200 MWh em Holstebro, na Dinamarca, voltado para a indústria alimentícia do país.

Quem viver verá.

terça-feira, 29 de julho de 2025

LENDAS, MITOS E TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

O SUCESSO TEM MUITOS PAIS, MAS O FRACASSO É ORFÃO

Aprendemos na escola que Santos Dumont foi o "Pai da Aviação", criou o relógio de pulso e se suicidou ao ver sua invenção (o avião, não o relógio de pulso) ser usada para fins bélicos. No entanto, na maioria dos países dos 7 continentes (que eram cinco nos meus tempos de estudante) a invenção do avião é atribuída aos irmãos norte-americanos Wilbur e Orville Wright.

 

O inventor brasileiro ganhou projeção mundial em 1901, ao contornar a Torre Eiffel a bordo de um balão dirigível. Quando ele realizou o primeiro voo homologado pela Federação Aeronáutica Internacional com seu icônico 14-Bis, os irmãos Wright já haviam patenteado o Flyer e voado com ele dezenas de vezes. Chauvinistas inconformados alegavam que a engenhoca dependia de uma espécie de catapulta para decolar, mas os irmãos demonstraram que sua criação era capaz de decolar sem o auxílio de tais artifícios.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A ideia de que Bolsonaro dirige os rumos da direita brasileira vai se tornando uma das ilusões mais persistentes da mitologia política contemporânea. Ele ainda projeta uma aparência de liderança — multiplicada pela presença de sua facção nas redes sociais —, mas seu poder efetivo é declinante. 

Aos poucos, o projeto de unificação das forças de direita em torno de uma hipotética candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas vai se dissipando. Diante da teimosia de Bolsonaro, que finge não estar inelegível, líderes conservadores tocam seus próprios planos. Depois de Ronaldo Caiado, primeiro líder de direita a se lançar na corrida presidencial, entrará na disputa Romeu Zema. Seu nome será lançado pelo partido Novo, em 16 de agosto. Ironicamente, a candidatura de Zema nascerá sob as barbas de Tarcísio, em São Paulo. 

Em política, quem não ambiciona o poder vira alvo. Mas quem só ambiciona o poder erra o alvo. Depois do golpe falhado, Bolsonaro tinha dois objetivos estratégicos: não ser preso e continuar dando a impressão de que comanda. Sua margem de manobra é mínima. 

Com o tarifaço de Trump ou sem ele, a condenação deve chegar em setembro. Enquanto finge que faz e acontece, o "mito" dos apatetados tenta se equilibrar em meio ao entrechoque das forças que disputam o seu espólio. Só que, ao invés de governá-las, ele começa a ser governado por elas — e se dar por satisfeito com a promessa de um futuro indulto.

 

Por estar com as mãos ocupadas controlando seus balões, Santos Dumont tinha dificuldade em ver as horas no relógio de bolso, e pediu ao amigo joalheiro Louis Cartier que adaptasse uma pulseira de couro ao maior relógio feminino de sua coleção. Mas isso não faz dele o inventor do relógio de pulso — na melhor das hipóteses, pode-se dizer que ele contribuiu para a adoção do acessório pelo público masculino. 

 

Acredita-se que o primeiro relógio de pulso tenha sido encomendado pela irmã de Napoleão Bonaparte ao relojoeiro Abraham-Louis Bréguet, ou criado pelos fundadores da relojoaria suíça Patek-Phillipe — embora haja registros de que Robert Dudley, 1º Conde de Leicester, presenteou a rainha Elizabeth I, em 1571, com um pequeno relógio de bolso atrelado a uma delicada pulseira de couro.

 

Santos Dumont foi encontrado morto em 23 de julho de 1932, no quarto 151 do Grande Hotel La Plage, em Guarujá (SP), mas a causa da morte no atestado de óbito foi posteriormente alterada para "parada cardíaca". A versão segundo a qual o uso bélico do avião levou-o a se matar não passa de uma lenda urbana consolidada durante o período getulista, e a história de que ele teria ficado inconsolável quando foi abandonado por Jorge Dumont Villares — um sobrinho com quem ele supostamente mantinha um relacionamento íntimo — permanece no campo da especulação. Até sua alegada homossexualidade é questionada por alguns biógrafos, que mencionam sua paixão pela socialite Yolanda Penteado e um affair com a cantora lírica Bidu Sayão.

 

Todo fato tem ao menos três versões — a sua, a minha e a verdadeira — e todos temos direito às nossas versões, mas não aos nossos próprios fatos. Quando as versões se sobrepõem aos fatos, surgem mitos, boatos e teorias da conspiração. Mitos são lendas criadas para explicar a origem do mundo e transmitir crenças sobre o desconhecido (o Gênesis é um bom exemplo), enquanto boatos são narrativas baseadas em informações não verificadas e transmitidas oralmente (até serem rebatizadas de fake news e disseminadas via aplicativos de mensagens e posts nas redes sociais). Já as teorias da conspiração associam eventos políticos ou sociais a esquemas secretos orquestrados por grupos poderosos — e o fato de carecerem de comprovação sustentável não as torna menos convincentes para quem quer acreditar.

 

Einstein ensinou que o Universo e a estupidez humana são infinitos; Saramago, que o pior tipo de cegueira é a cegueira mental. Aristóteles — e outros e outros filósofos gregos antes dele — concluíram que a Terra era esférica ao observar a sombra projetada sobre a Lua durante os eclipses lunares. No entanto, a despeito das milhares de fotos tiradas do espaço — e até da superfície lunar —, 8% dos brasileiros acreditam que a Terra é plana. 

 

Nos EUA, de 2% a 4% dos adultos defendem categoricamente o terraplanismo e 9% expressam dúvidas sobre a esfericidade do nosso planeta. A má notícia é que conteúdos terraplanistas geram três vezes mais engajamento nas redes sociais do que conteúdos científicos sobre o formato da Terra, e a péssima é que um em cada quatro americanos não sabe que a Terra gira em torno do Sol — vale lembrar que Copérnico propôs o heliocentrismo no século XVI, mas a Igreja Católica só aceitou oficialmente esse modelo no início do século XX.

 

Outra sandice que ainda persiste surgiu em 1969, a reboque da alunissagem da Apollo 11. Há várias versões, mas todas acusam a NASA de ter encenado a farsa na Área 51 — ou no deserto de Mojave, ou no Atacama. Segundo os conspiracionistas, os seis desembarques tripulados realizados entre 1969 e 1972 foram falsificados, e os doze astronautas jamais pisaram na Lua, a despeito de cinco das seis bandeiras americanas espetadas lá continuarem em pé — ironicamente, a deixada pela Apollo 11 foi derrubada pelo escapamento do foguete de decolagem.

 

A "tremulação" da bandeira espetada por Neil Armstrong, que leva água ao moinho dos teóricos da conspiração — pois "só seria possível se houvesse vento" —  decorreu do manuseio pelos astronautas, que introduziram uma haste na borda horizontal superior da bandeira para manter o pano estendido. Já a ausência de estrelas nas fotos deveu-se à configuração das câmeras, ajustadas para capturar a superfície lunar iluminada pelo Sol. As "sombras inexplicáveis", atribuídas ao uso de refletores, resultaram da combinação entre o solo acidentado e a perspectiva das fotos, e os supostos reflexos de "objetos estranhos" nos visores dos capacetes são perfeitamente compatíveis com o equipamento que os astronautas carregavam.
 
As missões Apollo foram acompanhadas por observadores independentes que verificaram as transmissões ao vivo e os sinais de rádio vindos da Lua. Além disso, 382 kg de rochas lunares foram analisados por cientistas de todo o mundo, e imagens de alta resolução feitas por sondas e telescópios modernos mostram claramente os locais de pouso — incluindo marcas dos módulos lunares e equipamentos deixados para trás na superfície.

 

Cerca de 400 mil pessoas (entre astronautas, engenheiros, técnicos, etc.) e centenas de empresas (como Lockheed e a Boeing) participaram, direta ou indiretamente, do projeto Apollo, e nenhuma prova concreta de fraude surgiu em 56 anos. A antiga URSS tinha tecnologia para rastrear foguetes e interceptar comunicações da NASA, e expor a suposta fraude seria uma vitória propagandística gigantesca durante a Guerra Fria. Seu silêncio, nesse contexto, é mais uma prova da veracidade da alunissagem.

 

Refletores a laser deixados na Lua continuam sendo usados por observatórios como o de Apache Point (EUA) para medir a distância Terra-Lua com precisão milimétrica. Mais de 40 países — incluindo a Rússia — analisaram amostras lunares e atestaram sua composição única (sem água, com isótopos de oxigênio inexistentes na Terra). Além disso, manter milhares de pessoas caladas por décadas exigiria subornos ou ameaças perpétuas — basta uma aposentadoria, um desligamento ou uma crise de consciência para desmoronar tudo.

 

Os negacionistas sustentam sua narrativa em supostas falhas ou inconsistências, argumentando, inclusive, que a tecnologia para enviar missões tripuladas à Lua era insuficiente para enviar missões tripuladas à Lua, e que o Cinturão de Van Allen, as erupções solares, o vento solar, as ejeções de massa coronal e os raios cósmicos tornariam tais viagens impossíveis. O astrônomo Phil Plait, autor do premiado blog "Bad Astronomy", tem um post específico em que desmascara não apenas o caso da bandeira, mas várias outras falaciosas repetidas por conspiracionistas. 

 

Mesmo assim, os teóricos da conspiração afirmam que tudo foi simulado, com a suposta participação do cineasta Stanley Kubrick. A maioria dessas teorias foi desconstruída pelos apresentadores do programa "MythBusters", que até usaram uma câmara de vácuo para desbancar as teorias. Mas o povo "do contra" não se convence: segundo eles, o programa é patrocinado pela NASA.

 

O físico David Grimes, da Universidade de Oxford (UK), concebeu uma equação levando em conta o número de conspiradores envolvidos (411 mil funcionários da NASA) e o tempo transcorrido desde o evento, e concluiu que alguém fatalmente teria dado com a língua nos dentes depois de 3,7 anos. Bill Kaysing (pai da teoria da fraude) jamais trabalhou na NASA — era redator técnico em uma contratante —, e Bart Sibrel (documentarista) pagou astronautas para "jurar sobre a Bíblia" — e levou um soco de Buzz Aldrin. Nenhum cientista, engenheiro ou astronauta envolvido jamais confirmou a fraude, mesmo diante de ofertas milionárias.

 

Pode-se levar um burro até o riacho, mas não se pode obriga-lo a beber. Da mesma forma, argumentar com quem acredita nessas patacoadas é como dar remédio a defunto. À luz da Navalha de Ockham — conceito filosófico segundo o qual, diante de várias explicações possíveis para um fenômeno, a mais simples costuma ser a correta — a alunissagem foi real porque a física, a política e a psicologia humana tornam a fraude virtualmente impossível. 

 

Enfim, cada um pode acreditar no que quiser. Se tanta gente ainda acredita que Lula foi absolvido e que Bolsonaro é um patriota de mostruário...

segunda-feira, 28 de julho de 2025

SOBRE LUIZ FUX, O NÚCLEO GOLPISTA E "OTRAS COSITAS MÁS"

DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS. 

Depois que um golpe de Estado (o primeiro de muitos) substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano, em 1889, mais de três dúzias de brasileiros ocuparam a Presidência. Fernando Henrique foi o mais próximo de um estadista que tivemos desde a "redemocratização" — lembrando que a renúncia de Jânio, em 1961, pavimentou o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes 21 anos de ditadura. Mas Lord Acton ensinou que o poder corrompe, e FHC, que ninguém resiste à picadura da mosca azul. 

 

Em 1997, o tucano de plumas vistosas comprou a PEC da reeleição e, rezando pelo catecismo de Geraldo Vandré — segundo o qual "quem sabe faz a hora, não espera acontecer" —, derrotou Lula já no primeiro turno do pleito de 1998. Mas faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola e, quatro anos depois, o petista venceu José Serra, levando o PT ao poder. A partir de então, o Brasil passou a ser governado como uma usina de processamento de esgoto: a merda entra pela porta das urnas e muda de aparência, mas o que sai na posse do novo governante continua sendo merda — reciclada, mas ainda merda. 

 

Não que a coisa fosse melhor em outro momento da nossa história. A sementinha da corrupção foi plantada em Pindorama nos idos 1500, quando, em sua famosa carta, Pero Vaz de Caminha pediu ao rei D. Manuel que intercedesse por seu genro. Trezentos anos depois, o país passou de colônia a reino-unido, mas somente porque a família real portuguesa se desabalou para o Rio de Janeiro para fugir de Napoleão Bonaparte. Nossa independência — paga a peso de ouro — foi proclamada por D. Pedro I enquanto esvaziava os intestinos, e a Proclamação da República, despida do glamour que lhe atribuem os livros de História, não passou de um golpe de Estado político-militar (o primeiro de muitos, como dito anteriormente). 

 

Até o início do século XIX, nosso país não tinha uma corte constitucional. A "Casa da Suplicação do Brasil" foi criada em 1808, mas a função de corte suprema só se solidificaria 1829, com a criação do "Supremo Tribunal de Justiça" — que passou a se chamar "Supremo Tribunal Federal" com a proclamação da República. Hoje, além do papel de corte composicional, cabe ao Supremo processar agentes públicos com foro especial por prerrogativa de função e julgar recursos extraordinários contra decisões de outros tribunais. Mas aquela conversa de que juízes são isentos, apolíticos e apartidários não passa de cantilena para dormitar bovinos. Os magistrados não só tomaram gosto pela política — e quem conquista poder político não abre mão dele facilmente — como também sucumbiram à nefasta polarização, que dividiu o país em duas abjetas facções.

 

Mesmo estando inelegível e contando os dias que faltam para sua mais que provável condenação, Bolsonaro continua fazendo pose de candidato. Ao pressionar a banda podre da Câmara a aprovar uma insana proposta de anistia, o golpista confessa por vias tortas os crimes que jura não ter cometido. Como se não bastasse, seu filho Eduardo atua como articulador das sanções impostas pela Casa Branca ao país que, como deputado por São Paulo (que também elegeu Tiririca para quatro mandatos consecutivos), é pago para defender. 

 

Dias atrás, o filho do pai estendeu sua abjeta chantagem aos presidentes da Câmara e do Senado: se Motta não levar à pauta de votações da Câmara o projeto que anistia aos golpistas e Alcolumbre engavetar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes — renovado dias atrás pelo senador das rachadinhas, panetones e mansões milionárias Eduardo Bolsonaro —, poderão ter seus vistos de entrada nos EUA cassados, a exemplo do que aconteceu com oito dos onze ministros do STF.

 

O ex-ministro Sepúlveda Pertence definiu o Supremo como "um arquipélago de 11 ilhas", mas a politização ficou mais evidente em 2019, quando seis dos onze membros da Corte mudaram a jurisprudência sobre a prisão em segunda instancia, ensejando a "volta do criminoso à cena do crime” — como bem observou o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin quando ainda era tucano. 

 

Gilmar Mendes — a verdadeira "herança maldita" de FHC — defendia a Lava-Jato com unhas e dentes, mas virou a casaca depois que a Vaza-Jato denegriu a imagem do ex-juiz Sergio Moro, do ex-procurador Deltan Dallagnol e de outros integrantes do braço paranaense da força-tarefa, embora seu "crime hediondo" tenha sido combater corrupção sistêmica e pôr na cadeia bandidos travestidos de executivos das maiores empreiteiras do país e políticos ímprobos de altíssimo coturno. 

 

Dias Toffoli — que ganhou a suprema toga graças aos "bons serviços prestados" como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, consultor jurídico da Central Única dos Trabalhadores (CUT), assessor jurídico do PT e do ex-ministro José Dirceu e subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil sob Lula, a despeito de ter sido reprovado em dois concursos para juiz de primeira instância em São Paulo —, vem fazendo das tripas coração para reconquistar as boas graças de Lula com decisões teratológicas que visam claramente favorecer os "amigos do rei". 

 

Indicado por Lula para o Supremo a pedido da então primeira-dama, Ricardo Lewandowski retribuiu a gentileza durante o julgamento do Mensalão, no qual atuou mais como defensor dos réus do que como julgador. No impeachment de Dilma, ele e o senador Renan Calheiros urdiram uma tramoia para evitar que a mulher sapiens tivesse seus direitos político suspensos.

 

E por aí segue a procissão.

 

Em seu artigo 1º, a Constituição Cidadã anota que "a República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito" e tem como primeiro fundamento "a soberania". O parágrafo único desse mesmo artigo estabelece que "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente". Já no primeiro inciso do artigo 3º, o Regimento Interno da Câmara explicita que é dever do deputado federal "promover a defesa do interesse público e da soberania nacional". Na prática, porém, a teoria costuma ser outra.

 

Morando nos EUA e exercendo em tempo integral a atividade de traidor da pátria, Eduardo Bolsonaro rasga a Carta Magna, sapateia sobre o regimento da Câmara e desonra os 741 mil votos que obteve do eleitorado paulista em 2022. Mas não é só: a falta de posicionamento dos dirigentes do Congresso sobre o pedido de cassação do traíra injeta na conjuntura brasiliense uma vergonha convulsiva: quando alguém precisa tomar uma decisão e não toma, está decidindo não fazer nada, e nada, no caso do deputado, é uma palavra que já ultrapassa tudo. Ou Congresso expurga o personagem dos seus quadros, tornando-o inelegível, ou se desmoraliza junto com ele.

 

A coação exercida sobre o STF por Trump em parceria com a Famiglia Bolsonaro já justificaria a prisão preventiva do chefe do clã, mas Moraes "morde e assopra", evitando confundir o necessário com o excessivo, sobretudo depois que seu colega Luiz Fux votou contra as medidas cautelares impostas ao capetão (dizem que o fez para não ter seus visto de entrada nos EUA cassado, como já aconteceu com oito de seus pares). Vale destacar que não foi a primeira vez que ele divergiu do relator e de seus colegas da Primeira Turma. Durante a análise da denúncia da PGR, o ministro levantou dúvidas sobre a delação de Mauro Cid e a competência da Turma para julgar Bolsonaro e seus cúmplices (que, segundo ele, seria da primeira instancia do Judiciário ou, na pior das hipóteses, dos 11 ministros da Corte). 

 

Diz um ditado que "só não muda de opinião quem já morreu", mas causa espécie que o ministro "punitivista" que apoiou o relator (Joaquim Barbosa) na condenação da maioria dos réus da ação penal 470 (vulgo "Processo do Mensalão") e se tornou um dos principais defensores da Lava-Jato tenha dado um "cavalo de pau" digno dos melhores filmes de ação, aliando-se à corrente "garantista", que prioriza a proteção dos direitos fundamentais dos réus. 

 

Embora concorde com as condenações pela trama golpista, Fux tem acatado alguns argumentos dos acusados, e comenta-se à boca pequena que ele continuará nessa linha, como forma de "garantir a moderação no STF". No julgamento da cabeleireira Débora dos Santos, que ficou conhecida por pichar com batom a frase "Perdeu, mané" na estátua da Justiça, Moraes propôs 14 anos de prisão, mas Fux sugeriu um ano e seis meses, arrancando elogios de Michelle Bolsonaro.

 

No fim de março, durante o julgamento da denúncia da PGR contra o grupo principal da trama golpista — encabeçado por Bolsonaro —, Fux foi o único a abraçar o argumento da defesa no sentido de que o foro indicado para conduzir as investigações seria primeira instância do Judiciário, e não no STF. Derrotado por seus pares, ele acabou votando pelo recebimento da denúncia, que foi aceita por unanimidade. No mesmo julgamento, afirmou ser contrário à ideia de punir a tentativa de golpe como se fosse um crime consumado. Defendeu a necessidade de diferenciar os atos preparatórios da execução do crime e levantou dúvidas sobre a legalidade da delação de Mauro Cid. As observações renderam elogios da defesa de Bolsonaro.

 

No depoimento de Cid ao STF, Fux fez perguntas que foram elogiadas por Eduardo Bolsonaro — em suas redes sociais, o filho do pai escreveu: "Urgente! Fux desmontou o castelo de areia com duas perguntas." Nos depoimentos de testemunhas do chamado núcleo crucial, foi o único —além do relator — a comparecer às sessões e fazer questionamentos nas oitivas. E a expectativa é que ele continue apresentando contrapontos às discussões, assumindo de maneira informal o papel de "ministro revisor", personificado por Lewandowski no julgamento do Mensalão, mas extinto em 2023 por uma alteração no Regimento Interno da Corte. 

 

As ideias que Fux defende atualmente contrastam com julgamentos penais do passado. Após sua brilhante atuação no Mensalão, o ministro defendeu a Lava-Jato mesmo depois que a Vaza-Jato expôs uma "suposta relação espúria" de Sergio Moro com os procuradores de Curitiba. Em abril de 2021, Fux se posicionou contra a anulação das condenações impostas a Lula pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Em junho de 2022, quando presidia o STF, disse que a anulação foi resultado da análise de questões formais: "Ninguém pode esquecer que ocorreu no Brasil, no Mensalão, na Lava-Jato."

 

Fux intensificou sua relação com Bolsonaro a partir de setembro de 2020, quando assumiu a presidência do STF. No mês seguinte, recebeu o então mandatário para uma "visita de cortesia" que durou cerca de 45 minutos. Bolsonaro elogiou a decisão de Fux de manter preso um dos líderes do PCC, solto por determinação do (hoje aposentado) ministro Marco Aurélio. Sua atitude provocou irritação do colega — até porque não é praxe um ministro suspender a decisão de outro.

No dia seguinte ao encontro, Bolsonaro concedeu a Fux a Ordem de Rio Branco em seu mais alto nível, o grau de Grã-Cruz.

 

Coincidência ou não, os únicos ministros do STF que não tiveram seus vistos revogados pelo secretário de Estado dos EUA foram os bolsonaristas André Mendonça e Nunes Marques... e Luiz Fux — indicado para o tribunal por Dilma em 2011.

 

Aguardemos, pois, os próximos capítulos de mais esse emocionante folhetim tupiniquim.

domingo, 27 de julho de 2025

ROCAMBOLE DE CARNE

BONS ARTISTAS COPIAM, GRANDES ARTISTAS ROUBAM.

A exemplo do bolo de carne — ou "meatloaf", como é chamado nos EUA —, o rocambole de carne é uma receita prática, versátil, perfeita para o almoço em família ou um jantar especial. 


A diferença é que o bolo de carne é moldado em formato de pão e assado na própria forma, e o rocambole, enrolado como o doce homônimo antes de ser levado ao forno. Em ambos os casos, o recheio fica a critério do freguês — presunto, mortadela, queijo, bacon, ovos cozidos, etc. —, e uma fatia média tem de 300 a 350 kcal. 


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A sabedoria convencional ensina que ninguém deve cometer a mesma tolice várias vezes, mesmo porque há fartura de opções. Mas a facção bolsonarista, irritada com a instalação de uma tornozeleira na perna do "mito", acendeu suas fornalhas em pleno recesso parlamentar para reciclar um pacote manjado. A reutilização de asneiras gastas transformou o polo de apoio a Bolsonaro no Congresso numa usina de reciclagem de erros. 

Hugo Motta e Davi Alcolumbre oscilaram entre a impaciência e o mau humor. A Câmara fechou o palco das comissões e colocou no freezer projeto que permitira ao deputado autoexilado votar desde o Texas. O Senado colocou no rumo da gaveta o pedido de impeachment de Moraes feito pelo senador das rachadinhas, panetones e mansões. Os chefes das duas Casas sinalizaram que projetos pró-anistia e anti-Supremo não chegarão ao plenário.

Ao brincar de gato e rato com Bolsonaro, Xandão reafirmou que o réu descumpriu medida cautelar, mas tratou o descumprimento como "irregularidade isolada" e optou por não decretar a prisão preventiva do estrupício. Tecnicamente, a aliança do clã Bolsonaro com Trump já seria motivo suficiente, mas o ministro preferiu as cautelares, acertou na tornozeleira, na reclusão domiciliar noturna e no distanciamento das embaixadas, mas, quanto às redes sociais, produziu uma restrição difícil de ser implementada. Podendo dar o braço a torcer, preferiu repetir que "a Justiça é cega, mas não é tola".

A experiência ensina que um Bolsonaro moderado é personagem fictício, e Moraes como que o convido a testar seus limites ao renovar a ameaça da tranca num despacho redigido com luvas de pelica. Alguém deveria lembrar ao magistrado que gato de luvas não pega rato.


Você vai precisar de:
 
— 500 g de carne moída (sugiro patinho ou coxão mole);
 
— ½ xícara (chá) de farinha de rosca (para deixar a massa firme e moldável);
 
— 1 ovo (para ajudar a dar liga);
 
— 1 cebola pequena ralada (para agregar umidade e sabor);
 
— 2 dentes de alho picados;
 
— Sal e pimenta-do-reino a gosto;
 
— 150 g de presunto (ou mortadela);
 
— 150 g de queijo tipo muçarela (ou prato, fresco, provolone, meia cura, etc.);
 
— Ketchup (ou molho barbecue);
 
— Cheiro verde picadinho, a gosto (opcional)
 
1) Misture a carne, o cheiro verde, o ovo, a farinha, a cebola, o alho, o sal e a pimenta até obter uma massa homogênea. 


2) Abra a massa sobre uma folha de papel alumínio formando um retângulo uniforme e distribua o recheio sobre a carne, deixando uma borda livre nas extremidades.


Enrole como um rocambole, apertando bem para ficar firme, coloque numa assadeira untada, pincele o ketchup (ou o molho barbecue) sobre toda a superfície, cubra com papel alumínio, leve ao forno preaquecido a 200°C por 30 minutos, retire o papel alumínio e deixe assar por mais 15 minutos (ou até dourar).

 
Deixe o rocambole descansar por alguns minutos antes de fatiar e sirva com os acompanhamentos de sua preferência.
 
Dicas:
 
— Para dar um toque de crocância, polvilhe queijo ralado depois de retirar o papel alumínio. E adicionar fatias de bacon ao recheio deixará seu rocambole ainda mais suculento.


— Cenoura ralada e ovos cozidos agregam sabor ao recheio e deixam as fatias mais "coloridas".


— Caso queira usar a airfryer, molde o rocambole num tamanho menor e asse por 25 minutos a 180°C.
 
— Coloque a sobra (se houver) num pote hermético e guarde na geladeira por até 3 dias (ou no congelador por até 3 meses). 


— Quando for consumir, embrulhe em papel alumínio (para preservar a umidade) e reaqueça em forno brando (de 150ºC a 175ºC). 
 
Bom apetite.