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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA — Ó DÚVIDA CRUEL


A POLÍTICA É COMO O ESGOTO. FEDE. MAS A GENTE SÓ SENTE O MAU CHEIRO QUANDO TIRA A TAMPA.

Depois de 21 anos de ditadura militar, Tancredo Neves foi eleito indiretamente primeiro presidente civil da Nova República, mas, por uma trapaça do destino, o político mineiro baixou ao hospital horas antes de tomar posse (e foi sepultado 41 dias e 7 cirurgias depois), de modo que quem despresidiu o Brasil de 15 de março de 1985 até 15 de março de 1990 foi o oligarca maranhense José Sarney, cujo nome dispensa maiores apresentações.

Sucedeu ao macróbio literato o pseudo caçador de marajás — que entrou para a história como o primeiro presidente eleito pelo voto popular da "Nova República" e o primeiro a ser defenestrado por um processo de impeachment. Uma das poucas coisas o "Rei Sol" fez de bom durante sua funesta gestão foi pôr fim à reserva de mercado instituída pelos militares e  liberar as importações. Com isso. nossas “carroças” se beneficiaram de recursos tecnológicos que já eram largamente utilizados em países desenvolvidos, entre os quais a injeção eletrônica de combustível, que substituiu o jurássico carburador e, mais adiante, tornou possível o advento dos motores “Flex”, capazes de funcionar tanto com gasolina quanto com álcool ou a mistura desses combustíveis (em qualquer proporção).    

Foi também graças à tecnologia embarcada que a transmissão automatizada surgiu como alternativa ao câmbio automático (desenvolvido nos anos 1930, mas visto com desconfiança pelos motoristas tupiniquins até não muito tempo atrás, sobretudo pelo custo elevado de manutenção, escassez de mão de obra especializada e expressivo aumento no consumo de combustível). 

Para quem não sabe, a principal diferença entre essas duas tecnologias é que, no câmbio automático, um conversor de torque faz o papel da embreagem, e um sofisticado mecanismo de apoio produz as relações de transmissão que são repassadas às rodas motrizes. Já o câmbio automatizado  que se popularizou aqui por estas bandas a partir de 2007  utiliza os mesmos componentes da versão manual, mas desobriga o motorista de acionar a embreagem e mudar as marchas porque um sistema robotizado se encarrega dessa tarefa (para saber mais, sugiro a leitura desta matéria).

Observação: transmissão automática é preferível à automatizada que equipa os veículos de preço "intermediário" fabricados no Brasil. Como dito, ambas dispensam o pedal da embreagem e dão descanso à perna esquerda do motorista o que é uma benção quando se enfrenta o anda-e-para do trânsito caótico das nossas cidades.

Se você ainda reluta em comprar um carro automático ou automatizado, está mais que na hora de rever seus conceitos. A adaptação é rápida, e quem gosta de conforto dificilmente volta (voluntariamente) ao câmbio manual. Basicamente, tudo que o motorista precisa fazer é ligar o motor, posicionar a alavanca em “D” (drive) e acelerar, pois o sistema se encarrega de selecionar as marchas mais adequadas a cada situação.

Em tese, a vida útil do câmbio automático é superior à do manual, já que o mecanismo sofre menos com os maus hábitos do motorista. Mas é importante não descuidar da manutenção e evitar mudar a alavanca para a posição R (Ré) enquanto o veículo não estiver totalmente imobilizado. Outro mau hábito — muito comum entre os norte-americanos, que tradicionalmente preferem o câmbio automático ao manual — é colocar a alavanca em P (Park) e não acionar o freio de estacionamento. Nessa situação, o “peso” do carro fica “apoiado” na trava do câmbio, que não foi projetada para esse fim. O correto, portanto, é acionar o freio de estacionamento e só então colocar alavanca em P, garantindo a imobilização sem forçar o sistema de transmissão.

Outro erro comum é colocar a alavanca na posição N (Neutro) ao parar no semáforo, até porque a transmissão foi projetada para ser mantida em D — assim, quando o farol abrir, basta soltar o pedal do freio e acelerar. Os modelos mais modernos simulam o neutro (isto é, desconectam o motor do câmbio) depois de 5 segundos, mesmo que a alavanca fique em D. Assim, mudar de D para N e de novo para D no anda-e-para do trânsito não só descaracteriza os propósitos da transmissão automática como contribui para o desgaste dos componentes.

Continua...  

quarta-feira, 23 de maio de 2018

MICHEL TEMER E O BRASIL QUE VOLTOU 20 ANOS EM 2



Com João Santana e Mônica Moura indisponíveis temporariamente, o presidente Temer encomendou a Edinho Mouco um slogan alusivo ao segundo aniversário do seu governo.

Ao buscar inspiração no bordão de Juscelino Kubitschek ― “50 ANOS E EM 5” ―, o marqueteiro chapa-branca saiu-se com o “O BRASIL VOLTOU, 20 ANOS EM 2”, sem atentar para o fato de que a quase insignificância da vírgula, perdida no meio da sentença, produziria o efeito contrário ao pretendido, ou seja, não passaria a ideia de avanço, mas de retrocesso.

O "samba do marqueteiro doido" foi mais um prego no caixão de um governo moribundo, comandado por um Zumbi que ainda fala (ou falava) em disputar a reeleição.

Não se nega que o país melhorou com a deposição da anta vermelha ― que no final de 2015 era uma presidente encurralada, sem autoridade, sem nexo e sem respeito. Nem tampouco que a PEC do teto dos gastos e a reforma Trabalhista foram conquistas importantes. Mas faltou a Previdência, cuja reforma foi adiada sucessivamente porque o governo não tinha (e não tem) cacife político para aprová-la, sobretudo em ano eleitoral. Sem alternativa, Temer mudou de estratégia e decretou a intervenção militar no Rio de Janeiro ― onde os moradores já não são chamados de habitantes, mas de sobreviventes ―, e a PEC da Previdência foi mandada para as calendas, para o espaço, para a ponte que partiu.

Observação: Em 2015, tínhamos também um presidente da Câmara descrito como homem de poderes sobrenaturais (que não o livraram da cassação e da cadeia), um vice-presidente decorativo e um ex-presidente que posava de gênio da política, sempre prestes a “virar o jogo” mediante conchavos milagrosos (e que hoje responde a 7 ações criminais e está cumprindo pena em Curitiba).

Depois que o vice decorativo passou a titular, a economia deu sinais de recuperação: a inflação e a taxa básica de juros recuaram, os índices de desemprego pararam de crescer e reformas importantes para o país começaram a avançar. Mas o tal ministério de notáveis se revelou uma quadrilha de corruptos, e o presidente reformista dos primeiros meses foi abatido em seu voo de galinha por Joesley Batista. O resto é história recente.

Os “sucessos” alcançados nestes dois anos de governo não são tão expressivos quanto a propaganda oficial quer fazer crer. Dentre os alegados ganhos (clique aqui para conferir a lista completa), destacam-se a retoma do crescimento do PIB, a redução da inflação, a liberação das contas inativas do FGTS, a antecipação do saque do PIS-PASEP, a reversão da escalada do desemprego, a Bolsa Família com fila de espera zerada, e por aí vai. Mas os fatos são teimosos e insistem em desautorizar versões mais tendenciosas. Senão, vejamos:

Após terminar 2017 com alta de 1%, o PIB voltou a apresentar retração, puxado pelo mau desempenho da indústria e do setor de serviços;
 Depois de recuar no final de 2017, a taxa de desocupação cresceu 1,3% no primeiro trimestre deste ano, elevando o número de desempregados a 13,7 milhões;
― A despeito dos juros mais baixos e da melhora na oferta de crédito, a construção civil continua patinando (a capacidade ociosa no ramo beira os 40%);
― A indústria também apresenta retração: o fechamento do primeiro trimestre acuou queda de 0,1%, contrariando as expectativas, que eram de 0,5% de alta;
― O setor de serviços, que representa 70% do PIB, caiu 1,5% no primeiro trimestre de 2018 (em comparação com o mesmo período do ano passado);
― Até o ramo de transportes, que costumava ter bom desempenho em períodos de crise, recuou 0,8% no trimestre ― o pior resultado da série histórica.
― Os endividados no Brasil somam, hoje, um recorde de 61,2 milhões, segundo a SERASA ― a principal razão é a inadimplência no cartão de crédito.

Como desgraça pouca é bobagem, Temer deve ser alvo de uma terceira denúncia. E desta vez a balela de revanchismo não cola mais ― se é que algum dia colou ―, pois Raquel Dodge foi escolhida pelo próprio presidente para substituir Janot no comando da PGR

José Yunes, ex-assessor e amigo de Temer há mais de 40 anos, e o coronel PM reformado João Batista Lima Filho, que está mais para laranja do que para lima, respondem a ação penal por participar da organização criminosa que atuava na CEF e em outros órgãos públicos. Eles foram presos no dia 29 de março por ordem do ministro-relator do caso, Luís Roberto Barroso (e libertados na madrugada do dia 1º de abril, depois de prestarem depoimento). 

O ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures o “homem da mala” ― virou réu no final do ano passado e acabou em cana. Geddel Vieira Lima, unha e carne com o presidente, também foi parar na cadeia depois que a PF encontrou R$ 51 milhões em dinheiro vivo no apartamento que ele usava como “bunker” ― semanas atrás, o gorducho virou réu no STF por lavagem de dinheiro e associação criminosa, juntamente com o irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima, e a mamãe metralha, dona Marluce.

Uma das filhas de Temer afirmou, em depoimento, que não guardou os recibos da obra de R$ 700 mil realizada em sua casa, que não se lembra do nome das empresas contratadas e que, a mando de seu pai, procurou o coronel Lima (sempre ele), para acompanhar a reforma.

Observação: O coronel Lima é uma espécie de faz tudo de Temer há 4 décadas, e há quase 2 anos evita prestar depoimento. “Muito doente”, o militar reformado entrou de cadeira de rodas na carceragem da PF e se negou a falar, mas saiu de lá andando normalmente ― e debaixo de chuva.

O depoimento da filhota Maristela pode não ter incriminado o papai Michel, mas não afastou as suspeitas que pesam sobre ele. É por isso, mas não só, que o emedebista desistiu de se candidatar à reeleição (aliás, com míseros 7% de aprovação popular, concorrer seria uma temeridade).

Falando em eleições, a cinco meses do pleito o cenário continua nebuloso: sobram candidatos, mas falta estímulo para o eleitorado (mais de 40% dos pesquisados se dizem indecisos ou propensos a votar em branco ou anular o voto). A polarização da política resultou na descrença generalizada em relação aos políticos e abriu espaço para “outsiders”, que o eleitor vê como tábua de salvação e se agarra a ela, mas afunda na primeira onda.

Mais detalhes na próxima postagem.

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