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domingo, 16 de julho de 2023

TRISTE BRASIL...

 

Sem mandato e inelegível, Bolsonaro responderá por suas investidas golpistas e poderá ser punido também na esfera criminal, onde é alvo de investigações relacionadas ao 8 de janeiro e reunidas no inquérito das milícias digitais. O corregedor do TSE apontou em seu voto uma relação direta entre o discurso que o imbrochável fez contra as urnas, antes da eleição, e os ataques do período pós eleitoral — representados pela minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres. Já o ministro Alexandre de Moraes fez referências às milícias digitais durante o julgamento — o inquérito das milícias digitais reúne todas as investidas golpistas feitas pelo imorrível, bem como sua atuação na disseminação de fake news).

A relação das FFAA com todo esse processo também é objeto da apuração. Depoimentos tomados pela PF no escopo do inquérito das milícias revelam que os generais Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Secretaria-Geral mas com passagem por Casa Civil e Secretaria de Governo, Augusto Heleno, chefe da Abin, aliaram-se ao patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias para atacar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas.
 
Diz-se que os militares foram usados por Bolsonaro, quando na verdade eles se deixaram usar 
 alguns com entusiasmo —, e só não aderiram ao golpe porque o auto comando das Forças Armadas se dividiu. No final de agosto de 2021, generais, almirantes e brigadeiros se puseram de acordo com o golpe que o capitão pretendia aplicar no 7 de Setembro. Ano passado, confirmada a vitória de Lula, o Exército acolheu à porta de seu QG milhares de bolsonaristas que, durante 67 dias, cobraram a anulação do resultado da eleição. 

Segundo documentos do próprio Exército, o ambiente no acampamento comportava toda sorte de delitos — de prostituição e porte ilegal de arma de fogo a consumo de drogas —, e ali foi urdido também o atentado a bomba que visava explodir parte do aeroporto de Brasília. Para que os parentes dos fardados escapassem à prisão na noite de 8 de janeiro, a PM teve autorização para desmanchar o acampamento manhã do dia seguinte.
 
Na seara eleitoral, Bolsonaro ainda responde a15 processos referentes às eleições de 2022. Uma das ações tem como alvo o que foi chamado de "ecossistema de desinformação bolsonarista", e aponta o uso das redes sociais para divulgação de dados inverídicos com finalidade de impactar o pleito. Outra ações miram os ataques ao sistema eleitoral, incluindo as ações da PRF no segundo turno e a concessão de benefícios sociais às vésperas da eleição — como a antecipação do pagamento do Auxílio Brasil e do Vale-GásHá ainda ações envolvendo atos de campanha nas dependências do Palácio do Planalto e do Alvorada, que desvirtuaram a finalidade pública dos prédios.

Na última terça-feira, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente compareceu à CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, mas não respondeu as perguntas dos deputados e senadores. Segundo a coluna de Rodrigo Rangel no portal Metrópoles, Mauro Cid disse a interlocutores que a então primeira-dama 
era de difícil trato no dia a dia. 

De acordo com o ex-ajudante, Bolsonaro detestava que ele pagasse as contas de familiares de Michelle (plano de saúde do irmão, mensalidades da faculdade da irmã, depósitos em contas de outros parentes e entregas de recursos em espécie a integrantes do staff que servia a primeira-dama), mas não havia como deixar de atender os pedidos que chegavam dos assessores dela. 

Cid disse ainda que teve de pagar  boletos do cartão de crédito que a primeira-dama usava, mas era da amiga Rosemary Cardoso Cordeiro; como ela era funcionária do Senado lotada no gabinete do senador bolsonarista Roberto Rocha, ele receava que a história se transformasse em mais um problema para Bolsonaro.

Outros dois inquéritos envolvendo o ex-mandatário devem ser julgados no TSE até o final do ano. Se ele restar condenado, ficará novamente inelegível por oito anos (os prazos correm simultaneamente e são contados 2 de outubro de 2022, data do primeiro turno das eleições). Já numa eventual condenação do TCU, a contagem é feita a partir da data do trânsito em julgado da decisão, o que arrastaria a inelegibilidade do "mito" para além de 2031.
 
A maioria dos pedidos de investigação pendentes contra Bolsonaro
 tem a ver com suas atitudes ao longo do mandato (notadamente durante a pandemia), bem como com as milícias digitais, as joias sauditas e até declarações feitas quando inda era deputado federal. Em fevereiro, dez desses pedidos foram encaminhados para a primeira instância (5 foram apresentados após o ataque contra o STF no 7 de setembro de 2021; os demais tratam de declarações racistas e da realização de uma motociata nos Estados Unidos). 

Também em fevereiro o ministro Luiz Fux enviou para a Justiça Eleitoral um pedido de inquérito apresentado pela PF por suspeita de uso indevido de imagens de crianças e adolescentes, durante a campanha eleitoral, que incitavam o uso de armas. 
 
Longe de mim compactuar com as ideias da patuleia ignara 
 quase sempre nortadas por populismo, corporativismo, autoritarismo, atraso e, claro, muita corrupção  ou da horda bolsonarista. Infelizmente, a derrota do capetão trouxe de volta Lula e o PT, o que é igualmente catastrófico para o país. Para piorar, a corrida presidencial de 2026 já começou. Abundam nomes à esquerda e à direita, o que seria salutar se eles não estivessem umbilicalmente atrelados a Lula e a Bolsonaro

O Brasil é muito grande para continuar refém do atraso, e os milhões de eleitores que não votaram em nenhum dos dois prova que é possível, sim, uma "terceira via". Só que para isso exigiria uma agenda e um projeto verdadeiramente novo, sem o que teremos a repetição ad aeternum dessa lamentável ladainha.

terça-feira, 18 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — CAPÍTULO ESPECIAL

TUDO DEPENDE DE COMO VEMOS AS COISAS, NÃO DE COMO ELAS SÃO.

 

Mencionei várias vezes ao longo desta sequência que viajar tempo como nos filmes de ficção científica é matematicamente possível, mas que, como os táquions e os buracos de minhoca, essa possibilidade permanecerá no campo das conjecturas até que surjam evidências concretas — como ocorreu com os buracos negros, com a antimatéria, e com o conceito de tempo negativo, que deixou de ser mera especulação depois que pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, demonstraram sua existência física tangível."

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

No último domingo, a pouco mais de uma semana de virar réu e acossado pela proximidade da cadeia, Bolsonaro discursou para cerca de 18,3 mil apoiadores em Copacabana. Mesmo bem aquém das 500 mil pessoas que os organizadores esperavam reunir, a adesão deixou claro que a liderança política do "mito", mesmo declinante, ainda não desapareceu. Mas nem por isso o Sol brilhará para o bolsonarismo, o centrão se reaproximará ou a prisão sumirá do horizonte. 
Em vez de escamotear, o ato expôs o drama do capetão em toda a sua crueza. Ficou entendido que o pedaço do conservadorismo que rosna para Lula nas pesquisas não se confunde com o bolsonarismo que ronrona nas ruas para Bolsonaro. Nas eleições municipais de 2024, o voto conservador já havia se afastado do capetão nas cidades em que encontrou um caminho alternativo. Nenhum dirigente partidário deu as caras no palanque da praia, exceto Valdemar Costa Neto. Mas Bolsonaro discursou como se a anistia estivesse no papo. "Todos os partidos estão vindo", disse ele. "Tinha um velho problema e resolvi com o Kassab. Ele está ao nosso lado com a sua bancada..." O dono do PSD preferiu não comentar, pois o seu partido está longe de qualquer tipo de unanimidade. 
Já Tarcísio de Freitas, único presidenciável de direita presente no evento, rimou "ovo caro" com "volta Bolsonaro". Usando a carestia como mote, o governador paulista fez da defesa protocolar de uma candidatura inexistente a plataforma de suas próprias pretensões nacionais. Foi como sinalizasse que não resta ao padrinho senão apoiá-lo o quanto antes, para continuar sonhando com um indulto presidencial capaz de livrá-lo da cadeia.
Na oratória de Bolsonaro, a menção aos encrencados do 8 de janeiro é mero adorno de uma proposta de anistia preventiva concebida para beneficiá-lo. Repetiu que não houve trama golpista. Se fosse verdade, teria levado ao Supremo uma defesa prévia que dispensaria o desespero do palanque.
No fim das contas, pouco importa se havia 18 mil pessoas, como informou o grupo de pesquisa da USP, ou 30.000, como indicou o Datafolha — a PM do Rio de Janeiro não explicou como contabilizou 400 mil participantes, talvez por não haver como chegar a esse número. Importa que Bolsonaro apostou em sua capacidade de engajamento e perdeu. 
A julgar pelo ato, a anistia definitivamente não é uma preocupação nacional popular, e não provoca engajamento. Se toda a narrativa sensacionalista criada em torno dos presos condenados pelo ataque no 8 de janeiro tinha a intenção de ser testada para demonstrar a força que o ex-presidente tem no jogo político, ela falhou desgraçadamente. No mundo real, Bolsonaro não é o mártir que diz ser, e ele sabe que precisará mais do que a bajulação de Silas Malafaia para continuar sendo relevante politicamente.

Toda disciplina tem seu jargão, e a astrofísica não foge à regra. Na gramática, podemos confundir "análise sintática" com "análise morfológica e "hipérbole" com "hipérbato", por exemplo. Já o "juridiquês" soa tão misterioso para a maioria de nós quanto a "rebimboca da parafuseta" que o mecânico culpa pelo mau funcionamento do carro. Assim, achei por bem acrescentar este capítulo para tentar explicar como equações matemáticas (como aquelas que os cientistas dos filmes de ficção rabiscam febrilmente em enormes quadros-negros) podem levar a essas previsões. 

Na física, a matemática não é apenas um conjunto de números e símbolos abstratos. Ela funciona como uma linguagem precisa para descrever as leis do universo. Desenvolver equações baseadas em princípios já testados permite aos físicos sugerir possibilidades que ainda não foram observadas. Uma equação que descreve como um objeto se move quando é lançado para cima, por exemplo, pode ser manipulada para prever o que aconteceria se o objeto fosse lançado em um planeta com gravidade diferente. Mesmo sem ir até lá, é possível prever o comportamento do movimento.
 
Em um nível mais avançado, as equações da Relatividade Geral demonstraram como o espaço e o tempo se curvam na presença de massa e energia, e a partir delas os físicos perceberam que certos fenômenos extremos podem existir, mesmo que não tenham sido observados diretamente. Foi assim que os buracos negros foram previstos décadas antes de serem detectados, e o mesmo acontece com os táquions — partículas hipotéticas que se moveriam mais rápido que a luz —, com os buracos de minhoca — atalhos no espaço-tempo — e até com as curvas fechadas do tipo tempo — trajetórias que voltam ao ponto de onde partiram.
 
Essas soluções matemáticas não são provas experimentais, mas indicam que esses fenômenos são compatíveis com as leis da física. A menos que algum princípio ainda desconhecido pela ciência impeça sua existência no mundo real, comprová-los costuma ser apenas uma questão de tempo 
 
Mesmo que nossa limitada tecnologia não permita viagens no tempo como as que a gente vê nos filmes, as equações matemáticas sugerem que, pelo menos em tese, elas são possíveis dentro das leis físicas conhecidas. Aliás, uma das equações mais conhecidas de Einstein, que se tornou um "sinônimo" da relatividade é E=mc² — onde E = energia; m = massa; e c = velocidade da luz no vácuo —, que descreve a equivalência entre massa e energia. 
 
Antes de Einstein, a física clássica tratava a energia e a massa como grandezas independentes. Na mecânica newtoniana, massa pode ser descrita como a quantidade de matéria que compõe um corpo, e a energia, definida como a capacidade de realizar trabalho ou de provocar mudanças no estado de um sistema. 
 
A equivalência massa-energia descrita por Einstein revolucionou a física, pois unificou duas grandezas que eram consideradas completamente distintas até então. Na prática, a fórmula diz que qualquer objeto que possua uma quantidade finita de massa também contém uma quantidade muito grande de energia, mesmo em repouso, além de relacionar as duas grandezas de forma que a massa pode ser convertida em energia e vice-versa.  
 
No próximo capítulo, retomaremos a sequência do ponto em que paramos no post da última sexta-feira.     .

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

NO TEMPO EM QUE A TERRA AINDA ERA REDONDA...

 
No tempo em que a Terra ainda era redonda, os valores pareciam mais nítidos. Na hierarquia militar, o presidente da República, comandante-em-chefe das Forças Armadas, era superior a tenente-coronel, e ajudante de ordens cumpria ordens. 

Na Presidência da Terra plana, Bolsonaro — que o general Ernesto Geisel definiu como "um mau militar" — disse que o tenente Mauro Cid "tinha autonomia", contrapondo-se ao fator da subordinação alegado pela defesa. O acordo de colaboração do ex-esbirro está sob sigilo, mas as investigações apontam o ex-amo como mentor e beneficiário de um esquema internacional de venda de joias e o ex-vassalo e seu papai como os principais operadores. 

Em privado, o imbrochável diz que não contava com a "deserção" do ajudante, mas seu abatimento — comparável ao da derrota nas urnas — surpreendeu apoiadores. Em meio a esse breu, o PL encomendou uma pesquisa para estimar os danos, e o "mito", que que sempre falou dez vezes antes de pensar, passou a medir as palavras, como se tivesse uma régua no lugar da língua. O problema é que a língua de Cid se desprendeu da coleira.

Em algum momento, Bolsonaro terá que decidir se quer ser um capitãozinho-poodle ou o velho pitbull de sempre. Quando da prisão de Cid, ele afirmou que cada um deveria seguir a sua vida. Quando a PF escancarou o comércio das joias, disse que o ex-auxiliar tinha autonomia. Agora, com os dois pés na ficção, afirma não ver a hora de abraçá-lo — mas não esclarece se será um abraço de urso ou de tamanduá.

Quem ouve dizer que o 8 de Janeiro não foi uma tentativa de golpe fica com a sensação de um passageiro que sobrevoa a história sabendo que sua bagagem viaja em outro avião. Com as sentenças draconianas impostas aos três primeiros condenados pelos atos terroristas, o STF como que unificou o voo da história, colocando os brasileiros e a carga radioativa do governo anterior na mesma aeronave. Para nove das 11 togas, o objetivo da turba era reverter o resultado das urnas mediante um golpe de Estado (foram empurrados para a borda da Terra plana os ministros bolsonaristas Nunes Marques e André Mendonça).

Foi fácil militarizar a política; difícil, agora, é desbolsonarizar os militares. Segundo o Datafolha, 6 em cada dez brasileiros acreditam que as Forças Armadas meteram-se em irregularidades, e a reversão de uma urucubaca tão disseminada exige mandinga mais forte do que o lero-lero de "separar o joio do trigo". Os resultado da pesquisa faz sentido, pois os fardados se deixaram cavalgar por um capitão que o general-ditador que começou a desmontar a ditadura definiu como "um mau militar". 

Hoje, a vida pública se reduz novamente a uma dimensão de caserna. Altas nomeações políticas dependem da confiança num antigo companheiro de guarnição. Sob Bolsonaro, o Estado tornou-se quartel, e o pedaço que viu no mandatário de fancaria a chance de "salvar a sociedade do comunismo" conferiu péssima fama à ala da Caserna que manteve os pés na democracia. 

O 8 de Janeiro entra para os compêndios de história como o golpe que falhou porque o candidato a tiranete não conseguiu o apoio de "seu Exército" e de "suas Forças Armadas." Mas há mãos fardadas em todas as cumbucas — da trama golpista ao comércio de joias; da pazuellização da Saúde à falsificação de cartões de vacina; do ataque sistemático ao sistema eleitoral às visitas do picareta de Araraquara à pasta da Defesa. Ao testemunhar em silêncio as extravagâncias de Bolsonaro, a banda muda do Alto-Comando das FFAA como que se aliou às multidões que acamparam na porta dos quartéis para pedir intervenção militar. 
 
É natural que o brasileiro tenha dificuldade para distinguir general de generalidades. Especula-se que as desculpas esfarrapadas das Forças Armadas não conseguirão vestir nem 5% dos segredos que o tenente-coronel Mauro Cid deve incluir em sua delação. 

Aos olhos da população, os milicos ficaram muito parecidos com um típico político brasileiro .

Com Josias de Souza

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

SOBRE A MANIFESTAÇÃO DO ÚLTIMO DOMINGO


Se ainda restavam dúvidas de que a extrema-direita é uma espécie de gênio do mal que não volta mais para a garrafa, elas foram dissipadas no último domingo por um número extraordinário de rato dançando ao som da flauta do "golpista de Hamelin" ao longo de 7 quadras da mais paulista das avenidas. Como o dono do circo franqueou o ingresso, as estimativas de público variam de algumas dezenas de milhares a quase um milhão

Mestre de cerimônia da função, o mesmo Bolsonaro que comparou sua vitória em 2018 a uma "cagada do bem" e exortou seus paus-mandatos a "virar a mesa" acedeu ao picadeiro, digo, subiu no carro de som e discursou num timbre de ex-BolsonaroEmbriagado de si mesmo, o orador disse que é preciso "passar uma borracha" no passado e anistiar os "pobres coitados" condenados pelo 8 de janeiro. 

O chamamento à mobilização por anistia aos selvagens (e por extensão ao próprio ex-presidente, que, assim, se inclui na roda dos defensores da ruptura) não tem a menor chance de prosperar: ainda que tivesse apoia da sociedade, não passaria pelo Congresso; se passasse, morreria no STF.

Observação: Convém lembrar que o alimento do bolsonarismo raiz é a agressividade. A exacerbação de ânimos é o seu motor, que perde tração quando chamado à moderação — que precisará ser duradoura se o capitão da tropa não quiser se complicar ainda mais e afugentar políticos que só subiram no trio elétrico porque a promessa era de fogo baixo.
 
A lengalenga do devoto da cloroquina (tome um Plasil e clique aqui para ver o vídeo) não só explicitou sua intenção de salvar a própria pele como deu a impressão de que ele se vê numa posição parecida com a de Lula em 2017, quando o STF avalizou sua prisão e o TSE o declarou inelegível. Isso sem mencionar que o apego oportunista à serenidade evidencia (não que pairassem dúvidas) a má intenção do ex-mandatário quando, confirmada sua derrota nas urnas, encastelou-se no Alvorada e, 40 dias depois, picou a mula para os EUA, onde aguardou, homiziado na cueca do Pateta, o desenrolar dos acontecimentos urdidos aqui por seus comparsas de conspirata golpista. 

Quem sabe ouvir nas entrelinhas percebeu que o sonho de Bolsonaro é evitar que seus piores pesadelos se tornem realidade  ou por outra, sonhar o mesmo sonho que o Lula realizou ao saltar do degredo judicial para um novo mandato no Planalto. A alturas tantas, o discursante como que calçou os sapatos do petista: "Não podemos pensar em ganhar as eleições afastando os opositores do cenário político." A lamúria contém um quê de ridículo, já que o lamuriento foi o grande beneficiário da exclusão do adversário das urnas em 2018. 

Coube a Tarcísio de Freitas reforçar a analogia afirmando que seu padrinho político "já não é apenas uma pessoa, tornou-se a personificação do movimento que lotou a Paulista", e que representa "todos aqueles que descobriram que vale a pena brigar pela família, pela pátria, pela liberdade." Lula soou parecido horas antes de se entregar à PF, em 2018. Ao discursar para a militância, declarou: "Eu não sou um ser humano, sou uma ideia" — uma "ideia" que passou 580 dias na cadeia, mas que a Vaza-Jato livrou das sentenças e que os quatro anos ruinosos de Bolsonaro ajudaram a compor o "arco democrático" que lhe deu o terceiro mandato. 

A diferença é que o pesadelo do ex-presidente golpista é 100% construído no STF, e que lhe falta um hacker para invadir as comunicações do ministro Alexandre de Moraes e quatro anos de uma gestão tão ruinosa quanto a sua (pior seria impossível). Mas o mais provável é que ele seja acordado desse sonho pela voz de prisão de um agente da PF.

Discursando em defesa de Bibo Pai, Bobi Filho perorou que "o inquérito conduzido por 'Xandão' é um grande teatro". Vale lembrar que foi sob a presidência de Moraes que o TSE condenou o filho do pai (não uma, mas duas vezes) a oito anos de inelegibilidade. Se for condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, Bolsonaro terá de se candidatar para um cargo no inferno (como ele completa 69 anos daqui a menos de um mês e pode amargar 23 anos de prisão e ser banido das urnas por mais de 30...). 

Observação: O castigo cairia sobre a biografia do "mico" das rachadinhas e das mansões milionárias como uma lápide, o que explica esse apreço momentâneo e oportunista pela "pacificação" e esse desejo incontido de manusear uma "borracha" capaz de apagar seu passado criminoso. 
 
Moraes vê a bandeira branca içada pelo capetão como um flerte com o apaziguamento que deu asas ao regime nazista de Hitler. A referência histórica encosta a tentativa de golpe no Brasil na Conferência de Munique. No despacho em que determinou o afastamento de Ibaneis Rocha do governo do DF, o ministro anotou que a democracia brasileira não irá mais suportar a ignóbil politica de apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo do então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain com Adolf Hitler. Ao
 assegurar que todos serão responsabilizados civil, política e criminalmente pelos atos atentatórios à democracia e às instituições, ele evoca uma das célebres frases de Churchill: "Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado." 

Observação:O destrambelho seletivo de Bolsonaro não só desnuda suas intenções anteriores como evidencia quão escassos são seus instrumentos de reação em busca de proteção — que, na real, se resumem a apenas um: a fotografia da multidão que não aliviará em um milímetro as agruras judiciais dele e de seus cúmplices. Quando ordenou a batida de busca e apreensão nos endereços do deputado bolsonarista Carlos Jordy, Moraes pontuou que "a democracia brasileira não será submetida à ignóbil política de apaziguamento à moda de Chamberlain" Ou seja: se depender do togado, o desejo do capitão de "passar uma borracha no passado" será tratado como uma tese natimorta.
 
Ao reiterar seu apoio ao padrinho político, Tarcísio de Freitas desperdiçou a melhor chance que a conjuntura já lhe proporcionou para se credenciar como alternativa política da direita civilizada. Ser grato pela ascensão ao governo de São Paulo é uma coisa, esticar o convívio com alguém que coleciona inquéritos criminais é outra. Ele disse que atendeu a convocação para "celebrar o verde e amarelo, o amor ao nosso país, o Estado Democrático de Direito", mas na verdade ascendeu ao picadeiro como coadjuvante de um número apoteótico concebido por um golpista contumaz para posar de vítima. Herdeiro potencial dos votos que levaram Bolsonaro ao Planalto em 2018, o afilhado soa como se acreditasse que o sonho do padrinho de liderar a direita que retirou do armário em 2018 continua intacto. Só que não.
 
A direita paleolítica que congestionou a Paulista já havia demonstrado no 8 de janeiro quão profundas são suas raízes, mas a direita civilizada que ajudou a defenestrar Bolsonaro em 2022 continua órfã de uma alternativa que o ora inquilino do Palácio dos Bandeirantes se recusa a personificar. Se ele espera que o
 Messias que não miracula o declare seu herdeiro, deve puxar uma cadeira. Ou um ronco, pois o discurso do padrinho deixa clara sua pretensão de voltar às urnas. Mas o detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que o mesmo STF que propiciou a Lula o sonho da anulação das sentenças está prestes a impor a Bolsonaro o pesadelo da condenação.

Faltou ao governador perspicácia para traçar um risco no chão, separando sua biografia dos crimes atribuídos àquele emporcalhou o principal cartão postal de Sampa com o rastro pegajoso de meia dúzia de processos à espera da suprema sentença — além da tentativa de golpe, há o escândalo das joias sauditas, a fraude no cartão de vacinas, as perversões da pandemia, o vazamento de inquérito sigiloso e o aparelhamento da PF. Abstendo-se de estabelecer a fronteira a partir da qual não avançaria e encerrando seu discurso com um "muito obrigado, Bolsonaro, sempre estaremos juntos", Tarcísio vincula-se aos indiciamentos, denúncias, ações penais e sentenças que estão por vir. Enfim, a vida é feita de escolhas, escolhas têm consequências, e as consequências sempre vêm depois.
 
Ricardo Nunes não discursou, mas o fato de ter participado da arlequinada bolsonarista ensejou críticas de seus principais adversários na disputa pela prefeitura paulistana. Guilherme Boulos classificou de "vergonhoso" alguém que se elegeu vice do democrata e anti-bolsonarista Bruno Covas defender um ataque à democracia; Tábata Amaral não só lamentou que o evento tenha sido um incentivo à polarização como acusou o o prefeito de "topar qualquer negócio para se manter no cargo".
 
Valdemar Costa Neto — que se amancebou com o verdugo do Planalto a despeito dos prejuízos de encampar a extrema direita e sua luta antidemocrática contra as urnas eletrônica — é um jogador de grandes tacadas, e sabe que ganhar ou perder faz parte do jogo. Mas sua aposta só se sustenta porque a mídia e os adversários continuam a dar palanque a Bolsonaro.
 
Em qualquer democracia que se dá ao respeito, a incompetência não funciona como atenuante em golpes fracassados. No Brasil, a justiça não só tarda como muitas vezes não chega, e políticos poderosos sempre acham um caminho para contornar obstáculos (volto a lembrar o caso de Lula, que foi condenado, preso, descondenado, reabilitado politicamente e eleito presidente da banânia pela terceira vez). 
 
É difícil alguém chegar a algum lugar por meio de uma sucessão de derrotas e lances equivocados. Esse privilegio é exclusivo de fanáticos religiosos que veem os sofrimentos como degraus da longa escadaria que leva ao reino dos céus. E não me consta que a Papuda seja exatamente o Paraíso.

A conferir.

sábado, 30 de setembro de 2023

O JACARÉ E O COELHINHO BRANCO

O Brasil jamais se notabilizou pela qualidade de seus governantes, e o motivo foi cantado em prosa e verso por Pelé e por João Figueiredo durante a ditadura militar. Em 1984, pressionada pelos militares, a Câmara Federal sepultou a Emenda Dante de Oliveira, mas a mobilização popular seguiu firme e forte e, em janeiro do ano seguinte, Tancredo Neves foi eleito presidente por um colégio eleitoral, mas baixou ao hospital horas antes da posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois, levando para a tumba as esperanças do povo brasileiros.


Com a morte de Tancredo, o oligarca maranhense José Sarney desgovernou o país até 15 de março de 1990, quando entregou o cetro e a coroa a Fernando Collor (o caçador de marajás de araque que derrotou o desempregado que deu certo na primeira eleição direta desde 1960). Com a condenação do "Rei-Sol" no primeiro impeachment da "Nova República" (em dezembro de 1992), o vice Itamar Franco foi promovido a titular e nomeou Fernando Henrique Cardoso Ministro da Fazenda.


FHC e sua equipe de notáveis gestaram e pariram o Plano Real, cujo sucesso ensejou a vitória do tucano no primeiro turno do pleito presidencial de 1994. Três anos depois, picado pela mosca azul, sua excelência comprou a PEC da Reeleição e tornou a derrotar Lula em 1998. A maré mudou em 2022: na quarta tentativa seguida, o demiurgo de Garanhuns conseguiu se eleger presidente, dando início ao jugo petista que seria interrompido 13 anos, 4 meses e 11 dias depois, com afastamento de Dilma


Com a deposição da gerentona de festim, o país voltou a ter na presidência alguém que falava português sem exterminar o plural nem descambar para o "dilmês". Mas nuvens negras surgiram surgiram no horizonte quando o ministério de notáveis prometido por Temer revelou-se uma notável confraria de corruptos, e tempestade desabou quando o jornalista Lauro Jardim revelou uma conversa mui suspeita entre o vampiro do Jaburu e certo moedor de carne com vocação para delator e estúpido a ponto de delatar a si mesmo.


Despido do manto da moralidade, o nosferatu tupiniquim cogitou renunciar, mas, dissuadido por sua entourage, anunciou num pronunciamento à nação que não renunciaria, e que a investigação no STF seria "o terreno onde surgiriam as provas de sua inocência". Ato contínuo, lançou mão de toda sorte de artimanhas para escapar da cassação. 


Como o Diabo sempre cobra sua parte no pacto, Temer se tornou refém do Congresso e claudicou pela conjuntura como pato manco até janeiro de 2019, quando transferiu o cargo para aquele que seria o pior mandatário que o Brasil já teve desde a chegada de Cabral. 

 
Vinte e um anos se passaram do golpe de 64 à volta dos militares à Caserna, mas poucos meses bastaram para Bolsonaro trazê-los de volta e transformar o Estado em quartel. O pedaço que viu nele a chance de "salvar a sociedade do comunismo" conferiu péssima fama à ala das Forças Aramadas que manteve os pés na democracia, e a reversão de uma urucubaca tão disseminada exige mandinga mais forte do que o lero-lero de "separar o joio do trigo".  A intentona de 8 de Janeiro só não deu certo porque porque o aspirante a tiranete não conseguiu o apoio de "seu Exército" e de "suas Forças Armadas"

Observação: Depois que a PF descobriu que fardados de alto coturno (como o almirante Almir Garnier) foram coniventes com o projeto autoritário do "mito", o Datafolha apurou que 6 em cada dez brasileiros acham que as Forças Armadas se meteram em irregularidades por se deixarem cavalgar pelo ex-capitão que o general Ernesto Geisel bem definiu como "mau militar". 


É inegável que mãos fardadas apalparam todas as cumbucas, da trama golpista ao comércio de joias; da "pazuellização" da Saúde à falsificação de cartões de vacina; do ataque sistemático ao sistema eleitoral às visitas do picareta de Araraquara à pasta da Defesa. E que, ao testemunhar em silêncio as extravagâncias do capetão, a banda muda do Alto-Comando das FFAA como que se aliou às multidões que acamparam na porta dos quartéis para pedir intervenção militar.

 

Segundo a PF, o tenente-coronel Mauro Cid revelou em sua delação que: 1) após a derrota nas urnas, Bolsonaro se reuniu com integrantes da Marinha para discutir uma proposta de golpe; 2) além de militares, participaram do encontro integrantes do chamado "Gabinete do Ódio"; 3que a minuta discutida na reunião tratava de uma série de ilegalidades, mas não é possível afirmar que fosse a mesma encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres; 4) que a proposta de golpe foi recebida com entusiasmo pelo representante da Marinha, mas o Exército ficou mais reticente; 5) que o plano não foi adiante por causa da falta de adesão.

 

Como disse alguém, "se tem boca de jacaré, dentes de jacaré, couro de jacaré e rabo de jacaré, não deve ser um coelhinho branco". 

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A MENTIRA É UMA VERDADE QUE SE ESQUECEU DE ACONTECER


O leitor certamente já ouviu falar em "
tirar castanha com a mão do gato" (se não ouviu, é só clicar aqui). Pois foi exatamente isso que Bolsonaro fez, no último domingo, ao usar o o pontifex maximus da Assembleia de Deus Vitória em Cristo para fazer o que ele próprio não teve peito de fazer: acusar o TSE e o STF de orquestrar "uma engenharia do mal" para prendê-lo. Até os puxa-sacos do "mico" reconheceram que o sermão saiu do tom, mas o "pastor" manteve a pose: "Eu desafio qualquer um a dizer qual é a fake news, qual é a mentira e qual é o ataque. Só mostrei fatos e falei a verdade" disse Silas Maracutaia ao Poder360. 

Bolsonaro insultou nossa inteligência ao dar à "minuta do golpe" uma explicação na qual nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria. Mas Paulo Cunha (um dos responsáveis pela defesa do capetão) o superou ao dizer seu cliente só tomou conhecimento do documento quando já não era mais presidente, e sua fala "não reforça em nada a investigação". Aliás, a PF parece discordar, pois vai incluir a declaração no inquérito e usá-la como prova contra o investigado. 

Mas não foi só. Na quinta-feira 22, perguntado sobre os 15 minutos de silêncio que Bolsonaro concedeu à PF à guisa de depoimento, Cunha afirmou que ele seu cliente "não cometeu nenhum delito e nunca foi simpático a qualquer tipo de movimento golpista". Pausa para as gargalhadas.

Mudando de assunto, não se pode aceitar com naturalidade a relação promíscua entre religião e Estado, sobretudo em num estado laico. E livrar de impostos os polpudos ganhos de pastores e assemelhados é escarnecer dos "contribuintes" (entre aspas, pois "contribuir" só orna com "imposição" num país que trata salário como renda para fins de tributação). 

Ricardo Kertzman anotou em sua coluna: "Não bastasse a 'bancada evangélica' lutar com a faca nos dentes e sem crucifixo nas mãos por cada vez mais poder, 'pastores' financiados pela democracia pregam abertamente de seus púlpitos a cisão social motivada pela política." Isso não vem de hoje, naturalmente, mas o quadro se agravou na gestão do Messias que não miracula. 

O problema é que os "pastores" as "ovelhas", e todo esse rebanho vota. Haddad e seu chefe não perdem uma única oportunidade de acusam os "super ricos" de não serem tributados como deveriam (mais uma mentira populista e demagoga do PT), mas se curvam bovinamente à imunidade tributária das igrejas e seus donos.

No picadeiro da Paulista, Malafaia e Michelle trombetearam que "a igreja vai entrar pra valer na disputa eleitoral". Até uma toupeira vê abuso de poder econômico nessa parada. Como bem ironizou o colunista retrocitado, "o diabo é que, em nome do Senhor, tudo pode e é permitido aos engravatados de Deus em Brasília, pois não há Cristo  que interfira nisso". 

Na quinta-feira 22, o ex-ministro da Justiça que encheu Lula de orgulho ao se declarar "socialista, comunista e marxista" vestiu a suprema toga e depois foi à missa. A posse foi discreta, mas o rega-bofe reuniu cerca de 900 convidados — entre eles Davi AlcolumbreJuscelino FilhoRenan Calheiros, Fernando CollorIbaneis Rocha e Romero Jucá. Já o comedimento, a impessoalidade e a prudência foram impedidos de entrar.  

 

Juscelino — que continua ministro das Comunicação de Lula — responde a processo por supostos crimes de desvios de dinheiro público quando era deputado federal pelo Maranhão (estado natal de Flávio Dino). 


Alcolumbre — ex-presidente do Senado — é investigado em dois inquéritos por supostos crimes de "rachadinha" em seu gabinete (assim como o caso envolvendo Juscelino, a relatoria ficará a cargo de Dino). 


Calheiros é freguês de carteirinha do STF, inclusive por condutas delituosas supostamente praticadas no âmbito do Postalis. Collor foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava-Jato (o julgamento de seus embargos de declaração foi suspenso por um pedido de vista de Dias Toffoli).


Collor foi condenado  (em maio do ano passado) a 8 anos e 10 meses de reclusão. Quase 8 anos separam a denúncia da condenação, e mais um transcorreu até os embargos de declaração do caçador de marajás de festim começarem a ser apreciados no escurinho do plenário virtual, longe dos refletores da TV Justiça. Na véspera do Carnaval, assim que Moraes votou pelo indeferimento do recurso, Toffoli vestiu a fantasia de paladino e emperrou o julgamento com um pedido de vista. 


Ibaneis é investigado por "suposta" atuação nos atos golpistas do 8 de Janeiro. Ele foi afastado do comando do governo do DF em janeiro do ano passado, mas reassumiu o posto dois meses depois (Moraes acolheu o parecer da PGR segundo o qual volta ao cargo não prejudicaria as investigações).


Jucá — um dos caciques do MDB — é alvo de inquérito por ter sido um dos beneficiados por suposto recebimento de propina da Odebrecht (o caso, que envolve também Calheiros, tramita no STF desde 2017). 

 

Ao longo da companha pela suprema poltrona, Dino prometeu atuar como guardião da Constituição e facilitador do diálogo entre os Poderes. Se honrar essas promessas, terá muitos impedimentos pela frente. Da fala do ministro Barroso, presidente de turno do STF, Carlos Andreazza extraiu o seguinte trecho: "A vida é dura, mas é boa, porque nos dá o privilégio de servir ao país, sem nenhum outro interesse que não seja fazer um Brasil melhor e maior", e comentou que a vida boa oferece muitos privilégios, não raro ofertados por quem — à custa de vidas duras — se serve do Brasil e tem interesse em fazer do país patrimônio privado ainda melhor e maior.

 

A pergunta é: Dino deixará de ser agente político? A resposta pode estar na forma como ele se comportou desde que foi chancelado pelo Senado, em dezembro: em vez de se desligar do Ministério da Justiça e da atividade política, o político maranhense escolheu participar/influir na transição do cargo para Ricardo Lewandowski e voltar ao Parlamento para apresentar projetos — de onde saiu um dia antes de vestir a toga. 


Se gostasse de apostas e tivesse tostão para apostar, Andreazza apostaria que o senador eterno será — anomalia natural (o oximoro se impõe) numa Corte constitucional que se dilata sobre a República — ministro-líder do governo num Tribunal há muito à vontade para ser o terceiro turno parlamentar. Em suma, uma escolha pós-Lewandowski que Lula fez para ter um  "Xandão" pra chamar de seu.


Triste Brasil.