UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
domingo, 21 de junho de 2020
MAIS SOBRE A NOVELA FABRÍCIO QUEIROZ/FAMIGLIA BOLSONARO
terça-feira, 23 de junho de 2020
MAIS SOBRE A NOVELA QUEIROZ/BOLSONARO(S) — PARTE 3
Faltou combinar com o MP-RJ, que decretou a prisão da cara metade do fantasminha camarada e pediu que seu nome fosse incluído na lista dos procurados da Interpol... E agora, José, digo, Jair?
"Jair e Flavio Bolsonaro têm mais um problema pela frente. E não é pequeno. É um problema de quase dois metros de altura e que está se sentindo humilhado e com raiva: Frederick Wassef, o advogado de Flavio Bolsonaro e ex-hospedeiro de Fabrício Queiroz, está possesso. Sente-se abandonado. De acordo com relatos de pessoas próximas, sentiu-se traído e achincalhado com a nota oficial assinada pela advogada Karina Kufa, desmentindo que ele algum dia tenha sido advogado do presidente. Wassef tem reclamado de modo acerbo e raivoso de Bolsonaro. Além de ter detestado que fatos do seu passado e também velhas histórias de Cristina Boner, sua ex-mulher, mas de quem ainda é muito próximo, terem sido remexidos em meio ao furacão da prisão de Queiroz".
quarta-feira, 14 de junho de 2023
DE VOLTA AO NEGÓCIO DO JAIR
Em "O Negócio do Jair — A História Proibida do Clã Bolsonaro", Juliana Dal Piva relata que o ex-presidente lançou mão dessa prática tão logo se elegeu deputado federal, fazendo escola para os filhos Flávio, na Alerj, e Carlos, na Câmara Municipal do Rio. Mas a maracutaia só ganhou destaque no final de 2018, quando o Estadão publicou que o Coaf havia identificado movimentações atípicas na conta de Fabrício Queiroz.
Queiroz se tornou íntimo de Jair nos anos 1980 e prestou serviços ao clã até outubro de 2018, quando Zero Um, informado por um delegado da PF de que a Operação Furna da Onça seria "segurada" para não respingar na campanha presidencial, exonerou o assessor e recomendou ao pai que fizesse o mesmo com Natália Queiroz, filha de Fabrício, que figurava na folha de pagamento do gabinete de Jair na Câmara, mas trabalhava como personal trainer no Rio de Janeiro.
Em entrevista a Veja, "Jacaré" — outro velho amigo de Jair — revelou que Ana Cristina Valle, segunda esposa do então deputado e mãe de Jair Renan, era responsável pela contratação de "funcionários fantasmas" no gabinete do marido e dos filhos. A separação do casal produziu montes de dinheiro: entre 2019 e 2022, madame movimentou R$ 9,3 milhões e comprou uma mansão em Brasília avaliada em R$ 2,9 milhões, embora seu salário fosse de R$ 6,2 mil mensais.
A novela Flávio/Queiroz teve inúmeros desdobramentos e foi interrompida diversas vezes — tanto por intervenções diretas do então presidente quanto por decisões de magistrados camaradas. Entre os episódios mais emocionantes, vale relembrar as explicações estapafúrdias dos envolvidos, o vídeo em que Queiroz aparece dançando no quarto do Hospital Albert Einstein (onde estava internado para tratar de um câncer no intestino) e o pagamento em dinheiro vivo de R$ 133,6 mil (referentes aos honorários médicos e serviços de hotelaria) feito pelo sambista de enfermaria.
O inquérito que sobre as rachadinhas foi arquivado com base no "mandato cruzado" — quando o parlamentar deixa de ocupar um cargo eletivo para assumir outro em uma casa legislativa diferente (o STJ anulou as provas e o STF manteve a decisão). Consta que a investigação prossegue, mas em sigilo, e que o primogênito do ex-presidente tinha planos de disputar a prefeitura do Rio no ano que vem, mas foi demovido por seu papai.
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
PONTOS A PONDERAR, A ESTRANHAR E A REPUDIAR
O fanatismo cego e a estúpida dicotomia gestada pelo “nós contra eles” sempre foram o grande responsável pela fé inabalável que a récua de muares descerebrados têm no sumo pontífice do lulopetismo. De um tempo a esta parte, no entanto, efeito parecido vem sendo observado na capela de sectários do bolsonarismo. E o que mais causa espécie — para não dizer asco — é a empáfia com que essa choldra declama seu ramerrão: “nos 20 meses deste governo não houve uma única denúncia de corrupção”. Como assim, cara-pálida?
É certo que Lula et caterva institucionalizaram a corrupção em prol de seu nefando projeto de poder, mas daí a afirmar que o atual governo é a quintessência da probidade vai uma longa distância. Desgraçadamente, o ladrão de Garanhuns e o capitão cloroquina são as duas faces da mesma moeda. Senão vejamos.
Os desdobramentos da emocionante novela Fabrício Queiroz/Flávio Bolsonaro sugerem que o ex-dublê de assessor e factótum do primogênito do Presidente está para o clã Bolsonaro assim como PC Farias (esteve, porque era um arquivo vivo e já foi devidamente eliminado) para Fernando Collor, e José Carlos Bumlai para a quadrilha Lula da Silva. Comparados a esses exemplos de lisura no trato da coisa pública, os capi das cinco famílias de Nova York eram aprendizes de batedor de carteira.
Fica mais evidente a cada dia que a (sempre negada) rachadinha no gabinete do então deputado Zero Um representa a parte visível de um iceberg com ramificações que vão de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio a peculato e enriquecimento ilícito. E isso não vem de hoje.
Segundo o Ministério Público, a antecessora de Fabrício Queiroz no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj comandou o “suposto” esquema de rachadinha até 2008.
No inquérito em que investiga a suposta contratação de funcionários fantasmas no gabinete de Zero Dois, o MP-RJ encontrou indícios da prática espúria desde 2001, ano em que o pit bull do papai iniciou seu primeiro mandato de vereador na Câmara Municipal da ex-Cidade Maravilhosa.
Quer mais? Então vamos lá: na sexta-feira retrasada, veio a público a informação de que Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil divididos em 27 depósitos feitos por Queiroz e senhora entre 2011 e 2016.
Pode-se argumentar que a nomeação de funcionários fantasmas e
a devolução compulsória de parte do salário de assessores são práticas tão
arraigadas na política tupiniquim quanto o famoso “jeitinho”
do brasileiro, mas isso não torna essas práticas legais nem exime de
punição quem se locupleta do dinheiro público.
Os malabarismos que Flávio e Jair Bolsonaro têm feito para não ser engolidos pelo tsunami de merda soprado por Queiroz ombreiam com as chicanas de certo ex-presidente corrupto, condenado e até pouco tempo atrás hóspede compulsório da Polícia Federal em Curitiba.
Por mal de nossos pecados, mesmo afirmando que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar, o Messias que não miracula tomou gosto por morar à beira do Lago Paranoá. E jamais deixou o palanque, nem mesmo depois que essa maldita pandemia viral ergueu uma pilha de mais de 100 mil corpos. Sua prioridade é sobreviver a um eventual processo de impeachment e poder disputar a reeleição em 2022 — isso se não recorrer a meios menos ortodoxos para espichar ainda mais seu mandato (se não o fez até agora, foi unicamente por falta de oportunidade). Já foram protocolados na Câmara mais de 50 pedidos de impeachment do presidente, mas parece que Rodrigo Maia está mais preocupado a própria reeleição.
Suspeitas de práticas espúrias são uma constante na trajetória política dos membros da famiglia Bolsonaro, mas só ganharam destaque com a ascensão do capo ao topo do organograma do serviço público tupiniquim.
O esquema Flávio/Queiroz foi alvo da Operação Furna da Onça — cuja deflagração foi adiada para não prejudicar Flávio e o pai nas eleições de 2018. Prova disso é que informações vazadas por um delegado ligado ao clã levaram à demissão simultânea de Fabrício e sua filha Nathália (em 15 de outubro de 2018) dos gabinetes de Jair e Flávio Bolsonaro, segundo revelou em depoimento ao MP o empresário Paulo Marinho.
Observação: Nathália Queiroz foi
contratada como secretária parlamentar de Jair Bolsonaro em dezembro de 2016, com
salário de cerca de R$ 10 mil mais benefícios, e apesar
de trabalhar como personal trainer, em horário comercial, no Rio de Janeiro,
o gabinete do então deputado atestou, em janeiro de 2019, que
ela cumpriu a frequência prevista em lei de 40 horas semanais.
Bolsonaro está encantado com os efeitos do coronavoucher em sua popularidade, sobretudo na Região Nordeste — tradicional reduto de Lula, do PT e seus satélites.
Para quem ganha o teto salarial do funcionalismo público, R$ 600 é “dinheiro de pinga”. Mas a média salarial dos brasileiros é de R$ 2.261 e valor do auxílio emergencial corresponde à metade de 1/2 salário mínimo — e a quase 15 vezes o valor do Bolsa Família, que é o principal (quando não o único) responsável pela subsistência de milhões de desinfelizes que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza. Daí porque, se dermos por verdade que a opinião de dois mil e poucos entrevistados pelo Datafolha espelham o que pensam 210 milhões de brasileiros (e eu duvido muito, mas isso não vem ao caso), o chefe do Executivo Federal passou de persona non grata a salvador da pátria aos olhos de um bocado de gente.
Na verdade, o valor da parcela na proposta do Executivo era de R$ 200, mas a demora no envio do projeto levou o Congresso a propor de moto próprio o pagamento de R$ 500, e então o presidente chutou o balde e aumentou o benefício para R$ 600.
O pagamento desse auxílio custa uma fábula ao Erário (leia-se aos contribuintes) e não pode durar para sempre, mas se o projeto assistencialista batizado de Renda Brasil prosperar e a oferta de empregos voltar a aumentar (o que mais dia, menos dia vai acontecer), essas pessoas vão lembrar que “foi Bolsonaro quem as tirou do sufoco”. E essas pessoas votam. E votam ouvindo o ronco do próprio estômago — e às vezes o coração, mas jamais a voz da razão.
Um eleitorado composto majoritariamente por apedeutas e analfabetos funcionais é tão perigoso quanto um bando de chimpanzés numa loja de armas. E agora que o capetão teve a epifania do assistencialismo milagroso, ventos frios vão soprar para as bandas esquerdistas.
Embora Bolsonaro continue se empenhando em transformar o Brasil num pária internacional, a prisão de Queiroz e a quarentena que foi obrigado a cumprir depois de testar positivo para a Covid-19 obrigaram-no a fechar a matraca e reduzir o grau de beligerância em seus pronunciamentos.
Duvido muito que os presidentes da Câmara e do Senado acreditem em regeneração, ou que Celso de Mello, Alexandre de Moraes e outros togados supremos sejam engabelados por uma tática tão primária. Já Gilmar Mendes... ah, o Gilmar...
Mas
isso já é outra conversa.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
TERMINA HOJE O ANO QUE PARECIA INTERMINÁVEL. QUE O PRÓXIMO SEJA MELHOR.
No âmbito da economia, Bolsonaro terá de lidar com o
fim do auxílio emergencial e suas consequências. A despeito das tentativas
recorrentes dos frentistas do Posto Ipiranga, não surgiu uma alternativa
viável ao Bolsa Família nem uma solução mágica para financiar a "Renda
Cidadã". Com o fim do “orçamento de guerra” e a não aprovação da Lei
Orçamentária Anual, a poderosa esferográfica Bic do mandatário de
fancaria pode ficar sem tinta — pelo menos nos primeiros meses —, levando sua popularidade
a subir no telhado justamente quando começam de fato as articulações para o
pleito de 2022. E como o ambiente político é norteado pela circunstância
econômica, a conclusão é óbvia.
Na política internacional, a célebre frase “é a economia, estúpido”, cunhada pelo marqueteiro democrata James Carville, que previu a vitória de Clinton sobre Bush em 1992, continua vigendo. Bolsonaro & Filhos jamais esconderam que tinham lado na disputa pela presidência americana, e agora descobriram que escolheram o lado errado. A demora em reconhecer a vitória de Biden certamente não facilitará as relações comerciais entre os dois países, como tampouco favorecem as relações do Brasil com a China os constantes ataques do chanceler de festim Ernesto Araújo e do ex-quase embaixador Eduardo “Fritador de Hambúrguer” Bolsonaro.
Para além
disso, as aleivosias do capitão-sem-noção seguem num crescendo assustador — no
discurso de abertura da 75ª Assembleia da ONU, por exemplo, ele tratou aos
coices (para dizer o mínimo) os países que lhe cobraram responsabilidade
ambiental, culpou índios e caboclos pelas queimadas, inflou o valor do auxílio
emergencial e responsabilizou os governadores pela crise.
No xadrez político em Brasília, Bolsonaro terá de renovar
concessões e acordos para tentar emplacar aliados no comando da Câmara e do
Senado — para ele, é vital ter um lambe-botas no comando das duas Casas,
sobretudo na Câmara, cujo presidente não só controla a pauta de votações como
decide se aceita ou não um pedido de impeachment contra o chefe do Executivo. Atualmente,
Rodrigo “Botafogo” Maia está sentado em cima de uma pilha de
quase 60 demandas do tipo.
Na esfera judicial, Bolsonaro e seus
apoiadores continuam afirmando que não houve denúncias de corrupção neste
governo, mas somente porque desconhecem o significado dessa palavra.
Curiosamente, o termo é de uso corrente, sobretudo no Brasil. De acordo com o Michaelis,
entre outras acepções, “corrupção” significa 1) Degradação de valores morais
ou dos costumes, devassidão, depravação; 2) Ato ou efeito de subornar alguém
para vantagens pessoais ou de terceiros; 3) Uso de meios ilícitos, por parte de
pessoas do serviço público, para obtenção de informações sigilosas, a fim de
conseguir benefícios para si ou para terceiros.
Bolsonaro é investigado em um inquérito que tinha tudo para ser concluído antes da aposentadoria do decano Celso de Mello do STF, mas não foi. No fim de novembro, a AGU comunicou ao ministro Alexandre de Moraes que o investigado “declinava do meio de defesa” de prestar depoimento às autoridades e dar sua versão sobre a acusação de interferência política na Polícia Federal.
Sob a relatoria do ministro estão outros dois casos, que correm em segredo de Justiça. O mais antigo apura ameaças e disseminação de fake news contra integrantes do STF, e o outro trata da organização de um protesto antidemocrático, realizado defronte ao QG do Exército em Brasília, que pugnava pela reedição do AI-5 e o fechamento do Congresso e do STF.
Observação: Semanas atrás, Moraes negou a dispensa prévia do interrogatório do presidente, enviou o tema para análise do plenário e concedeu mais 90 dias de prazo para a conclusão do inquérito que trata da
Flávio “Rachadinha” Bolsonaro é investigado há mais
de dois anos por um “suposto” esquema de desvio de recursos do gabinete que
ocupava na Alerj até ser eleito senador. O MP-RJ apresentou
denúncia contra ele, contra Fabrício Queiroz e digníssima esposa, e
mais uma dúzia de suspeitos de envolvimento na maracutaia. O fato se
tornou público em 3 de novembro, mas acabou ofuscado pela eleição presidencial
americana. Cabe agora ao Órgão Especial do TJ-RJ aceitar ou não a
denúncia; caso aceite, os acusados se tornarão réus e o processo judicial terá
início. O desembargador Milton Fernandes de Souza foi sorteado relator,
mas o caso só poderá ser pautado para julgamento depois que o magistrado
concluir a análise da denúncia e proferir seu voto. Não há prazo para que isso
venha a ocorrer.
Conforme duas reportagens publicadas pela revista Época
(clique aqui
e aqui
para acessá-las), a Abin e o GSI foram mobilizados pela defesa de
Zero Um para tentar obter provas de que funcionários da Receita
Federal teriam acessado ilegalmente dados sigilosos da movimentação
financeira do hoje senador. A publicação diz que o próprio Alexandre Ramagem,
diretor da Abin, repassou a FB, via mensagens de WhatsApp,
dois relatórios com orientações para sua defesa. Se for confirmado que a
primeira-família mobilizou órgãos públicos para atender interesses particulares
e tentar atrapalhar a investigação criminal, Bolsonaro pai pode ser
processado tanto por crime comum quanto de responsabilidade.
Em junho, Fabrício Queiroz foi localizado e preso num
imóvel em Atibaia, pertencente ao dublê de advogado e mafioso de comédia Frederick
Wassef, que até então cuidava da defesa de Flávio no inquérito
das rachadinhas e atuava como consultor jurídico da Famiglia Bolsonaro. Por
razões que a própria razão desconhece, o semideus togado Gilmar Mendes acolheu
um pedido de habeas corpus que substituiu a prisão preventiva de Queiroz
por prisão domiciliar, além de estender o benefício a Márcia Aguiar,
esposa do ex-factótum do clã, que estava foragida.
Em novembro, Danielle Oliveira acusou formalmente Wassef
de injúria racial — o advogado a teria chamado de "macaca",
entre outras agressões verbais. Todas as testemunhas do caso já foram ouvidas
pelo delegado, menos o acusado.
Após negar
que escondeu Queiroz, Fred se contradisse ao tentar explicar por
que abrigou o ex-assessor de seu cliente num imóvel que mais parecia
um cativeiro. Disse que não sabia do paradeiro do ex-PM, que jamais
falou com ele e tampouco tinha conhecimento de que ele estivesse em sua
propriedade em Atibaia, embora
Queiroz tenha morado lá por pelo menos um ano. Mais adiante, reconheceu que abrigou dito-cujo, mas por “questões
humanitárias”. Em outro pronunciamento, afirmou: “Todos estão
convictos hoje de que o Fred virou o alvo. Se bater no Fred atinge o
presidente, eu
e o presidente viramos uma pessoa só.” Depois, tentou
descolar o presidente do assunto: “Nunca, jamais, o presidente Jair
Bolsonaro soube ou teve conhecimento desses atos, desses fatos. Essa é minha
inteira responsabilidade.”
Wassef abandonou
as causas da família Bolsonaro três dias após a prisão de Queiroz.
Na noite em que o anúncio foi feito, FB elogiou o trabalho e a lealdade
do advogado. Nos meses seguintes, o site O Antagonista e a
revista eletrônica Crusoé mostraram como Fred usou sua
proximidade com o presidente da República para ganhar
milhões de reais de empresários interessados em resolver problemas
no governo. Em agosto, outra revelação da Crusoé: O advogado
recebeu R$
9 milhões da JBS. Em outra reportagem, a revista mostrou que
partiu de Jair Bolsonaro a iniciativa de pedir
uma reunião na PGR entre o causídico e o subprocurador responsável
pelo caso da JBS.
Em setembro, Wassef foi alvo de busca e apreensão na Operação
E$quema S. Denunciado
por peculato e lavagem de dinheiro, ele é suspeito de ter obtido R$
2,7 milhões por meio do escritório da ex-procuradora Luiza Nagib Eluf,
contratada pela Fecomércio Rio com uso de dinheiro público do Sesc/Senac
Rio. Segundo o MPF, Cristiano Zanin e
Roberto Teixeira — advogados do criminoso Lula — comandaram o
esquema entre 2012 a 2018. Estão na mira dos investigadores desvios de valores
que chegam a R$ 300 milhões. No entanto, o
inquérito foi suspenso em outubro por decisão de Gilmar
Mendes.
Carlos Bolsonaro, vereador pelo Rio de Janeiro que dá
expediente no Palácio do Planalto, é investigado pela “suposta” contratação
de funcionários fantasmas. Seu nome
é suscitado nada menos que 43 vezes no inquérito
dos atos antidemocráticos. Depoimentos de testemunhas dão conta de que o filho do
capitão vem “ajudando” e “cooperando” com os canais suspeitos de ataques às
instituições e ao regime democrático.
No final de julho, Anderson Rossi, dono do Foco do
Brasil, foi questionado sobre uma possível ajuda do vereador na
estruturação de seu canal, que chega a faturar R$ 140 mil por mês. Já a Folha
Política, segunda franquia mais rentável entre os canais bolsonaristas, tinha
1,65 milhão de inscritos no início de março; hoje está com 2,19 milhões — um
salto de 32%. Ernani Fernandes Barbosa Neto, proprietário do canal,
disse à PF ter faturado entre R$ 50 mil e R$ 100 mil por mês.
Em um inquérito que corre atualmente no STF, Zero Dois aparece
como suspeito de ser líder
do chamado “gabinete
do ódio”, um grupo de
assessores que se encarregam de espalhar mentiras sobre ministros da Corte e
apoiar manifestações antidemocráticas nas redes sociais e em grupos de
apoiadores do presidente, pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo.
Eduardo Bolsonaro está na mira da PGR, que determinou a abertura de “notícia de fato” para saber se o deputado violou a Lei de Segurança Nacional em declarações postadas nas redes sociais. Além disso, uma apuração preliminar o investiga por pagamentos em dinheiro vivo quando da compra de dois apartamentos no Rio, em 2011 e 2016.
Nem o filho caçula do
presidente, Jair Renan, foge à regra que baliza os “negócios da família”. Embora não tenha cargo público, o pimpolho é suspeito de tráfico de influência.
Em 13 de novembro, ele articulou e participou de uma reunião entre o ministro do Desenvolvimento Regional,
Rogério
As relações da empresa de Renan com o Planalto vão
além de promover reuniões entre os investidores de seu negócio e ministros. Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a Astronautas
Filmes, produtora de audiovisual que possui contrato milionário com o
Governo, realizou gratuitamente a cobertura da festa de inauguração da Bolsonaro
Jr. Eventos e Mídia. Somente neste ano, a produtora recebeu R$ 1,4 milhão
do governo federal. Em nota, a empresa afirma que não existe nenhum “laço de
favorecimento”. O deputado federal Ivan Valente solicitou à PGR
que investigue suposto tráfico de influência no caso.
Bolsonaro sempre disse ser um “defensor da família”. Após quase dois anos à frente do governo, transparece sua preocupação em
proteger pelo menos uma delas: a sua própria. O primeiro passo foi articular
a troca no comando da PF, em abril, com a exoneração do diretor-geral da
entidade, o delegado Maurício Valeixo. O então ministro Sérgio Moro
denunciou a maracutaia.
Em outra frente, a Famiglia Bolsonaro meteu o bedelho
nas eleições para a chefia do MP-RJ — responsável pelas investigações
contra dois pimpolhos do presidente. O atual procurador-geral, Eduardo
Gussem, foi criticado por Zero Um por sua atuação no caso da
rachadinha no gabinete. Os Bolsonaro cerraram fileiras em torno do procurador Marcelo Rocha Monteiro,
bolsonarista assumido, como uma opção para a lista tríplice, definida em
dezembro, de onde é escolhido o nome do próximo procurador-geral de Justiça do
Estado. No final, ele foi o quarto mais votado.
Cabe ao governador interino optar por manter a tradição e
indicar para a chefia um integrante da lista ou fazer um aceno ao presidente
nomeando o candidato da Famiglia para o cargo. Publicamente, Bolsonaro
alega que esses órgãos estão agindo para prejudicar seus filhos em uma
tentativa de atingi-lo — chegando mesmo a dizer tratar-se de perseguição
política do então governador Wilson Witzel, que buscava se cacifar
para disputar o Planalto em 2022, o que justificaria, segundo o presidente, as
tentativas de desmoralizar sua família.
Quanto à novela
da vacinação contra a Covid, o desvario mais recente do capitão-mefistofélico
aconteceu na última segunda-feira. “São os laboratórios que deveriam ter
interesse em vender vacina contra o coronavírus para o Brasil e que
nenhum deles apresentou ainda um pedido para liberação do imunizante”,
disse ele à récua de apoiadores.
"Botei hoje nas mídias sociais que eu falei que não estava
preocupado com pressão. Falei mesmo, porque nós temos que ter responsabilidade,
certas coisas não podem ser correndo, você está mexendo com a vida do próximo.
A imprensa desceu o cacete em mim. Agora, se eu vou na Anvisa, que é um órgão
de Estado 'corre aí, não sei o que lá', eu estou interferindo."
Em resposta a essas estapafúrdias declarações, a Pfizer informou que a Anvisa pediu uma série de "análises específicas" para liberação emergencial da vacina no Brasil, e que, por enquanto, seguirá com o pedido por outro formato, o de submissão contínua. De acordo com a farmacêutica, a nota também é uma demonstração de que a empresa "quer, sim, vender para o Brasil, mas que o processo aqui exige mais tempo".
Um exemplo dessa demora do
procedimento, segundo a Pfizer, é a exigência dessas informações
exclusivas sobre este país, enquanto nos demais os dados são analisados na totalidade, sem exigir novos recortes. Já a Anvisa disse que está à
disposição dos laboratórios para discutir os requisitos para liberação de vacinas seguras e eficazes para toda a população. A diretoria da agência
chamou a Pfizer para uma nova reunião (marcada para ontem, quarta-feira).
Observação: Desde março, a Covid-19 causou
quase 200 mil mortes no Brasil. Mas o Sars-CoV-2 não é a única praga — e, quiçá,
nem a mais letal — que vitima esta pobre republiqueta de almanaque. Outro
patógeno dissemina negativismo, ignorância e desfaçatez, enquanto se serve da
estrutura do Estado em benefício próprio e dos seus apaniguados. Embora o
remédio para essa virose exista e esteja disponível nas prateleiras do
Congresso Nacional, o presidente da Câmara não tira seu avantajado buzanfã de
cima do receituário, impedindo a medicação do paciente e a consequente
erradicação do mal. Praga semelhante vitimou os Estados Unidos, mas lá o
imunizante já foi ministrado e o paciente deve receber alta daqui a 20 dias. Aqui
pelas nossas bandas... enfim, não há bem que sempre dure nem mal que nunca
termine. Vai passar.
Dezenas de países já começaram suas campanhas de vacinação — 25 dos 27 da União Europeia, além dos Estados Unidos, China, Canadá, Rússia, Bélgica, Luxemburgo e Letônia, entre outros. O Brasil, apesar de ter comprado a vacina desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford (e com produção nacional da Fundação Oswaldo Cruz), ainda não conseguiu aprovar o produto e iniciar a imunização.
O boletim mais
recente da Anvisa aponta que tanto a Pfizer quanto a AstraZeneca
entregaram os resultados parciais dos estudos de fase 3 (última etapa) em 5 e
22 de dezembro, respectivamente. Nenhuma das duas — nem qualquer outro
laboratório — pediu ainda a liberação de uso emergencial, o que, segundo a
agência, pode ser feito com os resultados da terceira fase de testes (Pfizer
e AstraZeneca, portanto, já podem fazer o pedido). Por trás desse imbróglio monumental está a rivalidade
política do capitão-tinhoso com o governador de São Paulo (que possivelmente o enfrentará na eleição de 2022). Bolsonaro chegou mesmo a celebrar
decisão da Anvisa de interromper os testes da CoronaVac após a
morte de um voluntário — a
Mesmo assim, o capitão-trevoso postou nas redes sociais:
"Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria
obrigar a todos os paulistanos a tomar. O presidente disse que a vacina jamais
poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha".
Repare que, a exemplo de Pelé, o capitão-ególatra se refere a si mesmo
na terceira pessoa.
Depois que o governo de São Paulo e o Instituto Butantan anunciaram que a CoronaVac superou o índice mínimo de eficácia exigido pelas agências regulatórias, mas não informaram o percentual exato de eficácia do imunizante nem os demais dados do estudo final (devido, até onde se sabe, a uma cláusula que confere à SinoVac o direito de consolidação da base de dados e divulgação de resultados de eficácia e segurança), Bolsonaro levantou dúvidas sobre a eficácia da “vacina chinesa do Doria”.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais na quinta-feira, 24, o capitão-parlapatão alardeou: “A eficácia daquela vacina em São Paulo parece que está lá embaixo, né?”, disse Bolsonaro. “Não vou divulgar o percentual aqui, porque se eu errar 0,001% eu vou apanhar da mídia, mas parece que o percentual tá lá embaixo levando-se em consideração a outra.” E reforçou mais uma vez que, "se houver efeito colateral, as pessoas precisam ir pra cima de um governador que queira obrigar a aplicação", numa clara referência a João Doria.
Observação: A comunidade científica acredita que o
calendário de vacinação proposto pelo governo de São Paulo, com início em 25 de
janeiro, talvez precise ser revisto. Como a divulgação dos resultados da fase 3
da vacina foram postergados por 15 dias, pode não haver tempo hábil para
providenciar o registro na Anvisa e começar a imunização em janeiro.
Além disso, é preciso que antes a China registre a vacina.
Boas entradas a todos, e que Deus nos ajude.
sexta-feira, 11 de junho de 2021
TUTTI BUONA GENTE
A ministra Rosa Weber autorizou Wilson Lima a não comparecer à CPI do Genocídio (como ele é investigado por desvio de verbas públicas na pandemia, a magistrada lhe concedeu o direito de não produzir provas contra si mesmo). Na versão do governador, o combate aos ataques coordenados por uma facção criminosa em Manaus e outros municípios do seu Estado tornavam sua presença mais importante no Palácio do que no Senado. Dada a ausência do entrevistado da vez, os mestres de cerimônia da Comissão usaram a reunião para votar requerimentos.
Observação: Afora o célebre caso das rachadinhas
que envolve Flávio Bolsonaro, órgãos de investigação como a PF e
o Ministério Público apuram
suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro.
As suspeitas incluem tráfico de influência, contratação de funcionários
fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o
fechamento de instituições como Congresso e Supremo.
Além da indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga aberta com a aposentadoria do decano Celso de Mello, em outubro passado, o Zero Um participou de pelo menos duas escolhas para a Justiça Eleitoral, além de um cargo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Sua ascendência sobre o pai é pública é notória e, segundo a Folha, vem gerando insatisfação entre aliados do governo, cujas sugestões têm sido ignoradas.
Na edição impressa da semana passada, a revista VEJA trouxe uma matéria de cinco páginas a esse tema, assinada por Daniel Pereira. A reportagem salienta que o filho Flávio é uma das poucas pessoas em que o presidente realmente confia, e foi incumbido pelo pai de garimpar opções “terrivelmente evangélicas” para a vaga que será aberta no STF, no mês que vem, com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio. Bolsonaro já orientou o dublê de pastor presbiteriano e Advogado-Geral da União, André Mendonça, a se entender com Senado, a quem cabe aprovar os nomes para o STF — e especialmente com FB, seu líder de fato no Senado.
Por falar nisso, a PF concluiu e enviou ao STF um inquérito repleto de indícios de que o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, e seu rebento, Fernando Bezerra Coelho Filho, receberam R$ 10 milhões em propina das empreiteiras OAS, Barbosa Mello e Constremac/Mendes Junior entre os anos de 2012 e 2014, quando coelho-pai exercia o cargo de ministro da Integração Nacional no governo de Dilma, a inesquecível.
A corporação indiciou os coelhos pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e falsidade ideológica eleitoral e pediu o bloqueio de R$ 20 milhões dos dois (valor corrigido da propina supostamente recebida pelos roedores). Demais disso, o vice-líder do governo no Senado, Chico Serra, foi alvo de um mandado de busca e apreensão em outubro do ano passado. Os agentes encontraram cerca de R$ 30 mil escondidos nos fundilhos do nobre parlamentar. Enfim, dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és.
Voltando a Bolsonaro-pai e os
irmãos metralha, a preocupação da Famiglia com o Supremo é
compreensível, pois lá tramitam inquéritos sobre fake news e atos
antidemocráticos — que têm como alvos potenciais Zero Dois e Zero
Três — e do ministro Gilmar Mendes a
decisão sobre qual instância do Judiciário é competente para julgar Flávio,
seu ex-assessor Fabrício Queiroz e mais uma dezena de personagens da novela
das rachadinhas. Segundo VEJA, é justamente o inquérito das rachadinhas
que impede o filho do pai de desempenhar em público o papel que desempenha nos
bastidores, qual seja o de “primeiro-ministro” do governo do capitão.
Selada no ano passado, quando o presidente estava
pressionado pelo STF e pela prisão de Queiroz, a aliança com o Centrão
teve como intermediário o onipresente primeiro-filho. Desde então consolidou-se
na classe política, notadamente entre os senadores, a percepção de que o
melhor caminho para se chegar ao gabinete presidencial não é por meio dos
articuladores políticos formalmente constituídos, mas através do filho. Mas o imbróglio das rachadinhas, que se arrasta desde 2018, pode mijar no
chope do menino de ouro, que jura inocência e diz que não se beneficiou da
movimentação financeira milionária do suposto operador do
esquema em seu antigo gabinete na Alerj.
Afeito a teorias da conspiração como Bibo Pai, Bobi
Filho alega que há uma orquestração entre promotores do Rio e o juiz Flávio
Itabaiana a fim de atingir a imagem da família, e que está sendo vítima de
uma armação. E como o negacionismo é multidisciplinar, nega toda e qualquer
influência no governo federal. Mas o primeiro-filho conversou com todos os nomes
indicados antes que o presidente escolhesse Augusto Aras para o comando
da PGR, e deixou suas digitais na nomeação de Marcelo Queiroga
para o Ministério da Saúde, apenas para citar dois casos emblemáticos.
Zero Um nega em público a influência que tem no
reinado paterno, mas atua como eminência (não tão) parda com maestria e lida
muito bem com as vantagens de quem tem acesso privilegiado ao centro do poder. Interlocutores
palacianos dizem que temas relacionados a justiça e agências reguladoras passam
por ele, que fala com o pai diariamente.
A influência de Flávio Bolsonaro nas nomeações do pai é criticada por
auxiliares do presidente, segundo os quais o capitão tem se desgastado
de maneira desnecessária com aliados de primeira hora para agradar o filho.
Alguns dizem com ironia que se tornou uma briga perdida competir com as “indicações do menino” — referindo-se
às indicações feitas pelo senador.
Flávio é hoje o filho que detém mais
influência sobre as decisões de Jair Bolsonaro, que já manifestou a assessores próximos
receio de que as acusações contra seu primogênito tenham novas reviravoltas. No
final do ano passado, de acordo com um deputado governista, o presidente temia
uma possibilidade de prisão e, “de cada dez assuntos que discutia, dois se
referiam à situação do filho”.
Flávio frequenta regularmente o Alvorada — pela manhã, quando, segundo ele, o humor do presidente é melhor do que no final da tarde — e o
Palácio do Planalto, onde participa de reuniões (sua participação quase nunca é
registrada oficialmente). Também é “arroz de festa” em reuniões ministeriais,
nos encontros para discutir o Renda Cidadã e nas discussões sobre o
enfrentamento da pandemia. Foi ele quem sugeriu ao pai a defesa de que a
atividade econômica do país não podia parar por causa da doença.
A influência de Flávio também é relatada no Senado, onde
ele é chamado de “senador-ministro” por participar de reuniões de líderes — mesmo
sem ter este posto — e falar em nome do governo. Mas a condição de filho do
presidente também o alija de algumas discussões, como quando o
Legislativo ensaiava como reagir às manifestações de apoiadores de Jair Bolsonaro
aos outros Poderes.
Em cortes superiores, os ministros João Otávio de Noronha,
do STJ, e Ives Gandra Martins Filho, do TST, também têm
uma relação próxima com o presidente. No Supremo, porém, a
leitura é que os dois se aproximaram de Bolsonaro pelo sonho de serem
nomeados para a Corte, e que, embora tenham contato com Bolsonaro, não há uma
relação de confiança.
Noronha foi o responsável por retirar
Fabrício Queiroz da prisão e colocá-lo em regime domiciliar — evitando
que aumentasse a pressão para que Queiroz, apontado como operador do
esquema da rachadinha do filho senador e amigo do pai presidente desde 1984,
firmasse um acordo de colaboração premiada. Gandra, por sua vez, chegou
a se reunir com Jair Bolsonaro em 2018, logo após ele ter sido eleito presidente, sem falar que o pai do magistrado foi responsável por endossar e dar tração
à tese da militância bolsonarista de que o artigo 142 da Constituição permite a
intervenção do Exército quando um Poder invade a competência de outro.
Em meados do ano passado, Flávio Bolsonaro trocou o
apartamento funcional que ocupava por uma chamativa mansão num dos pontos mais
bonitos, seguros e valorizados de Brasília. O imóvel foi
comprado por R$ 6 milhões. Na época, o senador explicou que
financiou metade da dívida e que a outra metade teria sido quitada com recursos
da venda de um apartamento que ele tinha no Rio de Janeiro e de uma franquia de
chocolates. Mas não revelou maiores detalhes do negócio, nem a identidade do
comprador.
Como se trata de uma transação privada, os envolvidos não têm obrigação de esmiuçá-la ou torná-la pública. A questão é que isso acabou
gerando uma série de rumores sobre o já atribulado histórico patrimonial de Flávio, principalmente porque não foi localizado nenhum registro formal da operação
nos cartórios, o que serviu para reforçar teorias maliciosas.
Na verdade, houve um acordo entre as partes para manter tudo
em segredo. O comprador do apartamento foi o empresário baiano Gervásio
Meneses de Oliveira, que pagou R$ 2,6 milhões pelo imóvel, mas ainda
não o colocou em seu nome. E não o fez, segundo ele, para evitar a exposição. A
VEJA, o empresário contou que fazia algum tempo que procurava um
apartamento no Rio de Janeiro, quando soube por um corretor de uma
oferta “excelente” num condomínio localizado na Barra da Tijuca. O negócio foi
sacramentado através de um contrato de promessa de compra e venda.
Uma pessoa próxima a Gervásio disse à reportagem que ele
ficou sabendo do apartamento por intermédio de amigos comuns, dele e de Flávio
Bolsonaro, mas o empresário afirma que, no início da negociação, nem
sabia que o filho do presidente estava na outra ponta. “Fiz uma coisa pra me
dar prazer, mas já vi que isso vai acabar em chateação”, reclama, ao ser indagado
sobre o assunto. Assim, para “evitar chateação”, ele resolveu adiar o
máximo possível o registro do negócio no cartório.
Em novembro de 2020, o MP-RJ denunciou o primogênito do capitão e outras dezesseis pessoas pela prática dos
crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação
indébita. O apartamento na Barra da Tijuca, que agora pertence ao empresário
baiano, teria sido comprado com dinheiro oriundo da chamada “rachadinha”,
o esquema ilegal de apropriação de parte dos salários dos funcionários no
período em que Flávio era deputado estadual.
Gervásio também tem problemas na Justiça. Em
2020, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo denunciou-o por
corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Ele foi acusado de pagar propina a uma
desembargadora do Tribunal Regional da Bahia para que ela interferisse
num processo em que uma de suas empresas foi condenada a pagar uma dívida de R$
96 milhões. Em outro processo, tramitando no Tribunal de Justiça da Bahia, ele é acusado de formação de quadrilha e crime contra a Lei de Licitações.
Uma investigação do Ministério Público o apontou como beneficiário de um
esquema que fraudava concorrências para a contratação de prestadores de
serviços. O esquema desviou R$ 625 milhões dos cofres públicos.
Procurado por VEJA, Gervásio informou que iria dar sequência a alguns procedimentos burocráticos ainda pendentes para concluir a transferência do apartamento para seu nome e rechaçou as insinuações de que teria comprado o imóvel para se aproximar do senador e, por caminhos transversos, de outros figurões da República, especialmente da Justiça. Questionado sobre a transação, o Flávio Bolsonaro não quis se manifestar.
Em tempo: Causa revolta a covardia do Exército em determinar sigilo de um século para o processo administrativo aberto contra o general Eduardo Pazuello. A sociedade tem o direito de saber a respeito de tudo sobre o processo e o Exército tem o dever (não é favor, é dever e obrigação) de informar. Militares acham-se magnânimos quando contam parte de sua história. Já passou da hora de aprenderem que só existem para servir à sociedade na manutenção da ordem constitucional ou na defesa da Nação em caso de ameaça armada estrangeira. E que têm de prestar contas à sociedade. Ano passado, Jair Bolsonaro decretou um século de sigilo sobre sua carteira de vacinação. Agora vem o Exército e, contrariando dispositivo da Controladoria Geral da União, coloca em sigilo o processo contra Pazuello. A CGU é clara: “os procedimentos disciplinares têm acesso restrito para terceiros até o julgamento”. E o julgamento já foi.