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quarta-feira, 7 de julho de 2021

COBRA COMENDO COBRA!


Sem alarde, a CPI da Pandemia avança na investigação sobre a divulgação de fake news. Até agora, oito pessoas próximas a Bolsonaro tiveram sigilos telefônico e telemático quebrados. Na sessão de ontem, a servidora Célia Silva Oliveira admitiu que o contrato para a compra da vacina indiana Covaxin ficou um mês sem fiscal, e que ela só foi encarregada do contrato em 22 de março, dois dias após os irmãos Miranda terem denunciado as irregularidades no processo ao presidente. E mais um bocado de meias-verdades e inverdades chapadas, empresas ligadas à Precisa e à Global que vendem “de parafuso a foguete para órgãos públicos” e providenciais acessos de amnésia — a depoente da vez dizia não se lembrar do próprio padrinho político! Está programada para hoje a oitiva de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do departamento de Logística em Saúde da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde; amanhã será a vez da ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Francieli Fantinato. A Comissão solicitou também o auxílio de um delegado da PF que atuou na CPMI das Fake News e pediu à PGR que um procurador seja destacado “com urgência” para auxiliar nas investigações.

***

As maiores manifestações populares desde as Diretas Já eclodiram em 2013, tendo como estopim um aumento de R$ 0,30 no preço da passagem no transporte público. O resultado veio três anos depois, com a deposição de Dilma, a inolvidável. Promovido a titular, o vice decorativo da anta teve bons e maus momentos e vivenciou manifestações de repúdio e panelaços, mas que foram café pequeno na comparação  com os apupos dirigidos à eterna estocadora de ventos.

Não vem ao caso discutir a implicância de Rodrigo Janot com o Michel Temer ou a sujeição deste ao patético papel de pato-manco para driblar as “flechadas” daquele. Mas é oportuno relembrar que o PGR era simpatizante do petismo e o vampiro do Jaburu foi o articulador do impeachment da dita-cuja caracará. Dito de outro modo, Dilma era uma incompetente de quatro-costados, Temer, um grande oportunista e Janot, um maluco que afirmou publicamente que entrou armado no STF para “atirar na cara de Gilmar Mendes e se suicidar em seguida”, mas “uma intervenção divina” o impediu de apertar o gatilho. Cada qual dá à própria imprestabilidade o nome que bem entende, naturalmente. Mas isso não muda o fato de que essa “confissão” foi uma estratégia de marketing para promover o livro — Nada Menos que Tudo.

O alvo da ira de Janot descartou recorrer a alguma medida judicial, até porque o Código Penal e a jurisprudência dos tribunais não criminalizam a fase preparatória de um ilícito. Se o simples desejo de matar fosse passível de punição e a justiça brasileira cumprisse seu papel, nem um pool de empreiteiras trabalhando 24/7 daria conta da demanda por celas. Em última análise, a mirabolante revelação do ex-procurador não daria sequer um filme do tipo “DESEJO DE MATAR NO STF” — até porque seria preciso deixar claro quem era o mocinho e quem era o bandido no enredo.

Manifestações de rua e panelaços perderam força com a queda da nefelibata da mandioca, mas ressuscitaram para assombrar o Capitão-Grinch. Esqueça as motociatas. São manifestações engrossadas com promessas de isentar motos, scooters e congêneres do pagamento de pedágio. Digno de nota é a recorrência dos protestos contra o governo, que, inclusive, vêm se avolumando. Se esse cenário é um prenúncio de impeachment, só o tempo dirá. Mas o clamor popular foi determinante na deposição de Collor e Dilma.

Domingo passado, um dia depois das penúltimas manifestações pró-impeachment e dois após ter sido indiciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Renan Calheiros acusou Jair Bolsonaro de ter desdenhado da pandemia, criado um governo paralelo, sabotado os imunizantes, alastrado o vírus e entregado vidas a charlatães e lobistas de cloroquina (como o próprio presidente e sua ilustre filharada).

Segundo a PF, o senador teria ocultado e dissimulado a origem de R$ 1 milhão, em 2012, pago pelo Grupo Odebrecht em troca de apoio político para a aprovação de projeto de lei em benefício da empreiteira. Em nota, o acusado afirmou que a PF não tem competência para indiciá-lo, que a investigação está aberta desde março de 2017 e que estranha o fato de o inquérito ter andado no momento em que a CPImostra todas as digitais do governo na vacina da corrupção”.

Cá entre nós e a torcida do Flamengo, esse pedido de indiciamento é um movimento de retaliação da PF (que agiu a mando do chefe do Executivo) à atuação do relator da CPI do Genocídio. Não morro de amores por Renan e tampouco tenho procuração para defende-lo, mas é impossível negar que, nesse caso específico, assiste razão ao senador. Mas isso não faz dele o obelisco da probidade. Basta lembrar que ele e o então presidente o STF (petista no úrtimo) costuraram um acordão para fatiar o processo de impeachment de Dilma, evitando que ela fosse inabilitada politicamente (em desconformidade com a Lei do Impeachment, segundo a qual o réu perde o mandato e  fica inelegível por 8 anos).

Em dezembro de 2016, o Cangaceiro das Alagoas se tornou réu por peculato e foi afastado da presidência do Senado, já que réus não podem ocupar cargos que os coloquem na linha sucessória presidencial (não me perguntem como Arthur Lira é presidente da Câmara). Por alguma razão, a decisão de afastar Renan paralisou os trabalhos na Casa. Era como se nada ali funcionasse sem a presença da quintessência da velha política de cabresto nordestina. Para piorar, apoiado pela mesa diretora, senador se recusou a acatar a decisão, como se sua deposição fosse uma opção, não uma determinação emanada da cúpula do Judiciário.

Em fevereiro de 2019, Renan disputou a presidência do Senado pela quinta vez, mas foi derrotado por Davi Alcolumbre. Teve de tudo nessa eleição. De 48 horas de chicanas legislativas ao “furto” da pasta de direção da Mesa pela senadora Kátia Abreu; de reuniões que vararam a madrugada a uma decisão questionável do STF (proferida às 03h45 em favor do voto secreto, contrariando uma decisão do plenário). Ao cabo da primeira votação, foram computados 82 votos (o que é no mínimo estranho, considerando que o plenário da Casa e composto por 81 senadores). Aos olhos dos otimistas de sempre, a derrota acachapante de Renan sepultaria a velha política clientelista, fisiologista e oportunista, mas tudo continuou como dantes no Quartel de Abrantes.

Na política não há amigos nem inimigos. O desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã, e vice-versa. No mundo real, o fato de você e eu termos um inimigo em comum não nos torna amigos, mas seria burrice não unirmos forças em prol da nossa causa. Pouco importa a cor do gato, desde que ele cace o rato. Na relatoria da CPI, o senador alagoano superou minhas expectativas. Mutatis mutandis, o mesmo vale para o senador Omar Aziz, presidente da Comissão, que governou o Amazonas de 2010 a 2014 e foi alvo da Operação Vértex. Segundo sua assessoria, não foi produzida prova alguma nem apresentado indício de ligação do senador com qualquer atividade delituosa”. O advogado de Aziz confirmou à CNN que seu cliente está com o passaporte retido e alguns bens bloqueados, mas afirmou que o juiz que decretou essas medidas era incompetente para julgar o caso.

Aliados do governo põem em dúvida a imparcialidade de Aziz como condutor da CPI. Faz parte do jogo, como se costuma dizer. O diabo é que brasileiros estão morrendo feito moscas enquanto maus parlamentares usam a Comissão como palanque, depoentes mentem ou recorrem a chicanas para permanecer calados, a tropa de choque do Planalto tenta relativizar a culpa do chefe pelas 520 milhões de mortes e o senador Rodrigo Pacheco, eleito presidente da Casa com o apoio do Planalto, empurra com a barriga a decisão sobre a prorrogação dos trabalhos da CPI.   

O Brasil já teve 38 presidentes em 121 anos de história republicana, mas nenhum deles — nem mesmo Dilma, a inefável — foi chamado de genocida ou “eleito” pior líder mundial no enfrentamento à Covid. Como governante, Bolsonaro não passa de um inquilino do Palácio do Planalto que jamais desceu do palanque e usa a máquina pública em prol de um projeto de poder eminentemente pessoal. Dos poucos ministros que valiam dois mirréis de mel coado, a maioria já desembarcou — uns por iniciativa própria, outros penabundados pelo chefe, por ciúme ou para acomodar apaniguados do Centrão. E dá-lhe “gabinete do ódio”.

“Envenenado” pelos filhos — seguidores atávicos do ex-astrólogo Olavo de Carvalho —, Bolsonaro demitiu (ou fez com que se demitissem) ministros do quilate de Gustavo Bebianno, Floriano Peixoto, Santos CruzHenrique Mandetta, Sergio Moro e Nelson Teich, rompeu com apoiadores de primeira hora (entre os quais Joice HasselmannAlexandre Frota e Janaína Paschoal) e, numa clara disputa por poder dinheiro do fundo partidário, desligou-se da oitava legenda que percorreu em seus 30 anos na política. 

Expelido da secretaria-geral da Presidência em fevereiro de 2019, Bebianno — o amigo de fé, irmão, camarada e articulador da campanha passou de aliado a desafeto após ter sido demitido por Zero Dois, chamou de psicopata o presidente que ajudou a eleger e disse à Jovem Pan que “a democracia estava em risco devido à postura de Bolsonaro”. Bebianno tencionava disputar a prefeitura do Rio de Janeiro em 2020, mas foi fulminado por um infarto agudo em março de 2019, quando estava escrevendo o livro “Uma Eleição Improvável”, que desnuda os bastidores da campanha do capitão. De certo modo Bebianno representava para Bolsonaro o que PC Farias representou para Collor Antonio Palocci para Lula

Ignorar as fronteiras que separa o país do governante é uma característica típica de líderes autoritários e demagogos que se escondem atrás de apelos nacionalistas em busca de proteção. Bolsonaro não só deformou o aparato estatal como vem usando a máquina pública para atingir desafetos e alimentar picuinhas. Para proteger-se e blindar sua enrolada prole, não se furta a vilipendiar instituições de Estado, afrontar os demais Poderes e vituperar impropérios contra a imprensa diuturnamente. Para ele, a Constituição é como papel higiênico: só tem utilidade nas horas de necessidade. Sua “falta de absolutamente” se evidenciou ainda mais com a pandemia. Uma gestão adequada, dizem os especialistas, poderia ter evitado centenas de milhares de óbitos. Mas “e daí?” “Não sou coveiro”, tripudia o presidente.

Nada com um dia após o outro. Bolsonaro entrará para a história como o presidente que reuniu todos os defeitos de seus antecessores sem deles tomar emprestada uma única virtude, além de ter sido o grande responsável pela maior produção de cadáveres de todos os tempos. Que o Diabo se apiede de sua alma.

domingo, 11 de abril de 2021

TUDO COMO DANTES NO QUARTEL DE ABRANTES

 

Impossível enxergar a olho nu vestígios de sanidade na forma como Jair Bolsonaro lida com a pandemia. Ele briga com os fatos mais ou menos como o sujeito que salta do décimo andar e, ao passar pelo oitavo, proclama aliviado: “Até aqui, tudo bem.”

No dia em que o Brasil registrou pela primeira vez mais de 4 mil mortes por covid em 24 horas, o capitão criticou novamente medidas de isolamento social adotadas por estados e municípios para evitar ou atenuar o colapso das UTIs. Presidente que prega o retorno a uma hipotética “normalidade” sem fornecer vacinas na quantidade necessária para atingir a imunidade coletiva condena sua Presidência à anormalidade.

Bolsonaro acha que se imunizou politicamente ao entregar a coordenação política do governo para o centrão. Engano. A tribo de Arthur Lira e Valdemar Costa Neto revela-se capaz de tudo, exceto de cometer suicídio político. A lealdade dos aliados tende a diminuir na proporção direta do aumento do número de cadáveres. A Fiocruz, fundação vinculada ao Ministério da Saúde, alertou que a pandemia deve permanecer em “níveis críticos” durante o mês de abril, “prolongando a crise sanitária e o colapso nos serviços e sistemas de saúde nos Estados e capitais brasileiras”. De acordo com o Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19, elaborado pela Fiocruz, houve um aumento na taxa de letalidade da covid. Subiu de 3,3% para 4,2%.

O Brasil pós-redemocratização elegeu cinco presidentes pelo voto direto: Collor, FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. O primeiro e a penúltima foram enviados para casa antes de concluir o mandato. Uma taxa de mortalidade de 40% — praticamente dez vezes maior do que o índice de letalidade do vírus. Há nas gavetas do deputado Arthur Lira, o réu que preside a Câmara, sete dezenas de pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Por muito menos, o então presidente da Câmara Eduardo Cunha, mentor de Lira, colocou para andar o pedido de deposição de Dilma.

Falando com um grupo de devotos na porta do Alvorada, Bolsonaro recusou-se a comentar os 4.211 corpos do dia. Preferiu espinafrar a estratégia do isolamento social. “Tem uma pesquisa aí que diz que quem tem uma vida saudável é 8 vezes menos propenso a ter problema com a covid” afirmou ele, sem citar a fonte da pesquisa, em vídeo divulgado por canal bolsonarista no YouTube. “Mas quando você prende o cara em casa, o que ele faz em casa? Duvido que ele não aumentou um pouquinho de peso. Duvido. Até eu cresci um pouquinho a barriga”, completou, arrancando gargalhadas dos apoiadores. “Me chamavam de torturador, racista, homofóbico. Agora é o quê? Aquele que mata muita gente? Genocida! Imagina se o Haddad estivesse no meu lugar?! (...) Do que eu não sou culpado aqui no Brasil? (risos)”, afirmou o presidente. “O pessoal [em outros países] quer destruir o vírus. O pessoal, aqui, quer destruir o presidente. Se vai morrer mais gente, não interessa [pra eles], não”, concluiu.

Diante da escalada no número de casos de coronavírus, no Brasil, todos os estados e o Distrito Federal passam por algum tipo de restrição. O isolamento social é consolidado internacionalmente como uma das principais ferramentas de combate à Covid. Em março, o sucessor de Pazuello no comando da Saúde defendeu uma orientação para a população usar máscaras e adotar o isolamento ao assumir a pasta. A postura foi elogiada por parlamentares, inclusive integrantes da oposição, por não seguir o presidente.

Observação: Queiroga é cardiologista, não general. Mas, a exemplo do antecessor, o doutor também se submete às generalidades que compõem as superstições de Bolsonaro sobre o “tratamento precoce” do coronavírus. Nesta quarta-feira, foi batizado com Cloroquina numa pajelança anticientífica realizada na cidade catarinense de Chapecó. Ao aceitar o convite do chefe para integrar a comitiva presidencial num tour cloroquínico, o subordinado comportou-se como um médico que viaja num avião sabendo que toda a sua bagagem de conhecimentos científicos viaja em outra aeronave. A iniciativa pode ser um tributo que o doutor decidiu pagar à falta de lógica, para evitar que o presidente o expurgue do governo, como fez com o ortopedista Henrique Mandetta e o oncologista Nelson Teich. A dúvida que paira no ar é a seguinte: o que é pior, um general sem formação médica que bate continência para as prescrições de um capitão ou um médico que se rende ao receituário de um presidente sem comprovação científica?

Numa pandemia, depois da insanidade costuma vir a cobrança. Como Bolsonaro não dispõe de um plano mirabolante de retorno à normalidade sem restrições, tende a se tornar um aliado tóxico. Aos pouquinhos os aliados do Planalto começam a fazer exercícios de futurologia. Muitos já avaliam que, se concluir o mandato, o capitão fará campanha em 2022 não nas redes sociais, mas ao lado de uma pilha de cadáveres. Não será fácil recrutar companhia.

Com Josias de Souza

quinta-feira, 8 de abril de 2021

VAI UM FILMINHO AÍ?

A VIDA É INGRATA NO MACIO DE SI, MAS TRANSTRAZ A ESPERANÇA MESMO DO MEIO DO FEL DO DESESPERO.

A maior pandemia viral da história do nosso país — quiçá do mundo — impôs a adoção do home office e de medidas como o “isolamento social” para retardar a propagação da Covid e evitar o colapso no sistema de saúde. 

Se as decisões foram acertadas, se surtiram os efeitos esperados, se devem ser mantidas ou suspensas em benefício da recuperação, bem, essas são perguntas cujas respostas podem variar de acordo com o nível intelectual e, por que não dizer, as convicções político-ideológicas das pessoas a quem a gente as dirigir.

Polarizações à parte, é incontestável que o uso de computadores (de mesa, portáteis e ultraportáteis) cresceu exponencialmente no último ano, tanto por conta do trabalho remoto quanto pela redução do contato pessoal com colegas, amigos e parentes (falo de pessoas responsáveis, não dos cretinos que promovem e frequentam festinhas clandestinas), como comprova o expressivo aumento da base de usuários de plataformas como o Zoom.

A videoconferência surgiu nos anos 1970, mas demorou décadas para se popularizar, já que a troca de vídeos em tempo real exigia inicialmente um aparato sofisticado, com duas ou três câmeras, microfones, um ou dois monitores, aparelhos de vídeo cassete, lousas eletrônicas, e um computador conectado à Internet. Mas, já dizia o poeta, “não há nada como o tempo para passar”.

Observação: Para que não se lembra, a conexão em banda larga só começou pipocar no Brasil após a virada do século; até então a modalidade padrão de acesso era a lenta e instável rede “dial up”, na qual placas de modem analógico incorporadas aos PCs discavam (literalmente) para um provedor de Internet. Além de instável, a conexão discada era extremamente lenta (a velocidade máxima teórica alcançada por um modem analógico é de 56,6 kbps) e cara, pois a operadora cobrava um pulso quando a ligação era completada e pulsos adicionais a cada 6 segundos, da mesma forma que nas ligações convencionais — a não ser durante as madrugadas e em feriados e finais de semana, quando eram cobrados apenas dois pulsos, independentemente do tempo de duração da chamada.

Ao longo dos últimos anos, graças, sobretudo, à melhoria da conexão e às novas tecnologias que surgiram, como smartphones ultra velozes e tablets, as famosas chamadas de vídeo se tornaram comuns até mesmo em aplicativos como WhatsApp, Skype, Facebook e Instagram, entre tantos outros. 

Em 2020, a videoconferência tornou-se indispensável na rotina das pessoas. O Google Meet, por exemplo, teve uso ampliado em 25 vezes durante a pandemia; a Microsoft registrou, em apenas um mês, aumento de 70% no número de usuários do Skype, e o Zoom, que se popularizou bastante, surpreendeu ao bater incríveis 169% de crescimento no período.

Além do home office, do happy hour virtual e das confraternizações remotas (por videoconferência) entre amigos e parentes, os sites que oferecem filmes e seriados para download também registram uma expansão substantiva em sua base de usuários. Mas é preciso ter em mente que navegar na Web, que até não muito tempo atrás um “bucólico passeio no parque”, tornou-se uma prática tão perigosa quanto um safári nas savanas africanas, dado o aumento exponencial de pragas digitais e golpes virtuais. E foi-se o tempo em que o vírus era apenas incomodativo (na pior das hipóteses, bastava reinstalar o sistema operacional para que tudo voltasse a ser como antes no Quartel de Abrantes).

Procurar o nome de um filme no Google (ou em outro mecanismo de buscas qualquer) e clicar no primeiro link que aparece é uma prática tão comum quanto perigosa. Não raro, o internauta é redirecionado a sites potencialmente inseguros, que condicionam a liberação do conteúdo ao preenchimento de um cadastro com nome, CPF, telefone, endereço eletrônico etc. Alguns exibem uma mensagem de erro, outros fornecem o conteúdo, mas vendem os dados a empresas especializadas no envio de spam, e há os que chegam até a lançar valores a débito na telefônica informada no cadastro — sem autorização e à total revelia do usuário — a título de cobrança pelo “serviço fornecido”.

A tecnologia P2P (de Peer-to-Peer, ou ponto a ponto) tornou-se popular na década passada por permitir o compartilhamento de arquivos entre os usuários sem a necessidade de um servidor central. Ela foi projetada para compartilhar arquivos grandes de forma ágil, mas vem sendo usada desde sempre (quem não se lembra do célebre KaZaA) de maneira maliciosa, dado o anonimato que permite. 

O problema do serviço é que o usuário não tem como saber se o arquivo é ou não real, se está realmente baixando um filme ou infectando seu sistema com uma carga viral. E confiar nos comentários que outros espectadores deixaram na plataforma que exibe o filme não é a solução, já que muitos deles podem ser falsos.

Alguns sites que oferecem filmes e séries para download exigem a instalação prévia de “plug-ins” que podem conter vírus, spywares e outros programinhas maliciosos que se destinam a espionar o internauta, exibir janelas pop-up de propaganda, roubar senhas, dados bancários e números de cartões de credito, entre outras coisas.

Observação: No final do ano passado, pesquisadores da Avast deram conta de que 28 extensões disponíveis para os navegadores Google Chrome e do Microsoft Edge instalavam um malware capaz de roubar dados pessoais dos internautas. Somando o número de downloads de todos os plugins maliciosos, a empresa de segurança tcheca calculava que três milhões de pessoas foram afetadas, mundo afora, por essas maracutaias.

Muitos usuários que baixam filmes a partir de sites legítimos acabam buscando a legenda condizente em outros endereços desconhecidos, que vinculam o fornecimento do conteúdo ao preenchimento de um cadastro (e utilizam os dados informados para finalidades escusas), ou então induzem a vítima a baixar arquivos perigosos, como executáveis que, em vez da legenda desejada, brindam o incauto com programinhas maliciosos. Como diz um velho ditado, “o barato sai caro”. Serviços de streaming on-line — como Netflix, Amazon, Disney etc. — são pagos, mas bem mais seguros, além de oferecer o conteúdo dublado ou com legenda.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

SOBRE SISTEMA E APLICATIVOS (CONTINUAÇÃO)

PROMETE EM DÚVIDA, QUE AO DAR NINGUÉM TE AJUDA.

Conforme eu antecipei no post anterior, os aplicativos são responsáveis pela maioria das tarefas que o computador (de mesa, portátil ou ultraportátil) executa para nós. Embora o Windows integre um editor de textos elementar (Notepad, ou Bloco de Notas) e outro um pouco mais versátil (WordPad), muita gente não abre mão do MS Word (processador de textos que integra o Windows 365, como passou a ser chamado o pacote de apps de escritório e produtividade Office 365 — sucessor da tradicional suíte de aplicativos MS Office). 

Para proteger o computador contra malware e invasões, há quem prefira uma “Internet Security” — como as da Kaspersky, McAfee, Symantec, Avira, etc. —, a despeito de o Windows dispor de antimalware e firewall nativos. E para manter o sistema nos triques, usuários intermediários e avançados se valem de suítes de manutenção como o Advanced System Care, da IObit, ou o CCleaner, da Piriform, ainda que o próprio Windows conte com utilitários nativos para limpeza do disco, correção de erros e desfragmentação dos dados. E esses são apenas alguns entre dúzias de exemplos que eu poderia citar.

Ainda que os discos rígidos atuais sejam verdadeiros latifúndios, não há razão para ocuparmos cada megabyte de espaço com programas que usamos uma vez para nunca mais. Até porque qualquer software adicionado ao computador ocupa espaço e consome recursos (ciclos da CPU, espaço na memória RAM, etc.), e quanto mais aplicativos pendurarmos no sistema, mais lento o computador ficará e maiores serão os riscos de infeções digitais.

Até não muito tempo atrás, para instalar qualquer aplicativo era preciso adquirir a respectiva a mídia de instalação. Hoje em dia, basta acessar o site do desenvolvedor do programa — ou um repositório de softwares, como o Baixaki —, baixar o instalador, rodar o executável, aceitar os termos do EULA (detalhes nesta postagem) e pronto. A Web está coalhada de “freewares” (para saber mais sobre as diversas modalidades de distribuição e licenciamento de software, acesse esta postagem), e a “gratuidade” estimula a instalação de toda sorte de inutilitários. Por outro lado, além do impacto na performance do sistema, sempre existe o risco de esses programinhas virem acompanhados de vírus e outros códigos maliciosos. 

Observação: Apps maliciosos ou adulterados pela bandidagem digital são responsáveis pela maioria dos incidentes de segurança em smartphones (para saber mais, acesse esta postagem e as seguintes), sobretudo porque poucos usuários atentam para as permissões solicitadas no momento da instalação. Você já se perguntou, por exemplo, por que diabos uma lanterna ou um gravador de voz que você instala no seu celular pede permissão para acessar sua agenda de contatos ou seus grupos no WhatsApp?

Pode-se argumentar que tudo é reversível no âmbito do software e que basta desinstalar os aplicativos inúteis ou problemáticos para recuperar o espaço que eles ocupavam e tudo voltar a ser como antes no Quartel de Abrantes. Mas não é assim que a banda toca. Elementos indesejáveis (pastas, arquivos de log e entradas inválidas no Registro do Windows, entre outros) costumam sobreviver à desinstalação do programa que os criou. Barras de ferramentas adicionadas ao navegador e alterações da homepage e do mecanismo de buscas são bons exemplos de modificações que nem sempre são revertidas com a pura e simples remoção do programa que as implementou. E o mesmo vale para vírus e outros códigos mal-intencionados (spywares, trojans, bots e outros que tais).

No smartphone, reverter o aparelho às configurações de fábrica costuma resolver todos esses problemas, mas tudo volta a ser como era quando o aparelho foi ligado pela primeira vez — ou seja, todas as configurações, personalizações e aplicativos terão de ser refeitos/reinstalados. No PC, mesmo que a Microsoft tenha facilitado bastante a reinstalação do Windows, esse processo é apenas a parte visível do iceberg. Depois de reinstalar o sistema ainda  preciso atualizá-lo, personalizá-lo e reinstalar todos os aplicativos que não vieram com o computador. Isso sem mencionar que arquivos pessoais (documentos de texto, fotos, músicas, vídeos, etc.) podem se perder caso o usuário não cultive o hábito de manter backups atualizados desse conteúdo.

Por hoje chega. O resto fica para uma próxima vez.  

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

MS CONFIG NO SEVEN... (segunda parte)

NEM SEMPRE O MELHOR JOGADOR GANHA O JOGO; ÀS VEZES, GANHA QUEM SIMPLESMENTE JOGOU MELHOR.

O Utilitário de Configuração do Sistema foi criado para ajudar na solução de problemas na inicialização do Windows, mas é amplamente usado como Gerenciador de Inicialização, já que muitos desenvolvedores não oferecem soluções nativas para ativar/desativar a inicialização automática de seus produtos. Sua tela conta com cinco abas: Geral, Inicialização do Sistema, Serviços, Inicialização de Programas e Ferramentas.
A aba Inicialização de programas foi contemplada na postagem anterior, de modo que na de hoje vamos tecer alguns comentários sobre Geral e Inicialização do Sistema. Acompanhem:
  • Geral permite escolher entre as opções de inicialização Normal, de Diagnóstico e Seletiva (a primeira carrega todos os drivers e aplicativos configurados para iniciar com o sistema, a segunda, apenas os drivers e serviços básicos, enquanto a terceira personaliza a inicialização e se torna padrão quando a lista exibida na aba Inicialização de Aplicativos é modificada – para mais detalhes, reveja o post anterior).
  • Em Inicialização do Sistema, o campo Opções de Inicialização serve para reiniciar o PC no modo de segurança e customizar os recursos disponíveis. A opção Mínima carrega somente os serviços críticos do sistema; Shell Alternativo abre o prompt de comando; Reparo do Active Directory abre a interface gráfica com serviços críticos habilita o Active Directory, e Rede dá acesso à interface gráfica e habilita recursos de rede.
  • As opções à direita (veja figura ao lado) destinam-se, pela ordem, a ocultar a tela de boas vindas, salvar as informações da inicialização num arquivo específico, abrir a interface gráfica em modo VGA mínimo, exibir os drivers carregados na inicialização, temporizar o menu de inicialização e gerenciar a reversão das alterações.

Observação: Como a coisa é um tanto nebulosa, sugiro acessar o modo de segurança nos moldes convencionais, ou seja, pressionando intermitentemente a tecla F8 durante o boot e usando as teclas de seta para selecionar a opção desejada.

O botão Opções avançadas de inicialização permite ajustar o número de processadores usados na inicialização – ou de núcleos, no caso de CPUs multicore -  mas essa questão divide a opinião dos analistas: alguns afirmam que o Windows utiliza todos os núcleos durante o boot, e que a ferramenta serve apenas para limitá-los (como o botão de TURBO dos PCs de antigamente, que, ao contrário do que se costumava pensar, servia para reduzir a frequência de operação da CPU, de modo a permitir a execução de programas ainda mais antigos), mas a tela das opções avançadas de inicialização do meu PC mostra apenas um núcleo habilitado por default. Para adicionar o segundo, eu marquei a caixa Número de processadores, cliquei na setinha à direita e escolhi a opção 2 e, conforme visto nesta postagem, e a partir daí observei uma redução de aproximadamente 10% no tempo de inicialização.
Vale lembrar que esse tempo pode variar devido a uma série de fatores. Quando reiniciamos o PC depois de uma limpeza e compactação do Registro, por exemplo, notamos que o Windows demora mais para nos entregar o comando da máquina, mas os boots subsequentes passam a ser mais rápidos. Em última análise, nada se perde em tentar, até porque basta desfazer o ajuste para que tudo volte a ser como antes no Quartel de Abrantes.    
As demais opções avançadas são simular uma configuração de pouca memória, Bloquear PCI, Depurar e Ajustar as Configurações Globais de Depuração. Detalhá-las foge ao escopo desta postagem (quem sabe numa próxima oportunidade). Nesse entretempo, só promova quaisquer alterações se você realmente souber o que está fazendo.

Amanhã a gente continua; abraços e até lá.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mouse

O mouse foi criado no início da década de 1960, e assim chamado devido a seu formato, que lembrava vagamente um camundongo - por conta do longo fio elétrico que o atrelava ao computador. Mas ele só se tornaria popular após o advento das interfaces gráficas em sistemas e programas (costa que o Macintosh, desenvolvido pela Apple no início dos anos 1980, teria sido o primeiro computador pessoal a utilizar um mouse).
A despeito de sua sensível evolução ao longo de quase meio século, o mouse convencional mantém basicamente as mesmas características do SleekMouse (criado pela IBM). Até alguns anos atrás, a maioria dos computadores usava mouses "de esfera", onde os movimentos de uma bolinha de borracha fazem girar os eixos (ou roletes) existentes no interior da cavidade, gerando sinais que são interpretados pelos circuitos lógicos do dispositivo e resultam nos movimentos do cursor na tela do monitor. Atualmente, todavia, os modelos ópticos (que "fotografam" a área de varredura milhares de vezes por segundo) se tornaram padrão, até porque transportam os movimentos para a tela de forma mais precisa, proporcionando uma utilização bem mais confortável - tanto em games quanto em aplicações convencionais.
Embora seja possível operar normalmente o PC sem o auxílio do simpático ratinho, tal prática requer habilidade e memorização de atalhos de teclado, sendo trabalhosa e desconfortável para a maioria dos usuários comuns. Por conta disso, cuidar bem do mouse é essencial para que ele lhe preste bons serviços durante uma porção de tempo.
Quem utiliza um mouse "de esfera" sabe que a sujeira é a principal causadora de problemas: tanto a bolinha quanto os roletes podem ficar impregnados de partículas de poeira, fiapos que caem de tecidos, fios de cabelo e outros que tais, tornando errático o comportamento do cursor, que pode "grudar" ou dar "saltos" na tela. Nesse caso, você deve abrir a portinhola existente na parte inferior do mouse, retirar a esfera e lavá-la em água morna acrescida de algumas gotas de detergente neutro (não utilize produtos fortes ou que contenham amoníaco). Limpe também o interior da cavidade com um pincel de cerdas macias, remova a sujeira dos roletes com auxílio de uma pinça e troque seu mousepad - aquele tapetinho emborrachado sobre o qual o mouse desliza. Já os modelos ópticos dispensam essa faxina (até porque não têm esfera, cavidade ou roletes que exijam limpezas periódicas); basta limpá-los externamente - em especial a parte inferior, onde fica a leitora óptica - e um abraço.
Seja óptico, seja mecânico, o mouse pode apresentar problemas devido a mau contato em seus botões. Quando isso ocorre, os cliques não atuam corretamente (é preciso clicar duas ou mais vezes até o dispositivo responder). Abra o dispositivo, aplique spray limpador de contatos nos botões, espere secar e confira o resultado.
Se não der certo, o jeito será partir para uma reconfiguração via software (quando possível), transferindo as funções do botão inoperante para o do meio, que geralmente não é utilizado. Em último caso, pode-se tentar um transplante - ou seja, a substituição "física" do botão problemático -, mas isso requer ferro de solda, sugador, alguma habilidade e um bocado de paciência. E como um mouse novo não custa caro...
Quando for substituir seu mouse, não olhe apenas para o preço (mais baixo), nem valorize exageradamente um formato curioso ou "engraçadinho", ou mesmo aquela profusão de recursos adicionais que você provavelmente não irá utilizar. E ainda que alguns modelos possam ser encontrados em bazares, papelarias e supermercados por menos de R$10, é melhor adquirí-los em lojas de suprimentos de informática, que geralmente oferecem opções de qualidade superior (em minha opinião, os mouses da Microsoft são imbatíveis, mas existem bons produtos da Genius, da Leadership e da Logitech, dentre outros fabricantes igualmente renomados).
Quanto à interface, há tempos que o jurássico padrão DB-9 deu lugar ao PS/2 (ou mini-DIN) e, mais recentemente, ao USB (recomendável). Mesmo que seja possível plugar qualquer modelo usando o adaptador correspondente, convém levar para casa um mouse adequado ao conector suportado pelo seu computador e compatível com seu sistema operacional (hoje em dia, quase todos são compatíveis com quase tudo, mas ainda assim...).
Observação: Mesmo que a comunicação wireless (sem fio) entre dispositivos computacionais seja a tecnologia do futuro, e que teclados e mouses "anuros" contribuam para reduzir aquela macarronada de fios atrás da mesa, a necessidade do uso de pilhas (ou de baterias recarregáveis) e as frequentes interferências e travamentos me levam a ter alguma reserva em relação ao uso desses periféricos.
Para encerrar, não custa lembrar que os botões do mouse devem ser pressionados com delicadeza; quem gosta de games de ação - nos quais os botões são mais exigidos - deve comprar um joystick. Note também que diversas anomalias podem decorrer de problemas no cabo, na interface, ou mesmo de conflitos de hardware. Para não jogar dinheiro fora, antes de comprar um mouse novo, instale uma peça emprestada de algum amigo e veja se tudo volta a ser como antes no quartel de Abrantes (reze para que sim).

Até amanhã.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

O PEDIDO DE HABEAS CORPUS DE LULA E A ESTRATÉGIA DE FACHIN





Conforme eu mencionei no aditamento da postagem anterior, Edson Fachin, relator dos processos da Lava-Jato no STF, não conheceu do pedido de habeas corpus feito pela defesa de Lula e passou o abacaxi para o plenário da Corte descascar. Diferentemente do que foi dito pela maioria dos veículos de comunicação, ele não negou o pedido ― se o fizesse, a defesa ingressaria com um agravo regimental, e o habeas corpus seria julgado pela 2.ª Turma, cujos demais integrantes são os ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli (talvez o decano da Corte acompanhasse seu voto, e olhe lá) ―, mas simplesmente optou por não conhecer do recurso, visto que, no plenário da Corte, a chance de o habeas corpus ser negado é maior.

Para quem não está familiarizado com o juridiquês, um agravo de instrumento é interposto perante o juízo ad quem (instância superior) quando o juízo a quo (instância inferior) denega seguimento a um recurso. Já o agravo regimental, embora também seja interposto perante a instância na qual o processo se encontra, visa reverter a decisão do relator que, liminarmente, negou seguimento ao apelo

Trocando em miúdos, Fachin negou a solicitação em caráter liminar (provisório), mas deixou a decisão de mérito para o plenário do STF, frustrando as expectativas da defesa de Lula, que contava com os votos favoráveis de, pelo menos, Mendes, Lewandowski e Toffoli.

Na cerimônia de reabertura dos trabalhos no Judiciário, no início deste mês, a ministra Cármen Lucia se disse contrária à rediscussão do cumprimento da pena após a confirmação da condenação por um juízo colegiado ― usar de maneira oportunista o caso específico do ex-presidente Lula seria “apequenar o Supremo”, foram suas palavras. Agora, todavia, ela será forçada a pautar o julgamento.

Em fevereiro de 2016, por 7 votos a 4, o plenário do STF entendeu possível a prisão do réu antes do trânsito em julgado da decisão condenatória (ou seja, antes da condenação definitiva). Como a decisão não era vinculativa (não obrigava instâncias inferiores a adotarem a prática), os ministros vencidos na ocasião não respeitaram esse entendimento em suas decisões monocráticas. Mais adiante, Toffoli, que se havia posicionado a favor da prisão em segunda instância, votou pela execução da pena após decisão do STJ. Em outubro daquele ano, por 6 votos a 5, o Supremo manteve o mesmo entendimento. Em sua decisão, Fachin fez alusão a essa decisão e destacou que seu colega Marco Aurélio liberou, em dezembro passado, duas ações para que o plenário analisasse o mérito. Segundo Fachin, o tema que a defesa de Lula pretende discutir "precede, abarca e coincide com a matéria de fundo versada no presente writ” (termo usado em habeas corpus e mandados de segurança, onde é pedida a concessão do writ, ou seja, pleiteia-se a concessão da ordem, do pedido formulado em tais petições).

No habeas corpus de Lula, os advogados mencionam a possibilidade de o STF discutir novamente a execução provisória da pena após condenação em segunda instância, e que a votação pode resultar num placar diferente, sobretudo porque o ministro Gilmar Mendes, o boquirroto, sinalizou uma possível mudança no seu entendimento. Por outro lado, existe a possibilidade de Alexandre de Moraes ― que não votou em 2016 porque só passou a fazer parte da Corte em 2017 ― votar com a (atual) maioria. E se a ministra Rosa Weber, a paradoxal, também seguir esse entendimento, tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes.

Durante o julgamento do deputado federal catarinense João Rodrigues, no último dia 6, Alexandre de Moraes reafirmou que é a favor da prisão após condenação em segunda instância. Em outubro de 2017, ao decidir monocraticamente sobre o HC 148.369, ele já havia mantido a execução antecipada da pena de Cristiano Barbosa, ex-prefeito de Miguelópolis, condenado a mais de 7 anos de prisão por dispensa irregular de licitação e crime de responsabilidade. Na ocasião, ao ratificar a decisão do TJSP, disse o ministro que “esse entendimento [prisão em segundo grau] foi confirmado no julgamento das medidas cautelares nas ADCs 43 e 44, oportunidade na qual se decidiu, também, pelo indeferimento do pedido de modulação dos efeitos. E, em repercussão geral, foi reafirmada a jurisprudência, no exame do ARE 964.246”.

Como a prudência recomenda não confiar em barriga de criança nem em cabeça de juiz, é difícil prever o resultado do julgamento do HC preventivo de Lula. O entendimento atual ― pelo cabimento da execução provisória da pena após decisão em segunda instância ― está longe de ser pacífico, ainda que pese em abono dessa tese o fato de que nem o STJ nem o STF reexaminam provas, e que menos de 1% dos recursos que chegaram à “terceira instância” nos últimos 2 anos resultou na absolvição dos réus.

Para Fachin, o colegiado a quem cabe julgar o mérito do recurso de Lula é o plenário do STF, não a 2.ª Turma, até porque os ministros precisam chegar a um consenso para evitar a insegurança jurídica e o caos político que se instalaram nesta república de bananas. “Acolho a pretensão que veicula pedido para apreciação colegiada sobre a questão de fundo e afeto a presente impetração ao Tribunal Pleno do STF. É legítima a pretensão preventiva da impetração ao almejar célere pronunciamento colegiado quanto à matéria de fundo, vale dizer, a execução imediata da pena após sentença criminal confirmada em segundo grau. (...) Há, portanto, relevante questão jurídica e necessidade de prevenir divergência entre as Turmas quanto à questão relativa à possibilidade de execução criminal após condenação assentada em segundo grau de jurisdição”, escreveu Fachin em seu despacho.

De acordo com O ANTAGONISTA, não há divergência nenhuma. O que há é uma afronta de ministros da 2.ª Turma ao princípio da repercussão geral no caso das prisões de condenados em segunda instância. É o Supremo afrontando o Supremo.

Depois da decisão de Fachin, juízes e juristas concluíram, em conversas que avançaram noite adentro, que o STF não é mais um tribunal. No caso da prisão por decisão de segunda instância, Ricardo Lewandowski e agora o próprio Fachin não respeitam a jurisprudência do STF firmada em regime de repercussão geral. No julgamento sobre a prerrogativa de foro ― que ainda não acabou ―, Luiz Roberto Barroso está aplicando uma jurisprudência que não existe exatamente porque o julgamento não acabou.

A conclusão geral de juízes e juristas é que o STF, como tribunal, deixou de existir; é uma cara reunião de diletantes sustentada com muito dinheiro público. Nunca antes em sua centenária história o Supremo foi tão depredado por seus membros como vem ocorrendo de uns tempos a esta parte.

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