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quinta-feira, 25 de julho de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE VI)

A CORRUPÇÃO NA POLÍTICA É O RESULTADO DAS ESCOLHAS FEITAS POR ELEITORES APEDEUTAS.
De acordo com a Teoria da Relatividade e até prova em contrário, a velocidade da luz (299.792.458 m/s ou 1,08 bilhão km/h) é o limite máximo possível no universo. Se o universo se expande a uma velocidade superluminal, é porque não são as galáxias que se afastam umas das outras, mas o espaço entre elas que se expande. Isso fica fácil de compreender se imaginarmos o cosmos como uma bexiga de borracha e as galáxias como a inscrição "Feliz Aniversário". Conforme essa bexiga infla, a distância entre as letras aumenta, não por elas mudarem de lugar, mas por acompanharem a expansão resultante da pressão do ar no interior do bexiga.
Acredita-se que os táquions sejam partículas que "já nascem superluminais" e, ao contrário das partículas comuns, ganham ganhem velocidade à medida que perdem energia e se movem para traz na linha do tempo. Cientistas da Universidade de Varsóvia propuseram uma extensão da teoria relatividade especial para explorar a existência dessas hipotéticas partículas. Se ela restar confirmada, o princípio da causalidade será violado, dando azo a paradoxos tão complexos quanto o do Avô e exigindo a reformulação da Transformação de Lorentz.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

"Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso?", pergunta José Luiz Datena. A comparação não é boa. O presidente americano não desistiu de disputar a reeleição, foi empurrado para fora da raia, ao passo que o apresentador da Band é campeão de defecções
Biden, 81 anos, comportou-se como se a velhice pudesse ser sempre deixada para amanhã; Datena, 67, age como se a velhice chegasse para os seus projetos políticos sempre ontem. Flerta com a política há uma década. Passou por 11 partidos. Às vésperas da convenção do PSDB, procura novamente a porta de saída.
Datena vendeu um terreno na Lua a Tábata Amaral ao admitir que poderia ser vice da candidata do PSB. Revendeu a mesma propriedade ao tucanato, adicionando uma vista para os anéis de Saturno. Seria cabeça de chapa, não vice. Depois de se consolidar como uma espécie de conto do vigário no qual todos caem, o jornalista soa como se receasse ser passado para trás: "Desde o começo, falei: se me sacanearam, eu desisto mesmo!"
"Não confio em palavra de político", disse Datena na semana passada. Na prática, ele usa os políticos, fazendo gato e sapato de todos eles. Nesse jogo de malandro e otário, convém lembrar de um ensinamento de Tancredo Neves: "Esperteza quando é muita engole o dono". O risco que Datena corre é o de reservar para o eleitorado no seu enredo o papel de coadjuvante de uma palhaçada.

Num experimento realizado no CERN em 2011, os neutrinos (partículas subatômicas com quase nenhuma massa) teriam superado a velocidade da luz em 60 bilionésimos de segundo, mas verificou-se mais adiante que esse resultado se deveu um erro de medição causado por um cabo de fibra óptica mal conectado. Em 2022, os pesquisadores conseguiram acelerar fótons (partículas elementares que compõem a luz) a velocidades superluminais, mas vale lembrar que os fótons não têm massa. 
 
Observação: Segundo as equações de Einstein, a única coisa capaz de mover uma partícula com massa é uma força que viaje à mesma velocidade. Da feita que a partícula ganha massa conforme sua velocidade aumenta, a massa será infinita à velocidade da luz, e somente uma força igualmente infinita poderia acelerá-la ainda mais.
 
Ultrapassar a velocidade da luz não é a única forma de fazer o tempo retroceder, pois o espaço-tempo pode ser distorcido pela gravidade do horizonte de eventos de um buraco negro. Admite-se a existência buracos de minhoca no interior dos buracos negros, e que eles funcionam como "atalhos cósmicos", interligando dois pontos no espaço-tempo (para entender melhor, dobre uma folha de papel de 30 cm ao meio e veja que, com a folha dobrada, as margens podem ser interligadas por simples grampo).
 
O nome "buraco de minhoca" (wormhole em inglês) advém de uma analogia com o bicho da maçã, que encurta o caminho entre os dois lados da fruta atravessando seu miolo. Da mesma maneira, uma espaçonave que adentrasse um desses "túneis cósmicos" poderia percorrer milhões de anos-luz em poucos segundos e chegar a galáxias diferentes, neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo. Mas os buracos negros já foram avistados e fotografados, enquanto os buracos de minhoca são hipotéticos e não atravessáveis, já se surgem e desfazem numa fração de segundo. 
 
Observação: Curvar o espaço-tempo a ponto de criar um buraco de minhoca exige uma quantidade imensa de energia escura (cujas propriedades ainda não são conhecidas pelos cientistas). Além disso, a distorção que eles criam no espaço-tempo poderia aumentar 100 vezes a duração de uma viagem a Marte (que sonda Mars Insight fez em cerca de 6 meses). 
Na maior velocidade alcançada por uma sonda espacial até agora (635.266 km/h) seria possível ir à Lua em menos de meia hora e chegar ao Sol em cerca de 10 dias, mas uma viagem até buraco negro Gaia BH1 (que fica a 1.560 anos-luz da Terra) demoraria 2.670 anos, o que torna impossível comprovar experimentalmente que o tempo "congela" devido à singularidade que fica oculta em seu horizonte de eventos.
 
Estudos matemáticos dão conta de que um hipotético viajante do tempo que entrasse numa curva rumo ao passado poderia seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações, já que qualquer tentativa de mudar o que já aconteceu criaria uma LTA (linha de tempo alternativa) paralela à LTO (linha de tempo original) a partir do ponto de mudança. Uma vez que a própria chegada ao passado seria por si só uma mudança, nosso hipotético viajante se materializaria numa hipotética LTA, e nada que ele fizesse alteraria o curso da história em sua linha do tempo original.
 
A existência de uma LTA para cada decisão tomada tornaria a viagem ao passado factível, pois eliminaria paradoxos temporais como o do Avô. Mas isso é apenas mais uma teoria não comprovada experimentalmente, e sem múltiplos universos e linhas do tempo alternativas, o efeito borboleta poderia gerar um loop infinito de causas e efeitos, semelhante ao que acontece quando uma pedra jogada num lago cria ondas que se propagam até a margem.
 
Hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e a vida é feita de escolhas. Quando dobramos à direita em vez de à esquerda numa encruzilhada do hoje, desencadeamos uma sucessão de consequências que se espalham no amanhã como as ondas produzidas pela pedra na água do lago. Além disso, as viagens no tempo só fazem sentido se assumimos que o tempo existe e o comparamos a uma estrada pela qual podemos avançar numa velocidade constante, acelerar, desacelerar e até mesmo parar. 
Como já disse alguém, a única certeza que temos é a de que não temos certeza de nada, mas é justamente essa (in)certeza que nos instiga a continuar investigando o mundo que nos cerca.

Continua...   

sexta-feira, 5 de abril de 2024

NA GUILHOTINA, MORO ESTREITA INIMIZADE COM GILMAR

 

Nomeado ministro da Saúde após a demissão de Luís Mandetta, Nelson Teich pediu o boné a dois dias de completar um mês no cargo. Na coletiva de imprensa que convocou para informar o desembarque, ele ensinou que "a vida é feita de escolhas". Faltou dizer que escolhas têm consequências, que as consequências sempre vêm depois, e que a terra plana não dá voltas, capota. 

Sergio Moro não teria capotado se continuasse engolindo sapos e sorvendo a água suja da lagoa palaciana como fez durante 1 ano e 4 meses, mas reunião interministerial de 22 de abril de 2020 foi a gota que entupiu o canudinho. Ao atribuir o desembarque às constantes ingerências de Bolsonaro na PF, ele iniciou um périplo pelos nove círculos do inferno que não sabe se, como e quando terminará.
 
Como juiz federal, Moro enquadrou poderosos em processos de grande repercussão, como o escândalo do Banestado, a Operação Farol da Colina e a Operação Fênix. No auge da finada Lava-Jato, condenou figuras do alto escalão da política e do empresariado tupiniquim, como LulaJosé DirceuSérgio Cabral e Marcel Odebrecht. No governo, foi traído por Bolsonaro. Como aspirante à Presidência, filiou-se ao Podemos, migrou para o União Brasil e foi sabotado por Luciano Bivar. Candidatou-se a deputado por São Paulo e se elegeu senador pelo Paraná. Dos 8 projetos que apresentou, nenhum foi aprovado. 
 
Moro se tornou refém da imagem de herói nacional que cultivou e do político pouco habilidoso que se tornou. Quando juiz, jurou que jamais entraria para a política; ministro, simulou desinteresse pelo Planalto; pré-candidato à Presidência, prometeu levar a campanha até o final; candidato a deputado por um partido, elegeu-se senador por outro; e
xecrado pela esquerda, abandonado pela extrema-direita (e por boa parte de direita) e antipático aos olhos da alta cúpula do Judiciário, passou a colher os frutos do que plantou ao trocar o certo pelo duvidoso (ou pelo errado, como descobriu mais adiante).
 
Moro colecionou muitos inimigos, mas ninguém investiu tanto contra sua reputação quanto ele ao ajudar a incinerar as sentenças que lhe deram fama e a carbonizar as multas de corruptores confessos no forno do Supremo. Na Divina ComédiaDante Alighieri percorre o Inferno e o Purgatório guiado pelo poeta Virgílio e o Paraíso, por sua amada Beatriz. Na política, cada um precisa fazer seu caminho; Moro entrou nessa sem guia, e terá de sair sozinho.
 
PL e PT se uniram em busca da cassação de seu mandato. Como as ações foram movidas contra a chapa, eventual condenação se estenderá aos suplentes, levando os eleitores paranaenses de volta às urnas para escolher outro senador, Entre os urubus que sobrevoam a carniça, destacam-se a ex-primeira-dama e atual presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, e os deputados petistas Zeca Dirceu e Gleisi Hoffmann. 
 
A acusação de abuso do poder econômico é sólida, já que os gastos na pré-campanha presidencial estão documentados, mas irônica, pois a "superexposição" que garantiu a eleição para o Senado não foi obtida nos poucos meses de campanha, mas a longo de quatro anos e fumaça na vitrine da Lava-Jato. 

Na última segunda-feira, depois que o relator das ações no TRE-PR votou contra a cassação, um pedido de vista suspendeu o julgamento. Na quarta, quando o placar estava em 1 a 1, outro pedido de vista adiou para a próxima segunda a coleta dos 5 votos restantes. Independentemente do resultado, o veredito final será proferido em Brasília, já que a parte derrotada recorrerá da decisão da Justiça no TSE e no STF.
 
Como desgraça pouca é bobagem, o
 corregedor do Conselho Nacional de Justiça liberou para votação o relatório que aponta "gestão caótica" de verbas resultantes de acordos firmados com empresas pelo MPF e homologados pelo então juiz da Lava-Jato. Ainda não há uma data definida para a sessão, mas o imbróglio pode resultar num procedimento cuja palavra final será dada pelo STF, onde o prestígio do ainda senador não é dos melhores. 
 
Com a corda no pescoço e os pés no cadafalso, o ministro que engolia batráquios virou o senador que engole elefantes, e seu desejo de salvar o país da corrupção, ânsia de livrar a si mesmo da cassação. A perspectiva de um processo criminal levou-o a pedir (e obter) uma audiência com o ministro Gilmar Mendes (que passou de defensor do combate à corrupção a crítico ferrenho da Lava-Jato no Paraná e desafeto figadal do ex-magistrado)
 
Observação: Até as pedras sabem o que os dois pensam um do outro. No ano passado, Moro foi filmado numa festa junina falando em "comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes", ao que o ministro reagiu: "Quem tem que fazer explicações sobre venda de decisões é ele". 
 
Segundo a coluna de Igor Gadelha, o encontro humilhante se deu no gabinete de Gilmar, foi intermediado pelo senador Wellington Fagundes e durou 90 minutos. Quando Moro tentou se desvincular do ex-coordenador da Lava-Jato e deputado cassado Deltan Dallagnol, ouviu do ministro: "Você e Dallagnol roubavam galinha juntos. Tudo que a Vaza-Jato revelou, eu já sabia. Vocês combinavam o que estaria nas peças. Não venha dizer que não".
 
No século 19, certas diferenças só podiam ser lavadas com sangue num duelo. Hoje, a hemorragia de Moro escorre sobre as cinzas da Lava-Jato. Quem consegue avistar uma saída honrosa na mais degradante desonra pode achar alvissareira a tentativa do ex-candidato da antipolítica estreitar sua inimizade com a toga mais política do Supremo, mas o excesso de cinismo reforça a percepção de que a política é mesmo o território da farsa.

Com Josias de Souza

sexta-feira, 1 de março de 2024

WHATSAPP E INSTAGRAM — DICAS

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS. ENTÃO, LIMPE OS PÉS OU ESFREGUE O CHÃO.

Gênio norte-americano da comédia, Groucho Marx (não confundir com o "pai do comunismo") costumava ironizar os falsos moralista recitando preceitos hipoteticamente vitais, como "esses são os meus princípios, mas se você não gosta deles eu tenho outros". Certos parlamentares também são totalmente a favor de tudo e visceralmente contra qualquer outra coisa, desde que sua impunidade não seja comprometida. 
Incomodados com o cerco da PF, deputados e senadores da ala bolsonarista inauguraram o "grouchomarxismo", que consiste na busca de blindagem e invulnerabilidade. A palavra "anistia" soou na residência oficial do presidente do Senado 25 dias antes de ser ecoada por Bolsonaro na Paulista. Em visita a Pacheco, o líder da oposição e outros senadores bolsonaristas propuseram a aprovação de uma anistia capaz de "apaziguar o país". 
Além de rebaixar para instâncias inferiores o julgamento dos crimes comuns de investigados superiores, essa matula quer condicionar a abertura de investigações e cumprimento de ordens judiciais contra parlamentares à aprovação prévia do Legislativo. Se esses princípios grouchomarxistas já estivessem em vigor, congressistas suspeitos de insuflar o 8 de janeiro ou de contribuir para a tentativa de golpe não estariam submetidos à relatoria de Alexandre de Moraes, a PF precisaria ter avisado com antecedência à Mesa diretora da Câmara que realizaria batida de busca e apreensão nos gabinetes e endereços dos deputados Carlos Jordy e Alexandre Ramagem.
Os grouchomarxistas têm medo de muitas coisas, mas não do ridículo nem do eleitorado ridículo que continua votando nessa escumalha. Triste Brasil.

A chamada de voz é uma das funcionalidades mais populares entre usuários do WhatsApp, mas, se por um lado ela permite conversar com contatos de qualquer lugar do mundo sem pagar nada, por outro ela potencializa o risco de golpes em chamadas de números desconhecidos. 

A boa notícia é que é possível bloquear ligações de números que não estão em sua lista de contados, de modo a controlar quem pode ou não entrar em contato por meio de ligação feitas pelo aplicativo. Para fazer esse ajuste, inicie o WhatsApp, toque em Configurações > Privacidade e ative a função Silenciar números desconhecidos. As chamadas continuarão sendo registradas, mas deixarão de ser notificadas pelo app. 
 
Também é possível enviar mensagens de voz que "desaparecem" após serem ouvidas, reforçar a segurança das conversas com código por SMS, acompanhar notícias pela função de canais, usar duas contas no mesmo celular (desde que o aparelho seja dual-chip e o usuário disponha realmente de duas linhas), enviar fotos em alta definição, compartilhar vídeos em tempo real, editar mensagens enviadas, logar-se em até quatro dispositivos diferentes (como smartphone, desktop, notebook e tablet) sem ter de se desconectar, e por aí vai. 

Novos recursos de formatação permitem enviar o conteúdo como lista, citação em bloco e código de programação. Basta digitar um número seguido de um ponto e um espaço antes da mensagem para criar itens; sinal de maior que (>) seguido de espaço antes da mensagem para destacar trecho de texto e torná-lo mais visível; e acento grave (`) antes e depois do conteúdo para compartilhar trechos de códigos ou comandos usados por programadores.

Por padrão, o salvamento de fotos, vídeos, áudio e documentos compartilhados nas conversas individuais ou em grupo é automático, mas isso compromete o espaço disponível na memória interna do aparelho. Para evitar, abra o WhatsApp, acesse as Configurações, toque em Armazenamento de dados e, em Download automático de mídia, desmarque as opções que você não quer que sejam salvas automaticamente. A partir daí, é só escolher e salvar manualmente o conteúdo que você quiser preservar. 
 
O Instagram também é largamente usado por golpistas e cibervigaristas, que se valem da engenharia social para explorar o "elo mais frágil da corrente da segurança digital" através de links fraudulentos, anúncios de produtos falsificados, "correntes do bem" e outras variações digitais do velho "conto do vigário". Para não se pego no contrapé:
 
— Desconfie de contas desconhecidas que prometem brindes, especialmente quando a entrega é vinculada ao pagamento de taxas ou envio de informações pessoais, como números de documentos e dados bancários. 
 
— No Instagram, altere seu perfil para "privado", de modo que somente os seguidores aprovados por você verão sua atividade. Assim, haverá menos chance de algum golpista levá-lo no bico. 
 
— Desconfie de mensagens diretas provenientes de desconhecidos. Denuncie quaisquer mensagens questionáveis e bloqueie as contas associadas a elas.
 
— Segurança e comodidade raramente andam de mãos dadas. Usar a mesma senha para todas as contas e perfis online é cômodo, mas perigoso. 
 
— Se você foi vítima de um golpe no Instagram, registre as informações essenciais — como discussões, transações e informações de perfil do golpista — e use as ferramentas fornecidas pela plataforma para denunciar o ocorrido. 

Observação: Se você forneceu informações sensíveis, altere suas senhas e fique atento a qualquer comportamento incomum.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

SOBRE A MANIFESTAÇÃO DO ÚLTIMO DOMINGO


Se ainda restavam dúvidas de que a extrema-direita é uma espécie de gênio do mal que não volta mais para a garrafa, elas foram dissipadas no último domingo por um número extraordinário de rato dançando ao som da flauta do "golpista de Hamelin" ao longo de 7 quadras da mais paulista das avenidas. Como o dono do circo franqueou o ingresso, as estimativas de público variam de algumas dezenas de milhares a quase um milhão

Mestre de cerimônia da função, o mesmo Bolsonaro que comparou sua vitória em 2018 a uma "cagada do bem" e exortou seus paus-mandatos a "virar a mesa" acedeu ao picadeiro, digo, subiu no carro de som e discursou num timbre de ex-BolsonaroEmbriagado de si mesmo, o orador disse que é preciso "passar uma borracha" no passado e anistiar os "pobres coitados" condenados pelo 8 de janeiro. 

O chamamento à mobilização por anistia aos selvagens (e por extensão ao próprio ex-presidente, que, assim, se inclui na roda dos defensores da ruptura) não tem a menor chance de prosperar: ainda que tivesse apoia da sociedade, não passaria pelo Congresso; se passasse, morreria no STF.

Observação: Convém lembrar que o alimento do bolsonarismo raiz é a agressividade. A exacerbação de ânimos é o seu motor, que perde tração quando chamado à moderação — que precisará ser duradoura se o capitão da tropa não quiser se complicar ainda mais e afugentar políticos que só subiram no trio elétrico porque a promessa era de fogo baixo.
 
A lengalenga do devoto da cloroquina (tome um Plasil e clique aqui para ver o vídeo) não só explicitou sua intenção de salvar a própria pele como deu a impressão de que ele se vê numa posição parecida com a de Lula em 2017, quando o STF avalizou sua prisão e o TSE o declarou inelegível. Isso sem mencionar que o apego oportunista à serenidade evidencia (não que pairassem dúvidas) a má intenção do ex-mandatário quando, confirmada sua derrota nas urnas, encastelou-se no Alvorada e, 40 dias depois, picou a mula para os EUA, onde aguardou, homiziado na cueca do Pateta, o desenrolar dos acontecimentos urdidos aqui por seus comparsas de conspirata golpista. 

Quem sabe ouvir nas entrelinhas percebeu que o sonho de Bolsonaro é evitar que seus piores pesadelos se tornem realidade  ou por outra, sonhar o mesmo sonho que o Lula realizou ao saltar do degredo judicial para um novo mandato no Planalto. A alturas tantas, o discursante como que calçou os sapatos do petista: "Não podemos pensar em ganhar as eleições afastando os opositores do cenário político." A lamúria contém um quê de ridículo, já que o lamuriento foi o grande beneficiário da exclusão do adversário das urnas em 2018. 

Coube a Tarcísio de Freitas reforçar a analogia afirmando que seu padrinho político "já não é apenas uma pessoa, tornou-se a personificação do movimento que lotou a Paulista", e que representa "todos aqueles que descobriram que vale a pena brigar pela família, pela pátria, pela liberdade." Lula soou parecido horas antes de se entregar à PF, em 2018. Ao discursar para a militância, declarou: "Eu não sou um ser humano, sou uma ideia" — uma "ideia" que passou 580 dias na cadeia, mas que a Vaza-Jato livrou das sentenças e que os quatro anos ruinosos de Bolsonaro ajudaram a compor o "arco democrático" que lhe deu o terceiro mandato. 

A diferença é que o pesadelo do ex-presidente golpista é 100% construído no STF, e que lhe falta um hacker para invadir as comunicações do ministro Alexandre de Moraes e quatro anos de uma gestão tão ruinosa quanto a sua (pior seria impossível). Mas o mais provável é que ele seja acordado desse sonho pela voz de prisão de um agente da PF.

Discursando em defesa de Bibo Pai, Bobi Filho perorou que "o inquérito conduzido por 'Xandão' é um grande teatro". Vale lembrar que foi sob a presidência de Moraes que o TSE condenou o filho do pai (não uma, mas duas vezes) a oito anos de inelegibilidade. Se for condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, Bolsonaro terá de se candidatar para um cargo no inferno (como ele completa 69 anos daqui a menos de um mês e pode amargar 23 anos de prisão e ser banido das urnas por mais de 30...). 

Observação: O castigo cairia sobre a biografia do "mico" das rachadinhas e das mansões milionárias como uma lápide, o que explica esse apreço momentâneo e oportunista pela "pacificação" e esse desejo incontido de manusear uma "borracha" capaz de apagar seu passado criminoso. 
 
Moraes vê a bandeira branca içada pelo capetão como um flerte com o apaziguamento que deu asas ao regime nazista de Hitler. A referência histórica encosta a tentativa de golpe no Brasil na Conferência de Munique. No despacho em que determinou o afastamento de Ibaneis Rocha do governo do DF, o ministro anotou que a democracia brasileira não irá mais suportar a ignóbil politica de apaziguamento, cujo fracasso foi amplamente demonstrado na tentativa de acordo do então primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain com Adolf Hitler. Ao
 assegurar que todos serão responsabilizados civil, política e criminalmente pelos atos atentatórios à democracia e às instituições, ele evoca uma das célebres frases de Churchill: "Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado." 

Observação:O destrambelho seletivo de Bolsonaro não só desnuda suas intenções anteriores como evidencia quão escassos são seus instrumentos de reação em busca de proteção — que, na real, se resumem a apenas um: a fotografia da multidão que não aliviará em um milímetro as agruras judiciais dele e de seus cúmplices. Quando ordenou a batida de busca e apreensão nos endereços do deputado bolsonarista Carlos Jordy, Moraes pontuou que "a democracia brasileira não será submetida à ignóbil política de apaziguamento à moda de Chamberlain" Ou seja: se depender do togado, o desejo do capitão de "passar uma borracha no passado" será tratado como uma tese natimorta.
 
Ao reiterar seu apoio ao padrinho político, Tarcísio de Freitas desperdiçou a melhor chance que a conjuntura já lhe proporcionou para se credenciar como alternativa política da direita civilizada. Ser grato pela ascensão ao governo de São Paulo é uma coisa, esticar o convívio com alguém que coleciona inquéritos criminais é outra. Ele disse que atendeu a convocação para "celebrar o verde e amarelo, o amor ao nosso país, o Estado Democrático de Direito", mas na verdade ascendeu ao picadeiro como coadjuvante de um número apoteótico concebido por um golpista contumaz para posar de vítima. Herdeiro potencial dos votos que levaram Bolsonaro ao Planalto em 2018, o afilhado soa como se acreditasse que o sonho do padrinho de liderar a direita que retirou do armário em 2018 continua intacto. Só que não.
 
A direita paleolítica que congestionou a Paulista já havia demonstrado no 8 de janeiro quão profundas são suas raízes, mas a direita civilizada que ajudou a defenestrar Bolsonaro em 2022 continua órfã de uma alternativa que o ora inquilino do Palácio dos Bandeirantes se recusa a personificar. Se ele espera que o
 Messias que não miracula o declare seu herdeiro, deve puxar uma cadeira. Ou um ronco, pois o discurso do padrinho deixa clara sua pretensão de voltar às urnas. Mas o detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que o mesmo STF que propiciou a Lula o sonho da anulação das sentenças está prestes a impor a Bolsonaro o pesadelo da condenação.

Faltou ao governador perspicácia para traçar um risco no chão, separando sua biografia dos crimes atribuídos àquele emporcalhou o principal cartão postal de Sampa com o rastro pegajoso de meia dúzia de processos à espera da suprema sentença — além da tentativa de golpe, há o escândalo das joias sauditas, a fraude no cartão de vacinas, as perversões da pandemia, o vazamento de inquérito sigiloso e o aparelhamento da PF. Abstendo-se de estabelecer a fronteira a partir da qual não avançaria e encerrando seu discurso com um "muito obrigado, Bolsonaro, sempre estaremos juntos", Tarcísio vincula-se aos indiciamentos, denúncias, ações penais e sentenças que estão por vir. Enfim, a vida é feita de escolhas, escolhas têm consequências, e as consequências sempre vêm depois.
 
Ricardo Nunes não discursou, mas o fato de ter participado da arlequinada bolsonarista ensejou críticas de seus principais adversários na disputa pela prefeitura paulistana. Guilherme Boulos classificou de "vergonhoso" alguém que se elegeu vice do democrata e anti-bolsonarista Bruno Covas defender um ataque à democracia; Tábata Amaral não só lamentou que o evento tenha sido um incentivo à polarização como acusou o o prefeito de "topar qualquer negócio para se manter no cargo".
 
Valdemar Costa Neto — que se amancebou com o verdugo do Planalto a despeito dos prejuízos de encampar a extrema direita e sua luta antidemocrática contra as urnas eletrônica — é um jogador de grandes tacadas, e sabe que ganhar ou perder faz parte do jogo. Mas sua aposta só se sustenta porque a mídia e os adversários continuam a dar palanque a Bolsonaro.
 
Em qualquer democracia que se dá ao respeito, a incompetência não funciona como atenuante em golpes fracassados. No Brasil, a justiça não só tarda como muitas vezes não chega, e políticos poderosos sempre acham um caminho para contornar obstáculos (volto a lembrar o caso de Lula, que foi condenado, preso, descondenado, reabilitado politicamente e eleito presidente da banânia pela terceira vez). 
 
É difícil alguém chegar a algum lugar por meio de uma sucessão de derrotas e lances equivocados. Esse privilegio é exclusivo de fanáticos religiosos que veem os sofrimentos como degraus da longa escadaria que leva ao reino dos céus. E não me consta que a Papuda seja exatamente o Paraíso.

A conferir.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

QUE BARBARIDADE!


Ao encerrar sua passagem relâmpago pelo Ministério da Saúde, Nelson Teich salientou que "a vida é feita de escolhas". Muitos anos antes disso, o Conselheiro Acácio já dizia que "as consequências vêm sempre depois".
 
A Lava-Jato teve início em 2008, mas só ganhou notoriedade a partir de 2014. Foi devido a ela que Sergio Moro, responsável pelos processos do braço paranaense da operação, viveu seus dias de glória à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba. 

Além de expor as entranhas putrefatas do sistema político, a Lava-Jato propiciou a condenação de corruptores e corruptos de alto coturno e recuperou bilhões de reais desviados durante os governos petistas. Mas não mal que sempre dure nem bem que nunca termine. 
 
Em 2018, para conquistar o apoio da classe média, Bolsonaro convidou Moro para chefiar o "super ministério" da Justiça e Segurança Pública. Edulcorado pela promessa de ser indicado para o STF, o juiz abriu mão de 22 anos na magistratura para embarcar numa canoa que deveria saber furada, e desde então vem trilhando um a um os nove círculos do inferno.
 
Após 1 ano e 4 meses engolindo sapos e bebendo a água suja da lagoa bolsonarista, Moro finalmente desembarcou do governo. E foi acusado de traição. Não muito depois, a vaza-jato transformou o herói da pátria em pária. 
Sem o apoio prometido pelo Podemos, Moro migrou para o União Brasil. Teve as asas podadas por Luciano Bivar, mas conseguiu se eleger senador pelo Paraná

Se Moro tivesse permanecido à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, é bem possível que a prisão em segunda continuasse valendo, que Lula ainda estivesse cumprindo pena e que a vaza-jato tivesse ido para a lata do lixo da História. Mas, de novo, a vida é feita de escolhas e as consequências sempre vêm depois.

Neste arremedo de banânia, os políticos se elegem para roubar, roubam para se reeleger e legislam em causa própria e/ou para favorecer seus bandidos de estimação. Mesmo que seja flagrada na porta do galinheiro com penas grudadas no focinho, a raposa é considerada inocente até vomitar a galinha, devolver-lhe a vida e tornar a comê-la dentro do galinheiro, sob as vistas das corujas supremas — que só enxergam o que lhes convêm e quando lhes convém.
 
Sob um mandatário com uma capivara invejável e quatro filhos investigados, era esperado que processos foram anulados, que condenações fossem canceladas e que agentes públicos corruptos recuperassem a liberdade e os direitos políticos. É como se nossas cortes interpretassem as leis de modo a ensejar a sobrevivência do Brasil velho, corrupto, subdesenvolvido e desigual, governado por parasitas da máquina pública e lobistas de favores e privilégios.
 
Todos são iguais perante a lei, mas a conversão do direito de defesa em impunidade resultou num Estado de exceção onde as pessoas que mandam valem mais que todas as outras. Só falta agora escreverem com todas as letras que ninguém mais pode ser preso no Brasil por cometer crimes de corrupção. 

No faroeste à brasileira, só os fora-da-lei têm direito a final feliz, como atestam os mais recentes episódios da novela em que perseguir defensores da lei e castigar juízes, procuradores e policiais envolvidos na Lava-Jato tornou-se tão rotineiro quanto os duelos nos minutos finais dos bangue-bangues macarrônicos, só que, nos filmes, é o mocinho que vence o bandido e sai cavalgando rumo ao sol poente. 
 
Depois de conseguir as 27 assinaturas necessárias para o desarquivamento do projeto de lei que trata da prisão em segunda instância que ele próprio apresentou quando ainda era ministro — e que acabou sendo automaticamente arquivado porque não foi apreciado na legislatura anterior —, Moro experimentou mais uma vez o contra-ataque establishment: um vídeo divulgado nas redes sociais em que ele fala em "comprar habeas corpus do Gilmar Mendes" levou a subprocuradora-geral Lindôra Araújo a denunciá-lo por calúnia.
 
De acordo com a subprocuradora, o senador "agiu com a nítida intenção de macular a imagem e a honra objetiva do ofendido, tentando descredibilizar a sua atuação como magistrado da mais alta Corte do País", e que a polêmica frase foi dita "na presença de várias pessoas, com o conhecimento de que estava sendo gravado por terceiro, o que facilitou a divulgação da afirmação caluniosa, que tornou-se pública em 14 de abril de 2023, ganhando ampla repercussão na imprensa nacional e nas redes sociais".
 
Moro reconheceu que sua fala foi infeliz, mas demonstrou indignação com a ação da PGR 
— segundo ele, as palavras foram tiradas do contexto de brincadeira e manipuladas por pessoas que querem incriminá-lo falsamente e indispô-lo com o STF (detalhes neste vídeo). 

De acordo com a revista Fórum — cujos editores morreriam afogados se Lula se aboletasse numa banheira de hidromassagem —, Moro entrou em "modo desespero" e está "provando do próprio veneno". Na avaliação dos juristas ouvidos pelo pasquim, a condenação do político é líquida e certa.
 
Na visão do deputado Deltan Dallagnol, a denúncia é inepta, absurda, e denota alinhamento com governo Lula em clara perseguição ao ex-juiz. O ex-coordenador da Lava-Jato em Curitiba lembrou que Gilmar "caluniou e injuriou os procuradores da Lava-Jato várias vezes", chamou a força-tarefa de "organização criminosa" e se referiu a seus integrantes como "cretinos", "gângsters", "espúrios" e "crápulas". 
 
Vale relembrar também, por oportuno, que em março de 2018 o ministro Luís Roberto Barroso chamou o colega de toga de "fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país (...) uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia", e em outubro do mesmo ano, ao comentar sobre uma corrupção estrutural e sistêmica envolvendo recursos públicos e a impunidade no país, disse que havia
 no STF "gabinete distribuindo senha para soltar corrupto sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos". Ao ser questionado sobre quais gabinetes se encontrariam nessa situação, Barroso sorriu e ficou em silêncio.

Resumo da ópera:  


Conhecida pela seletividade aguçada, Lindôra Araújo costumava confundir ofensa com liberdade de expressão quando o ofensor era Bolsonaro, anotou Josias de Souza em sua coluna. Com Moro, prossegue o jornalista, ela não quis saber de "brincadeira": acusou-o caluniar o ministro e pediu condenação, cadeia e perda do mandato. 


Josias pondera ainda que uma improvável condenação não resultaria em prisão, pois o suposto crime não prevê tal punição. Em última análise, Moro foi presenteado com uma contenda contra um dos mais impopulares ministros do STF, que decidiu acionar a PGR por acreditar que o senador precisa se responsabilizar pelo que diz. 


Conhecido pelo destempero, Gilmar gosta de falar o que não aprecia ouvir. Já se divertiu diante das câmeras da TV Justiça referindo-se aos procuradores da Lava-Jato como "gentalha", disse que integravam "máfias" e "organizações criminosas" e que "força-tarefa é sinônimo de patifaria". Se um extraterrestre descesse em Brasília num desses instantes em que autoridades trocam chumbo, informaria ao seu planeta que, na Terra, políticos e magistrados brincam num parque de diversões chamado Código Penal. 


A cena pública brasileira tornou-se um ambiente divertidamente degenerado.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

QUEM NÃO APRENDE COM OS ERROS ESTÁ FADADO A REPETI-LOS

 

As leis deveriam servir para melhorar a vida das pessoas, mas o nosso Legislativo atua em causa própria e o Judiciário usa a hermenêutica como pé de cabra para libertar criminosos. A Lava-Jato — claramente um ponto fora da curva — produziu quase 300 condenações de corruptos e corruptores de alto coturno e acordos de leniência e delação premiada que recuperaram mais R$ 25 bilhões para os cofres públicos. 
 
Mas o establishment se articulou e sufocou a operação. Processos foram anulados e condenações, canceladas, visando, sobretudo, restituir a liberdade e os direitos políticos a agentes públicos corruptos. Foi como se nossas cortes decidissem o que as normas jurídicas significam em prol da sobrevivência do Brasil velho, corrupto, subdesenvolvido e desigual, governado por parasitas da máquina pública e lobistas de favores e privilégios. Ao transformar direito de defesa em impunidade, criou-se um Estado de exceção em que as pessoas que mandam valem mais que todas as outras. Só falta agora escrever com todas as letras que ninguém mais pode ser preso no Brasil por cometer crimes de corrupção. 
 
A Hidra de Lerna deu sinais de regeneração quando Bolsonaro, que abraçou o lavajatismo de conveniência para se eleger, mudou de postura ao perceber que sua família não estaria inviolável aos olhos investigativos. O definhamento ficou evidente com a escolha de Augusto Aras para comandar a PGR — um prenúncio óbvio demais das intenções de fechar o registro daquela que foi a maior ação coordenada contra a corrupção da nossa história. Depois que Sérgio Moro deixou um governo no qual jamais deveria ter ingressado, a Lava-Jato foi asfixiada. 
 
Moro cavou o próprio infortúnio ao se deixar seduzir pelas falsas promessas de carta-branca e indicação para o STF. Se ele tivesse permanecido à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, é possível que a prisão em segunda continuasse valendo, que Lula estivesse cumprindo sua pena e que a vaza-jato tivesse ido para a lata do lixo da História. Mas a vida é feita de escolhas e o problema com as consequências é que elas sempre vêm depois.
 
Talvez seduzido pela possibilidade (cada vez mais remota) de ter os ombros recobertos pela suprema toga, Moro desembarcou da canoa que deveria saber furada após engolir muitos sapos e beber a água tóxica da fossa negra em que se transformou o pior governo da história desta banânia. E foi prontamente tachado de traidor pelos bolsonaristas. Seu ingresso na política desagradou a gregos e troianos. Sem o apoio prometido pelo Podemos, ele migrou para o União Brasil e teve as asas podadas por Luciano Bivar. A duras penas, conseguiu se eleger senador pelo Paraná. No segundo turno do pleito presidencial, preferiu declarar apoio ao capetão a optar pela neutralidade.
 
No faroeste à brasileira, só os fora da lei têm direito a final feliz, como atestam os mais recentes episódios da novela tupiniquim em que perseguir defensores da lei e castigar juízes, procuradores e policiais envolvidos na Lava-Jato tornou-se tão rotineiro quanto duelos nos minutos finais dos bangue-bangues macarrônicos, nos quais o mocinho invariavelmente baleava o bandido e saía cavalgando rumo ao sol poente. 
 
Até as pedras sabem que a soltura e a conversão do xamã do PT em "ex-corrupto" foram parte da mesma conspirata que converteu Moro e Dallagnol em personae non gratae. Sobrou até para Rodrigo Janot — o ex-PGR que adentrou armado ao STF para dar um "tiro na cara" do ministro Gilmar Mendes e se suicidar, mas foi impedido por uma "intervenção divina", conforme detalhou em seu livro Nada Menos que Tudo. 
 
Mentem em louvor do farsante sem remédio os devotos da seita que aboliu o pecado, juristas para os quais não existem crimes nem criminosos do lado de baixo do Equador, togados que prendem inocentes e soltam ladrões da classe executiva e chefões do PCC, candidatos a vice que aposentam a honradez por sonharem com a antecipação da visita da ceifadora ao gabinete que cobiçam, e tantos outros viventes que mentem para ficar bem na fita do faroeste à brasileira. 
 
Lava-Jato destruiu as grandes empreiteiras, dizem os vaza-jatistas de carteirinha. Se o dinheiro já foi roubado, de que adianta prender os gatunos? Se a propina já foi paga, por que engaiolar corruptores e corrompidos? Caso o Código Penal prescrevesse uma hora de cadeia para cada erupção de cinismo sórdido, nenhum integrante do bando que prospera com o faroeste tupiniquim escaparia da prisão perpétua.
 
Corta para fevereiro de 2023: No Senado, Moro conseguiu as 27 assinaturas necessárias para pedir o desarquivamento do projeto de lei que trata da prisão após condenação em segunda instância. Desmembrada do pacote anticrime que ele apresentou quando ainda era ministro, a proposta não foi apreciada na legislatura anterior e foi automaticamente arquivada. Agora, o requerimento de desarquivamento deverá ir ao plenário da Casa, onde precisará de maioria simples para ser aprovado.