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segunda-feira, 28 de julho de 2025

SOBRE LUIZ FUX, O NÚCLEO GOLPISTA E "OTRAS COSITAS MÁS"

DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS. 

Depois que um golpe de Estado (o primeiro de muitos) substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano, em 1889, mais de três dúzias de brasileiros ocuparam a Presidência. Fernando Henrique foi o mais próximo de um estadista que tivemos desde a "redemocratização" — lembrando que a renúncia de Jânio, em 1961, pavimentou o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes 21 anos de ditadura. Mas Lord Acton ensinou que o poder corrompe, e FHC, que ninguém resiste à picadura da mosca azul. 

 

Em 1997, o tucano de plumas vistosas comprou a PEC da reeleição e, rezando pelo catecismo de Geraldo Vandré — segundo o qual "quem sabe faz a hora, não espera acontecer" —, derrotou Lula já no primeiro turno do pleito de 1998. Mas faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola e, quatro anos depois, o petista venceu José Serra, levando o PT ao poder. A partir de então, o Brasil passou a ser governado como uma usina de processamento de esgoto: a merda entra pela porta das urnas e muda de aparência, mas o que sai na posse do novo governante continua sendo merda — reciclada, mas ainda merda. 

 

Não que a coisa fosse melhor em outro momento da nossa história. A sementinha da corrupção foi plantada em Pindorama nos idos 1500, quando, em sua famosa carta, Pero Vaz de Caminha pediu ao rei D. Manuel que intercedesse por seu genro. Trezentos anos depois, o país passou de colônia a reino-unido, mas somente porque a família real portuguesa se desabalou para o Rio de Janeiro para fugir de Napoleão Bonaparte. Nossa independência — paga a peso de ouro — foi proclamada por D. Pedro I enquanto esvaziava os intestinos, e a Proclamação da República, despida do glamour que lhe atribuem os livros de História, não passou de um golpe de Estado político-militar (o primeiro de muitos, como dito anteriormente). 

 

Até o início do século XIX, nosso país não tinha uma corte constitucional. A "Casa da Suplicação do Brasil" foi criada em 1808, mas a função de corte suprema só se solidificaria 1829, com a criação do "Supremo Tribunal de Justiça" — que passou a se chamar "Supremo Tribunal Federal" com a proclamação da República. Hoje, além do papel de corte composicional, cabe ao Supremo processar agentes públicos com foro especial por prerrogativa de função e julgar recursos extraordinários contra decisões de outros tribunais. Mas aquela conversa de que juízes são isentos, apolíticos e apartidários não passa de cantilena para dormitar bovinos. Os magistrados não só tomaram gosto pela política — e quem conquista poder político não abre mão dele facilmente — como também sucumbiram à nefasta polarização, que dividiu o país em duas abjetas facções.

 

Mesmo estando inelegível e contando os dias que faltam para sua mais que provável condenação, Bolsonaro continua fazendo pose de candidato. Ao pressionar a banda podre da Câmara a aprovar uma insana proposta de anistia, o golpista confessa por vias tortas os crimes que jura não ter cometido. Como se não bastasse, seu filho Eduardo atua como articulador das sanções impostas pela Casa Branca ao país que, como deputado por São Paulo (que também elegeu Tiririca para quatro mandatos consecutivos), é pago para defender. 

 

Dias atrás, o filho do pai estendeu sua abjeta chantagem aos presidentes da Câmara e do Senado: se Motta não levar à pauta de votações da Câmara o projeto que anistia aos golpistas e Alcolumbre engavetar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes — renovado dias atrás pelo senador das rachadinhas, panetones e mansões milionárias Eduardo Bolsonaro —, poderão ter seus vistos de entrada nos EUA cassados, a exemplo do que aconteceu com oito dos onze ministros do STF.

 

O ex-ministro Sepúlveda Pertence definiu o Supremo como "um arquipélago de 11 ilhas", mas a politização ficou mais evidente em 2019, quando seis dos onze membros da Corte mudaram a jurisprudência sobre a prisão em segunda instancia, ensejando a "volta do criminoso à cena do crime” — como bem observou o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin quando ainda era tucano. 

 

Gilmar Mendes — a verdadeira "herança maldita" de FHC — defendia a Lava-Jato com unhas e dentes, mas virou a casaca depois que a Vaza-Jato denegriu a imagem do ex-juiz Sergio Moro, do ex-procurador Deltan Dallagnol e de outros integrantes do braço paranaense da força-tarefa, embora seu "crime hediondo" tenha sido combater corrupção sistêmica e pôr na cadeia bandidos travestidos de executivos das maiores empreiteiras do país e políticos ímprobos de altíssimo coturno. 

 

Dias Toffoli — que ganhou a suprema toga graças aos "bons serviços prestados" como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, consultor jurídico da Central Única dos Trabalhadores (CUT), assessor jurídico do PT e do ex-ministro José Dirceu e subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil sob Lula, a despeito de ter sido reprovado em dois concursos para juiz de primeira instância em São Paulo —, vem fazendo das tripas coração para reconquistar as boas graças de Lula com decisões teratológicas que visam claramente favorecer os "amigos do rei". 

 

Indicado por Lula para o Supremo a pedido da então primeira-dama, Ricardo Lewandowski retribuiu a gentileza durante o julgamento do Mensalão, no qual atuou mais como defensor dos réus do que como julgador. No impeachment de Dilma, ele e o senador Renan Calheiros urdiram uma tramoia para evitar que a mulher sapiens tivesse seus direitos político suspensos.

 

E por aí segue a procissão.

 

Em seu artigo 1º, a Constituição Cidadã anota que "a República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito" e tem como primeiro fundamento "a soberania". O parágrafo único desse mesmo artigo estabelece que "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente". Já no primeiro inciso do artigo 3º, o Regimento Interno da Câmara explicita que é dever do deputado federal "promover a defesa do interesse público e da soberania nacional". Na prática, porém, a teoria costuma ser outra.

 

Morando nos EUA e exercendo em tempo integral a atividade de traidor da pátria, Eduardo Bolsonaro rasga a Carta Magna, sapateia sobre o regimento da Câmara e desonra os 741 mil votos que obteve do eleitorado paulista em 2022. Mas não é só: a falta de posicionamento dos dirigentes do Congresso sobre o pedido de cassação do traíra injeta na conjuntura brasiliense uma vergonha convulsiva: quando alguém precisa tomar uma decisão e não toma, está decidindo não fazer nada, e nada, no caso do deputado, é uma palavra que já ultrapassa tudo. Ou Congresso expurga o personagem dos seus quadros, tornando-o inelegível, ou se desmoraliza junto com ele.

 

A coação exercida sobre o STF por Trump em parceria com a Famiglia Bolsonaro já justificaria a prisão preventiva do chefe do clã, mas Moraes "morde e assopra", evitando confundir o necessário com o excessivo, sobretudo depois que seu colega Luiz Fux votou contra as medidas cautelares impostas ao capetão (dizem que o fez para não ter seus visto de entrada nos EUA cassado, como já aconteceu com oito de seus pares). Vale destacar que não foi a primeira vez que ele divergiu do relator e de seus colegas da Primeira Turma. Durante a análise da denúncia da PGR, o ministro levantou dúvidas sobre a delação de Mauro Cid e a competência da Turma para julgar Bolsonaro e seus cúmplices (que, segundo ele, seria da primeira instancia do Judiciário ou, na pior das hipóteses, dos 11 ministros da Corte). 

 

Diz um ditado que "só não muda de opinião quem já morreu", mas causa espécie que o ministro "punitivista" que apoiou o relator (Joaquim Barbosa) na condenação da maioria dos réus da ação penal 470 (vulgo "Processo do Mensalão") e se tornou um dos principais defensores da Lava-Jato tenha dado um "cavalo de pau" digno dos melhores filmes de ação, aliando-se à corrente "garantista", que prioriza a proteção dos direitos fundamentais dos réus. 

 

Embora concorde com as condenações pela trama golpista, Fux tem acatado alguns argumentos dos acusados, e comenta-se à boca pequena que ele continuará nessa linha, como forma de "garantir a moderação no STF". No julgamento da cabeleireira Débora dos Santos, que ficou conhecida por pichar com batom a frase "Perdeu, mané" na estátua da Justiça, Moraes propôs 14 anos de prisão, mas Fux sugeriu um ano e seis meses, arrancando elogios de Michelle Bolsonaro.

 

No fim de março, durante o julgamento da denúncia da PGR contra o grupo principal da trama golpista — encabeçado por Bolsonaro —, Fux foi o único a abraçar o argumento da defesa no sentido de que o foro indicado para conduzir as investigações seria primeira instância do Judiciário, e não no STF. Derrotado por seus pares, ele acabou votando pelo recebimento da denúncia, que foi aceita por unanimidade. No mesmo julgamento, afirmou ser contrário à ideia de punir a tentativa de golpe como se fosse um crime consumado. Defendeu a necessidade de diferenciar os atos preparatórios da execução do crime e levantou dúvidas sobre a legalidade da delação de Mauro Cid. As observações renderam elogios da defesa de Bolsonaro.

 

No depoimento de Cid ao STF, Fux fez perguntas que foram elogiadas por Eduardo Bolsonaro — em suas redes sociais, o filho do pai escreveu: "Urgente! Fux desmontou o castelo de areia com duas perguntas." Nos depoimentos de testemunhas do chamado núcleo crucial, foi o único —além do relator — a comparecer às sessões e fazer questionamentos nas oitivas. E a expectativa é que ele continue apresentando contrapontos às discussões, assumindo de maneira informal o papel de "ministro revisor", personificado por Lewandowski no julgamento do Mensalão, mas extinto em 2023 por uma alteração no Regimento Interno da Corte. 

 

As ideias que Fux defende atualmente contrastam com julgamentos penais do passado. Após sua brilhante atuação no Mensalão, o ministro defendeu a Lava-Jato mesmo depois que a Vaza-Jato expôs uma "suposta relação espúria" de Sergio Moro com os procuradores de Curitiba. Em abril de 2021, Fux se posicionou contra a anulação das condenações impostas a Lula pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Em junho de 2022, quando presidia o STF, disse que a anulação foi resultado da análise de questões formais: "Ninguém pode esquecer que ocorreu no Brasil, no Mensalão, na Lava-Jato."

 

Fux intensificou sua relação com Bolsonaro a partir de setembro de 2020, quando assumiu a presidência do STF. No mês seguinte, recebeu o então mandatário para uma "visita de cortesia" que durou cerca de 45 minutos. Bolsonaro elogiou a decisão de Fux de manter preso um dos líderes do PCC, solto por determinação do (hoje aposentado) ministro Marco Aurélio. Sua atitude provocou irritação do colega — até porque não é praxe um ministro suspender a decisão de outro.

No dia seguinte ao encontro, Bolsonaro concedeu a Fux a Ordem de Rio Branco em seu mais alto nível, o grau de Grã-Cruz.

 

Coincidência ou não, os únicos ministros do STF que não tiveram seus vistos revogados pelo secretário de Estado dos EUA foram os bolsonaristas André Mendonça e Nunes Marques... e Luiz Fux — indicado para o tribunal por Dilma em 2011.

 

Aguardemos, pois, os próximos capítulos de mais esse emocionante folhetim tupiniquim.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O BRASIL DA CORRUPÇÃO

NÃO HÁ ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL; O BRASIL É UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.

A corrupção desembarcou em Pindorama travestida de nepotismo: na epístola em que comunicou o "achamento do Brasil", Pero Vaz de Caminha rogou ao rei de Portugal que intercedesse por seu genro, preso por roubo e degredado para a ilha de São Tomé, na África.

Não se sabe a duração do castigo imposto ao contraparente do escriba nem se o pedido foi atendido, mas sabe-se que a corrupção assola a política tupiniquim desde os tempos de antanho, e que os poderosos de hoje pouco diferem da elite colonial no tocante ao tráfico de influência, nepotismo, favorecimento e abuso de autoridade. Dito em português do asfalto, mudaram as moscas, mas a merda continua rigorosamente a mesma.

 

Mem de Sá, governador-geral do Brasil entre 1558 e 1572, foi acusado de enriquecimento ilícito. Os mercadores de escravos que saíam da África rumo ao Rio da Prata e paravam no Rio de Janeiro para abastecer tinham de pagar propina ao governador da capitania. Dom Lourenço de Almeida, que governou Minas Gerais entre 1720 e 1732, fez fortuna com ouro e diamantes extraídos à revelia da Coroa Portuguesa. Seu governo era auditado a cada três anos, mas ele subornava o responsável pela devassa.

No início do século XVII, a elite local controlava a política e a economia mineira, e, em contrapartida, ganhava do rei o direito à impunidade. As autoridades envolvidas na repressão ao contrabando praticavam contrabando e lucravam muito, pois Portugal fazia vista grossa — se a política da Coroa fosse implantada de forma inflexível, o Império não teria resistido. 


Como o que menos presta é o que mais dura, os políticos de hoje continuam praticando os mesmos atos espúrios que seus antepassados do século XVI. No entanto, seja hoje, seja no passado, a corrupção só pode existir com a conivência da sociedade. 


Houve corrupção no Brasil colonial, nos tempos do Império, na República Velha, na Era Vargas, na Segunda República, na ditadura militar — a ideia de que não houve corrupção durante os anos de chumbo é falsa; a repressão à imprensa impediu que os escândalos viessem à tona e mascarou os abusos do regime — e continua havendo na "Nova República". 


Sarney foi alvo de duas denúncias, mas o dito ficou pelo não dito. Collor foi acusado pelo irmão de envolvimento no "Esquema PC" e renunciou horas antes do julgamento de seu impeachment, mas ficou inelegível por 8 anos e só voltou à política nos anos 2000. No exercício do mandato de senador (2006-2022), assaltou os cofres da Petrobras Distribuidora. Apesar de ter sido condenado pelo STF8 anos de 10 meses de reclusão em 2023, só foi preso na madrugada da última sexta-feira.


Itamar Franco Fernando Henrique não foram acusados de envolvimento com corrupção, O grão-duque tucano comprou votos para aprovar a PEC da reeleição, mas o engavetador-geral Geraldo Brindeiro blindou suas penas vistosas.


 Lula, por sua vez, foi réu em duas dúzias de ações criminais, condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de reclusão em 2018 e colocado numa cela VIP da PF em Curitiba e solto 580 dias depois, quando o STF proibiu (por 6 votos a 5) que criminosos condenados começassem a cumprir suas penas antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. 


Como se não bastasse, uma curiosa epifania revelou ao ministro Edson Fachin  com mais de 5 anos de atraso — que a 13ª Vara Federal de Curitiba carecia de competência territorial para processar e julgar o petista, e tanto suas duas condenações (já transitadas em julgado no STJ) quanto os demais processos que tramitavam contra ele na JF do Paraná foram anulados. 


Em 2022, com as velas enfunadas por ventos antibolsonaristas, o ex-presidiário mais famoso da história desta banânia foi reconduzido ao Palácio do Planalto.


Em 2010, Lula escalou uma nulidade da qual ninguém ouvira falar para "manter o Brasil no rumo do desenvolvimento" até que ele pudesse voltar ao trono. A dita-cuja cuidou da economia do país como lidou com a contabilidade das duas lojinhas de quinquilharias importadas que levou à falência em 1996 — época em que a paridade entre o dólar e o real favorecia esse tipo de negócio.


Em 2016, a "presidanta" de araque foi impichada e se tornou ré por corrupção e lavagem de dinheiro. Mas como vivemos no país da impunidade, os processos contra ela foram arquivados; como vivemos no país da antimeritocracia, ela foi recompensada com a presidência do Banco dos Brics


Michel Temer passou de vice a titular com o impeachment da nefelibata da mandioca, mas seu governo capenga ruiu com a divulgação da conversa de alcova com o moedor de carne bilionário Joesley Batista. Ele cogitou de renunciar, mas mudou de ideia e, quase dois dias depois, porejando indignação, disse à nação que "a investigação pedida pelo STF seria o território onde surgiriam todas as explicações, e que não renunciaria. Ato contínuo, comprou votos para sepultar as denúncias, tornou-se refém dos deputados venais, terminou seu mandato-tampão como pato-manco e transferiu a faixa para Bolsonaro em janeiro de 2019. 


Sem o escudo do foro privilegiado, o vampiro do Jaburu se tornou réu em quatro processos e chegou a ser preso, mas foi libertado dias depois pelo então presidente da 1ª Turma do TRF-2 — que ficou afastado do cargo durante 7 anos, acusado de venda de sentenças e formação de quadrilha, mas a ação acabou trancada pelo STF. 


Observação: Segundo foi publicado na revista Exame em março de 2019, quando Temer foi preso, o único ex-mandatário da "Nova República" que não corria risco iminente de ir parar na cadeira era Fernando Henrique. Na época, Lula estava cumprindo pena em Curitiba, Sarney era alvo de duas denúncias, Collor respondia a sete inquéritos (e se tornara réu num deles em 2017), Dilma respondia por corrupção e lavagem de dinheiro e o Vampiro do Jaburu era tetra-réu (duas vezes no RJ, uma em SP e outra no DF).


Em 2021, discursando para a récua de convertidos no chiqueirinho do Alvorada, Bolsonaro destacou que não há nada tão ruim que não possa piorar. Para não deixar dúvidas, tentou dar golpe de Estado no final do ano seguinte. Se os ventos não mudarem, ele e seus asseclas serão condenados entre setembro e outubro e poderão passar o próximo Natal atrás das grades.

Os estratagemas usados pela velha elite colonial persistem até hoje nas práticas ilícitas daqueles que se dizem representantes do povo — como atestam o mensalão, o petrolão e o orçamento secreto (ou "emendas de relator"). Até 2019, apenas duas ações penais da Lava-Jato haviam sido julgadas no STF. Numa delas prevaleceu o entendimento de que os elementos eram "apenas indiciais" — e a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, e seu ex-marido foram absolvidos por 3 votos a 2.  Na outra, as togas condenaram o deputado Nelson Meurer, mas declararam a extinção de punibilidade do filho do parlamentar, alegando que a única conduta que geraria a sanção penal era de junho de 2008.

 

Em vista do número de parlamentares que arrastam pendências judiciais e transitam livremente pelos corredores do Congresso, a parcela pensante da população perdeu a confiança no Legislativo e passou a ver o Judiciário como tábua de salvação. 


Como alegria de pobre dura pouco, o STF formou maioria para exumar e ressuscitar uma jurisprudência que vigeu durante míseros 7 anos ao longo das últimas 8 décadas. Com o voto de Minerva de Dias Toffoli, então presidente da Corte, ficou decidido que condenados em segunda instância deveriam permanecer em liberdade até o trânsito em julgado de suas sentenças.

 

Com quatro instâncias e um formidável cardápio de recursos, apelos, embargos e toda sorte de chicanas criadas sob medida para impedir que condenações de poderosos transitem em em julgado, essa caterva só vai presa no Dia de São Nunca. E na improvável hipótese de um caso fugir à regra, sempre há um magistrado de bom coração que expede um alvará de soltura "por razões humanitárias" (como fez o ministro Dias Toffoli no caso de Paulo Maluf).

 

Nossas leis são criadas pelo Congresso Nacional, que é formado por 513 deputados federais e 81 senadores. Em 2017, nada menos que 238 parlamentares eram investigados ou respondiam a processos no STF. Quando se dá às raposas a chave do galinheiro, perde-se o direito de reclamar do sumiço das galinhas, mas o fato de sermos obrigados a conviver com essa dura realidade não significa que devamos aceitá-la passivamente. 


Lula não aceitava. Tanto é que fundou o PT para implementar "uma maneira diferente de fazer política". Mas faltou combinar com a quadrilha do mensalão. Quando a roubalheira da petralhada veio a público, José Dirceu, então braço direito do demiurgo de Garanhuns, disse em entrevista ao Roda-Viva: “Este é um governo que não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção".

 

Pausa para as gargalhadas (ou para as lágrimas, a critério do freguês).

quinta-feira, 24 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 20ª PARTE

NÃO HÁ CÉU NEM VIDA APÓS A MORTE. SÓ TEMOS ESTA VIDA PARA APRECIAR O GRANDE PROJETO DO UNIVERSO.

De acordo com a teoria do Big Bang e o modelo cosmológico padrão, tudo que existe no Universo surgiu de uma singularidade — um ponto de densidade e temperatura infinitas — que se expandiu há cerca de 13,8 bilhões de anos, dando origem ao espaço-tempo e a um mar de partículas fundamentais e radiação eletromagnética. 

Cerca de 400 mil anos após o início da grande expansão, prótons e elétrons começaram a se unir, formando os primeiros átomos de hidrogênio. Nuvens de gás primordial, então, colapsaram sob sua própria gravidade, dando origem às primeiras estrelas, no interior das quais fusão nuclear passou a forjar elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio. À medida que consumiam seu combustível, essas estrelas massivas entravam em colapso, explodindo como supernovas e espalhando seus elementos pelo cosmos — eventos tão intensos que suas forças gravitacionais acabaram por moldar galáxias inteiras.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Menos de um mês depois de colocar Bolsonaro e outros sete integrantes do "núcleo crucial" da trama golpista no banco dos réus, a 1ª Turma do STF repetiu a dose com outros seis acusados. Pelo andar da carruagem, os 33 denunciados estarão acomodados dentro de ações penais até o final de maio, e o líder da ORCRIM, sentenciado até setembro. E de nada adianta posar de vítima no hospital. Os ministros já sinalizaram que barrarão a PEC da anistia caso ela seja aprovada no Congresso. 

A teoria do Big Bang é respaldada por evidências concretas, como a radiação cósmica de fundo (o "eco"do Big Bang) e a observação do afastamento das galáxiasque indica a contínua expansão do Universo. Mas de onde veio essa singularidade inicial continua sendo um dos maiores mistérios da ciência, mesmo porque o espaço como conhecemos começaram ali. Diversas teorias tentam explorar esse "antes", mas nenhuma foi capaz de se firmar com consistência ou comprovação experimental. Como disse Sócrates (469–399 a.C.), "só sei que nada sei".

Até o final do século XIX, práticas médicas como o uso de sanguessugas para curar febres e a trepanação para liberar "espíritos malignos" eram comuns. Mas a medicina evoluiu muito nos últimos anos. Quando Steven Hawking foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, em 1963, os médicos lhe deram dois anos de vida, mas ele viveu até 2018, quando trabalhava em uma das ideias mais ousadas da física moderna: os universos paralelos.

Dez dias antes de sua morte, Hawking e seu colega James Hartle submeteram ao Journal of High-Energy Physics um estudo que propunha algo impressionante: o Big Bang pode não ter sido um evento único, mas a origem de incontáveis universos. Em alguns, haveria planetas como a Terra, com sociedades e indivíduos parecidos conosco. Em outros, talvez os dinossauros jamais tenham sido extintos. E em muitos, as leis da física seriam completamente diferentes.

Por mais fantástico que isso soe, a ideia de multiversos não é puro devaneio: ela nasce de cálculos matemáticos sólidos, enraizados em teorias como a inflação cósmica e a mecânica quântica. Se confirmada, essa teoria implicaria que há infinitas versões de você, de mim, deste texto sendo escrito — e de outras versões jamais escritas.

Mas aí vem a questão-chave: como testar isso? Se os outros universos são desconectados do nosso, como poderíamos detectá-los? Essa é a crítica dos céticos — e lhe assiste razão. A ciência se baseia em evidências testáveis. Por enquanto, o multiverso ainda caminha na tênue linha entre o rigor matemático e a especulação filosófica, mas muitas dessas hipóteses encontram respaldo na Relatividade Geral, o que lhes confere certo grau de legitimidade científica. O multiverso, hoje, representa uma fronteira fascinante entre a imaginação e a investigação científica.

No fim das contas, nossa compreensão do cosmos ainda está engatinhando, e cada avanço dá azo a novas perguntas. Mas se há algo que a história da ciência nos ensina, é que aquilo que hoje parece misticismo, amanhã pode ser evidência.

Seja em um universo ou em mil, somos apenas poeira de estrelas tentando entender o céu — e isso, por si só, já é incrível.
 
Continua...

domingo, 9 de março de 2025

CONTRAFILÉ AO FORNO

SE MENTIRA É FICÇÃO E FICÇÃO É ARTE, ENTÃO TODA ARTE É MENTIRA.

 

Para um contrafilé assado no forno com batatas e sabor de churrasco, você vai precisar de:  

— 1 kg de contrafilé fatiado em bifes grossos (aproximadamente dois dedos de espessura);
— Sal grosso, pimenta-do-reino e orégano a gosto;
— 1 kg de batatas cortadas em rodelas;
— 1 cebola e meia cortada em rodelas;
— Azeite extravirgem;
— Cheiro-verde para finalizar (opcional).

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Expirou na última quinta-feira o prazo para Bolsonaro apresentar sua defesa prévia no caso da trama golpista. Até aqui, ele só disse mentiras que não consegue provar. Sem uma defesa que soe verossímil (e é quase impossível defender o indefensável), vai virar vítima do seu versículo bíblico predileto: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará", mas com o final alterado para "a verdade o aprisionará". E pode ficar ainda mais próximo das grades se algum dos cúmplices fardados e civis resolver falar de corda numa trama 100% feita de enforcados.
Nos raros trechos em que se dedica a enfrentar o mérito das acusações, a defesa prévia é tão rasa que pode ser atravessada por uma formiguinha com água pelas canelas. Desde que Mauro Cid tornou-se colaborador, tudo que seu ex-chefe busca é tumultuar o inquérito e reduzir tudo a tecnicalidades processuais para preparar as teses que fundamentarão as petições que, mais adiante, pedirão a anulação da condenação. Agora, interessa-lhe apenas intoxicar o processo. A denúncia vira um "romance", o delator é um "mentiroso" torturado, o relator é suspeito e o foro de julgamento, inadequado.
Na prática, Bolsonaro testa no STF uma tática que, em instâncias inferiores do Judiciário, transformam investigações em pizza. Foi assim que A Operação Castelo de Areia virou pó no STJ e a Lava-Jato foi esquartejada no próprio Supremo. A diferença é que, no caso do golpe, para que o forno fosse acionado as togas teriam que desfazer a si mesmas para favorecer o denunciado.

 

1) Ligue o forno e ajuste a temperatura para 250ºC;
 
2) Unte uma forma de alumínio com o azeite e forre todo o fundo com as batatas em rodelas;
 
3) Cubra a camada de batatas com as rodelas de cebola, tempere com o sal, a pimenta e o orégano e finalize com um fio de azeite.
 
4) Tempere os bifes de ambos os lados com sal e pimenta a gosto e acomode-os sobre a caminha de batatas e cebolas; 
 
5) Cubra a forma com papel alumínio, leve ao forno (que a esta altura já deve estar bem quente) e deixe assar por aproximadamente 40 minutos;

6) Retire o papel alumínio, recoloque a carne no forno e deixe assar por mais 20 minutos (ou até ficar bem douradinha);
 
7) Finalize com o cheiro-verde picado sobre as batatas e sirva com arroz branco, farofa, salada verde ou a guarnição que você preferir.
 
Dica: Se quiser incrementar ainda mais, polvilhe queijo parmesão ralado após remover o papel alumínio colocar a carne de volta no forno para dourar. 
 
Bom apetite! 

domingo, 2 de fevereiro de 2025

MIOLO DE ALCATRA AO FORNO

AS VERDADEIRAS IDADES DO HOMEM SÃO: JUVENTUDE, MEIA IDADE E COMO FOI QUE EU FIQUEI VELHO TÃO DEPRESSA?

Por ser macio, suculento e mais barato que a picanha e o contrafilé, o miolo de alcatra não só deixa o churrasco de domingo mais acessível como fica delicioso assado no forno, frito em bifes médios ou grossos, em cubinhos (strogonoff), moído (steak tartare), e por aí vai. 
 
No Brasil Colonial, somente as elites tinham acesso às carnes nobres. Isso mudou, mas, com a rainha dos churrascos custando os olhos da cara (a despeito da promessa de campanha não cumprida do ex-presidiário que elegemos para defenestrar o refugo da escória da humanidade), o miolo de alcatra e o contrafilé se tornaram protagonistas do
 churrasquinho de fundo de quintal, talvez não todo domingo, mas ao menos uma vez por mês.

picanha deve ser temperada com sal grosso pouco antes de ir para a churrasqueira (para preservar seu sabor e suculência), mas o miolo de alcatra fica mais saboroso se for marinado por no mínimo 3 horas (idealmente, de 12 a 24 horas num mistura de azeite, alho, cebola, sal, pimenta-do-reino e ervas frescas). 

Na falta de um saco de marinada, acomode a carne numa vasilha plástica (tipo Tupperware), esfregue bem o tempero, tampe, coloque na geladeira e vire a peça a cada duas horas (se for deixar menos tempo, assegure-se de que ela fique totalmente coberta pela marinada). 

Por ser mais magro que a picanha e o contrafilé, o miolo de alcatra deve ser assado inicialmente embrulhado em papel alumínio (para evitar a perda de líquidos, que deixa a carne menos suculenta). 

Passando à receita propriamente dita:

1 — Preaqueça o forno a 180°C;

2 — Forre o fundo de uma assadeira com rodelas de cebola;

3 — Misture 3 colheres de sopa de manteiga de garrafa com sal e pimenta-do-reino a gosto;

4 — Faça cortes na carne, massageie-a com a mistura que você preparou, coloque-a sobre a cama de cebolas, cubra com papel alumínio e asse por 30 minutos;

5 — Retire o papel alumínio e asse por mais 10 a 15 minutos, até dourar;

6 —Deixe a carne descansar por 5 a 10 minutos antes de servir (com batas fritas, cozidas, arroz, farofa ou outra guarnição, a seu critério).

Para selar bifes altos ou carne para rosbife, aqueça uma panela ou frigideira de fundo grosso até fumaçar, adicione uma mistura de azeite e manteiga suficiente apenas para untar o fundo, coloque a carne quando a gordura estiver bem quente e frite por dois minutos de cada lado. 

Se preferir a carne malpassada, ao ponto ou bem passada, frite cada lado por 3, 5 e 7 minutos, respectivamente. Mais tempo que isso fará com que o interior da carne perca a cor rosada e transformará a suculência numa vaga lembrança. 
Independentemente do ponto escolhido, deixe a carne descansar por alguns minutos para que os sucos se redistribuam e sirva com sirva com arroz, farofa, fritas e molho à campanha.

Uma variação interessante leva chimichurri — mix de especiarias que você pode preparar em casa facilmente, bastando misturar 2 colheres (sopa) de salsa desidratada, 2 de alho desidratado, 1 de orégano seco, 1 de cebolinha desidratada, 1 de cebola desidratada, 1 de pimenta calabresa, colocar num pote com tampa (como um vidro de maionese) e chacoalhar vigorosamente. Se quiser evoluir para o molho, adicione ½ xícara (chá) de azeite extravirgem e ¼ de xícara de vinagre de vinho (tinto ou branco, a seu critério), tampe e torne a chacoalhar. 

Feito isso, espalhe sal grosso numa assadeira ou travessa refratária (que possa ir ao forno) e polvilhe a pimenta-do-reino, misture o azeite com o chimichurri, unte a carne e acomode-a sobre a caminha de sal, leve ao no forno preaquecido (200°C), deixe assar por 1 hora e sirva.

P.S. Uma pesquisa conduzida pelos cientistas da Escola de Medicina do Hospital Monte Sinai em Elmhurst (EUA) descobriu que, quanto mais bem passada a carne, maior o perigo de lesões cerebrais que podem levar à demência e ao mal de Alzheimer. Isso porque a carne muito passada produz uma substância chamada glicotoxina, que é relacionada à demência, obesidade e diabetes em humanos. Os cientistas recomendam que os apreciadores de carne — principalmente aqueles acima de 60 anos — consumam-na ao ponto ou malpassada (aliás, quem gosta de sola é sapateiro).

E.THoje, 2 de fevereiro, adeptos da Umbanda e do Candomblé saúdam respectivamente Yemanjá, a rainha do mar, e Oxum, a deusa das águas doces. Saravá.