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terça-feira, 25 de junho de 2024

RELEMBRANDO...

INVENTAMOS HORRORES FICTÍCIOS PARA SUPORTAR OS REAIS.
 
Plutão era o nono planeta por ordem de afastamento do Sol até 2006, quando foi rebaixado a objeto transnetuniano  corpo celeste com características de planeta, mas que não satisfaz todos os requisitos necessários para ser considerado como tal; apesar de orbitar o Sol, possuir massa suficiente para que sua gravidade o torne quase esférico, Plutão compartilha sua órbita com outros objetos do Cinturão de Kuiper.
 
Observação: Em 1951, o astrônomo holandês Gerard Kuiper teorizou sobre a existência de um conjunto de asteroides que orbitam o Sol nos confins do Sistema Solar, depois de Netuno. A teoria foi comprovada em 1992, e essa região do espaço foi batizada de Cinturão de Kuiper.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Nunca votei no PT e jamais acreditei em uma palavra ou boa intenção do presidente Lula — afirmou o colunista e blogueiro Ricardo Kertzman. Assim penso e me manifesto desde muito antes de ser moda não gostar do lulopetismo. Sou incondicionalmente plural e tolerante com o pensamento oposto e acredito piamente na troca de ideias e no bom debate como formas de aprendizado e crescimento. Minha treta com o PT não é apenas ideológica, mas de princípios — não me refiro a princípios éticos, que boa parte daquela gente não tem, mas à maneira com que o lulopetismo enxerga Estado, economia e iniciativa privada.
Lula 3 caminha a passos largos rumo ao desastre de Dilma 2, iniciado em Lula 2. Essa gente não esquece nada nem aprende nada. Continua sem rumo, com ideias mofadas, investindo contra quem sustenta o País. Dias atrás, o xamã petista culpou o "Mercado" pela fome de milhões de crianças pobres no Brasil, quando os verdadeiros responsáveis são a corrupção, a gastança desenfreada e a incompetência do Poder Público.
Lula venceu a última eleição porque o oponente era um desqualificado que o ressuscitou das catacumbas de Curitiba. Sua mínima margem de votos deixou clara a falta de apoio que teria da população. 
Ao se deparar com um Congresso nada amigável e cada vez mais poderoso e guloso. E como ele se cercou de um bando de incompetentes e perdidos, restarma somente o confronto (nada original) e a sanha arrecadatória de sempre. "O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão alcançar a meta de déficit sem comprometer os investimentos", lecionou sua excelência. 
O plano é cobrar mais impostos — como se quase 40% do PIB já não fossem inaceitáveis  e reduzir na marra a Selic — que está elevada devido justamente à irresponsabilidade fiscal de seu péssimo governo. Reforma administrativa, melhoria da gestão, cuidado com os gastos? Que nada!
A reação negativa dos mercados vem dando o tom do que nos espera, mas isso é apenas uma parte do problema. Mercados sobem e caem, vêm e vão. O cerne da questão é a direção para onde o bico do avião aponta. 
Enquanto Lula não der ouvidos a Haddad – que está longe de ser um gênio, mas ao menos vem buscando algum equilíbrio fiscal —, o risco de nova hecatombe será cada vez maior e real, com potencial para deixar no chinelo os três anos de recessão de Dilma, a inovidável estocadora de vento.
 

Vênus e Marte aparecem em meio às 4 mil estrelas que avistamos a olho nu quando a poluição e as luzes das cidades não atrapalham, mas nosso "vizinho de porta" mais próximo é MercúrioA distância média entre ele a Terra é de 91,7 milhões de quilômetros, mas cai para 77 milhões de quilômetros na conjunção inferior e aumenta para 221 milhões de quilômetros quando passa pelo lado oposto do Sol em relação a nós. 

Mercúrio é o menor planeta do Sistema Solar e o mais próximo do Sol. Ele foi batizado com o nome do deus romano da velocidade porque sua translação dura apenas 3 meses terrestres, embora ele leve 59 dias para rotacionar em torno do próprio eixo. 

É possível avistar Mercúrio (geralmente ao amanhecer ou ao entardecer) quando ele está em seu ponto mais alto no céu e, portanto, não é ofuscado pelo brilho do Sol. Em algumas ocasiões, ele fica visível por semanas a fio.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

UMA PIADA CHAMADA BRASIL

 

O Brasil, também conhecido como "o país do futuro que tem um longo passado pela frente', é uma piada desde os tempos de Cabral. Despida do glamour fantasioso atribuído pelos historiadores, a Proclamação da República foi o primeiro de dezenas de golpes de Estado político-militares — como a revolução de 1930, a implantação do Estado Novo, a deposição de Getúlio e o golpe de 1964, entre outros. 

Dos trinta e tantos brasileiros que ascenderam à Presidência via voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado nos últimos 134 anos, oito foram apeados do cargo, começando pelo protagonista do golpe que substituiu a monarquia constitucional parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano e se tornou o primeiro presidente do Brasil. Temeroso de ser deposto pelos adversários, Deodoro da Fonseca vetou a Lei do Impeachment. Quando o veto foi derrubado, simplesmente dissolveu o Congresso, como se o país ainda estivesse no Império e ele, Deodoro, fosse o imperador.
 
Da redemocratização até os dias atuais já tivemos um presidente eleito indiretamente que morreu sem receber a faixa
, um literato meia-boca, um pseudo caçador de marajás, um baianeiro namorador, um tucano de plumas vistosas (por dois mandatos) um desempregado que deu certo (por dois mandatos) um poste fantasiado de "gerentona" (por um mandato e meio) um vampiro escalafobético (por meio mandato) um mix de militar ruim e parlamentar pior (por intermináveis 4 anos) e — ói nóis aqui traveiz —  o ex-presidiário mais famoso de Pindorama desde o genro de Caminha, que foi conduzido por togas supremas da carceragem da PF para o gabinete presidencial no DF. 
 
Incapaz de aprender com os próprios erros, o inigualável eleitorado tupiniquim tende a repeti-los eleição após eleição. Ao que tudo indica, teremos neste ano mais um pleito plebiscitário, com postulantes à prefeitura de quase 5.600 municípios apadrinhados por Bolsonaro ou por Lula — parece até coisa de Superman x Lex Luthor ou de Coringa x Batman. E ainda dizem que Deus é brasileiro!
 
Nossos políticos se elegem para roubar e roubam para se reeleger. A fé no Executivo se perdeu antes mesmo de renúncia de Jânio pavimentar o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes anos de chumbo. A chama da esperança foi avivada pelos movimentos pró-diretas, bruxuleou com a rejeição da emenda Dante de Oliveira, voltou a brilhar com eleição indireta de 1985 e foi sepultada com o corpo do primeiro presidente civil da "Nova República" 
 que, a exemplo da Viúva Porcina no folhetim global Roque Santeiro, foi sem nunca ter sidoEm 1989, a vitória de Collor sobre Lula pareceu ser uma luz no fim do túnel. Mas logo se percebeu que o Rei-Sol era tão demagogo e populista quanto adversário derrotado. E o resto é história recente. 

Promovido de vice a titular graças ao impeachment do primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1960, Itamar Franco — que conquistou seus 15 minutos de fama ao ser fotografado com a modelo sem calcinha Lilian Ramos — nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda. Nas pegadas do sucesso do Plano Real, o autoproclamado primeiro-ministro informal derrotou Lula em 1994. Picado pela mosca azul, FHC comprou a PEC da Reeleição e tornou a derrotar Lula em 1998 (também no primeiro turno). Mas já não lhe restavam coelhos na cartola.

Em 2002, Lula foi eleito presidenteA reboque de sua vitória, vieram o Mensalão, o Petrolão e a indicação de oito ministros para o STF. As decisões teratológicas dos togados fulminaram a confiança que os brasileiros haviam depositado no Judiciário quando perceberam que nada de bom viria do Executivo e do Legislativo. Em 2012, o país assistiu estarrecido — mas esperançoso — à condenação da alta cúpula do Mensalão; em 2016, comemorou o impeachment da "gerentona de festim". Na sequência, os avanços da Lava-Jato refrearam em alguma medida e por algum tempo o apetite pantagruélico da politicalha corrupta pelo dinheiro dos contribuintes. Mas não há nada como o tempo para passar.
 
A morte é anterior a si mesma. Ela começa antes da abertura da cova e percorre um lento processo. A Lava-Jato morreu sem colher os devidos louros. Foi graças a ela que, pela primeira vez desde a chegada das caravelas, poderosos da oligarquia política e econômica do Brasil foram investigados, processados e condenados. Seu
 velório reuniu gente importante. Seguravam a alça do caixão Jair Bolsonaro, o Centrão e o PT. O STF enviou uma sequência de coroas de flores enquanto preparava a última pá de cal. Que não demorou a chegar. Ironicamente, o sepultamento se deu sob a égide do presidente que, quando candidato, prometeu pegar em lanças contra a corrupção e os corruptos. Mas vamos por partes.
 
Em 2018, era imperativo impedir
 a volta do lulopetismo corrupto — que se estendeu por 13 anos 4 meses e 12 dias e "terminou" com o afastamento da gerentona de araque. Dada a possibilidade de o país vir a ser governado pelo bonifrate do então presidiário mais famoso do Brasil, a minoria pensante do eleitorado teria votado no próprio Capiroto. Com essa opção não estava disponível nas urnas, o jeito foi apoiar o "mito" da direita radical. Como se costuma dizer, situações desesperadoras requerem medidas desesperadas. 

Somada a uma inusitada conjunção de fatores, o antipetismo ensejou a vitória uma combinação mal ajambrada de ex-militar tosco, truculento e de viés terrorista e parlamentar medíocre (em quase três décadas no baixo-clero da Camara, o dito cujo aprovou míseros dois projetos e obteve míseros 4 votos quando disputou a presidência da Casa, em 2017. E deu no que deu: Bolsonaro se revelou o pior mandatário desde Tomé de Souza, e só não foi expelido do cargo porque contava com a subserviência de um antiprocurador-geral — comprada com a promessa jamais cumprida de uma cadeira no STF) e de um presidente da Câmara conivente  graças ao abjeto orçamento secreto.
 
Observação: O lulopetismo corrupto foi o agente catalizador que levou ao poder o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, mas foi sua abominável gestão que libertou da catacumba o xamã da petralhada. Se o verdugo do Planalto não conspirasse diuturnamente contra a democracia, não se associasse ao coronavírus, não investisse contra a imprensa, o Congresso e o STF e não andasse de mãos dadas com QueirozZambelli, milicianos, Collor et caterva, talvez o 
pontifex maximus da seita do inferno ainda estivesse gozando férias compulsórias na carceragem da PF em Curitiba.  
 
Com ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance O Primo Basílio, do escritor português Eça de Queiroz), as consequências vêm sempre depois. E não há nada como o tempo para passar. Em 2022, o fiasco da folclórica "terceira via" levou a mesma minoria pensante que ajudou a eleger o "imbrochável imorrível incomível" em 2018 a apoiar o demiurgo de Garanhuns (alguns até levaram fé na falaciosa frente ampla pró-democracia, mas isso é outra conversa). E deu no que está dando.
 
Reconduzido ao trono com a menor diferença de votos entre candidatos à Presidência no segundo turno desde a redemocratização, o morubixaba petista age como se tivesse sido eleito para o cargo de Deus. Sem se dar conta de que já não esbanja carisma como em 2010, quando se ufanava de ser capaz de eleger até poste, parece confundir o Planalto com o Olimpo da mitologia grega. Livrarmo-nos de Bolsonaro era imperativo, mas a volta de Lula et caterva foi um preço alto a pagar.
 
Não era de esperar que o ex-presidiário multirréu descondenado por togas camaradas cumprisse suas promessas de campanha. Noves fora a de "não descansar enquanto não foder Sergio Moro", naturalmente. E agora a oportunidade lhe bate à porta: o TRE-PR adiou o julgamento do pedido de cassação do ainda senador sob o pretexto de que, para o caso ser analisado, é preciso que o quórum esteja completo. Detalhe: cabe a Lula escolher um dos três nomes homologados pelo Tribunal para a vaga aberta no último dia 27 com a saída de Thiago Paiva dos Santos, representante da classe dos juristas. Mas isso também é outra conversa.
 
No debate promovido pela Band em outubro de 2022, por exemplo, Lula trombeteou que "nomear amigo e companheiro para o Supremo é retrocesso" (referindo-se a Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro para as vagas de Celso de Mello e Marco Aurélio). Eleito, indicou o amigo e advogado particular Cristiano Zanin para o lugar de Rosa Weber e Flávio Dino para o de Ricardo Lewandowski, convocou o ex-togado para substituir Dino no comando do ministério da Justiça, e ainda teve o desplante de negar sua relação de amizade com Zanin — que esteve em seu casamento com Janja e a quem chamou de "amigo" em entrevista à BandNews FM.
 
O indicador de corrupção da Transparência Internacional apontou que o Brasil perdeu pontos na luta contra a corrupção sob Bolsonaro e continua descendo a ladeira sob Lula. Com 36 pontos numa escala de 0 a 100, o país despencou da 94ª para a 104ª posição entre os 180 avaliados, ficando atrás da Argentina, da Guiana e da Colômbia, abaixo da média global (43 pontos) e muito abaixo da média entre os membros da OCDE (66 pontos). 
 
A ONG registra que marcos legais e institucionais anticorrupção que demoraram décadas para ser construídos ruíram em poucos anos. Que a indicação de Zanin para o STF foi "contrária à autonomia do Judiciário", e que a de Dino teve "perfil político" para um tribunal já excessivamente politizado. Que a não observância da lista tríplice do MPF na indicação de Paulo Gonet para a PGR evidencia que Lula optou por adotar o mesmo método de escolha política usado por Bolsonaro, cujos efeitos desastrosos ainda são sentidos no país. Que o afrouxamento da Lei das Estatais contou com a cumplicidade do Judiciário — foi uma liminar de Lewandowski que suspendeu os efeitos da lei —, e que houve pressões do governo federal e do Congresso para viabilizar indicações políticas (vale lembrar que o foco das investigações da Lava-Jato foi justamente a corrupção na Petrobras). 

O relatório aponta ainda que Lula herdou de Bolsonaro um Centrão mais poderoso e famélico por recursos do Erário (via "fundão eleitoral", emendas parlamentares etc.), e que, quando o STF ter decretou a inconstitucionalidade do "orçamento secreto", Executivo e Legislativo se uniram para preservar o mecanismo espúrio de barganha e os velhos vícios do esquema da gestão anterior. Que o CNJ rejeitou uma resolução para regulamentar a participação de juízes em eventos privados, palestras e atividades acadêmicas, e o Supremo considerou inconstitucional a regra que ampliava as restrições à atuação de juízes em processos de clientes de escritórios de advocacia onde seus familiares trabalham. 
 
Como desgraça pouca é bobagem, o ministro Edson Fachin driblou o regimento da Corte para entregar o "caso Vaza-Jato" diretamente ao colega Dias Toffoli, que não só anulou todas as provas obtidas com o acordo de leniência da Odebrecht (em todas as esferas e para todas as ações) e suspendeu o pagamento de R$ 3,8 bilhões (valor que chegaria a R$ 8,5 bilhões ao final dos 23 anos previstos para o parcelamento). Em sua decisão, o magistrado anotou que, diante das informações obtidas até o momento no âmbito da Operação Spoofing, teria havido conluio entre o então juiz Sergio Moro e procuradores da Lava-Jato em Curitiba para a "elaboração de cenário jurídico-processual-investigativo que conduzisse os investigados à adoção de medidas que melhor conviesse a tais órgãos, e não à defesa em si". 
 
Observação: A alegação de que o processo foi maculado pela falta de acordos de colaboração internacional não se sustenta, quando mais não seja porque as planilhas de propina, extratos bancários, e-mails e registros de retirada de dinheiro foram fornecidos voluntariamente pela Odebrecht. A empresa alegou que fechou o acordo sob coerção, mas não pediu sua anulação — para não perder benefícios como a permissão para voltar a disputar obras públicas e receber empréstimos de bancos estatais, além da garantia de que não seriam mais processadas pelos crimes já confessados. 
 
A liminar do Maquiavel de Marília colocou a Odebrecht no melhor dos mundos, pois ela não terá de pagar mais nada e não perderá os benefícios recebidos. Quem deixa de ser compensado por anos de corrupção bilionária — que nem a empreiteira nem o nobre ministro negaram ter existido — são o Estado e o contribuinte brasileiro. Para piorar, a fila de empresas que querem se livrar de multas bilionárias vem crescendo, já que podem contar com Toffoli e sua noção sui generis de proteção do Estado de Direito.
 
Triste Brasil. 

EM TEMPO: Toffoli determinou que a Transparência Internacional seja investigada por supostamente se apropriar indevidamente de recursos públicos na época da Lava-Jato. A decisão se deu no âmbito de uma notícia-crime apresentada pelo deputado federal petista Rui Falcão, que questiona a cooperação firmada entre o MPF e a organização nos anos da força-tarefa. O ministro diz tratar-se de uma instituição privada, "alienígena" e "com sede em Berlim" que teria recebido valores que, na verdade, deveriam ter sido destinados ao Tesouro Nacional, como previsto pelas normas legais do país. Para surpresa de ninguém, procuradores envolvidos nas tratativas também devem ser alvo dos procedimentos. Em nota pública, a ONG classificou como falsas as informações e afirmou que o memorando que estabeleceu a cooperação expirou em 2019, e que "tais alegações já foram desmentidas diversas vezes pela própria Transparência Internacional e por autoridades brasileiras, inclusive pelo MPF, mas, apesar disso, tais fake news vêm sendo utilizadas há quase cinco anos em graves e crescentes campanhas de difamação e assédio à organização". Fica nítida em mais essa decisão a intenção do Maquiavel de Marília de se reaproximar de Lula. Quousque tandem, Cunha, abutere patientia nostra?

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

QUEM FOI QUE INVENTOU O BRASIL... (PARTE IV)



Num esforço para dar credibilidade ao esqueleto fiscal que substituiu o destelhado teto de gastos, Haddad se autoimpôs missões severas: déficit de 0,5% do PIB neste ano de 2023, zero em 2024 e superávit de 0,5% em 2025. Na última sexta, durante um café de aniversário com jornalistas, D. Lula III desdenhou do projeto. O Ibovespa fechou em queda de 1,29% e o dólar subiu 0,46%. No íntimo, nem o ministro acredita que acertará o olho da mosca, mas seria bom manter viva ao menos a crença de que o governo trabalha para atingir um ponto qualquer próximo do alvo. No alvorecer do seu terceira gestão, o xamã da petralhada já deveria saber que, ao jogar a toalha tão prematuramente, dá asas aos conspiradores.

***

Vasco da Gama
esteve em Calicute dois anos antes de Cabral, mas as bacias de cobre, potes de açúcar e azeite que levou para usar como moeda de troca foram desdenhadas pelo Samorim e pelos mercadores locais. Cabral
 negociou com ouro e prata e foi autorizado a instalar uma feitoria e um armazém na cidade. Mas os mercadores muçulmanos não gostaram da concorrência. 

As tensões se transformaram num conflito armado que matou dezenas de portugueses  entre os quais Pero Vaz de Caminha e seis franciscanos. Em represália, Cabral ordenou o saque de dez navios árabes e bombardeou Calicute antes de zarpar rumo a Coximonde finalmente conseguiu as tão cobiçadas especiarias. 
 
Em janeiro de 1501, Cabral iniciou a viagem de volta a Portugal. Na costa da África, uma das naus encalhou e, como as demais estavam atopetadas de mercadorias, foi incendiada coma a carga de tudo. 

Reduzida a cinco navios, a esquadra cabralina dobrou o Cabo da boa Esperança (ex-Tormentas), onde encontrou sete marinheiros esquálidos e doentes a bordo da nau comandada por Diogo Dias, que havia se desgarrado um ano antes. Em 23 de junho, as seis embarcações adentraram o rio Tejo, e, a despeito dos naufrágios e das vidas perdidas, a expedição produziu lucros extraordinários. 

D. Manuel recepcionou Cabral com pompa e circustância, concedeu-lhe uma pensão anual de 30 mil réis (valor equivalente a 15 kg de ouro, mas muito inferior aos 400 mil réis que concedera a Vasco da Gama em 1498) e o nomeou subcomandante da "Esquadra da Vingança que seria enviada no ano seguinte para retaliar CalicuteA indignação de Cabral com o rebaixamento desagradou ao rei, que o afastou da corte. 

Mesmo sem os favores reais, Cabral conseguiu um vantajoso casamento — com Isabel de Castro, uma das mulheres mais ricas de Portugal — e se mudou para Santarém, na região do Alentejo, onde faleceu em 1520, aos 53 anos, sem jamais retornar às corte nem comandar outra expedição. Seus corpo foi sepultado provisoriamente no interior de uma capela na cidade, e lá permaneceu até a morte de Isabel, em 1538, quando então foi exumado e transferido para um jazido definitivo na Igreja da Nossa Senhora da Graça. 

Na lápide, foram anotados os méritos de madame, mas nem uma única palavra sobre as proezas de Cabral, que sempre foi tido pelos portugueses como um explorador de segunda categoria. Em 1903, uma urna contendo terra e fragmentos de ossos foi trazida para a Antiga Sé do Rio de Janeiro, mas os restos mortais de nosso "achador" continuam em Santarém. No Brasil, seu nome foi dado a praças e ruas de um sem-número de cidades, e sua efígie é exibida na nota de CR$ 1000 lançada em 1962.
 
Na obra The Voyage of Pedro Alvares Cabral to Brazil and Índia from contemporary documents and narratives, o historiador americano William Greenlee anota que poucas viagens foram mais importantes para a posteridade do que a de Cabral, e poucas foram menos apreciadas em seu tempo.
 
Continua...

sábado, 28 de outubro de 2023

QUEM FOI QUE INVENTOU O BRASIL... (PARTE III)

 

Por uma combinação perversa de governos estaduais indiferentes, leis escritas por advogados de criminosos e uma cultura voltada à veneração do tráfico de drogas, o Rio não consegue acordar do pesadelo permanente em que áreas inteiras da cidade e adjacências são governadas pelo crime organizado. A repressão da polícia pelo aparelho judiciário, a corrupção de políticos, as guerras entre quadrilhas e a violência contra os cidadãos são consequências diretas da postura suicida, adotada há mais de 40 anos, na qual o poder público decidiu que a Cidade Maravilhosa deveria conviver com o tráfico de drogas e com outras atividades criminosas. Deu nisso que está aí. Ministros do STF decidem que a polícia deve dar aviso prévio antes de fazer batidas nas favelas, o resto da Alta Justiça brasiliense manda soltar os piores traficantes, o Congresso aprova a criação do “juiz de custódia” — cuja função é soltar bandidos presos em flagrante — e o ministro da Justiça é recebido com festa numa favela carioca controlada pelo crime... Em meio ao pesadelo permanente do Rio, somente os criminosos conseguem dormir em paz.


***

No livro Pedro Álvares Cabral e a primeira viagem aos quatro cantos do mundo, o historiador José Manuel Garcia afirma que Cabral não foi incumbido de encontrar um caminho para "as Índias" pelo ocidente, mas, sim, de localizar terras que, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, pertenceriam à Coroa Portuguesa. Dito isso, o "achamento" do Brasil — termo que consta de documentos arquivados na Torre do Tombo, entre os quais a célebre Carta de Pero Vaz de Caminha — não foi acidental. 

 
A participação de navegadores como Bartolomeu Dias, Nicolau Coelho e Duarte Pacheco Pereira ressalta a importância
 expedição cabralina e esvazia a ideia do "acaso". Ademais, em 1948, uma frota de oito navios, comandada por Duarte Pacheco percorreu a costa de Pindorama à altura dos atuais Estados do Pará e do Maranhão, como registra o historiador português Jorge Couto em A Construção do Brasil. Mas o rei de Portugal determinou que esse episódio fosse mantido em segredo até que uma nova expedição (a de Cabral) "tomasse posse oficialmente" daquelas terras.
 
Observação: Na região do suposto naufrágio da nau São José (detalhes no capítulo anterior), é comum os ventos alísios pararem de soprar por dias ou semanas, deixando as embarcações à vela ao sabor das correntes marinhas. Segundo
 o historiador naval e almirante brasileiro Max Justo Guedes, a corrente equatorial sul pode ter empurrado a frota de Cabral 90 milhas para oeste, mas esse deslocamento não seria suficiente para ensejar o "descobrimento casual" do Brasil.

"A praia das lágrimas para os que vão. A terra do prazer para os que voltam". É assim que os portugueses se referem ao Porto do Restelo, de onde partiu a esquadra de Cabral, em 9 de abril de 1500, com 13 embarcações e 1500 tripulantes, entre marinheiros, médicos, boticários, religiosos, calafates e até degredados — que, no mais das vezes, eram os primeiros a desembarcar; se fossem atacados por selvagens, não fariam muita falta. A marujada dormia sob o castelo da popa ou no convés, em frágeis colchões de palha, mas os mais graduados tinham direito a um quarto e uma cama. Os capitães, além das mordomias, recebiam um bom salário — Cabral embolsou o valor correspondente a 35 quilos de ouro). 


O cardápio consistia em ½ quilo de carne em banha e peixe salgado, 600 g de biscoito água e sal duro, 1,5 litro de vinho e outro tanto de água por dia. Calcula-se que seriam necessárias 5000 kcal/dia em tais condições, mas essa dieta só fornecia 3500. A falta de vitamina C causava escorbuto e o contato com bichos a bordo, diarreia e piolhos. Como não havia banheiros, todos urinavam no mar e defecavam em baldes ou nos porões infestados por ratos e baratas. A falta de banho contribuía para tornar a higiene a bordo calamitosa e a taxa de mortalidade entre 2% a 10% da tripulação. 

 

Passaram-se 44 dias até os marinheiros avistarem algas boiando nas águas e "fura-bruxos" (pássaros semelhantes a gaivotas) nos céus. Na tarde de 22 de abril, alguém gritou: "Terra à vista!", e a frota lançou ferros a 35 quilômetros da costa. O capitão Nicolau Coelho, que foi encarregado de fazer o reconhecimento do território, presenteou o líder dos nativos (estima-se que havia entre 500 mil a 1 milhão de silvícolas no litoral de Pindorama) com um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um chapéu preto, e ganhou dele um cocar de plumas e um colar de contas.

 

Depois de dez dias em terra brasilis, Cabral e sua trupe partiram rumo à Índia, deixando para trás dois degredados — que foram recolhidos em dezembro do ano seguinte pela primeira expedição enviada por Dom Manuel para explorar a mais nova colônia portuguesa. Além deles, dois grumetes, cansados dos maus-tratos a bordo, roubaram um escaler e fugiram para a praia. Nunca mais se ouviu falar deles. No dia 13 de setembro, a frota cabralina, reduzida a seis navios, chegou a seu destino, onde sofreu novas baixas.


Continua...

terça-feira, 24 de outubro de 2023

QUEM FOI QUE INVENTOU O BRASIL? FOI SEU CABRAL! FOI SEU CABRAL!

 
Nem a derrota foi capaz de restituir à família Bolsonaro o senso de ridículo — talvez porque não é possível recuperar algo que nunca se teve. Autoconvertido em cabo eleitoral do aloprado Javier Milei, Zero três defendeu a liberalização do comércio de armas na Argentina, talvez achando que estava na mesa de almoço da família ou discursava para um grupo de CACs, quando na verdade ele perorava para uma sociedade crivada de problemas como superinflação, recessão, déficit fiscal e social, que não se revolvem na bala. 
Os entrevistadores apresentaram o entrevistado ao ridículo: "Quão generosos são os argentinos, para receber este tipo de gente", disse um deles, enquanto outra lembrou que foi por isso que os brasileiros defenestraram do poder o pai do entrevistado. Resta saber se o deputado fritador de hambúrguer passou vergonha entre os portenhos por conta própria ou à expensas do contribuinte brasileiro. Se as despesas forem bancadas pela Câmara, o ridículo se converte num escárnio digno de ação por improbidade.


***

O título desta postagem remete a uma marchinha carnavalesca que fez muito sucesso durante o reinado de Momo de1934 (para relembrá-la, clique aqui). Lamartine Babo usou o verbo "inventar" de forma jocosa, mas a história do "descobrimento", como é contada nos livros didáticos, é tão fantasiosa quanto a "fábula da maçã" — que inspirou outra marchinha para o Carnaval de 1954. 
 
Consta que o f
idalgo, comandante militar, navegador e explorador português Pedro Álvares Cabral zarpou do porto de Lisboa em 9 de março de 1.500, que seu destino era a cidade indiana de Calicute, e que, em meio ao Mar Tenebroso (como o Oceano Atlântico era chamado pelos intrépidos navegantes de então), sua esquadra foi tirada da rota original 
— por uma borrasca, segundo alguns, ou por uma calmaria, segundo outros  e deu com os costados no que hoje é o litoral da Bahia.
 
A "Relação do Piloto Anônimo" — que, ao lado das cartas de Caminha e de Mestre João, é um dos três testemunhos diretos do descobrimento que sobreviveram ao tempo —, relata que a nau comandada por Vasco de Ataíde se perdeu em 23 de março, embora não houvesse vento forte nem contrário para que tal acontecesse. Mas o
utros mistérios cercam o desaparecimento da embarcação e, de certo modo, o "descobrimento" que ocorreria dali a um mês. A começar pelo identidade do capitão da nau tragada pelo mar. 

Cronistas como Fernão Lopes de Castanheda, Damião de GóisJoão de Barros e Gaspar Correia se dividem entre Luís Pires e Pero de Ataíde, e afirmam que a embarcação conseguiu retornar a Lisboa. Caminha, do alto da autoridade de escrivão oficial da armada, anotou que o capitão da São José era Vasco de Ataíde: "Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau sem haver tempo forte ou contrário para que assim pudesse ser". O próprio D. Manuel, em carta escrita em 1502, confirma o escriba e assegura que não se teve mais notícias da embarcação.

Escrevendo mais de uma década depois dos acontecimentos, Castanheda, Góis, Barros e Correia foram unânimes em afirmar que o Brasil foi descoberto por acaso, agasalhando a tese do desvio de rota provocado pela tormenta... que simplesmente não ocorreu. Mas a questão que se destaca é: se não houve tempestade, o que teria causado o desaparecimento da embarcação? 


De acordo com o historiador naval e almirante brasileiro Max Justo Guedes, a incidência de cerrações e nevoeiros é comum na região do arquipélago de Cabo Verde, e que, ao tresmalhar-se da frota, a nau comandada por Ataíde se chocou contra os recifes de João Leitão, a 17 milhas ao sul da Ilha de Boa Vista. Mas as circunstâncias que envolveram o naufrágio reforçam a tese de que o descobrimento do Brasil não foi casual


O historiador português Jaime Cortesão — defensor da tese da intencionalidade — faz outra leitura do episódio: "Caminha, que em breve iria dedicar páginas e páginas inteiras à descrição do aborígine, menciona o naufrágio sem uma palavra de lástima", embora 150 homens tivessem engolidos pelo mar, contribuindo para a longa história trágico-marítima de Portugal.


ObservaçãoNo Brasil de hoje, "caraveladesigna qualquer embarcação a vela, mas somente três dos navios da frota de Cabral mereciam ser chamados como tal. Os outros dez era "naus" (incluindo uma "naveta" que transportava mantimentos extras). As caravelas propriamente ditas eram embarcações menores  elas mediam 22 m de comprimento, tinham apenas dois mastros, um pequeno castelo à popa e velas triangulares ou quadradas — e transportavam até 80 tripulantes. Já as naus eram maiores (até 35 m), tinha vários conveses, três mastros, dois castelos e capacidade para transportar até 150 tripulantes. 
 
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