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domingo, 22 de outubro de 2023

O IMPEACHMENT E UM POUCO DE HISTÓRIA


Velhos vícios são inimigos acastelados que só a morte pode expurgar. O Partido dos Trabalhadores — fundado em 1980 com o fito de fazer política sem roubar nem deixar roubar — começou a chamar o impeachment de Dilma de "golpe" antes mesmo de o deputado Eduardo Cunha, então presidente da Câmara Federal, dar seguimento ao pedido. Passados sete anos, Lula e seus acólitos voltaram à carga

No final de agosto, o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-condenado) trombeteou que é preciso buscar uma forma de reparar a injustiça sofrida por sua pupila em 2016. A ideia — que ganhou coro com a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann — é fazer uma devolução simbólica do mandato a Dilma, a inigualável, como o Congresso fez em 2013 com João Goulart (que foi destituído pelo golpe de 64). 

A patuleia diz que a gerentona de araque foi inocentada pelo TRF-1 das "pedaladas fiscais", mas o que o tribunal fez foi manter (por 3 votos a 0) o arquivamento da ação de improbidade administrativa sem resolução de mérito. A despeito as alegações de Lula et caterva de que a "companheira" foi julgada por "uma coisa que não aconteceu", sua deposição foi bem fundamentada juridicamente e chancelada pelo STF. Golpe foi a maracutaia urdida pelo PT e apoiada por Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski  que então presidiam, respectivamente, o Senado e d Supremo  para evitar a cassação dos direitos políticos da ré. 

O processo de responsabilização e destituição de um Presidente da República por crime de responsabilidade é previsto na Constituição Cidadã, que, em seu artigo 52, dispõe que "cabe ao Senado Federal processar e julgar o presidente e o vice-presidente da República por crimes de responsabilidade", e que a condenação resulta na "perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública". 

Mesmo assim, Dilma não perdeu os direitos políticos — ao contrário de Collor, impichado em 1992. que ficou inelegível por 8 anos a despeito de ter apresentado sua carta-renúncia horas antes do julgamento, como se fosse possível condenar alguém à perda do cargo depois de esse alguém ter renunciado.

ObservaçãoO sequestro das poupanças e o envolvimento no esquema PC minaram o relacionamento de Collor com todas as classes braseiras. Eleito pelo minúsculo PRN, o "Rei Sol" dependia vitalmente do apoio de outros partidos para governar, e nunca conquistou uma base sólida. Já o vampiro do Jaburu, que foi às cordas quando veio à tona suas conversas nada republicanas com Joesley Batista, comprou no atacado os votos das marafonas doa Câmara e chegou ao final de seu mandato, ainda que como um patético pato manco.
 
Dilma negou os desvios ocorridos na Petrobras, mesmo tendo presidido o Conselho de Administração da estatal e atuado como ministra-chefe da Casa Civil e ministra de Minas e Energia antes de ser alçada ao Planalto. E ainda manteve Graça Foster no comando da petrolífera de fevereiro de 2012 a fevereiro de 2015. “Foi sob a gestão de Graça que parte do 'saque' à Petrobras foi realizado", ressaltou o jurista Ives Gandra da Silva Martins. 
Os juristas que protocolaram o pedido de impedimento em desfavor da petista argumentaram que ela agiu como se não soubesse das irregularidades na Petrobras. 

Dilma foi penabundada mediante um processo constitucional e teve amplo direito de defesa. Foi condenada porque os parlamentares entenderam houve crimes de responsabilidade. Afirmar que ela não tinha ciência do aparelhamento nas estatais, da promiscuidade com empreiteiras, dos superfaturamentos milionários e das escaramuças no Orçamento com fins eleitorais é fazer pouco caso da inteligência de quem tem ao menos dois neurônios funcionais.
 
Dilma nunca foi política nem demonstrou vocação para gerir o que quer que fosse. Prova disso é que quebrou duas lojinhas de badulaques importados do Panamá em apenas 17 meses — e isso quando a paridade entre o real e o dólar favorecia esse tipo de negócio. Só foi escolhida por Lula para manter aquecida a poltrona presidencial até ele poder voltar a ocupá-la porque José Dirceu e outras estrelas do alto escalão do PT estavam no xadrez — e porque o palanque ambulante convertido em camelô de empreiteiro não teve peito para levar adiante o "golpe via emenda constitucional" que lhe garantiria um terceiro mandato. 

Mas a criatura tomou gosto pelo poder e "fez o diabo" para se reeleger, destruindo o pouco que se aproveitava da obra do criador. Ela contou com os serviços de marqueteiros de primeiríssimo time, como João Santana e sua mulher, Mônica Moura — presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento da fiança de R$ 31,4 milhões — e dispôs de recursos milionários oriundos do propinoduto da Petrobras, que lhe permitiram tirar Marina Silva do páreo no primeiro turno e derrotar o José Serra no segundo. 

Observação: Marina voltou a disputar a Presidência em 2014, primeiro como vice de Eduardo Campos (o partido que ela havia fundado no ano anterior não conseguiu registro junto à Justiça Eleitoral a tempo de disputar o pleito) e depois como titular, devido à morte de Campos num acidente que continua alimentando teorias conspiratórias. Com essa reviravolta, a ex-doméstica, ex-seringueira e ex-ministra chegou a ser cotada para disputar o segundo turno contra Aécio Neves, mas foi tirada do páreo por Dilma, embora tenha obtido 2 milhões de votos a mais que em 2010.
 
Após derrotar Aécio por uma vantagem de 3.46 milhões de votos válidos, o "poste" de Lula pariu a maior crise econômica da história deste país. Em sua fase mais delirante, desfilava com bolsas das grifes Hermès e Vuitton e degustava pratos sofisticadas, vinhos caríssimos, bombons ChocopologieUS$ 250 a unidade de 42 g — e chocolates Delafee recobertos de fios de ouro 24K. Quando estava de dieta, ela mordia um pedacinho do chocolate e descartava o resto na lixeira

Em viagens ao exterior, a versão tupiniquim da Rainha Má se hospedava nos melhores hotéis e frequentava os mais finos restaurantes. Durante uma visita à Califórnia, torrou US$ 100 mil só com aluguel de carros — foram contratados 25 motoristas para levar a comitiva brasileira de lá para cá a bordo de limusines, vans, ônibus e até um caminhão. A visita durou apenas único dia, mas o contribuinte brasileiro arcou com o custo da circulação da frota inteira durante duas semanas. Para completar a comédia, o governo só pagou a locadora porque depois de ser ameaçado de cobrança judicial nos EUA.
 
No Brasil, o presidente da República é um gigante de pés de barro, já que depende da base aliada, dos acordos com as oligarquias e do dinheiro das empresas para governar. Em vez de mandar no sentido absolutista, nosso mandatário é mandado. Os que tiveram capacidade política e diplomática terminaram seus mandatos, mas Dilma nunca teve essas qualidades e, pior, sempre se cercou de assessores tão ou mais mal preparados do que ela própria (caso de Erenice GuerraGleisi Hoffmann e Aloízio Mercadante, para ficar somente nos mais notórios). 

Tanto Fernando Henrique quanto o proprio Lula semearam alianças com grandes legendas, mas Dilma e seus ineptos negociadores as deixaram morrer  não à toa, a debacle da gestão da gerentona de araque ganhou força quando a aliança com o PMDB definhou.

O Estado brasileiro funciona à base da corrupção. Negociações entre Executivo e Legislativo acontecem na maioria das democracias, mas a maneira como são feitas no Brasil é absolutamente delirante. Nossa Constituição é claramente parlamentarista, mas a adoção do parlamentarismo foi rejeitada pelo esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim no plebiscito de 1993, o que enfunou as velas do presidencialismo de cooptação. E deu no que está dando. 

Inexiste nesta republiqueta de bananas o princípio da responsabilidade. Quando não chantageia o Executivo, o Congresso Nacional é subserviente a ele. E isso vem acontecendo desde o "suicídio" de Getúlio Vargas.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO — PARTE 10


As virtudes de Teori Zavascki foram cantadas em verso e prosa por seus pares na Corte, políticos do alto escalão do governo, amigos e familiares. Mesmo fora desse círculo houve quem reagisse como se o finado fosse um amigo próximo — sinal do engajamento da população com questões relevantes da política; até não muito tempo atrás podia-se contar nos dedos quantos brasileiros eram capazes de citar de memória a composição do STF e o nome do Ministro da Justiça ou do Procurador Geral de República. Mas o simples fato de alguém morrer não faz desse alguém um santo nem anula seus eventuais malfeitos. 

Certa vez, um padre recém-ordenado foi designado para pastorar almas num vilarejo cujo nome me foge à memória. No dia seguinte à sua chegada, o velho e impopular prefeito esticou as canelas. Durante o serviço fúnebre, o sacerdote  convidou os presentes a exortar as virtudes do falecido. Como a resposta foi um silêncio constrangedor, ele insistiu:
 
— Então, irmãos? Ninguém se habilita?
 
Ninguém se habilitou.
 
— Como é, dona Maria — insistiu o batina, dirigindo-se diretamente à viúva.
 
Depois de alguma hesitação, a velha sentenciou:
 
— O pai dele era ainda pior.
 

Elogios merecidos à parte, causou estranhamento ninguém ter mencionado que Zavascki morreu a caminho da ilha do empresário Carlos Alberto Filgueiras — dono 
da Rede de Hotéis Emiliano e do malsinado Beechcraft C90GT em que eles viajavam. O simples fato de estar a bordo colocou o magistrado na mesma e incômoda posição de um Sérgio Cabral que voava nas asas de Cavendish, ou de um Lula aninhado nos ares com a OdebrechtTampouco foi lembrado que o ministro esteve presente no casamento do filho do advogado Eduardo Ferrão, em 2015, que reuniu boa parte da elite empresarial enrolada na Lava-Jato. Ou que foi dele o voto de desempate que absolveu Dirceu, Genoíno e Delúbio do crime de formação de quadrilha.
 
Observação: Vale destacar que o avião sinistrado era relativamente novo e estava em perfeitas condições de operação, que o piloto tinha experiência em pousos no campo de Paraty, inclusive sob condições meteorológicas adversas (chuva, ventos fortes, etc.), e que uma testemunha relatou que "o avião foi baixando cada vez mais e soltou um bolo de fumaça branca antes de bater a asa direita na água e capotar". 

Somando-se a isso o fato de que Zavascki estava na bica de homologar a "Delação do Fim do Mundo" — na qual 77 ex-executivos da Odebrecht denunciaram e detalharam "práticas pouco republicanas" de mais de 100 políticos de diversos partidos (alguns do mais alto escalão do governo federal, além de Lula e Dilma) — sobram indícios de que a queda do avião foi mais que uma simples fatalidade.
 
Observação: Talvez tudo tenha sido uma lamentável coincidência, mas o que são coincidências senão Deus agindo nos bastidores? (No caso em tela, por motivos óbvios, seria mais provável que o Diabo tivesse culpa no cartório). 

Fato é que a morte de Zavascki entrou para a lista de episódios em que autoridades brasileiras morreram em circunstâncias duvidosas — como o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1961), o deputado Ulysses Guimarães (1992), o prefeito de Santo André Celso Daniel (2002) e o ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência Eduardo Campos (2014), entre tantos outros. 
 
Semanas antes do afastamento de Dilma, Zavascki foi hostilizado por manifestantes antipetistas por contestar uma decisão do então juiz Sergio Moro — na ocasião, o ministro decidiu que a investigação de escutas telefônicas que envolviam Dilma e Lula deveria ser enviada ao Supremo
Mais ou menos na mesma época, Francisco Zavascki, filho do togado, escreveu no Facebook

"É obvio que há movimentos dos mais variados tipos para frear a Lava-Jato. Penso que é até infantil imaginar que não há, isto é, que criminosos do pior tipo (conforme o MPF afirma) simplesmente resolveram se submeter à lei! Acredito que a lei e as instituições vão vencer. Porém, alerto: se algo acontecer com alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar…! Fica o recado!".
 
O perfil reservado de Zavascki foi tema de conversa entre o então senador Romero Jucá e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Na gravação, feita
 em março e divulgada em maio de 2016, os interlocutores sugeriam que somente uma mudança no governo federal — um "pacto nacional com o Supremo, com tudo" — poderia "estancar a sangria" produzida pela Lava-Jato. 

Machado disse que o ideal era buscar alguém que tem ligação com o Teori, "mas parece que não tem ninguém". E Jucá responde: "Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou [no STF]".
 
Continua...

sexta-feira, 28 de julho de 2023

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO... PARTE 4

 

No Brasil, a corrupção escandaliza duas vezes: quando os escândalos são descobertos e quando as provas são enterradas vivas. O cancelamento de provas recolhidas nos subterrâneos da Odebrecht e confessadas por seus executivos resultou na anulação de sentenças e no trancamento em série de processos judiciais. Mas o que fazer com a corrupção confessada? 

Levantamento feito pela Folha revela que existem no STF ao menos 60 pedidos de extensão da anulação das sentenças impostas a Lula a outros condenados. Antes de pendurar a toga, em abril, o ministro Lewandowski lotou o arquivo morto da corte, e Toffoli, herdeiro dos processos da Lava-Jato, completa o serviço. O rol de beneficiários, vasto e suprapartidário, inclui de Geraldo Alckmin a Beto Richa; de Paulo Preto a Paulo Skaf; de Lúcio Vieira Lima — irmão de Geddel — a Paulo Bernardo.
 
Em tese, os processos são anulados no pressuposto de que os encrencados serão submetidos a novos inquéritos e julgamentos. Na prática, os processos caem no sumidouro da prescrição, como se deu com Lula. O esfarelamento de sentenças e inquéritos escora-se no argumento de que a Lava-Jato subverteu o princípio do devido processo legal, mas ficam boiando na atmosfera do Supremo algumas perguntas incômodas: O que fazer com as malas de dinheiro? Como lidar com as contas bloqueadas na Suíça? E quanto ao roubo confessado e devolvido? A corrupção será devolvida aos corruptores? Os togados produziram um fenômeno inusitado: a corrupção sem corruptos.


Ainda durante a ditadura, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e seu motorista tiveram morte instantânea quando o automóvel em que viajavam colidiu com uma carreta (detalhes no nesta postagem). As perícias e o relatório da Comissão Nacional da Verdade afastaram a hipótese de assassinato, mas a Comissão de Direitos Humanos da OAB e outras entidades que apuram crimes cometidos durante a ditadura alegaram que a CNV ignorou mais de 100 evidências e indícios (para gáudio dos teóricos da conspiração). 


As as mortes de João "Jango" Goulart, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães (em 1976, 1985 e 1992, respectivamente) também continuam alimentando teorias conspiratórias. O vice de Jânio foi deposto pelo golpe de 1964 e morreu de atraque cardíaco na Argentina, em 1976. Logo surgiram suspeitas de que os remédios que ele tomava para o coração foram adulterados (numa operação conjunta da CIA e dos governos brasileiro e argentino), mas o inquérito acabou sendo arquivado por falta de provas.


Observação: Uma Comissão Externa da Câmara levantou suspeitas de que o político teria sido vítima da Operação Condor. Além disso, o Jornal Nacional levou ao ar uma matéria sobre a Operação Mosquito, que tinha por objetivo derrubar o avião para Jango de assumir a Presidência. Em março de 2013, seu corpo foi exumado, mas o laudo da autópsia realizada no cemitério de São Borja (RS) foi "inconclusivo".  

 

Eleito pelo voto indireto em 1995, Tancredo baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu (38 dias e 7 cirurgias depois) de "infecção generalizada". A causa mortis foi alterada tempos depois para "síndrome da resposta inflamatória sistêmica", mas há até hoje quem acredita que o político mineiro foi morto por militares contrários à entrega do poder. Esses rumores ganharam força depois que o general Newton Cruz disse em entrevista ao Roda Viva que o candidato derrotado Paulo Maluf o havia procurado três meses antes da votação para propor um golpe


Observação: Outras teorias sugerem que Tancredo teria sido baleado enquanto assistia a uma missa na Catedral de Brasília (faltou luz durante a cerimônia, e alguns presentes disseram ter ouvido um tiro) ou envenenado por militares apoiados pela CIA (por uma estranha coincidência, seu mordomo morreu dias depois, vítima de complicações gastrointestinais.

 

Eleito 11 vezes consecutivas deputado federal, Ulysses Guimarães enfrentou os militares no auge da ditadura, liderou a campanha pelas Diretas, presidiu os trabalhos eu resultaram na Constituição Cidadã e teve papel preponderante no impeachment de Fernando Collor. Em outubro de 1992, o helicóptero em que ele viajava de Angra dos Reis (RJ) para a capital paulista caiu no mar logo após a decolagem. Todos os ocupantes morreram, mas somente o corpo do Sr. Diretas não foi encontrado. Há quem acredite que, a exemplo de PC Farias, ele foi assassinado a mando de Collor, mas isso nunca foi comprovado. 

 

Eduardo Campos morreu no dia 13 de agosto de 2014, quando o avião em que ele viajava caiu num bairro residencial do município de Santos, no litoral paulista. Na ocasião, o ex-governador de Pernambuco era o terceiro colocado entre os postulantes à presidência nas eleições daquele ano, o que ensejou suspeitas de que  teria sofrido um atentado. 


De acordo como o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, queda se deveu a diversos fatores, entre os quais falha humana, condições inapropriadas para a operação no aeródromo e desorientação visual. As investigações foram concluídas, mas o caso permanece com algumas pontas soltasAntonio Campos, irmão do político, divulgou nas redes sociais a seguinte nota: 


"Num país em que líderes e autoridades morrem de forma misteriosa em acidentes aéreos e ainda impactado pela morte do ministro Teori, resolvi revelar esse fato novo e reafirmar que esse caso precisa ser aprofundado. Não descansarei enquanto não forem esclarecidos os fatos, independentemente de eventuais riscos que possam correr". 


Observação: Marina Silva, candidata a vice na chapa de Campos, disputou o pleito como titular e ficou em 3º lugar, com 22 milhões de votos (no segundo turno, Dilma derrotou Aécio por uma diferença de 8,3 milhões de votos e conquistou seu segundo mandato). 


Continua...

sexta-feira, 14 de julho de 2023

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO



Segundo o ministro da Defesa, José Múcio, o fato de Mauro Cid comparecer fardado à CPMI dos Atos Golpistas não afrontou a Comissão. Mas gastar oito dos 15 minutos da manifestação inaugural jactando-se de sua formação militar e vinculando ao Exército os atos que praticou como esbirro de Bolsonaro foi um acinte, a exemplo de sua recusa a responder qualquer pergunta, inclusive sobre a própria idade (!?). Ao instruírem-no a se apresentar de farda, seus superiores transformam um drama criminal num processo de desmoralização das FFAA; ao transformarem a inquirição num show de horrores intercalado por exibições de despreparo, os parlamentares produziram material para a convocação de uma outra CPI para investigar a inutilidade de certas CPIs


Ao informar que ficaria em silêncio para não se autoincriminar, o não-depoente reconheceu estar encrencado em oito inquéritos (por participação nas manifestações golpistas de 8 de janeiro, nos atos antidemocráticos de 2019, no caso das joias sauditas e na fraude nos cartões de vacinação, e por cumplicidade com as milícias digitais bolsonaristas na propagação de fake news, pagamento em dinheiro vivo de despesas da ex-primeira-dama e vazamento de inquérito sigiloso). Nenhuma dessas atividades está inserida no rol que o Exército chamou de "temas referentes à função" para a qual ele fora designado. 


Se estivesse em trajes civis, Cid teria desonrado apenas a si próprio; fardado, empurrou as Forças Armadas para dentro de inquéritos que enferrujam a reputação de um oficial cuja carreira estava fadada a atingir o generalato e cujo silêncio transformou o nada numa palavra que ultrapassa tudo. CPMI, por sua vez, deixou claro que seu funcionamento dificilmente resultará em algo útil. Planejada pela oposição e controlada pelo governo, a comissão transformou-se numa versão coletiva da velha prática de jogar dinheiro público pela janela. Se pudesse, o contribuinte acionaria o Procon. Como a inutilidade legislativa não se encaixa no ramo do Direito do Consumidor, resta torcer para que os parlamentares desenvolvam por conta própria o senso do ridículo.


***


A morte de políticos em circunstâncias trágicas é terreno fértil para teorias da conspiração. A viagem sem volta de Adriano da Nóbrega, Gustavo Bebianno, PC Farias, Luís Eduardo Magalhães, Eduardo CamposUlysses Guimarães, Celso Daniel, Toninho do PT e Juscelino Kubitschek (entre outros) para a terra dos pés juntos levantou suspeitas pelas mais diversas razões (um sabia demais, outro pretendia denunciar esquemas de corrupção, outro foi vítima de vingança, e por aí segue a procissão). 

 

A versão segundo a qual PC Farias foi morto pela namorada, que se suicidou em seguida, não convence nem a Velhinha de Taubaté, embora tenha bastado para o STF a determinar o arquivamento do inquérito que investigava o deputado Augusto Farias (mais detalhes nas postagens finais da sequência Collor lá...). Claro que teorias conspiratórias não envolvem somente políticos, e que algumas são tão bizarras que chegam a ser risíveis. Para muitos lunáticos, a alunissagem da Apollo 11 foi encenada num deserto dos EUA, seres evoluídos habitam as profundezas da Terra, Keanu Reeves é imortal, a longevidade da rainha Elizabeth II devia-se à ingestão regular de carne humana, Bolsonaro foi um grande presidente e Lula é a alma viva mais honesta do Brasil.

 

Durante sua campanha, Juscelino Kubitschek prometeu 50 anos de progresso em 5 anos de governo. Eleito presidente, construiu Brasília, abriu a economia para o capital internacional e criou um sem-número de empregos (diretos e indiretos). Como nada é perfeito, rios de dinheiro canalizados para erguer do nada uma cidade no meio do nada inflou barbaramente a dívida externa. Além disso, as novas oportunidades de emprego ensejaram um êxodo rural desordenado, e a migração de trabalhadores do campo para as cidades prejudicou a produção agrícola e fomentou o aumento da pobreza, da miséria e da criminalidade. Em meados dos anos 1970, JK soube pela imprensa que ele teria morrido quando ia de sua fazenda em Luziânia (GO) para Brasília. Ele disse a seu secretário: "Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram". Mas não há nada como o tempo para passar: duas semanas depois, ele morreu quando o Chevrolet Opala em que viajava colidiu com uma carreta.

 

Teorias conspiratórias sustentam que o motorista do ex-presidente levou um tiro na cabeça — tese corroborada pelo condutor da carreta, que disse tê-lo visto "debruçado entre o volante e a porta do automóvel". Mas as marcas dos pneus no asfalto indicam que houve uma tentativa de recuperar o controle do veículo antes da colisão — o que não poderia ter feito por alguém que estivesse morto ou inconsciente. Já o motorista do ônibus que contribuiu para o acidente ao "esbarrar" no carro relatou que dois homens lhe ofereceram dinheiro para assumir a culpa. Um passageiro afirmou que o motorista perdeu o controle di carro porque bateu na mureta, mas a perícia encontrou vestígios da tinta do Opala na lateral do ônibus e vice-versa (os passageiros não perceberam a "leve colisão" por estarem num veículo de 12 toneladas). 

 

Segundo outra teoria, um explosivo foi colocado no carro durante uma parada no hotel-fazenda do brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte — que era ligado ao SNI, e uma terceira sustenta que os freios do Opala foram sabotados. Mas a perícia não encontrou resíduos de explosivo na carcaça do carro nem problemas com o sistema de freios. O perito criminal Alberto Carlos de Minas disse que viu um buraco de bala no crânio do motorista de JK, mas os policiais o impediram de fotografar. 

 

Sem acreditar que a morte de Juscelino foi acidental, Serafim Jardim, seu secretário e autor do livro Juscelino Kubitschek — Onde está a verdade? pediu a exumação do corpo do motorista em 1996. De acordo com o médico-legista Márcio Alberto Cardoso, que acompanhou a exumação, não havia perfurações ou fratura no crânio, apenas o fragmento de um prego daqueles usados para fixar a estrutura de pano nos caixões".

 

A versão de que JK foi vítima de conspiração voltou a ser derrubada em 2001. Convidados para auxiliar nos trabalhos da comissão criada para elucidar os fatos, os peritos criminais Ventura Raphael Martello Filho e João Bosco de Oliveira concluíram que tudo não passou de um acidente. "Com 40 anos de experiência, não consegui descobrir, por meio de laudos, fotos, recursos técnicos e análise do local, que houve ali outra coisa a não ser um acidente de trânsito. O parecer técnico foi feito. Há uma série de impropriedades e argumentos infantis", disse Martello.

 

Mais de trezentas mil pessoas assistiram ao funeral de JK em Brasília, E entoaram a música que se tornou símbolo do ex-presidente: Peixe Vivo. Mas o
 caso continua imerso em brumas, ainda que o fato de o político mineiro ser malvisto pela cúpula do Exército não significa que sua morte tenha resultado de uma conspiração dos militares. 

Continua...

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

AINDA SOBRE TRAGÉDIAS E FARSAS...

 

Visando manter aquecida a poltrona presidencial até poder voltar a ocupá-la, Lula criou um "poste" e o vendeu como "gerentona eficiente". Mas a cria se revelou um conto do vigário no qual próprio criador caiuEntre 2013 e 2016, a economia brasileira encolheu 6,8% e o desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de pessoas. Se Lula passou à história como presidente que fez a sucessora, Dilma se imortalizou como a criatura que desfez a obra do criador.

 

Dilma foi um arremedo de guerrilheira que jamais disparou um tiro — a não ser no próprio pé, ao se reeleger, devido ao tamanho da encrenca que herdou de si mesma. Jamais foi política e tampouco demonstrou vocação para gerir o que quer que fosse. Não obstante, com Dirceu e outras estrelas do alto escalão petista no xadrez e sem peito para levar adiante o "golpe via emenda constitucional" que lhe garantiria um terceiro mandato, Lula achou que ela seria mais fácil de manipular do que Marina Silva e, por “não ser política”, não se apegaria ao cargo. Só que a cria tomou gosto pelo poder e "fez o diabo" para se reeleger, azedando suas relações com o criador.

 

Dilma foi um Pacheco de terninho que, sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, posou de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil em outubro daquele ano e renovou o mandato quatro anos depois. Lula chegou a dizer — em off, naturalmente — que ele próprio foi a maior vítima de Dilma. Sua escolha feriu de morte a relação com Marina, que abandonou o governo em 2008 e o PT em 2009, e disputou a presidência pelo PV em 2010 — quando ficou em 3° lugar, com 19% dos votos válidos.

 

Dilma tinha o apoio de Lula e de marqueteiros de primeiríssimo time, como João Santana e sua mulher, Mônica Moura — ambos foram presos na 23ª fase da Lava-Jato e soltos mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 31,4 milhões. Com as velas enfunadas por recursos milionários (oriundos, em grande parte, do propinoduto da Petrobras), o "poste" derrotou Marina no primeiro turno e venceu José Serra no segundo (por 46,91% a 32,61% dos votos válidos). Marina votou a disputar o Planalto em 2014 — primeiro como vice na chapa de Eduardo Campos, e depois como titular, já que o cabeça da chapa morreu num acidente aéreo a dois meses do primeiro turno. 

 

Mesmo tendo obtido 2 milhões de votos a mais que em 2010, Marina não conseguiu superar Aécio, que perdeu para Dilma no segundo turno por uma diferença de 3.459.963 votos válidos. Assim, superando a si mesma em incompetência, a cria de Lula pariu a maior crise econômica da história deste país e acabou penabundada do Planalto presidência em 31 de agosto de 2016. Graças a uma vergonhosa maracutaia urdida pelos então presidentes do Congresso e do STF, a gerentona de festim não teve os direitos políticos cassados por 8 anos, ao arrepio da Constituição e da Lei do Impeachment. 

 

Menos de 24 horas após ser notificada de sua deposição, a eterna estocadora de vento conseguiu se aposentar com o estipêndio mensal de R$ 5.189,82 ("teto" pago pelo INSS naquela época), embora o tempo de espera para conseguir atendimento na agência do INSS onde ela fez o pedido fosse de 115 dias. Uma sindicância aberta pelo Ministério do Desenvolvimento Social concluiu que a ex-chefa não só se valeu da influência de servidores de carreira do INSS para agilizar sua aposentaria como conseguiu o benefício sem apresentar toda a documentação necessária. 

 

Segundo a revista VEJA, no dia seguinte ao julgamento do impeachment o então ministro da Previdência Carlos Gagas e uma secretária pessoal de Dilma entraram pela porta dos fundos do posto do INSS, foram atendidos pelo chefe do local e em menos de 10 minutos o processo foi aberto no sistema e concluído de forma sigilosa. De acordo com a sindicância, Gabas usou sua influência no INSS para agilizar a concessão do benefício, e a servidora Fernanda Doerl calculou o tempo de serviço com base em informações fornecidas verbalmente, sem comprovação documental.

 

Resumo da ópera: Num país onde o desemprego é preocupante (para dizer o mínimo) e o salário-mínimo é de R$ 1.212,00 — quando deveria ser de R$ 6.641,58 segundo o DIEESE — o salário que a pior presidente da história desta bodega (noves fora o assassino de emas) dever receber é mais uma cusparada na cara do contribuinte brasileiro.

 

Triste Brasil. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO E OS HOMENS DE PRETO

POLÍTICOS FABRICAM O MAL ASSIM COMO PRODUZEM, MUCO, FEZES E OUTRAS SECREÇÕES.

Batizados de "fake news" em 2017, os boatos digitais se multiplicaram com a popularização das redes sociais e propiciaram o surgimento das famosas "lendas urbanas também chamadas de "teorias da conspiração" —, que são versões alternativas (verdadeiras ou não) de fatos mal explicados e tendem a surgir mais frequentemente em períodos de ansiedade generalizada, incerteza ou sofrimento. 

Conspirações envolvendo complôs que visam negar a existência dos OVNIs, dos Illuminati e dos reptilianos, por exemplo, são tão comuns quanto a crença de que a alunissagem da Apollo 11 foi uma farsa e os discos de grandes estrelas da música, quando tocados ao contrário, contêm mensagens subliminares diabólicas. 

A política tupiniquim se tornou um terreno fértil para teorias conspiratórias. Entre as mais conhecidas estão o suposto assassinato de Getúlio Vargas (1954), as mortes de PC Farias (1996), Toninho do PT (2001), Celso Daniel (2002) e Marielle Franco (2018), os acidentes mal explicados em que morreram Juscelino Kubitschek (1976), Ulysses Guimarães (1992), Eduardo Campos (2014), Teori Zavascki (2017) e as "queimas de arquivo" que exterminaram Gustavo Bebianno (2020) e Adriano da Nóbrega (2020).
 
Fontes que não existem, imagens distorcidas, vídeos editados, nomes falsos, enfim, nada disso interessa aos teóricos da conspiração. A capacidade de sobrevivência de suas teorias é auxiliada pela desconfiança em fontes oficiais — como os governos e a imprensa tradicional —, e as diferenças de pontos de vista, de um ou de outro lado, passam a ser consideradas com profunda suspeita. Na contemporaneidade, somam-se a isso a disseminação de notícias falsas e uma tendência a tirar conclusões precipitadas sem checar informações.
 
Encarar um evento acidental como planejado leva as pessoas a manter um senso de controle sobre uma realidade confusa e imprevisível. Se houver alguém para culpar, será possível restaurar algum tipo de equilíbrio ao universo, punir os culpados pela má-conduta
 e impedi-los de nos prejudicar novamente. Essa ilusão de controle aumenta o otimismo no futuro e ajuda a enfrentar novas situações sem perder o equilíbrio emocional.
 
Quanto aos Homens de Preto... Bem, a lenda urbana que inspirou os filmes começou em 1957, quando o escritor Gray Barker publicou o livro They Knew Too Much About Flying Saucers, sobre o suposto caso real de um civil perturbado por homens vestidos de preto após avistar um disco voador. Considerando que este preâmbulo ficou mais longo do que eu pretendia, a continuação vai ficar para o próximo capítulo.