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sexta-feira, 30 de maio de 2025

O PAÍS DA CORRUPÇÃO — 9ª PARTE

PIOR QUE O BANDIDO TRAVESTIDO DE POLÍTICO É O IDIOTA TRAVESTIDO DE ELEITOR, QUE VOTA NESSE TIPO DE GENTE.

Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o risco de misturar brasileiros e urnas em eleições presidenciais — e foram duramente criticados. Mas como contestá-los, se lutamos tanto pelo direito de votar para presidente e elegemos Collor, Lula, Dilma e Bolsonaro?


Nunca saberemos como estaria o Brasil se o golpe de Estado de 1889 não tivesse ocorrido. Ou se a renúncia de Jânio não tivesse levado ao golpe de 64. Ou se nosso primeiro presidente civil — eleito indiretamente após 21 anos de ditadura — não tivesse levado para o túmulo a esperança de milhões e deixado um neto que envergonharia o país e um vice que pavimentaria a vitória de um pseudo caçador de marajás sobre um desempregado que deu certo na primeira eleição direta desde 1960.

 

Muita coisa podia dar errado no capítulo final da novela da ditadura. Em 1984, o último dos cinco generais presidentes da ditadura — que, entre outros dislates, disse preferir o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo e que "daria um tiro no coco" se fosse criança e seu pai ganhasse salário-mínimo — confidenciou a Henry Kissinger, então secretário de Estado dos EUA, que uma parte das Forças Armadas apoiava a volta do governo civil, e a outra estava disposta a tudo para evitar que "os esquerdistas tomassem o país". Figueiredo considerava Tancredo uma pessoa capaz e moderada, mas cercada por muitos radicais de esquerda que talvez não conseguisse controlar.

 

No imaginário nacional, Tancredo foi o melhor de todos os presidentes — mas só porque, a exemplo da Viúva Porcina (personagem da novela Roque Santeiro), "foi sem nunca ter sido". Por uma trapaça do destino, ele baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu 38 dias e sete cirurgias depois — ironicamente, no feriado que homenageia o Mártir da Independência. Também não dá para saber o que aconteceria se ele tivesse governado, mas sabe-se que a posse de José Sarney ecoou como a gargalhada do diabo nos estertores da ditadura. 

 

Sarney  não tinha ideia do tamanho do "abacaxi" que seria assumir a presidência sem ter indicado seus ministros e herdando uma inflação de 220% ao ano. Cinco anos depois, entregou a Collor a faixa presidencial e uma superinflação de 1.800%, mudou seu domicílio eleitoral do Maranhão para o recém-criado estado do Amapá e conseguiu se eleger senador. Conta-se que, depois que pendurou as chuteiras, ao ser informado pela filha Roseana — então governadora do Maranhão — de que um dilúvio deixara metade do estado debaixo d’água, ele perguntou: "A sua metade ou a minha?"

 

Ao lado de Ulysses Guimarães, Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique, Tancredo liderou a campanha pelas "Diretas Já". A despeito da maior adesão popular da história, a Câmara sepultou a emenda Dante de Oliveira, que estabelecia a volta das eleições diretas para presidente. Ainda assim, a comoção social foi tamanha forçou a convocação do colégio eleitoral formado por 686 deputados, senadores e delegados estaduais. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo venceu Maluf — que era apoiado pelos militares — 480 a 180 votos.

 

 Ulysses chegou a cogitar disputar mas foi preterido pela chapa mista formada com o PFL de José Sarney Sr. Diretas e entregou a Tancredo o programa denominado Nova República, que previa eleições diretas em todos os níveis, educação gratuita, congelamento dos preços da cesta básica e dos transportes, entre outras benesses. Se tivesse sido ele o escolhido pelo colégio eleitoral, talvez disputasse — e vencesse — a eleição solteira de 1989. Sem Collor no Planalto e Zélia no Ministério da Fazenda, não teria havido sequestro dos ativos financeiros, congelamento da poupança e a sequência de planos econômicos fracassados que precederam o Plano Real. Assim, talvez a redução da miséria brasileira tivesse começado muito antes e hoje houvesse mais gente com salário digno e casa para morar.

 

Nada garante que teria sido assim, mas, mesmo que fosse, o Brasil — esse eterno laboratório de desilusões políticas — ainda teria muito chão para tropeçar. A eleição direta de 1989, com 22 candidatos e uma população faminta por mudanças, virou palco de um espetáculo grotesco que consolidou a crença de que o próximo salvador da pátria viria embalado em promessas vazias, frases de efeito e, claro, uma bela embalagem televisiva. E assim seguimos, entre urnas e urros, tropeçando em nossas escolhas.

 

Continua...

sexta-feira, 23 de maio de 2025

O PAÍS DA CORRUPÇÃO — 7ª PARTE

ARGUMENTAR COM QUE RENUNCIOU À LÓGICA É COMO DAR REMÉDIO A DEFUNTO.

Dilma jamais foi capaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido. No funeral do papa, disse que "Francisco era um papa religioso". Como era esperado, o disparate viralizou, e como não poderia deixar de ser, logo surgiram as explicações: 

"Ela disse que o papa era religioso na acepção da palavra "religare", ou seja, que ele unia, ligava as pessoas", lecionou um explicador — que ainda teve o desplante de classificar a usina de garranchos verbais como uma das maiores mulheres da história deste país.

Num de seus tropeços mais recentes, a mulher sapiens afirmou que "o Sul Global conta também com países do Norte". Os aliados se apressaram a dizer que é isso mesmo, que o Sul Global tem países do Norte — mas a pergunta que se coloca é: por que essa senhora sempre se expressa de forma tão confusa?

Aparentemente, o problema não é apenas cognitivo, embora os elevados conhecimentos econômicos da dita-cuja tenham levado o Brasil à depressão, mas sim de oratória — e um político sem oratória não é nada, ou, pelo menos, não deveria ser. 

Velhos vícios são inimigos acastelados que só a morte expurga. Nem bem o deputado Eduardo Cunha deu sinal verde para o impeachment de Dilma, o PT levou aos lábios o trombone do golpe. Mas como falar em golpe quando o "golpeado" tem direito à mais ampla defesa e o julgamento do processo no Senado é acompanhado pelo STF? Golpe, mesmo, foi a tramoia urdida pelos esquerdistas e chancelado pelos então presidentes do Congresso e do Supremo, que evitou a cassação dos direitos políticos da impichada.

Como se fosse pouco, assim que se aboletou no trono pela terceira vez, Lula disse que era preciso encontrar uma maneira de reparar a injustiça sofrida pela nefelibata da mandioca em 2016 — chegou-se a cogitar uma devolução simbólica do mandato, como o Congresso fez em 2013 com João “Jango” Goulart, que foi destituído pelo golpe de 64. Acabou que madame ganhou sobrevida política como presidenta do "Banco dos BRICS" (com salário anual de meio milhão de dólares).

Observação: Nesta quinta-feira, Dilma foi reconhecida como anistiada política pela Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em razão de tortura e perseguição que sofreu durante a ditadura militar, além de receber uma indenização de R$ 100 mil e um pedido de perdão, feito em nome do Estado brasileiro pela presidente da Comissão. 

Lula e a patuleia ignara alegam que Dilma foi inocentada das pedaladas fiscais, mas o que o TRF-1 fez foi manter o arquivamento da ação de improbidade administrativa sem resolução de mérito. Na realidade distorcida do macróbio, sua protegida foi julgada por "uma coisa que não aconteceu" — como se o impeachment não tivesse sido bem fundamentado juridicamente e chancelado pelo Supremo.

O art. 52 da Constituição Cidadã dispõe que cabe ao Senado processar e julgar presidente e vice-presidente da República por crimes de responsabilidade, e que a condenação implica a perda do cargo e a inabilitação por oito anos para o exercício de função pública. Collor renunciou horas antes do julgamento para evitar a cassação, mas ficou inelegível por 8 anos. Dilma foi julgada e condenada, mas, estranhamente, preservou seus direitos políticos.

Lula escolheu Dilma para manter aquecida a poltrona que pretendia reassumir dali a quatro anos porque não teve peito para levar adiante o "golpe via emenda constitucional" que lhe garantiria um terceiro mandato. e Dirceu e outras estrelas do alto escalão petista estavam no xilindró. Mesmo sem ser política ou ter capacidade para gerir o que quer que fosse, ela tomou gosto pelo poder, e ao "fazer o diabo" para se reeleger, pariu a maior crise econômica da história deste país. Ela foi defenestrada pelo conjunto da obra — as folclóricas “pedaladas fiscais” foram apenas um detalhe. 

Ao afirmar que não sabia do aparelhamento das estatais, da promiscuidade com empreiteiras, dos superfaturamentos milionários e das escaramuças no Orçamento com fins eleitorais, Dilma insulta a inteligência alheia; ao negar os desvios ocorridos na Petrobras, escarnece dos brasileiros; e ao manter Graça Foster na presidência da estatal, a despeito de a roubalheira ter ocorrido durante sua gestão, demonstra que aprendeu com Lula que corrupção só acontece na oposição.

Em sua fase mais delirante, a Rainha Má desfilava com bolsas das grifes Hermès e Vuitton. Quando viajava ao exterior, hospedava-se nos melhores hotéis, frequentava os mais finos restaurantes e se empanturrava de bombons Chocopologie e chocolates Delafee (recobertos com fios de ouro 24K). Se estivesse de dieta, mordia um pedacinho e jogava o resto no lixo. 

O Brasil se retroalimenta da corrupção. Negociações entre Executivo e Legislativo existem na maioria das democracias, mas as negociatas feitas no Brasil são absolutamente delirantes. Talvez isso se deva, em parte, ao fato de nossa Constituição ser eminentemente parlamentarista, e o voto do esclarecidíssimo eleitorado no plebiscito de 1993 ter enfunado as velas do presidencialismo de cooptação.

Como pode dar certo um país onde, desde o ""suicídio" de Getúlio Vargas, o Congresso ora chantageia o Executivo, ora lhe é subserviente?

sábado, 17 de maio de 2025

A OBSOLESCÊNCIA DO DESEJO

PEDRA QUE ROLA NÃO CRIA LIMO

Houve um tempo em que cada lançamento da Apple reescrevia o futuro. Filas nas lojas, apresentações coreografadas, sussurros em torno de funcionalidades inéditas, tudo contribuía para uma aura de encantamento difícil de replicar. Mas não há nada como o tempo para passar, e o passar do tempo fez o que era mágico perder o encantamento.
 
A empresa criada em 1º de abril 1975 por Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne sempre se destacou pela excelência de seus produtos, e alguns deles — como o icônico iPhone — definiram rumos para toda a indústria. 

Até pouco tempo atrás, a expectativa por cada novo lançamento era quase um evento cultural, mas, de novo, não há nada como o tempo para passar, e as pessoas passaram a pensar duas (ou três, ou quatro) vezes antes de substituir um celular em perfeitas condições por um modelo novo — sobretudo quando as diferenças são pontuais ou meramente estéticas. Assim, a "obsolescência programada" (mais detalhes nesta postagem) se tornou, de certo modo, "desprogramada".
 
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

À primeira vista, a insegurança pública no Brasil parece ser consequência da proliferação das organizações criminosas, mas, na verdade, o Brasil é uma organização criminosa. Da mesma forma, a corrupção e a impunidade dos parlamentares costumam ser atribuídas ao fisiologismo, mas , na verdade, o maior culpado é o eleitorado ignorante e desinformado, que insiste em eleger políticos da pior qualidade, como comprovam os inquilinos que ocuparam o Planalto desde a redemocratização (não que a coisa fosse melhor antes do golpe de 64 ou durante os 21 anos de ditadura militar, mas enfim).
A Câmara Federal, também chamada de "Casa do Povo", nada fez desde o recesso de fim de ano senão eleger seu novo presidente, discutir uma vexatória proposta de anistia a Bolsonaro et caterva e, en passant, criar 18 vagas adicionais — que não custarão ao erário "míseros" R$ 64,4 milhões, como suas insolências afirmam: considerando que deputado dispõe de uma cota de R$ 38 milhões em emendas orçamentárias, as 18 novas cadeiras representarão uma despesa extra de R$ 748,6 milhões por anoMas não é só. Ao arrepio da Constituição e do Código Penal — e numa clara invasão da competência do Judiciário —, as marafonas da Câmara suspenderam a ação criminal contra Alexandre Ramagem por tentativa de golpe de Estado. Isso apesar da clareza do texto constitucional e do aviso do ministro-relator sobre a impossibilidade de sustar o processo no tocante às acusações referentes ao período anterior à diplomação do parlamentar encrencado.
Emparedado por seus pares, Hugo Motta mandou tocar o barco, mesmo sabendo que ele naufragaria mais adiante — como de fato naufragou: a 1ª Turma do STF decidiu, por unanimidade, que Ramagem continuará respondendo por três dos cinco crimes pelos quais foi denunciado. Motta recorreu, mas  tudo indica que o plenário irá chancelar a decisão da Turma.
Com a robustez de 315 votos a favor da artimanha, os deputados mostraram os dentes e deixaram às togas o trabalho de repor as coisas no lugar. Mas não há no horizonte conserto possível para o desarranjo entre os dois PoderesA intenção dos nobres deputados é clara: criar um precedente para driblar futuras decisões que os desfavoreçam — como no caso das cerca de 80 emendas parlamentares sob investigação no âmbito do Supremo, sob o olho vivo e o faro fino do ministro Flávio Dino. 
Será que é para isso que sustentamos essa cambada?

Evoluindo continuamente em conhecimento e tecnologia, as empresas fazem com que seu produtos — e não os da concorrência — sejam os substitutos naturais da geração anterior. No entanto, quando se concentram em aperfeiçoar dispositivos que já dominam o mercado, elas acabam subestimando (ou mesmo ignorando) inovações disruptivas que, num primeiro momento, parecem inferiores, mas amadurecem rapidamente e tomam seu lugar. 
 
Dito com outras palavras, para sobreviver, os fabricantes precisam tornar seus produtos obsoletos — mesmo que ainda funcionem bem e tenham boa aceitação no mercado. Com ciclos de inovação cada vez mais curtos, gigantes como Apple, Google, Microsoft, Amazon, Motorola, Samsung etc. precisam fazê-lo antes que os concorrentes o façam, e isso torna a obsolescência programada uma estratégia de sobrevivência.
 
A Apple, que por anos foi referência em inovação e longevidade, acabou sucumbindo à obsolescência programada de um modo que muitos consideram mal-intencionado. Um bom exemplo é o "batterygate": a pretexto de preservar a estabilidade do sistema, a Maçã reduziu o desempenho dos iPhones com baterias degradadas sem alertar os usuários. Mas falta de transparência a obrigou a oferecer descontos na troca das baterias e criar novas opções de monitoramento de desempenho no iOS.
 
A empresa de Cupertino sempre se destacou pelos saltos perceptíveis de geração em geração. Hoje, no entanto, uma parcela crescente dos usuários vive uma espécie de "obsolescência ao avesso". Não se trata exatamente da sensação de que seus dispositivos ficaram para trás, mas da percepção de que nada novo realmente relevante os está movendo adiante.
 
Ano após ano, os lançamentos parecem cada vez mais previsíveis — até repetitivos. Antigamente, sempre que um novo iPhone deixava o anterior "parecendo velho", havia um impulso natural pela troca — nem sempre racional, mas emocionalmente legítimo. Hoje, a falta de diferenciação tangível entre gerações sucessivas faz com que o usuário não veja razão para gastar dinheiro na substituição de um smartphone que está funcionando bem por um modelo equivalente. Assim, a interrupção do ciclo do desejo faz com que parte da magia que sempre envolveu a marca se desvaneça: o produto continua funcional, mas o encanto que estimulava a troca periódica já não está mais ali. 
 
A Apple ainda é admirada por seu ecossistema coeso, design refinado e estabilidade, mas já não dita o ritmo da inovação como antes. Ironicamente, ao escapar da obsolescência programada tradicional, ela criou a obsolescência do desejo, ou seja, a perda daquela urgência simbólica que sempre motivou seus usuários mais fiéis. O resultado é uma obsolescência menos agressiva, que não é imposta por limitações técnicas, mas pela ausência de provocação criativa, e que não decorre de chips limitados ou baterias sabotadas, mas de ciclos de inovação que deixaram de emocionar. 
 
Depois de décadas como símbolo máximo da antecipação do futuro, a Apple parece acorrentada à manutenção do presente. Não que tenha perdido a relevância — sua engenharia continua admirável, seu ecossistema segue robusto e sua visão de privacidade permanece exemplar —, mas algo se deslocou no terreno da imaginação. Ao escapar da obsolescência programada tradicional, a marca corre o risco de se tornar obsoleta em sua promessa de reinvenção. 

Nesse cenário, a pergunta que se impõe não é apenas técnica ou mercadológica, mas simbólica: quando foi a última vez que um lançamento da Apple fez o mundo parar por um instante?

Talvez o futuro da Maçã esteja garantido por sua solidez técnica, mas o futuro que Jobs nos prometia, feito de encantamento, ousadia e disrupção, parece suspenso. E quando até o futuro entra em modo de espera, é sinal de que algo essencial precisa ser atualizado.

sexta-feira, 28 de março de 2025

A SEGUIR, CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS

A MONARQUIA DEGENERA EM TIRANIA, A ARISTOCRACIA, EM OLIGARQUIA, E A DEMOCRACIA, EM ANARQUIA.

 

A péssima governança do Brasil no período pós-ditadura militar — não que as coisas fossem melhores antes do golpe de 64 — deve-se principalmente ao tipo de gente que o Criador, acusado de nepotismo e protecionismo, escalou para povoar o futuro país do futuro que nunca chega. 


Em Ensaio sobre a cegueira, o Nobel de Literatura José Saramago anotou que "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito". E com efeito: algumas pessoas não enxergam o óbvio nem que ele lhes morda a bunda, e outras parecem viver no mundo da Lua. 


No universo paralelo onde vivem Lula, Alckmin e Gleisi, o culpado pela inflação dos alimentos é um ladrão de ovos imaginário, e a solução é a população "não comprar produtos quando desconfiar que eles estão caros". Mais brilhante que essa ideia, só mesmo o Plano Cruzado, que Sarney pôs em marcha em fevereiro de 1986, acreditando que fosse possível zerar a hiperinflação por decreto.


Recém-promovida a ministra-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, Gleisi acusou o "mercado especulativo" de conspirar contra o Brasil". Alckmin — que em passado recente comparou a reeleição de Lula à "recondução do criminoso à cena do crime” — assumiu a patética liderança do “cordão dos puxa-sacos" do chefe. Dias atrás, após dizer que luta sindical deu ao Brasil seu maior líder popular, o vice-presidente bradou: "Viva Lula, viva os trabalhadores do Brasil!"


Talvez uma troca de ideias com o Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry tenha revelado ao ex-tucano que, para baixar a inflação, bastaria retirar da conta o que está caro. Assim, com um simples estalar de dedos, o dinheiro do trabalhador, que hoje não dá para nada, continuaria não dando para nada. Mas o mais espantoso é que nenhum economista desvairado tenha pensado nisso antes. 


Lula é uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que permanece pendurada na parede do PT porque ele e o PT são uma coisa só. Tirado da cadeia e reabilitado politicamente para impedir que o verdugo do Planalto de continuasse no comando da Nau dos Insensatos, o "descondenado" conquistou seu terceiro mandato graças a um eleitorado que insiste em fazer a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade. 


Sem plano de governo, política de Estado ou metas para o país, Lula 3 se resume a um punhado de medidas paliativas, populistas e eleitoreiras que visam pavimentar a reeleição que, durante a campanha de 2022, ele prometeu que não iria disputar.

 

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973. Treze anos depois, um artigo publicado pela revista Veja lhe rendeu 15 dias de prisão. No ano seguinte, depois que Veja revelou seu plano de explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários e condições, ele e seu comparsa foram condenados por unanimidade, mas o STM os absolveu por 9 votos a 4 (a quem interessar possa, a carreira militar do “mito” é detalhada no livro O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel, do jornalista Luiz Maklouf Carvalho).

Depois de deixar a caserna pela porta lateral, Bolsonaro foi eleito vereador e sete vezes deputado federal. Ao longo de sua obscura trajetória política, passou por nove partidos (todos do Centrão) e acabou no PL do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, onde disse “estar se sentindo em casa”. 


Cavalgando o antipetismo e prometendo sepultar a "velha política do toma lá, dá cá", o mix de mau militar e parlamentar medíocre conquistou a Presidência porque a alternativa era o bonifrate do então presidiário mais famoso desta banânia. Mas a emenda saiu pior que o soneto. Para se escudar de mais de 140 pedidos de impeachment — um recorde, considerando que Collor foi alvo de 29; Itamar, de 4, FHC, de 24; Lula, de 37; Dilma, de 68; e Temer, de 31 —, ele implementou o "orçamento secreto", que lhe assegurou a conivência de dois presidentes da Câmara (Rodrigo Maia e Arthur Lira); para se imunizar contra investigações por crimes comuns, entregou o comando da PGR ao antiprocurador Augusto Aras, que manteve sob rédea curta com a promessa (jamais cumprida) de indicá-lo para uma poltrona no STF.


Como a fruta não cai muito longo do pé, os filhos seguiram os passos do pai na política: 01, o devoto das rachadinhas, se elegeu deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2002 e foi reeleito três vezes antes de conquistar uma cadeira de senador; 02, o pitbull da Famiglia, se elegeu vereador pelo Rio de Janeiro em 2020 e continua abrilhantando a Câmara Municipal carioca; 03, o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador e hoje conspira contra o STF homiziado na cueca de Donald Trump, se elegeu deputado estadual por São Paulo em 2014 e foi reeleito nos dois pleitos seguintes; 04, o caçula entre dos varões, foi o vereador mais votado em Balneário Camboriú (SC) em 2024.


Vários bolsonaristas de primeira hora que abandonaram o barco — como Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Gustavo Bebianno, General Santos Cruz e Sergio Moro — foram prontamente rifados, atacados e tratados como comunistas, antipatriotas e traidores por milhões de convertidos que, acometidos de cegueira mental, rezam pela cartilha do Messias que não miracula e acreditam piamente que "Xandão" persegue injustamente um ex-presidente de vitrine, talvez o melhor mandatário desde Tomé de Souza.

 

Argumentar com esse tipo de gente é tão inútil quanto dar remédio a um defunto, mas o mundo é a melhor escola e a vida, a melhor professora. Que o diga Carla Zambelli, a deputada cassada e recém-promovida a ré pelo STF (por ter sacado uma pistola e perseguido um homem negro pelas ruas de São Paulo às vésperas das eleições de 2022). Mesmo acusada por seu "Bolsodeus" pela perda de mais de 2 milhões de votos em São Paulo, pela derrocada bolsonarista e pela persecução penal em curso contra os golpistas aloprados, ela disse em entrevista à CNN que "enfrentar o julgamento dos inimigos é até suportável, difícil é aguentar o julgamento das pessoas que sempre defendi e continuarei defendendo". 


Como a esperança é a última que morre e falta de amor-próprio é uma questão de foro íntimo, Zambelli aposta que o pedido de vista do ministro bolsonarista Nunes Marques mude os votos de Moraes, Cármen Lúcia, Dino, Zanin e Toffoli, que acompanharam o volto do relator. 


Na última terça-feira, Bolsonaro entrou empertigado no STF e assistiu da primeira fila o início da definição de seu destino. Impossível não traçar um paralelo com Fernando Collor, que, impichado em 1992, deixou o Planalto de nariz empinado rumo ao ostracismo. Por outro lado, para surpresa geral, o "mito" resolveu acompanhar do gabinete do filho senador o prosseguimento da sessão, quando então ele e sete comparsas foram promovidos a réus por 5 votos a 0.


Findo o julgamento, Bolsonaro convocou os repórteres e transformou a entrevista em monólogo, numa reedição dos piores momentos do cercadinho e das lives do Alvorada, com direito à ressurreição do fantasma das urnas fraudadas, defesa do voto impresso e o lero-lero segundo o qual a Justiça Eleitoral "jogou pesado contra ele e a favor do Lula". Disse ainda que se limitou a "discutir hipóteses de dispositivos constitucionais", como a decretação do estado de sítio — o que, em sua visão, não é crime. Mas o voto de Moraes conferiu importância capital a sua manifestação: "Não é normal um presidente que acabou de perder uma eleição se reunir com o comandante do Exército, o comandante da Marinha e ministro da Defesa para tratar de uma minuta de golpe". 


Quanto mais se firma a evidência de uma condenação que acrescente anos de inelegibilidade aos oito aplicados pelo TSE e sabe-se lá quantos de prisão em regime inicialmente fechado, maior é a desenvoltura dos ainda aliados no engajamento da substituição do capetão. No espaço de dois dias, Gilberto Kassab, Ricardo Nunes e André do Prado, três fidelíssimos integrantes do entorno de Tarcísio de Freitas, admitiram concorrer ao Palácio dos Bandeirantes em 2026, caso o governador decida disputar a Presidência.


Em via de desidratação desde o fim do mandato e na bica de ver seus malfeitos esmiuçados ao longo da instrução processual penal, Bolsonaro já não tem o mesmo valor como pontifex maximus da extrema-direita, e valerá ainda menos no final do ano se sua condenação, tida como líquida e certa, realmente se concretizar. E de nada adianta querer repetir a estratégia de Lula em 2018, até porque, solto ou preso, ele não tem o mesmo capital político do ex-presidiário, não domina sozinho o campo da direita emergente e tampouco conta com a contrapartida da lealdade, na medida em que jogava os seus ao mar sempre que pressentia a aproximação dos tubarões.


A denuncia aceita na última quarta-feira é um verdadeiro manual de traição à reconstrução de uma democracia que completa 40 anos. Se comprovadas as acusações que constam do libelo acusatório, não há falar em punições excessivas e muito menos em anistia. O cunho jurídico, o sentido político, a natureza simbólica, o caráter histórico, o contexto tenebroso, tudo é inédito: um ex-presidente e um magote de civis e militares da alta cúpula de seu governo passarão pelo escrutínio de um tribunal cuja casa eles e outros acusados pretenderam destruir, juntamente com as sedes dos outros Poderes. 


Enquanto começam a ser julgados os mentores e organizadores do golpe, seguem em exame as ações dos executores, cujas penas suscitam debates sobre excessos e desproporcionalidades como se ali houvesse inocentes e todos tivessem sido condenados a 17 anos de prisão. Houve modulações, sentenças muito menores, absolvições, fugas em descumprimento da lei e centenas de acordos de não persecução penal aos quais não aderiu quem não quis. 


Consumada a condenação e esgotados todos os recursos possíveis e imagináveis, não se pode correr o risco de que súplicas por abrandamento de penas estimulem a repetição de atos que tornem o Brasil vulnerável à volta de um autoritarismo que custou muitas vidas anos de atraso institucional.


Moído pela unanimidade da 1ª Turma, Bolsonaro prioriza a anistia. Atentos aos sinais de fumaça, os ministros se equipam para apagar o fogo do réu: quem admite ou não a anistia é a Constituição, e quem interpreta a Constituição é o Supremo. Nos bastidores, dá-se de barato que uma lei para perdoar condenados por crimes contra a democracia seria declarada inconstitucional por 9 votos a 2, vencidos os ministros bolsonaristas Nunes Marques e André Mendonça. 


Ciente de que a condenação pode sair em seis meses, o presidiário-to-be planeja corrigir o fiasco de Copacabana lotando a Paulista em 6 de abril, às vésperas do julgamento da denúncia contra o núcleo tático da trama golpista, que inclui 11 militares e um policial federal. Em sua prancheta, a hipotética pressão das ruas ganhará as redes sociais, dividirá o noticiário e forçará Hugo Motta a pautar a votação do projeto de anistia. Entrementes, aliados tentam fazê-lo considerar a hipótese de apoiar antes do Natal um presidenciável que se disponha a lhe conceder um indulto. Mas a estratégia subestima as dificuldades. 


Inseridos na comitiva de Lula ao Japão, os chefes e ex-chefes do Congresso parecem ter outras prioridades. Sem falar que, assim como a anistia, a recuperação dos direitos políticos e um eventual indulto também seriam submetidos ao filtro do STF, e ainda está fresca na memória das togas a decisão que derrubou, por inconstitucional, o indulto concedido por Bolsonaro ao condenado Daniel Silveira.

Enfim, quem viver verá. 

quinta-feira, 27 de março de 2025

TRAVA ZAP

FANÁTICO É AQUELE QUE NÃO CONSEGUE MUDAR DE OPINIÃO E NÃO ACEITA MUDAR DE ASSUNTO.

 

Trava Zap é um tipo de mensagem maliciosa disseminada pelo WhatsApp que combina milhares de caracteres aleatórios. O objetivo é travar o mensageiro — ou o próprio celular, já que o app usa toda a memória do dispositivo para tentar processar e ler a mensagem. 

De certo modo, isso faz lembrar os vírus de computador dos tempos de antanho, que pregavam sustos nos usuários produzindo sons estranhos, exibindo mensagens engraçadas/obscenas ou travando o computador. Para piorar, não é difícil de encontrar várias versões desse tipo de programa malicioso na Web, muitas vezes disfarçadas de ferramentas inofensivas. Mas vale destacar que baixar e compartilhar esse tipo de software pode expor o próprio usuário a riscos, como golpes e malwares escondidos.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Xandão não deixou dúvidas quanto à conversão de Bolsonaro e os sete cúmplices incluídos no "núcleo crucial" da denúncia da Procuradoria da República em réus. Didático, ele injetou na transmissão ao vivo da sessão um vídeo com replay do quebra-quebra de 8 de janeiro e das ações terroristas que eletrificaram Brasília nos dias que antecederam a posse de Lula — na véspera, ele já havia exibido farto material expondo os dados que reuniu para se defender dos ataques que sofre nas redes bolsonaristas. Enfático, chamou de "narrativa mentirosa" a tese segundo a qual o Supremo estaria condenando velhinhas com bíblia na mão, que passeavam num domingo ensolarado pela sede dos Poderes. Assertivo, mostrou que, das 497 condenações imposta aos vândalos, metade teve penas inferiores a três anos de cadeia, substituídas por penas alternativas, que apenas 43 receberam castigos superiores a 17 anos, que as mulheres são 32% dos condenados e os idosos, menos de 9%. 

Assim, a 5 dias do 61º aniversário do golpe de 64, um ex-presidente da República enroscado num atentado à democracia dessa magnitude desce ao banco dos réus com seus comparsas, que foram seduzidos pela sublevação falhada do capitão golpista. Entre eles há três generais (Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira), um almirante (Almir Garnier), um tenente-coronel (Mauro Cid), um ex-ministro da Justiça (Anderson Torres) e um ex-chefe da Abin (Alexandre Ramagem). É imperativo, portanto, punir com todo o rigor da lei o alto-comando da organização criminosa que acionou o que a ministra Cármen Lúcia chamou de "máquina de desmontar a democracia." 

Do ponto de vista político, o chefe do golpe ficou mais próximo da cadeia, e direita brasileira ganhou razões adicionais para se qualificar. Aguardemos, pois, os próximos capítulos dessa novela, que prometem ser emocionantes.


O impacto do Trava Zap mensagem pode variar de um simples travamento temporário, que pode ser resolvido simplesmente reiniciando o WhatsApp, ao comprometimento do dispositivo como um todo — situação que obriga o usuário a reiniciar o celular ou, em casos extremos, restaurar as configurações de fábrica.
 
Se você for alvo dessa praga e o WhatsApp travar, a primeira coisa a fazer e tentar reabrir o aplicativo, excluir a mensagem e bloquear o remetente. Se o programa continue travado, acesse as configurações do aparelho e limpe o cache do WhatsApp. Vale também tentar acessar o WhatsApp Web pelo navegador, já que algumas mensagem travam o celular mas não afetam o acesso pelo computador. Se conseguir, exclua a mensagem e bloqueie o contato. 
 
Se nada disso funcionar, desinstale e reinstale o WhatsApp. Se o aparelho estiver completamente travado, force o desligamento ou espere a bateria acabar (a maioria dos smartphones desliga automaticamente quando o nível de carga cai a 5%).
 
A título de prevenção: 1) Jamais abra mensagens suspeitas — se receber um texto com caracteres estranhos e sem sentido, evite abrir, mesmo que o remetente seja uma pessoa conhecida; se for desconhecido, bloqueie o contato; 2) impeça que desconhecidos adicionem você em grupos — no WhatsApp, toque em Configurações > Privacidade > Grupos e ative a opção Meus Contatos; 3) atualize o WhatsApp regularmente e mantenha backups. 

 

O Trava Zap se enquadra na categoria de fraude eletrônica, conforme o art. 171 da Lei nº 14.155/2021. Se você for vítima desse tipo de ataque, registre um boletim de ocorrência em uma delegacia especializada em crimes cibernéticos e busque a orientação de um advogado para tomar as medidas legais cabíveis